TFG FAU-MACK | Composição da Paisagem Urbana: O uso multifuncional no Centro de São Paulo

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COMPOSIÇÃO DA PAISAGEM URBANA O uso multifuncional no Centro de São Paulo


COMPOSIÇÃO DA PAISAGEM URBANA O uso multifuncional no Centro de São Paulo

Universidade Presbiteriana Mackenzie Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Trabalho Final de Graduação

Carolina Cardoso Ramos Vicentini

Orientador de Monografia Alexandre Hepner Orientador de Projetudo Carlos Heck

São Paulo, Junho de 2018.




AGRADECIMENTOS

À Deus, por ter estado ao meu lado em todos os momentos; aos meus pais ,que me derão todo o suporte que eu precisei desde o inicio de tudo, e nunca, absolutamente nunca, duvidaram do meu potencial. Aos meus chefes, Valmir e Rosangela, pelo carinho e apoio. Aos meus amigos pelos trabalhos intermináveis, pelas madrugadas compartilhadas, e por todos os momentos inesquecíveis. À Camila, por ter caminhado lado a lado comigo, e me apoiado tanto. Aos meus professores, especialmente ao Heck que me ensinou tanto, e me orientou com tanto carinho. Ao meu orientador, Hepner, por todo o aprendizado, todos os conselhos e toda orientação necessária para o desenvolvimento do presente trabalho.


RESUMO Discussão sobre a Composição da Paisagem Urbana no Centro de São Paulo, mas especificamente no território da Liberdade, a partir da implantação de Diversidade Urbana. Buscou-se a requalificação da centralidade deteriorada, mediante a projeção do Complexo Multifuncional com a presença de Habitações de Interesse Social, Habitações do Mercado Popular, de uma Galeria Comercial e de uma Escola Técnica.


ABSTRACT Discussion about the Composition of the Urban Landscape in the center of SĂŁo Paulo, more spefically in the territory of the Liberdade neighborhood, through the implementation of Urban Diversity. There was the attemptto requalify the deteriorated downtown, through the project of the Multifunctional Complex with the presence of Houses of Social Interest, Housing of the Popular Market, a Commercial Gallery and a Technical School.


SUMÁRIO Introdução

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Problematização da Moradia em São Paulo

1.1. Expansão Urbana 1.2. Crescimento Populacional 1.3. Segregação Social e Déficit Habitacional

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Moradia no Centro de São Paulo

2.1. Formação e Consolidação 2.2. Verticalização e Apogeu 2.3. Desvalorização e deterioração

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Seleção da Área de Intervenção

3.1. Histórico do Bairro - Liberdade 3.2. Área de Intervenção - Conde de Sarzedas 3.2.1. Histórico e Formação 3.2.2. Panorama Atual 3.2.3. Terreno a Intervir

39 48 50 52 56

4.1. 4.2. 4.3. 4.4.

60 66 68 70 74 48 82 86

Relações Urbanísticas

Processo Histórico do Planejamento Urbano Impactos do Planejamento Urbano Padronizado Crise do Planejamento Urbano Moderno 4.3.1. Diversidade Urbana - Jane Jacobs 4.3.2. Legibilidade - Kevin Lynch 4.3.3. Paisagem Urbana Gordon Cullen 4.3.4. Cidade Compacta - Richard Rogers Resposta aos Problemas Urbanos Atuais


Interpretações Morfológicas

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Estudo de Habitações Coletivas Contemporâneas

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Resposta Arquitetônica

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Considerações Finais

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Lista de Tabelas e Figuras

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Referências Biblográficas

90 94 98

5.1. Forma + Espaço Urbano 5.2. Forma + Densidade 5.3. Forma + Unidade Habitacional

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6.1. Relevância Projetual 6.2. Edifício Copan 6.3. Linked Hybrid 6.4 . The Interlace 6.5. Contruibuições Projetuais

118 122 110

7.1. Políticas Públicas + Diretrizes Urbanas 7.2. Diagnóstico Área de Inervenção + Partido Projetual 7.3. A multiplicidade de Usos e Programas 7.4. O Projeto

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F1.0. Panorama do Centro de SaĂľ Paulo


Introdução O déficit habitacional presente no Centro de São Paulo é fruto de um processo de abondando por parte da elite paulistana e de deterioração da área central da cidade. Apesar disso, o território ainda possui a maior oferta de empregos da metrópole, juntamente, com uma grande rede de infraestrutura em termos viários e de equipamentos públicos. As periferias da cidade, entretanto, são responsáveis por abrigar a maior parte da população, principalmente de baixa renda, desencadeando, assim, no decorrer do tempo, o processo pendular de trajeto diário da população, que mora nos extremos de São Paulo e trabalha no Centro. Em meio a tal processo, diagnosticou-se nos últimos anos o potencial construtivo e de adensamento populacional da área central. Dessa forma, medidas públicas como a própria Operação Urbana Centro foram desenvolvidas para o incentivo da promoção de habitação na região central. Por esses fatores, o trabalho a ser desenvolvido tem o objetivo de promover Habitação de Interesse Social, juntamente com comércio e equipamentos públicos, para a revitalização do Centro de São Paulo.

aram a discussão sobre a Composição da Paisagem Urbana, e de medidas concretas para ocupação da cidade. Buscou-se estudar o Desenho Urbano, e o papel que ele exerce na formação da paisagem, a partir da implantação de Diversidade Urbana e Legibilidade da Paisagem, juntamente com o Adensamento Populacional em equilíbrio com a morfologia. Desse modo, a proposta do presente trabalho procurou fortalecer a região da Liberdade por intermédio da projeção de um Complexo Multifuncional capaz de impulsionar a Diversidade Urbana, de compor e ser composto pela paisagem circundante, através da presença de Habitações de Interesse Social, Habitações do Mercado Popular, de uma Galeria Comercial e de uma Escola Técnica.

O desejo de viabilizar a utilização do potencial máximo de infraestrutura da cidade, e sua revitalização de fato, desencade-

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Problematização da Moradia em São Paulo


1.1. Expansão Urbana A formação da cidade de São Paulo se iniciou a partir do Triângulo Histórico delimitado pelas ruas São Bento, 15 de Novembro, e Direita. O núcleo populacional de São Paulo se localizou, predominantemente, durante quase três séculos nesse território, cujos vértices eram definidos pelas principais localidades da época: Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Igreja de São Bento e Igreja de São Francisco de Assis da Venerável Ordem dos Frades Menores. As atividades comerciais, religiosas e educacionais desenvolveram-se no espaço público, ao redor dos determinados pontos constituindo, dessa forma, os largos. Apenas em 1867, com a construção da Estrada de Ferro São Paulo Railway (Santos-Jundiaí), em meio às transformações econômicas e sociais advindas da expansão da lavoura cafeeira paulista, a cidade intensificou seu processo de crescimento populacional; juntamente com a vinda de um grande número de imigrantes europeus, as camadas populares da cidade cresceram exponencialmente. A cidade encontrava-se até então em um sítio estreito delimitado pelos Rios Tamanduateí e Anhangabaú. As áreas de expansão disponíveis, transpondo as barreiras geográficas presentes pelos rios, bipartiam o espaço a leste e a oeste. A região leste possuía difícil acesso ao centro, não apenas devido a sua extensa área de várzea alagável, mas tam-

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bém por abrigar a recente implantada ferrovia. Em contraste, a região oeste obtinha apenas o Rio Anhangabaú como obstáculo, e comportava uma sucinta área de várzea alagável. Por meio da tendência das classes mais abastadas de se concentrarem nas melhores regiões da metrópole, a região leste teve a obrigação de abrigar as classes inferiores e populares em sua área periférica, e parte da classe média nos bairros mais próximos ao centro da cidade, como o Alto da Mooca e o Tatuapé. A porção oeste favoravelmente localizada, e com uma topografia ondulada de altitude crescente, foi ocupada pelas camadas de rendas mais altas, em busca da apropriação das vantagens urbanas e produção de um espaço adequado para suas áreas residenciais. O território, que vinha surgindo à Oeste do Centro, ficou conhecidas pelos seus habitantes como “Cidade Nova”, por representar a modernidade da época. A formação do bairro de Campos Elíseos, por exemplo, representou o primeiro loteamento aristocrático moderno. As enormes chácaras, que estruturaram os loteamentos, possibilitaram a composição de ruas largas e retas que formavam cruzamentos com ângulo de 90º, juntamente com a proposta de praças como integrantes dos lotes. No final do século XIX, a população paulistana atingiu cerca de


Igreja S찾o Bento

Igreja S찾o Francisco de Assis Igreja Nossa Senhora do Carmo

F1.1. Tri창ngulo Hist처rico

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F1.2. - Avenida Paulista - 1891

F1.3. - Faculdade de Direito e Igreja São Francisco - 1900

240 mil habitantes devido ao crescimento constante das camadas populares urbanas, e as regiões leste e oeste não eram mais as únicas que comportavam a população. (PREFEITURA DE SÃO PAULO) A região norte vinha, cada vez mais, recebendo assentamentos habitacionais, assim como a zona sul e sudoeste. A partir de 1880, a elite alterou sua expansão em direção aos bairros de Santa Cecilia, Vila Buarque e Higienópolis, para a direção sudoeste onde se localizavam os atraentes sítios elevados. Em 1890, houve a abertura da Avenida Paulista, e a sua ocupação por moradias destinadas a aristocracia. As encostas do espigão, que comportava a grande avenida, também desenvolveram localizações prestigiadas, e acolhiam Ruas como a Consolação e Augusta. A ocupação das classes mais altas na Avenida Paulista disseminou-se para loteamentos próximos do Rio Pinheiros, em terrenos que, embora não houvessem atrativos naturais, possuíam fácil acesso à região central. Na primeira metade do século XX, a busca das camadas mais privilegiadas em gastar o mínimo de tempo possível em seus deslocamentos espaciais, proporcionou a formação de bairros como o Jardim América, Jardim Europa, Alto de Pinheiros e Butantã. “Teve início então a clara ocupação do quadrante sudoeste da capital pelos bairros das camadas de mais alta renda, num caminhamento que permanece até hoje e se firmou como um elemento básico na definição de toda a estrutura territorial da me-

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F1.4. - Avenida Brigadeiro Luís Antônio e Rua Riachuelo - 1900


trópole. As bordas do quadrante sudoeste foram ocupadas tanta pela alta renda como pela classe média, formando bairros como Perdizes, Ipiranga, Cerqueira César, Pacaembu, Alto da Lapa, Bosque da Saúde, etc.” (VILLAÇA, 2001, p. 264) F1.5. Trilhos de Bonde - Ruas Direita e São Bento - 1905

As áreas da cidade que não beiravam o fluxo sudoeste de crescimento se configuraram, predominantemente, por um processo de ocupação desordenado que se iniciou a partir de 1870, com a destinação dos terrenos a leste do centro para a massa popular. Os trabalhadores pulverizaram-se, no decorrer do tempo, pelo restante da cidade em localidades que encontravam a oportunidade de configurar suas residências, atingindo cada vez mais os extremos de São Paulo. Parte da população, que sequer conseguia pagar pelas piores localidades na periferia da cidade, sujeitou-se a invadir os terrenos inutilizados, e foi responsável pela constituição das favelas. Os invasores privilegiaram terrenos o mais próximo possível do quadrante sudoeste, em busca de subempregos que atendiam as classes altas e médias. Bairros como Santo Amaro, por exemplo, configuram uma realidade em que existe a presença das camadas da mais alta renda, juntamente com concentrações da massa popular.

F1.6. Rua Direita em Direção a Praça Patriarca - 1915

F1.7. Vale do Anhangabaú - Década de 1930

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O crescimento da cidade, comportando as suas funções programáticas e de infraestrutura urbana, se direcionou perante a expansão das moradias que abrigavam a elite paulistana. As demais regiões, compostas pelos bairros residenciais segregados que servem de moradia para a grande maioria da população, não acompanharam o mesmo desenvolvimento urbano e tornaram-se marginalizadas. Esse processo de expansão urbana se evidencia no livro “O Que Todo Cidadão Precisa Saber Sobre Habitação”, de Flávio Villaça: “O próprio centro da cidade sempre se deslocou na mesma direção de crescimento das camadas de mais alta renda. No começo do século, o centro de São Paulo se localiza no chamado “triângulo” (Rua 15 de Novembro, Direita e São Bento). Na década de 30 caminhando no sentido do quadrante sudoeste, ele pulou o Vale do Anhangabaú e da Avenida Ipiranga. Na década de 60, já de forma bastante pulverizada, o centro ocupou uma grande região entre a Avenida Paulista e Faria Lima na qual, inclusive, surgiram alguns shoppings centers. Estes juntamente com os hipermercados, se expandiram na década de 70 e a absoluta maioria deles se encontra no quadrante sudoeste. Nesse deslocamento, quanto mais perto o centro fica para a classe dominante, mais longe fica para os dominados.” (VILLAÇA, 1986, p. 88)

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Em meio a tal processo, ao longo da cidade de São Paulo foi estabelecido um quadro urbano com significativas áreas edificadas pela classe média e alta, áreas densamente ocupadas por favelas, e uma malha residencial crescente com moradias horizontais oferecidas ao trabalhador em loteamentos ilegais, longínquos e/ou desprovidos de melhoramentos públicos.


F1.8. - Panorama Cidade de SĂŁo Paulo - 2013

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1.2. Crescimento Populacional Mediante as constantes transformações na estrutura econômica e social do país durante o século XIX, houve a progressiva e acentuada migração da população para as cidades. Como consequência, estabeleceu-se determinado crescimento produtivo e demográfico nas grandes metrópoles como São Paulo. O crescimento populacional da cidade se iniciou a partir de 1800, mediante a expansão econômica, advinda da agricultura cafeeira em alta no mercado internacional. Em 1872, São Paulo já era considerada uma cidade de porte médio para os padrões da época, possuindo o total de 19.377 habitantes, segundo o censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Os processos de industrialização e de imigração se aceleraram durante a Primeira Guerra Mundial, aumentando ainda mais o desempenho econômico da cidade, juntamente com quantidade de residentes. Na década de 1920, a população tinha 580 mil habitantes, e apesar da grande crise econômica, proveniente da produção cafeeira e da quebra da bolsa de valores de Nova Iorque de 1929, a quantidade de moradores aumentava progressivamente. Simultaneamente, a cidade crescia de maneira desordenada em direção aos seus extremos. Em 1950, São Paulo possuía cerca de 2.198.096 habitantes, e ini-

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ciou-se o fenômeno de transferência de seu parque industrial para outros municípios: Osasco, Guarulhos, região do ABC Paulista, e até mesmo Campinas. O processo de terciarização das atividades presentes no município permitiu a construções de novos centros empresariais e comerciais difundidos pela região sudoeste, onde se localizavam as camadas de alta renda. Nessa mesma época, a taxa de crescimento do centro da cidade já se encontrava menor em relação ao crescimento das periferias. Entre os anos de 1970 e 1980, a taxa geométrica de crescimento anual (TGCA) do Município de São Paulo possuía a porcentagem de 3,49%, caracterizada por abranger, em sua maior parte, a expansão constante das camadas populares. Os dados adquiridos, entre os anos 1980 e 1991, revelam que a taxa de crescimento populacional diminuiu significamente de 3,49% para 1,13%, a partir da acentuação do movimento de periferização das parcelas de baixa renda. A tendência de ocupação dos trabalhadores cada vez mais no extremo da cidade, propiciou a migração por parte da população, que não foi capaz de assumir os elevados custos da moradia da capital, para localidades ao redor do município como Santana do Parnaíba e Barueri com TGCA, respectivamente, de 12,76% e 5,22% no mesmo período de análise (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).


O crescimento periférico, juntamente com a perda dos moradores na região central, ocorreu de maneira intensiva, entre os anos de 1980 até o ano de 2000, quando o processo passou a se inverter progressivamente, demonstrando que a rede de mobilidade e infraestrutura central vem atraindo novos moradores (Tabela 1.1 e 1.2). Pode-se analisar o fluxo de residentes no estudo “O Estado de São Paulo no Censo de 2010” de Suzana Pasternak: “O censo de 2010 mostrou uma inversão de tendência intra-urbana que se dava desde 1980: seu crescimento era essencialmente periférico, com perda de moradores nos anéis mais centrais. Até o ano 2000 o processo de periferização dentro do tecido urbano municipal acompanhava o seu transbordamento para os municípios vizinhos (...). Esta situação mudou na primeira década do século XXI, quando os 3 anéis centrais ganharam 216 mil residentes. Este ganho é menor que nos dois anéis mais periféricos, onde o ganho atingiu mais de 600 mil habitantes. Mas mostra uma inversão da tendência dos últimos 20 anos.” (PASTERNAK, 2012, P. 23)

crescimento de moradores no centro da cidade, confirmando o processo de valorização da infraestrutura existente. Nota-se, também, que o munício possui a maior quantidade de pessoas residentes, quando comparado com os demais munícipios brasileiros, totalizando cerca de 11.250.000 habitantes conforme dados adquiridos no Censo Demografico de 2010 (IBGE). Entretanto, o quadro urbano apresenta um cenário deficiente em termos das questões sociais. O crescimento populacional veio acompanhado de um alto grau de desigualdades, e exclusões sociais, para as camadas menos favorecidas da população.

Tabela 1.1 :

Tabela 1.2 :

Conclui-se que, apesar da taxa de crescimento de São Paulo ter diminuído progressivamente e ter sido considerada baixa nas últimas décadas, é possível identificar um aumento do

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1.3. Segregação Social e Déficit Habitacional A concentração urbana, direcionada aos extremos da cidade, desenvolveu uma realidade socioambiental deteriorante para as camadas de mais baixa renda. O envelhecimento dos sistemas de infraestrutura que demandam substituição e modernização, juntamente com a escassez das propostas de ampliações das redes de serviços públicos e habitacionais, proporcionou a vulnerabilidade das regiões periféricas da cidade. “A falta de alternativas de moradia popular e de lotes urbanos a preços acessíveis, particularmente nas grandes cidades, forçou os grupos mais pobres da população a ocupar ilegalmente espaços impróprios para assentamentos como encostas íngremes, várzeas inundáveis, beiras de rios e cursos d’água, áreas de proteção de mananciais, áreas de risco para o tipo de moradia precária dessa população, risco agravado pela ausência de infraestrutura.” (BONDUKI, 1997, P. 28)

O índice estatístico que numera a quantidade total de famílias em assentamentos incorrigíveis, com condições inadequadas

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de habitualidade que não possuem meios de qualificação e reforma, consiste no Déficit Habitacional. Segundo a Secretária de Habitação do Munícipio de São Paulo, em 2006, o déficit constatava um valor de 230 mil domicílios com necessidades de reposição. O Déficit Habitacional é constituído pela necessidade de construção de novas moradias para suprir as residências com problemas que requerem a substituição do domicílio. Existe ainda, o índice estatístico de Inadequação Habitacional, que abrange as moradias com carências diversas, mas que podem ser qualificada por meio de correção, ampliação, reforma ou regularização urbana. Mediante a Pesquisa de Condições de Vida – PCV, da Fundação Seade, nota-se que na cidade de São Paulo possui cerca de 33,3% assentamentos habitacionais classificados em déficit habitacional e inadequação habitacional, no ano de 2006, somando juntos um valor de 3.901.205 moradias inadequadas a população de São Paulo. Entretanto, pode-se constatar que a questão da moradia não se restringe à existência do abrigo, ou ao tamanho e qualidade da casa. Elementos como a rede de serviços públicos, a infraestrutura, a localização, e a distância do local de trabalho da população residente, também são importantes para promover a indispensável integração social da massa trabalhadora no


processo de urbanidade. É necessário o investimento nas áreas já ocupadas, bem como é imprescindível a retomada das camadas de mais baixa renda nas localidades onde há equipamentos excedentes de serviços públicos. É possível constatar esse cenário no próprio centro da cidade de São Paulo, onde a infraestrutura urbana é mais abrangente que a demanda de residentes, devido à baixa densidade populacional. Nota-se, simultaneamente, uma grande quantidade de terrenos subutilizados, deteriorados e abandonados, os quais possuem um grande potencial de promover o adensamento da camada menos privilegiada, em proximidade ao sistema de serviços públicos básicos da sociedade.

F1.9. - Panorama Favela Capão Redondo em São Paulo - 2008

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A retomada da ocupação do Centro de São Paulo, por parte das camadas menos privilegiadas da população, compõe um cenário de qualificação urbana. O panorama constituído pela centralidade repleta de infraestrutura, quando comparada com as demais parcelas do território da cidade, justifica o adensamento populacional da área. Entretanto, é possível constatar que a promoção de moradia no Centro possuiu níveis diversos ao longo do tempo, desencadeando, e sendo desencadeado, por processos ora de consolidação, ora de deterioração, do espaço urbano. Dessa maneira, mesmo com toda infraestrutura presente, é necessário um estudo aprofundado da centralidade de São Paulo, buscando meios coerentes de requalificação do território para o adensamento eficaz da área em questão.


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Moradia no Centro de SĂŁo Paulo


2.1. Formação e Consolidação Os aspectos que determinaram a formação da cidade de São Paulo se basearam na topografia e a hidrografia da localização estipulada por seus fundadores. O núcleo populacional iniciou sua estruturação no espigão da estreita colina que beira as águas do rio Tamanduateí e Anhangabaú. O Triângulo Histórico, atual Centro de São Paulo, foi a primeira área habitada da cidade, a partir da construção das ruas São Bento, Direita e 15 de Novembro. Os pontos extremos do Triângulo interligavam as casas religiosas do Carmo, São Bento e São Francisco que consistiam em verdadeiros polos de atração. A rede viária paulistana se iniciou a partir do Largo São Bento, onde se localizava a principal aglomeração urbana. Até o início do século XIX, a cidade ainda mantinha sua feição colonial, e possuía difícil circulação de uma região a outra. Apenas na década de 1870, a centralidade sofreu melhorias: as casas de taipa foram substituídas pelos prédios de tijolos, surgiram os primeiros bondes a tração animal, e as ruas ganharam iluminação a gás, juntamente, com o abastecimento de água e esgoto. Além disso, em 1875, por meio da abertura da rua Barão de Itapetininga, houve uma expansão significativa da área residencial abrangente do Triângulo, a partir da ligação da região do Anhangabaú até a atual Praça da República.

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Em meados de 1890, o Centro foi ocupado por edifícios, não apenas de caráter habitacional, mas com diferentes programas projetuais. Construídos de tijolos, de caráter eclético, e com até 3 pavimentos, foram responsáveis por inovar a técnica construtiva e o estilo arquitetônico que havia sido propagado até então. O capital proveniente do esplendor econômico foi aplicado na construção civil. Projetos como a antiga Escola Normal e o antigo Liceu de Artes e Ofícios, projetado ambos por Ramos de Azevedo, foram construídos e tornaram-se marcos urbanos. A avenida São João, e a rua Líbero Badaró foram alargadas, e grande parte do traçado viário, sofreram melhoramentos. Entretanto, a principal transformação da cidade consistiu na construção do Viaduto do Chá em 1892, de modo que a transposição do o Vale do Anhangabaú permitiu a continua expansão do Triângulo Histórico. O Centro de São Paulo tornou-se polo econômico, político e cultural mediante a ascensão da agricultura cafeeira. Através das transformações políticas e sociais do final do século XIX, advindas da abolição da escravidão, da Proclamação da República e da ascensão econômica, a metrópole paulistana se consolidou enquanto centralidade. A econômica passou a contar com os imigrantes, e o trabalho assalariado permitiu uma enorme


transformação nos hábitos de consumo da sociedade. São Paulo intensificou a sua vida urbana, desenvolvendo o setor comercial, financeiro, e o político com a ampliação das funções públicas. Grandes planos urbanos foram implementados no decorrer do século XX. O padrão europeu influenciou a reforma de praças públicas, e o alargamento das principais ruas. O Centro tornou-se palco da vida urbana, cheio de novidades, cultura, lazer, tensões e conflitos. A paisagem urbana foi composta por lojas, secretarias do governo, oficinas e escritórios. À medida que o Centro ganhava uma intensa convivência de pessoas, o uso residencial foi se afastando para as demais localidades, conform Souza descreve em seu “A Identidade da Metrópole”: “A Metrópole paulista conhece uma enorme efervescência na época. A cidade cresce, a população pobre é jogada para fora do centro, que se valoriza. Consolida-se um processo de especulação imobiliária, iniciado no final do século XIX, acompanhado de uma grande demanda habitacional.” (SOUZA, 1994, P. 71) A grande massa da população se transferiu, assim, para as periferias de São Paulo, onde o governo não se preocupou em desenvolver os serviços públicos de maneira adequada. Enquanto a elite paulistana passou a desenvolver, ao redor do Centro, bairros acessíveis à valorizada região central, onde se encontrava a mais completa infraestrutura da cidade. Dessa maneira, o Centro tornou-se predominantemente de uso comercial, institucional e de serviço. F2.1. - Vale do Anhangabaú visto a partir do viaduto do Chá - 1955

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2.2. Verticalização e Apogeu O século XX foi marcado pelo início e consolidação do processo de verticalização no Centro de São Paulo. Não havia estudos preliminares detalhados dos projetos, e a legislação era extremamente precária. Os edifícios que se destacavam, mediante os padrões construtivos do período, consistiam nos Palacetes João Bricola e Barão de Itapetininga, ambos construídos no século XIX. Entre os primeiros anos da década de 1910, a verticalização foi moderada. Surgiram os primeiros prédios de concreto, de até cinco pavimentos, muitos ainda sob influência europeia. São Paulo estava cada vez mais construído; os prédios centrais eram, progressivamente, ocupados por escritórios de comerciantes, de profissionais liberais, por industriais ou bancos. Conforme a metrópole paulista se consolidava como paisagem urbana e institucional, o processo construtivo passava a expandir, gradativamente, pelas imediações do núcleo histórico. Dessa forma, construiu-se, em 1911, o Teatro Municipal, projetado pelo escritório de arquitetura Ramos de Azevedo, como símbolo da expansão urbana para além do vale do Anhangabaú. O Teatro representava o esplendor econômico dos paulistanos, e permitiu o fortalecimento do Centro como polo cultural. A região central de São Paulo vinha se desenvolvendo de ma-

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neira homogênea, e os novos edifícios verticais, vinham substituindo as antigas construções do núcleo histórico, de maneira gradativa. Esse processo ocorreu até 1916, quando o Edifício Guinle se tornou um marco na construção civil, por romper com a simetria do que havia sido implantado na cidade na última década. A sede paulista da empresa Guinle & CIA, foi o primeiro edifício de concreto armado do Brasil, com cerca de sete pavimentos. Para sua aprovação na câmara municipal, foi preciso um levantamento realizado pelos arquitetos que o projetaram, Hipólito Gustavo Pujol Jr. e Augusto de Toledo, sobre o que estava sendo construído, na época, na Europa e nos Estados Unidos. Durante o período a partir de 1920, produziu-se uma nova paisagem urbana, constituída de inúmeros equipamentos, em construções com vários pavimentos. O progresso tecnológico do Brasil assegurou a contínua verticalização dos empreendimentos realizados, a partir da técnica construtiva do concreto armado e do desenvolvimento do uso de elevadores em edifícios. Exemplifica-se tal processo através do Edifício Sampaio Moreira, conhecido como protótipo dos arranha-céus, que possuí 12 pavimentos, e cerca de 50 metros de altura. Projetado por Cristiano Stockler das Neves, em 1922, a edificação iniciou o


lento período de construções paulistanas, que vinham rompendo com as influências europeias, e baseavam-se, predominantemente, em obras americanas. A metrópole se modernizou cada vez mais, ganhando edifícios com diferentes usos: de serviço, institucional, comercial e, de maneira modesta, residencial. Um dos primeiros edifícios residenciais da América Latina consistiu no Palacete Riachuelo, construído entre os anos de 1926-1928, também projetado pelo arquiteto Cristiano Stockler. Desse modo, progressivamente a ambição e o esplendor de São Paulo eram visíveis em sua paisagem através dos mais altos edifícios. Em 1929, outra importante edificação foi construída, mas dessa vez caracterizou-se como marco por alcançar uma altura superior ao que os paulistas estavam acostumados. O edifício Martinelli, projetado por Giuseppe Martinelli, alcançou 106 metros, com seus 30 pavimentos. Entretanto, as principais construções ainda se concentravam nas imediações do núcleo central, como é possível constatar no livro “Os Ceús Como Fronteira – A Verticalização no Brasil”:

F2.2. - Edifício Guinle

F2.3. - Edifício Sampaio Moreira

“Até 1939 ergueram-se muitos edifícios em São Paulo, totalizando 813, onde funcionavam 1.232 elevadores. Essa verticalização foi um fenômeno central e predominantemente terciário: 70% dos edifícios localizavam-se no centro e 65% deles, tanto os que se destinavam a escritórios quanto os residenciais, eram construídos para aluguel. Os edi-

F2.4. - Palacete Riachuelo

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F2.5. - Centro de São Paulo - Século XIX


fícios altos reproduziam ornamentos inspirados no modelo europeu, mas formalmente destruíam a já precária homogeneidade de São Paulo.“ (MARINS, 2013, P. 99)

Apenas a partir da década de 1940, a produção civil dos grandes edifícios passou a ser predominantemente residencial. A verticalização permitiu conciliar o crescimento populacional, advindo da urbanização do Centro, com o crescimento material proveniente do progresso da metrópole. No início, os edifícios residenciais destinavam seus apartamentos para o aluguel. Os edifícios eram financiados e construídos por famílias importantes para a época, e carregavam o nome da família como, por exemplo, o Edifício Henrique Jovinho e o Edifício Luís Médici. Pode-se verificar o processo de adaptação da população às residências verticalizadas, a partir das constatações realizadas por Maria Adélia Aparecida de Souza, em seu livro: “Trata-se de um período importante de ampliação do espaço verticalizado da cidade. Os edifícios dessa época, na maioria das vezes, repetiam em suas plantas as soluções das casas térreas, como que propondo aos moradores uma reconstituição de seus ambientes originais: corredores, saletas, salas de almoço junto à cozinha e de jantar junto à de estar(...).” (SOUZA, 1994, P. 93)

Entretanto, após a Lei de Inquilinato de 1942, que alterou a forma de produzir o edifício, os apartamentos para alugar deixaram de ser rentáveis, e os apartamentos à venda passaram a ser o foco da construção civil. Houve, claramente, a diversificação e ampliação das tipologias residenciais. Surgiram prédios com apenas apartamentos de um quarto sem divisórias: as “kitchenettes”. O conceito de condomínio foi desenvolvido para a realização das vendas, e as moradias destinadas à classe média, por comporem unidades menores, tornaram-se o investimento mais rentável do mercado imobiliário. Em meio a década de 1950, os empreendimentos consolidaram sua transferência para além do Vale do Anhangabaú, devido ao gradativo deslocamento da elite, e de seus interesses, da região central. As imediações do Triângulo Histórico passaram a concentrar as camadas populares, desenvolvendo, assim, equipamentos públicos e o comércio popular. Nesse período, o Centro em expansão continha a parte mais valorizada da cidade, com apartamentos de alto padrão, escritórios, lojas, restaurantes de alto nível, e a Cinelândia paulistana. Flávio Villaça situa em seu livro, tal processo de bipartição do Centro, denominando o núcleo antigo como “Centro Velho”, e a sua expansão como “Centro Novo”: “No final dos anos 50, o centro de São Paulo estava claramente divido, pelo vale do Anhangabaú em duas partes. Na parte voltada para o sudoeste, tendo por eixo a Barão de Itapetininga, formou-se

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o centro das elites, com suas lojas, restaurantes, escritórios e consultórios – a Cinelândia paulistana (região das avenidas São João e Ipiranga) – e até mesmo uma elegante rua de apartamentos de alto luxo, que ocuparam os terrenos das antigas mansões da rua São Luiz. Este passou a ser o “Centro Novo”. Para o “lado de lá” do Anhangabaú, o antigo centro tornou-se o “Centro Velho”, voltado para as camadas populares. Suas lojas se “popularizaram”, bem como seus cinemas (o Rosário, no Martinelli; o São Bento, na rua do mesmo nome; o Alhambra, na rua Direita; o Danta Helena, no palacete de mesmo nome na Praça da Sé, etc.). Nas ruas Quinze de Novembro e Boa Vista sobreviveram – pela força da tradição, talvez – os bancos e alguns profissionais ligados à área jurídica, visto que lá permaneceram o Fórum e o Palácio da Justiça.” (VILLAÇA, 2001, P. 264)

O “Centro Velho” de São Paulo passou a ser ocupado, predominantemente, pelo comércio, serviço e equipamentos urbanos, e houve uma significativa expansão dos imóveis residências para o “Centro Novo” e as suas adjacências. Na Praça da República,

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por exemplo, foi construído, em 1934, o importante Edifício Esther. Sendo pioneiro na utilização do uso misto, o edifício desenvolveu unidades habitacionais simples e duplex, juntamente com mais de cem escritórios, em uma torre de onze andares. Em contrapartida, nesse mesmo período, foi construído o Palácio da Justiça (1990-1933) pelo escritório Ramos de Azevedo, nas imediações da Praça da Sé, situada no núcleo antigo. Não adotando elementos clássicos, o edifício contou com ornamentos que remetessem ao judiciário, e teve a fachada inspirada no Palácio da Justiça de Roma. Além disso, o fato da edificação ter sido pioneira na utilização de estruturas metálicas permitiu a presença de grandes vãos estruturais, e espaços internos funcionais. O sistema de bondes intensificou um denso padrão de urbanização, e as imediações do núcleo central estavam cada vez mais habitadas. Grande parte da população buscava viver próximo do seu trabalho, e da completa rede de infraestrutura presente no coração da cidade. Embora esse desejo fosse realidade de poucos, regiões como a Liberdade, o Largo do Arouche e a Praça Roosevelt abrigavam a classe média, enquanto os bairros à oeste do centro, como Vila Buarque, Santa Cecilia e Higienópolis, receberam a elite paulistana. A massa popular, por sua vez, foi destinada a habitar as áreas periféricas da malha urbana, devido ao processo de valorização da região central e, consequentemente, expulsão dos trabalhadores. A expansão do processo de verticalização caracterizou-se, pro-


gressivamente, por produzir unidades habitacionais. Em 1952, por exemplo, foi projetado o Edifício Companhia Panamericana de Hotéis e Turismo, pelo arquiteto Oscar Niemeyer. O projeto, que inicialmente destinava-se a apartamentos de hotel, passou a ser atribuído a unidades habitacionais para distintas classes sociais, englobando diversificadas tipologias: kitchenettes, 1 dormitório, 2 dormitórios, e 3 dormitórios. Importantes edificações destinadas ao comércio e serviço, como o Palácio Itália, também foram produzidas no “Centro Novo” nesse mesmo período. Considerado um dos mais altos arranha-céus do Brasil, com 45 andares, o Edifício foi projetado em 1956, pelo arquiteto Franz Heep. A construção se situou no entorno da Praça da República, e tornou-se um marco histórico por atestar, imponentemente, o poder econômico de São Paulo no período. No fim da década de 1950, houve uma inversão da situação encontrada no processo de verticalização até então: 71% dos edifícios encontravam-se nos 19 bairros que se desenvolveram ao redor do centro, enquanto a centralidade de São Paulo detinha apenas 29% dos edifícios verticais (MARINS, 2013). A valorização fundiária, assim como o aumento da densidade populacional de São Paulo, contribuiu para a expansão do processo vertical para os bairros do entorno da centralidade paulista. Dessa forma, O Centro Velho e o Centro Novo fundiram-se em apenas uma região, conhecida como Centro Histórico. As localidades em suas imediações se desenvolveram gradativamente. Nesse período, surgiram, e se consolidaram bairros como Bom Retiro,

Bela Vista, Perdizes, Brás, Cambuci, Santana, entre outros. No decorrer do tempo, o centro econômico, comercial e cultural da elite foi fragmentado, e se desenvolveram novos subcentros especializados, juntamente com novas áreas residenciais. Dessa maneira, o Centro Histórico sofreu a desaceleração do processo de verticalização, a partir do desinteresse de seu progresso por parte da elite. A região da paulista se tornou o novo polo comercial, econômico e cultural, como constata-se no livro “O Centro de São Paulo – Um Olhar sobre a cidade”: “Os edifícios Copan e Itália provaram que a cidade já era, definitivamente, uma metrópole: sua escala e seu desenho, que se tornaram referencias da cidade, não deixam dúvida. Contudo, nesse período, os investimentos financeiros e simbólicos já estão migrando para outros núcleos, especialmente para a avenida Paulista, que começa a receber edifícios modernos ao lado de seus casarões do café. Se o Municipal, atestado da importância da cultura da cidade, foi projetado para ser visto do Anhangabaú, o Museu de Arte de São Paulo, iniciado em 1960 para substituir o primeiro museu da dupla Pietro Maria Bardi e Assis Chateaubriand – que ficava na rua 7 de Abril -, é localizado no Trianon, na avenida Paulista (...). Não apenas edifícios cedem lugar a outros, mas a cidade passa a eleger novas centralidades.” (BOLSA DE MERCADORIAS, 2004, P. 32)

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2.3. Desvalorização e Deterioração O processo de desvalorização do centro ocorreu por diversos motivos, que ao se complementarem, se tornaram responsáveis pelo desinteresse gradativo da alta sociedade pela região central. O aumento da mobilidade espacial, advindo da motorização das camadas de alta renda, permitiu uma nova formulação do espaço. O mercado imobiliário, visando o lucro, abriu novas frentes para seus empreendimentos e renovou as construções nas localidades do centro expandido. Desenvolveram-se centros comerciais, financeiros e culturais fragmentados, estrategicamente localizados, em favor da elite paulistana, que agora possuía fácil acesso às diferentes localidades da cidade. “A nova mobilidade espacial produziu espaços cada vez mais alargados. Em razão disso, o caminhamento que ocorreu a partir da década de 1960, no comércio e serviços centrais voltadas para alta renda, não reproduziu – como os deslocamentos anteriores – o “centro antigo” em termos de concentração de serviços, mas sim uma região atomizada de vários centros especializados” (VILLAÇA, 2001, p. 282).

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À medida que os núcleos habitacionais da aristocracia se afastavam do Centro, e se transferiam para os novos bairros modernizados, a elite buscava trazer a infraestrutura da cidade em sua direção. A região da paulista foi desenvolvida, coerentemente, com os novos padrões de mobilidade da época: construíram novas avenidas, grandes estacionamentos, e vias de fácil acesso. Progressivamente, a região central tornou-se desinteressante para a alta sociedade, e os edifícios que a compunham foram abandonados pelo comércio requintado e pela pequena quantidade de moradia de luxo que ainda restava. Os vários pontos do Centro Histórico reduziram o seu valor imobiliário, e passaram a serem ocupados, em sua maior parte, pelo comércio e serviço destinados as camadas populares. A região central se tornou obsoleta; seus edifícios, por muitas vezes, não compensaram ser mantidos, e foram abandonados com o passar do tempo. Em 1970, por exemplo, o edifício Martinelli se tornou um enorme cortiço, após empresas e profissionais não se interessarem mais em sua locação enquanto edifício comercial e de serviços. A desvalorização do centro encadeou o seu abandono, e não apenas a sua decadência, mas a valorização dos subcentros,


conforme Villaça descreve: “O centro de São Paulo começou a apresentar ritmo decrescente de crescimento no final da década de 1950, e na década de 1960 já eram notáveis os sinais de estagnação do centro principal e formação de um “centro novo” na região da Paulista-Augusta. (...) O processo popularmente chamado de “decadência” ou “deterioração” do centro consiste no abandono por parte das camadas de alta renda e em sua tomada pelas camadas populares.” (VILLAÇA, 2001, P. 277) F2.6. - Ocupação Edifício - Centro de São Paulo - 2010

Apesar da fragmentação dos polos econômico, comercial e cultural, o Centro ainda exerce grande influência em São Paulo; a região central ainda comporta, e tem competência de comportar, a maior quantidade de empregos da cidade. Mesmo com o processo de degradação, inúmeros edifícios sobreviveram ao processo de deterioração do Centro, e conservam a sua função original, como o próprio Teatro Municipal. Dessa forma, a partir do reconhecimento da importante rede de infraestrutura central, torna-se possível a confecção de novos valores ao seu território. Sua potencialidade, advinda da quantidade de equipamentos urbanos e concentração de empregos, serve de parâmetro para a sua requalificação de fato, e para o desenvolvimento do seu adensamento populacional.

F2.7. - Moradores de Rua - Centro de São Paulo - 2017

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03

Seleção da Área de Intervenção


F3.1. - Praça João Mendes - 2011

A Zona Central de São Paulo é formada pela região administrativa da Subprefeitura da Sé, que engloba os distritos da Bela Vista, Bom Retiro, Cambuci, Consolação, Liberdade, República, Santa Cecília e Sé. Segundo o censo de 2010, a região administrativa da Sé é a menos populosa da cidade, com a presença de 431.106 habitantes, mesmo com a reversão recente do declínio populacional, e o aumento da taxa de crescimento a partir dos anos 2000. A região apresenta a maior oferta de equipamentos públicos e infraestrutura; consiste na área melhor conectada, em termos de traçado viário e transporte público, da cidade, mesmo com o afastamento da zeladoria pública após o abandono do Centro pela elite paulistana.

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O bairro da Liberdade possui uma parcela pertencente ao distrito sul da Sé, nas imediações da praça João Mendes, e outra no distrito da Liberdade, nas proximidades do Parque da Aclimação. A região apresenta diversas universidades particulares, os hospitais Servidor Público e da Glória, o Palácio da Justiça, o Palácio do Trabalhador, o Fórum João Mendes, dentro outros equipamentos. O bairro é atendido pelas estações Liberdade, São Joaquim e Vergueiro, pertencentes a Linha 1 (Azul) do Metrô de São Paulo, e é atendido pelas principais linhas de ônibus que conectam os demais bairros a região central. No presente trabalho, a partir de aspiração de aplicar o adensamento populacional em um meio já repleto de infraestrutura, utiliza-se o bairro da Liberdade como área de intervenção.


3.1. Histórico do Bairro - Liberdade O atual bairro da Liberdade surgiu a partir da ampliação do núcleo urbano central da cidade de São Paulo, que se delimitava, até o início do século XIX, nas imediações do Triângulo Histórico. O bairro, inicia-se dentro do Distrito Sul da Sé, nas imediações da Praça João Mendes, juntamente com o Largo 7 de Setembro, e termina no cruzamento do atual Viaduto Pedroso com a Rua Vergueiro, dentro do próprio Distrito da Liberdade. O povoamento da região, que hoje constituí a Liberdade, formou-se ao redor dos caminhos e trilhas que conduziam o fluxo do Centro aos povoados e aldeias mais afastados da cidade. A partir das estradas que compunham o Caminho do Mar e o Caminho do Ibirapuera, o bairro tornou-se conhecido como zona de transição entre o território central, e as localidades limítrofes de São Paulo. Nas proximidades das “Estradas para Carros” houve um fluxo comercial intenso de compra e venda de terras, responsável por formar inúmeras propriedades. As chácaras e os ranchos que surgiram, consistiram em uma importante opção de moradia para os paulistanos, uma vez que muitos possuíam uma casa urbana para negócios, e uma chácara afastada da centralidade para moradia e agricultura de subsistência. No início do século XIX, a Liberdade ainda era considerada per-

tencente à zona periférica da cidade. Possuía, dessa forma, algumas das funções indesejadas de São Paulo, como a casa da Pólvora, e a localização da Forca. Apenas na metade do século, o bairro passou a ter caráter urbano. Em 1850, o poder público passou a pressionar os proprietários de grandes chácaras vizinhas ao centro, a determinar a abertura de ruas, alamedas e largos. Sem um planejamento urbanístico, cada proprietário teve o dever de fazer o arruamento e loteamento de suas grandes extensões de terra. No final do século XIX, ruas e largos importantes da Liberdade surgiram a partir da desintegração de grandes chácaras. A quinta de Francisco, conhecida como Chácara dos Ingleses, por exemplo, deu origem à Rua Sinimbu e ao Largo São Paulo; e a Chácara do Tabatinguera, propriedade de Dona Ana Machado, deu origem as ruas Conselheiro Furtado, Conde de Sarzedas e Santa Luzia. O núcleo inicial da Liberdade, nas imediações do bairro da Sé, foi configurado com grande número de espaços públicos abertos. Foram projetados largos e praças que irradiavam caminhos próximos entre si. As zonas do bairro povoadas posteriormente, entretanto, desenvolveram-se a partir de uma trama retilínea e o mais perpendicular possível, com poucas praças e largos. As

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LIBERDADE

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F3.2. - PerĂ­metro Oficial do Bairro da Liberdade


mais importantes áreas públicas sobreviveram ao processo de desenvolvimento e urbanização do bairro. O antigo Largo do Pelourinho, por exemplo, permanece até os tempos atuais, sob o nome de Largo 7 de Setembro, e foi incorporado à Praça João Mendes. Sua importância partia de seus prolongamentos que irradiavam as principais ruas que estruturam a região: Rua da Forca, atual Avenida Liberdade, e o Caminho do Mar, atual Rua da Glória. Ao longo do processo de construção da Liberdade, o tecido urbano foi formado descontinuamente, em decorrência da topografia característica do bairro. As partes mais altas foram ocupadas por habitações maiores destinadas à alta renda; os declives, e partes próximas à várzea do Rio Tamanduateí, foram ocupadas por habitações menores, vilas, cortiços e pensões. Além disso, conforme o Inventário Geral do Patrimônio Ambiental, Cultural e Urbano de São Paulo (IGPACSP, 1987, P. 53) explicita, há diferenças, também, na forma de ocupação das áreas planas e acidentadas: “Sua topografia causa ocupações diferenciadas: nas áreas mais planas – lotes menores, grande densidade, e total ocupação; nas áreas mais acidentadas – vazios de centro de quadra e lotes mais profundos”. No fim do século XIX, São Paulo encontrava-se no período que ficou conhecido como “Belle Époque”, devido ao seu progresso econômico, político e cultural. Após a abolição dos escravos, em 1888, e a proibição da pena de morte, em 1891, foi extinto o símbolo precário de justiça em que consistia a Forca. Dessa

maneira, a Rua da Forca foi nomeada Liberdade, e deu origem ao nome do bairro paulistano. Além disso, segundo o livro História dos Bairros de São Paulo, nesse mesmo período, as principais ruas do bairro foram estruturadas, e formaram a Liberdade como é conhecido hoje. “Nos últimos meses do oitocentismo, começaram a surgir as ruas que se tornariam tradicionais no bairro da Liberdade: parte da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, a Rua Conselheiro Furtado, a Rua Conde de Sarzedas, Rua Pedroso, Rua Fagundes, Rua Dr. Rodrigo Silva, dentre outras de menos renome, todas elas vivendo em função da Avenida Liberdade.” (GUIMARÃES, 1979, P. 69)

Progressivamente, os arredores passaram a se modernizar; diversos serviços públicos foram instalados, como a própria iluminação da Avenida Liberdade, e o bonde elétrico. Melhoramentos viários foram implantados, e inúmeros edifícios antigos foram desapropriados, para se adequarem aos novos arruamentos. Em meio ao esplendor econômico, os barões do café provocaram uma revolução arquitetônica na cidade, por intermédio de construções que se assemelhavam aos projetos europeus. Importantes arquitetos, como Ramos de Azevedo e

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Otaviano Pereira Mendes, foram responsáveis por configurar os novos padrões existentes na cidade.

F3.3. - Praça João Mendes - 1860

F 3.4. - Rua da Glória, esquina com Largo 7 de Setembro- 1860

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F.3.5. - Praça João Mendes - 1890

No início do século XX, ao longo da Av. Liberdade, foram construídos importantes edifícios. Segundo o IGEPACSP, em 1918, o bairro possuía cerca de 5.185 prédios. As construções verticais, que cada vez mais eram erguidas, contrastavam com as antigas residencias senhoriais, espalhadas pela região das Ruas Galvão Bueno, Conde de Sarzedas, e pela Avenida Liberdade. Além do processo de verticalização, o bairro modificou-se mediante o prolongamento do comércio, diversificado e varejista, do centro da cidade; a partir do surgimento de uma grande quantidade de pequenos estabelecimentos de comércio local, e mediante a inauguração das primeiras indústrias do bairro, localizadas na baixada do Glicério. Apesar disso, o bairro continuou sendo predominantemente residencial, conforme descreve Guimarães: “No início do século XX o Bairro da Liberdade era ainda tipicamente residencial, de classe média, sendo que nas principais ruas encontravam-se algumas residências mais abastadas. (...) Estes moradores dedicavam-se ao comércio, como proprietários de padarias, empórios, etc., alguns eram carpinteiros, outros empregavam-se nas indústrias. As duas primeiras indústrias de porte – a Sudam, fábrica de cigarros, e a Penteado, indústria têxtil, localizavam-se na antiga várzea do Penteado, mais tarde várzea do Glicério.” (GUIMARÃES, 1979, P. 23)


No início do século XX, após o surto industrial nas imediações do Vale do Tamanduateí, os proprietários que ainda possuíam extensas terras, se dedicaram à construção de vilas operárias. As vilas consistiam em aglomerados de casas geminadas, que possuíam o mesmo padrão arquitetônico. Entretanto, a presença da indústria tornou-se cada vez menor, ao longo dos anos, e as unidades residenciais das vilas foram vendidas a terceiros. As residências pertencentes às vilas sofreram inúmeras reformas a gosto dos diversos proprietários, e foram gradativamente sendo descaracterizadas. No decorrer do esplendor econômico da cidade de São Paulo no início do século XX, o bairro modificou seu caráter pouco a pouco. Os antigos casarões deixaram de ser residência da aristocracia paulistana, e foram abandonados. As mansões tornaram-se pensionatos e, posteriormente, foram “encortiçados”. O IGEPACSP (1987) define como “encortiçada” a habitação que originalmente destinava-se a uma única família, e por tornar-se degradada, passou a ser ocupada de maneira plurifamiliar, sob o aspecto de baixo custo do aluguel. Na Liberdade, até mesmo na atualidade, são muito comuns esses tipos de moradias, as quais são destinadas à população de baixa renda.

F3.6. - Rua da Liberdade - Região Próxima do Largo 7 de Setembro - 1942

F3.7. - Rua da Liberdade - Região Próxima do Largo da Pólvora - 1942

A instalação do curso de direito da Universidade de São Paulo, no Largo São Francisco em 1928, intensificou o processo do aparecimento de pensões e repúblicas, mas, dessa vez, sob a especificação de serem destinadas a universitários. A importante Rua dos Estudantes, por exemplo, obteve essa nomeação me-

F3.8. - Praça Almeida Júnior - Teatro - 1940

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diante a quantidade de repúblicas alocadas em sua extensão. Alguns desses estabelecimentos permanecem até a atualidade, e tornaram-se pensões para o aluguel de moças e rapazes. As demais, entretanto, foram transformadas em cômodos para o aluguel de famílias. F3.9. - Vila dos Estudantes - 1984

F3.10. - Conjunto de Casas - Rua dos Estudantes - 1984

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F3.11. - Conjunto de Casas - Rua Sinimbu - 1984

Paralelamente ao processo de metropolização da cidade, ocasionado pelo progresso financeiro, intensificou-se o fluxo imigratório e migratório para São Paulo. Além dos primeiros imigrantes italianos e portugueses a habitarem a cidade, contingentes de brasileiros de inúmeras regiões passaram a residir na capital paulista, aumentando a densidade demográfica drasticamente. Na década de 20, a população possuía 580 mil habitantes, e dentro de apenas 30 anos quadriplicou seu número de residentes para 2.198.096 habitantes (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,1950). Nas primeiras décadas do século XX, os imigrantes japoneses chegaram progressivamente nas proximidades da Rua Conde de Sarzedas, onde se situava o Edifício da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa. A partir de 1939, com o advento da Segunda Grande Guerra, o fluxo imigratório se intensificou, e tornou-se disperso, uma vez que não poderiam imigrar grandes quantidades de pessoas para a mesma localidade. A inauguração dos Cinemas Nitéroi e Jóia, especializados em cultura japonesa, e os inúmeros clubes de luta, nas imediações da Avenida Liberdade, atraíram ainda mais a fixação da população oriental na região.


À medida que o território ganhou um grande número de moradores orientais, e com ascendência oriental, a região passou a conter um comércio especializado de artigos e culinária voltado a esses imigrantes, e tornou-se conhecida como “Bairro Oriental”. Essa denominação fixou-se ainda mais, mediante ao Plano Paisagístico de Caracterização Oriental, desenvolvido por Randolfo Marques, por meio da parceria entre a Associação de Lojistas e a Secretaria do Turismo. A proposta ocorreu em cooperação com as obras estação de metrô Liberdade, pertencente a linha Norte/Sul, e ambos os projetos foram inaugurados em 1969. A Praça da Liberdade, onde foi implantada a estação, tornou-se o pórtico de entrada para o “Bairro Oriental”. As imediações da Avenida, de mesmo nome, foram reformadas seguindo os padrões característicos da proposta, como a fixação de lanternas japonesas (“tiotin”), com a projeção de passeios decorados com azulejos de mosaicos chineses, e com o emprego abundante da cor vermelha. Entretanto, as demais localidades do bairro, como o núcleo antigo, a região da Conde de Sarzedas, e o Glicério, apesar de também abrigarem grandes quantidades de orientais, não sofreram tais caracterizações. A autora Guimarães interpreta essa tipificação do bairro como estratégia econômica, e revela essa fração da Liberdade como atração turística. Entretanto, é notória a perda dos estabelecimentos, no decorrer do tempo, que de fato propagam a cultura do bairro e não apenas a sua decoração, como o próprio fechamento, em 1968, do

F3.12. - Praça João Mendes - Antiga Igreja de São Gonçalo - 1984

F.3.13. - Rua Galvão Bueno - Viaduto Cidade de Osaka - 1984

F3.14. - Rua Galvão Bueno - Jardim Oriental - 1984

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importante Cine Niterói. “Pretendia, esse plano, transformar o bairro numa espécie de China Town, como a existente em Nova York e São Francisco, a fim de consolidar a tendência natural do bairro de se transformar num núcleo tipicamente oriental e que teria o condão de se transformar em operosa atração turística para nacionais e estrangeiros.” (GUIMARÃES, 1979, P. 91)

A inauguração da estação Liberdade do metrô, seguida da inauguração da estação São Joaquim, modificaram significamente a paisagem urbana. Além disso, a abertura das grandes vias Avenida 23 de Maio e Radial Leste, provocaram uma drástica mudança no traçado viário existente. Apesar da implantação da Avenida 23 de Maio ter aproveitado o vale natural do Anhangabaú, e não ter provado grandes cicatrizes urbanas, acabou separando o bairro em dois núcleos urbanos distintos. A Radial Leste, por sua vez, mutilou drasticamente o tecido urbano, e ocasionou inúmeras demolições ao longo do bairro, como a própria Praça São Paulo e o significativo teatro nela existente. As modificações na paisagem, acarretadas pela inserção dos melhoramentos viários, desencadearam o agressivo processo de verticalização no bairro. A maioria dos novos empreendimentos passou a ocupar os lotes por inteiro, e a não adotar

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F3.15. - Avenida Radial Leste-Oeste - Fotografia Tomada da Avenida Liberdade - 1984


recuos laterais e frontais. Atualmente, os deteriorados casarões encortiçados, as antigas pensões, e os galpões industriais, convivem com diversos investimentos imobiliários habitacionais destinados à classe média, juntamente com uma grande quantidade de estabelecimentos especializados no comércio oriental.

F3.16. - Avenida Radial Leste-Oeste - 2012

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3.2. Área de Intervenção - Conde de Sarzedas A Liberdade, que sofreu inúmeras modificações ao longo de sua história, formou com o passar dos séculos diferentes áreas urbanas com aspectos singulares. Apesar desses territórios possuírem vínculos, e manchas de influência que atuam por toda a extensão do bairro, eles possuem características próprias, que os tornam elementos ímpares. O Inventário Geral do Patrimônio Ambiental, Cultural e Urbano de São Paulo (IGEPACSP) realizou uma análise histórica do território pertencente a Liberdade, onde classificou diferentes núcleos urbanos existentes no bairro, de acordo com suas características, para facilitar futuras intervenções no território e a coleta de dados de seus habitantes. Em busca de estabelecer uma composição de quadra conectada, de fato, com a cidade de São Paulo, em um meio culturalmente próspero com uma infraestrutura urbana consolidada, o objeto de estudo consiste no Núcleo Urbano Conde de Sarzedas.

F3.17. - Vila Conde de Sarzedas - 1984

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F3.18. - Cartografia NĂşcleos Ubranos Pertecentes ao Bairro da Liberdade

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3.2.1. Histórico e Formação Em meados do século XIX, a região onde hoje se localiza o bairro da Liberdade, foi ocupada por inúmeras propriedades tradicionais. O Núcleo Urbano Conde de Sarzedas foi formado a partir da Chácara do Tabatinguera, pertencente à Dona Anna Maria de Almeida Lorena, neta de D. Bernardo José de Lorena, o 5º Conde de Sarzedas, título de nobreza concebido pelo rei Felipe IV da Espanha, em 1630. Donna Anna foi responsável pela abertura das ruas Conselheiro Furtado, Conde de Sarzedas, Tabatinguera e Santa Luzia. Conhecida como virtuosa dama da sociedade paulista, em 1901, moveu grandes esforços para a construção, em suas terras, da Capela do Menino Jesus e Santa Luzia. A Capela era bem frequentada, mantida em ordem e funcionalmente constante. Proporcionavam-se, em seu espaço, festas religiosas entre os dias 13 e 25 de dezembro, todos os anos. Além disso, entre os anos de 1891 e 1895, nas imediações da chácara da família, Luiz de Lorena Rodrigues Ferreira, sobrinho de Donna Anna e deputado de São Paulo, foi dirigente a respeito da construção do Palacete Conde de Sarzedas. Os imóveis da família do Conde de Sarzedas passaram por inúmeros locatários e, apesar de estarem localizadas privilegiadamente no topo da colina do vale do Tamanduateí, cada vez mais

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foram descaracterizadas e degradadas. No início do século XX, da mesma forma que outras grandes áreas do bairro, a propriedade foi transformada em um aglomerado de 61 casas padronizadas que constituíram a Vila Conde de Sarzedas. Apenas os edifícios da Capela de Santa Luzia, e o Palacete de Conde de Sarzedas sobreviveram, mediante as novas construções. Por toda extensão do Núcleo, houve uma grande concentração de vilas operárias e ocupações no interior das quadras. Além disso, tornou-se muito comum os antigos casarões, que sobreviveram as constantes demolições, serem ocupados por cortiços, e as moradias familiares, pertencentes à classe média, dividirem o espaço com o comércio estritamente local. Ao longo dos anos, progressivamente a legislação foi enquadrando as vilas em determinados padrões construtivos. Em 1900, foi instala a Lei nº498, que determinava que a aprovação do projeto das vilas não precisava conter as plantas de suas construções, mas apenas as suas descrições. Apesar de simplificar, e tornar mais barato esse tipo de construção, foi determinado que fossem fundadas fora da aglomeração urbana, restringindo sua área de construção. Em 1975, foi estabelecida a Lei nº 8.328, que protegia determinados estilos de vilas, e permitia a demolição daquelas que não se enquadrassem. A Vila Conde


de Sarzedas, por sua vez, não se encaixava nos pré-requisitos, e poderia ser demolida a qualquer momento. Somente em 1992, houve o tombamento e, assim, de fato a segurança das principais vilas de São Paulo. Entretanto, como pode ser analisado no estudo feito por Paula Carlos de Souza, a Vila Conde de Sarzedas mais uma vez foi esquecida no processo de proteção, e foi demolida entre os anos de 1995 e 2010:

F3.19. - Vila Residencial- Rua Carolina Augusta - 1984

“A Resolução Nº44 de 1992, enquadrou e abriu processo de tombamento de 90 imóveis, então inventariados pelo IGEPAC-SP, na Zona de Uso Z8-200. Esses imóveis estão concentrados na Vilas Suiça, Carolina Augusta e Trav. do Ruggero. O curioso é que a Vila Sarzedas foi totalmente excluída do processo de tombamento, possibilitando assim a sua total demolição. (...)” (SOUZA, 2016, P.15)

A partir da implantação das grandes avenidas, toda extensão do Núcleo Urbano sofreu inúmeras transformações, desapropriações e demolições. Progressivamente, extensos conjuntos residenciais foram demolidos, e os lotes foram remembrados para a construção de empreendimentos imobiliários destinados à classe média e baixa. Na paisagem urbana do bairro, também se tornaram comuns extensos terrenos subutilizados com galpões e estacionamentos e a presença de antigas construções do século XX degradas com o passar dos anos.

F.3.20. - Vila Conde de Sarzedas - 1984

F3.21. - Vila Conde de Sarzedas- 1984

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3.2.2. Panorama Atual O Núcleo Urbano Conde de Sarzedas, atualmente, possuí um caráter periférico e de subordinação ao centro. Mas apesar de ter se tornado um importante corredor de passagem, com um intenso fluxo de veículos, manteve sua ocupação predominantemente residencial com localidades de comércio especializado. As ruas que contornam o Núcleo possuem grande vitalidade. A Rua Conselheiro Furtado, por exemplo, consiste em uma importante via arterial que liga o bairro da Aclimação ao Centro de São Paulo. Apresenta um extenso comércio varejista, e é irrigada por 8 linhas de ônibus e trólebus distintas, a maioria com destino à região sudoeste e central. A Rua Tabatinguera, por sua vez, possui um comércio especializado em matérias-primas para a fabricação de perfumes e essências. Já a Rua Conde de Sarzedas possuí serviços e comércios de caráter religioso, devido à grande concentração de seitas e igrejas evangélicas na região. Nas vias mais importantes, que possuem acesso direto ao Centro, como as Ruas Conselheiro Furtado e Barão de Iguape, são predominantes as habitações que ocupam lotes maiores, destinadas à classe média. Nas proximidades da várzea do rio Tamanduatei, e nas imediações da Rua Conde de Sarzedas, con-

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centram-se as vilas operárias. Os antigos casarões, que foram transformados com o passar dos anos, predominantemente, em cortiços, são frequentes por toda extensão do Núcleo, e convivem com a grande quantidade de edifícios verticais recentes, de grande densidade demográfica, habitados pela população de média e baixa renda. Constata-se, dessa maneira, que progressivamente as permanências arquitetônicas vêm sofrendo com a especulação imobiliária, e com as tendências de verticalização do bairro. No presente, existem importantes edifícios com especialidades jurídicas na região. O principal fórum civil do país, Fórum João Mendes Júnior, localiza-se na praça de mesmo nome, e em sua proximidade encontra-se o Tribunal de Justiça de São Paulo, compreendido entre as praças Sé e João Mendes. O antigo Palacete Conde de Sarzedas, atualmente tombado pelo CONPRESP, abriga o Museu e Centro Cultural de Justiça de São Paulo. Em seu entorno, localizam-se os Gabinetes dos Desembargadores de Direito Privado do Tribunal da Justiça de São Paulo, no recente edifício projetado pelo arquiteto Ruy Ohtake. O bairro, como um todo, é marcado por uma variedade étnica de moradores, com predominância de japoneses e chineses na região. O Censo Demográfico de 2010, realizado pelo IBGE,


F3.22. - Praรงa Joรฃo Mendes- 2013

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constata que 16,5% da população do bairro da Liberdade são orientais, somando a quantidade de 11.261 pessoas. Em 1974, por meio das medidas tomadas pelo plano paisagístico de tornar a Liberdade um bairro oriental, a área se tornou um polo turístico importante para a cidade. Entretanto, as intervenções se concentraram somente nas localidades da Praça da Liberdade, da Rua dos Estudantes e da Rua Galvão Bueno. Nessas imediações, desde 1975, acontecem eventos e feiras de caráter oriental, com culinária, artesanato e comercio especializado. O entorno do Núcleo Urbano Conde de Sarzedas, contudo, não se assemelha à imagem do bairro, como polo oriental, e não sofreu, nos últimos anos, com nenhum projeto de revitalização. É possível constatar que a sua paisagem possui um alto grau de permanências, mediante os edifícios do início do século XX, mas nas últimas décadas está, continuamente, em processo de transformação. Os objetos arquitetônicos de época convivem com os novos empreendimentos imobiliários inarmônicos com a paisagem do núcleo. Gradativamente, o processo de verticalização vem descaracterizando a área, e tornando-a fragmentada e descontínua. Dessa maneira, para melhor composição da paisagem, é necessário intervir no bairro a partir da elaboração de projetos que absorvam o caráter pluricultural de suas permanências arquitetônicas. O IGEPACSP explicita, ao estudar a Liberdade, a necessidade das futuras intervenções projetadas em sua extensão, levarem em consideração o conjunto da paisagem urbana como

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F3.23. - Capela do Menino Jesus e Santa Luzia - 2018


um complexo unitário: “A característica marcante da Liberdade é a fragmentação gerada por uma paisagem urbana essencialmente descontínua e confusa, impossibilitando uma apreensão imediata e uma leitura globalizante da área. (...) Toda a atuação preservacionista na área não pode se furtar de levar em conta uma paisagem fragmentada, onde tendências contemporâneas de ocupação verticalizante do espaço já se propagaram pulverizadamente, dificultando tratamentos projetuais uniformes e induzindo a intervenção específica da paisagem.” (IGEPACSP, 1987, P. 50)

venções que levem em consideração não apenas o caráter pluricultural da Liberdade, mas as suas reais necessidades como usuários do espaço público. Conclui-se, assim, que o Núcleo Urbano Conde de Sarzedas, apesar de uma significativa quantidade de permanências, está em processo de transformação constante. O bairro da Liberdade possui características intrínsecas, que devem ser priorizadas, durante a composição de sua paisagem.

Além disso, o bairro vem se tornando incongruente com o modo de vida contemporâneo, a partir da presença de equipamentos urbanos adaptados em antigas construções, e escassos equipamentos urbanos novos e de qualidade. O Centro de Educação Infantil Emilie de Villeneuve Espaço da Criança, por exemplo, foi implantado em parte de uma antiga construção do século XX na Rua Silveira Martins, que divide seu espaço com inúmeras lojas de comércio de fragrâncias e perfumes. Não possui grandes aberturas solares, nem espaço suficiente para educar crianças da primeira idade. Os moradores, todavia, necessitam de inter-

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3.2.3. Terreno a Intervir F3.24. - Vista I - Rua Tabatinguera - 2018

Após a demolição da Vila Conde de Sarzedas, entre os anos de 1995 e 2010, o terreno foi drasticamente transformado em um grande estacionamento a serviço do Fórum João Medes Júnior, que está situado em suas imediações. A partir de uma visão urbanística, em favor do adensamento populacional de baixa renda, em uma região irrigada por uma grande quantidade de equipamentos e transportes públicos, o presente trabalho, busca utilizar-se do terreno em favor doseu potencial construtivo. A intenção projetual de intervenção no Núcleo Conde de Sarzedas surge em resposta ao estudo do bairro da Liberdade, e ao seu processo de composição urbana sem intenção arquitetônica, onde a paisagem foi construída por terrenos subutilizados, construções do século XX não conservadas, e novos empreendimentos verticais incoerentes com o entorno existente. O partido projetual consiste em potencializar o repertório cultural da Capela do Menino Jesus e Santa Luzia e do Palacete Conde de Sarzedas, juntamente com o desejo de estabelecer relação com a paisagem circundante, em termos de fluxos dos transeuntes.

F3.25. - Vista II - Rua Conselheiro Furtado - 2018

F3.26. - Vista III - Rua Conde de Sarzedas - 2018

Em favor de um projeto que contribua para a qualificação da cidade, deseja-se propor um Complexo Multifunional com áreas comerciais, espaços e equipamentos públicos que revitalizem o Centro mediante a apropriação do território pela população.

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F3.27. - Vista IV - Rua Oliveira Monteiro - 2018


F3.28. - Cartografia Terreno de Intervenção

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Após a compreensão da área de intervenção, é importante uma visão urbanista, e não apenas arquitetônica, de como intervir no Núcleo Conde de Sarzedas. Dessa maneira, é necessário analisar o processo histórico do planejamento urbano e as principais correntes urbanísticas que visão a requalificação das cidades.


04 Relações Urbanísticas


4.1. Processo Histórico do Planejamento Urbano O termo “Urbanismo” surgiu no final do século XIX, pelos pensadores políticos que desejavam solucionar os problemas do planejamento das cidades, em resposta aos impactos ocasionados por meio da Revolução Industrial. Os críticos consideravam a cidade oitocentista como produto de um processo patológico da formação urbana. As propostas giravam em torno das reflexões dos problemas urbanos, como a distância que separava o local de trabalho da habitação, a ausência de áreas permeáveis nos bairros populares, e a constante falta de higiene das centralidades. Françoise Choay discorre em seu livro “O Urbanismo”, sobre como a criação do termo esteve relacionada com uma estrutura social da população: “Absorvido pela linguagem corrente, designa através dela tanto os trabalhos do gênio civil quanto os planos de cidades ou as formas urbanas características de cada época. De fato, a palavra ‘urbanismo’ é recente. G. Bardet remonta a sua criação a 1910. O Dicionário Larousse define-o como ‘ciência e teoria da localização humana’. Este neologismo corresponde ao surgimento de uma realidade nova: pelos fins do século XIX, a expansão da sociedade indus-

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trial dá origem a uma disciplina que se diferencia das artes urbanas anteriores por seu caráter reflexivo e crítico, e por sua pretensão cientifica.” (CHOAY, 1965, P. 2)

As primeiras reflexões a respeito da cidade possuíam dimensão extremamente utópica, e ficaram conhecidas como “Pré-urbanismo”. Pregavam soluções coletivas, como a localização fragmentada, onde cada função deveria ocupar um lugar na cidade, e o conceito de cidade-campo com inúmeras áreas verdes sem funções especificas. A Teoria Urbanística dividiu-se em inúmeras vertentes (Ver Figura 4.2.): o Pré-urbanismo Progressista, desenvolvido durante os anos de 1820 a 1907 por teóricos como Robert Owen e Charles Fourier, propôs soluções coletivas mediante a projeção de espaços amplos de vegetação e de lazer; o Pré-urbanismo Culturalista, por sua vez, foi propagado durante os anos de 1839 a 1884 por teóricos como John Ruskin e William Morris, e se baseava em questões estéticas como a projeção de edifícios imponentes e objetos orgânicos; o Pré-Urbanismo


F4.1.. - Vale do AnhangabaĂş visto a partir do viaduto do ChĂĄ - 1955

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F4.2. - Linha do Tempo Urbanismo

Sem Modelo, por fim, difundiu-se durante os anos de 1872 a 1919, por teóricos como Karl Marx e Friederich Engels que propunham intervenções urbanas mediante uma visão higienista e comunitária de urbanismo. No decorrer do século XX, o Urbanismo se estruturou de fato, e passou a deixar de se inserir em uma visão genérica, empregando soluções práticas a cada tipo de território; houve uma mudança na escala de atuação projetual, e iniciou a racionalização das formas, juntamente com o estudo das tipologias. A primeira corrente urbanística a se estruturar, durante os anos de 1989 e

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1903, consistiu no Urbanismo Culturalista a partir de uma visão nostálgica de modelo de intervenção urbana. Teóricos como Camillo Sitte e Ebenezer Haward defenderam a retomada do caráter individual das cidades, concentrando-se nos problemas estéticos e nas formas do passado, por de meio fontes arqueológicas. No início do século XX, os urbanistas culturalistas promoveram os primeiros experimentos para a criação de uma nova ordem social. Em resposta aos problemas desenvolvidos pela cidade vitoriana oitocentista, foi criado o conceito de Cidade-Jardim,


concebido por Ebenezer Howard, entre os anos de 1880-1898. O teórico desejava além de eliminar os cortiços vitorianos, solucionar o processo de especulação imobiliária da cidade grande, exportando uma porção considerável da massa popular para novas cidades autônomas, construídas a céu aberto, com extensas áreas arborizadas. Com o decorrer do tempo, essa teoria repercutiu por diversos países além da Inglaterra, e criou os conhecidos subúrbios-dormitórios, que se localizavam nas periferias das centralidades. Entretanto, a fragmentação continua do espaço fez com que

o modelo Culturalista não obtivesse êxito, por criar territórios dispersos, que acabaram não funcionando autonomamente conforme a teoria pregava. Apesar das ruas, pela primeira vez, terem sido analisadas como local de encontro, o modelo não se tornou eficiente a ponto de solucionar os problemas de circulação do traçado viário. O estudo inspirava-se nas cidades pequenas, descentralizadas e de pouca população, não levando, assim, em consideração as evoluções das situações funcionais da metrópole. A necessidade de conexão continua entre as metrópoles e os subúrbios-dormitórios, tornou o automóvel um

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meio de locomoção imprescindível, sobrecarregando o traçado viário e o deixando ineficiente. Além disso, de acordo com relatos do teórico Choay, a quantidade de espaços verdes ociosos, também configurou um problema comum para os urbanistas da época: “Aos espaços vazios e aos espaços verdes, que são espaços mortos e muitas vezes mortais, opuseram-se espaços que funcionavam e que daríamos de bom grado a nome de espaços ‘ativos’. O vazio gratuito é fonte de angústia e o verde pede para tomar forma e ser localizado em pontos ‘estratégicos’.” (CHOAY, 1965, P. 43)

O Urbanismo Progressista, por sua vez, se estruturou enquanto teoria urbana durante os anos de 1910 a 1960, e tornou-se um meio de propagação das ideias liberais. Seus principais urbanistas eram Tony Garnier, Georges Benoit-Lévy, Walter Gropius e Le Corbusier. A ruptura com o passado consistia no ponto principal, e novos valores foram impostos: a mecanização, a padronização, o rigor e a geometria. O progresso da indústria os permitiu a utilização de novos materiais na construção civil, como o aço e o concreto, e a racionalização da forma. Inúmeras pesquisas foram desenvolvidas, no campo das artes plásticas, e

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os estudos de mobiliários realizados pela Escola Design, Artes Plásticas e Arquitetura Bauhaus foram de grande importância para o Design. Em contraposição, uma nova corrente urbanística foi criada, na década de 1930, sob os mesmos princípios, mas mediante ideais da corrente antiurbana americana. O Urbanismo Naturalista, desenvolvido por Frank Lloyd Wright, pregava, mais uma vez, que as funções urbanas deveriam ser dispersadas, destinadas a um número reduzido de pessoas, em células que se irrigariam entre si, por uma abundante rede de rotas terrestres. Contudo, o teórico afirmava que a resposta da saturação populacional da cidade estava num vasto programa de planejamento regional, onde cada parte sub-região deveria se desenvolver com base em seus recursos naturais, e a partir de um equilíbrio ecológico, se tornar, de fato, independente e eficiente. No decorrer do tempo, progressivamente, os planejadores urbanos tentaram compreender a verdadeira natureza, da atividade de projetar as cidades. Dessa forma, “(...) teorias sucederam teorias, paradigmas substituíram paradigmas, numa rapidez crescente e de modo por vezes desconcertante, se não exacerbado” (1988, P.13), conforme Peter Hall evidencia em seu livro “Cidades do Amanhã”. No entanto, apesar da quantidade de estudos acadêmicos, as estratégicas urbanas desenvolvidas não trouxeram, de fato, grandes benefícios à cidade. As experiências de concretização das teorias do meio urbano não obtiveram êxito, e tornaram-se, cada vez mais, ilegítimas.


F4.3. - Broadacre City, projetada por Frank Lloyd Wright mediante os conceitos do Urbanismo Naturalista: meio ambiente, desenvolvimento sustentรกvel e ecologia social

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4.2.

Impactos do Planejamento Urbano Padronizado

Até a metade do século XX, havia a tentativa de tornar as teorias das cidades concretas. A partir de então, essa lógica não era mais útil, uma vez que o planejamento ganhava legitimidade, mas fazê-lo não saia conforme o esperado. Apoiado em alicerces e teorias incoerentes, no lugar de observar as cenas e os acontecimentos mais comuns, o planejamento urbano, durante um bom tempo, não foi capaz entender o verdadeiro significado da cidade. Segundo Peter Hall: as teorias urbanas tornaram-se, cada vez mais, supersticiosas, simplistas, baseadas em mundos irreais:

providas ao longo do tempo, os urbanistas não levarem em consideração que os grandes centros urbanos são geradores naturais de diversidade. Os Modernistas, por exemplo, projetaram arranha-céus, dispersos e com funções especificas, dentro de parques com grandes extensões de áreas verdes. Baseavam-se na implantação de inúmeras vias arteriais, destinas aos automóveis, como forma de conectar os espaços disseminados. Seus princípios teóricos fundamentados em manter os pedestres longe das ruas, e dentro dos parques, proporcionaram ruas sem dinamismo e cidades inseguras.

“A partir dos anos 50, à medida que o planejamento se tem mais e mais transformado em ofício que se aprende através da educação formal, foi ele progressivamente adquirindo um corpo mais abstrato e mais formal de teoria pura” (HALL, 1988, P. 31)

As cidades incoerentes com a realidade urbana, resultantes das teorias do século XIX e XX, formaram-se como uma espécie de cobaia dos estudos propagados até então. Grande parte das metrópoles se desenvolveram a partir de extensas áreas verdes ociosas, e setores dispersos especializados em habitação, comércio, cultura e serviço. As funções básicas, dessa maneira, foram excluídas da vida íntima e cotidiana da população, e deslocadas para territórios especializados. O surgimento dos projetos monofuncionais de shopping centers e centros culturais influenciaram negativamente, ainda mais, a vitalidade das ruas da metrópole. O automóvel passou a ser o principal meio de locomoção para vencer as grandes distancias da cidade, e tor-

As linhas gerais, do planejamento do urbanismo, descartaram a complexa e multifacetada vida cultural da metrópole, tomando uma série de medidas estáticas. Contra quaisquer alterações

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nou-se, assim, o principal sintoma da incompetência da nova urbanização. O desenvolvimento urbano não se importou com o funcionamento real das atividades da cidade, mas apenas com a impressão exterior de suas localidades, transformando as metrópoles em grandes territórios extremamente fragmentados e dispersos. “As cidades são um imenso laboratório de tentativa e erro, fracasso e sucesso, em termos de construção e desenho urbano. É nesse laboratório que o planejamento urbano deveria aprender, elaborar e testar suas teorias. Ao contrário, os especialistas e os professores dessa disciplina (se é que ela pode ser assim chamada) têm ignorado o estudo do sucesso e do fracasso na vida real, não têm tido curiosidade a respeito das razões do sucesso inesperado e pautam-se por princípios derivados do comportamento e da aparência de cidades, subúrbios, sanatórios de tuberculose, feiras e cidades imaginárias perfeitas, qualquer coisa que não as cidades reais.” (JACOBS, 1961, P. 5)

A partir da ineficiência das teorias urbanas quando postas em prática, estabeleceu-se a cisão entre os estudos urbanos e a atividade real de planejar as cidades. Apesar de conciliações

temporárias entre a teoria e a prática, o planejamento passou a perder sua legitimidade dentro da realidade. As faculdades de arquitetura e urbanismo estudavam as teorias urbanas, e os escritórios e consultores implantavam o planejamento concreto nas cidades. Os projetos das obras públicas, progressivamente, foram desenvolvidos a partir de métodos analíticos baseados no estudo do uso do solo com metas sociais e econômicas. Conforme o teórico Hall explicita em seus estudos, os planejadores adquiriram habilidades projetuais, não por meio do pensamento abstrato, mas realizando tarefas objetivas através da reflexão e criatividade: “Havia alguma teoria referente ao planejamento, mas não havia nenhuma teoria do planejamento. O processo era todo ele muito imediatista baseado no acerto do primeiro tiro: o levantamento (abordagem geddeasiana) era seguido da análise (abordagem por conhecido implícito) e, imediatamente após, venha o projeto.” (HALL, 1988, P. 383) Concluiu-se que, progressivamente, houve uma ruptura entre a teoria urbana e as atividades de planejamento das cidades. Por um longo período de tempo, o planejamento urbano baseou-se em questões metodológicas de levantamento e abordagens práticas. Apenas da década de 60, as questões teóricas voltaram a ser relevantes e a produzirem materiais conceituais expressivos. Dessa vez, contudo, os teóricos passaram a levar em consideração, não apenas, os problemas da sociedade do século XX, mas a análise das principais soluções urbanas com êxito e as reais necessidades da população.

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4.3. Crise do Planejamento Urbano Moderno Muito do que havia sido feito de teoria do planejamento urbano, até aquele instante, não era relevante para a consolidação das cidades. Ao invés de melhorar, muitas cidades pioraram com as intervenções urbanísticas. Após haver, dessa maneira, uma cisão prática entre os fundamentos do urbanismo, e os planejamentos práticos da cidade, novos teóricos se viram responsáveis por desenvolverem estudos de reurbanização. Baseados na retomada dos princípios do termo urbanismo, de solucionar os reais problemas do planejamento das cidades, o principal meio de intervenção tornou-se analisar minuciosamente as decadências e êxitos das intervenções urbanísticas realizadas ao longo do tempo e, assim, gerar, de fato, o funcionamento eficaz das metrópoles.

4.4. - Estudos Urbanismo Modermo - Le Corbusier - Ville Radieuse - 1924

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4.5. - Projeto Modermo - Le Corbusier - Unidade de Habitação em Marselha - 1952

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4.3.1. Diversidade Urbana – Jane Jacobs Crítica dos fundamentos do planejamento urbano padronizado produzido até então, Jane Jacobs estuda a restruturação das cidades a partir de dado psíquicos e sociais de seus moradores. Contra a criação de subúrbios e pequenas cidades, a autora cria uma nova corrente urbanística a favor das metrópoles. Os resultados dos projetos formados pelas teorias urbanas estudadas até então, sobre a dispersão de cidades autônomas por regiões metropolitanas, conceberam lugares amorfos e desintegrados. As cidades mais afastadas da centralidade urbana, na realidade não se tornaram realmente autônomas, e foram prejudicadas em termos de equipamentos e infraestrutura urbana. A segregação social foi ainda mais disseminada, e apenas os locais mais distantes do centro, e menos favorecidos por equipamentos públicos, foram destinados à população de baixa renda, gerando o movimento pendular constante entre territórios. Em meio a tal cenário, a autora baseia sua teoria na prevalência de grandes metrópoles com territórios totalmente integrados entre si. Os locais de trabalho, residência e comércio devem ser complementares para o real funcionamento da vida cotidiana. A partir do estudo dos fatores que criam a vida e o espírito das cidades, Jacobs entende a diversidade dos elementos que a for-

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mam como o princípio que garante a sua vitalidade. A teórica compreende os centros urbanos como geradores naturais de diversidades, uma vez que a própria multifuncionalidade urbana permite e estimula mais diversidades. O funcionamento eficaz das cidades é garantido através da presença dos transeuntes nas calçadas, ocupando-as de forma concreta, e garantindo a segurança dos territórios. Exemplifica-se tal contexto com abordagens do livro, “Morte e Vida das Grandes Cidades”, publicado pela autora: “Mas, mais do que isso, onde quer que vejamos um distrito com um comércio exuberante variado e abundante, descobriremos ainda que ele também possui muitos outros tipos de diversidade, como variedade de opções culturais, variedade de panoramas e grande variedade na população e nos frequentadores. É mais do que uma coincidência. As mesmas condições físicas e econômicas que geram um comércio diversificado estão intimamente relacionadas à criação, ou à presença, de outros tipos de variedade urbana.” (JACOBS, 1961, P. 162)


Toda a teoria é elaborada a partir do parâmetro de fornecer motivos concretos que influenciem as pessoas utilizarem, de fato, as ruas, por meio do estabelecimento de locais públicos e comerciais dispostos ao longo da calçada. O funcionamento dos recintos deve ser em diferentes horários do dia, até mesmo durante a madrugada, para tornar as ruas povoadas de maneira diversa e, consequentemente, as metrópoles mais seguras. É inútil se esquivar da questão da insegurança e inadequada ocupação do meio público. O desenvolvimento de novos espaços privados, como pátios internos, áreas de recreação cercadas, e até mesmo os shopping centers, é equivocado perante a dimensão e pluralidade cultural das cidades.

ele também possui muitos outros tipos de diversidade, como variedade de opções culturais, variedade de panoramas e grande variedade na população e nos frequentadores. É mais do que uma coincidência. As mesmas condições físicas e econômicas que geram um comércio diversificado estão intimamente relacionadas à criação, ou à presença, de outros tipos de variedade urbana.” (JACOBS, 1961, P. 162)

A condição de segurança do meio urbano parte da proteção do passeio dos pedestres ao longo da cidade, uma vez que quanto mais pessoas temem as ruas, menos elas usufruem da cidade, e mais perigosa a tornam. Dessa forma, os órgãos mais vitais da cidade, e principais locais públicos, consistem nas ruas e calçadas. A autora define que a ordem pública é mais garantida pelos moradores, seus padrões de comportamento e a diversidade do público frequentador do espaço coletivo, do que pela própria polícia, conforme descreve, em seu livro, a respeito de sua análise territorial no North End, em Boston, nos Estados Unidos:

Ao contrário do que muitos urbanistas pensavam no decorrer da história, o homem não contempla o vazio e a calmaria, mas, sim, é atraído por lugares movimentados, com a presença de outros semelhantes. O contato com a rua estabelece a população consciência coletiva. As manifestações, geralmente espontâneas, provocadas pela a população proporcionam aos habitantes o sentimento de pertencimento, e propagam ainda mais a segurança e funcionamento adequado da cidade. No entanto, a autora define que até mesmo os locais onde, por algum motivo, não possuem atrativos públicos próprios e não são povoados, podem atrair a circulação de pessoas, e se tornarem locais vivos de passagem para outros espaços coletivos.

“Mas, mais do que isso, onde quer que vejamos um distrito com um comércio exuberante variado e abundante, descobriremos ainda que

Além das condições de propagar vitalidade à cidade, apresentadas até então, Jacobs descreve que os segmentos do distrito

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devem atender mais de uma função principal, para garantir, de fato, o uso dos estabelecimentos. Além disso, a combinação de edifícios, com idades e histórias diferentes, favorece a cidade culturalmente, e introduz um rendimento econômico variado. Contudo, da mesma maneira que a cidade deve possuir equipamentos suficientes para toda a população, ela deve dispor de uma densidade habitacional coerente com a rede de infraestrutura disponível, para não a tornar excedente e ineficaz. Os parques e as áreas públicas em geral, podem se tornar vazios urbanos desvitalizados, quando projetados sem atrativos concretos para a população. No antigo padrão de planejamento, as áreas livres dos bairros eram veneradas, e projetas em grande quantidade. Jacobs, entretanto, analisa os parques como extensões das ruas. Dessa forma, as áreas públicas devem seguir os mesmos princípios das calçadas de possuírem diferentes funções e, consequentemente, absorverem população diversificada, no decorrer de todo o dia. O estabelecimento de apenas usos específicos para os parques, com horários limitados de funcionamento, como a frequência de funcionários na hora do almoço do trabalho, os torna pouco povoados, com grandes vazios, com fama de desprotegidos, e inseguros de fato. “Os parques impopulares preocupam não só pelo desperdício e pelas oportunidades perdidas que implicam, mas também pelos efeitos negativos constantes. Eles sofrem do mesmo problema das sem olhos, e seus riscos espalham-

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4.6. - Dinamização doespaços e passeios públicos


-se pela vizinhança, de modo que as ruas que os margeiam ganham fama de perigosas e são evitadas.” (JACOBS, 1961, P.103)

Assim como os parques sem funções, as áreas recreativas cercadas, que só convém às crianças muito pequenas, espalhadas pelo bairro, não proporcionam a diversidade necessária para o funcionamento da cidade. As crianças precisam de uma quantidade variada de lugares para aprender, e o contato com os adultos é imprescindível para sua formação como cidadão. Além disso, as áreas recreativas só se tornam seguras, quando projetadas como pátios internos, com edifícios voltados ao longo de sua extensão, como maneira de proteção. A teórica ainda ressalta em sua teoria que não adianta trocar a vigilância das ruas, órgãos vitais da cidade, pela vigilância dos pátios internos monofuncionais. CHOAY, teórico urbanista, descreve significamente a respeito dos estudos da autora, sobre a ineficiência dos pátios internos recreativos: “O resultado é que trocamos a segurança de uma rua não especializada por uma forma especializada de segurança, destinada a uma parte especializada da população, por alguns anos de sua vida.” (1965, P. 297)

blico e o privado; a calçada deve ser utilizada praticamente sem interrupção, plena de atividades atrativas. Os edifícios que beiram a rua devem ser orientados para ela: não devem nem estar de costas, nem oferecerem uma fachada cega a população. Os proprietários naturais da cidade são os olhos de seus próprios cidadãos, para vigiar e proteger a rua dos males da metrópole. Medidas como deixar de circular em determinados territórios julgados perigosos, ou refugiar-se em veículos para frequentá-los, só aumenta ainda mais a criminalidade das localidades. Uma rua movimentada garante a sua segurança, e o movimento provêm das atividades atrativas diversas, ao longo da cidade, como extensões da rua.

Conclui-se que para o funcionamento eficaz da metrópole, os frequentadores devem perceber a marcação nítida entre o pú-

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4.3.2. Legibilidade - Kevin Lynch Em contraponto a uma visão de mundo racionalista, Kevin Lynch estuda a cidade a partir de suas reais características, diferente dos autores que descrevem o meio urbano como gostariam que ele fosse. Seu raciocínio parte da elaboração da cidade como um conjunto de infinitos pequenos fragmentos, podendo ou não estar conectados entre si, que estruturam a imagem mental que os habitantes da cidade desenvolvem a respeito da paisagem urbana. A principal preocupação do autor consiste em promover a conexão entre os elementos móveis, os habitantes que ocupam a cidade, e os elementos fixos que compõe a sua imagem: os marcos, limites, pontos nodais, bairros e as vias. Estes cinco elementos abstratos devem ser modelados em harmonia para estabelecer uma forma coerente às necessidades da vida na metrópole. Da mesma maneira que eles podem fortalecer o centro urbano, podem o tornar fragmentado e incoerente. A imagem da cidade deve ser um campo continuo em que um componente potencializa o outro. As Vias são abordadas como o principal recurso de composição da cidade; elas organizam os outros elementos do território. São responsáveis por formar os canais de circulação e, dessa forma, devem ser identificáveis e contínuas para uma melhor

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produtividade da metrópole. A eficiência direcional ao longo do traçado viário pode ser adquirida através da topografia, da arborização, do estado de conservação de seus edifícios, e por meio da escala de seus equipamentos. Devem ser notáveis os espaços de permanência, os centros edificáveis e os vazios contemplativos, para a coerente integração da imagem da cidade. Os Limites são fronteiras entre dois ambientes distintos. Podem ser elaborados como barreiras, ou adotados como costuras que integram duas áreas; conferem unidade a espaços diversificados fronteiriços, ou fragmentam os ambientes quando adotados como obstáculos impenetráveis. Os Bairros, por sua vez, são extensões medianas ou grandes do meio urbano, e possuem características específicas que os tornam identificáveis. O caráter específico dos Bairros, suas formas, texturas e funções, é otimizado pela presença dos Limites, mas apesar de comporem uma imagem de unidade forte e temática, devem ser territórios extrovertidos, e voltados para a cidade. Os Pontos Nodais, por sua vez, são formados a partir de nós estratégicos que concentram funções e pessoas. Possuem um importante papel na composição da cidade, uma vez que apresentam em sua natureza, o princípio de conexão com os outros elementos urbanos. Constituem-se a partir de grandes praças,


4.7. - Mapa Composto da “Forma Visual� de Los Angeles - Realizado por Kevin Lynch

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4.8. - Esquema representativo dos Cinco Elementos estruturadores da Imagem da Cidade

junções espaciais, cruzamentos viários, locais de interrupção do transporte e convergência de vias. Proporcionam qualidade a cidade, quando compreendidos como espaço físico, reconhecível de aglomeração urbana. Devem ser formados a partir de características intrínsecas, por meio de vegetações e mobiliários marcantes, que atraem ainda mais a frequência dos cidadãos. Seus aspectos singulares, entretanto, devem estabelecer conexão com o entorno e o bairro, formando um ponto nodal extrovertido com direções gerais claras. Os objetos físicos externos, os quais o observador não possui pretensão de adentrar no seu recinto, mas são reconhecidos como pontos de referência em meio à cidade, constituem os denominados Marcos Urbanos. Sua principal característica consiste em seu aspecto singular, que contrasta com o plano da cidade, e o torna memorável, um ponto marcante para os tran-

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seuntes. Os Marcos, que podem ser vistos de muitos ângulos e direções na cidade, estabelecem certo efeito de distanciar o contato com o observador, e apenas simbolizam uma direção para a população. O Marcos locais, entretanto, são vistos em lugares específicos e possuem certa proximidade com os indivíduos, constituem os detalhes urbanos, e reforçam uma identidade ao núcleo. O princípio de legibilidade da paisagem estudado pelo teórico, estabelece a importância da organização dos elementos urbanos de maneira clara. Identifica-se a necessidade de uma imagem da cidade passível de “Imagibilidade”, que a harmonia de seus elementos seja agradável aos olhos dos transeuntes, e os proporcione uma significação prática ou afetiva, os levando a uma escolha de percurso e direção. Os elementos integrados e organizados, coerentes com as necessidades funcionais e es-


paciais de seus cidadãos, formam estruturas urbanas abrangentes e firmes, que compõe uma imagem útil de uma metrópole unificada. Nota-se, nos estudos realizados pelo autor, no livro “A Imagem da Cidade”, a conceituação do termo “Imagibilidade”: “Uma cidade altamente “imaginável”, nesse sentido específico (evidente, legível ou visível) pareceria bem formada, distinta, digna de nota; convidaria o olho e o ouvido a uma atenção e participação maiores. O domínio sensorial de tal espaço não seria apenas simplificado, mas igualmente ampliado e aprofundado. Uma cidade assim seria apreendida, com o passar do tempo, como um modelo de alta continuidade com muitas partes distintas claramente interligadas. O observador sensível e familiarizado poderia absorver novos impactos sensoriais sem a ruptura de sua imagem básica, e cada novo impacto não romperia a ligação com muitos elementos já existentes. Ele seria bem orientado e poderia deslocar-se com facilidade.” (LYNCH, 1950, P. 11)

Além do mais, Lynch adota a escala humana como ponto de partida para o desenvolvimento de sua teoria, e analisa como o cidadão percebe e sente a cidade. A metrópole é adotada como

um objeto social, devendo ter uma variedade de escolhas e comunicações, ser viva e estabelecer integração entre toda a população e o mundo exterior. As características físicas gerais, para a qualidade do design do meio urbano, consistem na singularidade e simplicidade da forma, do aumento da penetração visual, do poder de resolução dos componentes da cidade, e da clareza da junção de todos esses aspectos. Dessa forma, pode-se concluir, que: Uma vez que a imagem da paisagem se torna “imaginável”, visível, coerente e clara, é desencadeado, por parte do cidadão, uma nova atitude perante a cidade. Os habitantes reconhecem o valor dos elementos urbanos, passam a obter um sentimento de pertencimento ao contemplar a cidade, e desenvolvem zelo pelos seus recursos e objetos. É imprescindível a clareza da composição do meio urbano, e do desenvolvimento das imagens da paisagem urbana, mediante o processo interativo entre o observador e o elemento observado. “ Todas as qualidades acima mencionadas não funcionam de modo independente. (...) Assim, uma região inconfundível seria aquela que tivesse uma forma simples, uma continuidade de tipo e uso de suas edificações que fosse única na cidade: nitidamente demarcada, claramente ligada à região vizinha e visualmente côncava.” (LYNCH, 1950, P. 120 e 121)

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4.3.3. Paisagem Urbana - Gordon Cullen Abordando a cidade como unidade viva, Gordon Cullen caracteriza o meio urbano como a integração de construções e percursos, com poder de atração visual, que quando bem distribuídos, resultam em uma composição funcional de paisagem urbana. Em todo seu estudo, o autor define o meio urbano como composição espacial, não restringindo sua análise a elementos específicos, mas sim ao resultado composto pela imagem da cidade, conforme Vicente Del Rio define como composição urbana, à respeito dos estudos de Cullen, em seu livro “Introdução ao Desenho Urbano no Processo de Planejamento”: “(...) uma edificação isolada é uma obra de arquitetura, mas um grupo delas já conforma uma outra arte diferente de arquitetura, uma arte de relacionamento.” (1990, P. 85) O autor critica as teorias urbanas, de sua contemporaneidade, por produzirem ambientes fragmentados em zonas desconexas, e objetiva suas análises a estabelecerem artifícios para composição harmônica da paisagem. Seu valor teórico se baseia na crítica aos resultados urbanos fruto do planejamento padronizado, e ao desenvolvimento de soluções projetuais em favor da qualificação do espaço, conforme o crítico disserta em seu livro “Paisagem da Cidade”:

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“Hoje em dia, o ambiente construído encontra-se totalmente fragmentado em zonas desconexas: casas para um lado, árvores para o outro, zonas totalmente desligadas fragmentadas umas das outras, como uma série desarticulada de notas musicais tocadas no piano com um único dedo. O objetivo deste livro é tentar integrar estes elementos que compõe o ambiente numa relação expressiva, por forma a que, utilizando embora, as mesmas notas, surjam acordes e sequências coerentes.” (CULLEN, 1961, P. 55)

O autor defende sua teoria mediante o conceito de paisagem urbana, que através da diversificação de seus elementos, garante a presença das manifestações humanas como, por exemplo, habitar, trabalhar, e entreter-se. Cullen analisa a paisagem da cidade a partir de três artifícios conceituais relacionados com o meio urbano: Ótica, Local e Conteúdo. A Ótica elabora o méto-


do de análise da cidade a partir da experiência visual e estética dos percursos, constituindo, assim, o conceito de Visão Serial: trajetória percorrida, em passos uniformes, onde o observador revela uma sucessão de diferentes pontos de vistas da imagem da cidade. O estudo Local é relacionado por meio da interação entre o usuário e as sensações diversas adquiridas a partir de sua posição no espaço, em relação ao entorno imediato. Por fim, o Conteúdo caracteriza o meio construído a partir dos significados percebidos durante a experiência espacial como, por exemplo, os aspectos intrínsecos: textura, escala, cor, etc. (CULLEN, 1961) Desse modo, ao observar detalhadamente a cidade, o ato de caminhar torna-se responsável por criar um importante artifício para compreensão do território, onde o observador estabelece relações com o Local e o Conteúdo do meio urbano. Como resultado, Cullen identifica a necessidade de propostas que condicionam a apropriação, de fato, do espaço. Propõem-se diferentes conceitos de Ocupação. A Ocupação Estática confere à cidade o caráter humano, a partir da ocupação permanente do território, mediante os artifícios de projeto como, por exemplo, o emprego de equipamentos urbanos. A Ocupação pelo Movimento, por sua vez, propõe territórios que adquirem vitalidade urbana por meio da passagem de pessoas, ou pelo emprego de transposições de níveis e barreiras. Enquanto, a Ocupação por Viscosidade integra a Ocupação Estática e pelo Movimento,

F4.9. - Estudo da Paisagem Urbana elaborado por Gordon Cullen para St. Paul - EUA

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F.10. - VisĂŁo Serial elaborada por Gordon Cullen


constituindo o que o autor descreve como cenário ideal. Ao abordar o conceito de Local, e os estudos da reação humana perante a percepção do espaço, Cullen propõe elementos urbanísticos, de conexão e ligação, em favor da qualidade urbana. O conceito de Recinto, por exemplo, é proposto como um local de tranquilidade e repouso, que por aproximar componentes da paisagem fora do alcance imediato do observador, é um forte meio de transição para outras formas urbanas. Enquanto isso, o Ponto Focal é o responsável pela identificação do espaço, e reconhece o estado de parada do recinto. O termo “Infinito”, por sua vez, aborda o ideal de continuidade do percurso a partir do artifício urbano denominado Truncagem, o qual é responsável por integrar o primeiro plano da paisagem, contendo o elemento urbano, com o segundo plano, contendo o céu e sua amplitude. Por fim, a aproximação dos elementos construtivos em análise ao entorno imediato, é abordada pelo conceito de Entrelaçamento, onde há a conexão entre os edifícios antigos e recém-projetados, na cidade.

da paisagem, se propõe, então, conceitos como o de “Identificabilidade”, onde a qualidade dos artifícios é baseada em seu valor intrínseco e exclusivo, como ao adotar uma textura iluminada específica, que possuí tamanha expressividade. Conclui-se que o êxito das cidades é relacionado diretamente à reação física e emocional de seus usuários, provocadas pela percepção do espaço. Enquanto isso, o fracasso das cidades é abordado, quando seus espaços são diagnosticados como monótonos, incaracterísticos e amorfos. A experiência plástica do percurso é o principal objeto de análise, e por ser adotada mediante aos fatores contrastantes do meio urbano; torna-se, assim, a responsável por desencadear as propostas de elementos urbanísticos de conexão, para qualificação do espaço.

Além disso, ao se tratar dos estudos relacionados ao Conteúdo da cidade, abordam-se artifícios que ilustram a morfologia e os aspectos arquitetônicos de diferentes edificações como: a cor, textura, escala, estilo, natureza, e a personalidade dos materiais aplicados nos elementos da cidade. A reflexão de Cullen parte do princípio de que a paisagem deve ser composta pelos produtos do conteúdo de maneira harmônica, e em benefício das necessidades da comunidade. Para enriquecer a composição

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4.3.4. Richard Rogers – Cidade Compacta Em busca de uma análise urbana completa, Richard Rogers parte de uma visão interdisciplinar que aborda a metrópole como um organismo vivo. O autor desenvolve sua teoria analisando o passado, presente e futuro das cidades sob uma nova perspectiva, classificando o ambiente urbano como uma estrutura que absorve e elimina resíduos, a partir do princípio fundamental da sustentabilidade do planeta. O panorama atual das metrópoles revela um crescimento populacional desenfreado, o qual vem desencadeando inúmeros problemas urbanos. Exemplifica-se tal cenário, com o constante consumo descontrolado dos recursos naturais, que cada vez mais transforma os recursos renováveis em não-renováveis; o esgotamento dos locais destinados ao lixo; as mudanças climáticas induzidas pelas atitudes do homem; e a imensa degradação ambiental em favor do progresso econômico. O teórico contextualiza essa realidade, em seu livro “Cidades para um Pequeno Planeta”, analisando o crescimento populacional urbano do mundo, nas últimas décadas: “Em 1950, 29% da população mundial habitava as áreas urbanas. Em 1950, essa mesma população já era de 36%; em 1990, 50% e até 2050 poderia ser pelo menos de 60%. A taxa anual de crescimento

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da população urbano no mundo entre 1965 e 1980 foi de 2,6%, mas entre 1980 e 1990 essa taxa foi de 4,5%. A quase totalidade do crescimento atual ocorre nos países pobres, por definição, aqueles com menos recursos e menor capacidade de eliminar o lixo urbano de forma adequada. Além disso, quanto maior o número de habitantes, piores são os problemas.” (ROGERS, 2001, P. 3)

Os atuais grandes centros urbanos, constituídos ao longo da história, por aglomerados divididos em distritos especializados em comércio, serviço, indústria e habitação, desencadearam o desenvolvimento de guetos, sem coesão urbana e social. As zonas funcionais simplistas ignoram o conceito de uso misto dos edifícios, tornando as atividades primárias da população distantes e dispersas pelo território. O automóvel surgiu como um estímulo ainda maior, da expansão urbana para os bairros periféricos sendo abordado como solução para percorrer as grandes distâncias entre os elementos da cidade, mas sem levar em consideração como o traçado viário é sobrecarregado fa-


F.11. - Representação das prioridades perante a concepção do meio urbano

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Os Núcleos Urbanos compactos e de uso msito reduzem as necessidades de deslocamento e criam bairros sustentáveis e cheios de vitalidade.

F4.12. - Diagrama Núcleos Compatos desenvolvidos por Richard Rogers.

cilmente. Apesar de todas as contradições desencadeadas pelo transporte individual automatizado, cada vez mais o carro foi se popularizando nas cidades, e justificando as ações dos agentes privados a dispersar os equipamentos e atividades, convenientemente, em proximidade com as camadas de alta renda. Dessa maneira, favoreceu-se progressivamente o poder econômico, enfatizando a deterioração da estrutura social do meio urbano. Além de proporcionar a projeção de um traçado viário que destrói a qualidade dos espaços públicos e a dimensão humana das cidades, o automóvel é o responsável por aumentar o nível de poluição do meio ambiente, e desequilibrar a qualidade ambiental das cidades. Em contrapartida, o teórico propõe a elaboração de espaços polivalentes multiculturais, concebendo

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o conceito de cidade compactada autossustentável, fundamentado em cidades irrigadas por atividades complementares, públicas e privadas, que estão extremamente distribuídas e conectadas. O planejamento urbano prevê uma ampla compreensão das relações entre os indivíduos, os serviços, o transporte e os recursos coletivos. A urbanização deve constituir cidades equitativas e pluralistas, que integrem a densa população às suas atividades sobrepostas e as necessidades ecológicas. A arquitetura surge como, além de uma resposta às necessidades da população, e da conveniência de satisfazer e emocionar o espírito humano, como uma forma de tornar as cidades coerentes com os deveres ambientais. A cidade autossustentável é interpretada como modelo de cida-


Metabolismo Linear

Metabolismo Circular

F4.13. - Diagrama Metabolismo Linear X Metabolismo Circular das cidades - desenvolvidos por Richard Rogers

de densa e diversificada, em que o planejamento integrado, da sobreposição de atividades e recursos, proporciona um menor consumo de energia, um menor nível de poluição, maiores benefícios ecológicos e oportunidades sociais.

população, é necessária uma hierarquia qualificada de diferentes níveis de transporte: desde a presença de calçadas largas e ciclovias seguras, até uma alta disposição de estações e linhas metroviárias pelo território.

Os núcleos compactos são formados a partir da integração da moradia, do trabalho e do lazer, desenvolvendo, assim, além de bairros com grande vitalidade urbana, edifícios de uso misto. A redução das distâncias presentes entre as funções da cidade proporciona o alto grau de mobilidade no meio urbano. Para a eficiência máxima, é previsto uma grande concentração de transportes de massas, atendendo a alta densidade populacional, e interligando os diferentes núcleos centrais que compõe a metrópole. Para o desenvolvimento da circulação efetiva da

Conclui-se que, em meio a tal cenário, o desenvolvimento de Cidades Compactas poderia solucionar os problemas, desencadeados pelo o aumento da urbanização, das últimas décadas. O crescimento dos recursos consumidos, a partir da alta densidade populacional, poderia ser amenizado pela racionalização da mobilidade urbana. Além disso, o desenvolvimento sustentável e as novas tecnologias formam cidades inteligentes que favorecem a sobrevivência do ciclo natural do planeta e, sobretudo, a qualificação do espaço e das interações sociais.

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4.4. Resposta aos Problemas Urbanos Atuais Os autores abordados entram em consenso sobre o fundamento de comporem metrópoles densas, ao em vez de cidades fragmentadas e divididas em setores funcionais. Richard Rogers, ao abordar o conceito de Cidade-Densa, caracterizado como meio de oportunidades sociais, defende que o planejamento urbano deve ser uma tarefa interdisciplinar, em a favor de benefícios ecológicos maiores: aumento na eficiência energética; menor consumo de recursos. Assim como, Jane Jacobs é contra a segregação das classes inferiores em bairros periféricos, juntamente com a exclusão do comércio e da cultura da vida intima da população, fundamentando sua teoria a favor de cidades compactas e compartilhadas. Kevin Lynch e Gordon Cullen, por sua vez, são a favor de cidades claramente estruturadas a partir de pequenos fragmentos conectados, onde se deve resolver a integração entre as partes estáticas e móveis da paisagem urbana. Ambos trabalham com a imagem da cidade, e defendem o ideal da diversidade social integrada no repertório urbano, em benefício da qualidade de vida de seus usuários. Desse modo, contra a abordagem de segregação social, em que a parcela da população de baixa renda é afastada da área central, o projeto a ser desenvolvido promove habitação de interesse social no Centro de São Paulo. Em favor de uma cidade

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equalitaria, justa e compacta, conforme Richard Rogers defende como Cidade Sustentável. O projeto visa promover o adensamento populacional na região do bairro da Liberdade, onde já existe uma rede de infraestrutura, juntamente, com uma grande oferta de transportes públicos que possibilitam conectar o projeto com os demais territórios da metrópole. A multifuncionalidade do programa, em favor da ocupação efetiva da cidade, ocorreu a partir da abordagem da autora Jane Jacobs de como promover diversidade urbana. O Complexo Multifuncional garante motivos concretos para as pessoas se apropriarem das ruas do Núcleo Conde de Sarzedas, em busca de frequentar as praças públicas, as áreas comerciais e os equipamentos urbanos, dispostos ao longo da área de intervenção. A diversificação do programa proposto no complexo multifuncional, busca garantir as principais manifestações humanas no projeto, desenvolvendo diferentes formas de ocupação na área de intervenção, mediante a teoria de Lynch baseada no fato de que os edifícios promovem a percepção do espaço perante seus usuários e, assim, compõem a paisagem urbana. Em pretensão de promover a atração visual por parte da população, a partir do princípio de Legibilidade conceituado por Lynch, buscou-se a integração entre as construções e o percur-


so. Pretendeu-se projetar diferentes fluxos e maneiras de transpor o desnível do terreno pertencente ao projeto. Desse modo, o ato de caminhar tornou-se, de fato, um importante meio de compreensão da paisagem urbana, conforme Cullen defende em sua teoria a respeito de experiências plásticas em forma de percurso:

delimitados; momentos de tensão e de tranquilidade. (CULLEN, 1961) Consequente, aspira-se o desenvolvimento de um significado afetivo e prático, de fato, ao projeto perante seus usuários, levando-os a se apropriar e usufruir do espaço urbano.

O projeto a ser desenvolvido baseou-se no modo de promo“Essa sensação de identificação ou sintonia com o meio-ambiente, esse sentido de localização perante a posição que se ocupa numa rua ou num largo que faz pensar ‘Estou Aqui’, ou ‘Vou entrar Aqui’, ou ainda ‘Vou sair daqui’, mostra claramente que ao postular-se a existência de um Aqui se pressupõe automaticamente a de um Além, pois não se pode conceber um sem o outro. Alguns dos mais belos efeitos urbanísticos residem, justamente na forma como é estabelecida a interrelação de ambos.” (CULLEN, 1961, P.12)

ver a organização funcional dos elementos urbanos, e de como influenciam individualmente e coletivamente na composição da paisagem. (LYNCH, 1960) Estabeleceu-se a conexão entre os elementos móveis, os transeuntes, e elementos fixos, as construções, a partir da projeção das formas primárias harmonicamente, de maneira a promover espaços cheios, vazios, amplos,

4.14. - Transeuntes no entorno do Terreno de Intervenção

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Em meio ao cenário de teorias urbanísticas que abordam o Planejamento, como modo de implementação do Desenho Urbano no território, diferentes interpretações morfológicas foram desenvolvidas no decorrer do tempo. Abordaremos, nesse capítulo, análises dos elementos morfológicos em três níveis de atuação: A partir do Espaço Urbano, da Densidade obtida no Território, e da Unidade Habitacional.


05 Interpretações Morfológicas


5.1. Forma + Espaço Urbano O Desenho Urbano deve ser encarado como parte do processo do Planejamento da Metrópole, a partir de seu caráter de convergência de diferentes métodos de análise do meio urbano, e atuação de diversas disciplinas. A melhor estratégia, para o seu questionamento, perante os princípios de Morfologia Urbana, consiste no cruzamento de diversas teorias e maneiras de análise, que o compreendam harmonicamente. Não se deve adotar manuais, verdadeiras receitas, mas apenas conceitos de caráter físico-espacial, inter-relacionados. O Planejamento Urbano lida com a formação, administração e manutenção das cidades, enquanto o Desenho Urbano qualifica o meio ambiente, preocupando-se com o valor físico-espacial do território. Essa relação, entre o Desenho e o Planejamento das cidades, é explicitada nos estudos elaborados pelo teórico Vicente Del Rio, em seu livro “Introdução ao Desenho Urbano no Processo de Planejamento”: “(...) Elaboração de objetivos, planejamento, desenho, implementação e administração devem ser compreendidos como intimamente inter-relacionados. Os planos determinam e influenciam o físico-ambiental, tanto quanto o Desenho Ur-

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bano deve influenciar a elaboração dos planos e seus objetivos. (...) O planejamento deve ser entendido como uma atividade-meio permanente, um processo indispensável à tomada de decisões. A partir de decisões políticas a nível dos objetivos sociais e econômicos a serem alcançados, é através do planejamento que estabelecemos os melhores meios e ações para atingir estes objetivos. Nesta lógica, podemos entender o Desenho Urbano também como atividade-meio a nível da configuração físico-espacial e atividades humanas complementares. Suas atividades-fim seriam seus programas e projetos, com impactos diretos no cotidiano das populações.” (DEL RIO, 1990, P. 58)

A Morfologia Urbana estabelece a essencial relação entre as formas, características coletivas da cidade, e as individualidades presentes nos tipos de edificações. (AYMONINO, 1975 in


5.1. - Trecho do Mapa de Noli a partir da técnica Figura-Fundo - Intervenção em Roma

DEL RIO, 1990) A importância formal da cidade é proveniente da organização física do tecido urbano, e da necessidade de combinações de elementos tipológicos, que mantenham a continuidade histórica, e a harmonia da composição da imagem urbana. (ROSSSI, 1966 in DEL RIO, 1990) Camilo Sitte, e Rodrigo Perez de Arce, também se conscientizam sobre o senso de continuidade das dimensões temporais da cidade, afirmando que as intervenções no tecido urbano devem ser abordadas cuidadosamente. O Contextualismo, soluções plásticas e espaciais integradas ao entorno e contexto, por sua vez, surge como instrumento de integração temporal entre as intervenções urbanísticas.

e privado. Mediante o estudo dos espaços livres, de acesso ao público, e espaços construídos, de acesso restrito, abordaram-se as relações morfológicas de distância, acessibilidade, cheios e vazios. Os trabalhos dos irmãos Krier, da mesma maneira, formularam importantes contribuições no campo da Morfologia Urbana. Influenciados por Sitte, desenvolveram métodos de sistematizações da Forma básica do Espaço, respeitando o contexto existente, e inspiradas em tipologias desenvolvidas ao longo do tempo. Sob o objetivo de compreender todo o espaço presente nas cidades, principalmente os territórios entre edifícios, estabeleceram uma relação de polaridade entre o espaço interior e exterior das edificações.

Técnicas de análise e projeção foram desenvolvidas, em meio a tal contexto teórico, como a Cartografia Figura-Fundo, denominado Mapa de Nolli (1978), que estabeleceu uma leitura do tecido urbano, relacionando o domínio público, semi-público

O método elaborado por Rob Krier, de tipologia do espaço urbano, estabeleceu uma importante ordem morfológica para o território. As formas espaciais foram classificadas em três grupos principais: o quadrado, o círculo e o triângulo. Perante as

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três formas elementares, estabeleceu-se o processo de transformação do espaço existente, por meio das variações da forma de composição: dobrar, dividir, somar, penetrar, sobrepor mesclar e diferenciar. Cada tipo obtido de espaço é responsável por confeccionar uma variação de edifício, podendo compor edificações com geometrias regulares ou irregulares e composições específicas de fachada, com determinados ritmos de aberturas, também classificadas pelo autor. Além da variedade de tipos de edificações influenciar a composição do espaço urbano, por meio de um processo de intervenção mútua, a disposição do traçado viário e suas embocaduras, também influenciam a formação do espaço. Dessa forma, analisa-se, por fim, a inúmeras maneiras de disposições das ruas perante ao tipo de edificação, e as possibilidades de embocaduras no traçado viário. O autor acredita que a riqueza das formas espaciais, e suas deformações, atuam em diferentes escalas urbanas: compõe além da forma arquitetônica, a imagem da cidade, como se constata em seu livro “Stuttgart, Teoria y Practica de Los Espacios Urbanos”: “Por fim, os três tipos de espaço e suas variações, podem compor qualquer número de formas mistas. A diferença de escala é de espacial importância para todas as formas do espaço, e igual importância é o efeito que causam as diferentes arquiteturas a um espaço urbano.” (KRIER, 1976, P. 24) 5.2. - Tipos de espaço e combinações - Rob Krier

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A partir do cruzamento das diferentes teorias, é possível organiza a cidade em 3 níveis morfológicos de apropriação social: Coletivo, Comunitário e Individual (DEL RIO, 1990). A dimensão coletiva é apresentada como o conjunto de elementos primários que tendem a permanecer mesmo com o decorrer do tempo; o nível comunitário apresenta os elementos públicos com significados espaciais; e a categoria individual, apesar de possui expressões significativas individuais, tendem a apresentar maior rapidez de mutação. Além disso, a Morfologia Urbana está diretamente relacionada com outras vivências do Desenho Urbano: A concepção de Imagens e o Comportamento Ambiental.

(LANG, 1937 in DEL RIO, 1990). A esfera urbana, composta pelos comportamentalistas, também se segmenta em duas correntes urbanísticas: os Behavioristas e os Piagetianos. Os primeiros, referem-se à composição do espaço como reflexo das situações diretas e atuais, enquanto os seguidores de Piaget (1921), define a conformação do espaço, formulada a partir da memória, por meio da relação de acontecimentos passados. Os estudos do comportamento humano são importantes para a composição da Forma Urbana, pelo tamanho da relação do usuário com o espaço público, uma vez que, sem frequentadores, a edificação não possui valor urbano.

A Concepção de Imagens busca a harmonia e bom funcionamento das cidades, por meio da compreensão dos elementos do meio urbano e suas relações. Pode-se segmentá-la em duas categorias de estudo: a Análise Visual e a Percepção do Meio Ambiente. O processo de Análise Visual ocorre a partir da compreensão e retenção de imagens, da paisagem urbana, estruturadoras da experiência ao caminhar pela cidade (CULLEN, 1961). Enquanto, a Percepção Visual identifica a qualidade do meio urbano e seus elementos estruturadores (LYNCH); configura o espaço através do processo seletivo de percepção, e atribuição de significado dos elementos identificáveis, conforme o campo da Gestalt conceitua como atribuição da Forma Urbana (PRAK 1977, KOHLDOR, 1985 in DEL RIO, 1990).

Conforme Del Rio conclui em seu estudo teórico, a respeito da Morfologia Urbana, constata-se, por fim, que a boa forma urbana é atingida pela composição coerente da imagem da cidade, mediante o inconsciente coletivo, englobando as diversidades sociais, culturas e econômicas da população:

O Comportamento Ambiental aborda a teoria urbana como resultado direto dos estudos comportamentais da população

“Finalizando, repetimos que a importância da categoria de análise de ‘Morfologia Urbana’ está em compreender a lógica de formação, evolução, e transformação dos elementos urbanos, e de suas interrelações, a fim de possibilitar-nos a identificação de formas mais apropriadas, cultural e socialmente, para a intervenção na cidade existente e o desenho de novas áreas.” (DEL RIO, 1990, P. 85)

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5.2. Forma + Densidade Territorial Até a década de 90, era comum os projetos serem isolados do contexto urbano, promovendo edifícios sem compreensão do entorno imediato, repartindo a cidade em funções específicas, e não levando em consideração as reais necessidades dos habitantes, conforme foi analisado nos capítulos anteriores. A partir de uma visão de definição do elemento projetual como parte concreta que compõe o a cidade, e diretamente relacionada com as necessidades contemporâneas, desenvolveram-se propostas de cidades compactas nos últimos anos. Os problemas urbanos atuais, como o crescimento populacional desenfreado, juntamente com a segregação da população em setores de alta, média e baixa renda, influenciaram a elaboração de propostas urbanísticas que formulem a cidade a partir do emprego da alta densidade no meio urbano. Formularam-se, dessa maneira, teorias baseadas em cidades compactas no lugar de dispersas, habitações coletivas no lugar de unifamiliares, interações de funções no lugar das segregações de usos, de maneira a constituir cidades densas, o mais igualitariamente qualificadas o possível. Deve-se, dessa maneira, promover o planejamento dos hábitos de vida, para o estabelecimento de habitações ecologicamente corretas, equilibrando e neutralizando a relação de consumo de recursos e bens materiais, com

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a eliminação de gases e resíduos. (ROGERS, 2001) Pesquisadores, como o Grupo A+T, abordam a morfologia da cidade a partir do emprego da densidade não de uma maneira tradicional, promovendo uma grande quantidade de habitações em um determinado território, mas utilizando-se da mescla de usos, do equilíbrio de fluxos, e da capacidade da cidade para promover vitalidade. Os comportamentos, que definem a qualidade da densidade na metrópole, segmentam-se em duas categorias básicas: características objetivas e subjetivas. O processo do desenho urbano, e as diretrizes tomadas pelo arquiteto urbanista, são abordados pelo primeiro termo, constituindo os valores objetivos como, por exemplo, a inserção do projeto no terreno, os usos programáticos, os acessos e a circulação. As características subjetivas, por sua vez, obtidas apenas após a interação entre a composição edificada e os usuários do território, constituem qualificações como a relação com a natureza, a usabilidade do espaço, a privacidade e a segurança. No livro “Why Density?”, escrito pelo Grupo, o conceito de densidade desejado de ser abordado é definido claramente pelos teóricos: “Densidade não tem relação com explosão volumétrica da cidade. Não é uma questão de reduzir


vazios. (...)” (RESEARCH GROUP, 2015, P. 12) “(...) O indicador de densidade não pode ser mais a quantidade de moradias por hectare. Já deixamos de considerar a densidade como o coeficiente entre o número de habitações e a superfície do terreno.” (A+T RESEARCH GROUP, 2015, P.37)

A composição desejável da cidade apenas é adquirida pelo compromisso mútuo, e atuação conjunta entre os agentes do território: poder público, privado e a população. Para o seu funcionamento eficaz é necessário a combinação máxima de interesses entre os agentes, de maneira que os objetivos sejam consensuais, e impostos respeitando os compromissos sociais. Os outros elementos que influenciam na concepção formal da cidade, a partir do emprego da densidade, consistem nos fluxos naturais, virtuais e materiais. Os cursos naturais constituem as características ambientais da cidade: cursos d’água, ventos predominantes, e conjunturas climáticas; os fluxos virtuais modelam o território a partir das diretrizes político-econômicas; e os fluxos materiais influenciam o espaço mediante a constante circulação de pessoas e bens. Ambos afetam diretamente a forma da paisagem e, juntamente com as preexistências, necessitam de equilíbrio mútuo no contexto urbano, para formar uma

5.3. - 8 House - Big Architects - 2010

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5.4. - Catálogo Completo de Formas Genéricas - Grupo A+T

densidade consistem no Coeficiente de Aproveitamento (CA), na Taxa de Ocupação (TO), e no Índice de Altura, onde estabelece-se a relação entre o valor numérico do CA sobre o TO. O Coeficiente de Aproveitamento configura a proporção de área útil, por meio da metragem da área do piso sobre a área total do terreno; enquanto a Taxa de Ocupação demonstra a porcentagem do solo ocupado, a partir da metragem da área do térreo projetado sobre a área total do terreno. A importância de tais indicadores para a promoção de densidade consiste no fato de não serem afetados perante a diversificação, desejável, de usos do terreno, e estabelecerem parâmetros abstratos de equilíbrio de atuação na forma das edificações. 5.5. - Gráfico Formas Genéricas e Específicas - Grupo A+T

cidade compartilhada, aberta e compacta. As principais decisões que modelam a forma dos empreendimentos consistem no potencial econômico, em função das possibilidades construtivas possíveis ao terreno, impostas pelas diretrizes urbanas concebidas por lei, como as leis de zoneamento, e próprio plano diretor da cidade. Os indicares de

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A partir do método de análise desenvolvido pelo Grupo A+T, para a categorização morfológica dos edifícios, são concebidas 9 formas genéricas que configuram o espaço construído e os vazios urbanos. O enredo configurado pelas 9 formas abstratas demonstra diferentes situações na paisagem urbana, e delas são derivadas 26 formas específicas que influenciam diversificadamente, ainda mais, o território. A metodologia consiste na comparação dos índices de Aproveitamento, de Ocupação e Altura, juntamente com os resultados objetivos e subjetivos


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5.6. - Exemplos de Formas Específicas - Grupo A+T

obtidos na aplicação do projeto. Para criar-se, de fato, uma vida urbana intensiva, o autor estabelece que o Coeficiente de Aproveitamento deve estar em torno do valor numérico 3, garantindo a alta densidade, e a Taxa de Ocupação não deve ser maior que 0,5, certificando que haja uma boa proporção entre os espaços livres e construídos. Estabelece-se um gráfico representando o equilíbrio da forma urbana, onde a partir dos indicadores horizontais (TO) e verticais (CA) se obtêm 3 áreas triangulares que demonstram os projetos com índices de alta, média e baixa altura. As quadras mais equilibradas se encontram no centro do gráfico, e possuem o índice de altura de valor médio. O triângulo de ouro, ponto central do gráfico, é qualificado por possuir projetos que configuram de fato a densidade desejada a metrópole, constituindo espaços densos, compactos, mistos, intensivos e diversos. Exemplifica-se tal cenário, com o projeto de arquitetura 8 House, elaborado pelo escritório Big Architects, que pertence a categoria formal de Bloco Urbano Esculpido, por criar um polo de atração no território a partir da união de quadras, e da configuração de um bloco único com diferentes funções. A grande superfície construída e os pátios internos livres configuram uma Taxa de Ocu-

pação no valor de 0,46, e os diversos pavimentos escalonados permitem o alcance do Índice de aproveitamento no valor de 2,5, garantindo um nível médio de altura. Pode-se concluir, para criação de uma paisagem urbana intensiva, e coerente com o modo de vida contemporâneo, a forma da cidade deve ser atribuída perante os atributos da densidade. Para garantir a alta densidade, por sua vez, não se deve adotar os métodos tradicionalistas de análise de moradias por hectare, e sim estabelecer o equilíbrio entre o coeficiente de aproveitamento, e a taxa de ocupação, garantindo o uso misto do território e, ainda por cima, a harmonia com as preexistências, e os fluxos da cidade, conforme o Grupo A+T justifica seus estudos à respeito da densidade urbana: “Por que densidade? Densidade, porque, significa, não apenas o equilíbrio entre a população e os usos, mas também a maneira mais sustentável de vida em comum. Necessitamos viver em cidades densas e devemos transformar essa necessidade em desejo. Devemos converter a cidade densa em lar, e cada habitação em nossa casa.” (A+T RESEARCH GROUP, 2015, P. 255)

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5.3. Forma + Unidade Habitacional A forma arquitetônica, enquanto constante, é redutível ao conceito de tipo. Todas invenções humanas precedem de um antecedente, nenhuma formulação vem do acaso. O embasamento formal se constituí a partir das necessidades e aspirações de beleza, de determinada sociedade, constituindo os diferentes tipos arquitetônicos. Aldo Rossi, em seu livro “Arquitetura da Cidade”, exemplifica esse cenário, a partir da configuração da análise do conceito de tipo, quando abordado como fundamento arquitetônico: “O tipo é, pois, constante e se apresenta com características de necessidade; mas, mesmo determinadas, elas reagem com técnica, com as funções, com o estilo, com o caráter coletivo e o momento individual do fato arquitetônico.” (ROSSI, 1966, P. 27) Dessa maneira, o conceito de tipo sempre se relaciona com o contexto em que é exposto, adquirindo, assim, valor próprio. A abordagem tipológica não se aproxima do significado de modelo, condição de cópia idêntica, conforme Quatremère de Quincy descreve em seus estudos morfológicos da arquitetura: “A palavra ‘tipo’ não representa tanto a imagem de uma coisa a ser copiada ou imitada perfeitamente quanto a ideia de um elemento que deve, ele mesmo, servir de regra ao modelo. (...) O modelo, entendido segundo a execução prática de arte, é um

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objeto que se deve repetir tal como é; e o tipo ‘é’, pelo contrário, um objeto, segundo o qual cada um pode conceber obras, que não se assemelharão entre si. Tudo é preciso e dado no modelo, tudo é mais ou menos vago no ‘tipo’. Assim, vemos que a imitação dos ‘tipos’ nada tem que o sentimento e o espírito não possam reconhecer.” (QUINCY in ROSSI, P. 25 e 26, 1966) A dinamização do espaço, a formulação e aplicação dos tipos arquitetônicos, voltados para o desenvolvimento de habitação de interesse social, iniciou-se a partir dos estudos elaborados no decorrer do século XX. A multiplicidade de soluções possíveis desencadeou a projeção de diferentes tipos habitacionais, em busca de padrões com o máximo de utilidade em áreas mínimas de ocupação. Ultrapassando o desejo de áreas reduzidas, os estudos buscavam versatilidade nos espaços domésticos e, dessa maneira, a máxima eficiência possível dos cômodos residenciais. Tratando-se das instalações sanitárias, por exemplo, o processo mais usual consistiu na separação do lavatório das demais peças, uma vez que, todos os usuários da habitação utilizavam com frequência esses elementos. Nota-se tal artifício no proje-


to de Le Corbusier, Unidade Habitacional de Marselha (19471952). Outros arquitetos, entretanto, foram mais além nessa solução, conforme Pedro António Fonseca Jorge analisa em sua dissertação: “Em 1968, Fábio Penteado (1928-2011), Vilanova Artigas (1915-1985) e Paulo Mendes da Rocha (1928) apresentam no Complexo Zezinho Magalhães Prado, em São Paulo, uma solução que consiste em separar o lavatório das restantes peças, colocando-o num espaço que as antecede. Como não é um espaço encerrado, permite uma utilização livre e o acesso à sanita e chuveiro em qualquer circunstância. Em Kitagata (1994), o gabinete SANAA (2) faz evoluir este conceito, tornando independentes a sanita do chuveiro, e permanecendo o lavatório no espaço de circulação (embora de forma muito mais exposta e talvez menos contida).” (JORGE, 2013, P. 2)

As áreas privadas foram analisadas como somatório de áreas independentemente, levando em consideração as necessidades de cada morador. Os espaços comuns, por sua vez, devem ser projetos de acordo com a quantidade de usuários necessários

F5.7. Complexo Zezinho Magalhães Prado

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para exercer aquela função ou atividade. Dessa maneira, a Sala de Estar, tornou-se favorecida em termos de área, por agrupar um público maior, enquanto a Cozinha pode se tornar menor, por poder desempenhar sua função com apenas um único habitante. É desejável, entretanto, que ambas estejam conectadas, uma vez que a preparação das refeições faz parte do convívio e dinâmica familiar. O corredor foi analisado como, além do elemento propulsor dos acessos a todas divisões da casa, o responsável por controlar o acesso aos quartos e áreas privadas da residência. Apenas com o desenvolvimento do tipo de unidade habitacional com planta livre, durante o Movimento Moderno desenvolvido a partir do início do século XX, se permitiu deixar a distribuição dos ambientes sem uma ordem ritmada de elementos. As cozinhas, quartos, e ambientes privados passaram a ter mais de uma entrada, e a sala tornou-se o principal elemento de circulação, conforme pode-se analisar nas obras arquitetônicas projetadas por Ludwig Mies van der Rohe, no decorrer de sua carreira. Além disso, desenvolveram-se estudos de aplicação, de mais de uma função, perante os ambientes residencias. Há, por exemplo, a alternativa de completar o uso do quarto com outras atividades, que não sobreponham à função de dormir. A indústria foi responsável por produzir elementos para a dinamização dos ambientes. A utilização de portas de correr, por exemplo, foram capazes de estabelecer conexões eficazes entre diferentes espaços, mesmo entre os cômodos comuns e privados.

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F5.8. - Habitação de Interesse Social - Jardim São Francisco


A análise desenvolvida ao longo do século XX, no âmbito do habitar, buscou encontrar soluções espaciais capazes de produzir residências mais racionais para a população. Almejaram-se produzir habitações versáteis com dimensões mínimas, capazes de desenvolver tipos residenciais com custo reduzido, e de interesse social. Muitos dos artifícios propostos por tais teorias enquadram-se nas necessidades das habitações contemporâneas não apenas no Brasil, mas em diversas localidades do mundo. Flávio Villaça analisa em seus estudos, a respeito da habitação de interesse social no Brasil, que o desenvolvimento de moradia popular deve conquistar o padrão de qualidade ideal, com dimensões mínimas, à todos os trabalhadores: “(...) resolver o problema da habitação é oferecer a toda a população, pelo menos aquelas condições habitacionais consideradas mínimas num determinado período histórico, respeitando as características econômicas, culturais e tecnológicas do país ou região considerado.” (VILLAÇA, 1986, P. 27)

Entretanto, as políticas públicas voltadas a habitação de interesse social desenvolvidas no Brasil, na maior parte das vezes, não souberam trabalhar com os dilemas entre a economia, conforto e durabilidade das construções projetadas. Durante mui-

tos anos os conjuntos habitacionais foram projetados a partir de uma mentalidade herdada da década de 60, vinculada a implantação do Banco Nacional da Habitação (BNH), com projetos com pouca criatividade e edificações repetitivas, sem atrativos formais. Apenas com a criação de concursos, baseados na renovação do modo de implementação de moradias populares no país, houve o desenvolvimento de novos tipos de unidades residenciais em conjuntos. A partir da liderança de Nabil Bonduki, superintendente de habitação social (HABI), foi realizado o primeiro concurso nacional de projetos de habitação popular localizados na região do Brás e Jardim São Francisco, sob uma nova perspectiva de encarar a habitação. No decorrer do tempo, houve a criação dos programas habitacionais como o Cingapura e o Prover, os quais representaram um retrocesso ao avanço no campo da habitação popular, alcançado pelas produções anteriores realizada pelos concursos. Dessa forma, os edifícios repetitivos e de pouca qualidade voltaram a ser projetados. Apenas quando houve uma retomada concreta do desenvolvimento de concursos, houve a presença de mudanças dos paradigmas projetuais para realização Conjuntos Habitacionais. Dessa forma, os novos parâmetros proporcionaram a composição de melhores projetos na paisagem das cidades e um aumento significativo da densidade populacional. Exemplifica-se tal cenário com a realização recente (2010-2013) do Conjunto Habitacional Jardim Edith, em substituição a an-

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F.5.9. - Conjunto Habitacional Jardim Edith

tiga favela com cerca de 800 famílias, localizada próxima da várzea do córrego Água Espraiada. O projeto de Habitações de Interesse Social (HIS) foi realizado pelo escritório de arquitetura MMBB, em parceria com o escritório H+F, mediante concurso organizado pela prefeitura de São Paulo Com a Operação Urbana Águas Espraiadas, o córrego localizado na Av. Jornalista Roberto Marinho, foi canalizado e a região passou a desenvolver-se de modo acelerado. A valorização da área foi uma consequência imediata seguida do processo de verticalização. O projeto foi concebido, dessa maneira, de forma coerente com o desenvolvimento do entorno imediato, e em busca do máximo reassentamento da densidade populacional presente nas habitações precárias pré-existentes. O projeto engloba a presença de três edifícios torres, e dois edifícios lâminas. O edifício lâmina 1, possui 4 pavimentos sendo o último tipo duplex. Cada pavimento possui 10 apartamentos com 50 m², sob um único tipo de planta, espelhada quando necessário. O edifício lâmina 2, possui as mesmas características,

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porém com apenas 8 apartamentos por pavimento. Os edifícios verticalizados possuem 15 pavimentos, cada um deles com 4 apartamentos. As plantas ocorrem sob a presença de dois tipos de unidades habitacionais, todavia ambas têm 50 m², metragem condicionada pela Secretaria Municipal de Habitação (SEHAB). A variação do tipo de unidade habitacional, em todas as torres, ocorre de maneira a integrar a circulação vertical, sem aumentar a quantidade de módulos estruturais, anexando aos apartamentos das extremidades à área perdida pela localização das escadas e elevadores, nos finais do corredor avarandado. Além disso, para ganhar espaço nos apartamentos, os escritórios desenvolveram nichos em baixo das janelas os quais não foram computados no cálculo de área construída, fazendo uma expansão da unidade, e permitindo que nesses trechos fossem colocados móveis e utensílios domésticos. Os escritórios optaram pela inovação, quebrando alguns paradigmas da construção social desenvolvido até então no país, ainda que com algumas restrições, como a limitação de áreas máximas dos apartamentos. Nota-se que mesmo respeitando


toda a legislação vigente, sobre HIS, o projeto foi capaz de produzir moradias eficazes e coerentes com o modo de vida contemporâneo, diferente daquilo que normalmente vem sendo propagado pelo país. Uma das novas propostas foi a de projetar um edifício multifuncional, aliando habitação social a equipamentos públicos: projetou-se uma Unidade Básica de Saúde UBS, uma Creche e um Restaurante Escola). Em uma área total construída de 25.714m², a Creche, a qual tem uso prioritário para os moradores do conjunto é o maior equipamento com 1400m², compostos de salas e berçários, em torno de um pátio central protegido para recreação das crianças. A UBS possui, por sua vez, possuí 1300m² com um espaço central com área de permanência e recepção que possui claraboias com iluminação e ventilação natural. O Restaurante Escola com 850m² foi uma ideia dos escritórios, como maneira de capacitar os moradores, e incentivar inserção no mercado de trabalho. Contudo, por falta de alianças, o projeto não foi para frente e encontra-se fechada, sem utilização.

5.10. - Pátio Interno - Conjunto Habitacional Jardim Edith

5.11. - Corredores Avarandados - Conjunto Habitacional Jardim Edith

A intenção do projeto, em análise, foi fazer um conjunto integrado ao panorama urbano existente. O projeto de interesse social, aborda, não apenas a questão das unidades habitacionais, mas a relação entre as habitações e os equipamentos públicos de maneira coerente com o modo de vida atual. Os corredores generosos e avarandados, a maneira bem pensada de projeção da circulação vertical, e a integração de diferentes tipologias ilustram os pontos altos do projeto de interesse social.

5.11. - Nichos Internos - Conjunto Habitacional Jardim Edith

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Os diferentes níveis de forma do meio urbano - espaço público, unidades habitacionais, e densidade – foram objetos imprescindíveis no desenvolvimento de importantes projetos de habitação. A abordagem do estudo das Habitações Coletivas Contemporâneas parte do desejo de análise de complexos que se relacionam adequadamente com a paisagem e, assim, configurem importantes referências projetuais.


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Estudo de Habitações Coletivas Contemporâneas


6.1. Relevância Projetual dos Estudos de Caso Os complexos escolhidos possuem relevância projetual por se integrarem de maneira harmônica ao contexto existe da cidade, e favorecerem a composição da paisagem urbana. Além de eliminarem a fronteira espaço interior e exterior das quadras, indo além de um formalismo rígido de quadra tradicional, os projetos propõem o bom uso dos espaços públicos e privados, trabalhando com generosos espaços livres de uso comum para a população. Por meio de operações geométricas, os volumes básicos da forma arquitetônica, fundamentada por Krier, são aplicados nos projetos em estudo. As formas elementares são alargadas, dobradas, giradas, de maneira a comporem uma megaforma que atua no espaço como polo de atração do entorno, configurando eventos urbanos a favor da vitalidade da cidade. Privilegiando a integração entre a arquitetura e o urbanismo, a composição equilibrada, resultante das quadras híbridas, produz espaços cheios e vazios conectados por fluxos e eixos de circulação. A flexibilidade dos espaços garante a sua usabilidade, abordada por Jane Jacob, como garantia de manutenção e segurança das grandes cidades. A proposta de elaboração de espaços polivalentes multicultu-

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rais, a partir do conceito de cidade compactada desenvolvidos por Richard Rogers, configura as diretrizes e fundamentos projetuais dos objetos em análise, conectando as funções habitar, trabalhar e divertir-se no mesmo território. Ambos os projetos favorecerem a densificação de maneira correta, propondo a integração entre os usos e uma quantidade significativa de unidades habitacionais. Investiga-se, ainda por cima, as diferentes maneiras de vida urbana configurando diversificados tipos de habitação, atendendo as necessidades de seus habitantes. Além disso, os parâmetros definidores dos edifícios atendem as qualidades atribuídas a densidade, abordadas do capítulo Interpretações Morfológicas, com base no Grupo de Pesquisa A+T. Os valores objetivos de inserção adequada do terreno perante o entorno, de acessos e circulação coerentes são o princípio dos projetos em análise. Da mesma forma, que os valores subjetivos como a percepção da cidade, da relação com a natureza, e a vitalidade do meio urbano foram desenvolvidos. Outras categorias como flexibilidade das unidades habitacionais, privacidade e segurança dos conjuntos também foram bem colocadas como prioridade para os projetos, e elaboram edifícios coerentes com a forma de vida atual.


6.1. - Vista do Centro de São Paulo - Fotografia Capturada do Edifício Copan

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6.2. Edifício COPAN Arquiteto Oscar Niemeyer Colaborador Carlos Leite Localização São Paulo, Brasil Ano do Projeto 1951-1966 Articulação Programática 1.160 unidades habitacionais, zonas comerciais, cinema e estacionamento subterrâneo Área do Terreno 6.000 m². Área Construída 120.000 m² O edifício COPAN, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, realizado pela Companhia Pan-Americana de Hotéis e Turismo, constituí um marco na paisagem paulistana. As curvas compõem o projeto de maneira harmônica e com grande legibilidade perante os transeuntes da cidade. Da mesma maneira que a lâmina esbelta em formato de S é acolhida essencialmente pela cidade, configura ao seu redor espaços de respiro, por meio dos recuos obrigatórios dispostos pela formulação ondulada do edifício. O brise soleil horizontal utilizado serve, além de proteção solar, para reforçar sua forma intrínseca, destacando o edifício em meio à intensa verticalização do centro da cidade de São Paulo.

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6.2. - Edifício Copan A obra foi desenvolvida sob o conceito de edifício-cidade, abrigando 1.160 unidades habitacionais, de diferentes tipologias, distribuídas em 6 blocos que funcionam como edifícios autônomos em termos de organização. O projeto engloba 128 apartamentos de três dormitórios, 64 apartamentos de dois dormitórios, e 968 apartamentos de um dormitório e kitchenettes, alcançando um número de 2.038 moradores oficiais. O embasamento assume o papel de estabelecer conexão com a cidade, mantendo o desnível existente do terreno, acompanhando, assim, a inclinação presente na rua. O piso da galeria surge em continuidade com o revestimento do piso da calçada,


não há a presença de degraus ao longo da circulação, apenas na soleira das lojas o desnível é vencido para concordância do piso inclinado com a laje horizontal do projeto. O programa abriga uma galeria comercial com 72 lojas, juntamente com um cinema ocupado atualmente por uma igreja. O projeto possui 5 entradas; os acessos as unidades habitacionais ocorrem perante a galeria, a partir da disposição de seis diferentes núcleos de entrada, compreendendo ao todo 20 elevadores. Há, por fim, 221 vagas para automóveis no subsolo. O projeto foi estruturado mediante a disposição de pilares arredondados distribuídos dois a dois. A carga chega ao andar técnico, pavimento de transição, posicionado acima da cobertura do embasamento, configurando no térreo pilares dispostos sutilmente ao longo da lâmina em formato curvo. Em termos de infraestrutura, o pavimento de transição configura um andar livre, onde ocorre as áreas técnicas de suporte ao abastecimento e escoamento de água, esgoto e eletricidade, permitindo uma manutenção eficaz do Conjunto Habitacional. Além disso, o edifício conta com um gerador com capacidade de operação por 6 horas, eficaz para os períodos de queda de energia.

6.3. Relação Edifício Copan com o Entorno Imediato

6.4. Entrada Galeria Comercial Edifício Copan

A construção do edifício COPAN atingiu as aspirações de São Paulo, em projetar um edifício que representasse o seu esplendor econômico. Mediante sua grandiosidade estrutural, seu programa multifuncional, e sua forma icônica, o empreendimento promoveu qualidade espacial a paisagem urbana.

6.5. Desnível Galeria Comercial - Edifício Copan

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6.3. Linked Hybrid Arquiteto Steven Holl Architects Localização Beijing China Ano do Projeto 2003- 2008 Articulação Programática 750 unidades habitacionais, zonas comerciais, hotel, cinemateca, escola e estacionamento Área do Terreno 61.800 m² Área Construída 221.000 m² O complexo híbrido buscou contrariar os comuns condomínios fechados usualmente desenvolvidos na China, concebendo espaços públicos integrados com o restante da cidade. Por meio da proposta de uma grande quantidade de conexões e meios de transposição, em favor da circulação horizontal e vertical, o projeto multifuncional estabelece harmonia com seu entorno imediato, o qual é marcado pela antiga muralha de Pequim.

6.6. Projeto Linked Hybrid

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O projeto possuí uma baixa taxa de ocupação devido a importância de seus extensos espaços abertos para o território; a grande área pública e os eixos de conexão promovem uma taxa de ocupação de 0,25. O alto Índice de Aproveitamento de 3,5, entretanto, garante além do emprego de alta densidade, a diversidade dos usos: 87,8% de uso habitacional, 7,2% de uso


comercial, 2,7% de uso institucional e 2,3% de uso hoteleiro. A edificação ainda propõe o desenvolvimento de diferentes formas de habitação coerentes com a atualidade. Soma-se um total de 720 unidades habitacionais, sendo 183 de um dormitório, 190 de dois dormitórios, 183 de três dormitórios, 114 de quatro dormitórios e 50 de cinco ou mais dormitórios. A essência do projeto consiste no estimulo de encontros nos espaços públicos, apropriando-se das lajes de cobertura, por meio da utilização de alturas variadas entre as oito torres da edificação, e mediante as inúmeras conexões. Os equipamentos variam de comerciais, educacionais e recreativos, estabelecendo suporte para além da grande quantidade de unidades habitacionais e integrando-se, de fato, com o meio urbano. O nível do térreo possui a fluidez necessária para conexão com as demais quadras da cidade, as lojas garantem a ativação do espaço urbano, e há um grande lago contemplativo. No nível intermediário, os prédios mais baixos possuem jardins e atividades públicas nos telhados e, nos demais níveis há atividades de uso privado e semi-público – incluindo jardins privados, restaurante, hotel, escola, jardim de infância e cinema.

6.7. Conexões entre os edifícios - Linked Hybrid

6.8. Terraços Públicos - Linked Hybrid

O empreendimento promove qualidade a forma da metrópole por meio da distribuição complexa de atividades de diferentes setores. Em conformidade com o conceito de quadra aberta, o território é dividido em áreas livres e edificações que promovem vistas inesperadas. Desenvolve-se, assim, uma boa proporção de vazios e sólidos que enriquecem a paisagem urbana.

6.9. Espaços Públicos - Linked Hybrid

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6.4. The Interlace Arquiteto OMA / Ole Scheeren Localização Cingapura Ano do Projeto 2013 Articulação Programática 750 apartamentos, espaços verdes públicos, zonas comerciais, hotel, cinemateca, jardim de infância, escola Montessori e estacionamento subterrâneo Área do Terreno 80.000 m² Área Construída 169.6000 m²

O projeto rompe com a produção tradicional de Singapura e produz trinta e um edifícios idênticos interligados. Os blocos formam uma cidade vertical, com terraços privados e públicos. A partir do arranjo hexagonal, configura-se diversos pátios abertos e permeáveis, com extensas áreas verdes em contribuição a qualidade de vida de seus usuários. Cada edifício possuí seis pavimentos, e dimensões iguais. Suas conexões horizontais promovem espaços sociais de maneira a reinterpretar o modo de vida contemporâneo em comunidade, ao em vez de propor apenas torres isoladas à cidade. As unidades habitacionais possuem tamanhos e valores variados,

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6.10. Projeto The Interlace

atendendo diferentes parcelas da população. Ao todo, o projeto possuí 1.040 unidades habitacionais. A privacidade dos moradores é mantida por meio do espaçamento generoso entre os blocos, onde ocorrem os pátios comuns. Há oito pátios principais, com 60 m de comprimento cada um, onde se define o coração do projeto e as principais atividades. Neles localizam-se a Praça Central, a Praça Teatro, e o Parque Aquático. Além disso, eles abrigam diversas outras atividades programáticas como, por exemplo, um clube, salas de jogos, academia, piscina, churrasqueira, horta orgânica, quadras de tênis e poliesportivas. As várias aberturas nos andares, juntamente com as extensas


varandas e terraços, permitem a ventilação cruzada nos pavimentos, e a passagem de luz para os pátios internos. Os pátios são sombreados pelos próprios edifícios, amenizando, assim, o clima tropical do país. O projeto foi desenvolvido com base nos recursos de sustentabilidade, sob uma análise solar e eólica dos edifícios. Dessa forma, o projeto recebeu o Prêmios Universal Design Mark Platinum e o Prêmio Green Mark Gold PLUS da Autoridade de Construção de Cingapura. O automóvel recebeu a atenção mínima o possível, as rotas veiculares foram minimizadas, e privilegiaram-se as áreas verdes ao longo da extensão do térreo. O estacionamento foi acomodado em um único pavimento de subsolo, onde os vazios projetados permitem a entrada de luz e ar naturalmente no nível semienterrado. A circulação dos pedestres, por sua vez, foi projetada de maneira bem localizada, levando os usuários do térreo para os pátios situados entre os edifícios. Dessa forma, cada pátio surge como um conector central. Além disso, há um sistema secundário de circulação vertical que leva os moradores diretamente para suas habitações, configurando, assim, grandes eixos de circulação, capazes de conectar diferentes blocos.

6.11. Composição entre os edifícios - Ther Interlace

6.12. Espaços Internos - The Interlace

O complexo habitacional, além de abordar a sustentabilidade ambiental, confere responsabilidade social, mediante a projeção de espaços de convívio que contribuem para o sentido de comunidade dos moradores. O projeto propõe atividades, serviços e grandes áreas públicas que melhoram a qualidade de vida no meio urbano.

6.13. Pátios entre os edifícios - The Interlace

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6.5. Contribuições Os projetos em análise abordaram questões de circulação e infraestruturas importantes para melhor compreensão de um edifício multifuncional. A distribuição equilibrada de espaços públicos e privados, juntamente com os acessos tanto das áreas comuns quanto dos apartamentos residências, foram bem exemplificados e analisados.

harmonia e legibilidade dos empreendimentos perante a cidade e os transeuntes. O fato dos projetos serem marcos no meio urbano, e a concepção de edifícios-cidade garantindo a multifuncionalidade, trazem benefícios projetuais a cidade, e uma melhor qualificação da composição da paisagem urbana.

Nota-se que os espaços de convívio contribuem para o sentido de comunidade dos moradores, e para a ativação de fato do espaço urbano, promovendo a ocupação e a segurança do projeto. O embasamento deve assumir o papel de estabelecer conexão com a cidade, e servir de suporte não apenas para as unidades habitacionais, mas para os moradores da cidade circundante. Para atender diferentes parcelas da população, contata-se que as unidades habitacionais devem possuir diferentes dimensões. A ventilação cruzada nos pavimentos é desejável, em busca de um melhor conforto ambiental. Além disso, verifica-se que a privacidade necessária aos moradores, pode ser garantida por meio do espaçamento generoso entre os blocos, o que também permite a passagem de luz para os pátios internos. A composição formal dos projetos, mostra-se importante para

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6.14. Linked Hybrid


6.15. Composição dos Edifícios - Linked Hybrid

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Abordaremos, detalhadamente, nesse capítulo o projeto do Complexo Multifuncional no Núcleo Conde de Sarzedas desenvolvido, com base nos fundamentos teóricos e premissas discutidas anteriormente, em benefício da densidade populacional no Centro da cidade de São Paulo.


07 Resposta ArquitetĂ´nica


7.1. Políticas Públicas + Diretrizes Urbanas O Complexo Multifuncional se encontra em uma área pertencente a Operação Urbana Centro. As Operações Urbanas são instrumentos de diretrizes urbanísticas, previstos no Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257 de 2001) e no Plano Diretor Estratégico – PDE (Lei n 16.050 de 2014), que estabelecem normas e incentivos específicos ao adensamento populacional e construtivo de determinada região. A Operação Urbana Centro abrange os territórios do Brás, Bixiga, Santa Ifigênia, Vila Buarque e Liberdade; possuí o objetivo, conforme a Gestão Urbana da Prefeitura de São Paulo define, de promover a revitalização do Centro revertendo seu processo de deterioração. Apesar de o instrumento prever a produção de novas construções, à regularização de imóveis, e a adequação das edificações que necessitam de reforma, o projeto será revisado, conforme o PDE de 2014 definiu em seu §2º do art. 382 artigo, em busca de se adequar de fato ao Estatuto da Cidade e de definir mecanismos, procedimentos e modos de intervenções públicas. Essa fato justifica-se uma vez que a OUC não apresenta um programa prévio de obras e aplicações dos recursos arrecadados pela venda de potencial construtivo. Dentre as principais diretrizes urbanas, há o plano de preser-

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vação do patrimônio histórico, e a diversificação de usos, principalmente o habitacional e cultural. Os principais incentivos, que a Lei da OUC prevê para o uso misto, consistem no emprego do coeficiente de aproveitamento máximo com valor construtivo de 6, não computando a área destinada a fruição público no térreo, juntamente com a área destinada a equipamentos de cultura e educação em geral. Além disso, é definido que a aplicação de reserva para espaço de estacionamento de veículos é dispensável, devido ao suporte de transporte público na região central. O Plano Diretor Estratégico do Município (PDE) de São Paulo, reformulado em julho de 2014, é responsável por direcionar o desenvolvimento da cidade até 2030; e orientar as composições de espaço urbano: público e privado. Uma de suas mais importantes diretrizes consiste em direcionar o crescimento da cidade nas proximidades do transporte público. Para isso, foram elaborados determinados instrumentos urbanísticos como, por exemplo, a utilização de Fachada Ativa, que estabelece o comércio, o serviço e os equipamentos na testada do edifício, como maneira de beneficiar a apropriação da cidade. Além disso, o PDE foi responsável por estabelecer os elementos


de estruturação e ordenação territorial, a partir da classificação da cidade em Macrozonas e Macroáreas. As Macrozonas são áreas previstas a partir da divisão do território em espaços homogêneos, que possuem objetivos específicos de desenvolvimento urbano. Desse modo, desenvolveram-se duas Macrozonas: A Macrozona de Proteção e Recuperação Ambiental, localizada na periferia do Município, e a Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana, situada integralmente na Zona Urbana de São Paulo. As Macroáreas, por sua vez, possuem o papel estratégico de articular a estruturação do território a partir dos padrões de uso e ocupação diagnosticados. Dividiu-se, assim, o Munícipio em oito Macroáreas: Macroárea de Estruturação Metropolitana; de Urbanização Consolidada; de Qualificação da Urbanização; de Redução Da Vulnerabilidade Urbana; de Redução da Vulnerabilidade Urbana e Recuperação Ambiental; de Controle e Qualificação Urbana e Ambiental; de Contenção Urbana e Uso Sustentável; e de Preservação dos Ecossistemas Naturais. O Complexo Multifuncional, por encontra-se dentro Zona Urbana de São Paulo, possuí a classificação de Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana e, por ser um polo de comércio e serviço de tamanha articulação com as demais regiões da cidade, pertence à Macroárea de Estruturação Metropolitana. O projeto é localizado no Setor Central, o qual abrange o território da Operação Urbana Centro, sob as características de necessidade de equilíbrio na relação entre emprego e moradia.

7.1. - Diretrizes Plano Diretor Estratégico - 2014

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7.2. - Linha do Tempo Diretrizes Urbanas

Os principais objetivos a serem alcançados pelo Setor Centro consistem na qualificação dos sistemas ambientais, na manutenção da população residente a partir da promoção de urbanização e regularização fundiária, e a produção de Habitação de Interesse Social (HIS), juntamente com Habitação do Mercado Popular (HMP). Em 2016, A Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo (LPUOS), conhecida como Lei de Zoneamento, foi atualizada para entrar de acordo com os princípios do Plano Diretor Estratégi-

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co. A lei prevê, a partir dos elementos, de estruturação e ordenação territorial classificados pelo PDE, três diferentes tipos de agrupamentos territoriais - Territórios de Transformação, Qualificação e Preservação – mediante a premissa de configurar uma cidade articulada e integrada. Almeja-se que a nova divisão territorial torne mais eficaz a promoção de densidade, e a solução das desigualdades sociais e particularidades locais. O Projeto do Complexo Multifuncional se localiza no Território de Qualificação e é formado pela Zona Específica de Interesse Social III.


As Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) são instrumentos urbanísticos de política para reserva de áreas, dotadas de infraestrutura, serviços, comércios e equipamentos públicos, destinadas a HIS e HMP. Deseja-se trazer a população de baixa renda das periferias para localizações com grande oferta de empregos. O PDE estabelece que as propriedades projetadas, em áreas de ZEIS, devem cumprir funções sociais e normas específicas. O tipo de ZEIS III se localiza em imóveis subutilizados, ou encortiçados, em áreas com grande infraestrutura; e prevê a destinação de área de 80% para promoção de HIS e 20% para HMP. Entretanto, há exceções a obrigatoriedade de área construída, para imóveis públicos destinados a equipamentos de infraestrutura urbana em geral: relacionados a educação, saúde, cultura, esportes e lazer. O Complexo Multifuncional é localizado em uma ZEI de tipo três por encontrar-se em um terreno subutilizado, com a presença de um grande estacionamento e de construções de pouco valor arquitetônico e social. Levando-se em consideração o fato do terreno de intervenção ser público, o projeto está promovendo 30% de infraestrutura urbana a partir da construção de uma Galeria Comercial e de uma Escola Técnica, 58% de HIS e 12% de HMP. As unidades de HIS possuem diferentes tipos habitacionais: 36 apartamentos kitchenette com 26 m², 106 apartamentos de um dormitório com 36 m², 103 apartamentos de dois dormitórios com 55 m², e 20 apartamentos de três dormitórios com 66 m². Do mesmo modo, as unidades de HMP tam-

bém possuem diferentes tipos de habitação: 80 apartamentos kitchenette com 26 m², 10 apartamentos de dois dormitórios com 55 m², e 10 apartamentos de três dormitórios com 66 m². O Decreto nº 56.759, de Janeiro de 2016, atualizou as normas previstas para o desenvolvimento de HIS e HMP. Dessa forma, ambas as unidades habitacionais, destinadas às famílias de baixa renda, devem atender a regra, por exemplo, de possuírem no máximo 70 m² de área e no mínimo 24 m². As demais características podem ser notadas na tabela 3, por meio da divisão de normas destinas a HIS, a HMP, e as que são atribuídas para ambas.

Tabela 7.1. - Comparação Parâmetros HIS e HMP Desse modo, é possível constatar que as diretrizes urbanas e políticas públicas aplicadas na cidade de São Paulo foram parâmetros importantes para o desenvolvimento do projeto do Complexo Multifuncional.

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7.2. Diagnóstico Área de Intervenção + Partido Projetual O partido projetual se iniciou a partir de uma análise concreta do entorno existente. Buscou-se entender a dinâmica do território reconhecendo os elementos estruturadores da paisagem urbana: marcos, limites, pontos nodais, vias e bairros. As vias que circundam todo o terreno de intervenção são importantes canais de circulação, tanto dos automóveis quanto dos transeuntes. O projeto buscou a eficiência direcional por meio da projeção de fluxos capazes de conectar as principais vias em diferentes níveis topográficos, uma vez que o terreno de intervenção apresenta um desnível de cerca de 20 metros. Os limites diagnosticados consistiram nos muros que delimitam o complexo do projeto existente ao lado. A integração entre ambos foi desenvolvida por meio da projeção de massas arbóreas e áreas de permanência, interligadas com as funções programáticas em diferentes níveis do projeto. O caráter específico do Bairro, suas necessidades culturais e programáticas, suas formas diversificadas, e seus Marcos, foram analisados para a projeção de um complexo que contribuísse para a SUA unidade territorial. Exemplifica-se tal contexto, mediante a análise realizada do Bairro, em que se verificou uma grande quantidade de equipamentos para as primeiras idades e equipamentos universitários, mas uma carência de escolas técnicas. Dessa

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forma, promoveu-se o projeto da Escola Técnica Administrativa interligada ao projeto por meio da Praça Pública Intermediária. Os principais Pontos Nodais, analisados no contexto da área em estudo, são a Praça da Sé, e a Praça João Mendes nas imediações do terreno de intervenção. Ambas possuem grande importância para o contexto urbano e apresentam movimentação constante, então, buscou-se estender a Praça João Mendes para de fato à frente do projeto, conectando-os na pretensão de atrair a presença dos usuários da praça ao complexo. Além disso, o Complexo Multifuncional, em si, por meio de todo seu programa, seus fluxos, e áreas públicas, possui o princípio de ser um Ponto Nodal para a cidade, estabelecendo o preceito de conexão com os outros elementos urbanos. O projeto também possuí a aspiração de constituir um Marco para a cidade, podendo ser visto de diferentes ângulos pelos transeuntes, constituindo detalhes urbanos e reforçando a identidade do núcleo. Em seu entorno imediato, entretanto, já há a presença de consolidados Marcos Urbanos, como o Palácio da Justiça, o Fórum João Mendes Jr. e a Catedral da Sé. Pretendeu-se, além disso, manter os edifícios de época integrados a realidade diversificada do complexo. A Capela do Menino Jesus e Santa Luzia foi absorvida ao projeto, por meio da concepção


7.3. - Cartografia composta pela“Forma Visual” da Área de Intervenção contendo o Bairro da Liberdade - Realizado a partir do conteúdo estudado por Kevin Linch

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de uma praça que se inicia em suas imediações e adentra a galeria comercial. Os percursos projetados ao longo do projeto buscaram viabilizar o prazer na experiência cotidiana de transitar pela cidade. Em benefício da qualidade visual, almejou-se o princípio da Legibilidade da paisagem urbana, conceituado por Lynch, a partir da composição da imagem do projeto por meio de identidade, estrutura e significado. Desse modo, aspirou-se a qualidade visual através da necessidade de continuidade das vias já existentes por meio da disposição das praças, da projeção dos ambientes, e mediante a construção dos fluxos. Um dos fluxos propostos, por exemplo, foi baseado em estabelecer um trajeto da Capela do Menino Jesus até o Palacete Conde de Sarzedas, ambos edifícios de valor arquitetônico e cultural para a cidade. Privilegiou-se a harmonia formal das partes constituintes do complexo. As projeções formais dos edifícios; a composição dos cheios e vazios; a disposição das praças públicas; a localização dos elementos de transposição juntamente com suas jardineiras; e a expressividade do mobiliário projetado estabeleceram detalhes singulares, contudo unificados, no projeto. Adotou-se o aumento da penetração visual, mediante a quantidade de transparência projetada pela aplicação do vidro nas galerias, simultaneamente com uma continuidade em termos de materiais, através a aplicação constante do concreto aparente. A clareza obtida pela aplicação das formas primárias adotadas do projeto, por meio de elementos curvos e ortogonais simples,

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também reforçou a identidade do complexo. Em busca de não promover uma ruptura com a imagem existente da cidade, preservando os elementos fortes da paisagem, e estabelecendo uma composição única, buscou-se a utilização de artifícios de análise da paisagem urbana como, por exemplo, a Visão Serial de Cullen. A partir do estabelecimento de um percurso da Estação Sé, pertencente a linha azul e vermelha da rede metroviária de São Paulo, até o terreno de intervenção do Complexo Multifuncional, almejou-se a revelação de uma sucessão de pontos de vistas obtidos pelos transeuntes perante a paisagem da cidade. O impacto visual obtido pelas construções e marcos urbanos, juntamente com o conforto do caminhar proporcionado pelas ruas destinadas apenas aos pedestres e através as calças largas do Centro, desvendaram o efeito real do caminhar pelo território de intervenção. A partir do diagnóstico do impacto visual obtido pelas imagens do percurso, houve a necessidade de uma proposta que estabelecesse condições para a apropriação de fato do espaço por parte dos usuários, e que proporcionasse a sensação de estar em harmonia com a cidade, um projeto que fosse continuidade da cidade. Dessa maneira, elementos que contribuíssem para a ocupação do complexo foram projetados: Enclaves, espaços com acesso livre e abertos para as ruas desenvolvidos pelas praças externas; Recintos, locais de tranquilidade projetados pelas praças internas; e os Pontos Focais, espaços que sugerem a chegada ao Recinto, manifestados pelas áreas livres repletas


de mobiliários expressivos nas principais entradas do projeto. A relação Aqui e Além se tornou um importante partido projetual para o complexo. Os desníveis foram utilizados de maneira funcional para integrar os programas e os percursos do projeto. Desse modo, os elementos de transposição, as escadas e elevadores, foram dispostos estrategicamente de modo aos usuários terem que percorrer e usufruírem da galeria comercial. Além disso, almejava-se a focalização das saliências e reentrâncias dos espaços e elementos sinuosos do projeto. As linhas sinuosas foram imprescindíveis para direcionar os percursos, refletindo uma gama de situações e possibilidades de como percorrer o projeto e vencer os desníveis, harmoniosamente, existentes na cidade. Nota-se tal relação formal estabelecida no complexo por meio da definição de Ondulação formulada por Cullen: “Ondulação não é apenas uma linha sinuosa e sem objetivos, mas sim o desvio obrigatório a um eixo ou norma invisíveis, com vista a proporcionar o prazer de coisas tão elementares e vitais como a luz e sombra (o contrário da monocromia), ou proximidade e distância (o oposto do paralelismo) e como a leve agitação da folhagem ao sabor de uma brisa suave ou como um mesmo pensamento expresso de várias maneiras diferentes. Qualquer que seja a forma com que se apresente, revela toda a gama de possibilidades contida numa dada situação.” (CULLEN, 1961, P. 48)

Conclui-se que o partido projetual esteve totalmente integrado ao diagnóstico da área de intervenção, aspirando estabelecer artifícios para integração e composição da cidade de modo harmônico.

7.4 - Cartografia Visão Serial Percurso Sé - Terreno de Intervenção

125


7.5 - Visão Serial Percurso Sé - Terreno de Intervenção 126


127


7.3. A Multiplicidade de Usos A concepção do Complexo Multifuncional na centralidade da cidade de São Paulo justifica-se sob o repertório teórico de promover habitação de interesse social integrada com toda a infraestrutura presente no bairro da Liberdade. O projeto permite estimular mais diversidade para seu território de intervenção, mediante a combinação de diferentes tipos habitacionais, e a partir da sobreposição de usos e atividades programáticas. Para promover a Diversidade Urbana de fato, buscou-se projetar diferentes níveis de programa, de modo a assegurar a presença de pessoas que circulem pelo complexo em diferentes horários do dia. Desenvolveu-se uma Escola Técnica com cursos no campo administrativo, de suporte para o poder judiciário presente no entorno imediato; uma Galeria Comercial com a presença de lojas de diferentes dimensões, juntamente com praças de alimentação, cafés, quiosques e áreas expositivas; e Unidades Habitacionais de Interesse Social, bem como, para o Mercado Popular, ambas sob diferentes tipos (kitchenettes, apartamentos de 1, 2 e 3 dormitórios). O projeto estabelece um partido contrário aos conjuntos habitacionais cercados; é desenvolvido como extensão das ruas da cidade, levando em consideração os princípios de Cidade Compartilhada de Jane Jacobs. A ampla quadra, pertencente

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ao terreno de intervenção, não foi alvo de parcelamento e, assim, pode oferecer diferentes possibilidades de percursos, de apropriação e de ambiências. Aspirou-se a constituição de um complexo identificado como centralidade, sendo cruzamento e meio de conexão com os territórios circundantes, e ponto de parada através sua articulação programática. As praças públicas são capazes de valorizar o projeto e sua vizinhança, contudo buscando não torná-las vazios urbanos, as projetou-se em localizações estratégicas, em proximidade com cafés, restaurantes e usos de grande vitalidade para o projeto. Além disso, partiu-se do fundamento de que para promover a real Diversidade Urbana, a densidade proposta deve possuir um valor em equilíbrio com a morfologia urbana, buscando a quantidade máxima de pessoas para usufruir todo o potencial de infraestrutura do complexo. (A+T RESERCH GROUP) Adotou-se como indicador de densidade o Coeficiente de Aproveito (CA), ao em vez da quantidade de unidades habitacionais por hectare, levando em consideração que a densidade não deve ser afetada pela mescla de usos, a qual é desejável ao projeto. As diretrizes impostas ao terreno de intervenção previam um CA máximo de valor construtivo 4, podendo chegar a 6 se necessário a partir da Operação Urbana Centro. Dessa forma, em


7.6. - Atualização do Gráfico Formas Genéricas e Formas Específicas elaborado pelo grupo A+T, com a presença do Complexo Multifuncional

129


130

7.7. Projeto Complexo Multifuncional.


busca de um equilíbrio formal, o projeto adotou um CA de 3.5, e em prol de desenvolver quadras com boas proporções entre cheios e vazios para enriquecer a forma urbana e os espaços públicos, adotou-se a taxa de ocupação com 50% térreo construído. Abordando a categorização morfológica realizado pelos pesquisadores do Grupo A+T, a partir dos estudos de Densidade Urbana, é possível classificar o Complexo Multifuncional, dentre as 9 formas abstratas, como uma forma genérica de “Embasamento com Torres”, a partir da composição do embasamento multifuncional em conjunto com as torres habitacionais do complexo. Comparando suas características projetuais com outros projetos analisados pelo Grupo A+T como, por exemplo, 8 House do Big Architects, pode-se, além disso, classificar o complexo como uma “Megaforma Urbana”, dentre as 16 formas específicas de edifícios, influentes na composição da paisagem, elaborados pelo Grupo. Tal classificação deve-se a partir da criação de um polo de atração no território, que se estrutura mediante a união de quadras, contrariando o plano comum da cidade. A ausência de uma trama predominante, proposta no complexo, aumenta a oportunidade para criar situações e eventos no núcleo urbano, como um Ponto Nodal para o Bairro, conforme analisa-se no livro, elaborado pelo Grupo, “Why Density?” a respeito das Megaformas Urbanas: “Essas quadras híbridas operam no solo a partir da superfície do terreno que ocupam, e também com os vazios que produzem, com as conexões que estabelecem e com

as atividades que criam.” (A+T RESEARCH GROUP, 2015, P. 78) Além disso, quando o Complexo Multifuncional é inserido no gráfico de equilíbrio da forma urbana, desenvolvido pelo Grupo, onde os indicadores horizontais representam a taxa de ocupação e os indicadores verticais o coeficiente de aproveitamento, o projeto encontra-se no centro do gráfico, juntamente com as quadras mais equilibradas, em termos de forma e densidade, com índice de altura médio. Para mais, encontra-se no triângulo de ouro, ponto central do gráfico e qualificado por projetos que possuem de fato a densidade desejada a metrópole, comprovando, assim, que o projeto propõe efetivamente espaços densos, compactos, mistos, intensivos e diversos. Pode-se concluir, que se aspirou a criação de uma paisagem urbana intensiva, e coerente com o modo de vida contemporâneo. Para garantir a alta densidade e a diversidade urbana, não se adotou os métodos tradicionalistas de análise de moradias por hectare, e sim garantiu-se o uso multifuncional do território mediante o estabelecimento do equilíbrio entre o coeficiente de aproveitamento e a taxa de ocupação.

131


7.4 O Projeto O Complexo Multifuncional foi projetado de maneira a se integrar com a cidade. Dessa forma, foram propostos fluxos de modo a expandir o complexo para a cidade.A implantação buscou incentivar a conexão entre os usuários com o entorno imediato, mediante a projeção de praças e espaços públicos de transição entre as ruas e os ambientes funcionais do projeto. O complexo é conectado com a cidade por meio de 4 ruas em

FLUXOS

132

CIRCULAÇÃO VERTICAL

suas delimitações: Rua Tabatinguera, Rua Conselheiro Furtado, Rua Conde de Sarzedas e Rua Oliveira Monteiro. O acesso de veículos, entretanto, se dá apenas pela Rua Tabatinguera, e permite o ingresso ao estacionamento de carga localizado no subsolo semienterrado do nível 17,00 do complexo. O projeto possuí diferentes térreos conectados entre sí, uma vez que o terreno de intervenção apresenta cerca de 20 metros de desnível.

PROGRAMA


IMPLANTAÇÃO 133


ESCOLA TÉCNICA A cota 0,00 apresenta a entrada da Escola Técnica, e o pavimento destinado a área administrativa, de convivência e de suporte técnico para a escola. O nível 3,60 possui as salas de aula e áreas de permanência da escola e, apesar de não possuir um extenso solar, supre suas necessidades mediante a Praça Pública Intermediária localizada no pavimento acima (cota 7,20) e acessada por meio de uma escada circular ou elevador. O pavimento acima, além de possuir a praça, abriga a primeira área técnica de suporte aos edifícios habitacionais. ARTICULAÇÃO PROGRAMÁTICA 1. Hall Social 2. Reunião 3. Área Funcionários 4. Vestiários 5. Copa 6. Diretoria 7. Coordenação 8. Recepção 9. Papelaria 10. Administração 11. Mini Auditório

134

12. Sanitários 13. Deposito 14. Sala Computação 15. Sala Computação 16. Área de Estudo 17. Refeitório 18. Cantina 19. Sala de Aula 20. Cozinha 21. Despensa 22. Sala de Multimídia


Planta Escola Técnica Nível + 07,20

0

2

4

8

12

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Planta Escola Técnica Nível + 03,60

0

136

2

4

8

12


Praça Intermediária Nível + 07,20

0

2

4

8

12

137


GALERIA COMERCIAL Após a Praça Pública Intermediária, o terreno acompanha o desnível da rua até chegar ao térreo no pavimento de nível 12,00. O Térreo Conde de Sarzedas, possuí acesso direto a rua de mesmo nome, e apresenta o primeiro nível da Galeria Comercial. Possuí um restaurante, uma loja âncora e lojas de diferentes dimensões dispostas por toda a extensão do projeto. Possui, também, as outras duas áreas técnicas destinadas ao conjunto habitacional, juntamente com a área de apoio e do estacionamento de suporte a Galeria. Além disso, esse nível comporta a Praça Conde de Sarzedas, o qual possui duas escadas monumentais de transposição para o nível superior; e a Praça da Galeria, conectada ao restaurante e com outra escada monumental de acesso a Capela do Menino Jesus e Santa Luzia. O nível 17,00 apresenta o térreo que conecta a Rua Conselheiro Furtado com a Rua Tabatinguera. O pavimento possui duas lojas âncoras, um restaurante e uma praça de alimentação com módulos destinados a lanchonetes e cafés. O andar comporta, além disso, a Praça Conselheiro que estabelece acesso ao nível superior por meio da projeção de outra escada monumental; e a Praça da Igreja que conecta o projeto a Capela por intermédio de espelhos d’águas e áreas de permanência. Além disso, nesse nível os edifícios que abrangem a Galeria Comercial são

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interligados por uma passarela que permite a contemplação do Térreo Conde de Sarzedas e do entorno circundante. O pavimento 20,6 apresenta no Edifício 1 o último pavimento da Galeria Comercial com acesso direto a Praça João Mendes. Há lojas, de diferentes tamanhos, dispostas ao longo de sua extensão, e a presença de duas lojas âncoras nas extremidades do projeto. O Edifício 2 compreende nesse nível a área comum do Conjunto Habitacional, e apresenta acesso apenas pelos núcleos verticais da Galeria Comercial, os quais possuem controle de acesso. O espaço de lazer apresenta quatro salões de festas e uma brinquedoteca, juntamente com o extenso solar e diferentes áreas de permanência. ARTICULAÇÃO PROGRAMÁTICA 1. Área Expositiva 10. Estacionamento Serviço 2. Restaurante 11. Controle de Acesso 3. Cozinha 12. Loja Âncora 4. Deposito 13. Loja Pequena 5. Área Técnica 14. Loja Grande 6. Manutenção 15. Módulo Alimentação 7. Área Funcionários 16. Sanitários 8. Administração 17. Salão de Festas - Residencial 9. Atendimento ao Público 18. Salão de Jogos - Residencial


TÉRREO CONDE DE SARZEDAS Nível + 12,00

0

4

8

16

32

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TÉRREO CONSELHEIRO + TABATINGUERA Nível + 17,00

0

140

4

8

16

32


TÉRREO JOÃO MENDES Nível + 20,60

0

4

8

16

32

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HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL + MERCADO POPULAR Os demais pavimentos comportam os edifícios residenciais. Seus acessos são controlados e se dão exclusivamente perante a Galeria Comercial. O Edifício 1 (Ver Figura 7.8.), compreendido pela Galeria, comporta os edifícios residenciais destinados ao mercado popular: Edifício 3, 4 e 5. O Edifício 3 apresenta 5 andares com apartamentos de três dormitórios e estilo kitchenette. O Edifício 4 também possuí 5 andares, entretanto com apartamentos de dois dormitórios e kitchenettes. O Edifício 5, interliga os Edifícios 3 e 4 por meio de uma viga treliçada com altura de um pavimento tipo (3,6 m); e possuí apartamentos de dois e três dormitórios, juntamente com kitchenettes. Nota-se que o Edifício 3 apresenta um núcleo vertical, o Edifício 4 apresenta outro núcleo, e o Edifício 5 apresenta os dois núcleos verticais anteriores. Acima do Edifício 2 há os edifícios 6, 7 e 8, ambos destinados aos apartamentos com Habitações de Interesse Social (HIS). O Edifício 6 possuí 11 andares com apartamentos de um e dois dormitórios, ele é conectado ao Edifício 7, mediante uma viga treliçada com as mesmas características que a projetada para compor o Edifício 5. O Edifício 7 possuí 11 andares e oferece apartamentos de um dormitório ao longo de sua extensão, e de três dormitórios em sua extremidade direita. O Edifício 8 com-

142

porta 9 andares, localiza-se a cima da viga treliçada, e possuí apartamentos de dois dormitórios e de três dormitórios também na extremidade direita. Os Edifícios 8 e 7 possuem o mesmo núcleo de circulação. O edifício 6, por sua vez, compartilha apenas seus elevadores com o Edifício 9. O Edifício 9, por fim, apresenta 6 pavimentos com kitchenettes e apartamentos de um dormitório, também destinados à habitação de interesse social. O edifício está acima dos Edifícios 4 e 6, e compartilha os seus núcleos de circulação vertical. Ele apresenta uma grande estrutura treliçada que conecta os Edifícios 4 e 6, com as mesmas características que as fixadas nos prédios anteriores. Todas as vigas treliçadas previstas no projeto apresentam uma chapa metálica, soldada na grande estrutura treliçada e chumbada na estrutura de concreto, que permite a estruturação de fato de tais elementos. Todo o projeto se estrutura a partir do concreto, apenas a partir do emprego das vigas treliçadas metálicas o projeto se torna de estrutura mista.


EDIFÍCIO 08

EDIFÍCIO 09

EDIFÍCIO 06

EDIFÍCIO 07

EDIFÍCIO 05

EDIFÍCIO 02

EDIFÍCIO 04

EDIFÍCIO 03

EDIFÍCIO 01

7.8. Projeto Complexo Multifuncional.

143


EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS Nível + 20,60 até 38,60

TIPOS DE APARTAMENTOS: Kitchenette 1 Dormitório 2 Dormitórios 3 Dormitórios

Escala: 0

144

4

8

16

32


PLANTAS TIPO Ao todo foram criados 4 tipos de plantas distribuídas de maneira modular e coerente pelo projeto. Desse modo, dois módulos estruturais de menor dimensão, 8,4 metros cada, podem conter dois apartamentos de dois dormitórios, ou quatro kitchenettes, ou três apartamentos um dormitório, ou dois apartamentos de três dormitórios quando não há a presença de corredor, ao contrário dos tipos anteriores. A maior dimensão modular dos edifícios residências, entretanto, possuí 9,6 metros. Por fim, todo o projeto, englobando as áreas destinadas à galeria e à escola, segue uma modulação estrutural com múltiplos de 1,20, estabelecendo um rigor projetual desejável a proporção dimensional do projeto.

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EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS Nível + 38,60 até 60,2

TIPOS DE APARTAMENTOS: Kitchenette 1 Dormitório 2 Dormitórios 3 Dormitórios

Escala: 0

146

4

8

16

32


EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS Nível + 60,20 até 96,20

TIPOS DE APARTAMENTOS: Kitchenette 1 Dormitório 2 Dormitórios 3 Dormitórios

4

Escala: 0

8

16

32

147


148

7.8. Projeto Complexo Multifuncional.


Corte A-A 149


Corte B-B 150


Corte C-C 151


Corte D-D 152


Corte E-E 153


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Complexo Multifuncional - Entrada Nível Praça João Mendes


Complexo Multifuncional - Entrada Rua Conde de Sarzedas

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Complexo Multifuncional - Entrada Rua Tabatinguera


8. Considerações Finais O objetivo de percorrer o tema de Composição da Paisagem Urbana foi contribuir para a reflexão da qualidade do espaço presente nas cidades. Desejava-se estabelecer parâmetros de intervenção que levassem o projeto, ao mesmo tempo em que se integrasse com o entorno construído, fosse alvo de apropriação dos transeuntes e trouxesse benefícios para a centralidade de São Paulo.

cional na região central de São Paulo, mediante os estudos de Cidade Compacta e Compartilhada. Almejava-se a concepção além de um empreendimento, a projeção de um território com a presença de fluxos que interligassem os diferentes níveis da cidade, e a composição de espaços públicos e privados que funcionassem, de fato, como contribuição para seus usuários.

Ao longo do estudo inicial de expansão urbana, constatou-se o grande potencial existente na região central repleta de infraestrutura, mas mal ocupada e deteriorada ao longo dos anos. Diagnosticou-se assim, que projetos de intervenção do Centro por si só não promoviam a sua revitalização, que era necessário à sua ocupação de fato por residentes fixos. A decisão de intervir no bairro da Liberdade, veio da indignação da quantidade de terrenos ociosos e subutilizados na região com grande potencial construtivo e social. Propôs-se, então, a concepção de um Complexo Multifuncional que proporcionasse Diversidade Urbana, Densidade e Legibilidade da Paisagem para a revitalização de fato do Centro de São Paulo. Conclui-se que o principal partido projetual do Complexo consistiu em aliar os conceitos estudados de Composição da Paisagem Urbana, com a proposta de adensamento popula-

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Complexo Multifuncional - Entrada Conde de Sarzedas


9. Lista de Tabelas e Figuras Capítulo 01: Figura 1.0. - Panroama Centro de São Paulo. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/twiga_swala/3623034596/>. Acesso 25.05.2018. Figura 1.1. - Triângulo Histórico. Cartografia com a delimitação do Triâgulo Histórico confeccionada pela aluna. Base obtida do Mapa Digital da Cidade. Acesso 25.05.2018. Figura 1.2. - Avenida Palista - 1891. Disponível em: < https:// vejasp.abril.com.br/blog/listamania/fotos-antigas-sp/>. Acesso 25.05.2018. Figura 1.3. - Faculdade de Direito e Igreja São Francisco -1900. Disponível em: < https://vejasp.abril.com.br/blog/listamania/fotos-antigas-sp/>. Acesso 25.05.2018. Figura 1.4. - Avenida Brigadeiro Luís Antônio e Rua Riachuelo - 1900. Disponível em: < https://vejasp.abril.com.br/blog/ listamania/fotos-antigas-sp/>. Acesso 25.05.2018. Figura 1.5. - Trilhos de Bonde - Ruas Direita e São Bento 1902. Disponível em: < https://vejasp.abril.com.br/blog/listamania/fotos-antigas-sp/>. Acesso 25.05.2018. Figura 1.6. - Rua Direita em Direção a Praça Patriarca - 1915.

Disponível em: < https://vejasp.abril.com.br/blog/listamania/ fotos-antigas-sp/>. Acesso 25.05.2018. Figura 1.7. - Vale do Anhangabaí - Década 1930. Disponível em: <https://vejasp.abril.com.br/blog/listamania/fotos-antigas-sp/>. Acesso 25.05.2018. Figura 1.8. - panorama Cidade de São Paulo - 2013. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/roevin/ with/8676747766/>. Acesso 25.05.2018. Tabela 1.1. - Município de São Paulo: População por Anéis – 1900 a 2010. Dados fornecidos pela pesquisadora Suzana Pasternak. Disponível em: <http://www.observatoriodasmetropoles.net/download/Censo_2010_Sao_Paulo.pdf>. Acesso 20.10.2017. Tabela 1.2. - Município de São Paulo: Taxas Geométricas de Crescimento Populacional por Anéis -1960 a 2010. Dados fornecidos pela pesquisadora Suzana Pasternak. Disponível em: <http://www.observatoriodasmetropoles.net/download/Censo_2010_Sao_Paulo.pdf>. Acesso 20.10.2017. Figura 1.9. - Panorama Favela Capão Redondo em São Paulo - 2008. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/nariobarbosa/with/15900164346/>. Acesso 25.05.2018.

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Capítulo 02: Figura 2.1. - Vale do Anhangabaú visto a partir a partir do viaduto do Chá - 1955. Disponível em: <http://g1.globo.com/ pop-arte/noticia/2013/08/catalogo-reune-fotografias-raras-de-sao-paulo-na-decada-de-1950.html>. Acesso 25.05.2018. Figura 2.2. - Edifício Guinle. Disponível em: < http://www.saopauloinfoco.com.br/edificio-guinle/>. Acesso 26.05.2018.

Figura 3.2. - Cartografia com a delimitação Oficial do Bairro da Liberdade, confeccionada pela aluna. Base obtida do Mapa Digital da Cidade, de acordo com os dados do Livro Inventário Geral do Patrimônio Ambiental, Cultural e Urbano de São Paulo.

Figura 2.3. - Edifício Sampaio Moreira. Disponível em: <http:// refugiosurbanos.com.br/casas-predios/edificio-sampaio-moreira/>. Acesso 26.05.2018.

Figura 3.3. - Praça João Mendes - 1860. Figura obtida no livro Inventário Geral do Patrimônio Ambiental, Cultural e Urbano de São Paulo.

Figura 2.4. - Palacete Riachuelo. Disponível em: <http://www. atitudebrasil.com/capital/?p=399>. Acesso 26.05.2018.

Figura 3.4. - Rua da Glória, esquina com 7 de Setembro 1860. Figura obtida no livro Inventário Geral do Patrimônio Ambiental, Cultural e Urbano de São Paulo.

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capturada pela aluna. Figura 3.25. - Vista II - Rua Conselheiro Furtado - 2018. Fotogradia capturada pela aluna. Figura 3.26. - Vista III - Rua Conde de Sarzedas - 2018. Fotogradia capturada pela aluna. Figura 3.27. - Vista IV - Rua Oliveira Monteiro - 2018. Fotogradia capturada pela aluna. Figura 3.28. - Cartografia Terreno de Intervenção confeccionada pela aluna. Base obtida do Mapa Digital da Cidade, de acordo com os dados do Livro Inventário Geral do Patrimônio Ambiental, Cultural e Urbano de São Paulo.

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