2017 A ARQUI TE TURA E O URB ANISMO FRENTE ÀS QUESTÕES DA (RE)INTEGRAÇÃO DE REFUGIADO S E IM IGRANTE S NA CIDADE CAROLINA MONTICELLE
CAROLINA MONTICELLE A ARQUITETURA E O URBANISMO FRENTE ÀS QUESTÕES DA (RE)INTEGRAÇÃO DE REFUGIADOS E IMIGRANTES NA CIDADE
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE DO ESTADO DE SÃO PAULO SÃO PAULO 2017
CAROLINA MONTICELLE
A ARQUI TE TURA E O URB AN I SMO FREN TE ÀS QUESTÕES DA (RE)I N TEGRAÇ ÃO DE REFUGI ADOS E I MI GRAN TES N A C I DADE
Trabalho Final de Graduação apresentado à Universidade Presbiteriana Mackenzie do Estado de São Paulo como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo
Orientadora: Prof.ª Drªa Larissa Campagner
São Paulo 2017
Certamente não se pode pensar em compartilhar uma experiência sem compartilhar um espaço (Zygmunt Bauman)
Resumo O presente trabalho expõe o cenário dos fluxos migratórios atuais destacando as novas demandas perante a sociedade. E, para caracterizar-se como país acolhedor é necessário discutir questões de hospitalidade e incentivo a integração social desses refugiados e imigrantes na cidade. Busca também gerar debates com relação a função social do arquiteto e urbanista, procurando entender onde e como este profissional pode atuar na criação de oportunidades de reinserção desses estrangeiros através de espaços que supram suas necessidades especificas. A partir disso, como objeto de projeto, foi desenvolvido um edifício que alia habitação temporária e um centro de atividades com equipamentos que os envolvam com o meio urbano e social.
SUMÁRIO Introdução 12 1. Infraestrutura de suporte social para o fenômeno dos refugiados e imigrantes
14
1.1. Contextos e impactos dos fluxos recentes de migração no Brasil 16 1.2. O novo reconhecimento e a ampliação do compromisso com esses estrangeiros
26
2. O fator arquitetura: A integração social e do espaço na cidade
38
2.1. O espaço onde o arquiteto e urbanista pode influenciar e repensar 40 2.2. Extensão da questão do estrangeiro enquanto um desafio para a sociedade 49 2.3. O conceito de identidade remodelando a cidade e sua arquitetura
56
3. Projetos de referência 64 3.1. Aeroporto Tempelhof | Alemanha
66
3.2. Os 3 vencedores do concurso “From Border to Home” | Finlândia 68 3.2.1 Equipe Alemanha 3.2.2 Equipe Finlândia 3.2.3 Equipe Itália
69
4. Inserção Urbana: escolha do terreno
73
77
80
4.1. Breve analise urbana do bairro do Glicério 82 4.2. Justificativa e relevância – Igreja Missão da Paz
88
5. Projeto: Centro de Apoio e Reintegração Social para Imigrantes e Refugiados 92 5.1. Introdução
94
5.2. Programa e pré-dimensionamento 96 5.3. Respostas arquitetônicas ao programa 99 Conclusão
120
Referências Bibliográficas 122
I n t r o d u ç ã o
No entanto, hoje vemos a intensificação desses fluxos mi-
gratórios e o quanto eles têm impactado questões humanitárias, não apenas nos países da Europa e EUA , mas também no Brasil, onde o número de solicitantes de refúgio vem crescendo nos últimos anos. O número de pessoas em situação de deslocamento forçado no mundo no final de 2014 atingiu o nível mais alto desde a Segunda Guerra Mundial (diagnóstico do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados - ACNUR).
A imposição desse fenômeno atual e os novos de-
safios para as sociedades dentro de suas cidades são o
ponto
er
como
de
partida
desta
gradualmente
a
pesquisa. presença
Procurar
desses
entend-
estrangeiros
modifica as dinâmicas sociais e reforça a necessidade de avançar em questões relativas a hospitalidade, a garantia de direitos e a integração dessa população ao novo país. IMAGEM 01 _ (Fonte: The Guardian/ Crédito: Ellie Foreman-Peck)
Migrar é um direito humano, devemos nos assegurar dessa
informação e torna-la incontestável logo de início. Uma vez que, segundo artigo 13 da Declaração Universal dos Direitos Humanos:
“1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. 2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar. “ (DUDH, 1948)
14
A crescente consciência da situação em que essas pes-
soas se encontram gera discussões a respeito de estratégias que garantam seu acolhimento. E a arquitetura e o urbanismo entram nessa realidade podendo participar de forma muito proveitosa desse processo, debatendo as questões em que pode inter vir, tanto na teoria como na prática. Nesse aspecto, se discute também essas múltiplas funções que a profissão desempenha na sociedade, já que pode oferecer espaços que criem a sensação de inclusão social desses refugiados e imigrantes, ao identificar suas demandas e necessidades, propondo programas e ações que os atendam.
15
1 . I n f r a e s t r u t u r a d e
s u p o r t e
p a r a d o s e
o
s o c i a l
f e n ô m e n o
r e f u g i a d o s
i m i g r a n t e s
IMAGEM 02 _ “Vidas, histórias, que passam”. (Fonte: Escalas Urbanas/ Crédito: Alberto Ricci)
16
17
1.1. Contextos e impactos dos fluxos recentes de migração no Brasil
R E F U G I A D O S
São todos aqueles que escapam de seu país de origem alegan-
do fuga de conflitos armados ou temores de perseguição por moti
As migrações no século 21 têm
É primordial entender que
vos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas.
apresentado novos desafios para as
essas
de
Em condições nas quais não possa ou não queira regressar, devido sua
sociedades, uma vez que não só a
seus países de origem por moti-
situação perigosa e intolerável, com riscos vitais. Além de não pod-
globalização, mas também catástro-
vos diferentes, porém não deix-
er deixar o país no qual solicitou o refúgio durante todo o tempo em
fes naturais, guerras e conflitos au-
ando de ser igualmente vítimas.
que seu pedido estiver sendo analisado. No Brasil, o refúgio também
mentaram a intensidade dos fluxos
Entre
pode ser aplicado em casos de graves violações de direitos humanos.
migratórios.
sofridas, estão: os conflitos arma-
Vivemos
hoje
essa
pessoas
as
se
inúmeras
adversidades
nova realidade, onde tais desordens
dos,
de caráter mundial repercutem nas
sastres naturais, fome e a miséria.
cidades que os recebem. O motivo que os faz migrar demarca apenas o ponto de partida na investigação desse tema complexo que envolve toda uma ordem, desde de sair do país de origem, o percurso, a chegada e a inserção local, sem contar os traumas durante todo o processo.
perseguições
deslocam
atuais,
políticas,
de-
Neste cenário das migrações o
jornalista
João
Reconhecidos internacionalmente, suas questões são reguladas por
uma Convenção específica de 1951, acompanhada, no caso brasileiro, pela Lei 9.474, de 1997. A Declaração de Cartagena de 1984 também define detalhes jurídicos acerca do assunto para os países latino-americanos.
Paulo
Charleaux explica em reportagem de 2015 para o Nexo Jornal, a diferença entre essas vítimas a partir das categorias que existem para separa-las. Ele alega serem muito importantes, pois os países usam os aspectos jurídicos específicos para definir suas políticas de acolhimento. Entre as categorias estão:
IMAGEM 03 _ Sírios andam em meio a escombros em Douma, a leste de Damasco, capital da Síria. (Fonte: AFP Photo/ Crédito: Abd Doumany)
18
19
A S I L A D O S
M I G R A N T E S
Enquanto a concessão do refúgio depende de um meio técni-
Termo utilizado para toda pessoa em trânsito, que emigra (sai) de seu
co por um Conselho com representantes diversos, o asilo pode ser
país de origem e, quando chega a seu destino, é chamada de imigrante (entra).
concedido
Refugiados e asilados são, portanto, categorias particulares de migrantes.
exclusivamente
pelo
presidente
da
República,
sem
que
seja necessário nenhum embasamento de ordem estritamente legal.
No caso genérico de migração, há menções no artigo 13 da Declaração
Esse aspecto torna o asilo uma ferramenta política, pois es-
Universal dos Direitos Humanos, assim como na Convenção Americana. Inter-
tende a proteção para além do território do país de abrigo, incluindo
namente, o Brasil regula o assunto por meio do Estatuto do Estrangeiro de 1980.
também veículos diplomáticos e embaixadas para amparo do asilado.
IMAGEM 04 _ Ex-senador boliviano Molina Pinto, opositor do governo Evo Morales, sofria perseguição política
IMAGEM 05 _ Refugiados na Hungria (Fonte: Anistia Internacional / Crédito: Attila Husejnow)
e foi acolhido na embaixada do Brasil em La Paz. (Fonte: Nexo Jornal / Crédito: Ueslei Marcelino)
20
21
Apesar
de
compreender
engloba:
1.189.947
“permanen-
dos; e a crescente presença de
atualmente os imigrantes haitia-
o processo migratório como um
tes”; 595.800 “temporários”; 45.404
empresas
outros
nos; e o Estatuto dos Refugiados,
fenômeno permanente na história
“provisórios”; 11.230 “fronteiriços”;
países, apresentando o Brasil como
que contempla principalmente os
da
4.842 “refugiados”; e 51 “asilados”.
um
imigrantes do Oriente Médio e da
humanidade,
com
leis
espe-
cificas datadas a pelos menos 60
brasileiras
horizonte
de
em
possibilidades.
A classificação adotada pela
Junto aos três citados, tam-
PF mostra que o processo de reas-
bém incluem, medidas legais como:
sentamento em um novo país é com-
o Acordo de Residência, estabeleci-
plexo e gradual. Enquanto migran-
do no Mercosul, em 2000, que as-
te, essa pessoa recebe nomeações
segura direitos, inclusive culturais,
relativas à sua situação no país e
aos imigrantes e suas famílias; o
de
até quando ainda está fora dele,
Visto Humanitário, que beneficia
potências como os EUA ou alguns
a espera de documentos. O pro-
países
ten-
cedimento compreende dimensões
do maior visibilidade quando se
jurídicas, políticas, econômicas e
trata do grande número de pes-
sociais, impondo demandas con-
soas forçadas a se deslocar em
sideráveis
condições longes de serem as ideias
quanto da sociedade que o aceita.
anos,
o
assunto
vem
ganhando
destaque
e
tos
específicos
e
para
nova
mais
porâneos
percorrendo essa
contexcontemcrise
migratória sem previsão de fim. Vemos da
hoje
União
notícias Europeia,
e principalmente de forma ilegal.
tanto
do
África e possibilita que qualquer pessoa,
definindo-se
como
refu-
giada, possa ingressar em território brasileiro e aqui permanecerá até que seu caso seja avaliado, com toda a documentação necessária para
se
estabelecer
e
trabalhar.
indivíduo,
A reportagem também indica
Mas o Brasil, apesar de con-
fatores que contribuem para o au-
stituir apenas uma pequena par-
mento consistente do número de
cela do conjunto global, recebe
migrantes no Brasil nos próximos
um grande número de migrantes,
anos. São eles: o declínio da taxa de
compondo 0,9% de sua população.
crescimento populacional brasileira,
Segundo esta e outras estatísticas
que, em conjunturas de expansão
da Policia Federal, publicadas em
econômica,
reportagem de 2015 na Exame, in-
de trabalhadores estrangeiros; as
titulada O panorama da imigração
dificuldades
no Brasil , o país abriga 1.847.274 migrantes regulares e esse total
centes restrições à entrada de es-
favorece
a
econômicas
recepção e
cres-
trangeiros nos países desenvolviIMAGEM 06 _ Imigrantes haitianos mostram documentos de trabalho em Brasileia, Acre. (Fonte: Folha de São Paulo / Crédito: Luciano Pontes, Agência Fundac)
22
23
E, para materializar em números
Em 2010
cinco e
anos,
e enfatizar ainda mais o desafio que o
entre
2015,
o
país já encara, estatísticas do ACNUR
ACNUR contabilizou um
(Alto Comissariado das Nações Unidas
aumento de 2.868% no
para Refugiados) mostram que o Bra-
número total de solic-
sil tem se tornado o principal desti-
itações de refúgio (de
natário de pedidos de refúgio extra-
966 solicitações em 2010
continentais na região das Américas.
para 28.670 em 2015). A maioria dos solicitantes de refúgio vem da África,
Mais de 29.000 pessoas solicitaram refúgio em 2014, incluindo haitianos, enquanto que, em 2010, o número total de solicitantes foi de 550.
Ásia
(inclusive
Oriente
Médio) e o Caribe (Haiti).
IMAGEM 08 _ Sistema de Refúgio Brasileiro - Refúgio em números, apresentado pela ACNUR e elaborado pelo CONARE. (Fonte: Departamento de Polícia Federal)
IMAGEM 07 _ Sistema de Refúgio Brasileiro - Refúgio em números, apresentado pela ACNUR e elaborado pelo
IMAGEM 09 _ Sistema de Refúgio Brasileiro - Refúgio em números, apresentado pela ACNUR e elaborado pelo
CONARE. (Fonte: Departamento de Polícia Federal)
CONARE. (Fonte: Departamento de Polícia Federal)
24
25
E
por
fim,
de
A partir de dados como esses,
acordo com o CONARE
o Governo brasileiro precisa reforçar a
(Comitê
para
discussão do compromisso de integrar
os Refugiados), o Brasil
tantos recém-chegados nas suas ci-
possui atualmente (abril
dades. Além de, fortalecer suas políti-
de 2016) 8.863 refugia-
cas de migração e refúgio, analisar
dos
de
e aperfeiçoar as redes de proteção e
dis-
acolhimento existentes e promover o
tintas. Um aumento de
conhecimento e a reflexão sobre as mi-
127% do número total
grações humanas. Tudo isso, numa per-
de refugiados reconheci-
spectiva que privilegie a preser vação,
dos no país desde 2010.
comunicação e expressão cultura das
79
Nacional
reconhecidos, nacionalidades
várias nacionalidades e etnias que contribuem para a diversidade brasileira.
IMAGEM 11 _ Sistema de Refúgio Brasileiro - Refúgio em números, apresentado pela ACNUR e elaborado pelo CONARE. (Fonte: Comitê Nacional para os Refugiados)
IMAGEM 10 _ Sistema de Refúgio Brasileiro - Refúgio em números, apresentado pela ACNUR e elaborado pelo
IMAGEM 12 _ Sistema de Refúgio Brasileiro - Refúgio em números, apresentado pela ACNUR e elaborado pelo
CONARE. (Fonte: Comitê Nacional para os Refugiados)
CONARE. (Fonte: Comitê Nacional para os Refugiados)
26
27
1.2. O novo reconhecimento e a ampliação do compromisso com esses estrangeiros
O histórico da migração hu-
A crescente consciência da
como praças públicas, procuran-
aproveitam da não fiscalização, para
do por meio de artifícios positivos,
sujeitar essa população a jornadas
abordar esses grupos específicos
desumanas de trabalho. A falta de
de pessoas, que muitas vezes não
informação, faz com que esses in-
mana não deve ser visto como
situação
pessoas
são incluídos digitalmente na so-
divíduos acreditem que esse é o tipo
uma questão exclusivamente rela-
se encontram e sua vulnerabili-
ciedade e por ventura não falam
de trabalho no Brasil, não sabendo
cionada ao passado. Há a necessi-
dade gera discussões a respeito
nenhuma
que estão em uma condição de vi-
dade de tratar sobre deslocamen-
de acolhimento. Esses migrantes
tos mais recentes e seus reflexos.
recém-chegados não podem se sus-
O Brasil, que hoje é povoado, em
tentar ou contribuir para a vida so-
sua grande maioria, por séculos
cial, econômica e cultural de uma
de gerações de descendentes de
cidade, sem o suporte de seus ci-
mais de 70 nacionalidades , deve
dadãos e das mais variadas agências
reconhecer que essa recente onda
governamentais desse novo país.
de migração traz consigo novas origens, porém com a dificuldade de chegar em um país muito mais consolidado do que no século passado. As heranças e contribuições para a formação cultural do Brasil não precisam se encerrar com nossos antepassados. Esse fenômeno contemporâneo da chegada desses estrangeiros deve impulsionar um novo reconhecimento e aprimorar sua recepção e diálogo na cidade.
As camentos
em
que
vítimas
essas
desses
forçados
palavra
do
Circunstancias
português.
como
essas,
fazem da cidade um ambiente hos-
olação de direitos, e desinformados, eles se mantêm nessa situação.
til e desconhecido. Esses imigrantes e refugiados sofrem por sua falta de entendimento da cultural local e viram alvos fácies para oportunistas que, sabendo de sua fragilidade, se
deslo-
precisam
ser
tratadas com muita cautela e responsabilidade,
sem
que
sejam
geradas grandes expectativas para aqueles que chegam e sem ser negligente no processo de adaptação. A
aproximação
com
essas
pessoas é muito delicada, atrair esse público, que em sua grande maioria não tem acesso a informação, se torna o principal desafio. Normalmente, os agentes que praticam essas ações são voluntári-
28
os, que efetuam as inter venções em
IMAGEM 13 _ Refugiados esperando com seus pertences perto a linha do trem para atravessar
espaços improvisados ou ambientes
a fronteira para a Turquia. (Fonte: Independent UK/ Crédito: Getty Images)
29
Muitos têm o rumo defini-
reinvindicação
Esses indivíduos não estão na situação por escolha própria,
do, seguindo o caminho já toma-
de um estrangeiro é poder ter
que em tese não tem data de volta, precisam apenas de algum ampa-
do por familiares e amigos, out-
sua própria identidade, mas para
ro e orientação. Impulsionados por essas necessidades, o ACNUR or-
ros parecem abertos a qualquer
isso precisa parar de ser trata-
ganizou uma Mesa Redonda sobre Solidariedade, Convivência e In-
possibilidade,
noção
do como o estranho que não con-
do que encontrarão pela frente.
segue se comunicar. O estrangeiro
O compromisso que recai so-
aspira tornar-se ou pelo menos
tegração de Refugiados na Cidade de São Paulo , em junho de 2015, convocando muitas partes interessadas de vários setores municipais e da sociedade civil para discutir as prioridades para integrar esses estrangeiros. Apesar de especificar a cidade de São Paulo, as questões levantadas cabem ao país como um todo e foram listadas por temas:
sem
muita
bre eles é que contribuam para a economia e a sociedade civil, para que
possam
se
integrar.
Porém
muitos os consideram pessoas que
A
principal
ser tratado como cidadão local, mas essa hospitalidade está sendo encarada como uma visita e não como um direito de moradia.
rompem com a hegemonia inter-
Sendo
assim,
para
poder-
1
na, que precisam se adaptar e ser-
em
em neutralizadas em uma “nação”.
sentirem acolhidos, além de con-
D O C U M E N TA Ç Ã O
tar com a sensibilidade da popu-
A necessidade de documentos brasileiros
lação do país que o aceita, esses
de fácil obtenção e reconhecimento.
refugiados e imigrantes precisam
Agilizar a emissão de documentos
saber
e descentralizar ser viços.
Deve-se
considerar
inte-
gração local, como um processo que:
participar
e
ativamente
inscrever-se
na
e
se
cidada-
nia e no código que os governa.
“(...) não significa que haverá o abandono da própria cultura e a “adoção” da cultura local, mas, um processo de mão dupla, no qual nacionais e estrangeiros ajustem seus comportamentos e atitudes, fazendo com que os nacionais façam um esforço para compreender o diferente e o direito do outro em manter sua cultura.” (Relatório Adus - Instituto de Reintegração do Refugiado, 2016)
2 SAÚDE Aumentar a conscientização entre prestadores e superar a
3
barreira do idioma. Contratar mais profissionais de saúde bilíngues e criar um programa de saúde mental para refugiados.
EDUCAÇÃO Conscientização, idioma e regularização do acesso Oferecer aulas de português para estrangeiros e apoiar o Conselho Nacional de Educação e o Ministério da Educação para facilitar o acesso à educação e a validação de diplomas advindos de países estrangeiros.
30
31
M O R A D I A
4
A cidade de São Paulo conta com quatro abrigos públicos específicos para a população migrante. Ao todo, tais abrigos oferecem 350 vagas
MORADIA
para acolhimento nos primeiros meses de permanência no país. Há tam-
A importância de uma solução digna
5
desde o início. Criar mais vagas em abrigos para refugiados e capacitar os ser vidores públicos
Paz, totalizando 470 vagas. A estrutura pública de abrigamento começou a ser criada em 2014 e ainda não é suficiente para suprir a demanda.
sobre as
necessidades dos refugiados
6
bém mais 120 vagas na Casa do Migrante, ser viço da Igreja Católica Missão
TRABALHO
Ao chegar, 37% dos refugiados entrevistados foram morar na
Redes do setor privado e direitos
rua, 29,7% em hotel ou pensão, 28,8% em casa de amigos e 15,5% em
t r a b a l h i s t a s e m p r i m e i r o l u g a r.
casa de parentes. Esses dados se relacionam diretamente ao fato de
Fornecer orientações sobre refugiados para
que 49,2% não conheciam ninguém antes de chegar ao país, enquanto
empresas privadas e oferecer formação profissional e cursos técnicos para os refugiados.
25,1% tinham algum familiar e 23,3% algum amigo, o que demonstra a existência de algum tipo de rede social, ainda que não atinja a todos. Quando não há vagas, as instituições fazem o encaminhamento para
C U LT U R A
albergues. Entretanto, nesses locais não há especificidade no atendimento.
Trocas e a importância do idioma. Incluir informações sobre a diversidade cultural de refugiados nos currículos das escolas brasileiras e desenvolver campanhas de sensibilização transcultural sobre a riqueza cultural trazida pelos refugiados no Brasil.
Relatório do Instituto de Reintegração do Refugiado (Adus) de 2016, podemos encontrar mais informações que complementa o cenário desses aspectos de integração na cidade de São Paulo. Entre eles, destacam-se, além da questão da moradia e trabalho, também a questão religiosa: No
32
IMAGEM 14 _ Sem dinheiro para aluguel, alguns sírios vivem em ocupação em São Paulo (Fonte: BBC Brasil/ Crédito: Gabriel A. L.)
33
T R A B A L H O
R E L I G I Ã O
Existe grande resistência por parte das empresas para contratar imi-
O livre direito ao culto religioso é apontado como um dos pontos
grantes em situação de refúgio. Por falta de compreensão, por precon-
favoráveis do Brasil. No país eles se sentem confortáveis para vivenciar as
ceito, ou porque o refugiado pode ser apenas temporário.
próprias crenças ou mesmo dizer que não têm religião. Ao praticar uma religião
Aqueles que recorrem ao empreendedorismo social têm dificuldade em preencher todos os requisitos para conseguir crédito com bancos, por
é possível ao refugiado encontrar uma comunidade e rede de solidariedade, sendo que algumas delas já preveem formas de auxílio aos seus membros.
não terem tempo mínimo de permanência no país e por instabilidade em acomodação.
IMAGEM 16 _ As tradições religiosas constituem também um importante caminho de integração dos migrantes. (Fonte: UNHCR - United Nations High Commissioner for Refugees / Crédito: Frederic Noy)
Portanto, o objetivo maior
Buscar
e/ou
manter
essa
dessa conscientização está focado
identidade em uma cidade, já é
na sua não marginalização, criar
uma tarefa complexa, mas é espe-
ações para contextualizar a presença
cialmente difícil em uma metrópole
desses refugiados e imigrantes e
como São Paulo. O ACNUR recon-
não apenas garantir seus direitos,
hece que mais da metade dos re-
mas também promover uma inte-
fugiados e solicitantes de refúgio
loja de acessórios para celulares no centro de São Paulo. (Fonte: UNHCR - United Nations High Commissioner
gração e um ambiente amigável que
mundiais vivem em áreas urbanas e
for Refugees / Crédito: Gabo Morales)
não os faça perder sua identidade.
periferias, e no Brasil não é diferente.
IMAGEM 15 _ Moustafa, de 16 anos, trabalha ao lado de seu chefe libanês, Hassan Salameh, 21 anos, em uma
34
35
Em 2015, o CONARE afirmou que o Estado de São Paulo é o destino de mais solicitantes de refúgio do que qualquer outro estado no Brasil. Por sua vez, a cidade de São Paulo é a cidade com o maior número de solicitantes, seguida, de longe, pelas cidades de Campinas e Guarulhos.
Existe um apreço pela diversidade cultural que ganha incentivo
“São Paulo, a cidade, não passa de uma abstração. Ela em si é um continente, uma colcha de retalhos criada a partir da fusão de diversos bairros que se sobrepõem e que colidem em suas fronteiras. “ (Facundo Guerra, 2016).
com iniciativas como a da plataforma colaborativa e coletivo de artistas chamada Goma Oficina. O grupo elaborou um workshop de uma semana – que eu tive satisfação de participar - realizado no CAMI (Centro de Apoio ao Imigrante), durante a 13ª Semana Viver Metrópole em 2016, organizada pelos estudantes de Arquitetura do Mackenzie.
Percorrendo suas ruas e espaços públicos, onde revelam-se pessoas com vivências completamente distintas, que ela se define e se transforma, através desses conflitos. São Paulo é uma cidade fracionada, de tão extensa. Não é uma cidade fácil de se viver e conviver, mesmo para seus moradores mais antigos. Por isso devemos compreender as IMAGEM 17 _ Dados sobre refúgio no Brasil. (Fonte: ACNUR)
Mesmo para brasileiros, residentes em São Paulo, a falta de referenciais, lógicas urbanísticas e
dificuldades que esses recém-chegados tem além dos brasileiros. Quando o pertencimento é difícil para nós, para eles é ainda mais. Embora
carência de mobilidade dificultam
São
Paulo
pareça
IMAGEM 18 _ Todos os atores responsáveis pelo projeto (Fonte: Goma Oficina)
a criação de qualquer vínculo de
hostil, ela é para quem está dis-
imediato com a cidade. Dizer que é
posto a se perder e se encontrar.
Unindo alunos, imigrantes e oficineiros, foram propostos três
paulistano, pode querer dizer mui-
O que a torna interessante para
ateliês: arquitetura, fotografia e estamparia. A oficina ocorreu no galpão
tas coisas, se torna uma questão
esses estrangeiros que constituem
do CAMI, onde através da convivência e interação, foram elaborados pro-
subjetiva, pois é uma cidade que
um grupo tão heterogêneo quan-
jetos em cada grupo dos ateliês. E como produto final, uma pequena pub-
emerge diversas particularidades.
to
licação impressa do processo se fez necessária para concretizar a oficina.
36
os
habitantes
dessa
cidade.
37
A
Em Arquitetura, uma proposta
experiência
de
visitar
a
ocupação
merece
algum
des-
de inter venção arquitetônica no
taque, a contribuição para esse estudo é evidente. Por meio de um
galpão, pensando o espaço através
pequeno relato, acrescento essa vivência com as minhas palavras:
das diversas demandas e vontades
Fomos apenas em 4 pessoas, pois a entrada é controlada e registrada desde a recepção. Nosso guia era um colombiano (prefiro não citar nomes) que entrou no Brasil com pedido de refúgio, por conta de um atentado que sofreu em sua própria casa. Com a esposa e os quatro filhos, vieram para o país há 4 anos fugindo da ‘guerra silenciosa’ do narcotráfico e das FARCS na Colômbia. Antes de viver em um cômodo e dividir o banheiro coletivo na ocupação Prestes Maia, chegaram a morar na Cracolândia, mas nada disso se compara ao medo e insegurança que sentiam em seu próprio país, eles dizem não ter planos de voltar. A ocupação apresenta condições insalubres, muita umidade e mofo, muito cheiro de urina e pouquíssimas aberturas para ventilação e iluminação, em sua maioria ficam cobertas com tapumes ou lençóis – de acordo com eles, as que estão próximas da escada que davam de frente com o outro bloco estão fechadas para que não fiquem olhando. Apesar das dificuldades ele ainda mantem alguns objetos carinhosamente dispostos ‘casa’, todos que os fazem recordar de suas origens.
do CAMI, realizando uma maquete 1/10 da proposta, que ficou lá para os usuários se apropriarem dela e fazerem sugestões. IMAGEM 19 _ Maquete 1:10 do galpão com proposta arquitetônica (Crédito: Fernando Banzi)
Em Fotografia, foi criado um mapa afetivo da região, revisitando o bairro com o olhar para os imigrantes, espaços coletivos, as ruas e visitando a ocupação Prestes Maia. IMAGEM 20 _ Mapa afetivo das derivas (Crédito: Fernando Banzi)
IMAGEM 23 _ Publicação impressa elaborada pelos participantes (Fonte: Goma Oficina)
E em Estamparia, elaboraram símbolos que visitaram o imaginário
IMAGEM 22 _ Autora registrando visita à ocupação (Crédito: Fernando Banzi)
simbólico trazido e contado pelos
Projetos como esses são benéficos a todos que participam. Essas
imigrantes, que foram dispostos de
pessoas forçadas a abandonar seus países e deixar tudo para trás tem muita
modo a criar estampas narrativas
dificuldade em criar vínculos. Toda a sua situação é incerta. As memórias de
em grandes tecidos que foram dis-
afeto ficaram no passado e leva tempo para que possam se identificar com
postos nas tesouras do galpão.
o novo lugar que as acolheu. Muitas vezes, independentemente da situação
38
IMAGEM 21 _ Tecidos estampados pelas alunas (Fonte:
que vivem, com as inúmeras dificuldades, eles serão gratos por estarem
Goma Oficina)
tendo uma nova chance de pertencer a algum lugar e a uma comunidade. 39
2 . O
f a t o r
a r q u i t e t u r a : A n a
i n t e g r a ç ã o c i d a d e
e s p a c i a l
e
a
n í v e l
s o c i a l
IMAGEM 24 _ “Imagina te faltar um teto?” (Crédito: Autora)
40
41
2.1. O espaço onde o arquiteto e urbanista pode influenciar e repensar
Se faz necessária a retomada da finalidade social da arquitetura as-
sumindo responsabilidades em causas humanitárias, porém não é de hoje
Descrever a arquitetura e ur-
A arquitetura deve consistir
que essa função nos é colocada.
banismo como oficio, arte ou técnica
na definição daquilo que a cerca e
talvez remeta à uma interpretação de
do que ela irá representar, de acor-
Nicolau Sevcenko acerca do papel social da arquitetura. O texto foi a orel-
uma disciplina predominantemente
do com seu contexto especifico.
ha do livro do vereador Nabil Bonduki, Pioneiros da Habitação Social –
O intuito deste estudo, além evidenciar necessária interdisciplinaridade ao tratar do espaço urbano nas questões relativas aos lugares produzidos e usufruídos pelas pessoas, consiste também em colocar a arquitetura e urbanismo como um possível recurso capaz de fazer mudanças dentro da problemática social do nosso país.
Volume 1 :
prática. Seja qual for a definição, a arquitetura, em sua acepção mais simples, deve partir de um processo de pensamento e concepção que se origina através de pesquisas nas mais diversas disciplinas.
“É
com a
convicção, entretanto, que só um trabalho coletivo de síntese, exame e proposição, só com a elaboração dos mais variados pontos de vista é possível uma orientação segura.
”
(FERRO; LEFÈVRE, 1963, p. 36) Qualquer análise que inter-
fere em qualquer âmbito da realidade de uma sociedade pressupõe conceitos e reflexões. O arquiteto Affonso Reidy (1961, p.181) disse uma vez em entrevista, que compete ao arquiteto, além de criar ambientes físicos, facilitar
“o
pleno
desenvolvimento das atividades relacionadas a vida da comunidade ” .
42
Em 2104, a Folha de S. Paulo compartilhou a visão do historiador
“[...]O momento decisivo para a mudança do papel social da arquitetura foi catalisado pela Primeira Guerra Mundial. A escala sem precedentes de destruição, a disseminação de surtos revolucionários, os deslocamentos demográficos maciços, a crise dos refugiados, tudo convergiu, no pós-guerra, para a reconfiguração do estatuto tradicionalmente estético da arquitetura ou precipuamente técnico do urbanismo, para uma nova e fundamental dimensão ética, política e social. Num texto seminal, ‘Construir, Morar, Pensar’, Heidegger redefiniu o destino da civilização industrial numa ampliação inédita do papel da arquitetura como o cimento da coesão social, ‘existir como ser humano significa morar’ [...]. ”
É preciso lembrar que a arquitetura e o urbanismo são uma realidade
social. O fazer arquitetura como mercadoria, avulso de qualquer responsabilidade com o elemento humano, é extremamente limitado. Deve-se ser capaz de reconhecer o usuário como merecedor da consciência profissional e da responsabilidade que um arquiteto deve assumir no contexto social em que vive. A discussão gira hoje em torno da cobrança de novas condutas de atuação e reposicionamentos, e o arquiteto necessita entender que sua produção pode contribuir para a melhoria de estruturações sociais.
43
Pensar na produção de um
O arquiteto tem a capacidade
espaço mais humano, focando em
de propor soluções de caráter glob-
inovação social, abre um campo
al para a realização de um projeto.
mais amplo de interpretações de
O campo de saber da arquitetura é
projetos. E é imprescindível buscar
muito amplo. Em parte, o saber in-
respostas para o desafio de receber
tuitivo, prático e a experiência; em
e abrigar imigrantes e refugiados
outra, o saber reflexivo, teórico, in-
em uma cidade como São Paulo. O
vestigativo e permanentemente in-
apelo e urgência da situação des-
conformado. Dito isso, a atuação
sas pessoas pede que comecem a
do arquiteto pode acabar tendo
surgir respostas concretas e dignas.
profundas implicações na maneira
O arquiteto Vilanova Artigas
já identificava o panorama e dificuldade de ter esse tipo compromisso:
de organizar grupos de pessoas no espaço e no tempo, estabelecendo quem está próximo ou distante de quem, fazendo o quê, onde e quando.
“[...] nas condições do capitalismo brasileiro, perverso tal como é, nós arquitetos guardamos como responsabilidade social o direito de pensar utopicamente em face da realidade que nos é perversa e nos proibiria de ser consentâneos com a aplicação objetiva das necessidades sociais ligadas a isso” (ARTIGAS, 1989)
IMAGEM 25 _ Foto de uma das derivas na Rua Guaianazes no Campos Elíseos, realizada no Workshop pelos membros da oficina de Fotografia (Crédito: Goma Oficina)
44
45
Em entrevista realizada em
Devemos reconhecer que, na
prática, a arquitetura é capaz de
junho de 1974, o arquiteto e professor universitário brasileiro Ro-
dos principais agentes de modern-
criar uma gama de possibilidades e
pectos” e “códigos” como artifícios
drigo Brotero Lefèvre citou dois
ização no Brasil - tinham condições
restrições, possibilidades essas que
teóricos para caracterizar e funda-
exemplos de projetos de espaços
de
propor soluções que levem
podem (ou não) ser exploradas e re-
mentar a definição de arquitetura.
que
específi-
em conta todos os aspectos, por ex-
strições essas que podem (ou não)
Por meio destes, procura apontar
cos e que deveriam ser especial-
emplo, o psicológico, o cultural e
ser superadas. Na composição dess-
e resumir como nos afeta e como
mente apropriados para um grupo
o conhecimento do usuário do ed-
es lugares, dos exemplos dos pro-
seu desempenho é multidisciplinar :
de pessoas e suas práticas, onde
ifício ” . O segundo exemplo é um
jetos citados, revelou-se a relação
apenas o olhar multifacetado do ar-
edifício do arquiteto Rino Levi, na
- mesmo que às vezes sutil - entre
quiteto poderia ser bem-sucedido.
Rua Martins Fontes,
tinham
programas
No primeiro exemplo, o pro-
jeto do Hospital das Clínicas, de sua própria autoria,
“ [...]
um proje-
to que vai envolver o problema de cinco mil pessoas que vão diariamente ao HC para consultas médicas. ” . De acordo com o arquiteto, nem o pessoal técnico do hospital e nem da Hidroser vice – empresa de projeto em que ele trabalhava na época, que atuava como um
46
“ [...]
“ [...]
em que
arquitetura e comportamento, mais
ele pretendeu dar uma grande con-
especificamente para os usuários e
tribuição social para o problema da
os moradores. Atender essas expec-
empregada. ” . Ele fez o prédio de
tativas sociais implica no acerto da
apartamentos centralizando no últi-
ordenação de aspectos como hier-
mo andar todos os quartos de em-
arquia,
pregadas de todos os apartamentos
e continuidades. E esse sistema
e também colocando junto a es-
de encontros e dispersão de pes-
tes quartos uma lavanderia central
soas não é possível sem um cam-
para todo o condomínio. E finalizou:
po ampliado de saberes e estudos
proximidades,
separações
que complementam a arquitetura.
“A grande contribuição para um problema social, que é de ordem muito mais geral, que envolve outras coisas que não só a arquitetura, acontecia através de soluções muito particulares e restritas, pensando que se estava adotando grandes soluções, mas que não eram. ” (LEFÈVRE, 1974)
“Dado o exposto, segue-se uma definição de arquitetura enquanto realidade captada por um olhar: arquitetura é lugar usufruído como meio de satisfação de expectativas funcionais, bio-climáticas, econômicas, sociológicas, topoceptivas, afetivas, simbólicas e estéticas, em função de valores que podem ser universais, grupais ou individuais.” (HOLANDA, 2007, p. 118). Portanto, cabe ao arquiteto inter-
Ao teorizar sobre a profissão,
vir no planejamento ligado ao el-
Frederico de Holanda, identifica “as-
emento humano, que representa a referência de todas as medidas. A ele compete a função de criar ambientes que facilitem o desenvolvimento de atividades da vida em comunidade ligados ao bem-estar social.
47
pel
Entende-se a
ser
que
esse
desempenhado
pabusca
responder os problemas das cidades, e hoje, a questão relativa a integração social está diretamente ligada
as
questões
migratórias.
A questão da atuação da ar-
“Os refugiados podiam trazer nova energia para áreas urbanas degradadas. Elas oferecem uma provocação interessante para a arquitetura ou convite para fazer um bom trabalho, colaborando de maneiras diferentes. ” (KOOLHAAS, 2016)
quitetura em causas humanitárias, como
a
de
refugiados
e
imi-
grantes, passou a ser pauta em discussões protagonizadas por arquitetos
de
grande
Recentemente,
visibilidade. em
31
de
maio de 2016, a revista Monolito publicou uma matéria sobre o discurso de Rem Koolhaas na convenção anual do American Institute
of Architects (AIA), realizada entre 18 e 21 de maio, na Filadélfia, onde o tema do encontro foi o futuro da arquitetura. Para Koolhaas, os arquitetos poderiam usar a atual crise dos refugiados e imigrantes como uma oportunidade para encontrar novas maneiras de reativar áreas abandonadas de cidades. Ele disse ainda que a maioria dos arquitetos só falam com outros arquitetos que compartilham os mesmos pontos de vista. E que 48
para ser relevante, em um mundo com tantas culturas diferentes, deve-se estar aberto a múltiplos valores, interpretações e leituras.
vena, que venceu o prêmio Pritzker
de reconstrução pós-desastre. Em
de 2016 e ficou conhecido, princi-
decorrência
palmente na última década, por sua
para dirigir a Bienal de Veneza de
atuação no debate sobre políticas
2016, onde escolheu como título
públicas
anunciou
a expressão Report from the Front
durante o debate da premiação na
(Relatórios de Frente – tradução
sede da ONU de Nova York , que
livre), abordando uma arquitetura
fornecerá quatro de seus projetos
de justiça social. O jornalista Ror y
mais famosos de forma gratuita.
Scott, em matéria para Archdaily
cita o comunicado do arquiteto em
habitacionais,
Segundo
essa
matéria
do jornal Nexo, os projetos arquitetônicos
agora
são
source, ou seja, poderão ser usados e adaptados de forma livre e
de uma perspectiva mais crítica na
gratuita por qualquer interessado.
para respostas à necessidades vitais de uma grande parcela de pessoas carentes de recursos essenciais de sobrevivência. A inter venção no campo da arquitetura precisa de avanço em relação a forças produtivas
para
gerar
iniciativas
e um planejamento de ações que podem ser decisivas aos que não tem perspectiva agindo sozinhos.
Seguindo o raciocínio de de-
stacar pautas de arquitetos que se manifestaram sobre a crise de migração: o chileno Alejandro Ara-
Para Aravena, hoje os ar-
quitetos
devem
trabalhar
juntos
para responder ao desafio das ondas migratórias que têm acontecido ao redor do globo e com a liberação
de
seus
foi
nomeado
que ele explica a temática da Bienal:
open
Necessitamos hoje da adoção
cobrança de tomada de posição
disso,
projetos,
“Mas ao contrário de guerras militares, onde ninguém ganha e onde há um sentimento predominante de derrota, na linha de frente do ambiente construído há uma sensação de vitalidade, porque a arquitetura consiste em olhar para a realidade com uma proposta.” (ARAVENA, 2015)
de-
fende que haja investimento em bons projetos, principalmente agora com a maior demanda de pessoas
necessitando
de
moradia.
No que diz respeito a uma
arquitetura socialmente consciente, o chileno vem ganhando frente com seus projetos para habitação de baixo custo e seus esquemas
IMAGEM 26 _ Os 4 projetos habitacionais disponibilizados ao público do escritório ELEMENTAL de Alejandro Aravena (Fonte: Archdaily)
49
Em livro que reúne quase
Portanto, a tentativa de uma
2.2. Extensão da questão do estrangeiro enquanto um desafio para a sociedade
toda a sua produção sobre arquite-
arquitetura que não é seguida de
tura, Sérgio Ferro manifesta em um
uma conscientização da situação
texto que debate as possibilidades
atual, acaba sendo um fracasso de
de atuação do arquiteto, uma sin-
ideias que tentam se encaixar em
a uma cidade no decorrer de sua
cera sensação sobre a profissão:
sociedades que não são maleáveis.
história, e por mais radicais que se-
Se desejamos organizar uma so-
jam as mudanças em sua estrutura e
ciedade de maneira generosa, de-
seu aspecto no passar dos anos, há
vemos estabelecer antes uma base
um fato que permanece constante:
social justa, que permita a efe-
a cidade é um espaço em que os es-
tivação do que se planeja, para que
trangeiros existem e se movem em
não termine como apenas uma ati-
estreito contato (BAUMAN, 2009).
ta de segurança que o profission-
dentro do contexto urbano. A ci-
al pode ter, mesmo depois de anos
dade e seus habitantes precisam li-
Existe, como dizíamos, uma questão do estrangeiro. É urgente aborda-la – como tal. Está bem. Mas antes de ser uma questão a ser tratada, antes de designar um conceito, um tema, a questão do estrangeiro é uma questão de estrangeiro, uma questão vinda do estrangeiro, e uma questão ao estrangeiro, dirigida ao estrangeiro. Como se o estrangeiro fosse, primeiramente, aquele que coloca a questão ou aquele a quem se endereça a primeira questão. (...) Mas também aquele que, ao colocar a primeira questão, me questiona. ” (DERRIDA, 2003, p. 5)
de atuação, é necessário entender
dar com esse coletivo de migrantes,
que não somos os únicos atores
que possuem outras identidades
seado nessa passagem, o porquê e
ao resolver todos os conflitos que
e
encon-
o impacto que essa palavra provoca
envolvem nossa sociedade, prin-
tram ora fixos, ora flutuantes na
a partir de seu significado. Questão,
cipalmente a brasileira, mais es-
malha urbana e que trazem con-
segundo o dicionário, é assunto; o
pecial a de São Paulo. Ainda que
sigo o que Jacques Derrida, quan-
que é alvo de análise, o que se dis-
tenhamos uma imensa autonomia:
do convidado em 2003 a falar da
cute. E também é problema; o que
Hospitalidade,
se
“Nada mais angustiante e penoso do que a definição e a escolha de caminhos, não só práticos, mas principalmente, teóricos, na arquitetura, quando se encara o problema com a responsabilidade devida. ” (FERRO, 1972, p. 33)
Apesar da angustia e fal-
“[...] É preciso também que esses planos se destinem a uma sociedade organizada em bases idênticas e que, com eles se harmonizando, possa torná-los uma realidade” (NIEMEYER, 1958, p. 179). 50
tude puramente teórica que não poderá ser conduzida na prática.
Aconteça o que acontecer
Portanto, se faz necessário
entender como essa lógica antropológica
e
geopolítica
necessidades,
que
acontece
se
determina
como
É possível compreender, ba-
pretende
resolver,
solucionar.
questão. A questão do estrangeiro,
Portanto, tudo o que a presença do
questão que nos põe em questão:
estrangeiro envolve, toda a questão
“A questão do estrangeiro não seria uma questão de estrangeiro? Vinda do estrangeiro? (...)
que ele traz, é um exercício de discussões, ações e reações. Isto é, como ele será recebido e tratado, dentro de suas singularidades. 51
A convivência com essas pes-
ais que partilham de experiências de
ceder de uma ética de solidarie-
homem habita diversos lugares na
soas deslocadas de suas origens
um passado comum, pode ser sub-
dade, podendo ser oferecida essa
metrópole, onde se dá sua vida, seus
acrescenta uma notável inquietação
stituída por uma competição hostil.
hospitalidade até quando o próprio
trajetos cotidianos e contatos com
hospedeiro não tem uma morada.
outros indivíduos, compartilhando
O que se concede é a possibilidade
esses lugares. E por mais breves que
desses estrangeiros terem um lu-
sejam, essas variedades de estímulos
gar no lugar que se destina a eles.
e oportunidades trazem benefícios
às aspirações dos habitantes da cidade. Zygmunt Bauman (2009, p. 37) expressou metaforicamente o quanto essas incertezas em relação ao acolhimento desses estrangeiros podem afligir uma população com uma ideia de ocupação de cidade já consolidada:
“O
estrangeiro é a
variável desconhecida no cálculo das equações quando chega a hora de tomar decisões sobre o que fazer ” .
Seu discurso explica que os
cidadãos consideram difícil compartilhar espaços com os estrangeiros devido ao medo do desconhecido e à indeterminação dos perigos e ameaças podem
que trazer
eles
supostamente
consigo,
baseadas
em desconfianças questionáveis e em sua maioria preconceituosas.
“No entanto, a vizinhança dos estrangeiros é o seu destino, um modus vivendi que terão que experimentar, que deverão ensaiar com confiança para, enfim, instituí-lo, se quiserem tornar a convivência agradável e a vida vivível. ” (BAUMAN, 2009, p. 38).
Tudo
isso
acaba
incidindo
sobre as condições da vida urbana,
à cidade e refletem na qualidade urbana
para
que
seja
consid-
erada como um lugar hospitaleiro.
Esse apego à questão do lugar
sobre o modo como percebemos a
mostra quão fundamental é para o
existência na cidade e sobre espe-
indivíduo a relação com o detentor
ranças e apreensões. Porém, tam-
pessoas desconhecidas entre si tra-
de suas raízes, de sua cultura e de sua
pouco essa inquietação se equivale
balham conjuntamente para atingir
moradia, o abrigo de sua história.
à de um homem que, de acordo com
resultados coletivos dentro da ci-
Para Derrida (2003), talvez
apenas aquele que suporta a experiência da privação da casa possa
oferecer
a
hospitalidade
em
sua maior autenticidade. E assim como a carência de um nome, de memórias e de uma língua, a ausência de uma morada é inimaginável. Logo, a questão da hospitalidade,
Santos (1996, p.328),
“ se
O autor considera ainda, que
defronta
dade, isto é, a cooperação e o confli-
com um espaço que não ajudou
to são a base para a vida em comum.
a criar, cuja história desconhece,
E ao assimilar a alteridade desses
cuja memória lhe é estranha, esse
estrangeiros com os habitantes e a
lugar é a sede de uma vigorosa
cidade, o autor cita G. Berger (1964,
alienação ” . Por isso, a compressão
p.15), que ensina que é desse modo
está se transformando na mais im-
que o mundo constitui
portante competência que um ci-
de nos unir, sem nos confundir ” .
dadão precisa exercitar para lidar com
o
convívio
na
diversidade.
“o
meio
Em vista disso, a tolerância e
Para o filósofo, a xenofobia,
o gesto de acolhida ao outro, deve
esse sentimento de rancor e suspeita
partir do princípio de uma recípro-
Hoje a cidade é o lugar onde
requerido, de acesso à cidade por
pelos “estranhos”, pode ser enten-
ca, de um reconhecimento de que
há mais mobilidade e mais encon-
esse grupo, é o caminho para uma
dida como uma tentativa de salvar
tanto quem acolhe quanto o con-
tros. Nela, Santos (1996), argumen-
política urbana correta. Ter ou não
o que resta da solidariedade local.
vidado são igualmente hóspedes
ta que a copresença e o intercâmbio
esse planejamento ao acolher e in-
Solidariedade essa que, quando co-
endereçados ao mesmo lugar. Ou
efetivo entre pessoas é a matriz da
tegrar é um conceito básico para
locada em dúvida por grupos soci-
seja, o oferecer abrigo deve pro-
densidade social. Nesse sentido, o
tornar-se uma cidade hospitaleira.
52
a conscientização perante o direito
53
Grinover
(2006)
analisa
a
hospitalidade urbana, em função da coexistência de três dimensões fundamentais: a acessibilidade, a legibilidade e a identidade. O autor afirma que essas dimensões são intimamente relacionadas pela “escala”, pelas medidas geográficas
e
temporais,
proporcionan-
do a compreensão da cidade tanto para o habitante quanto para o
estrangeiro
aproximar
e
que se
pretende
apropriar
se
dela.
Quando se chega a uma ci-
dade
e
percorre-se
os
espaços
que a constroem, submete-se a inúmeras percepções, situações e processos de informações. A leitura desses elementos e dos seus contextos envolvem e induzem os comportamentos
de
quem
está
chegando e de seu tempo de adaptação. Desta forma, Grinover (2006, p. 32) define a hospitalidade como uma
relação
espacializada
entre
aquele que recebe e aquele que é
54
[...] “é o conjunto dos comportamentos, das políticas e das técnicas praticadas para ter bom êxito na aproximação do turista (hóspede), no sentido de uma relação humana de qualidade, com o objetivo de satisfazer sua curiosidade, suas necessidades, gostos e aspirações, na perspectiva de desenvolver um encontro de trocas, de modo a estimular o conhecimento, a tolerância e a compreensão entre os seres humanos. ” (SEYDOUX, 1983)
A essência da cidade é justa-
mente o estimulo à aproximação entre seus habitantes, o que cria as condições para a interação social e define o espaço urbano como público, lugar das diferenças e da heterogeneidade. Essa incorporação do território não só como habitação, mas também de vivência e convivência, explicita os principais conceitos que o autor relaciona em sua análise.
recebido, e o acolhimento como
A
uma
remanescên-
ca conceitos ligados às possibil-
cias entre hospitalidade antiga e
idades de acesso dos indivíduos
moderna,
Seydoux
às atividades e ser viços que es-
(De l’hospitalité à l’accueil, 1983):
tão presentes na cidade, devendo
adaptação
de
citando
José
IMAGEM 27 _ “Olhar vago”. (Fonte: Escalas Urbanas/ Crédito: Alberto Ricci)
Acessibilidade
evo-
55
proporcionar a igualdade de opor-
nas cidades pode gerar tendências
a procura de oportunidades e que
tunidades
segregacionistas,
se
aos
usuários
urbanos
e, por isso, um direito de todos. tidade é móvel e deve estar ab-
a qualidade visual de uma cidade,
erta
a
Tendo em vista a ligação en-
imagem mental que dela fazem. Essa imagem mental é uma referência, produto tanto da sensação imediata quanto da lembrança de experiências passadas de quem está lendo. É feita por analogias e decodificação de mesmas mensagens, cujas interpretações só poderão ser compatíveis se a leitura e o que é emitido for reconhecido e organizado em um modelo coerente, pretendendo ser legível - ou seja, de fácil identificação - para qualquer indivíduo, e seu uso se presta a interpretar as informações e a orientar ações.
E
a
Identidade
considera
como algo formado ao longo do tempo, que é sempre incompleta, está sempre em processo e sendo reformada. Porém, sem o esquecimento de suas origens, a iden-
encontrar
soluções locais para contradições
A Legibilidade, compreende examinada por meio de estudos da
pois
novas
interculturalidades.
tre essas três dimensões fundamentais, podemos entender que a construção da hospitalidade pressupõe conhecer a cidade como ela é, buscar e criar nela um cenário reconhecível a todos, que preser ve
recusam
a
encontrar
mora-
dia em lugares menos tolerantes.
globais não é uma tarefa fácil. Todo o investimento deve contemplar ações urbanísticas que gerem conexões, e não barreiras entre as pessoas. Ele encoraja a diversidade, depositando confiança nos diálogos significativos que uma cidade heterogênea pode oferecer como
“Por isso a cidade grande é um enorme espaço banal, o mais significativo dos lugares. Todos os capitais, todos os trabalhos, todas as técnicas e formas de organização podem aí se instalar, conviver, prosperar. Nos tempos de hoje, a cidade grande é o espaço onde os fracos podem subsistir. ” (SANTOS, 1996, p 322)
atrativos para esses estrangeiros
a potência de suas memórias, mas que possa receber múltiplas realidades e atividades
“ porque
abran-
gem várias significações, que a ao mesmo tempo se entrecruzam, complementam-se (FRÚGOLI
JR.,
e
contradizem-se ” 1995,
p.
12).
Toda a experiência de diver-
sidade sociocultural e de imprevisibilidade é intensificada na vida urbana,
principalmente
nos
seus
espaços públicos. E as cidades contemporâneas experimentam e vivenciam reflexos dessa intensificação da globalização em seu cotidiano continuamente, porém, para Bauman (2009), a forma desorientada que a globalização se impõe
56
IMAGEM 28 _ Foto de uma das derivas no Campos Elíseos, realizada no Workshop pelos membros da oficina de Fotografia (Crédito: Goma Oficina)
57
2.3. O conceito expandido de identidade remodelando a cidade e sua arquitetura
O que se adquire forçosa-
na reportagem do arquiteto Manu-
mente é uma nova consciência de
el Herz intitulada Somali Refugees
que é necessário enfrentar o futuro
in Eastleigh , Nairobi, publicada na revista Instant Cities , em 2008:
sem romper completamente com o
passado e, principalmente, com a
A aparência de uma cidade e
uma memória provinda com ele de
o modo como seus espaços se orga-
um outro lugar, onde ele tinha uma
nizam, formam uma base material,
história própria. Contudo, o lugar
a partir da qual é possível identifi-
novo o obriga a um novo aprendiza-
car uma gama de possíveis enten-
do e a uma nova formulação. Esse
dimentos superficiais. Porém, para
sujeito estava habituado a uma con-
determinados
recém-che-
vivência com o que lhe era familiar,
gados, à primeira vista já pode-
onde outrora foi um indivíduo ativo,
se imaginar seu possível destino
em um outro país, com provavel-
dentro de qualquer perspectiva. E
mente aspirações e desejos dif-
como uma cidade nunca é apenas
erentes do que pode imaginar em
um cenário independente da vida
sua situação atual. Esses migrantes
um novo debate - às vezes silenci-
das pessoas, no decorrer das novas
trazem consigo lembranças criadas
oso, às vezes latente - com as pop-
experiências vividas por esses es-
em função de outro meio e a nova
ulações e as coisas já presentes. A
trangeiros descobre-se onde podem
residência os obriga a ganhar novas
partir daí procuram tentativas de
ou não apostar suas esperanças.
experiências para sua sobrevivência,
novas articulações na vida social
mas só existirá a consequente re-
e econômica por conta própria.
descoberta se houver uma consciên-
cia de sua origem, pois a sucessão
pessoas
de
ar e criar novas dinâmicas a um
grupos
Decifrar esses espaços de-
sconhecidos
demanda
ânimo
e
uma força renovadora desses novos moradores. Eles buscam uma
mudanças
será
inevitável.
cultura que o simboliza. Apesar de obrigados a negociar com as novas culturas em que vivem e pertencer a dois mundos ao mesmo tempo, carregam consigo seus traços de identidade e história, porque perder essa referência de cultura é abrir mão de uma herança e de comunicações com o seu grupo.
Para
local,
tanto local quanto global, e, por
estudo
do cada vez menos da experiência e cada vez mais da descoberta.
Santos (1996) identifica esse
homem de fora como portador de 58
“O homem busca reaprender o que nunca lhe foi ensinado, e pouco a pouco vai substituindo a sua ignorância do entorno por um conhecimento, ainda que fragmentado. ” (SANTOS, 1996, p. 328)
ilustrar
deslocadas
serão dois
como
essas
pode
alter-
apresentados casos
neste
internaciona-
is. A grande diferença entre eles é
o
modo
como
foram
inseri-
dos nos paises que os acolheram.
Em 1991, devido a uma guer-
ra civil, um grande fluxo de refugiados da Somália chegou ao país
vizinho.
Concentrados
em
Eastleigh, subúrbio queniano atualmente Mogadishu
conhecido (Pequena
como
Little
Mogadishu,
referência à capital da Somália), foram responsáveis pela criação de um importante centro comercial.
Por serem “diferentes”, abrem
reinserção urgente na sociedade, falta de opção, acabam dependen-
“O que começou como um mercado local cuja relevância quase não ultrapassou a extensão do bairro em si, rapidamente ganhou influência sobre o comércio de toda a região. [...] Eastleigh, este bairro sujo, denso, intenso e marcante de refugiados somalis tornou-se um dos principais centros de comércio da África Oriental. ” (HERZ, Manuel, 2008).
Quando ainda era uma cidade
asiática, em sua fundação, Nairobi quase não era habitada por sua população local. Esses quenianos só eram autorizados a viver nos limites
O primeiro exemplo é o ocor-
da cidade, e suas famílias tinham que
rido em Nairobi, capital do Quênia,
residir em outras partes dos pais. 59
Com a mudança política na
Mas apesar dessa vitalidade
década de 1940 as famílias pud-
comercial, o ar é muito poluído pe-
eram se reunir novamente. Eastle-
los incontáveis veículos, não existem
igh foi, de um bairro de comerci-
parques e áreas de lazer, a maioria
antes imigrantes indianos e árabes,
alojamento para imigrantes, des-
dos edifícios estão em mau estado
para
"imigrantes"
sa vez, para os refugiados soma-
e as suas instalações sanitárias são
da população local de quenianos,
lis que se instalam ali ilegalmente.
insuficientes; por causa da alta den-
todos se movendo para a cap-
Enquanto esperavam seu visto
sidade populacional os proprietários
vez.
de saída para outros países, muitos
quenianos cobram taxas de aluguel
Mais tarde eclode a guerra
dos quartos das pensões desses re-
quase arbitrárias sem relação com a
civil na Somália, e dentro de um cur-
fugiados viravam negócios próprios,
qualidade dos espaços residenciais.
to período de tempo, centenas de
gerando pequenos centros comer-
Mas hoje em uma estranha
milhares de somalis fogem para o
cias e a partir dessa “tendência”,
inversão, ironicamente são os re-
Quênia e são colocados nos campos
uma das pensões foi transformada
fugiados somalis, indesejáveis pelo
de refugiados de Dadaab. O gover-
em um shopping center pelo inves-
Estado, que estão mais preocupa-
no do país que praticava políticas
timento de uma refugiada. E desde
dos, reconhecendo o seu erro em
liberais e generosas para refugia-
então, o número de shopping cen-
ter
dos, com mobilidade total dentro
ters só aumenta. É uma arquitetura
no comércio e não no setor imo-
de todo o país, agora opta por
que eles se identificam, que mescla
biliário,
regulamentos muito mais restritos,
simultaneamente aspectos do infor-
cenário coerente de urbanização
devido aumento do fluxo. A partir
mal e do vernacular, do altamente
e
daí, todos os refugiados tinham que
formalizado
com as cidades e comunidades viz-
ital
um
bairro
colonial
de
pela
primeira
e
do
convencional.
investido
predominantemente
tentando
crescimento,
formular
em
um
coordenação
residir nos campos e não estavam
inhas e procurando prosseguir com
autorizados a retomar ao trabalho.
um
de
metropolização
de forma mais construtiva e com
Em posse de ouro e dinheiro,
IMAGEM 30 e 31 _ Ruas de Eastleigh, Nairobi (Fonte: Manuel Herz)
uma melhor compreensão do te-
por terem vendido tudo o que tin-
cido urbano, melhor inclusive que
ham ao fugir, essa população que
o Conselho Municipal de Nairobi.
fugia da Somália começa a mov-
Esses am
investir em comércio. Vemos assim,
IMAGEM 29 _ Comunidade Somali em Eastleigh,
o bairro em sua terceira fase de
Nairobi (Fonte: Manuel Herz)
estrangeiros
continuar
precis-
fortemente
ativos,
almejando participação tanto na política,
er-se para Nairobi e Eastleigh para
60
processo
quanto
manifestar
sua
na
cidadania
cultura
e
possibili-
ta ser percebido nesse novo local. 61
No segundo exemplo,
em reportagem de 2014, intitulada How to Build a Perfect Refugee
Camp (Como Construir um Perfeito Campo de Refugiados), a jornalista Mac Mcclelland para o The New York Times, descreveu a situação em que vivem sírios em um campo de refugiados na Turquia chamado Kilis. Apesar de bem instalados e com diversos ser viços à disposição, os ocupantes ainda sentem dificuldade em sentirem-se parte do meio.
disso, ela iria viver uma vida normal pri-
dos do mundo, o queniano Dada-
meiro campo de containers, a guer-
ab ( já citado no exemplo anterior),
ra na Síria só tem se agravado.
completou 20 anos. Foi construído
a
Turquia
estabeleceu
seu
O modelo original, era que os
acampamentos estariam lá apenas para assegurar as pessoas temporar-
Muitos
pensavam
que
duráveis" - enviá-los de volta para
professora, uma menina de 20 anos,
casa ou realoca-los em um terceiro
se ela pensou que ficaria por mui-
lugar - desse certo. Mas há três anos,
to tempo um Kilis, ela deu de om-
o maior acampamento de refugia-
bros e disse: "Dez anos?" Depois
permanece
campos
bros novamente. "Qualquer lugar."
Apesar do alto nível de as-
sistência nos campos, a proteção emocional
tornou-se
um
grande
desafio. Quanto mais tempo um refugiado reside em um acampamento, mais difícil pode ser para sustentar o bem-estar psicológico. Mas os acampamentos continuam sendo a solução padrão.
Apesar do conforto, da lim-
peza,
e
lis,
das do
ninguém
instalações
impres-
acampamento gosta
de
viver
Kilá:
“Rouba Bakri, tinha dito que Kilis era um acampamento perfeito, mas reconheceu que manter o ânimo era difícil. ‘Estamos tentando o nosso melhor’, disse ela. ‘Estamos visitando parentes, sendo voluntários, tentando nos manter ocupados. Mas não é nada como uma casa. ‘
os
Mas dos 15,4 milnos
Quando perguntado a uma
nalista perguntou. Ela deu de om-
sionantes
Outro morador de Kilis, Mahmoud Joundah, concordou. ‘Este é um hotel de cinco estrelas’, disse ele. Então, com a sua próxima respiração, ‘Nós não estamos felizes aqui. ’”
hões de refugiados globais, a maioria
pletamente seu carater temporário.
combates na Síria não durariam muito tempo.
mais de 420.000, perdendo com-
iamente até que uma das "soluções
“Tendo em conta as dificuldades de integrar os refugiados na população de um país de acolhimento, os que estão nos campos acabam por ficar ali porque a ajuda está mais prontamente disponível. Mas lá, eles podem se perder de outras maneiras, habitando um estado constante de incerteza. ” (MCCLELLAND, 2014)
para 90.000 refugiados. E já detém
em algum lugar. “Onde? ”. A jor-
por
no mínimo 5 anos - atualmente a média é de 12 anos. E desde que IMAGEM 32 _ Campo de refugiados Dadaab, Quênia (Fonte: UNHCR)
62
63
IMAGEM 33 _ Um supermercado bem estocado no campo (Fonte: New York Times/Crédito Tobias Hutzler)
IMAGEM 34 _ Campo de refugiados Kilis, na Turquia, próximo à fronteira síria (Fonte: New York Times/Crédito Tobias Hutzler)
ter
uma forma para sobreviverem a
Os dois casos acabam sendo
campo afastado de qualquer pos-
construído o melhor campo de re-
conflitos imediatos, criar empregos
conflitantes, se tratando do destino
sibilidade de integração e depen-
fugiados possível. Mas um campo
através da melhoria das infraestru-
que levaram e das condições em que
dentes
continua sendo um campo e es-
turas e diminuir a concorrência en-
estão inseridos urbanisticamente,
porém com muita energia focada
sas pessoas continuam sendo re-
tre os locais e os refugiados em ter-
mas ambos têm como atores os re-
em poder expressar-se livremente,
fugiados. E se um campo se tor-
mos de recursos e empregos. Até
fugiados e se mantém até hoje em
no sentido mais amplo da palavra.
na um substituto a situação real,
agora, esta proposta não foi rece-
seus estados quase permanentes.
não só por alguns meses, mas por
bida com entusiasmo, mesmo entre
anos, o quanto importa se é bom
os países que abastecem financeira-
ou não, vê-se nos relatos des-
mente o sistema de acampamentos.
Os estrangeiros quando colocados em situações muito complexas, em condições, principalmente urbanas, podem trazer benefícios para a população local com sua cultura e diversidade, pois só precisam de um amparo inicial, sua pretensão é a de autossuficiência, retornando ou não ao seu país de origem.
Os
turcos
podem
até
sas pessoas que não tem escolha. Em uma reunião em outubro,
Esses gama
lugares,
infinita
de
com
Enquanto
os
somalis
no
Quênia, se apropriaram completamente de um lugar, atestando que
a
sua
podem ter ações positivas quando
situações,
são
recebem oportunidades de rein-
o U.N.H.C.R. ( United Nations High
fábricas
numero-
serção, os sírios na Turquia, man-
Commissioner for Refugees ), propôs mais apoio às comunidades de acolhimento ao construir/fortalecer
sas e densas dentro de suas nar-
têm-se afastados contra vontade,
rativas, que ganham ou perdem
em uma situação “definitivamente
sentido
temporária”, endereçados em um
64
de
no
relações
decorrer
no
tempo.
de
ajudas
humanitárias,
65
3 . P r o j e t o s
d e
r e f e r ê n c i a
IMAGEM 35 _ Avenida São João (Crédito: Autora)
66
67
3 . 1 . A e r o p o r t o d e Te m p e l h o f - A l e m a n h a
Em matéria de 2016 para o
New York Times, o jornalista Alison Smalefeb, mostra como o terminal carregado de história hoje abriga estruturas temporárias para abrigo de emergência para refugiados.
O
aeroporto
de
tações
pré-fabricadas
para
refu-
giados não alojados nos hangares
Tempelhof atualmente aco-
moda mais 800 refugiados e pode abrigar até 7.000 quando toda a estrutura estiver montada e ocupada. Os
Tempel-
hangares acomodam os refugiados
hof foi usado pelos americanos
em unidades de 25 metros quadra-
durante a Guerra Fria e gradual-
dos formados por telas temporárias,
mente se retiraram após a queda
com seis camas de beliche duplas.
do Muro de Berlim em 1989. Hoje, está se tornando o maior cen-
IMAGEM 38_ Um dos hangares e com as unidades (Fonte: New York Times/Crédito Gordon Welters)
tro de refugiados da Alemanha.
À medida que a recém-unida
Em outra matéria sobre o
Berlim fundiu suas metades ociden-
aeroporto publicada na revista Vice
tal e oriental, vários usos foram dis-
em 2016, o jornalista Grey Hutton
cutidos para Tempelhof. No último
queria olhar os aposentos dos refu-
referendo em 2014, os berlinenses rejeitaram um plano para construir 4.700 casas, deixando até 85%
IMAGEM 36_ Quarto Aeroporto Tempelhof (Fonte: New York Times/Crédito Gordon Welters)
giados em Tempelhof, documentou os quartos - ou "caixas" como eles são chamados - e conversou com
de seu vasto espaço verde aber-
os moradores sobre sua situação
to, formando um parque público.
de vida, vale destacar o depoimen-
to de um garoto que se relaciona
Essa decisão hoje pesa na
consciência
pela
pessoas com fora do acampamento:
oportunidade
perdida. Mas onde as casas permanentes
poderiam
ter
subido,
eles podem agora construir habi-
IMAGEM 37_ Parque público hoje no antigo pátio de mano-
“Estou em Tempelhof há cinco meses e meio. Eu vivo com minha irmã e meu tio, e há também um outro cara de Damasco vivendo
conosco. Eu acho que as condições de vida aqui são ruins - não é saudável estar vivendo em tais espaços confinados com tantas pessoas. Mas temos um bom grupo de amigos aqui - principalmente pessoas da Síria e da Palestina - e também temos alguns amigos que vivem fora do acampamento, por isso, às vezes, fomos a suas casas. [...] Eu acho que é muito injusto como é decidido quem está se mudando para uma casa e quem tem que esperar - tem havido pessoas que se mudaram para cá depois de nós e eles partiram antes de nós. Dizem que as famílias devem sair primeiro, mas acho que também somos uma família: estou com minha irmã e meu tio. Minha alma não está feliz, mas eu tento continuar sorrindo. ” (Abdulrahman, 19 de Damasco, Síria, 2016, tradução nossa)
bras do Aeroporto Tempelhof (Fonte: The Atlantic Magazine)
68
69
Outra fala interessante é a de uma jovem iraquiana que viu sua condição de vida mudar completamente com os conflitos de seu
dois anos ainda estarei vivendo aqui em Tempelhof. É difícil encontrar um lugar para um alemão viver em Berlim, imagina pra nós. ” (Haidar, 24 de Kirkuk, Iraque, 2016, tradução nossa)
país, mostrando a diversidade de
Não existe um local predefinido ou condições específicas. As variadas estratégias e abordagens enviadas procuraram também gerar um debate público mais amplo sobre o tema da integração dos refugiados. 3.2.1 EQUIPE ALEMANHA
histórias de vida dessas pessoas: “Estou em Tempelhof há seis meses, e estou vivendo com outras três pessoas. Venho de uma família de classe média alta no Iraque, e quando ouvi falar de oportunidades na Alemanha, isso não é o que eu esperava. A situação de vida aqui não é nada em comparação com a forma como eu estava vivendo no Iraque. Eu gostaria de voltar para casa, mas todos os dias os problemas no Iraque estão piorando. Por agora, eu tenho que apenas suportar esta situação. Acho que em
M e m b r o s : D u y Tr a n , L u k a s B e e r, K s e n i j a Z d e s a r, Otto Beer Proposta Por um lado, tem-se agora um fluxo maciço de pessoas que necessitam de habitação imediata e, por outro, um estoque de edifícios prontos existentes ligados à infraestrutura da cidade. Porém, 12% do espaço de IMAGEM 39_ Aeroporto Tempelhof (Fonte: New York Times/Crédito Gordon Welters)
escritórios da Finlândia está vazio e sem uso, perdendo rapidamente seu valor. E o valor de uma área só pode ser aumentado por novos usuários. Para a equipe pareceu óbvio que devesse considerar juntar esses
3.2. Os 3 vencedores do concurso From Border to Home - Finlândia
dois pontos ao procurar uma solução de habitação, que será tangível tanto do aspecto físico, quanto do social. A proposta mostra etapas básicas para uma transformação gradual de um edifício através de um exemplo de um edifício de escritórios fictício. A transformação centra-se principalmente na promoção da integração en-
O Museu Finlandês de Ar-
zo, para os refugiados que aguardam
tre as pessoas, oferecendo diferentes estágios de usos públicos e espaços
quitetura, em colaboração com a
as devidas burocracias envolvidas
compartilhados.
Associação de Arquitetos Finlande-
em se tornar cidadãos finlandeses.
ses, criou o concurso From Border
to Home (Da Fronteira pra Casa).
Equipes
do
mundo
todo
apresentaram propostas que cri-
O objetivo da competição era
ariam um impacto social positi-
produzir soluções tangíveis de habi-
vo e também poderiam ser vir de
tação temporária, com uma visão
base para futuras ideias de con-
para enfrentar desafios de longo pra-
juntos habitacionais permanentes. IMAGEM 40
70
IMAGEM 41
71
E TAPA 0 – MICRO
E TAPA 2
As imagens mostram uma proposta de uma plataforma on-line que
Os refugiados recebem proteção, são registrados e são fornecidos
oferece informações básicas necessárias ao usuário específico de onde
bens básicos, tais como vestuário e comida. São reutilizadas instalações
encontrar os edifícios vazios
existentes e cria-se acomodação básica em forma de camas IMAGEM 45
IMAGEM 42
E TAPA 1
E TAPA 3
O resultado da documentação dos refugiados da etapa de base (micro) é o suporte para a transformação do edifício
Começa-se a construir mais núcleos de instalações extras (chuveiros, cozinhas básicas) que já ser vem como espaço mais individualizados
Uso: - centro de acomodação integrada - térreo aberto ao público: >escola de idiomas >escritórios >café >livraria >...
IMAGEM 48
IMAGEM 44
72
IMAGEM 47
IMAGEM 43
Uso: - Edifício de escritórios vazio
IMAGEM 46
Uso: - centro de acomodação emergencial - programa não público - lavanderia – sala de atividades - espaço voluntário
73
E TAPA 4 Nessa fase, inicia-se possíveis novas formas de integração de residentes das primeiras unidades individuais com o uso público e os núcleos de instalações são reforçados
3.2.2 EQUIPE FINLÂNDIA - “We House Refugees”
IMAGEM 49
Membros: Milja Lindberg, Christopher Ardman, A-Konsultit Oy Arquitetos Proposta A proposta desta equipe são os Donor Apartments (Apartamentos Doadores). Seriam apartamentos como outro qualquer, mas com um “apêndice” que poderia ser emprestado para aqueles que precisam dele, por um período de tempo pré-determinado. É um quarto em um apartamento doador, equipado para ser usado como habitação temporária.
IMAGEM 50
Uso: - uso misto - uso público no térreo
Como justificativa, são demonstrados alguns números relevantes. De acordo com a Confederação das Indústrias da Construção Finlandesa, em 2015, entre 25.000 - 30.000 residências novas são construídas na Finlândia anualmente. Aproximadamente 25% destes serão para aluguel, ou
E TAPA 5 - MACRO A cobertura se abre como um jardim compartilhado. Os pavimentos são transformados completamente em diferentes tipos de apartamentos.
seja, cerca de 6.500 apartamentos. Se 40% destes, ou cerca de 3.000 de todos os novos apartamentos de aluguel forem apartamentos doados, em dez anos, 30.000 mini - apartamentos extras poderiam ser usados como
IMAGEM 51
habitação temporária. Essa medida iria ajudar os refugiados nos desafios da vida diária, pois estariam praticando as habilidades de linguagem e integração com a população da Finlândia.
IMAGEM 53
74
IMAGEM 52
Uso: - casas acessíveis para todos - uso público no térreo - jardim compartilhado na cobertura de uso público
75
“É vital que os refugiados não sejam rotulados pela tipologia de construção que ocuparão. Esta proposta faz com que a habitação temporária, tenha uma função incorporada nas cidades, não uma estrutura própria. Estruturas temporárias podem retardar o desenvolvimento urbano sustentável e natural e, portanto, não deve guiar o crescimento das nossas cidades. Adicionando lentamente, este refúgio, nós podemos garantir mais estabilidade mais saudável crescimento urbano e evitar segregação. ” (We House Refugees, 2015, tradução nossa)
Donor Apartments , seriam habitações apoiadas pelo governo, construídas em áreas urbanas e de maneira rápida. É oferecido um alojamento de tamanho confortável com uma taxa de aluguel reduzida de 75% em comparação com o mercado de habitação. O diferencial é que o governo pode chamá-lo e pedir um favor em troca: Usar uma porção do seu apartamento por 6-12 meses para abrigar 1-2 refugiados e tornar-se apoiador, um MyNeighbou r (Meu Vizinho). Este tipo de apartamento é planejado de uma forma que permite que o apartamento seja dividido em dois com esforço mínimo. IMAGEM 55
IMAGEM 56
IMAGEM 54
Refúgio embutido - Um quarto extra com facilidades mínimas de vida. Pode ser usado como alojamento temporário ou muitas outras funções. Porta de entrada - Donor Apartments têm duas entradas - uma para o apartamento principal e uma que leva direto para o refúgio embutido ou 1 porta de entrada com vestíbulo e 2 portas Porta de conexão - MyNeighbour e inquilino refugiado podem decidir se manter esta porta aberta ou fechada. Módulo úmido - Cada apartamento teria dois banheiros - um acessível para cadeiras de rodas e um banheiro menor com uma possibilidade de chuveiro ligado ao refúgio embutido. Além de uma cozinha normal, o apartamento teria uma cozinha escondida no armário. Todas estas funções seriam conectadas a um núcleo técnico central.
76
77
Este conceito pode ser incorporado em qualquer tipo de habi-
3.2.3 EQUIPE ITÁLIA - Society Lab
tação, adicionando apenas um banheiro extra e adaptando uma segunda cujas
porta
de
aplicações
entrada são
–
muitas:
adquirindo escritório,
uma
pequena
berçário,
kitchenette,
quarto
de
hós-
Membros: Cecilia Danieli, Omri Revesz, Mariana Riobom
pedes, alojamento de estudantes, aluguel temporário, entre outros. Proposta
Cada unidade pode ser usada para abrigar refugiados por 6-12 meses de cada vez, no máximo a cada dois anos. Isso deixa o tempo do inquilino para
Considerando que 35.000 imigrantes requerentes de asilo chegam
também desfrutar o espaço extra, para si ou para aluga-lo temporariamente.
à Finlândia, a proposta da Society Lab (Laboratório da Sociedade) é uma plataforma que irá ligar requerentes de asilo com casas desocupadas. De acordo com dados urbanos de Helsinki (capital da Finlândia) e estatísticas de Hypo (instituição de crédito em habitação), 300.000 casas estão vagas hoje na Finlândia, que representa 8,2% de todas as casas. Seguindo essa ideia de propor uma melhor utilização dos recursos existentes: não haverá necessidade de construções desnecessárias, não terão novos bairros de refugiados arriscando segregação e não haverá es-
78
IMAGEM 58
IMAGEM 57
paços vazios nas cidades, criando mais integração.
79
A ideia central é usar o financiamento do estado (e eventuais autoridades
Essa base de dados estará disponível em um aplicativo, per-
da comunidade) que teria sido usado para novas construções, para patroc-
mitindo que os pesquisadores possam informar, trocar, olhar e even-
inar os primeiros 12 meses de aluguel, dos apartamentos finlandeses vagos.
tualmente, encontrar um alojamento, mesmo antes de sua chegada
No chamado período MICRO, o proprietário finlandês da casa vaga carrega sua propriedade na base de dados, depois as autoridades competentes pagarão um aluguel acordado com o proprietário nos primeiros 12 meses. O requerente de asilo carregará as suas competências e conhecimentos para o banco de dados, com o
à Finlândia. Ao criar um perfil, o usuário carregará informações para o sistema, tanto cidadãos finlandeses quanto os requerentes de asilo. Todos os dados serão integrados numa interface de mapa da cidade. E para usuários não digitais, serão criados pontos especiais de informação no espaço público da cidade, além espaços de recreação e reunião.
intuito de compensar com atividades de trabalho e educação, sendo incentivado a obter independência até o final do primeiro período. No período MACRO, após os 12 meses, em caso de aprovação do asilo,
IMAGEM 59
balhar, se comunicar e criar relações com as comunidades locais e envolventes.
80
IMAGEM 61
tornarem parte da sociedade finlandesa, podendo pagar por acomodação, tra-
IMAGEM 60
as autoridades diminuirão seu apoio e os receptores estarão prontos para se
81
4 . I n s e r ç ã o E s c o l h a
U r b a n a : d o
t e r r e n o
IMAGEM 62 _ Igreja Missão Paz (Crédito: Autora)
82
83
4.1. Breve analise urbana do bairro do Glicério
Foi possível entender de for-
histórica da formação da região até
ma muito esclarecedora toda história
as questões relacionadas hoje com
deste local a partir da Pesquisa
as legislações do Plano Diretor Es-
desenvolvida no programa de Ini-
tratégico, além de fichamentos e
ciação Científica da Universidade
cartografias de uma área delimit-
Presbiteriana Mackenzie realizado
ada para esse estudo detalhado.
pela colega Paula Carlos de Souza, que gentilmente disponibilizou seu estudo e que pude acompanhar a apresentação do mesmo na Audiência Pública na Igreja Missão Paz, no dia 30 de agosto de 2016, sobre o Glicério, lugar que ela se mostra muito orgulhosa de morar e participar ativamente dos projetos sociais.
Podemos iniciar as questões peculiares atribuídas a este “bairro”
já
à
primeira
vista,
devido
sua inserção atípica na cidade de São Paulo. Sua região está dividida entre os distritos da Sé e da Liberdade, ambos pertencentes a Subprefeitura da Sé. A leste limita-se com distritos do Cambuci e do Brás, esse último pertencente e a Subprefeitura da Mooca.
A pesquisa de Paula, intitulada Glicério: Lugar de Todos, Terra de
Ninguém , apresenta toda a questão 84
(Fonte: Google Maps/Crédito: Autora)
Paula acredita que a área pos-
Os
solidifica: por sua população sempre
das do século XIX , seguido pe-
densa; o encortiçamento precoce
los japoneses e os sul-coreanos.
que se mantém ao longo do tempo; a
oficialmente instituído, seu recon-
presença sempre forte da migração
hecimento como tal é dado pelas
que transforma e renova esse lugar ;
pessoas. O “limite” é organizado a
e dos elementos físicos e geográfi-
partir da encosta da Tabatinguera
cos que caracterizam esse espaço.
devido à Rua do Glicério, uma das primeiras
ruas
abertas
paralela-
mente à várzea do Tamanduateí.
ocuparam a região, destacam-se:
sui uma identidade própria, que se
O Glicério não é um bairro
até Rua Lavapés. O nome é dado IMAGEM 63_ Audiência pública – Glicério (Crédito: Autora)
IMAGEM 64_ Demarcação aproximada do bairro do Glicério, a partir da encosta da Tabatinguera até Rua Lavapés.
Italianos,
primeiras
déca-
O início da segunda década do século XXI foi marcado pelo terremoto de proporções catastróficas que atingiu o Haiti. A destruição causada naquele país provocou
A forte migração virou sim
uma saída em massa de pessoas
uma realidade de todas as épo-
em busca de sobrevivência. Esses
cas para o Glicério. Entre os prin-
encontraram no Glicério seu pri-
cipais grupos de imigrantes que
meiro abrigo, aumentando o défi-
85
cit habitacional na região e con-
ou o fim da produção de moradi-
sempre crescente entrada de imi-
sequentemente o encortiçamento.
as, despejos e cancelamentos de
grantes no país. E, quando já não
contratos - associada ao crescen-
mais existia espaço para novas con-
te problema de moradia que já se
struções, uma grande obra se fez.
Além dos elementos geográficos já citados, de sua delimitação
agravava desde a crise de 1929, fez
muito particular, a região possui el-
aumentar o problema de encortiça-
ementos físicos de tipologias carac-
mento
terísticas das vilas e casas que se tor-
das
unidades
residenci-
ais junto à área central da cidade.
naram um patrimônio arquitetônico
As vilas e os conjuntos de
que identificam a região onde está
No final da década de 60, foi construída uma sequência de viadutos para conectar a Radial Leste ao Elevado Presidente Costa e Silva. Uma grande obra de infraestru-
inserido o Glicério. Embora também
IMAGEM 66_ Edifícios da Pça. M. Costa Manso, 1958 (Fonte:
casas
iniciativa
tura viária que criou um rasgo na
abrigue um conjunto bem distinto
GEOPORTAL)
privada no Glicério não perman-
malha urbana, deixando áreas de-
formado por 32 edifícios, com al-
eceram imunes a essa situação.
gradadas que perduram até hoje.
turas e tipologias internas varia-
A sublocação dessas unidades já
Ilustrada
das, que constitui hoje a área mais
se tornara uma realidade com a
construídas
pela
na
cartografia
abaixo:
densa do “bairro”, o aglomerado de pessoas nas edificações unidas ao constante movimento dos pequenos comércios,
bares
e
restaurantes
construídos nos térreos dão um caráter único à área, transformando as suas estreitas ruas em um polo
IMAGEM 67_ Vista aérea dos edifícios 2017 (Fonte: Google)
de encontro para os moradores.
A está
área
inserido
onde viu
o
Glicério
um
acelera-
do processo de densa ocupação, em
aproximadamente
50
anos.
Com a lei do Inquilinato de 1942 - uma medida governamental que congelou os preços dos alugueis,
estipulados
até
então
pelo mercado imobiliário, que gerIMAGEM 65_ Vista aérea da Vila Sarzedas (Fonte: IGEPAC, 1987)
86
IMAGEM 68_ Cartografia Ligação Leste-Oeste sobra quadras – linha tracejada área de estudo da autora Paula Souza (Crédito: Paula Carlos de Souza)
87
Uma cartografia que ajuda na definição do lote para a inserção de
Dos 23 estacionamentos levantados é possível identificar 15 com
um projeto e analise urbana é a de lotes vazios. Esses lotes estão sendo
metragem superior a 500m², caracterizando-os como imóveis subutiliza-
utilizados apenas para o descarte irregular do lixo e o uso de drogas. Ina-
dos, segundo as orientações do Plano Diretor Estratégico do Município de
ceitável encontrar lotes totalmente vazios em um lugar onde a população
São Paulo (2014, p. 73).
sofre com os limites da falta de espaço para habitação, cultura e lazer.
IMAGEM 69_ Cartografia Lotes vazio – linha tracejada área de estudo da autora Paula Souza (Crédito: Paula
IMAGEM 70_ Cartografia estacionamentos – linha tracejada área de estudo da autora Paula Souza (Crédito:
Carlos de Souza)
Paula Carlos de Souza)
Outra cartografia importante para a escolha do terreno é a de lotes utilizados para estacionamentos e subutilizados. Os lotes e imóveis em que o uso não atende a sua função social da propriedade apresentam marcas de degradação. São utilizados como depósitos de ferro velho e de lixo reciclado, muitos são casas ou galpões vazios. 88
O Plano Diretor inclui o Glicério como área de possível transformação, porém com seu claro objetivo de adensamento tanto nos eixos onde há oferta de transporte e renda, quanto na região central, onde há fácil acesso aos equipamentos de lazer, cultura, educação, saúde e concentração de postos de trabalho. Apesar das perspectivas de projeto os moradores ainda sentem o medo de que outros os expulsem pelo desejo de desenvolvimento. 89
4.2. Justificativa e relevância – Igreja Missão da Paz
A partir da temática escolhida
mente esses refugiados que são di-
para este estudo, sobre a questão
retamente enviados para São Paulo.
da reintegração de imigrantes e refugiados na cidade, foi iniciada uma pesquisa para encontrar entidades com essa temática, já instaladas em São Paulo e entender as qualidades e problemáticas dessas estruturas.
A Missão Paz é o centro de
acolhida no âmbito dos imigrantes mais antigo em funcionamento na capital, trata-se de um espaço mantido por missionários scalabrianos, da Igreja Católica. A casa de acolhida é formada por salões amplos, quartos
bem
estruturados,
ban-
heiros, refeitório e até uma sala de brinquedos para crianças. Na área administrativa, funciona o Centro de Estudos Migratórios, um estúdio de rádio para programas para comunidade e salas de atendimento psicológico e social. A estrutura é bastante superior à dos abrigos improvisados no Acre por exemplo, que por fazer fronteira direta com o Haiti, tem recebido constante90
Infelizmente em casos como
E até que cheguem todos os ôni-
esses, os haitianos ficam aloca-
bus, a Igreja continuará receben-
dos de forma improvisada, depen-
do essas pessoas dia após dia.
dendo de ajuda para se alimentar.
Em reportagem de 2014, in-
titulada Um desastre humanitário
no centro de São Paulo , o jornalista Renan Truffi para o Carta Capital, descreveu a situação em que a Missão Paz foi colocada. Sem avisar prefeitura de São Paulo e o governo federal, o governo do Acre pagou passagens de ônibus para as pessoas que estavam no abrigo para haitianos que foi fechado, para irem para outros estados, mas a maioria optou por São Paulo.
“A nossa tentativa há anos é convencer a Prefeitura que precisa abrir uma casa com perfil só para atender imigrantes e refugiados, coisa que não estão entendendo. Eles acham que (os haitianos) precisam entrar no bolo dos abrigos de pessoas em situação de rua. Tem três instituições que cuidam dos imigrantes. As três são ligadas à Igreja Católica. As três trabalham no limite. O fato dos haitianos agora só revela um fato que espera uma resposta que está atrasada.“(Padre Parise, diretor do Centro de Estudos Migratórios da Missão Paz, 2014)
IMAGEM 71_ Haitianos e Igreja Missão Paz (Fonte: VEJA/Crédito: Nelson Antoine)
91
IMAGEM 72_ Situação dos Haitianos no Acre (Fonte: Conectas/Crédito: Altino Machado)
A
Missão
Paz
apresentou
em seu balanço anual algumas informações
relevantes:
Em
2013,
13% dos atendimentos estão entre migrantes de vários países africanos. Em 2014, foram realizados 6.888 atendimentos, desses 64,2% são haitianos, 9,6% bolivianos e 6,6% peruanos e os demais estão divididos entre outros países lati-
oferta de equipamentos nas proxim-
de qualificar o espaço urbano do
idades e grande circulação de pes-
Glicério é possível contribuir para
soas, a Missão Paz se apresenta em
a criação de novos fluxos, tan-
uma estrutura onde existem outros
to da população brasileira, quan-
usos. Seu programa para acolhida
to desse coletivo de estrangeiros,
foi incorporado em uma instituição
facilitando a convivência e sua in-
não planejada para tal propósito, o
serção social para se tornarem ha-
que acaba gerando conflitos e prob-
bitantes da cidade de São Paulo.
lemas para abrigar a necessidade de mais espaço para suprir essa grande demanda
de
recém-chegados.
Desesperados com as poucas chances de conseguir um trabalho e uma vida digna no país de origem, esses imigrantes e refugiados se sentem obrigados a deixar suas famílias para tentar enviar dinheiro de outro lugar do mundo, aceitando o que lhes é ofere-
no-americanos, africanos e Síria.
cido, independente das condições.
Em 2015, foram atendidos 6.929
Diante disso, criou-se a per-
de 64 países, sendo 56% haitianos,
spectiva de um projeto que ser-
14,6% bolivianos, 6,3% peruanos e
visse de suporte para essa institu-
10,3% de diversos países da África.
ição, não apenas cumprindo com
Entre esses, 998 entraram no país
as
em situação de refúgio, sendo 58%
também que beneficie e auxilie
refúgio político e 18% refúgio reli-
esses estrangeiros de forma que
gioso. (Paula Carlos de Souza, 2016)
eles possam ser autossuficientes.
Apesar de inserida em uma
Através de um equipamento es-
região central de São Paulo, com boa
questões
habitacionais,
mas
pecifico, inserido com a intenção IMAGEM 73_ Estacionamento e escadaria Igreja Missão Paz (Crédito: Autora)
92
93
5 . P r o j e t o : C e n t r o e
d e
A p o i o
Re i n t e g r a ç ã o
S o c i a l
p a r a
Re f u g i a d o s
e
I m i g r a n t e s
IMAGEM 73 _ 25 de março. (Fonte: Escalas Urbanas/ Crédito: Alberto Ricci)
94
95
5.1. Introdução
O processo inicial de inte-
tes para encontrar oportunidades e
gração não acontece de forma indi-
seguir o caminho de sua nova vida.
vidual, o amparo e abrigo nesse momento são a ferramenta necessária para que essas pessoas possam buscar sua própria inserção na sociedade. A arquitetura entra nessa re-
Além disso, o programa articulará atividades para que o público entre em contato com todas
as
possibilidades
culturais
que eles trazem consigo para o
alidade e participa desse processo
país,
de reintegração, podendo oferecer
deste estrangeiro com a sociedade
um espaço que crie a sensação de
brasileira, dando lhe uma nova alter-
inclusão social desses refugiados e
nativa de recomeço, mas ainda ga-
imigrantes, identificando as deman-
rantindo seu lugar de pertencimento.
das e necessidades, propondo programas e projetos que os atendam.
promovendo
a
integração
Um dos potenciais mais interessantes deste tipo de programa são
O objetivo deste trabalho é
os novos modos de vida criados at-
encontrar meios de tornar a imi-
ravés da experiência cotidiana com
gração e refúgio em São Paulo
variedade de encontros e atividades
mais eficiente para este grupo de
sociais. A organização espacial, pre-
pessoas que vêm crescendo con-
tende oferecer diferentes espaços
tinuamente, no que diz respeito à
compartilhados
e
usos
IMAGEM 74_ Implantação sem escala
DIAGRAMA CONTEXTO E CHEGADA MIGRANTES
públicos.
Com a finalidade de criar um ambiente onde todas as necessi-
IMAGEM 75
recepção, abrigo e inserção social.
dades básicas estejam presentes, pretende-se oferecer uma orientação completa e efetiva, a curto e longo prazo, que os torne autossuficien96
97
5.2. Programa e pré-dimensionamento QUADRO DE ÁREAS E PROGRAMA ÁREA DO TERRENO = 4.639,36 M² ÁREA CONSTRUÍDA = 12.393,43 M²
As principais frentes de atuação para criação de um Centro de Apoio e Reintegração Social para
Refugiados
e
Imigrantes
são criar um edifício que que dê atenção as necessidades imediatas e a longo prazo, sempre com a intenção de integrar e dar acesso a informação. Ou seja, que não ajude só com moradia, mas com a igualdade ao acesso à emprego, tecnologia, ser viços, educação e recursos – direitos fundamentais para
um morador de qualquer cidade. O modelo foi proposto no Glicério, baseado nos espaços subutilizados
da
área,
inserido
em
frente à Igreja Missão Paz, na rua Glicério, com o intuito de suprir suas demandas já existentes, visou
63 APARTAMENTOS – 6 TIPOLOGIAS C/ LAVANDERIA COMUNITÁRIA 22 LEITOS – 2 TIPOLOGIAS C/ LAVANDERIA , REFEITÓRIO E BANHEIRO COMUNITÁRIO _ÁREAS COMUNS DE LAZER E ESPAÇO RELIGIOSO _ÁREA TOTAL HABITAÇÃO = 4.983,6 m²
adequar soluções espaciais com um
_ÁREA TOTAL INSTITUCIONAL = 4.073,7 m²
programa que estimule a autonomia
_ÁREA TOTAL EXPOSIÇÕES = 440,4 m²
do estrangeiro após os primeiros atendimentos e que maximize o potencial
do
local
implantado.
_ÁREA TOTAL MINI MERCADO + OFICINA RECICLAGEM = 125,8 m² _ÁREA TOTAL PASSARELA = 233,0 m² térreo = 2.266,1 m² lojas, salão de beleza, quitanda, mini mercado, oficina de reciclagem, horta, bicicletário, área comum leitos, espaço de exposições, espaço para feira, creche, restaurantes e refeitório. 1º pav. hab. | 1º pav. inst. = 1.952,1 m² apartamentos, lavanderia comunitária aptos, área comum aptos, refeitório leitos, horta comunitária, mezanino exposições, pátio externo, quadra de esportes e vestiários. 2º pav. hab. | mezanino inst. = 1.174,9 m² apartamentos, lavanderia comunitária aptos, área comum aptos, lavanderia comunitária leitos, mezanino quadra de esportes. 3º e 4º pav. hab. | 2º pav. inst. = 2.079,1 m²
IMAGEM 76 e 77_ Ocupação das calçadas para comercial informal frente à um estacionamento e um futuro empreendimento na Rua Glicério (Crédito: Autora)
98
apartamentos, lavanderia comunitária aptos, área comum aptos, unidades leitos, banheiro comunitário leitos, auditório, biblioteca e informática. 99
5.3. Respostas arquitetônicas ao programa
5º pav. hab. | 3º pav. inst. = 1.209,3 m² área comum/lazer aptos e leitos, lan house, administração, sala de dança e música e solário. 6º e 7º pav. hab. | 4º pav. inst. = 1.893,1 m²
arquite-
contra os ventos chuvosos e per-
tura procurou criar um volume em
mite o emprego de esquadrias de
que os elementos entre os cheios
vidro temperado, mais econômicas.
A
apartamentos, lavanderia comunitária aptos, salas de aula e oficinas. 8º pav. hab. | 5º pav. inst. = 918,5 m² apartamentos, lavanderia comunitária aptos, salas de aula e oficinas.
composição
da
e vazios criassem diversos terraços de
convivência
e
contemplação.
miolo
de quadra, foi criado um genero-
dade, a alvenaria de tijolos procu-
to de permitir ventilação e ilumi-
rou harmonizar com a arquitetura
nação cruzada, além de permitir
da igreja além de criar um víncu-
caminhos mais dinâmicos, estim-
lo direto entre seus programas.
ulando o convívio entre os viz-
a
com um beiral em aba de concreto
inhos, moradores e usuários do programa
variado
do
projeto.
projetada de 60 cm de profundidade
A projeção da passarela no
gerando uma marquise de projeção
térreo (acesso e circulação entre
solar, funcionando como brises hor-
todo o complexo no nível do 1º
izontais e verticais formando bande-
pavimento) ser viu de orientação
jas de luz junto ao teto das unidades.
dos caminhos e para a disposição
Esse recurso aumenta a proteção
das
praças
e
espelhos
d’agua.
IMAGEM 79
de São Paulo. Ao fundo, o Viaduto Leste-Oeste e a Igreja Universal (Crédito: Autora)
do
so vazio central, com o propósi-
relação
As fachadas foram tratadas
Igreja Missão Paz e a torre caracteristica. A esquerda, a fachada lateral do Corpo de Bombeiros da PM do Estado
valorização
materiali-
Com
IMAGEM 78_ Ocupação das calçadas para comercial informal na R. Alm. Mauriti. A direita, a fachada lateria da
Para
DIAGRAMA CHEIOS E VAZIOS VOLUMETRIA 100
101
IMAGEM 80
102 103
IMAGEM 81
104
105
IMAGEM 82
106
107
IMAGEM 83
108
109
Tร RREO
110
IMAGEM 84
1ยบ PAVIMENTO | 1ยบ PAVIMENTO
IMAGEM 85
111
2ยบ PAVIMENTO | MEZANINO
112
IMAGEM 86
3ยบ E 4ยบ PAVIMENTO | 2ยบ PAVIMENTO
IMAGEM 87
113
TIPOLOGIAS APTOS E LEITOS
114
IMAGEM 88
5ยบ PAVIMENTO | 3ยบ PAVIMENTO
IMAGEM 89
115
6ยบ E 7ยบ PAVIMENTO | 4ยบ PAVIMENTO
116
IMAGEM 90
8ยบ PAVIMENTO | 5ยบ PAVIMENTO
IMAGEM 91
117
CORTE AA | DETALHES
118
IMAGEM 92
119
CORTE BB
120
IMAGEM 93
DETALHE MATERIALIDADE
IMAGEM 94
121
C o n c l u s ã o
Como
resultado,
esse
tra-
O projeto do Centro de Apo-
balho procurou ressaltar que todo
io e Reintegração Social para Re-
o investimento de uma cidade deve
fugiados
contemplar
urbanísticas
se inserir em um bairro já com um
que gerem conexões, e não bar-
histórico importante na recepção
reiras entre as pessoas. Para car-
e ações sociais direcionados a es-
acterizar um pais que acolhe ess-
ses estrangeiros. Com a intenção
es refugiados e imigrantes como
de fornecer o melhor que puder
hospitaleiro, deve-se encorajar a
aos que carecem dos mais básicos
diversidade,
princípios, o programa inclui além
ações
depositando
confi-
e
procurou
ança no diálogo entre as pessoas,
de
na integração e na compreensão.
possam receber orientações e se
Uma cidade heterogênea é
um ponto de evolução para a sociedade. Lugares mais tolerantes criam
moradia,
Imigrantes,
equipamentos
para
envolver na sociedade como um cidadão local, com acesso à cultura, lazer, esportes, trabalho e ser viços.
novas oportunidades de utilização
dos espaços, novas tipologias ar-
ses migrantes têm vínculos com
quitetônicas
suas origens e tradições. Em uma
e
novas
memórias.
A atuação da arquitetura e
do urbanismo poderia criar progressivamente
ações
que
esses
tirassem
e
projetos
estrangeiros
dos campos de refugiados, onde ficam esquecidos e perdem oportunidades pessoas
de
convivência
diferentes,
Como qualquer pessoa, es-
cidade tão diversa e multicultural como São Paulo, eles não devem ser obrigados a perder completamente sua identidade, suas histórias podem ser uma contribuição para as novas culturas que os receberam.
com
dificultan-
do sua reinserção na sociedade.
IMAGEM 95 _ “Alerta - Ed. Prestes Maia”. (Fonte: Escalas Urbanas/ Crédito: Alberto Ricci)
122
123
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ASSINATURAS
Orientadora: Prof.ª Drªa Larissa Campagner
Convidado interno
Convidado externo
DATA: HORÁRIO:
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