uma carta para o
dragao
por Vitor Mateus ilustracao cleber cajun
uma carta para o
dragao
por Vitor Mateus ilustracao cleber cajun
Max vivia com a sua mãe de nome Rosa como uma flor, enquanto ele tinha nome de poeta
No seu mundo, não era surpresa uma flor falar, um animal perguntar, nem uma pedra reclamar “
ei, não pise em mim, saia do meu caminho!”
Max é um garoto de 6 anos, muito esperto e sabido e cheio de ideias
Max percebeu que todos os seres que viviam em sua vila estavam sumindo, e apareciam cada vez mais esses seres que não sabiam o próprio nome,
Mas um dia, apareceu um quadrado roxo, e depois um outro azul, e mais e mais e mais outros...
- Quem são vocês? vocês são legais? - eu não me lembro quem eu sou, só sei que agora eu sou um quadrado!
quem eram, da onde vinham, que mistério! (as nuvens estavam quadradas e em peças, as montanhas, tudo e todo mundo)
Mas Max logo percebeu que eram os animais, as pessoas, e as flores justamente que estavam se transformando em quadrados. Então os quadrados iam se encaixando uma por cima do outro, lado a lado, quem visse de longe pensaria até que é um castelo ou mesmo uma montanha muito reta. O que no começo era a perfeita paz - ninguém mais brigava – e todo mundo era igual, se tornou a falta de vida. Os quadrados continuavam se encaixando e achavam aquilo bom, enquanto dormiam aninhados. O menino fica assustado: – todo mundo está se transformando e ficando igual e quieto e sem graça! Que medo eu me transformar nisso! E a minha mãe também! Não posso deixar isso acontecer!
Então, um mestre chinês andarilho aparece para contar ao menino o que está acontecendo. - Um dragão escapou de sua caverna e ele tem poder de tirar o nome das coisas! Está roubando o nome de cada coisa que existe no mundo! E então todas as coisas estão perdendo suas formas e lembranças e se transformando em quadrados! Você, menino, que é rápido e inteligente, tem que impedir isso, já sou velho e não posso correr! Você aceita essa missão?!
Max parte para a aventura, parte em busca do dragão, e de explicações! Ora essa tirar o nome das coisas, não é mesmo?!
O menino passa dias e dias seguindo o rastro do dragão. A paisagem é cada vez mais geométrica, igual, e dorminhoca. Os ângulos dormem encaixados uns nos outros.
Começa a sentir saudade de sua mãe, está preocupado com ela. É cada vez mais difícil seguir adiante. Max pensa em voltar atrás. Até que encontra um rastro de penas quadradas, sendo o quadrado uma coisa assim de ângulo perfeito. Max olha para cima e uma anja está voando bem acima dele. - menino, você está muito tempo longe de casa, estamos te vendo daqui de cima o quanto você já viajou. Não está se sentindo sozinho? Não quer vir pra cá, com os anjos se proteger desse dragão enquanto ele não te transforma em quadrado? Ou então não quer que eu te leve voando de volta para sua mãe? - não! Tenho que continuar, as coisas, ou melhor, os quadrados precisam da minha ajuda, vou continuar. Suas asas... estão diferentes...
-sim, o dragão também tentou tirar nosso nome, só não conseguiu porque percebemos antes de acontecer, mas ele conseguiu tirar o nome dessas coisas que as nossas asas são feitas, veja só! Eu não me lembro mais do nome delas! - são as suas penas! Mas agora as suas penas parecem folhas de papel branco! Já sei! Tive uma ideia: vou usar uma das suas penas para escrever uma carta para minha mamãe! O menino escreve uma carta - Agora é com você, escreva uma carta para a sua mãe para que o anjo entregue a ela! Muito bem – diz a anja – agora vou partir para entregar a sua carta, boa jornada, cuidado com os perigos, continue firme! E de novo o mestre aparece, só que dessa vez, andando, distraidamente e até assobiando...
- senhor chinês! Digo, mestre chinês! O senhor não está preocupado? - não! Porque eu já sei uma cura para todas as coisas. - e o que é? Me conta! - és tu, Max! tu é que tem o poder da cura, porque você tem o poder de ter ideias e também tem o poder de devolver o nome para as coisas - mostrando o seu carinho por elas! E agora tu já podes ir voltando pra tua casa e no meio do caminho ir dando o nome de tudo e de todos... Então mais rápido que aparece ele desaparece. O mestre vai andando muito contente com um sorriso no rosto e os braços para dentro de sua grande manga. Max fica surpreso mas não desiste e fala assim: - então quer dizer que eu já posso voltar pra minha casa? mas... não! Agora que eu já vim tão longe e agora que eu já senti tantas saudades... tanta coisa aconteceu... essas coisas não voltam atrás! vou continuar e descobrir de vez o porquê esse dragão estar fazendo isso!
O menino finalmente encontra o dragão e o espreita. O dragão pergunta o nome a uma elefanta que está assustada -eu... me chamo... esmeralda - que nome bonito, es-me-ral-da... Então, ao repetir, o dragão consegue roubar o nome. A elefanta gira enquanto suas curvas vão ficando retas, vai girando, tonta e sem memória. O dragão voa para o outro lado.
O menino socorre agora o grande quadrado atordoado e diz: - não se preocupe, eu sei quem você era, você era uma elefanta e se chama Esmeralda! E tudo tromba diante da sua tromba, Esmeralda! E agora esmeralda gira para o outro lado e cai sentada, já em sua forma de elefante. - ai, mas que confusão! Obrigada!
O mestre chinĂŞs estava certo, o poder estava o tempo todo dentro e junto com o menino! Agora ele estĂĄ pronto para encarar o dragĂŁo!
- ei dragão, aí está você! - MAS QUEM É VOCÊ? -eu não vou cair nessa de você me transformar! Quero saber qual o seu nome e porque está roubando o nome de todo mundo!? - POIS SAIBA QUE EU ME CHAMO RAIVA E VOU DAR UM JEITO DE TE TRANSFORMAR!
-Raiva? Mas isso não é um nome, é um sentimento! - É PORQUE EU SINTO RAIVA, MUITA RAIVA... MAS NÃO TANTA RAIVA ASSIM... É QUE EU NÃO TENHO UM NOME DE VERDADE, NINGUÉM ME CHAMA DE NADA! SÓ É DRAGÃO PRA LÁ, DRAGÃO PRA CÁ! O menino faz uma expressão de surpresa, a expressão que ele sempre faz quando tem uma ideia, mas dessa vez mais compreensiva. - então é por isso que você está roubando o nome das coisas... Já sei! Tive uma ideia! Eu vou te ajudar a escolher um nome... mas... você já tem um nome que queira ser chamado? - TENHO, MAS NINGUÉM QUER ME CHAMAR ASSIM, ENTÃO É UM SEGREDO...
cochichando...
- me conta! O dragão se mantém em silêncio, e o garoto se aproxima do ouvido do dragão: - pois eu vou te chamar assim e vou te ajudar a ser conhecido por esse nome!
PENSE EM UM NOME BEM BONITO QUE VOCÊ ESCOLHERIA PARA DAR AO DRAGÃO E ESCREVA AQUI
- OH, VOCĂŠ FARIA ISSO!??? - Sim! Mas vocĂŞ tem que devolver o nome de todas as coisas e fazer as pazes com todo mundo!
... - BELEZA, FECHOU! VAMOS VOAR O MUNDO TODO! EI, MAS VOCÊ NÃO VEIO DE LONGE? NÃO ESTÁ COM SAUDADE DE NINGUÉM? - estou com muita saudade, mas vou escrever cartas e os anjos vão me ajudar a entregar. Mãe, volto para casa quando tiver conhecido o mundo todo! Assinado, Max.
O menino monta no dragão e os dois saem mundo afora para devolver os nomes de todas as coisas, para que os quadrados entediados voltem a ser o que são: flores, pessoas, animais, água, rio, montanha... devolvendo para eles o nome e o carinho! E então Max volta para casa com sua mãe... ... e o dragão de vez enquanto o dragão vem visitar Max, mas ninguém acredita! FIM
UMA CARTA PARA O DRAGÃO Autor Vitor Mateus Coordenação Denise Scaff Edição Thiago Kazu Ilustração Cleber Cajun Digramação Carol Abreu
O livro é fruto do projeto “A construção de histórias pessoais: Referentes para constituição da identidade” da Universidade Federal do Pará.
BELEM PA 2018