Revista Travessão

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TRAVESSÃO

Edição 1 Julho 2014 - R$ 8,00

Comida de Rua A moda que fisgou POA

No foco De veppo Festas e trabalho pelo visor

Fantaspoa

Desvendamos o maior festival de cinema fantástico do país e contamos os bastidores do evento






Organizando

Carta do Editor

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Invadindo POA

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Canto gauchesco

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66

Comidinhas ao Ar Livre

No Foco de Veppo

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77

Gregテウrio

6 TRAVESSテグ

40

Fantaspoa

50 #ZOEIRA


QUEM FAZ

Editorial

Tudo a declarar

Q

uem nos acompanha mais de perto certamente registrou que, nos temas principais e nas ideias que abordamos mês a mês por aqui nos últimos tempos, o foco tem sido, digamos, em questões que encerram certa tensão. Desde o início do ano passado, quando anunciamos a força de um novo tipo de ativismo que ganhava força e desenhava a migração do poder político para outras esferas da população, até as edições mais recentes, em que tratamos de alguns outros ângulos dos problemas mais pesados que nos assolam. Da sensação generalizada de frustração diante da inoperância e da desonestidade que em medidas semelhantes parecem entranhadas em nossa carne gerando novamente em boa parte da sociedade a sensação de que não há o que fazer e que a saída é sair, até as que trataram de tirar a capa que cobre o vergonhoso racismo vigente no país ou o nível inaceitável de envenenamentos dos mais diferentes tipos a que somos expostos hoje do lado de cá das fronteiras. Se na presente edição a intenção era tratar do prazer de estar vivo, a realidade cuidou

de angular a pauta novamente para uma visão mais crua daquilo que esses tempos nos. Viver no Brasil tem se transformado cada vez mais numa opção heroica. Conhecimentos básicos de técnicas de guerrilha urbana e de sobrevivência em zonas de guerra são cada vez mais úteis para que se consiga manter um certo grau de qualidade e de satisfação com o dia a dia. E não estamos aqui falando de ativistas e Black Blocs, mas de gente que precisa acordar antes do sol para enfrentar condução e mobilidade precaríssimas, sistema de saúde completamente em ruínas, educação precária, sistemas jurídico e tributário sucateados e uma infinita capacidade de manipular e de roubar impunemente que marca presença em quase todas as instâncias, partidos e escaninhos públicos (e boa parte dos privados). Qualquer um que conheça a cartilha básica da noção nossa senhora que deus abençoou isso mesmo ok de interdependência consegue depreender algo que, mesmo óbvio, passa longe dos radares de boa parte de nossas lideranças empresariais, políticas.

Expediente Editora-chefe Carolina Fortes

Diagramação Maria Polo

Social Media Carolina Goyer

Reportagem

Rodrigo Azevedo

Fotografia Daniela Flor

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Carta do editor

Para nos inspirar M

e dei conta de que algo como raça existia quando tinha uns 5 anos. Estávamos todos na escola e uma menina resolveu me desenhar. Quando ela me deu o papel, não acreditei: ela havia me pintado inteira de marrom! Eu nunca tinha me dado conta de que não era branca. Minha família tinha uma boa condição financeira. Cresci rodeada por brancos, estudei em escola de brancos, minha mãe era branca. Depois desse episódio, esta virou a questão da minha vida: como resgatar meu sangue negro se eu desconhecia a própria cultura negra? E o que fazer com o meu lado branco, por assim dizer? Meu pai era africano, nasceu e cresceu em uma aldeia na Gâmbia. Aculturou-se não sei como e foi para o Ocidente tentar a vida. A ideia era ganhar dinheiro e melhorar a condição da família que deixou para trás. Em Paris, conheceu minha mãe e a pediu em casamento. A família ficou em choque. Ele morreu quando eu era jovem, tivemos pouco contato. Gâmbia e meus familiares quando já tinha 21 anos. Até esse momento, me achava mais francesa do que africana, não conhecia minha outra origem.

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Carolina Fortes Editora de redação Travessão


SEU OLHAR

João Krause

É

nas tardes de outono que a luz mais bonita ilumida o Parque Farroupilha e suas palmeiras. Andar pela cidade vazia me preenche de um imensidão de sentimentos bucólicos. Em pensar que, durante a semana, essa paisagem observa apenas a pressa, a rotina.

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Street Style

Eles vテ」o de Bici!

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FOTOS: STREET STYLE POA

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A sofisticação no universo das bikes não para e atinge camadas cada vez mais exclusivas! O designer Herman Vanhusteijn foi convidado pela renomada casa de leilões Sotheby’s para desenvolver uma bici de luxo.

2 3.

A criação da magrela se deu através de uma técnica japonesa de pintura chamada urushi, a cobertura foi feita com folhas de ouro (sério!) e o verniz também foi usado para dar algumas boas pinceladas.

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Vamos encarar o fato: a maioria esmagadora das mulheres que estão lendo este post não possui condições financeiras para comprar um Givenchy e colocar no armário. Mas nem por isso o pretinho perde seu valor.

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O X da questão de um LBD é o poder subliminar que a mulher carrega quando o usa. Ela está confortável, elegante, sem excessos. Se sente pronta para conquistar o que quiser. Quando ela opta por vestir-lo. Tem muita ciclovia pelo mundo pra gente observar!

2.

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um poeminha

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POR: RAFAEL IOTTI


NA BOCA DO LEITOR

Polemizando “Nunca vi uma matéria tão tendenciosa e hipócrita, respaldada em dados desatualizados e distorcidos. Parabéns, seu caretão; vá se juntar a turma da “moral e dos bons costumes” e criar calos nas cordas vocais de tanto gritar contra mudanças inevitáveis; troféu joinha pra você.” - Maria Eugenia Bofill, 19 anos “Não, você que anda desinformado mesmo! A legalização já está sendo uma tendência mundial, quer você queira ou não. Acorda pessoal. Todo mundo faz, vem com a gente legalizar”. - Luis Cláudio Nascimento, 26 anos “Talvez seus netos vão ver a liberação da maconha no Brasil mas vc não, com tantos problemas importantes para resolver no Brasil e os políticos não ligam para as manifestações que estão ai todos os dias da semana e da vida.” - Lucas Coelho, 21 anos ” Temos a mente aberta brother, isso deve incomodar certas pessoas conservadoras que não entendem.” - Luiza Schneider, 30 anos

Os jovens brasileiros são grandes consumidores da erva

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na calada da noite

Invadindo Porto Alegre N

o dia seguinte à Serenata Iluminada, que acontece anualmente no Parque Farroupilha, os porto-alegrenses mostraram como cuidam de um dos principais cartões-postais da cidade: deixaram calçadas e gramados repletos de lixo e os monumentos públicos com marcas de vandalismo. O fato chamou a atenção dos frequentadores do local, que na manhã deste domingo, tiveram que desviar de garrafas de cerveja, latas de refrigerantes e encontrar, entre os papéis jogados no chão, um canto para estender sua canga e tomar chimarrão. - Impossível passar despercebido por tanta sujeira. Parece que ontem à noite não havia nenhuma lixeira nesse lugar. Mas se olhar

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REPORTAGEM: LARA ELY FOTOS: CAROLINA FORTES

bem, elas estavam por todos os lados. As pessoas é que são muito desleixadas - disse a aposentada Maria Inês Lunardi Botelho. Por volta das 10h, os capatazes do parque

Ninguém sabe muito bem quem vai limpar no dia seguinte, então nem se preocupam — Arlindo, funcionário do parque e funcionários do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) trabalhavam há duas horas no local e tinha juntado uma carreta.


Mais de duas mil pessoas compareceram

Toalhas e cangas serviram de mesa

Os participantes levaram velas para iluminar o parque

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C

As pessoas confraternizam no gramado da Redenção

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riado em 2012 a partir de uma causa cadastrada na plataforma colaborativa portoalegre.cc, a serenata noturna pretende incentivar a população da capital gaúcha a ocupar os parques e praças da cidade também durante a noite, exigindo mais segurança e iluminação. “Acho superinteressante, espero que funcione, que iluminem ainda mais a Redenção para a gente poder aproveitar, principalmente no verão”, destacou uma das participantes, a auxiliar administrativa Ananda Garcez. Os organizadores também convidaram os participantes a se envolverem no debate e apresentarem propostas para a criação do novo Código de Convivência Urbana de Porto Alegre, que está sendo elaborado por uma comissão na Câmara de Vereadores. A quarta de 10 audiências públicas sobre o tema será realizada na próxima terça-feira (11), no Legislativo. A segunda edição da Serenata Iluminada atraiu cerca de 10 mil pessoas ao Parque Farroupilha, a Redenção, segundo estimativas da Brigada Militar. O evento realizado na noite de sábado (8) propôs uma reflexão sobre a convivência urbana e o uso dos espaços públicos da capital durante a noite. Mesmo com uma temperatura de 14ºC, o gramado central da Redenção ficou tomado pelo público. Sob a luz de velas, lanternas e lampiões, famílias e grupos de amigos realizaram piqueniques.


Grupos de amigos, violões, vozes, velas, isqueiros e lanternas deram forma à segunda edição da Serenata Redenção Iluminada, que iniciou às 19h deste sábado, no Parque Farroupilha, em Porto Alegre. Por trás do som e da luz, uma reflexão para o uso dos espaços públicos de Porto Alegre, principalmente e institucionalmente as praças. Resultado de uma causa cadastrada pela arquiteta Renata Beck no PortoAlegre.cc — plataforma digital que reúne discussões para provocar melhorias na cidade — a primeira edição do evento reuniu 2 mil pessoas. Ele foi realizado na Redenção e, por meio da confraternização, chamou atenção. Ele ainda falou

Barraca de cachorro-quente fez sucesso entre os visitantes

João Pedro, de 5 anos, foi curtir com a família

O objetivo do encontro é inibir isto e criar um clima diferente. Daniel Bittencourt, também um dos organizadores, comenta que o grande avanço do primeiro para o segundo ano de evento não é apenas o número de pessoas reunidas. — Cada um está nutrindo esse sentimento de felicidade de poder perceber que a cidade respira e tem uma resposta para uma ocupação cidadã. Ela é contrária ao crime e a insegurança que nos cerca — acrescenta Bittencourt. A Serenata Redenção Iluminada é o ponto de partida para o debate sobre o novo

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Um evento reuniu moradores de Porto Alegre na noite de terça-feira no Parque Moinhos de Vento. O “Piquenique Noturno de no Parcão” foi organizado por um grupo de amigos pelas redes e teve como proposta utilizar o espaço público em um horário incomum. Com velas, toalhas, balões e comidas, jovens, crianças e idosos desfrutaram do local

O parque foi tomado por grupos de amigos e famílias

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e trocaram experiências. A advogada Mariana Temperani conta que o evento foi uma reedição de uma proposta parecida. — A gente reeditou essa ideia de um amigo. Queríamos reunir as pessoas em um parque a noite e chamar a atenção para a iluminação pública, estamos muito desassistidos — explicou Mariana ao site da internet G1.

O grupo organizou o encontro pelas redes sociais depois de conseguir liberação da Secretaria municipal do Meio-Ambiente (Smam). — Desde as 18h já tinha gente pendurando balões e organizando. Fomos até a meia-noite e acho que circularam umas 3 mil pessoas no total — confirmou Mariana. A população contou também com o apoio da



CANTO GAUCHESCO Da esquerda para direita: Beto, Carlos, Joテ」o (em pテゥ); Nico, Pablo e Marcos

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Nacional Riviera Quem são

O que está em curso

A música existe para ser experimentada. E isso os caras do Nacional Riviera sabem bem. Depois de experimentar muito, eles acertaram em cheio no som do novo EP que eles lançam, na próxima terça-feira, dia 29 de outubro.

Nesse EP decidimos deixar o som rolar do jeito que ele estava nos levando. Não escolhemos que Boas Novas fosse pesada, ela apenas pesou sobre nós e a obedecemos. Além disso, usamos muito equipamentos valvulados.

Como surgiram

Dizem por aí

O primeiro trabalho dos gaúchos foi o EP “Despedida/Empate”, lançado há um ano atrás com três faixas. Reunindo diferente ritmos, mas sempre fiel ao rock, eles nos contaram que o novo material conseguiu deixar mais claro essa mistura que é o Nacional Riviera.

A música “Pela Manhã” inteira é tocada com baquetas com feltros nas pontas, dando uma sensação de ambiência suspeita, misteriosa. Isso foi uma sacada que colaborou no clima da música. “Boas Novas” tem vários momentos que giram em torno de um riff sensacional.

Porque vale a pena

Bizarrices

alguns clássicos, alguma banda que conhecemos há alguns meses, tudo depende, mas não buscamos referências. Um ano atrás, a banda gaúcha Nacional Riviera mostrou seus primeiros passos. Na ocasião, bonito EP “Despedida”.

Houve o dia que o Bernard apareceu com um amplificador dos anos 50, 60, valvulado, do formato de uma maletinha, foi o melhor som de guitarra que tiramos. Também teve um dia que estávamos alto e ligamos um sintetizador.

FOTO: BRUNO ABIZ

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TURISMO

Conheça Dublin TEXTO: ANGUS STONE FOTOS: JOHN GREEN

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no de 1457. O rei Jaime II proíbe a prática do golfe em solo escocês. Motivo? Os guerreiros estavam deixando de lado os treinamentos com arco e flecha para passar horas a fio dando tacadas nos campos, o que poderia colocar em risco a defesa nacional durante a guerra contra a Inglaterra. Se distrai militares de seus compromissos bélicos, o esporte, por outro lado, garante a empresários um jogo de cintura que muitas vezes os leva a fechar grandes negócios em uma única tacada. Não à toa, algumas multinacionais chegam a incluir o golfe entre os pré-requisi-

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tos de quem pleiteia uma vaga de emprego. Business meetings e relacionamento com clientes são cada vez mais comuns em ambientes relacionados a esse esporte. Mas também há quem viaje com tacos na bagagem apenas pelo prazer de vislumbrar novos horizon-

tes, ao pé da letra. Seja em meio a desertos, no topo de monta. Embora não haja teste de DNA que garanta à Escócia a paternidade do esporte, o país


Não deixe de ir

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Rio Liffey: Desta vez falamos um pouco sobre um dos dias mais esperados aqui na Irlanda, o St Patrick’s Day, e também respondemos. Phoenix Park: é o maior parque fechado público e urbano da Europa1 , localizado a 3 km a noroeste do centro da cidade de Dublin, na República da Irlanda. Mede 712 hectares, com uma circunferência de 16 km, murado, contendo grandes áreas de pastagem. Também tem ovelhas e outros animais fofinhos.

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Sthepen’s Green Park: Até 1663 a área onde hoje se situa o parque ficava fora da cidade e utilizava-se principalmente para pastagens. Nesse ano, o governo municipal decidiu fechar o parque e vender as terras que rodeavam o perímetro do mesmo. O parque ficou rodeado com um muro em 1664 e rapidamente se começou a construir uma grande quantidade de edifícios.

A cidade irlandesa é conhecida pelo seu chrme e seu jardins

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Temple Bar: É promovido como o bairro cultural de Dublim e possui uma vida nocturna apelativa para os turistas. Temple Bar possui o código postal

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Faça você mesmo

Parede é para escrever

E

ssa parede está super em alta em decorações e tem circulado muito pela internet! Mas a maioria das pessoas contrata alguém para fazer ou utilizam uma tinta especial, que como qualquer tinta, dá mais trabalho, certo?! Com esse tutorial você não vai precisar dela e em de 20 minutos pode redecorar um ambiente! Como faz? Marque corretamente a medida da sua parede e depois corte o papel. Depois, descole o papel contact e grude na parede. Em seguida, comece a apertar com as mãos (ou com um pano) sempre de um dos lados para o outro, isso evitará que seu papel fique com bolhas. Está pronto! Simples assim! Agora basta usar sua criatividade e brincar com sua nova parede. Muito legal, né?! Você pode ainda colar o papel em copos e canecas, em quadros e ímãs (ensinei a fazer ímãs aqui) para deixar frases divertidas ou anotações de compromissos.

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A seguir, a gente te ensina o passo-a-passo pra você poder escrever por tudo!


ALGUMAS DICAS! - Lixar a parede antes de colar o papel. Isso deixará ele ainda mais liso e bonito. - Para apagar o desenho feito, basta utilizar o apagador. Com o tempo o papel começará a ficar marcado de giz, mesmo apagando, então utilize um pano úmido apenas com água que sai completamente. - Para retirar o papel da parede, basta puxar, mas lembre-se que isso - Pra não errar, vá com calma. As bolhas de ar podem ser retiradas aos poucos com as mãos. pode danificar a pintura antiga.

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OPINIÃO

CHARGE: RAFAEL IOTTI TEXTO: ANDRÉ MACHADO

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astariam apenas os insultos racistas contra o volante Tinga em jogo da Libertadores da América para que o odioso preconceito nos revoltasse. Como se não bastasse, no mesmo dia as redes sociais fazem circular um vídeo no qual um parlamentar brasileiro diz que quilombolas, indígenas, gays e lésbicas são tudo que não presta e presta ao mesmo. E como a emenda é sempre pior que o soneto, o deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS) justificou-se ontem em Zero Hora tratando as minorias por estas coisas e alegando não ter

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nada contra bichas. Só faltou chamar lésbica de sapatão e bixa de bixa. O vídeo que desnuda a essência de um parlamentar reflete o preconceito que se repete em muitos lares brasileiros. Quem trata minorias como “coisas ruins” também costuma divertir-se com piadas que discriminam e fazem rir os falsos “quatrocentões” brasileiros que imaginam-se wasps norte-americanos: brancos anglo-saxões. Não o são. Somos latinos e isto já basta para sermos olhados de jeito atravessado em boa parte do

mundo setentrional. E somos latino-americanos. Somos “cucarachas” e ainda nos sentimos no direito de ter preconceito contra alguém? O que tem que ser abominado é a falta de justiça social, a desigualdade, o determinismo, o autoritarismo, a violência. Não o ser humano. O pensamento do deputado Heinze lembra muito as falas do personagem de Antônio Fagundes na novela Amor à Vida. Ao descobrir que o filho era gay, o médico reconhecido afirmava categoricamente “não ter preconceito”, mas sim de não ganhar.



Além da lente

No foco de João Veppo Autorretrato

REPORTAGEM: CLARISSA WOLFF FOTOS: JOÃO VEPPO

A

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primeira vez que eu ouvi falar da Volt Project, ela ainda não tinha nome. Um amigo abriu um pvt no chat do Facebook e disse: “posso te ligar?”. Sabendo que ele sabe do meu ódio por conversas no telefone, conclui que, para pedir isso, devia ser importante. “Beleza, liga aí”, e, quando atendi, João Veppo começou a me contar do projeto que ele estava planejando criar. Fotos de festa, só que diferentes, tendo como referência o Cobra Snake. Mais espontaneidade e detalhes, menos efeitos manjados. Assim nasceu a Volt, na mão de três sócios: os fotógrafos João Veppo e Francisco Soll, e Vanessa Samurio, com o auxílio de Júlia Franz nas redes sociais e do fotógrafo de moda Miguel Soll – sobre quem falaremos mais aqui, outro dia. Tudo começou nas festas que a Vanessa fazia na

sua casa na Zona Sul de Porto Alegre. Tudo entre amigos, as festas sempre tinham decorações temáticas, bilhetinhos e outros mimos, às vezes começavam com máscaras, outras terminavam na piscina e as fotos, das câmeras de João e Chico, sempre ficavam ótimas. “Em um momento de bebedeira concluímos que as fotos de festa na cidade tavam um saco e que a gente podia fazer alguma coisa diferente. Chamamos a Vanessa pra fazer toda arte e identidade e nisso notamos que sem ela mandando na gente a empresa ia FALIR em uma semana então ela virou nossa sócia”, ele conta. Como todo bom pisciano, a ligação de João. Chamamos a Vanessa pra fazer toda arte e identidade e nisso notamos que sem ela mandando na gente a empresa ia FALIR em uma semana então ela.


Parada gay ocorrida em Porto Alegre em 2013

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Leitor ávido, ele toca piano, violão e guitarra, e sua intimidade com a câmera vem de anos. Fica difícil separar o lado artístico da fotografia do lado de negócios. “Acho que isso é o diferencial da Volt. Nós tentamos aproximar o máximo possível a foto arte da foto comercial, criando um mix dos dois.” E como funciona isso? “Então, nas festas tem que ter algumas fotos padrões, tipo todos os DJs, foto de pista, foto da galera dançando. Aí eu tento fazer isso do jeito mais artístico. Não só retratar o momento ali, tentar dar um enquadramento diferente, luz etc. Uma foto que pode não ser tecnicamente perfeita às vezes fica até mais massa na noite. Tentamos criar.

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A cobertura de festas começou em 2011

Nos protestos de julho, João testou o analógico

Mas flando em técnica, como medir o balanço entre ela e a emoção na hora de tirar uma boa foto? Técnica é tudo? “Não. Não acho mesmo. Acho que é muito importante a técnica, mas nas festas eu acho que o feeling vale mais. Acho que pras fotos sairem bem massa tu tem que tá aproveitando junto. Tem que tá ali no meio, é ali que rola as fotos espontâneas. Quando as pessoas veem que tu tá curtindo junto, elas se soltam bem mais!”, ele entrega. E pelo jeito, histórias de curtir junto é o que não faltam: “Bá, acho que eu vivi mais loucuras nesses anos como fotógrafo de festa que na minha vida inteira. Teve de tudo. Tragos épicos em que eu só descobri como foi a festa vendo as fotos depois.


O foco sテ」o as pessoas e os momentos テコnicos

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Vanessa Samテコrio, 21 anos, clicada no Bom Fim

Karina Bublitz, 20 anos, na festa ALOK

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Juliana Cardozo, 19 anos, na festa Wild


T

eve o MECA Festival, que foi muito massa. Teve uma semana em fevereiro que eu fotografei de segunda a domingo as noites inteiras, quase morri!”. E na hora de buscar referências? “Citar os fotógrafos mais famosos é meio clichê, mas o Terry Richardson, o Cobrasnake. Um lugar onde eu descobri muita coisa e me inspirou muito é o Tumblr e o Flickr. Lá tem muita gente talentosa. Tem a Alisson Scarpulla, que o Miguel Soll me apresentou e bá, ela é SENSACIONAL. Talvez seja minha favorita atualmente. Por sinal o prórpio Miguel eu admiro muito. Aprendo muito vendo ele trabalhar e sempre peço e conto muito com a opinião dele. O cara manja demais!” E quem você gostaria de fotografar? “A Charlotte Free. Acho ela muito afudê. Ah, e a Winona Ryder por motivos de: paixão platônica desde os 12 anos”, confessa. E pelo jeito, essas fotos seriam ótimas, já que retratos é seu tema favorito fora do ambiente de festas. “Mas nada posado, tem que ser de surpresa. Ah, e também eu gosto muito de levar alguma das minhas lomos quando saio e bater fotos dos amigos por aí.” Um lugar onde eu descobri muita coisa e me inspirou muito é o Tumblr e o Flickr. Lá tem muita gente talentosa. Tem a Alisson Scarpulla, que o Miguel Soll me apresentou e bá, ela é SENSACIONAL. Talvez seja minha favorita atualmente. Por sinal o prórpio Miguel eu admiro muito. o prórpio Miguel eu admiro muito. o prórpio Miguel eu admiro muito. o

João Veppo retratado por amigos

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A primeira vez que eu ouvi falar da Volt Project, ela ainda não tinha nome. Um amigo abriu um pvt no chat do Facebook e disse: “posso te ligar?”. Sabendo que ele sabe do meu ódio por conversas no telefone, conclui que, para pedir isso, devia ser importante. “Beleza, liga aí”, e, quando atendi, João Veppo começou a me contar do projeto que ele estava planejando criar. Sabendo que ele sabe do meu ódio por conversas no telefone, conclui que, para pedir isso, devia ser importante. Sabendo que ele sabe do meu ódio por converFotografias tiradas em noites gaúchas

A primeira vez que eu ouvi falar da Volt Project, ela ainda não tinha nome. Um amigo abriu um pvt no chat do Facebook e disse: “posso te ligar?”. Sabendo que ele sabe do meu ódio por conversas no telefone, conclui que, para pedir isso, devia ser importante. “Beleza, liga aí”, e, quando atendi, João Veppo começou a me contar do projeto que ele estava planejando criar. Sabendo que ele sabe do meu ódio por conversas no telefone, conclui que, para pedir isso, devia ser importante. Sabendo que ele sabe do meu ódio por conversas.

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Nos protestos de julho, João testou o analógico

Tudo entre amigos, as festas sempre tinham decorações temáticas, bilhetinhos e outros mimos, às vezes começavam com máscaras, outras terminavam na piscina e as fotos, das câmeras de João e Chico, sempre ficavam ótimas. “Em um momento de bebedeira concluímos que as fotos de festa na cidade tavam um saco e que a gente podia fazer alguma

coisa diferente. Chamamos a Vanessa pra fazer toda arte e identidade e nisso notamos que sem ela mandando na gente a empresa ia FALIR em uma semana então ela virou nossa sócia”, ele conta. Como todo bom pisciano, a ligação de João com arte é muito forte. Leitor ávido, ele toca piano, violão e guitarra, e sua intimidade

com a câmera vem de anos. Fica difícil separar o lado artístico da fotografia do lado de negócios. “Acho que isso é o diferencial da Volt. Nós tentamos aproximar o máximo possível a foto arte da foto comercial, criando um mix dos dois.” E como funciona isso? “Então, nas festas tem que ter algumas fotos padrões”. TRAVESSÃO

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de arrepiar o bagual

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O cinema morto-vivo 3.

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décima edição do Fantaspoa, que começa nesta sexta-feirae vai até o dia 25 nas salas do circuito de arte do Centro Histórico de Porto Alegre, não é apenas festiva. – É a maior de todas – anuncia João Pedro Fleck, o cara por trás do festival (junto a Nicolas Tonsho). – Só pelo trailer com trechos dos filmes selecionados já dá para ver como o Fantaspoa cresceu – ele acrescentou, ao apresentar o evento a jornalistas. O trailer pode ser visto abaixo, e também em www.fantaspoa.com, site que funciona como guia, permitindo que os espectadores orga-

nizem sua própria grade de sessões, a serem prestigiadas no CineBancários, no Santander Cultural ou nas salas da Cinemateca Paulo. A verdade é que, desde que surgiu, em 2005, o Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre se consolidou como referência do gênero no país. Mais extenso ou enxuto, ,sabem o que esperar do Fantaspoa. Desta vez, os números impressionam ainda mais: são sete mostras com mais de 150 filmes (dois terços formados por longas-metragens), 37 sessões comentadas, mais de 50 convidados, grande parte deles do Exterior. E, ainda,

cinco cursos ministrados por profissionais, em sua maioria, de fora do Brasil. Se, no ano passado, um dos destaques do evento foi a exibição da cópia restaurada e musicada ao vivo do clássico expressionista O Gabinete do Dr. Caligari (1920), de Robert Wiene, neste ano o festival vai repetir a experiência com A Morte Cansada (1921), thriller de fantasia de Fritz Lang que terá música ao vivo a cargo do violonista argentino Germán Suane. São várias as promessas de bons filmes, muitos indicados a espectadores menos interessados em sangue e afeitos às produções assim,

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2.

4.

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Origens

N

o ano de 2005, surgiu a ideia de promover um festival na cidade de Porto Alegre dedicado ao gênero fantástico (ficção científica, fantasia e horror). Este tipo de evento, até então era inédito no Brasil. O grupo apresentou o projeto para duas instituições responsáveis por salas de cinema de Porto Alegre, que aceitaram realizar o festival em conjunto com o Clube de Cinema de Porto Alegre. O evento, naquela época, foi denominado “I Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre”. A cada ano, o evento cresce em importância e aumenta o interesse do público espectador em torno de sua programação dinâmica, atraindo uma grande atenção da mídia e provocando inserções em diversos veículos de comunicação, tais como jornais, revistas, rádio, tv e internet. No primeiro ano, foram exibidos 15 filmes, em 6 dias, para um público de 800 espectadores. Em 2006, houve a incorporação da terceira sala de cinema e a realização de uma mostra competitiva de curtas e cursos. Nessa edição, foi feita uma homenagem especial ao mestre brasileiro, José Mojica Marins, o conhecido Zé do Caixão, com a apresentação de uma.

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1. O astronauta 2. A mulher sangrenta 3. O polvo e o menino


Vale a pena

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E

m que comemora uma década de atividades, o Fantaspoa – Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre – tem programado para 2014 uma série de atividades para não deixar ninguém desapontado. Entre os dias 09 e 25 de maio o festival tomará conta das salas CineBancários, Cine Santander Cultural, Paulo Amorim e Eduardo Hirtz – todas localizadas no centro da capital gaúcha – para a exibição de mais de 150 obras (52 curtas e 102 longas) de mais de 40 países diferentes. No total, serão exibidos 15 longas em première brasileira, 50 em première latino-americana e dois terão aqui sua estreia mundial. Ao todo serão sete mostras específicas: Competitiva de Curtas-metragens; Exibições Especiais; Homenageados; Apocalipse Zumbi; Competitiva Ibero-Ameri-

1.

cana; e Competitiva Internacional. Além disso tudo, mais de 50 convidados de todo o mundo passarão por Porto Alegre durante o evento. Estão previstas 37 sessões comentadas, além de um concerto com o músico britânico Simon Boswell, exibição do filme A Morte Cansada (1921), de Fritz Lang, musicada ao vivo pelo argentino Germán Suane; festa de encerramento com as bandas Alohatomic (SP) e PhantomPowers (RS); exposição de obras do artista plástico James Sizemore; e cinco cursos de cinema, com Carlos Primati, Lloyd Kaufman, Richard Stanley, Germán Suane e James Sizemore. A abertura marcará os 30 anos do lançamento do clássico O Vingador Tóxico (1984), de Lloyd Kaufman e Michael Herz, enquanto que o encerramento será com a première mundial de Jorge e Alberto Contra os Demônios Liberais, de Hernán e Gonzalo Quintana, produção inédita da El Desquicio Produccion (Argentina) e pela Fantaspoa Produções (Brasil). E o Papo de Cinema, é claro, estará presente por todo o festival, trazendo um olhar crítico e diferenciado dos principais títulos em exibição, além de uma cobertura ampla e

completa com notícias e entrevistas!de Porto Alegre. O evento, naquela época, foi denominado “I Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre”. A cada ano, o evento cresce em importância e aumenta o interesse do público espectador em torno de sua programação dinâmica, atraindo uma grande atenção da mídia e provocando inserções em diversos veículos de comunicação, tais como jornais, revistas, rádio, tv e internet. No primeiro ano, foram exibidos 15 filmes, em 6 dias, para um público de 800 espectadores. Em 2006, houve a incorporação da terceira sala de cinema e a realização de uma mostra. No primeiro ano, foram exibidos 15 filmes, em 6 dias, para um público de 800 espectadores. Em 2006, houve a incorporação da terceira sala de cinema e a realização de uma mostra.

1. Robô assassino 2. Rosto sangrante 3. A boneca sinistra

3.


Os que conhecem a obra do tailandês Apichatpong Weerasethakul sabem que seus filmes nunca apresentam respostas fáceis, mas Hotel Mekong é ainda mais experimental do que a maior parte das obras do diretor. O hotel do título é um dos maiores do mundo, situado junto ao rio Mekong, que marca a fronteira entre a Tailândia e o Laos. O filme se passa durante uma das cheias do rio e funciona como uma espécie de documentário, retratand as filmagens do filme Ecstasy Garden, escrito por Weerasethakul há alguns anos e nunca finalizado. O diretor, porém, não realiza a obra como havia previsto para longa que contaria a história de uma mãe vampira comestá a sua filha humanadede forma mas simSetransforma a filme emso-um ensaio “OoCÉREBRO ENCANTADO” ma, aqui também a programação sexriolinear, é a qualidade. você tiver sugestões ta a domingo, mas tem muito mais durante a conteúdo de nosso guia, por favor, em que investia a linguagem cinematográfica, rodado como se fosse um filme caseiro em que realidade e ficção se confundem. comente. DIRETOR:por VICTOR KRUKOVum trailer comsemana queem pode ser encontrado no site. Este Os que conhecem a obra do tailandês Api(Pedimos desculpas não encontrar legendas português) As opções culturais são vastas nesta semana em Porto Alegre. O Fantaspoa, Festival de Cinema Fantástico, inicia a programação de seu décimo ano nessa sexta-feira. Aqui, colocamos os filmes que serão exibidos entre sexta-feira e domingo, mas mais detalhes sobre o festival podem ser encontrados na matéria que o Sul21 publicou semana passada e no site do evento. No cinema, ainda estreia filme o tailandês experimental Hotel Mekong. O Festival Palco Giratório entra em sua segunda semana com peças de vários estados, exibidas nos teatros da cidade. Da mesma for-

O filme o cérebro amulante está em cartaz na quinta-feira

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é também o último fim de semana para conferir a exposição Gênesis, de Sebastião Salgado, na Usina do Gasômetro. A capital recebe ainda a cantora Maria Rita nesta sexta, no teatro do Sesi. Já na terça-feira, a Ospa apresenta seu quarto concerto oficial no Theatro São Pedro, com a presença do contrabaixista italiano Giuseppe Ettorre e do maestro português Pedro Neves. Todas as semanas, o Sul21 traz indicações de filmes, peças de teatro, exposições e música para seus leitores. Não se trata de uma programação completa, mas de recomendações dos melhores espetáculos que assistimos. O crité-

chatpong Weerasethakul sabem que seus filmes nunca apresentam respostas fáceis, mas Hotel Mekong é ainda mais experimental do que a maior parte das obras do diretor. O hotel do título é um dos maiores do mundo, situado junto ao rio Mekong, que marca a fronteira entre a Tailândia e o Laos. O filme se passa durante uma das cheias do rio e funciona como uma espécie de documentário, retratando as filmagens do filme Ecstasy Garden, escrito por Weerasethakul há alguns anos e nunca finalizado. O diretor, porém, não realiza a obra como havia previsto para o longa que contaria.


do

o

OS COMPARSAS Após uma contaminação geral, Ana, Axel e Jonathan se trancam em uma casa para sobreviver. Eles criaram fortes regras e passam o tempo criando jogos. Para não enlouquecer, fazem diários em vídeo que jogam em um baú trancado. A tensão aumenta quando Jo-

nathan traz um infectado para casa e o deixa vivo, acorrentado. Com o passar dos dias, a frágil relação do trio se perturba ainda mais. Para não enlouquecer, fazem diários em vídeo que jogam em um baú trancado. A tensão aumenta quando Jonathan traz um infectado para casa e o deixa vivo, acorrentado. Para não enlouquecer, fazem diários em vídeo que jogam.

Os Comparsas é o filme mais esperado do dfestival

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1.

Importados

N 2. 3.

o dia 24 de maio, como parte do encerramento do décimo Fantaspoa – Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre, a celebração da dominação do cinema fantástico na capital gaúcha estará a cargo das – como não poderia deixar de ser – fantásticas bandas Phantom Powers (RS) e Alohatomic (SP). A festa será no In Sano Pub (Rua General Lima e Silva, 601), a partir das 22 horas. A Phantom Powers é um duo que evoca as almas moribundas para que se levantem de suas tumbas e mexam seus esqueletos por meio de rituais de rock primitivo. O surf music, o rock’n’roll e os blues da guitarra de Ray Z, mescladas com os vocais guturais e garage punk de Tio Vico formam a essência deste trabalho sobrenatural. O surf music, o rock’n’roll e os blues da guitarra de Ray Z. A vida nunca

1. No Kids 2. Chinesa enlouca 3. O porco e o homem

A verdade é que, desde que surgiu, em 2005, o Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre se consolidou como referência do gênero no país. Mais extenso ou enxuto, com mais ou menos filmes, os fãs sabem o que esperar do Fantaspoa. Desta vez, os números impressionam ainda mais: são sete mostras com mais de 150 filmes (dois terços formados por longas-metragens), 37 sessões comentadas, mais de 50 convidados, grande parte deles do Exterior. E, ainda, cinco cursos ministrados por profissionais, em sua maioria, de fora do Brasil. Se, no ano passado, um dos destaques do evento foi a exibição da cópia restaurada e musicada ao vivo do clássico expressionista O Gabinete do Dr. Caligari (1920), de Robert Wiene, neste ano o festival vai repetir a experiência com A Morte Cansada (1921), thriller de fantasia de Fritz Lang que terá música ao vivo a cargo do violonista argentino Germán Suane. São várias as promessas de bons filmes, muitos indicados a espectadores menos interessados em sangue e afeitos às produções, vamos dizer assim, “light”. É o caso, por exemplo, do novíssimo (e ótimo) longa do diretor espanhol Nacho Vigalondo, o thriller hispano-americano Open Windows, estrelado pelo Frodo Elijah Wood e pela celebridade pornô Sasha Grey. De Bruce La Bruce, um dos convidados do evento, o 10º Fantaspoa vai apresentar Gerontophilia (2013) e Otto (2008). Outras presenças de destaque são as dos diretores BobcatGoldthwait, que vem comentar seu elogiado.


Jurados João Pedro Fleck

Bruce La Bruce

C

anadense, 53 anos. Diretor, roteirista e fotógrafo. Participa pela terceira vez do Fantaspoa. Hoje mora em Toronto, e vê no cinema fantástica uma nova veia da sétima arte.

G

aúcho de São Leopoldo. Um dos criadores do evento. Responsável também pela organização do Fantaspoa. Incentiva a criação e surgimento de novos integrantes.

Programação Segunda-feira 10h 13h30min 15h30min 16h55min 17h35min 19h05min 20h15min 22h10min

- A Mulher Sangrenta - O polvo e o menino - O Austronauta - Novo Chamado - O Vingador Tóxico - Santa Sangre - Perdita Durango - Basket Case

Terça-feira

10h - A Mulher Sangrenta 13h30min - O polvo e o menino 15h30min - O Austronauta 16h55min - Novo Chamado 17h35min - O Vingador Tóxico 19h05min - Santa Sangre 20h15min - Perdita Durango 22h10min - Basket Case

Carlos Primatti

H

olandês de 40 anos, um dos maiores nomes do cinema fantástico. Participa pela primeira vez do festival gaúcho. É considerado o pai dos efeitos visuais.

Quarta-feira 10h - A Mulher Sangrenta 13h30min - O polvo e o menino 15h30min - O Austronauta 16h55min - Novo Chamado 17h35min - O Vingador Tóxico 19h05min - Santa Sangre 20h15min - Perdita Durango 22h10min - Basket Case TRAVESSÃO

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agenda noturna

A zuera não tem limites TEXTO: MARIA POLO FOTOS: VOLT PROJECT

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Os DJs Chico Soll e Mike Ricardo embalam a Cadê Tereza?

mistura de modernidade e tradição confere a Porto Alegre um charme especial. As influências portuguesa, italiana e alemã podem ser vistas e apreciadas na arquitetura, culinária, nas festividades no decorrer do ano e no carisma do seu povo. A capital do Rio Grande do Sul completa 239 anos em 2011 e tem recebido destaque mundial pelo desenvolvimento urbano e social, apresentando o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre as metrópoles nacionais. Segundo dados da ONU, o índice de alfabetismo é de 96.55%, além de apresentar um sistema de trânsito que é referência para as cidades brasileiras e uma localização privilegiada na rota Mercosul. Atualmente, o governo gaúcho faz grandes investimentos no turismo da região. A metrópole é uma das sedes da Copa do Mundo de Futebol em 2014 e, por isso, já iniciou o processo de recrutamento e capacitação de funcionários para atender a demanda turística


Cadê Tereza? - 10.05 O fato é que Tereza continua desaparecida! Há relatos de que ela foi ao samba lá no morro e não avisou ninguém. Há quem tenha visto a moça no baile funk, ostentando e indo até o chão-chão-chão! Dizem que ela frequenta o Odomodê, mas a última busca sucesso... Casa de Teatro - R$25 (R$20 para artistas)

What the Folk - 17.05 Pra quem for amante, simpatizante ou entediado da vida, prometemos fugir da mesmice e fazer você ouvir aquela música favorita que normalmente só se consegue ouvir às 6am numa festa. O Silêncio abre as portas para nós. Todo aconchegante pra uma ser inesquecível! Clube Silêncio - R$25 (na lista) R$35 (na hora)

Lost Kids - 24.05 Estamos aqui pra homenagear nós, os sonhadores. Os que vão seguir o que realmente querem e não vão se vender pra essa necessidade de estabilidade. Nós, que saem na quarta. Beco 203 - R$25 (na lista) R$ 35 (na hora)

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de comer

Bar de tapas Q

uem mora nas redondezas do bairro Moinhos de Vento deve ter reparado nesse novo e charmoso espaço da capital. A mais nova opção de gastronomia em Porto Alegre é o Lola – Bar de Tapas, um lugar “para os amigos e os amigos dos amigos”. No cardápio, sangria que combina com as tapas, em pequenas porções que são ótimas para quem quer provar um pouco de tudo, passando pelos acepipes inspirados não somente na cul-

Onde? Rua Castro Alves, 422

Que horas? Das 12h às 19h O que pedir? Sanduíches montados

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tura espanhola, mas também em diversas comidinhas de bar de diversas partes do mundo! Tudo isso em um ambiente descontraído e divertido! Entre os diferenciais, é possível jogar com os amigos qualquer um dos vários jogos oferecidos pela casa e até mesmo levar seu cãozinho no espaço deck, especial para céu. Tudo isso em um ambiente descontraído e divertido! Entre os diferenciais, é possível jogar com os amigos vários jogos oferecidos.

Restaurante foi inaugurado em 2010 e fica no Moinhos





TIRINHAS

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OPINIÃO

Exposição Pé de Meia TEXTO: MARIA POLO FOTOS: VOLT PROJECT

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Daí cabe perguntar: se a lei diz que nos crimes graves como o homicídio é mais importante considerarmos a decisão de quem representa a sociedade do que a do técnico formado em direito e aprovado em concurso, por que não nas questões menores? Ou o critério é o grau de dificuldade técnica da questão? Afinal, todos sabemos o que é matar alguém, mas nem todos sabemos como lidar com a insolvência de um banco de investimento com bilhões de ativos securitizados. Não seria então o caso de termos concursos para magistrados de causas mais técnicas (sem cotas) e causas menos técnicas (com cotas)? Daí cabe perguntar: se a lei diz que nos crimes graves como o homicídio é mais importante considerarmos a decisão de quem representa a sociedade bilhões de ativos securitizados. Não seria então o caso de perguntar: se a lei diz que nos crimes graves coperguntar: se a lei diz que nos crimes graves comentários feitos por pessoas perguntar: se a lei diz que nos crimes graves comentário.

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LAMBENDO OS BEIÇOS

Comidinhas ao ar livre FOTO: BRUNO ABIZ TEXTO: CAROL GOYER

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Da esquerda para direita: Julia e Carlos Guetz

inte chefs e muito sabor são a receita de um projeto que vai movimentar a Rua da República, na Cidade Baixa, em Porto Alegre, neste domingo, dia 16 de abril. A quarta edição do Comida de Rua levará para a calçada do bairro pratos influenciados pela culinária criativa. O evento gratuito vai das 12h às 17h e pretende servir 6 mil porções. A expectativa é que 10 mil pessoas compareçam no encontro gastronômico. O idealizador do evento, o chef Rodrigo Paz, 25 anos, comemora o sucesso das últimas edições e diz que o objetivo, acima de tudo, é aproximar a população da boa culinária. A última feira foi realizada em dezembro e contou com 22 cozinheiros. — O evento não é específico para comercialização de comida. Queremos aproximar a gastronomia da rua, da culinária, vender comida é uma consequência — ressaltou ao G1. Além da venda dos alimentos, o projeto também faz ações sociais. Neste domingo.


Os participantes da sテゥtima comidinha de rua

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O evento reuniu uma multidテ」o de aproximadamente duas mil

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As ruas da Cidade Baixa, em Porto Alegreserão tomadas por aromas e sabores na tarde deste domingo (16) com a realização da 4ª edição do festival Comida de Rua. O evento, marcado para começar às 12h, reúne 20 chefs que levam para o público suas próprias criações, além de cervejas artesanais, drinks, sucos e sorvete, tudo embalado por muita música e diversão. Organizador do projeto há um ano, o chef Rodrigo Pazrevela fala sobre as expectativas para a chegada do final de semana. - Comecei a feira no ano passado apenas com a minha banca, acompanhado pela minha noiva, Dafny Zanquetta. Trabalhando sempre com uma média de 20 chefs, temos uma expectativa de público acima de sete mil visitantes e buscamos sempre trazer novidades que aproximem as pessoas da gastronomia de rua. Além de mais bancas, o evento terá novidades nesta edição, como uma oficina de horta caseira para temperos e demonstrações da técnica Focaccias. Os visitantes também podem ajudar entidades carentes doando utensílios de cozinha para o Banco de Alimentos, que também terá representantes no local para receber as doações. A feira acontece das 12h às 17h, na rua da República, ao lado da Fundação Pão dos Pobres, no bairro Cidade Baixa. Os tickets para consumo custam entre R$ 4 e R$ 15, e podem ser comprados antecipadamente. A feira pretende consolidar a cidade como polo

gastronômico. “O evento é gratuito, aberto ao público. Todas as atividades são abertas. A gente vende os tickets para comida e bebida antecipadamente para diminuir as filas no dia”, contou Paz. Ao todo, sete guichês estarão vendendo os bilhetes também no dia. Os valores são de R$ 10 para os pratos e R$ 7 para cervejas artesanais e drinks alcoolicos e não alcoolicos. Tudo será preparado no local. A criatividade dos ingredientes é o diferencial do evento. Paz, por exemplo, adianta que seu prato foi inspirado nas comidas que normalmente são comercializadas nas ruas, como cachorro-quente e pipoca. — São comidas criativas com a mesma qualidade que se encontra em restaurante, a preço de R$ 70, R$ 80. Queremos a democratização da cozinha criativa. Todos os ingredientes são orgânicos, a maioria do entorno da Região Metropolitana —, sustentou. Para a data ele vai preparar um diferente hambúrguer de w. A quarta edição do Comida de Rua #AFeira será na Rua da República, em frente ao Pão dos Pobres, no domingo das 12h às 17h. Vai ser um evento bem legal. Foi um evento bem legal, com muita gente, muita comida, cervejas artesanais, preços populares e bastante animação. Lógico que já ouvi algumas reclamações: muita fila. Foi um evento bem legal, com muita gente, muita comida, cervejas artesanais, preços populares e bastante animação. Lógico que já ouvi algumas reclamações: muita fila.

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NA CABECEIRA

E vai pra Galera TEXTO: ANGUS STONE FOTOS: JOHN GREEN

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Mãos de Cavalo Daniel Galera, Companhia das Letras, 2007 214 páginas

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asci em julho de 1979 em São Paulo, mas sou de família gaúcha e me criei em Porto Alegre. Já adulto, vivi alguns anos em São Paulo e Santa Catarina, e hoje moro em Porto Alegre de novo. Publiquei contos e textos diversos na internet de 1996 a 2001, com destaque para os três anos como colunista do mailzine Cardosonline (COL), e lancei meus dois primeiros livros pelo selo independente Livros do Mal, criado em 2001 por mim, Daniel Pellizzari e Guilherme Pilla. Além de escrever prosa de ficção, traduzo autores de língua inglesa e de vez em quando publico resenhas, ensaios e reportagens. Desde 28/1/13 sou colunista do jornal O Globo, às segundas no Segundo Caderno. Fui guitarrista/baixista da banda Blanched e tenho um rascunho de projeto musical chamado Velho Branco, que até o momento se resume a musiquinhas gravadas em 2003 com um microfone Genius de dez reais. Daniel Pellizzari e Guilherme Pilla.

DANIEL GALERA “Meu nome é Daniel Galera e este é o meu site. Para sua conveniência, seguem hyperlinks para as principais seções em que seu conteúdo está subdividido: Novidades, Sobre o autor, Downloads, Livros [Barba ensopada de sangue, Cachalote, Cordilheira”.

Além de escrever prosa de ficção, traduzo autores de língua inglesa e de vez em quando publico resenhas, ensaios e reportagens. Desde 28/1/13 sou colunista do jornal O Globo, às segundas no Segundo Caderno. Além de escrever prosa de ficção, traduzo autores de língua inglesa e de vez em quando publico resenhas, ensaios e reportagens. Desde 28/1/13 sou colunista do jornal O Globo, às segundas no Segundo Caderno.


COM A PALAVRA

Desculpa qualquer coisa, viu?

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scar Wilde morreu num quarto de hotel. Parece que ele estava incomodadíssimo com a decoração. Reza a lenda que suas últimas palavras foram: “Ou eu ou esse papel de parede”. Um século depois, o quarto de hotel em que ele morreu continua idêntico. O papel de parede venceu a batalha. Escrevo essa crônica num quarto de hotel, sozinho. Daqui a algumas horas vamos fazer uma peça em Salvador. Todo mundo foi almoçar, menos eu - fiquei aqui para escrever a crônica. Alguma coisa me dá uma tristeza braba. Não sei se é a fome ou o edredom laranja, ou a poltrona laranja, ou o quadro laranja - será que eles pensaram nisso? Será que eles encomendaram um quadro laranja pra combinar com o edredom? Ou será que foi o contrário?

Pedi na recepção a senha do wi-fi. “A internet custa 30 reais, senhor”. Não comprei como forma de protesto. “Wi-fi é que nem água, não se cobra”, eu disse. “Sim, eu sei que vocês cobram cinco reais pela água, mas não deveriam.” A moça pediu desculpas e continuou a fazer o que ela estava fazendo. Quando cheguei no quarto, lembrei que preciso do wi-fi pra mandar a crônica. Lembrei que preciso escrever a crônica. Durante a semana eu tenho várias ideias pra crônica. Mas nunca tenho ideia no sábado, que é quando eu tenho que escrever a crônica. Você deve estar se perguntando: por que é que eu não escrevo a crônica durante a semana, no momento exato em que eu tenho uma ideia pra escrever a crônica? Foi a mesma coisa que a Clarice me perguntou. Eu fiquei sem resposta - ela sempre me deixa sem resposta. Daí ela disse que eu tenho que aprender a me programar, que toda semana é a mesma coisa, o mesmo desespero pra cumprir compromissos que estavam assumidos há milênios, e que eu não tinha que ter brigado com a moça do wi-fi, e foi almoçar.

Gregório Duvivier Carioca, escritor, colunista da Folha de São Paulo. Um dos fundadores do canal Porta dos Fundos.

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