Correio Braziliense

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20 • Cidades • Brasília, domingo, 24 de janeiro de 2016 • CORREIO BRAZILIENSE

SAÚDE / Dados de associação revelam que sete em cada dez pessoas morrem sem conseguir o procedimento. A fila de espera no primeiro mês do ano chega a 239 pessoas na capital. Em 2015, 674 pacientes realizaram a cirurgia, segundo a Central de Transplantes

Transplantes esbarram na família » OTÁVIO AUGUSTO doação de órgãos é um tema que coloca lado a lado vida e morte e, para muitos pacientes, essa é a única alternativa de cura. Contudo, 38% dos possíveis doadores não completam a ação no Distrito Federal. No ano passado, 51,2% dos brasilienses que precisavam do procedimento não conseguiram. Dos 1.382 que estavam na fila de espera por um coração, córneas, fígado ou rim, apenas 674 chegaram ao centro cirúrgico. Indicadores da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) revelam que, em média, sete em cada 10 pessoas morrem sem conseguir o transplante. Hoje, o fator determinante é a recusa das famílias dos possíveis doadores. Entre as 73 famílias entrevistadas, 28 se negaram a disponibilizar os órgãos. “Até 2014, a média de recusa tem caído. Com mais médicos na central de transplante, a gente sistematizou melhor o contato com as famílias e estreitou o relacionamento. Normalmente, são situações muito críticas, casos graves e as pessoas ficam abaladas”, explica Daniela Salomão, coordenadora da Central de Captação de Órgãos do DF. OBrasilpossuiosegundomaior sistema de transplantes do mundo — ano passado, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou mais de 23 mil procedimentos. Perde apenas para o dos Estados Unidos, com cerca de 25 mil operações. “Não faltam potenciais doadores, mas só aproveitamos cerca de 25%. Esse índice é preocupante, temos que melhorar a infraestrutura”, diz José Lima Oliveira Júnior, coordenador da comissão de remoção de órgãos da ABTO, especialista em transplante de coração (leia Cinco perguntas para).

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Sensibilização “A doação é multifatorial e, até chegar à etapa para entrevistar

Requisitos para doação » Ter identificação e registro hospitalar. » Não apresentar hipotermia, hipotensão arterial ou estar sob efeitos de drogas depressoras do Sistema Nervoso Central. » Passar por dois exames neurológicos que avaliem o estado do tronco cerebral. Os exames devem ser feitos por dois médicos que não participam das equipes de captação e de transplante. » Submeter-se a exame complementar que demonstre morte encefálica, caracterizada pela ausência de fluxo sanguíneo no cérebro, inatividade elétrica e metabólica cerebral. » Estar comprovada a morte encefálica. » Equipe de captação de órgão deve informar de forma clara e objetiva que a pessoa está morta e que, nessa situação, seus órgãos podem se doados para transplante. Quem recebe os órgãos? » Quando o potencial doador efetivo é reconhecido, a central de transplantes é comunicada, pois apenas ela tem acesso aos cadastros técnicos com informações de quem está esperando um órgão. A escolha do receptor definida seguindo a ordem da lista de espera leva em consideração: compatibilidade entre doador e receptor, tempo de espera e urgência.

uma família, é um procedimento longo. Tem muita recusa por causa da cultura e de crença religiosa. O que muda essa realidade é a educação, temos que falar de maneira mais clara sobre a doação de órgãos”, alerta Daniela Salomão. Nem todos os pacientes que têm morte cerebral podem doar. Contudo, todos os pacientes com esse diagnóstico entram na lista de possíveis doadores. Por exemplo, em 2015, dos doadores da capital federal, 15 morreram vítimas de traumatismo craniano; 12, de acidente vascular cerebral; e 10, de outros males. Para concluir o transplante, a equipe médica analisa o histórico de doenças do possível doador. Quando a sociedade é muito miscigenada, as dificuldades aumentam, por exemplo, para o caso do transplante de medula óssea. Por isso, é preciso ter muitos inscritos na central de captação.

A doação é multifatorial e, até chegar à etapa para entrevistar uma família, é um procedimento longo. Tem muita recusa por causa da cultura e de crença religiosa. O que muda a realidade é a educação, temos que falar de maneira mais transparente sobre doação de órgãos” Daniela Salomão, coordenadora da Central de Transplantes do DF

Para saber mais

Seja um doador sea ou parte do pulmão. A lei permite o procedimento sem autorização judicial quando os pacientes têm parentesco de até o quarto grau ou são cônjuges. No caso de doadores falecidos, o paciente tem que ter tido diagnóstico de morte encefálica.

Coração, pulmões, fígado, pâncreas, intestino, rins, córnea, vasos, pele, ossos e tendões podem ser doados nesses casos. Em todos os casos, os órgãos passam por exame clínico, para saber se estão aptos para transplante.

JOSÉ LIMA OLIVEIRA JÚNIOR, COORDENADOR DA COMISSÃO DE REMOÇÃO DE ÓRGÃOS DA ABTO, ESPECIALISTA EM TRANSPLANTE DE CORAÇÃO de aguardar até o órgão compatível aparecer.

Uma taxa de recusa de 38% é alta? É muito alto esse índice. Hoje, o principal determinante para a não realização do transplante continua sendo a recusa familiar. Muitas vezes, não acontece uma abordagem do tema em vida. Quando uma família tem um integrante com morte cerebral, por exemplo, não autoriza. Temos que discutir mais a doação de órgãos para se tornar um assunto corriqueiro e tratado com normalidade. Quais são as dúvidas mais frequentes? Fiz palestra para meninos da Fundação Casa e para empresários da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). O que me assustou foi que as dúvidas são as mesmas. As pessoas têm dúvidas em relação ao tráfico de órgãos, se eles são vendidos, se há quebra da fila de espera. Percebo que a nossa maior falha está ligada à comunicação. Não conseguimos passar as informações de um jeito claro para as pessoas. Por que não se realizam mais transplantes? Não conseguimos fazer mais transplantes porque 7 em cada 10 pacientes morrem na fila de espera, ou seja, 70%. Para uma cirurgia ocorrer, depende de mui-

Um menino de 12 anos morreu após perder um coração que não pôde ser transportado de Minas Gerais até Brasília. Qual é o maior gargalo no transporte de órgãos? A agilidade é fundamental. Sobretudo para órgãos que não resistem muito tempo fora do corpo, como o coração, o mais importante na melhoria da infraestrutura. Precisamos ter outros mecanismos para casos de emergência, como o desse menino. Tem um termo de colaboração entre órgãos e companhias aéreas, inclusive a FAB (Força Aérea Brasileira), mas não tínhamos a certeza de que o menino sobreviveria até encontrar outro coração compatível. Não tem como precisar quantos dias ele poderia tolerar.

tos fatores, desde a captação do órgão até a infraestrutura dos hospitais para acolher o paciente. Temos o segundo maior programa de transplante do mundo. Perdemos apenas para os EUA. Contudo, temos uma fila de espera muito grande. Não sabemos se essas pessoas terão possibilidade

Existe desperdício no processo de captação de órgãos? Temos ainda uma grande sub-notificação de potenciais doadores, normalmente vítimas de violência. Às vezes as pessoas, sobretudo jovens, morrem nas emergências e nas UTIs e a gente não consegue captar pela falta de equipes nesses ambientes. É preciso reforçar a quantidade de profissionais da central de transplantes nesse ambiente.

Missa de um ano em memória de

Aloysio Campos da Paz Júnior Com saudade, Elsita, Isabella, Priscilla, Aloysio Neto e os netos de Aloysio Campos da Paz Júnior, idealizador e fundador da Rede Sarah de Hospitais, convidam para a missa em sua memória, a ser celebrada dia 25 de janeiro de 2016, segunda-feira, às 18h, no Santuário Dom Bosco, na W3 Sul, Quadra 702.

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Qualquer pessoa pode ser doadora de órgãos, ainda que não manifeste em vida a vontade de doar ou deixe documentada a intenção. A decisão cabe à família. Doadores vivos podem doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula ós-

Cinco perguntas para


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