Revista sete pecados3

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SE7E PECADOS ano 1 - dezembro de 2013 - Editora Balela

Revista-laborat贸rio da disciplina Laborat贸rio de Texto IV curso Jornalismo Unisanta-Santos (SP)


Editorial Atire a primeira pedra quem nunca pecou

O

s sete pecados capitais são considerados vícios do ser humano. Surgi na Grécia Antiga e foram classificados e condenados pela Igreja Católica com o intuito de controlar, educar, e proteger o povo católico. Vaidade, Inveja, Ira, Preguiça, Avareza, Gula e Luxúria, cada um deles corresponde a um comportamento comum entre os seres humanos. Na edição da Revista Se7e Pecados, o leitor poderá conhecer mais sobre a origem e as consequências que a força desses sentimentos e ações podem causar.

Soberba Inveja

Gula

Mesmo sendo pecados tão antigos é cada vez mais comum as pessoas se depararem com atitudes que façam parte de circunstâncias que podem chegar à destruição de lares, famílias, trabalho, entre outras coisas. Quem nunca cometeu um pecadinho? Se a resposta for jamais provavelmente você estará mentindo. Não é pecado assumir que cometeu algum pecado. Nos tempos modernos, ninguém é condenado apenas por sentir raiva, comer demais, nem mesmo por amar demais, mas saiba que os excessos desses sentimentos podem fazer com que a pessoa se prenda a riscos tão cruéis que por muitas vezes acabam fazendo mal apenas para quem se dedicou a sentir e cometer esses pecados. Se você quer conhecer a fundo sobre o que as pessoas são capazes de cometer ou sentir por outra pessoa muitas vezes sem motivo aparente, esta edição especial vai capturar a história e a atualidade dos Pecados Capitais em um tema tão comum no mundo de hoje, mas que pode dar significados interessantes a quem (nunca?) cometeu algum pecado.

Ira Avareza Luxúria

Preguiça


Carta ao Leitor

Luxúria Gula

Avareza

Pecar ou não pecar eis a questão

C

aro leitor, a intenção desta revista não é, de forma alguma fazer a apologia pela vingança, nem mesmo pela gana de sentir o gostinho de pecar nem que seja apenas por um minuto. Aqui, você poderá tirar suas dúvidas sobre o surgimento dos Pecados Capitais, entender melhor essa mistura de prazer e ódio em um mesmo sentimento e tirar suas próprias conclusões sobre o certo e errado, mas também verá que colocar um pouco de “pimenta” na vida não faz mal à ninguém. A ideia de falar sobre os Sete Pecados Capitais e suas vertentes pode estar meio batida, pois é uma história milenar e todos sabemos que muitas vezes podemos sair prejudicados pelos excessos e se importar, muitas vezes, por fatos que na prática, são irrelevantes. E o pior é quando percebemos que fizemos uma tempestade em copo d`água. Mas e se for ao contrário você é o injustiçado na história,sofrendo os efeitos dos pecados cometidos por terceiros, seja pela perseguição ou obsessão por algo ou alguém. Divirta-se, cometa alguns pecados, mas nada que faça você perder mais que cinco minutos pensando em algo que não deveria ser feito.

Soberba

Os ediotres

Inveja

Ira Preguiça


abertura 06 É sempre interessante saber como tudo começou. Para você não cair de paraquedas, confira a nossa introdução à reralidade tentadora dos sete pecados capitais

avareza10

Atemporal e ganancioso, este pecado não escolhe classe social para se manifestar. Conhecida como “sindrome do tio patinhas” a avareza se esconde no fundo do bolso de quem menos se espera.

gula 31

SE7 PECA

A busca pelo prazer no comer e no beber está enraizada na vida de todos nós. Mas você já parou para pensar em quais são os limites para esse comportamento insaciável? Essa e outras questões sobre a GULA nesta edição!

inveja 55

Onde surgiu? Como lidar com esse sentimento? Recalque? Desejo de ter o que o outro tem? Tantas questões, muitas respostas. Confira agora o que faz o ser humano desejar o que não está no seu alcance.

ira 77

O que á a Ira? Um misto de várias emoções! Nas páginas dessa revista, você irá passear pelos vários caminhos aos quais a IRA pode conduzir o ser humano, bem como as explicações para esse sentimento.

luxúria 99

Sedução, fantasias sexuais, traições e a rentável indústria do sexo. Tudo o que você sempre quis saber sobre o pecado da luxúria e nunca teve coragem de perguntar.


7E ADOS

127preguiça

Excesso de sono, até que ponto é preguiça e quando devemos nos preocupar. Não precisa ter preguiça de ler, a leitura será bem rapidinha. Aposto que você vai adorar

145soberba

Vaidade, orgulho, vanglória. Para São Tomás de Aquino, a união desses vícios é a mãe de todos os pecados. A edição convida você a percorrer o universo da soberba e conhecer um pouco mais sobre esse pecado capital.

expediente EXPEDIENTE SE7E PECADOS CAPITAIS Revista Laboratório Da Disciplina De Laboratório de Texto IV do Curso de Jornalismo da Faculdade de Artes e Comunicação da UNISANTA Diretor da FaAC: Prof. Humberto Iafullo Challoub Coordenador de Jornalismo: Prof. Dr. Robson Bastos Professores Reponsáveis: Elaine Saboya (crônicas) Fernando Cláudio Peel (diagramação) Fernando de Maria (textos) e Helder Marques (textos) Redação , fotos, edição e diagramação: alunos do 3º ano de Jornalismo Editores de fechamento: Carolina Kobayashi, Gilda Lima, Rafael Correia, Rafe Aguiar e Thamirys Teixeira As matérias e artigos contidos nessa publicação são de responsabilidade de seus autores. Não representam, portanto, a opinião da instituição mantenedora UNISANTA - Universidade Santa Cecília Rua Oswaldo Cruz, nº266, Boqueirão, Santos (SP). Telefone: (13)3202-7100, ramal 191 – CEP 11045-101.


Pecado Original

SE7E PECADOS

O salário (Romanos 6:23)

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é o pecado da morte

pecado existe desde que o mundo é mundo. Até mesmo observando bem a criação do mundo de forma dividida, como é relata no livro de Gênesis, na Bíblia Sagrada, quando o anjo caído Lúcifer levou o pecado à raça humana no Jardim do Éden. Adão e Eva foram tentados pela cobra, com a fascinação de se tornarem seres como Criador. Nessa linha de pensamento, a humanidade é descendente do pecado de Adão. A raça humana tem inclinação para o pecado, ou seja: todos são pecadores por natureza. Não é apenas uma característica humana que influi o ser humano no ato de pecar. Os pecados imputados, que são de responsabilidade do homem, causados por circunstâncias financei-

ras e legais, começaram a valer aos fieis após Moisés receber as leis divinas, ou seja, os dez mandamentos. Em razão dos pecados cometidos em violação a eles, os humanos foram sujeitos à morte tanto por causa do pecado herdado de Adão como pelo imputado por violar as leis de Deus. Os homens tiveram sua dívida paga quando Jesus veio à Terra e pagou os pecados com a sua morte na cruz. Deus tratou o seu filho como um pecador, assim como os demais homens. Ele, por sua vez, carregou a pena sem nunca ter pecado, mantendo uma natureza perfeita e intocável. Segundo a passagem no II Coríntios 5:21, da Bíblia Sagrada, Deus imputou a justiça de Cristo aos crentes e creditou nossa conta com Sua justiça da mesma forma como creditou nos-

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sos pecados em sua conta. O pecado original, herança de Adão e Eva, foram crucificados na cruz, com “a redenção pelo sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça” (Efésios 1:7). A obra Origens Sagradas de Coisas Profundas, do teólogo e monge grego Evágrio do Ponto, classificou como oito pecados, em ordem crescente de gravidade, que abalam o equilíbrio. A lista começa pela Gula, Avareza, Luxúria, Ira, Melancolia (não categorizada pela lista oficial da igreja católica), Preguiça, Orgulho e Vaidade. Os pecados pioram à medida que tornam a pessoa mais egocêntrica, como a soberba sendo o ápice do apego do ser humano em relação à si mesmo. E isso o afasta do espírito, que é sua origem em Deus.


SE7E PECADOS

Pecado Original

SE7E a

l i s t a

d o s

(eventualmente oito)

Os pecados capitais foram formalizados no século VIpelo Papa Gregório Magno I, que juntou os pecados “vaidade” e “soberba”, e trocou a “melancolia” por inveka, reduzindo a lista a sete itens. Para fazer sua própria hierarquia, o pontífice colocou em ordem decrescente os pecados que mais ofendiam ao amor, como Gula, Luxúria, Avareza, ira, Soberba, Preguiça e Inveja. Os pecados foram classificados como os principais vícios de conduta. As infrações são as “líderes” de todas as outras. Para cada

defeito, há uma qualidade. A igreja destacou sete virtudes fundamentais, que não tiveram o mesmo sucesso que a versão negativa. São elas: a Humildade, Disciplina, Caridade, Castidade, paciência, Generosidade e Temperança. Apesar de outras religiões, como o judaísmo e o protestantismo, também terem o seu conceito, os sete pecados capitais são exclusivos do catolicismo. Sob o ponto de vista teológico, o pecado mais grave é a soberba. Afinal, é nesta categoria que se enquadra o pecado original de Adão,

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Eva e o fruto proibido da árvore do conhecimento. A lista só se tornou oficial e popular na Igreja Católica no século XXIII, com a Suma Teológica, documento publicado pelo teólogo São Tomás de Aquino. No documento, ele explica o que os tais sete pecados têm que os outros não têm. O documento tem o intuito de doutrinar e proteger os seguidores do catolicismo, para controlar os instintos básicos do ser humano. Os pecados capitais são merecedores de condenação, e por isso devem ser evitados.


moda

SE7E PECADOS

Ser pecador virou a nova MODA! Atemporal e criativo, o tema Sete Pecados Capitais é usado com frequência pelos fashionistas

O

Thamirys Teixeira tema sete pecados capitais sempre foi fonte de muita discussão. Com sua amplitude, alcançou não só o universo religioso como a indústria da moda. Não é de hoje que coleções e peças singulares são criadas com base na temática que é universal. Dentre tantos desfiles e sessões de foto, o mais destacado foi sem dúvida a edição de outubro de 2010 da Vogue Paris, que marcou os 90 anos da revista. Com a top model Lara Stone na capa, a editora Carine Roitfeld e o fotógrafo Steven Klein apresentaram o editorial “Les péchés”, uma interpretação fashionista dos sete pecados capitais. Nesse papel, Lara Stone encarna uma mulher forte e dominatrix. Os homens são os submissos da história, com direito a salto alto, meia-calça e cinta-liga em um visual crossdresser (que, em uma tradução literal, significa “vestir-se ao contrário”).

Do salto direto à cova O maior reality show sobre modelos dos Estados Unidos, America’s Next Top Model não ficou por fora do luxo de pecar. Durante o ciclo 4 que foi ao ar em 2005 foi clicado o ensaio 7 Deadly Sins in a graveyard onde as modelos foram acompanhadas de seus respectivos pecados até a cova.

America’s Next Top Model A modeloNaima Mora representante da Ira ganhou a posição de “CoverGirl of the Week” que no reality significa a melhor foto do desafio

MARK VORREUTER

Pecado não tem idade

KWAKU ALSTON

Os alunos do curso de Design de Moda da Cornell University, de Nova York, também voltaram seus olhares para os sete pecados capitais. Tirando o foco da sensualidade presente nos ensaios anteriores, as roupas produzidas são exclusivamente para o público da terceira idade. O desfile foi realizado em 27 de abril deste ano e serviu como oportunidade para os alunos da graduação mostrarem seus melhores trabalhos de alta costura.

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AVAREZA AVAREZA Crônica: O moderno SCROOGE

TESTE: Saiba se você é pão duro!

Raiz de todos os males sobre ganância e pecado

Moeda da Sorte Afinal, por que os ricos são ricos? 9


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AVAREZA Significado : s.f. Apego excessivo às riquezas. / Mesquinhez, sovinice. - Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa

Expediente Editora-Chefe: Thamirys Teixeira Repórteres João Gabriel Suaed 104457 Livia Duarte 085161 Gabriel Soares 085093 Luiz Antunes 104820 Thamires Rodrigues 102103 Thamirys Teixeira 103189 Diagramação : Thamirys Teixeira Fotografia : A equipe Revisão: Fernando De Maria

12 A ganância como arma para o homem O perigo de ir contra a generosidade

20 Teste: Afinal, sou avarento? Reconheça-se como pecador!

26 Tesouro debaixo do colchão Confissões de quem fecha a mão

14 Raiz de todos os males Ganância como um pecado

22 Necessidade ou desejo? Quando o egoísmo define

28 Moeda da Sorte Afinal, por que os ricos são ricos?

18 Econômico ou avarento? Até onde o pecado pode ser justificado?

24 Com o futuro garantido A mania de poupar da terceira idade

30 Crônica : O moderno Scrooge Por João Gabriel Suaed

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avareza

SE7E PECADOS

GANÂNCIA

COMO ARMA PARA

O HOMEM

Segundo religiosos, a avareza é um dos pecados mais perigosos por ir contra uma das virtudes mais importantes da Igreja, a generosidade.

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João Gabriel Suaed pecado da avareza, tido como ganância, é não somente como uma forma exagerada de guardar dinheiro. Este pecado torna as pessoas perigosas. Sob o olhar da igreja, este é o pior que um homem pode sofrer. A falta de generosidade é um problema sério na visão religiosa independente da crença. Além disso, é constantemente trabalhada na ficção, como na obra Conto de Natal, de Charles Dickens. Casos comuns acontecem no cotidiano das pessoas. Desde o egoísmo em não dividir algo até almejar um objetivo que dispense ética e isso coloque em risco uma ami-

zade ou o futuro de alguém. Casos não faltam como relata a freira canossiana Aurora di Domenico. “Uma vez um pai foi até a igreja. Ele era muito rico, e em um ato motivado pela ganância acabou expulsando a filha, porque ela havia se relacionado com um namorado pobre. Aquele senhor pensava como os antigos, queria somar e não fazia caridades. “A filha dele acabou morrendo em um acidente de carro com o namorado, e ele, que já era viúvo, acabou ficando sem ninguém, apenas com seu dinheiro. Quando veio à igreja se confessar, estava desolado. A própria dor o fez refletir”, conta. As obras relacionadas ao pecado sem-

pre demonstram um toque marcante de outros males, como a ira ou soberba. Em um quadro de Hyeronimous Bosch, O avarento e a morte, se desenha em cenário de luto um homem cheio de propriedades à beira do óbito, revelando que nada será levado adiante. Para o seminarista, Marco Ferrari, a avareza é pecado muito marcante, que afasta as pessoas do que realmente importa, a caridade e o amor ao próximo. “Quando partimos deixamos tudo que é do mundo, o que conquistamos como amigos é o que será deixado de positivo”.

Curiosidades

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O conto de Natal é uma obra escrita por Charles Dickens em 1843. A história se passa em uma Londres antiga e narra a vida de Ebenezer Scrooge, um administrador de empresas avarento que começa a ver espíritos depois da morte de seu sócio.

Scrooge começa a ter visões de seu passado e futuro e isso o faz refletir sobre seus atos de avareza.

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Em 1947, surge Scrooge McDuck, conhecido no Brasil como Tio Patinhas.

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Na cultura oriental a avareza é tratada por meio do símbolo do Ouriço - do - mar.

Scrooge é sinonimo para avareza.

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Hyeronimous Bosch

Na arte, as obras que retratam os pecados em geral s達o carregadas de sobriedade. Nessa obra, intitulada de A morte e o avarento de Hyeronimous Bosch isso fica evidente

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avareza

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RAIZ DE TODOS

OS MALES A ganância como um pecado DIVULGAÇÃO

Madre Teresa de Calcutá, símbolo da caridade para a religião católica, e exemplo de solidariedade e amor ao próximo

A

Luiz Antunes

princípio, o pecado da avareza recebe um significado diferente do que aparenta ser. A ideia da pessoa que não gosta de gastar dinheiro esconde um sentido mais amplo e profundo. De uma forma geral, as religiões tratam de maneira bem clara que a adoração a algo ou alguém acima de Deus é pecado. A ganância expressa esse sentido de várias formas. A visão cega de idolatria aos diversos ‘deuses’ gera consequências devastadoras. Nesse contexto, surge o dinheiro, símbolo de poder. O avarento vê nele o caminho da satisfação. Sem ele, a vida não há propósito. Logo, perdê-lo é motivo de preocupação e até desespero. Para algumas vertentes religiosas, o pecado da avareza esconde o pior dos males

que é o egoísmo, ou seja, a pessoa pensa primeiro no dinheiro, nela e só depois nos outros. Para o padre Fábio José Gerce, 29 anos, da Paróquia Santa Terezinha, em Itanhaém, este é o pior dos pecados. “A questão da avareza está ligada ao bem material e ao apego. A Sagrada Escritura diz que o pecado da avareza é a raiz de todos os males. Devido à inversão de valores, as coisas passam a ser amadas e as pessoas usadas”, explica. O padre lembra ainda que para a Igreja Católica, o pecado da ganância deve ser combatido com a caridade. “O primeiro passo é trabalhar a questão do ‘ter’ e ‘ser’ por meio da solidariedade. Se nós somos solidários, aprendemos a enxergar o próximo. A grande arma para vencer a avareza é a caridade”, exalta.

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avareza

Na Igreja Messiânica, a prata representa a natureza.O quadro no meio, a palavra de Deus e à direita o fundador da religião Mokiti Okada. Esses são itens lembrados para o desapego do bem material

Messiânicos e Espíritas Outro segmento religioso que acredita na perversidade do ser avarento é a Igreja Messiânica Mundial Brasil. Ela tem por finalidade criar o paraíso na terra por meio da alimentação natural: Johrei (método de canalização de energia espiritual ‘luz divina’ para purificação do espírito) e o Belo (capacidade do homem em adquirir conhecimento pela arte). A partir do instante que alguém é apegado materialmente, o mesmo esquece valores fundamentais de igualdade e humildade. Neste sentido, só alcança o paraíso o ser que for capaz de servir ao próximo da melhor maneira possível. O ministro e representante da Igreja Messiânica na Baixada Santista, Leandro Lopes de França, afirma que se vence o pecado com o desapego material. “O autoconhecimento compartilhado contribui para um ser menos avarento. É preciso estar preparado moralmente para ajudar o outro. Só caridade não é o bastante”,

destaca. “O exemplo é o amor aos outros que deixa tudo mais fácil, mostrando que o bem material nada representa quando se tem compaixão”, esclarece. A crença espírita explica que é preciso se conhecer antes de lutar contra a avareza. “Vence quando a pessoa tem consciência de si, isto é, souber o que realmente te faz feliz. Para desprender-se dos bens materiais, o sujeito precisa entender o seu objetivo.” Ao reconhecer o verdadeiro propósito, a pessoa passa a dar mais valor no ‘ser’ em vez do ‘ter’. ”Não tem problema em se ter bens, mas é importante não dar mai valor ao materialismo, pois o mesmo nunca pode ser saciado. Já o amor, ao contrário, traz paz e satisfação duradoura”, explica o representante do Centro Espírita Leon Diniz, João Paulo dos Santos. O sentido de avarento, ao contrário que a maioria imagina, mostra o lado mais obscuro do ser humano. O egoísmo é o mal enraizado na avareza que por sua vez encontra no dinheiro a fonte de satisfação inesgotável,porém ilusória.

Se nós somos solidários, aprendemos a enxergar o próximo. A grande arma para vencer a avareza é a caridade. - Leando Lopes

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PAPA NO BRASIL DIVULGAÇÃO

Poltrona: Para um Jesuíta, o papa Francisco preferiu trocar a poltrona de ouro por outra de madeira. Mais simples, o novo móvel remete mais a Jesus que era carpinteiro.

Veículo Papal: A visita do Papa ao Brasil na Jornada Mundial da Juventude em 2013 destacou outro lado mais humilde. Para seguir do aeroporto do Galeão até o Centro do Rio de Janeiro, o papa Francisco escolheu o carro mais simples de uma famosa montadora italiana. Mesmo com leque de carros luxuosos à disposição, o Papa argentino optou por um que não representasse tanta ostentação, demonstrando proximidade com o público que o seguia. DIVULGAÇÃO

DIVULGAÇÃO

Linhagem Jesuíta O Papa Francisco é o primeiro papa jesuíta da história. Devido às criticas que a Igreja vem recebendo atualmente, o papel nesta nova fase da religião Católica é o mesmo que dos antigos padres. Quer levar a palavra da Bíblia para diversas partes do mundo, melhorando a imagem da instituição.

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Participe!!!!


avareza

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ECONÔMICO

OU AVARENTO? Até onde o pecado pode ser justificado? GABRIEL SOARES

Proprietário de BMW, o estudante Allan Lopes troca - em várias ocasiões - o carro por uma bicicleta velha.

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Gabriel Soares ensar no futuro e estar preparado para possíveis dificuldades financeiras é normal, recomendado, inclusive. Para ser possível guardar dinheiro no fim do mês, muitas vezes é necessário abrir mão de prazeres da vida, como sair aos finais de semana ou curtir um bar com os amigos. Sacrifícios como esses são comuns e necessários para pessoas que possuem algum objetivo. O dilema é saber o limite entre ser uma pessoa

econômica, que age com o bom senso, e ser uma avarenta, que radicaliza. Desde criança, as pessoas economizam pensando em comprar algo desejado, seja um pacote de bala ou a primeira bicicleta. É o caso do jovem Miguel Fernandes, de 14 anos. O estudante conta que juntou durante um ano todo dinheiro da mesada que era possível para poder comprar o tão desejado objeto. “Durante esse período, fiquei muitas vezes sem sair. Às vezes, pegava até o dinheiro que era

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para comer e guardava. Eu queria o mais rápido possível a bicicleta”, conta Miguel, que gastou R$700 no bem. A mãe de Miguel, Márcia Duarte Fernandes, afirma que a atitude foi iniciativa do filho. “Fiquei sabendo depois da vontade dele em compra-la. Não estava sabendo do caixa 2”, brinca a arquiteta. Para a psicóloga Aida Maria Martins, o limite entre a economia e avareza depende de cada indivíduo. “Cada um precisa saber o seu. Até que ponto a economia está em um limite


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aceitável e quando já é um exagero. A pessoa bicicleta velha. Essa situação é mais um dos precisa fazer essa auto-avaliação”, explica. motivos para os amigos “pegarem no pé”. Mas o estudante tem a defesa na ponta da língua. “O Carteira esquecida combustível está caro demais. Além disso, faço exercício e emagreço uns quilinhos”, brinca. Pão-duro. É assim que o estudante de As brincadeiras e zoações são inevitáEngenharia, Allan Conte Lopes, de 22 anos, é veis, mas para a psicóloga Elaine Rodrigues conhecido pelos amigos. Esquecer a carteira na Carvalho, essa atitude só atrapalha. “Amihora de pagar a conta, ter que ir embora mais gos e familiares devem evitar ironizar e cricedo e “não lembrar” de deixar dinheiro. Todas ticar, porque isso aumenta o transtorno da essas artimanhas conhecidas já foram utiliza- avareza. Aconselhar, com segurança, pode das pelo estudante. “Na hora de fazer a divisão ser muito útil”. Para Elaine, a diferença enda despesa, a gente nem conta mais com ele. tre o avarento e o econômico é simples. “A Ele sempre esquece a carteira”, lembra Bruno pessoa econômica age pensando no presenBraga, amigo de Allan há mais de cinco anos. te e no futuro com tranquilidade, enquanto O futuro engenheiro se defende e afir- a avarenta tem um medo patológico de que ma que não passa de perseguição dos amigos. tudo vai faltar e acaba radicalizando. Nes“Essa história de esquecer carteira aconteceu se caso, precisa de tratamento”, explica. duas, três vezes no máximo, e falam como A principal contradição no caso é que se fosse uma constante”, conta, aos risos. para começar um tratamento o maior obstá Apesar de possuir um veículo da marca culo é a própria patologia. “Desde que a pesBMW na garagem, Allan prefere muitas vezes soa aceite, tudo é tratável. A princípio, pagar o trocar o potente motor do carro importado pela psicólogo será um problema”, destaca Elaine.

GABRIEL SOARES

Dicas Úteis Para o estudante de Economia e sócio-fundador do Banco de Negócios Inclusivos – BNI, Victor Waller Sadalla, as pessoas deveriam estar mais atentas e ligadas em pequenos detalhes, que no final do mês fazem uma grande diferença. Como, por exemplo, o parcelamento do cartão de crédito. “As pessoas não fazem as contas e acabam não comparando os juros. Elas acabam parcelando no cartão, que tem juros de 14% ao mês, ao invés de tirar o dinheiro de um cheque especial, que custa 6%”. O jovem de 22 anos dá uma dica que poucas pessoas dão atenção, na hora de financiar o carro. “A maioria não coloca os custos mensais no papel. Um HB20, por exemplo, se for incluído o custo de oportunidade, que é fundamental para saber onde investir o dinheiro, custará cerca de R$1150 para adquiri-lo. Ou seja, você gasta entre manutenção, seguro, gasolina, desvalorização e custo de oportunidade, em três anos, 25% a mais que o valor do carro. As pessoas não fazem essas contas”, finaliza Sadalla. Esta diferença, portanto, é que acaba sendo sentida no bolso, algo que os econômicos – ou pão-duros – sabem lidar muito bem.

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TESTE

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AFINAL, SOU AVARENTO? Descubra seu grau de avareza

1 - Quando você compra uma barra de chocolate a) se tiver pessoas ao redor guardo o chocolate para mais tarde! b) abre e divide, porém rezando para ninguém pegar! c) divide numa boa! 2 - Quando chega na balada o seu amigo percebe que esqueceu a carteira... a) finge que esqueceu a carteira e voltam para casa

b) dá uma desculpa e propõe voltar outro dia. c) paga para seu amigo, pois isso também pode acontecer com você 3 - Quando sobra aquele último pedaço de pizza você: a) embrulha b) pergunta se mais alguém quer, caso contrário embrulha e leva para casa c) não liga para essas coisas 4 – Ao abrir um iogurte: a) Passa o dedo na emba-

lagem e lambe o pote ao final b) Passa o dedo na embalagem c) Come apenas o que vem no pote 5- Quando algum objeto na sua casa quebra: a) Tenta ao máximo consertar, se não for possível não chama nenhum especialista e demora para comprar b) Tenta ao máximo consertar, se não for possível chama algum especialista. c) Chama um especialista logo de cara.

Resultado: Se a maioria das respostas foi a letra “A”, você é o típico pão duro, sempre usa a desculpa que está sem carteira, mas em contrapartida só sai de casa com notas de R$100 para ficar na aba dos amigos Se a maioria das respostas foi a letra “B”, você tem forte tendência a ser uma pessoa “pão duro”, mas ainda consegue se controlar e ser educado. Se a maioria das respostas foi a letra “C”, você é uma pessoa muito gente boa e totalmente desligada a bens materiais. Quer ser meu amigo? THAMIRYS TEIXEIRA

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NECESSIDADE OU

CONSUMISMO? REPRODUÇÃO

Consumo chega ao extremo

A

Livia Duarte

relação entre uma mulher e um par de sapatos é antiga. Algumas vezes, esta paixão vai muito além do consumismo e chega a ser uma relação de afeto com base em dados históricos e comportamentais. O problema é quando esta paixão se excede e acaba virando um vício, um consumismo além do normal. Quando adolescente, Patrícia Silva, de 23 anos, tinha quatro pares de sapato: um tênis para ir à escola, academia e passear; um chinelo Havaianas e duas sandálias Melissas. “Vivia dizendo que não tinha sapato para sair e me irritava ter poucas opções”, conta. A jovem estudante de Pedagogia começou a trabalhar com 18 anos e já no seu primeiro salário comprou três pares de sapato. Cinco anos depois de seu primeiro salário, o número de sapatos de multiplicou assustadoramente. “Na verdade nem sei quantos pares tenho. Com certeza,mais de 100”. Por falta de espaço, Patrícia deixou muitos deles na casa de sua mãe. No apartamento que divide com mais uma amiga, a jovem contabiliza inúmeros pares de sapato, entre diversos tipos de salto, tênis e rasteiras. “Muitos deles ainda estão com etiqueta e nunca usei. Além disso, limpo todos eles a cada dois ou três meses para tirar manchinhas e mofos que acumulam. Sinto ciúmes deles e não os empresto para ninguém”. Pesquisa realizada pelo site VoucherCena do filme Delírios de Consumo de Becky Bloom (2009), onde a personagem Rebecca Bloomwood, consumista e acumuladora, põe seus itens CodesPro e divulgada no Huffington Post para vender para cobrir suas dívidas revelou que as mulheres usam ape-

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avareza

CRÉDITOS: THAMIRYS TEIXEIRA

nas um quarto dos sapatos que compram. O levantamento considerou as respostas de 2.352 mulheres maiores de 18 anos. Em média, elas têm 20 pares de sapatos, embora apenas cinco deles seja colocado em uso com frequência. Recentemente, Patrícia endividou-se por conta de seus excessos. “Cancelei meu cartão de crédito e decidi, com muito pesar, que não compraria mais demasiadamente e sem necessidade. Decidi fazer uma poupança, mesmo que pequena, para juntar o dinheiro que seria gasto”, finaliza.

Saiba dizer não A obsessão por sapatos vermelhos fez Maísa Fidalgo, de 24 anos, passar sufoco. A estudante entrou em uma loja da Melissa e experimentou um sapato de salto de veludo vermelho. “Não ia levá-lo porque o limite do meu cartão era de R$ 200 e o sapato custava R$ 180. Quando provei o sapato a vendedora falou: “Nossa, ficou lindo! Leva! Se você não levar vai se arrepender!”. Fingi que estava tudo bem e não consegui dizer não a ela. Comprei a Melissa em três vezes e usei só três vezes também,

mas não empresto para ninguém”, conta. A paixão pela cor vermelha começou quando era adolescente. Maísa leu o livro “1984”, de George Orwell, e decidiu que seria comunista. “A cor vermelha seria uma marca de distinção, já que os comunistas usam. Então não parei de comprar sapatos, roupas e acessórios na cor e tenho o maior ciúmes deles”.

Consumismo É uma compulsão que leva o indíviduo a comprar de forma ilimitada e sem a necessidade de bens, mercadorias ou serviços. O consumidor se deixa influenciar excessivamente pela mídia, pelos meios de comunicação, e acabam se deixando levar pela onda do consumo. A diferença entre o consumo e o consumismo é que no consumo as pessoas adquirem somente aquilo que é necessário para sua sobrevivência, já no consumismo a pessoa gasta tudo aquilo que tem em produtos que muitas vezes não são os melhor para ela, porém é o que ela tem curiosidade de experimentar devido às propagandas na TV e ao apelo dos produtos de marca.

Acumular é doença Para o acumulador compulsivo, não há problema com o seu comportamento, o que já é um sintoma desta doença. “Acumular objetos e coisas compulsivamente faz parte de um transtorno mental, o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC); no entanto, existem alguns métodos de cura, como a terapia cognitivo-comportamental, associada a uma medicação adequada”, explica a psicóloga Sônia Romam.

Alguns sinais: - Recolher bens e objetos que a maioria das pessoas joga fora. - Viver sem organização e não permitir que alguém arrume ou limpe sem sua supervisão. - Endividar-se - Negar que seja um exagero o vício de acumular, ter vergonha do hábito, mas mesmo assim não conseguir controlar o impulso.

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SE7E PECADOS

COM O FUTURO

GARANTIDO

Nem mesmo a idade avançada é o suficiente para idosos deixarem de poupar

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Thamires Rodrigues essoas quando atingem certa fase da vida, quando os cabelos se tornam grisalhos e o corpo dói a cada movimento, parecem que passam a sentir uma necessidade maior de guardar todo o dinheiro recebido. Mas por que economizar tanto? Quem ficará com toda a quantia poupada? Desde pequenos, as pessoas aprendem que devem economizar para que no futuro próximo ou distante possam investir em algo desejado. Uma nação que poupa financia com maior facilidade e segurança seu crescimento. É o caso da China, um dos paí-

ses mais poupadores do mundo. Pelo menos 40% da renda dos chineses são poupadas e essa porcentagem só aumenta a cada ano. Santos é uma cidade conhecida por ser um reduto dos aposentados. A população aproximada de Santos é de 419.700 habitantes, sendo que cerca de 19% são idosos. Ou seja, 79.743 habitantes já estão na terceira idade. Para se ter uma ideia do grau de importância que a cidade tem, basta ver o número de agências bancárias e o montante de recursos acumulados. Conforme o Banco Central, o município tem mais agências bancárias do que cidades com maior população, como por THAMIRES RODRIGUES

Com czartões de crédito e dinheiro: formas para se manter

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THAMIRES RODRIGUES

exemplo, São José do Rio Preto e São José dos Campos, que segundo o IBGE, tem a população estimada de 434.039 e 673.255 habitantes, respectivamente. Ambas as cidades do interior possuem números aproximados de agências e operações de crédito: São José do Rio Preto possui 84 agências e operou em julho R$5 bilhões 770 milhões 234 mil 109 e São José dos Campos movimentou R$5 bilhões 699 milhões 294 mil 383. Por sua vez, Santos possui 106 agências bancárias e movimentou no mesmo mês em operações de crédito R$7 bilhões 642 milhões 97 mil 495.

isso tem um propósito. Ela diz que guarda tudo que recebe, pois durante sua vida não trabalhou e sempre dependeu do marido. Há oito anos, ele faleceu e ela passou a receber uma pensão de R$1200,00. Como os filhos não dependem economicamente dela, Maria guarda tudo, pois gosta da sensação de poder comprar suas coisas com seu dinheiro. “Mas só as mais essenciais”, diverte-se. Já a aposentada Creusa Libório, de 67 anos, conta que teve que se aposentar por invalidez devido a um câncer. Desde então, ela diz que sente a necessidade de poupar, caso necessite gastar mais com sua saúde no futuro. Mas apesar destes casos, os idosos em Pensando no futuro geral têm dificuldades para economizar. PriDurante a vida, as pessoas trabalham e meiramente, devido ao fato de que os braconquistam bens materiais graças ao dinhei- sileiros seguem um padrão americano, ou ro recebido para que possam viver com mais seja, eles têm acesso aos bens materiais e ao conforto. E tudo que foi poupado, é reverti- dinheiro. E, segundo o consultor econômico do para alguma poupança, para que se tenha Leonardo Fernandes, existem outros motisempre um estepe em caso de emergência vos para não sobrar dinheiro no final do mês, ou até mesmo para o futuro. Mas e quando como os impostos e também o fato de não a pessoa envelhece e não perde este hábito? ter bons serviços públicos, o que leva às pesCasos do gênero não são tão raros assim. soas a gastarem com planos de saúde, por A pensionista, Maria de Lourdes, de 74 anos, exemplo. Ele diz que como bom brasileiro, assume que é “muquirana” e diz que inclusi- os idosos depositam uma grande confiança ve os filhos dela brincam em relação a isso. na Previdência Social, mas isso pode se tor“Eles dizem que tenho um escorpião no bol- nar perigoso devido ao déficit do sistema de so”, conta, aos risos. Mas para Lourdes, tudo aposentadorias do Brasil, fazendo com que não sobrem recursos suficientes para poupar.

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CRÉDITOS: THAMIRYS TEIXEIRA

avareza

SE7E PECADOS

Seja debaixo do colchão ou em uma caixa de sapatos,pessoas fazem de tudo para guardar suas economias

TESOURO

DEBAIXO DO COLCHÃO

Confissões de quem fecha a mão de cabeça erguida Thamirys Teixeira DINHEIRO! LUXO!

RIQUEZA! GLAMOUR!

Sim, as palavras em letras maiúsculas são para entender o grau da necessidade de um avarento. Pode até ser difícil alguém admitir, mas os sintomas são inegáveis. A universitária Luana Ribeiro Silva, de 20 anos, é um exemplo. Desde pequena, Luana pedia lápis emprestado só para não ter que usar os seus, que estavam ainda novos e permaneceram assim por alguns meses leti-

vos. “Sou assim porque me dão motivo. Quando empresto dinheiro, nunca sou reembolsada”, explica a universitária, que usa uma lei de compensação interna para demonstrar o seu prejuízo. E o tempo não fez com que ela mudasse. As manias de preservar seus objetos são uma forma de sobrevivência. Como não tem uma condição financeira confortável, Luana vê nesses seus trejeitos qualidades para manter seus bens. Financeiramente, as atitu-

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des se repetem. Luana esconde as economias dentro de uma caixa de sapato, já que não confia nem no banco para guardar seu dinheiro. “Ela não cobra taxas absurdas”, explica. “Três reais descontados mensalmente são R$ 36,00 economizados no ano. Imagina isso em uma vida?”, termina a sua lógica. Rosana Ribeiro, mãe de Luana, confirma o comportamento. “Ela não confia nem nos próprios familiares. Tenho certo desconforto em lidar com pessoas assim”. E para


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Três reais descontados mensalmente são R$ 36,00 economizados no ano. Imagina isso em uma vida? que guardar tanto dinheiro? “Eu posso precisar de dinheiro no futuro. Prefiro ter essa garantia e não depender de alguém”. Nunca se sabe. A funcionária pública Fátima Gallo, de 27 anos, é outro exemplo de quem conta os centavos para não escorrerem pelos dedos. Quando sai com os amigos,ela diz que nunca tem dinheiro. Há até quem diga que ela faz cena para pagarem seus lanches. “A cara de pau é fichinha perto dela”, explica sua melhor

amiga Christina Duarte. A economia é feita até nas roupas. Além de reformar as peças usadas da irmã mais nova, Fátima chega a repetir o vestuário algumas vezes antes do encontro com a máquina de lavar. “Não tenho problema de usar a mesma roupa algumas vezes. Em países europeus, isso é normal”, conta, tímida. Não há limites para a economia. Como convive com a mãe e a irmã que não controlam o dinheiro na carteira, ela dá os seus “pulos”

CRÉDITOS: ARQUIVO PESSOAL

para não ficar no vermelho. “Pelo menos as contas de casa eu não deixo de pagar”,reflete, aliviada. Mas ao contrário de Luana, que chega a dar tchau de mão fechada de tão pão-dura, Fátima não resiste a um espetáculo musical.“Gosto de shows internacionais. Não resisto à uma estrela de rock. Já fui em dois Rock in Rio (2011 e 2013) ,e em grandes shows do Red Hot Chilli Pepers, Metallica, System Of A Down, entre tantos outros”, comenta,orgulhosa. ARQUIVO PESSOAL

Apesar de se considerar uma autêntica pão-dura, Fárima não economiza quando o assunto são shows internacionais de rock

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ARQUIVO PESSOAL

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MOEDA DA SORTE Afinal, por que os ricos são ricos?

R

Thamirys Teixeira iqueza atrai riqueza. Que o diga Tio Patinhas, personagem de Walt Disney. Se essa teoria estiver certa,o estudante de Administração e herdeiro da rede de supermercados Santa Maria (Uberaba - MG) Gabriel Ramalho nunca verá a face da pobreza. “Eu sei que tenho uma vida confortável e a ausência do dinheiro não me assombra, mas prefiro pegar ônibus para não gastar com o posto de gasolina”, revela. Por isso, ele não faltou em qualquer manifestação do Movimento Passe Livre. “Eu já evito andar de carro para economizar, se for para pagar mais caro, eu pego o carro da minha mãe e está tudo certo”. Gabriel tem um emprego administrativo no negócio da família e recebe cerca de R$ 1.200,00 mensalmente do pai para manter os seus estudos. Porém, o que puder fazer para não gastar esse dinheiro ele fará. “Tenho quase R$ 100 mil guardados. Do meu, tento gastar só um terço”. E o esquema para conseguir mais? “Sempre ligo para minha mãe pedindo dinheiro para trocar o celular, comprar um livro ou coisas da faculdade. E o pior é que ela sabe que é para fazer um caixa 2”,explica bem humorado.

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THAMIRYS TEIXEIRA

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Lilian economiza o que for necessário para alcançar seu objetivo.

O Ford EcoSport FreeStyle 2013 é hoje o maior sonho de consumo da analista contábil júnior Lilian Souza RAngel

De grão em grão Lilian Souza Rangel, de 23 anos, trabalha como analista contábil júnior . Vem de uma familia com uma situação econômica boa e vive atualmente com os pais e a avó materna. Recebe cerca de R$ 2.500 em benefícios,e mensalmente consegue guardar entre 40% e 50% em uma poupança. Lilian conta que guarda dinheiro desde o seu primeiro emprego como secretária. “Eu sei que sou lembrada pelo pouco que gasto, mas não me incomodo com isso. Todo mundo já deu uma exagerada nos gastos, mas na maioria do tempo eu tento não seguir esse ciclo” conta.Lilian tem uma poupança de aproximadamente R$ 34 mil, e pretende chegar aos R$ 55 mil para comprar à vista o carro que tanto deseja (o Ford EcoSport FreeStyle 2013)Para tanto, ela ainda faz bicos nos finais de semana fotografando casamentos. Em razão do falecimento recente de seu avô ma-

terno, Lilian conseguiu juntar para a sua poupança cerca de R$ 22 mil do seguro de vida. “Infelizmente o dinheiro não veio de uma boa fonte, mas agora estou mais perto do meu objetivo”. Segundo ela, quanto mais se gasta, mais tempo se leva para conseguir o valor desejado. Descontraída, Lilian conta que não gosta de ir a bares e restaurantes. Procura sempre ir a eventos gratuitos, principalmente quando no local há petiscos a serem oferecidos. “Acho restaurante uma perca de dinheiro. As pessoas se deixam levar pelo ambiente e pela bebida e pagam o que não podem na comanda depois”,comenta cheia de si. E assim, ela não se considera avarenta. “Essa coisa de “mão fechada” é meio relativa. A maioria das pessoas gasta inconsequentemente e por isso quase sempre está com problemas financeiros”. Como o velho ditado popular: De grão em grão é que a galinha enche o papo. E no caso de Lilian, esta poupança está enchendo sua conta.

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crônica:

DIVULGAÇÃO

O MODERNO

SCROOGE Existe ética no universo da avareza?

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Imagem do filme A Chistmas Carol, da Walt Disney (2009)

João Gabriel Suaed

u tenho tudo e isso não parece ser suficiente. Possuo tudo que meus vizinhos não têm. Tenho o poder por querer e não por precisar. Isso me faz forte. Um homem de posses. Que tem prestígio. Dividir? Não, nunca passou pela minha cabeça. Fecho-me em minha sala, um Office com pisos de mármore e ônix preto. Tenho aos meus pés o metro quadrado mais caro do mundo. Ainda tenho em minhas paredes emadeiradas com carvalho envernizado, e sob elas perduram quadros de Renoir e Michellangelo. Acho que os dois são italianos, ou não sei, não interessa, é caro e eu comprei. Aqui eu consegui tudo que tenho, meu palco. Meu brilho é extensivo. Sou um sheik moderno. Todos respeitam um homem que tem poder sobre as coisas. Ostentação? Não. Qualquer um que tivesse dinheiro faria isso. Sobre meus amigos? Tenho alguns. Mas não tenho contato, não ganho dinheiro conversando por aí. Como eu cheguei aqui? Bom, eu sempre busquei o céu. Era gerente de operações de logística na capital do mundo, Nova York. Fui crescendo. Meu supervisor não tinha gabarito para estar onde estava. Dei um jeito, virei supervisor... Que jeito? Eu fiz com que meu diretor olhasse a minha carreira pelos olhos do Macallan 1939, uma garrafa do sétimo whiskey mais caro do mundo. Ele não mereceria mais. Na vida a gente chega aos lugares de maneira lenta e rápida. A rápida é por meio de suborno..... Ahh se eu não tivesse feito a cabeça dele iria demorar para crescer.

Se sou ético? Meu amigo, não existe isso. Quem faz generosidades não tem espaço no mercado. E eu vou estar no meu espaço, no seu e de todos os outros. Eu quero subalternos. Nasci para ser faraônico. Seu eu acho que isso vai se estender para a vida pós a morte? Como eu disse, meu caro, se existe vida a após a morte como pregam por aí, eu quero ter minhas conquistas do meu lado. E se eu tivesse que doar uma pequena parte para um hospital? Se a instituição for pública o governo que cuide, e particular há o investidor. Se houver barganha, quero muitas garantias e se um hospital estiver precisando de grana, eu não acho que eles me darão garantias. Ahhhhh de novo isso? Se a Melinda Gates e o seu marido Bill doaram milhões para caridade ou sei lá o que faz a fundação Gates é problema deles. Particularmente, uma babaquice.Imagino que quando estiverem definhando não irão receber a ajuda proporcional. Não, não tenho fé em amizade, todos querem alguma coisa. TUDO É INTERESSE!! Quando eu estiver doente? Eu tenho dinheiro para cura. E se eu estiver com câncer? Eu procuro o melhor oncologista. É fácil, estou bem guarnecido. Eu tenho dinheiro, as pessoas precisam de dinheiro e eu barganharei até ter vantagem. Não tenho família, porque dá despesa. Herdeiros? Não. E para quem vai ficar a herança quando eu partir? Então... vai ficar com alguém... de confiança. Mas eu não tenho amigos.

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O doce sabor do pecado

Ano 1 - NĂşmero 1 - Novembro de 2013

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Gula

s.f. Vício ou defeito de comer e beber em demasia; glutonaria. Fig. Desejo ardente, sofreguidão

Sumário

Crônica: Na segunda eu começo Clientes de carteirinha Propaganda de comida: onde a gula não é pecado Plus Size: uma moda que cresce na região Preciso realmente disso??? Comida como rota de fuga Cirurgia bariátrica: última opção para a busca do emagrecimento Pessoas sofrem com problemas de saúde devido à alimentação em excesso

Expediente Circula semestralmente. Revista produzida pelos alunos do 3º ano de Jornalismo da Universidade Santa Cecília. Editora:Carolina Kobayashi; Repórteres: Carolina Kobayashi, Jackeline Sá, Mayara Sampaio, Murilo César, Raphael Rinaldi e Vinícius Anselmo; Diagramação: Carolina Kobayashi, Jackeline Sá, Mayara Sampaio, Murilo César, Raphael Rinaldi e Vinícius Anselmo; Fotografia: Murilo César (capa e reportagens), Reprodução Internet, Arquivos pessoais, Raphael Rinaldi, J. A. Sarquis, Carlos Cavalheiro, Amigos de Santos; Professores orientadores: Helder Marques e Fernando De Maria.

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gula

Na segunda eu começo Carolina Kobayashi

É

segunda de manhã. Hoje eu começo o regime. Depois de tantas tentativas frustradas, a partir de hoje será diferente. Aproveitei o final de semana para me despedir das tentações da comida. Agora serão somente 2000 calorias diárias que poderei consumir. Sento-me na cozinha, e, na minha frente, o café da manhã. Começa a lei de Murphy. Parecendo pirraça, minha mãe prepara panquecas com queijo. O cheiro está irresistível. A fumaça me guia até elas, como nos desenhos animados. Porém, lembro-me do prometido e breco na frente do prato. Pego uma maçã e saio para trabalhar. Minha mãe questiona por que rejeitei as panquecas feitas com sua pitada de carinho. Falo da minha promessa. Começa a gargalhada. Ignoro sua reação para não desanimar logo cedo. No caminho para o trabalho, termino de comer a maçã. Poucas calorias e saudável. Devo aguentar até a hora do almoço. “Foco, foco, foco”, penso. Menos de duas horas depois, minha barriga ronca com força total. Espero que ninguém tenha escutado. Ela ronca novamente, com mais potência. Meus colegas de trabalho começam a rir. Conto que estou de dieta e eles falam para eu não ser tão radical. Oferecem então, um biscoito. Não aceito. Meu interior me diz: “seja forte, não aceite”. No começo é difícil, mas é falta de hábito”. Mas meus amigos insistem. Acabo pegando uma, só para calar minha barriga que está a prantos guturais. Converso, trabalho e quando volto a mim, num instante, comi o pacote todo! Respiro fundo. Ainda há o dia inteiro para descontar e me policiar nas calorias. No meu íntimo, fiquei chateada. Aproxima-se a hora do almoço e a barriga ronca mais uma vez. Lembro-me que tenho que ir ao banco e não dará tempo de almoçar. Saio correndo

para enfrentar a fila quilométrica antes que meu horário de almoço termine. Restou apenas quinze minutos e com a fome está maior que a fila do banco. Preciso comer algo, mas rápido, para não me atrasar. No caminho de volta, só encontro uma lanchonete. Não teve jeito. Aqueles salgados expostos na estufa me chamam para devorá-los. Compro duas enormes coxinhas de frango com catupiry. Pago e saio às pressas, devorando as coxinhas pelo caminho. Volto pontualmente ao trabalho e com a sensação de ter comido o jantar dos deuses. Ao mesmo tempo, frustrada pela opção que escolhi. Ao passar da tarde, fico firme no meu propósito. Não como mais nada. Nem café eu tomo. Evitei comprar as trufas que uma senhora vende todos os dias no meu setor. É chegada a hora de ir para faculdade. Terminada a primeira aula, meus amigos combinam de comer uma porção de batata frita. Pegaram no meu calcanhar de Aquiles. Não resisto à “crocância” das batatas. E, no vai e vem da conversa, comi a porção acompanhada de refrigerante. Vou para casa, ainda esquecida da promessa que fiz da dieta. Ao chegar, sento-me no sofá, cansada pelo dia corrido. Minha mãe aparece e me pergunta: “Como foi seu primeiro dia de dieta?”. Cabisbaixa, respondo secamente em baixo tom: “não consegui.” “Eu sabia! Sabia que você...”, minha mãe sai, retrucando em direção ao quarto. Sozinha, me pego pensando sobre o dia em que fracassei em minha missão outra vez. Fico muito chateada, pois poderia ter tido mais força de vontade. Após uns instantes, ali sentada, imóvel, levanto e vou para cozinha. Preparo uma panela de brigadeiro e volto para a sala. Sento-me no sofá outra vez. Enquanto devoro minha panela de consolo do fracasso, penso em novas estratégias mais eficazes. Segunda eu começo.

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gula

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Clientes de

carteirinha

Fregueses de restaurantes gastam muito com comida e ficam no vermelho Raphael Rinaldi

A

gula atinge principalmente aqueles que estão acima do peso. Gastam grande parte do dinheiro que recebem com comida, indo a restaurantes, supermercados, e outros estabelecimentos que comercializam produtos alimentícios.

fotos DIVULGAÇÃO

Lúcio da Silva, garçom de restaurante há quase 20 anos, diz que tem vários clientes fiéis. “Eles vêm aqui pelo menos umas três vezes por semana. Pedem sempre bastante comida, sem contar a cerveja, dezenas em uma noite

Fregueses assíduos de restaurantes exageram na comida ao verem uma mesa farta

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só. Isso para nós é bom, até porque a conta no final da noite é bem grande”. O garçom afirma que não são poucos esses ‘clientes de carteirinha’. Muitas pessoas vão lá e ele nem precisa anotar o pedido, sempre pedem a mesma coisa. “Geralmente esses clientes são bem acima do peso. Eles me disseram que sentem vontade de emagrecer, mas não fazem nenhum esforço para isso e eu não posso fazer nada, até porque meu trabalho é servi-los”, explica Lúcio. O estudante Robert Costa é uma dessas pessoas que vão fielmente a um estabelecimento. “Costumo ir a um (restaurante) que é perto da minha faculdade. Lá é muito bom, e o melhor de tudo é que ele é barato e tem um >>


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Apesar de se achar acima do peso, Robert não faz nenhum esforço para que isso mude. “Primeiro porque não tenho tempo, depois acho que não é minha vocação fazer exercícios”.

Ele não quis revelar seu peso, mas deixou clara sua vontade de emagrecer. O jovem já chegou a gastar mais da metade do salário em comida. “Sou muito compulsivo, se vejo algo na rua que me dê vontade de comer, eu compro. Isso já me fez ficar bastante endividado, pois não tinha mais dinheiro para pagar as contas do cartão. Se não fosse a ajuda de meus pais, estaria numa situação com-

Superação Há pessoas que venceram esse tipo de trauma. Bruna Souza, que também é estudante, estava indo para o mesmo caminho de Robert. “Estava indo a restaurantes todos os dias. Era japonês, fast food, sempre diversificando. Além disso, vi que no final do mês estava sempre sem dinheiro, não tinha como continuar naquela vida”, conta ela. Percebendo que estava engordando e com muitas despesas, a jovem acordou

Sinto-me bem agora, tenho prazer de me olhar no espelho novamente

RAPHAEL RINALDI

Despreparo

plicada”, confessa.

cardápio diversificado. Nunca repito o que comi no dia anterior. Se ontem comi lasanha, hoje já escolho um churrasco ou uma feijoada”, comenta.

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tinha um problema e, além de engordar, gastava bastante dinheiro. Sem medo, tomou a iniciativa de parar de comer excessivamente, começou a fazer exercícios regularmente e hoje é uma pessoa que vive com a autoestima Bruna Souza elevada. “Sinto-me bem agora, tenho prazer de me olhar no espelho antes que sua situação novamente”, finaliza a garota. tomasse proporções mais sérias. “Não cheguei a engordar tanto. Sempre fui magra, mas comecei a reparar que estava com uma barriguinha. Quase entrei em pânico. Parei na hora com essa rotina de restaurantes, entrei na academia e voltei a ficar satisfeita com o meu corpo”, explica com um sorriso no rosto. Bruna é um exemplo a ser seguido. Ela viu que

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gula

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Propaganda de comida: onde a gula não é pecado

J. A. SARQUIS

No agressivo mercado da publicidade, quais são os desafios e táticas usados pelas empresas para atrair a atenção dos consumidores?

Mayara Sampaio

É

difícil não sentir água na boca em algumas situações do dia a dia. Afinal, os estímulos estão em todas as partes. Seja aquele comercial de TV do mais novo sanduíche com nome impronunciável, composto de ingredientes que você talvez nunca tenha pensado em combinar – mas que parece apetitoso - ou quando se depara com um outdoor do prato-sensação daquele restaurante caro,

mas que está ‘na moda’. A propaganda de comida utiliza técnicas próprias do setor de marketing na criação e divulgação de marcas, incentivando o consumo de alimentos que nem sempre são essenciais ao ser humano ou fazem bem para a saúde. “A rapidez com que novos produtos são criados e colocados à disposição no mercado aumentou a pressão e a concorrência entre as empresas. Por isso, a propaganda de alimentos ganhou maior

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atenção dos profissionais nos últimos anos”, salienta a publicitária Drika Lucena. E os investimentos não são somente em relação à mídia convencional, como televisão, rádio e plataformas impressas. As novas estratégias fazem parte do conceito de ‘marketing de guerrilha’, que tem como objetivo se aproximar dos clientes por meio de propagandas e anúncios mais interativos e impactantes. “Atualmente, o consumidor precisa ser atraído – além do paladar – por todos >>


PECADOS

os cinco sentidos. Isso é o que chamamos de experiência multissensorial, em que cada detalhe tem uma intenção e alvo”, comenta. Desde o formato, cores e textura da embalagem, até a forma como o cliente adquire o alimento são planejadas para cativar o impulso e a razão de cada pessoa. “Aquelas fotos em que cada ingrediente da comida ganha um destaque visual não é mais garantia de sucesso. O consumidor não é mais tão ingênuo ao ponto de comprar só pela imagem. É preciso pensar em ações de interatividade com redes sociais, brindes e outros recursos que conquistem o público-alvo de cada marca”, destaca Drika. Um caso de destaque é a campanha “Descubra a sua Coca-Cola Zero”, lançada em agosto de 2012. A empresa de bebidas criou uma edição de embalagens customizadas com os 150 nomes mais comuns entre jovens adultos no Brasil. A jogada fortaleceu a conexão entre produto e consumidor, e as latas e garrafinhas personalizadas se tornaram sensação no país - uma espécie de souvenir que abrangeu bem mais que o público-alvo inicial. “Temos que ultrapassar os limites do vender pela apa-

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rência. Só sobrevive a empresa que estiver atualizada sobre o modo de vida das pessoas”, comenta a publicitária. O uso do marketing na venda de alimentos é atuante na vida das pessoas desde a infância. Crianças com menos de 12 anos, por ainda estarem em desenvolvimento biopsicológi-

A publicidade que provoca emoções no cliente é a mais eficaz. Drika Lucena co, são consideradas mais vulneráveis aos estímulos externos. Ciente de que os hábitos alimentares se formam na infância, o mercado publicitário estimula cada vez mais o consumo de produtos palatáveis e saborosos, não sendo necessariamente saudáveis. “Além do uso chamativo de cores, singles e personagens do próprio univer-

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so infantil, os publicitários buscam estabelecer uma relação afetiva do público-alvo com a marca. Quando uma criança vai ao Mc Donalds com os pais, por exemplo, come um alimento apetitoso e ainda adquire um brinquedo, fixa a experiência como um momento feliz. Ou seja, a publicidade que provoca emoções no cliente é a mais eficaz”, salienta Drika. Este é o motivo de sucesso entre o público infanto-juvenil de brindes em caixas de cereal, salgadinhos e outros produtos que utilizam esta estratégia.

SE7E

Quando as lentes se voltam para a comida Quando nos deparamos com aquela imagem convidativa de um prato de comida, com a luz ressaltando os melhores ângulos e ingredientes milimetricamente trabalhados para provocar a gula, não pensamos no trabalho exigido no momento do clique. O fotógrafo argentino José Alberto Sarquis, que atua como profissional há mais de 30 anos, possui diversos trabalhos no ramo do registro de alimentos. Para ele, a grande pretensão da fotografia de comida é fazer com o que consumidor queira saborear o que >>


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está sendo retratado na imagem. “Para isso, aplicamos uma série de elementos da própria fotografia básica para valorizar determinados aspectos e pontos de um prato.” E cada detalhe demanda muito trabalho e preparação. É preciso equipamentos e conhecimentos fotográficos específicos para conseguir idealizar uma foto de qualidade. “Dependendo do tipo do alimento ou da bebida, o processo de produção é essencial para um resultado satisfatório. Geralmente trabalhamos em equipe, pois é preciso pensar na luz, na disposição da louça, no melhor modo em que o alimento pareça fresco e, além disso,

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na ambientação e tradição que envolvem o consumo daquele prato. Tudo isso interfere diretamente na nossa vontade de ‘abocanhar’ uma foto”, explica Sarquis. Bons profissionais nunca revelam seus principais segredos. Mas, segundo Sarquis, existem alguns truques que fazem grande diferença no visual final. “Para enfatizar a suculência das carnes, colocamos um pouco de gel comestível na superfície. Também acrescentamos um vapor quente de ar por dentro dos alimentos para capturarmos aquela ‘fumacinha’, parecendo que acabou de sair do forno. Eu mesmo só fotogra-

IS

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fo comida que acabou de ser cozinhada, mas essas técnicas ressaltam a beleza do prato”, conta. Por se preocupar tanto com esses detalhes, o fotógrafo acredita que o ideal é fazer todos os ajustes necessários e aplicar os ‘truques’ no momento do clique. “O resultado fica bem mais natural, bonito e honesto para com o público. A pós-produção é necessária, mas para fazer ajustes de corte ou de design do anúncio, e não para alterar o que foi fotografado.” >>


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Quando a culinária é a vítima do Photoshop A sessão fotográfica acabou. E agora, qual o próximo passo? “Fazemos uma seleção das melhores imagens e as enviamos para o tratamento. Lá, um profissional vai iniciar os trabalhos em programas espe-

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cializados, como o famoso e polêmico Photoshop”, conta o publicitário e professor universitário André Reis. Primeiramente, a foto passa por um processo de ajustes básicos para melhorar a nitidez, o contraste e a resolução do arquivo. Em seguida, são definidos o recorte e o foco da imagem. A partir daí, começa o dilema. “O tratamento é fundamental na realização de qualquer imagem profissional. A grande questão é o quanto podemos interferir na estética da foto.” Em se tratando de um assunto bastante questionado e debatido pela mídia, Reis ressalta que o bom senso deve ser o guia para quem

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quer produzir um trabalho visual de qualidade. “O fato é que não podemos descaracterizar a foto. Quando lidamos com imagens de pessoas, por exemplo, devemos nos policiar para não tirar a essência, as marcas do indivíduo e nem ‘desconfigurar’ seu corpo. O mesmo princípio vale para os alimentos.” Existem limites éticos para os responsáveis pela edição de imagens? “Acredito que não. O que precisamos é ter conhecimento sobre os programas especializados em tratamento visual– que possuem cada vez mais recursos – e termos noção de que o nosso trabalho é vender um alimento atrativo aos olhos dos consumidores, mas sem ferir o senso crítico das pessoas”, completa. Então, lembre-se: todas as vezes que você se pegar salivando por conta de uma propaganda de ‘encher os olhos’, pense mais com a razão do que com a boca do estômago. A imagem, no fim das contas, pode ser meramente ilustrativa.


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uma moda que cresce na região

O segmento ainda não tem força na Baixada Santista, mas tende a crescer, apesar do preconceito

“ Raphael Rinaldi

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excesso de peso é muito comum entre os brasileiros. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 40% das pessoas no país estão acima do peso. E esses números aumentam cada vez mais. O que preocupa é que esse problema pode gerar a obesidade. Isso pode acarretar muitos problemas para uma pessoa, como, por exemplo, a falta de opções de vestimentos devido ao restrito comércio de roupas plus size. Na Baixada Santista ainda não é comum ter esse tipo de comércio. “Às vezes quero sair pra algum lugar, mas não vou porque não tenho uma boa roupa para isso”, conta a dona de casa Jussara Santos. Michelle Dellamonica, estudante de Publicidade e Propaganda e modelo plus size, tem a mesma opinião de Jussara. “Acho que as organizações dos eventos poderiam ser melhores. A maioria das pessoas que trabalha com esse segMichelle Dellamonica mento é amadora, e a divulgação é de baixa qualidade, gerando uma visão negativa do trabalho como um todo”. Mesmo não tendo um comércio muito forte, ainda, aos poucos esse segmento vem evoluindo. “O mercado está crescendo, e o Facebook é o principal serviço de divulgação das lojas”, explica a modelo.

CARLOS CAVALHEIRO

Ainda rola um preconceito com as gordinhas, mas quando a gente ama o que faz isso passa longe.

Autoconfiança Não dando muita importância a rejeições, a modelo diz que seu trabalho não agrada a todos. “Ainda rola um preconceito com as gordinhas, mas quando a gente ama o que faz , isso passa longe”, confessa. Há também as pessoas que têm dificuldades em comprar roupas de plus size por não aceitarem estar acima do peso. “Aceita que dói menos! Se ame mais, se está feliz gordinha continue assim e não deixe que ninguém te diga que você é feia por não estar dentro dos padrões de moda da sociedade. Abusem do bom gosto e sejam felizes”, aconselha a modelo. Michelle mandou um recado para aqueles que ainda têm medo de admitir que estão acima do peso. “O preconceito está dentro de nós mesmos. Quando estamos bem com o nosso corpo e mente, nada é capaz de nos atingir. Muitas vezes a baixa estima gera a rejeição. Por vezes, achamos que todos que nos olham estão nos criticando e, na verdade, somos nós que não estamos felizes com o nosso corpo”.

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AMIGOS DE SANTOS

Plus Size:


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Preciso realmente disso??? Não é necessário ver uma loja em liquidação para saber que os seus cartões de crédito e cheques são os seus inimigos. E o pior deles é você mesmo!

Jackeline Sá

ce muito com Marisa Pedral, 22 anos, auxiliar administrativa. “Tenho cerca de 70 batons e, sempre que sai um novo na loja, eu compro. preço é alto, pois o produto é im- Preciso dele”, confessa. Marisa admite que quaportado. A embalagem graciosa e se todo mês cai no cheque especial devido ao o bom atendimento da vendedo- exagero nas compras e isso não a desmotiva. ra são convincentes. Os produtos As facilidades que estão disponíveis são inúmesão dispostos de forma atrativa ras e apenas contribuem para que as pessoaos olhos e parecem pedir para serem com- as possam consumir além do limite. Diversos prados. A fachada chamativa da loja convida cartões de crédito e débito, talões de cheque muitos a adentrarem. Sem pensar, pestanejar e tokens de banco são os itens necessários da ou hesitar, você compra o último lançamento carteira da auxiliar, que não sai sem eles. Apedaquela marca famosa e, apesar de ter vários sar de já ter tentado sair sem os cartões para itens do mesmo modelo, pensa que precisa não comprar nada, a experiência não surtiu daquele. Afinal, ele não será apenas mais um. efeito algum. “Quando cheguei em casa comEsse é um dos pensamentos de pessoas que prei tudo o que vi pela internet. E, pior, comprei têm compulsão por compras. E isso aconte- coisas além da lista que tinha feito”, lamenta. >>

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gula

Universo masculino adere ao consumismo Quem pensa que o prazer de comprar fica apenas para as mulheres, está muito enganado. Os homens estão cada vez mais obtendo este hábito e colecionando aquisições caras e, muitas vezes, desnecessárias. Este é o caso do advogado Piero Siqueira, 28 anos, que se rendeu aos sites de compras, os chamados outlets online. “Não resisto às promoções da Internet. Consigo comprar tudo pela metade do preço”, confessa. O advogado declara que, em um dos momentos de descontrole, gastou cerca de R$2.200 em um relógio e, após a compra, se sentiu feliz. “Penso que trabalho tanto, portanto mereço gastar”, justifica. Se para Piero o consumismo é voltado para objetos, para o estudante de Engenharia de Petróleo, Paulo Ranazzi, 22 anos, a comida é a grande inimiga do seu salário. Sem dó ou piedade, o estudante não resiste gastar em um bom restaurante. “Sozinho em um almoço, já gastei cerca de R$100. Poderia ter gasto R$10 em um restaurante qualquer, mas quando se trata de comida, creio tem que ser o bom e melhor”, explica. Sem arrependimentos, Paulo afirma que sente que aquilo valeu a pena. Porém, quando questionado se o exagero em gastar iria para aquisições de objetos, ele nega. “Tenho dó de gastar em outras coisas”, completa.

O quanto isto é necessário? O consumismo não distingue gênero e faz com que o indivíduo confunda o que é real com uma falsa necessidade de possuir algo. O cenário atual é favorável para este mal, onde a sociedade capitalista estabelece padrões e cria a ilusão de que a felicidade está em gastar o que não se tem. Algumas questões que levam ao consumismo são puramente emocionais e psicológicas. Segundo a psicóloga Adriana Ramos, o consumista quer ter e sentir o poder. “Ele quer sentir-se por cima, nem que isso lhe custe um emaranhado de dívidas”, explica. Ansiedade, baixa autoestima, carência e vontade de ser aceito em um grupo também podem ser as causas desta compulsão. “É adequado sempre perguntar-se se há necessidade em comprar determinado objeto ou serviço e se a pessoa pode pagar aquilo”, recomenda Adriana. “Com isto, já é possível ter um prognóstico do paciente e descobrir o que falta na vida dele”, diz a psicóloga.

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Co Carolina Kobayashi

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uem nunca comeu um pouco a mais do que de costume em um final de semana em churrasco com os amigos ou em uma feijoada com a família? Ou quando está ansioso ou se sentindo “para baixo” e come muito mais que uma barra de chocolate? Atualmente, comer está muito mais associado ao prazer do que sua principal função: fornecer recursos essenciais para manter o nosso corpo. Entretanto, algumas pessoas começam a comer e não conseguem interromper sua refeição. Elas possuem Compulsão Alimentar Periódica, transtorno que é caracterizado pela ingestão exagerada de alimentos, seguida da sensação de arrependimento e/ou culpa. Segundo a psicóloga Daila Dualattka Fernandes, os motivos

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omida PECADOS

como rota de fuga

Conheça a Compulsão Alimentar Periódica e o grupo que auxilia na recuperação dos comedores compulsivos podem estar relacionados ao ambiente familiar, social, genético ou de trabalho. A depressão e a ansiedade, por exemplo, podem contribuir para o transtorno. “Os comedores compulsivos têm alta prevalência de apresentar esses sintomas, fazendo com que ‘saciem’ suas angústias através do ato de comer. É como se a mente buscasse uma compensação para algo que se sente como privação e/ou insatisfação”, explica a psicóloga. O médico nutrólogo e endocrinologista Fauzi Geraix Neto explica que as pessoas que têm o transtorno buscam um prazer momentâneo pela alimentação. “Geralmente elas buscam alimentos que tenham digestão um pouco mais lenta e que causam uma saciedade mais prolongada. Esses alimentos são ricos em gorduras. O paladar puxa para o doce também.”

Fazer o bem sem olhar a quem

Procurando ajudar quem passa por essa doença, o grupo dos Comedores Compulsivos Anônimos (CCA) realiza reuniões para que pessoas com o transtorno possam contar e ouvir como cada um lida com a compulsão, auxiliando-os na recuperação. Inspirado no programa dos Alcoólicos Anônimos, o Overeaters Anonymous foi criado em 1960, em Los Angeles, Estados Unidos. Hoje, há grupos em diversos países, como Canadá, França, Inglaterra e em vários estados do Brasil. Silvana (nome fictício, pois o anonimato é fundamental para esse grupo), começou a frequentar as reuniões há nove anos. Só se deu conta que tinha o transtorno a partir do CCA. Pesava 140 quilos. “Eu estava depressiva

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e sentia dores até quando virava na cama.” Ela contou que achou o grupo por acaso, enquanto procurava uma clínica de recuperação para um familiar. “Me senti bem na primeira reunião, mas fiquei quatro meses sem falar.” Atualmente, Silvana é uma das coordenadoras do encontro. “As reuniões não têm um coordenador fixo. Qualquer um pode prestar esse serviço, desde que tenha frequentado o CCA por cerca de três meses.” Tentou frequentar outros lugares, porém não funcionou. “Participei de um grupo de dieta uns cinco anos, mas só engordei e ainda me senti culpada por isso.” Ela se recorda que começou a comer compulsivamente quando queria o divórcio de seu terceiro casamento. . Engordou 30 quilos em um ano. Após três anos, conseguiu se separar e engordou >>


mais 10 quilos. “Cheguei no CCA no fundo do poço. Quando entrei, só pensava em morrer. Só estava esperando meu pai morrer (na época ele estava doente) para me matar. Meu alívio era entrar em sites para escolher como ia me matar”. Morando sozinha, nos episódios de compulsão, ela comia de duas a três pizzas inteiras. “Destruía as caixas de pizza para ninguém ver que eu comia tanto”. Fazia até três panelas de brigadeiro para comer de uma só vez. Já chegou a sair às três horas da manhã em busca de sorvete Cornetto. “Varava em lojas de conveniência e supermercados 24 horas atrás do que eu queria”. Silvana já chegou a comer isopor. “Comer já era um sofrimento. Não tinha mais prazer. Era uma punição. Um sofrimento mesmo”. Comia compulsivamente tudo o que tinha em casa. A comedora pensou até em vomitar para poder comer mais. “Comer era a única coisa que me dava alívio. Era uma fissura igual à droga.” Ao participar das reuniões,

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Os comedores compulsivos escolhem um tipo de alimento específico, ingerindo porções exageradas

Silvana começou a listar o que comia e o que acontecia antes de começar a compulsão para sentir o que a levava para o comer compulsivo. Houve uma época em que frequentava as reuniões todos os dias em locais diferentes. Foi o período em que começou a emagrecer. “No primeiro mês emagreci 200 gramas. No segundo mês, 250”. Porém, ao se pesar e constatar que havia emagrecido, voltava a comer, pois achava que já se sentia melhor. Ao se pesar novamente, via que tinha engordado e voltava a comer por frustração. Silvana, membro do CCA As reuniões do grupo

Cheguei no CCA no fundo do poço. Quando entrei, só pensava em morrer.

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que ela frequenta ocorrem aos domingos, mas é restrito aos frequentadores assíduos, exceto todo primeiro domingo de cada mês, quando a reunião é aberta para que qualquer pessoa possa participar. O grupo segue os 12 passos e as 12 tradições adaptadas dos Alcoólicos Anônimos, que os membros devem tentar seguir. Além das reuniões, os membros utilizam outros instrumentos de recuperação, como a literatura. Em cada reunião, escolhe-se um ou mais temas (dependendo da disponibilidade de tempo) do livro de meditação, para que os participantes possam comentá-los. Qualquer depoimento ou comentário tem um limite de tempo estipulado, >>


“ SE7E PECADOS

individuo tem a motivação de seguir os passos. Para o endocrinologista Geraix Neto, quanto mais informações, quanto mais acolhimento é melhor para a recuperação do

ma no CCA. Após nove anos com os Comedores Compulsivos Anônimos, seus hábitos mudaram. “Agora eu tenho prazer de andar. Antes era muito ruim caminhar, era um andar pesado e tinha muitas dores”. Praticava yoga havia 20 anos, mas parou devido à doença. Recomeçou após seis meses de participação nas reuniões. Este ano também começou a fazer deep running, espécie de corrida na piscina, e voltou a pilotar moto. “Estipulei quatro minutos para fazer atividade física. Se conseguir, eu faço mais”. A vaidade, que a doença tinha sufocado, também foi reavivada. Fauzi Geraix Neto, nutrólogo Atualmente, mora sozinha com suas duas gatas. Hoje diz que consepaciente. “É necessário que gue cuidar de animais. “Não esses grupos troquem expe- bato, não brigo, eu converso riências pessoais. Os seres e elas obedecem.” Ela acrehumanos são diferentes. Nós dita que tenha emagrecido aprendemos muito com os por volta de 40 quilos, mas erros e acertos dos outros.” isso não é nada perto do que Silvana faz terapia desde mais ela considera imporos 28 anos, mas só encontrou tante: “O CCA me devolveu resultado para esse proble- a vontade de viver.”

que deve ser respeitado por quem tem direito à palavra e por quem ouve, sem interrupções. “O CCA é ajuda mútua na troca de experiências. As pessoas podem se identificar umas com as outras na reunião, numa terapia de espelho”, diz Silvana. As tradições regem os princípios para o grupo funcionar e progredir. O principal: o anonimato. Sua sétima tradição diz que o grupo deve ser autossustentável e não aceitar doações de fora. Os participantes assíduos contribuem com o que podem e os visitantes são proibidos de doarem. Na própria reunião é contabilizado o dinheiro arrecadado, e anotado no livro, onde os participantes assinam sua presença. Despesas como aluguel, por exemplo, são pagos com esse dinheiro, além da compra dos livros e folhetos de estudo do CCA. A psicóloga Daila Fernandes acredita que o grupo dos Comedores Compulsivos é um suporte eficaz quando o

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Nós aprendemos muito com os erros e acertos dos outros.

Endereços CCA em São Paulo *Não há grupos na Baixada Santista

Itaim Bibi: Domingo -18:00 Rua Oliveira Dias, Nº 301 - Itaim Bibi (Rua de trás da Igreja São Gabriel) Obs: Reunião aberta no primeiro domingo do mês. Jabaquara: Quarta-feira - 14:30 Igreja São Judas Tadeu Alameda dos Guaiós, 149 sala 9 - Jabaquara OBS: Não há reunião quando o dia 28 de cada mês cai numa quarta-feira. Jardins: Sábados - 16:00 Igreja N. S. do Perpétuo Socorro Rua Sampaio Vidal, 1055/ 1º andar - Jardins Vila Mariana: Quinta-feira - 20:00 Rua Dona Inácia Uchôa, 106

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Cirurgia bariátrica: a última opção para a busca do emagrecimento Número de operações aumentou quase 90% nos últimos cinco anos no Brasil. Antes, porém, o paciente deve perder peso com mudança de hábitos Murilo César

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conhecida como obesidade a doença provocada pelo acúmulo de gordura no corpo. A partir do momento em que a obesidade torna-se capaz de acentuar o risco de doenças relacio-

nadas ao excesso de peso, ela passa a ser chamada de obesidade mórbida. Um dos meios utilizados para avaliar o nível de obesidade é o Índice de Massa Corporal (IMC). Esse índice é obtido dividindo o peso pelo quadrado da altura da pessoa. A obesidade mórbida é uma doença grave e está relacionada a vários fatores.

Para a fisioterapeuta Aline Costa, do Hospital Nossa Senhora de Lourdes, isso pode variar entre genética, psicologia e até mesmo ao período pós-parto das mulheres. “A doença pode ocorrer como predisposição genética, desordens glandulares ou gastrointestinais, alterações nervosas e psicológicas, erros alimentares e falta de exercí>>

Número IMC menor que 18,5

abaixo do peso

18,5 a 24,5

24,5 a 29,9

30,0 a 34,9

peso normal

sobrepeso

obesidade grau I

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35,0 a 39,9

40 ou amior

obesidade grau II

obesidade mórbida


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em três meses”. Para algumas pessoas, os quilos a mais se resumem a uma “gorduri nha” saliente em cima da calça. Para outras, a briga com a balança envolve

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cios físicos. Em mulheres, o período pós-parto e a menopausa contribuem para a retenção de gordura”. Muitos problemas são enfrentados pelas pessoas que vivem com essa doença. Fernanda Zovico Oliveira Henrique, 25 anos, viveu boa parte da vida sofrendo o famoso “bullying”. “Na escola sempre fui tachada como gordinha. Quando comecei a namorar meu atual marido, também sofri com os amigos dele, que viviam tirando sarro por ele namorar uma gordinha. Era humilhante”. Fernanda teve sua infância prejudicada por estar acima do peso “Sempre fui diferente dos padrões para minha idade, e isso sempre me incomodou muito”. Na adolescência não foi diferente. “Foi ficando cada vez mais difícil, afinal é a fase onde a vaidade vem com tudo, e eu me sentia horrível. Comecei a engordar mais e aos 19 anos me casei e engordei 30 quilos

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Fernanda, minutos antes de realizar sua cirurgia bariátrica

baixa autoestima e o exagero de consumo de inibidores de apetite. Em alguns casos, a solução encontrada é a cirurgia bariátrica, popularmente conhecida como “redução de estômago”. A busca pelo peso ideal fez Fernanda tentar diversos meios para emagrecer. “Havia tentado todos os métodos possíveis, desde uma simples dieta até remédios injetáveis, nada deu certo”. Então tomou a decisão de fazer a cirurgia. “Fiquei assustada com a radicalidade da cirurgia, mas quando via fotos do antes e depois das pessoas, eu praticamente conseguia me enxergar nelas”. >>


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Como nem sempre as coisas acontecem como é esperado, Fernanda até hoje sofre com algumas sequelas pós-cirurgia. “Houve um período em que eu vomitava todos os dias. Procurei ajuda médica e me receitaram uma dieta pastosa. Sofri demais e por isso digo que essa é a forma mais rápida, mas está longe de ser a mais fácil”. A fisioterapeuta Aline afirma que isso pode ocorrer sim. “Depende muito do organismo da pessoa e de como ele irá aceitar as mudanças. Alguns podem aceitar e não sentir nenhum efeito, enquanto outros podem sofrer duras consequências”. A professora Ingrid Caratine Pires também sofria com sua obesidade. Realizou a cirurgia bariátrica em 18 de março deste ano e hoje se sente bem com o resultado. “Me sinto feliz e liberta. Feliz em conseguir usar salto, conseguir dormir sem roncar, livre de ir apenas onde sei que as cadeiras vão me aguentar”. E manda o recado. “O primeiro conselho que dou às pessoas que sofrem de obesidade é a aceitação. Todo obeso sabe que é obeso, porém não aceita dicas e conselhos e acaba adquirindo certa agressividade”. >>

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Ingrid emagreceu 54 quilos com a cirurgia bariátrica

Tratar a obesidade não é fácil. Todos sofrem preconceitos e têm suas limitações, mas engana-se quem pensa que a cirurgia bariátrica é a primeira alternativa para solucionar o problema. O ser “gordo” nem sempre está no que se come, mas principalmente na cabeça. Pessoas julgam e atribuem a obesidade à preguiça, mas não sabem o quanto perder quilos é dificil. “Eu aconselho a todos que sofrem desse mal a buscar ajuda, seja ela psicológica, médica, ou até cirurgica, pois a obesidade mata aos poucos, não só pelas doenças que pode causar, mas porque ela vai nos matando psicologicamente um pouco a cada dia” afirma a professora.

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Me sinto feliz e liberta. Feliz em conseguir usar salto, conseguir dormir sem roncar, livre de ir apenas onde sei que as cadeiras vão me aguentar.

Ingrid

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Pessoas sofrem com

saúde devido Vinicius Anselmo

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má alimentação ou excesso dela pode resultar em consequências sérias a nosso corpo. Muitas pessoas que não se consideram no peso ideal começam uma dieta de forma errada. O maior erro cometido é iniciar um processo de emagrecimento usando remédios sem orientação médica. Além de acarretar danos à saúde, os riscos de vida são evidentes. E uma das opções para quem quer vencer os resultados que a gula proporciona é a redução de estômago. Jessica Taluana Campos, 25 anos, passou pela cirurgia de redução estomacal há dois anos e conta que fez por opção, mas não descarta que sofria de problemas de saúde. “Fiz por opção, pois resolvi que não queria mais fazer dieta tomando remédios. Ao procurar um endocrinologista do meu plano de saúde, fui encaminhada para um especialista, em São Paulo, no Hospital Igesp.” >>

ARQUIVO PESSOAL

Jéssica emagreceu 92 quilos e pretende perder mais dez

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m problemas de

o à alimentação em excesso

A jovem relata que a cirurgia durou cerca de cinco horas e que a parte mais delicada foi a queda de cabelo. No entanto, foi só pós-cirurgia e se regularizou com o passar do tempo. A cirurgia bariátrica não é tão simples, como explica a nutricionista Carla Rodrigues. “A recidiva de ganho de peso ainda é muito elevada, e um dos fatores causais é a falta do acompanhamento pré e pós-operatório adequados. Há necessidade da conscientização destes pacientes sobre a necessidade de mudar seus hábitos alimentares e psicológicos, para que o objetivo de redução de peso corporal seja alcançado e mantido. Para tanto, os pacientes devem ser acompanhados por médicos e nutricionistas para garantia de um emagrecimento saudável e sem complicações.” Mas Jessica diz que sua recuperação foi tranquila. “ Sempre segui as orientações

dos médicos à risca, então não tive muitas dificuldades, nem com a alimentação e nem com a recuperação. Não tive dores nem vômitos e não rejeitei

A orientação que recebemos nas reuniões é que o exercício físico é “eterno”, ou seja, deve fazer parte da rotina...

Jessica Taluana Campos

nenhum tipo de alimento, mas conheço pessoas que tiveram muitas dores pós-operatórias

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e vômitos constantes quando começaram a iniciar a alimentação normal.” Hoje em dia sua alimentação é normal, tanto na escolha do alimento quanto na quantidade. A grande diferença é que a jovem prioriza os alimentos mais saudáveis. Outro fator de extrema importância no processo de recuperação são os exercícios físicos. Um paciente que passa por esse tipo de cirurgia tem que repousar por seis meses antes de fazer qualquer atividade física. No começo, de forma leve, carregando poucos pesos. Porém com o passar do tempo, as atividades podem ser feitas normalmente. Tudo isso sempre seguido de orientação médica. “A orientação que recebemos nas reuniões é que o exercício físico é “eterno”, ou seja, deve fazer parte da rotina do operado e que depois do primeiro ano deve-se fazer exercício com intensidade normal”, conta Jessica. Jessica pesava anteriormente 180 quilos. Depois da cirurgia ela passou a pesar 88, e pretende emagrecer ainda mais até chegar aos 78 quilos.


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Fatores importantes na educação alimentar após a cirurgia: • Incorporar novos hábitos alimentares;

• Mastigar lentamente, com intervalo entre as porções ingeridas; • Não ingerir líquidos durante as refeições;

Alimentos que devem ser evitados no pós-operatório: • • • • • • •

Cafeína, Bebidas gaseificadas (água com gás, refrigerantes), Bebidas alcoólicas, Açúcar, doces em geral, Alimentos com alto teor de gordura, Frituras, Alimentos industrializados (balas, salgadinhos,bolachas recheadas).

Alimentos que devem ser estimulados no pós-operatório: Ferro – Carnes em geral, miúdos, gema de ovo, leguminosas (feijão, lentilha, ervilha), vegetais de cor verde escura, beterraba, moranga, pimentão, ameixa seca, cereais integrais, alimentos fortificados com ferro. Ácido fólico -Fígado, peixes, feijão branco, soja e derivados, brócolis, couve, espinafre, couve-flor, repolho, beterraba crua, aspargos, ovo, laranja, melão, maçã, pães integrais. Vitamina C – Morango, beterraba, brócolis, couve-flor, ervilha, repolho, tomate, alho, pimentão, rabanete, salsa, abacaxi, acerola, caju, goiaba, kiwi, laranja, limão, maracujá, morango e uva. Vitamina B1 (Tiamina) – Carnes vermelhas, fígado, atum, feijão, ervilha, cereais integrais, leite, gema de ovo, abobrinha, berinjela, batata doce, beterraba, cenoura, couve-flor, pimentão, goiaba.

fotos DIVULGAÇÃO

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IN.VE.JA

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IN.VE.JA

“ crônica 58

Significado - s.f. Sentimento de cobiça à vista da felicidade, da superioridade de outrem: ter inveja de alguém.

expediente Edição e Revisão: Nathamy Lopes

Lima, Jéssica dos Santos, Júlia Maichberger, Nathamy Lopes e Rafe Aguiar

Fechamento: Rafe Aguiar

Fotografia: Caroline Souza; Jéssica dos Santos, Júlia Maichberger, Juliane Garbes, Nathamy Lopes, Murilo César, Rafe Aguiar, Reprodução Internet e Arquivos pessoais

Equipe de reportagem: Caroline Souza, Gilda Lima, Jéssica dos Santos, Júlia Maichberger, Nathamy Lopes e Rafe Aguiar Diagramação: Caroline Souza, Gilda

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Supervisão de jornalismo: Helder Marques

Universidade Santa Cecília 2013


de onde vem até onde vai

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INVIDIA desde a Grécia como ela afeta no trabalho inveja de mim? entra no face!

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RECALQUE é a nova inveja

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73 pelas religiões

EXPLICAÇÃO DIVINA


TEM QUE SER MEU

inveja

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INVEJA H HIPOCRISIA AMBIÇÃO COBIÇA GANÂNCIA Jéssica Santos

ipocrisia ela falar que não sente inveja, todos sentem, de alguém, alguma coisa, uma situação, um momento, porém ninguém diz. Camuflam e acham que conseguem esconder, eu vejo. Vejo tudo! Não temo em dizer quando sinto e o que quero. Quero a bolsa que nem a dela, um namorado perfeito igual ao da minha prima, ter o cabelo da minha melhor amiga, ser popular que nem ela. Porque não posso ser assim? Se tivesse algumas coisas a mais presentes na minha vida seria mais feliz, não reclamaria de quase nada. Não precisaria sonhar, pois o meu sonho seria a minha realidade e o meu presente. Ela compra o que quer em qualquer momento, não pergunta o preço de nada, shopping é o seu local favorito, faz compras em todas as lojas, tem de tudo e mais um pouco. Eu? Passeio pelas lojas só para admirar, compras, só às vezes. Dinheiro? Só sei o significado no final do mês e quando descubro, ele desaparece. A casa dela... Ahh casa! Casa não, um paraíso, mansão. O quarto dos sonhos, um banheiro de luxo, a decoração impecável. Não acho pecado a inveja, ela é um sentimento presente na vida, é constante. Não entendo porque a sociedade esconde tanto. Dizem que é pecado, que é feio, mas não é crime. A inveja pode ter vários lados, ângulos e aspectos diferenciados. Cobiça e desejo. Minha tia disse que é a falta de capacidade de reconhecer as suas fraquezas e de conquistar algo melhor. Quando vejo o que quero, o sangue parece ferver, a pupila se dilata, o corpo se petrifica, os olhos não piscam. Não consigo explicar esse pequeno instante que parece ser infinito e não ter fim. Enquanto espero o melhor, sonho e sinto...inveja.

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inveja

i n v e j a

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Nathamy Lopes

Especialistas explicam

a origem, as causas, e os reflexos da inveja no relacionamento humano.

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inveja

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aiva, ódio, medo e agonia são alguns sentimentos derivados da inveja. Doem, causam emoções, choros e sensações conflitantes. Sair falando de sua vida para as pessoas, alardear suas conquistas, pode não ser algo bom para si mesmo. Seja no trabalho, em casa, na rua ou mesmo em uma roda de amigos, o famoso pecado capital, a inveja, pode estar presente. Muitas vezes você vai escutar: ‘Tenho uma inveja boa de você’. É a conhecida Inveja Branca, aquela que não deseja ter o que você tem, mas a considera um referencial. Desde a criação do homem, essa emoção está presente, por mais penoso que seja confessá-la. A psicóloga Rosana da Corte explica que a maioria dos seres humanos, em alguma época de sua vida, teve a vontade de ter algo ou ser igual a alguém.

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“A origem da inveja vem de criança, nas primeiras relações com as mães. Se essa relação for um pouco conturbada, ou seja, se essa criança não receber amor e atenção suficiente dos pais, quando se tornar adulta passará a ter inveja” afirma a psicóloga. Segundo Rosana, dentro da mente dessas crianças se instalará uma grande porção desse sentimento. O que mais à frente pode se tornar um transtorno dentro de si. “Isso nada mais é que raiva. Não é nada de ninguém, tudo é seu, porém você acaba projetando em outras pessoas. De repente foi algo que você não teve, que faltou, e isso se transformou em raiva. Lado a lado com o ódio, surge o desejo de destruir o que não é seu, o que a pessoa não possui”, diz. Entretanto, esse é apenas o começo do que

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a inveja pode acarretar na vida das pessoas, tanto na mente quanto no físico. A comerciante Verônica Rozo, 25 anos, conta que não se sente invejada, mas, pelo que as pessoas dizem, ela é um alvo muito forte. ”Há cinco anos administro o meu comércio. Por ser muito nova, as pessoas costumam dizer que não vai dar certo, que não tenho tempo para mais nada na vida, que não vou aguentar. Vejo isso como causa da inveja” relata. Verônica acredita que a inveja também é motivada pelos valores familiares que ela cultiva. “Tenho uma união muito forte e bonita com meus pais e irmãos. Nossa família vem com uma grande hierarquia de valores”. A psicóloga explica que a visão do invejoso sobre esse exemplo se chama lente de aumento. “Acusa a


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situação do próximo sem saber a proveniência da conquista. Como, por exemplo, o caso de Verônica, empresária bem nova, logo deve ter dinheiro. Infelizmente, a maioria pensa desta maneira”. Entretanto, se o indivíduo identificar isso como uma conquista, a visão será diferente. “A inveja trabalhada, mostra o sacrifício, o tempo que a outra pessoa levou para viver aquela situação. Com isso, o invejoso poderá reverter o seu quadro, levando o intencional para o seu próprio bem” afirma a psicóloga. Para o neurologista Jacques Weberman, os reflexos da inveja no corpo e na mente podem ser tratados psicologicamente. Os tratamentos indicados são psicoterápicos, mas, se não surtirem efeito, o próximo passo é o remédio antidepressivo. “Não tenho muitos casos provenientes da inveja em si. O que às vezes acontece é uma dor de cabeça ser consequência desse problema. Mas não é caso neurológico”. A boxeadora Thaís Cristina, 22 anos, é pentacampeã paulista de boxe na categoria até 54 quilos. Pratica esporte desde criança. Começou a praticar futsal, mas a paixão pelo boxe surgiu há oito anos. Ela acredita ser alvo fácil da inveja de seus colegas de esporte. “Sou muito esforçada. Quando quero alcançar um objetivo, quase sempre consigo. Isso causa muita inveja em algumas pessoas que me rodeiam, principalmente no meu esporte”, afirma. Thaís declara que, por várias vezes, presenciou

inveja inveja

os meninos da academia a olharem diferente pelo simples fato de chegar ao pódio e ser querida pelo técnico e pela direção do clube. Mas nunca ocorreu nada que interferisse negativamente em sua carreira. Para o psicólogo Ivan Rosário, esse sentimento pode ter reflexos positivos e negativos. “A princípio existe a admiração. Porém, com o passar do tempo, vem a frustração por não conseguir ser igual”. Ele citou o exemplo de uma garota que se queixava de estar sendo vítima de inveja da ex-namorada do seu namorado. A ex dele o amava muito e inventava mentiras a respeito da atual, dizia ela em atendimento. Essa história foi tomando proporções maiores a ponto da ex começar a se vestir igual a ela. Foi muito conturbado o namoro, porém o sossego chegou quando a ex mudou de cidade. Neste caso o psicólogo diz que, à medida que a inveja vai crescendo, vai refletindo adiante. A advogada Maria Carollyna Gagliardo recorda do caso de uma cliente que procurou resolver os procedimentos relativos à herança do pai antes mesmo dele falecer. “Nesse caso acredito que a ânsia de resolver as coisas rápido com o pai ainda vivo foi causa de inveja. Num estalar de dedos, ela queria que todos os bens do patriarca

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fossem seus, sem nada deixar para a irmã”. Ivan acredita que esse sentimento pode ter reflexos positivos e negativos. “Os reflexos na mente, sendo bons, elevam a autoestima. Já o pensamento negativo deixa a mente doente e, por consequência, todo o corpo”.


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Júlia Maichberger

Invídia

Júlia Maichberger

Palavra usada desde a Grécia e Roma antiga para descrever a inveja

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inveja pode ser descrita como um sentimento de tristeza e cobiça diante do que o outro tem e isso não serve apenas para coisas materiais. Traços de personalidade, atributos, relação com outras pessoas e experiências já vividas também podem ser alvo de inveja. Descrito em textos ancestrais, a inveja é um dos sete pecados capitais na tradição católica. “Na Roma antiga, a palavra invídia era o senso da inveja ou ciúmes, que podia ser personificada para propósitos literários, como uma deusa”. Já na Grécia, a palavra era junção de dois termos: Nê-

mesis, que é a indignação em sucesso desmerecido, e phthono, inveja. Desentendimentos gerados pela inveja são comumente relatados. Com o analista de sistemas, Victor Alves, de 23 anos, não foi diferente. “Quando consegui meu primeiro emprego em uma loja de eletrônicos, conheci um cara que inicialmente se mostrou meu amigo, mas que depois foi a causa da minha demissão” conta, chateado, mesmo já tendo passado seis anos desde o incidente. Victor se descreve como brincalhão e comunicativo. Diz que no primeiro dia de trabalho logo chegou cativando os colegas. “Fiz ami-

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zades tanto com colegas de trabalho como clientes, e isso teve reflexo no número de vendas”, conta. Ele diz que os vendedores ganhavam comissão e, no primeiro mês de funcionamento da loja, ele ficou em primeiro lugar no ranking de vendas. O analista de sistemas conta ainda que esse colega provavelmente não gostou de seu bom relacionamento com o chefe e com o resultado de suas vendas. Por isso, começou a falar mentiras a seu respeito dentro da loja. “Ele falava que eu era falso e que criticava o patrão”. Victor diz que como o rapaz era sobrinho do chefe, ninguém acreditou


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em um simples funcionário. “Foi isso que causou minha demissão, justificada por corte de gastos”, completa. Mas todas as máscaras caem um dia. Algum tempo depois, Victor reencontrou colegas do antigo trabalho, e eles comentaram sobre o comportamento do sobrinho de seu ex-chefe. “Me falaram que ele continuou inventando histórias sobre outras pessoas e, aí sim, perceberam que ele era o problema”. A psicóloga Marta Silva Pereira explica que pessoas consideradas invejosas acabam trazendo sofrimento tanto para si mesmas como para as pessoas a quem invejam. “Uma pessoa que tem esse traço acentuado está sempre insatisfeita”, explica a psicóloga. E o sentimento não acaba, mesmo depois de a pessoa alcançar seu objetivo. “Se o problema não for tratado, sempre terá algo novo a invejar, a desejar, o

inveja

que pode ser perigoso em alguns casos”. A inveja, quando aguda, pode ser tão ruim, que leva a pessoa a cometer crimes. A advogada Marina Giangiulio diz que, em geral, não é comum isso acontecer, mas há casos em que se torna fator motivacional. “A própria mídia tem grande influência sobre as pessoas, ao mostrar um poder aquisitivo diferente do delas, seja em novelas, filmes ou mesmo notícias, o que as fazem se tornar obsessivas”, explica. Segundo a advogada, embora os casos de crimes ocasionados por esse sentimento sejam raros, as ocorrências podem variar de pequenos furtos a assassinatos. Como, por exemplo, as empregadas domésticas que furtam objetos das casas onde trabalham, assim como os furtos recorrentes das ruas. Outro exemplo são as mulheres que roubam be-

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bês, e que podem até assassinar as mães; crimes dentro do ambiente de trabalho, onde um empregado mata ou lesiona o amigo de cargo superior a fim de substituí-lo na função. Para Marina, a inveja é um problema constante na sociedade, mas não há motivos que justifiquem o cometimento de crimes. A psicóloga Marta explica esses episódios dizendo que as pessoas podem sentir inveja de uma forma inconsciente. “Isso acaba se transformando em algo tão grande em suas mentes, que as levam a fazer coisas que não fariam em sua normalidade”. Marta conclui dizendo que é normal todos nós sentirmos inveja, mas quem não a consegue controlar, sempre sai prejudicado. “A pessoa acaba anulando suas qualidades, achando que o que o outro tem ou o que o outro é, é muito melhor do que ele”.


inveja

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Inveja no ambiente de trabalho, como lidar com esse obstáculo? PECADOS

Gilda Lima

Com a competitividade do mercado e a relação interpessoal cada vez mais em alta no mundo corporativo, como as pessoas conseguem identificar e se livrar dos invejosos?

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os sete pecados capitais relacionados pela humanidade, a inveja está no topo da lista. Um invejoso pode ser tanto descarado, como estar camuflado entre as pessoas. Alguns até conseguem se dar bem em determinados casos, porém, este sentimento é destrutivo causando um mal físico e até psicológico, arrasando por dentro e por fora as pessoas. Há quem diga que a inveja é a falta de capacidade do outro em conquistar o seu próprio caminho. Mas a inveja nada mais é que o desejo de obter algo que a outra pessoa possui e que você não tem. Ter sucesso, destacar-se no ambiente de trabalho, ficar mais próximo do topo, são situações que podem aguçar

esse sentimento ruim das pessoas. Lidar no dia a dia com uma pessoa invejosa não é fácil, mas a gestora de recursos humanos Paula Cabral comenta que em lugares onde trabalham mais de uma pessoa existe o risco de ocorrer esse tipo de inconveniente e a responsabilidade da empresa é manter os funcionários incentivados e promover o bom relacionamento entre os funcionários. “Na verdade isso acontece em qualquer lugar onde houver mais de uma pessoa trabalhando. A empresa não deve intervir nestes casos. Portanto, fazemos nosso trabalho, focamos em nossas metas e seguimos em frente, e tentar fazer de nosso ambiente trabalho um lugar mais tranquilo

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e agradável”. Para Lígia Marques, consultora de etiqueta e autora do livro “Os 7 Pecados Corporativos”, o sucesso pessoal, o reconhecimento, a simpatia e a popularidade são alguns dos motivos que atraem a inveja. “A pessoa deve agir naturalmente, evitar ser esnobe, cumprir seu dever da melhor forma e esquecer os outros. Geralmente essas pessoas acabam se denunciando sozinhas e adquirem a fama” .


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Para a gestora de recursos humanos, Paula Cabral, nenhum ambiente de trabalho, nem ninguém estão livres de pessoas invejosas que conseguem arquitetar planos para tentar prejudicar a carreira do colega. “Na vida somos alvos por motivos que muitas vezes nem sabemos que temos. Usar o que temos de bom e não dar atenção e não perder tempo com o que for ruim” aconselha. Um estudo realizado por

inveja

pesquisadores das universidades de Valência (Espanha), Groningen (Holanda) e Palermo (Argentina) aponta que essas questões envolvem algumas diferenças entre os gêneros. A pesquisa concluiu que as mulheres são mais envolvidas pela competição sexual do que os homens. Porém, as habilidades sociais dos colegas também podem provocar inveja profissional igualmente em ambos os sexos. Foi o que aconteceu com a

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Crédito Murilo César

agente de saúde Helena Maria, 56 anos, que depois de sofrer várias vezes com a inveja de alguns colegas, pediu demissão do emprego após 13 anos exercendo a sua profissão. “Sofri muito tempo, nunca me deixei abalar e sempre dei a volta por cima, mas na hora em que pedi demissão já estava esgotada por ver pessoas que não sabiam cuidar da sua função e sempre estavam de olho nos meus passos”. A inveja pode ser conside


inveja rada uma resposta ao sucesso, qualidades ou habilidades de outra pessoa, quando comparado com alguém a intenção é ter ou ser igual a pessoa invejada. Os prejuízos acarretados com esse sentimento são vários, desde aguentar o mau humor de uma pessoa diariamente por sentir a inveja até a falta de caráter e prejuízos irreversíveis onde alguma das partes pode sair prejudicada. “A competitividade tem que ser saudável, ser levada para um lado que faça pessoa crescer, buscando superar as dificuldades e aprender com os erros e acertos”, declara Paula Cabral, que lida com 90 funcionários diariamente. Para a agente de saúde, apesar de ainda não ter conseguido outro emprego, ter saído de perto de pessoas que só estavam a fim de prejudicá-la deu a ela a oportunidade de se avaliar melhor. “Eu ainda estou correndo atrás do prejuízo, mas não aguentava mais ser vigiada a cada passo, ver pessoas soltando indiretas como se eu estivesse fazendo mal a alguém. Eu sei que não estava, tanto que recebo mensagens de chefes meus me apoiando e até pedindo para que eu volte. Sei também que posso enfrentar isso em qualquer empresa. Essa não foi a primeira vez que alguém tenta me prejudicar, mas dessa vez estava mais exausta e preferi ser feliz do que lutar por pessoas que estavam do meu lado apenas para me prejudicar” desabafou a ex-agente de saúde.

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“A melhor forma é se afastar da pessoa o máximo que puder, evitar dar motivos para inveja e ignorar comentários e atitudes que chamem atenção. Agora se é você quem sente inveja de alguém, transforme esse sentimento em motivação e melhore o seu desempenho. Não fique invejando o colega, aprenda com ele o que você acha que ele faz de melhor”. Ligia Marques, consultora de etiqueta

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CRÉDITO MURILO CÉSAR


Inveja de mim? Entra no Facebook

A frase “Inveja de mim? Entra na fila” é comumente usada por aqueles que se sentem invejados. Agora, com a superexposição no Facebook e os constantes comentários de que o sentimento de inveja aumentou com o uso dessa rede social, a frase pode ser reformulada.

Caroline Souza DIVULGAÇÃO

Uma busca rápida no Facebook, nos mostra, cerca de cem páginas com o título‘inveja’.


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nvejamos aquilo que vemos ou conhecemos, e nas redes sociais, ver a vida dos outros se tornou muito mais fácil. Por isso, no Facebook, rede com um bilhão de usuários, é fácil perceber o quanto esse pecado capital é comentado, seja em páginas ou na própria linha do tempo dos seus amigos. Para se ter uma ideia, a palavra “inveja” aparece no título de cerca de cem páginas da rede. A maior delas, “Xô inveja” tem mais de 780 mil curtidas. A página existe desde junho de 2012 e só no último mês ganhou aproximadamente 20 mil curtidas. De acordo com informações do próprio Facebook, a cidade com mais adeptos desta página é São Paulo e os seguidores têm entre 13 e 24 anos.

inveja

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Na descrição da página, uma oração e um recado aos novos participantes: “Senhor Livra-me da INVEJA, da falsidade, dos fofoqueiros, dos infelizes, do mau olhado e da mentira dos covardes! Amém. E que as energias negativas não cheguem até aqui, nem os olhares cheios de inveja! Aqui não tem lugar para esse tipo de coisa. Inveja aqui bate e volta!”. Na linha do tempo, é fácil perceber que seus amigos comentam sobre inveja, mas raramente ela é declarada. Os usuários apenas confirmam que se sentem invejados e por isso postam conteúdo relacionado a esse pecado. Dayenne Silva está entre esses usuários. A dona de casa, de 23 anos, afirma não sentir inveja, mas confessa

que às vezes sente raiva do que vê em sua própria linha do tempo, além de se sentir muito invejada. A jovem explica que sente raiva das publicações de uma ex-namorada de seu marido, que sempre posta indiretas ofendendo o casal. Para ela, o que a ex sente é inveja do seu relacionamento. Por conta dessa inveja no Facebook, já aconteceram brigas fora do mundo virtual. “Eu ficava irritada com as ofensas, ia procurála para tirar satisfações e nós discutíamos. Ela ainda me manda indiretas, eu sinto raiva por isso, mas não discuto mais. Sei que ela tem inveja, mas minha vitória é saber que ele está comigo e fazendo tudo por mim e pelos nossos filhos”. Apesar de não discutir CAROLINE SOUZA

Muitos usuários do Facebook compartilham conteúdo sobre inveja

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mais, Dayenne continua postando conteúdo sobre inveja. Em uma recente publicação em sua linha do tempo, a jovem diz: “Não basta ter inveja de você... Tem que postar uma foto e colocar a mesma frase que você colocou. Não se fazem mais pessoas com criatividade como antes. Oh vontade de ter o meu jeito de ser #Oremos!”. Ela explica que posta esse tipo de conteúdo porque sabe que a pessoa que ela quer atingir vai ver. Dwanne Nogueirol foi a única entrevistada a admitir que sente inveja, mas com uma ressalva: “apenas das famosas”. A atendente de telemarketing, de 27 anos, também se sente invejada na rede e relembra um caso marcante: “Uma amiga adicionou todos os meus amigos sem nem conhecê-los. Acredito que ela tinha inveja das minhas amizades”, conta. Hoje, Dwanne não tem mais amizade com essa pessoa. “Sei que existe mais gente invejosa em minha volta, mas como esse caso foi mais perceptível, preferi me afastar”. Entre os homens, esse sentimento parece ser mais difícil. O estudante Leonardo Rozendo, de 18 anos, diz que não sente inveja, tampouco se sente invejado na rede, mas acha que o Facebook contribui para aumentar essa cobiça. “Muitas pessoas colocam tudo o que fazem na rede e ver a felicidade dos outros deve incomodar muitos usuários”.

inveja

Se esses usuários preferem não admitir que sentem inveja, uma pesquisa divulgada pelas universidades alemãs Humboldt e Darmstadt, em janeiro deste ano, mostrou o que a maioria sente. Na ocasião, 584 usuários foram entrevistados e constatou-se que uma em cada cinco pessoas apontou o Facebook como a origem de sua inveja. Além disso, uma em cada três se sente frustrado e triste após se desconectar. “Ficamos surpresos ao ver quantas pessoas têm uma experiência negativa

“Sei que ela tem inveja de mim, mas minha vitória é saber que meu marido está comigo e fazendo tudo por mim e pelos nossos filhos” Dayenne Silva (dona de casa)

do Facebook, com a inveja fazendo-as se sentirem sozinhas, frustradas ou com raiva”, disse à Reuters, à época do lançamento do estudo, a pesquisadora Hanna Krasnova, do Instituto de Sistemas da Informação na Universidade Humboldt, de Berlim. O psicólogo Ricardo Perlamagna explica que a inveja pode ser descrita como uma insatisfação pessoal, por não ter conseguido alcançar um objetivo ou por não ter tido a mesma ideia ou oportunidade. Para ele, o Facebook aumentou esse

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sentimento, pois “as redes sociais são utilizadas por algumas pessoas como vitrine dos seus bens pessoais, de suas viagens, de seu poder no emprego, e com tais atitudes de exibicionismo, a inveja floresce”. Perlamagna explica que isso pode causar sérios transtornos psíquicos e sociais para a pessoa que está dominada por esse sentimento de inveja, como isolamento e agressividade. Ele também alerta que essa superexposição na rede pode atrair não só a inveja, mas também deixar a pessoa vulnerável à violência, já que ela expõe sua vida e seus bens na rede social. No entanto, há diferentes graus de inveja. “A inveja destrutiva é quando a pessoa chega a praticar ações violentas, por acreditar que está castigando o outro por ter alcançado o que o invejoso acredita que é de direito dele. Mas há casos em que a inveja provoca a evolução do invejoso. Popularmente conhecida como inveja branca, esse tipo desperta o sentimento de querer alcançar o mesmo objetivo, mas com trabalho e determinação”. Para o psicólogo, as redes sociais só mostram o fim da conquista. Por isso quem sente inveja deveria tentar entender como a pessoa alcançou as conquistas. “Se as pessoas tivessem uma visão menos egoísta e mais racional, talvez não sentissem tanta inveja”.


RECA inveja

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Rafe Aguiar

S Rafe Aguiar

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om alto dentro do carro. O gênero musical é funk. Dos alto-falantes, a vocalista da banda canta “beijinho no ombro, pro recalque passar longe”. O recalque não está com nada, pelo menos é a bandeira que muitos apreciadores deste ritmo estão levantando. Recalcada, informalmente, é aquela pessoa que se sente ameaçada e critica os supostos responsáveis por coisas que são erradas, no seu ponto de vista. O recalque é excomungado por diversos cantores de diferentes ritmos musicais, predominantemente o funk. São mais de cem músicas registradas, só no site Letras.Mus, do Portal Terra, que falam desse tal “recalque”. O invejado pode ser alvo de in-


ALQUE SE7E PECADOS

inveja

a nova inveja veja, e se tratando de uma área humana inexata, qualquer um pode invejar alguém sem saber. A inveja é inconsciente. O recalque, também. Na psicanálise, recalque significa o processo inconsciente pelo qual uma ideia, sentimento e/ou desejo, tidos como repugnantes por um indivíduo, são por ele excluídos de admissão consciente, mas persistem na vida psíquica, causando distúrbios com gravidades maiores ou menores. A estudante Nathaly Baptista de Araújo, de 18 anos, conta que o segredo para se livrar do recalque é ignorar. “Eu deixo as invejosas pra trás! Ignorar é a melhor coisa”. A estudante conta que constantemente vê as amigas do bairro recalcadas, umas com as outras. “Falam mal, regulam, causam com a pessoa e, às vezes, é por besteira”, comenta. As brigas são verdadeiras guerras frias. Vão de indiretas nas redes sociais à hostilidade no dia a dia. “Mas a minha vontade é que essas meninas explodam! Detes-

to isso. O ruim é que muitas vezes não tem pra onde fugir”, desabafa. E a Mc Beyonce avisa às recalcadas: “Não olha pro lado, quem tá passando é o bonde, e se ficar de caozagem a porrada come” (sic). É no baile que as minas se revelam. É como conta a atendente de farmácia Priscila Silva, de 19 anos, conta que já recalcou na balada e quase se meteu em confusão. Tudo começou quando encontrou o ex-namorado com outra mulher que era feia, segundo o conceito de Priscila. “Imagina você, bonita, arrumada, toda produzida e encontrar o seu ex com uma mulher que é horrível!”, confessa a atendente de farmácia. O recalque não virou agressão física, mas Priscila confessa que mutilou a mulher por pensamento. “Ela estava desarrumada, sem contar que não tinha os dentes da frente. Me senti humilhada, mas não fiquei por baixo, não, afinal de contas, fogo trocado não dói”. De recalcada, ela passou a invejada. No meio da

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noite, a atual de seu ex começou a hostilizá-la, e o recalque saiu do pensamento para a oralidade. “Não hesitei em chamá-la de gorda, escrota e tudo mais que me veio à mente”. A briga só não chegou à agressão, porque outras pessoas as separaram. “Virei notícia no baile. A confusão chegou até o conhecimento da minha vizinhança. Ouvi um monte da minha mãe”. E agora, Priscila? Agora, ela não se importa tanto com o passado. “O meu atual é muito melhor”, ironiza, prolongando o hiato “ui” de muito, para aumentar a intensidade. A inveja de mãos dadas com os ciúmes. Apesar de diferentes, os dois sentimentos são bem próximos. Segundo a psicóloga Sandra Lia Rodrigues Branco, essa é uma questão de autoconhecimento, de aprender a lidar com a inteligência intrapessoal, que é a percepção daquilo que se sente. “A ex pode ser muito melhor do que a atual, mas no momento em que a pessoa é trocada, vem a sensação de desvalia”.


moda inveja

tá virando

“Me olha, me mede, me inveja, seu recalque ele corre na veia. Se eu tou a pé ele fala mané, se eu tou de carro, fala ó o metidão, língua de tamanduá, causando conspiração...” (sic). O trecho destacado é uma música do Mc Galo SP e exemplifica bem o que é o recalque. A inveja na realidade é um impulso causado pelo ódio, impulsos negativos envolvendo certo objeto de desejo ou qualidade boa que há no próximo. O recalque faz com que as pessoas fiquem incomodadas com a conquista dos outros, gera tristeza ou raiva da bondade do outro, como explica Sandra. “Tem pessoas que não suportam ver que o outro é melhor do que ele, então esse sentimento de inveja faz com que ele ataque o que é bom, aquilo que ele não tem. É uma forma de diminuir seu insucesso”. Todos os outros pecados capitais têm um objetivo de satisfação. A inveja é o único deles que não traz vantagem nenhuma para o pecador, já que ela destrói o objeto de admiração até torná-la indesejável. “Temos como exemplo a pessoa que tenta tirar o foco de quem está se destacando. Ela faz objeções, coloca defeito, tenta interromper, mudar de assunto só para tirar a atenção”, exemplifica a psicóloga. “A base do desdém é a inveja. É muito inconsciente, às vezes a pessoa sente inveja do outro sem saber, e

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A V C S A E L L A ESCA VVALESCA VALESCA um dos hits da artista é a música

beijinho no ombro a gente percebe pelo desdém que ela demonstra”, explica Sandra Lia. A inveja é convencionalmente conhecida pela sua carga destrutiva e arrasadora sobre aquilo que é admirado no outro. O real objetivo do invejoso é desvalorizar, ou até mesmo destruir, aquilo que ele não têm. É como a fábula de Jean de La Fontaine, que conta a história de uma raposa que tenta comer um cacho de uvas. Sem sucesso, o animal alega que as frutas não estavam maduras. É mais fácil desprezar do que aceitar que não pode obter algo.

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inveja FOTO: JÉSSICA SANTOS

PECADOS

Jéssica Santos

PODE A RELIGIÃO EXPLICAR A

INVEJA?

A Bíblia teve o seu primeiro invejoso e, para o catolicismo, a inveja vem da desigualdade social. Os evangélicos, por sua vez, a consideram um sentimento negativo e se posicionam contra a crença de amuletos, se contrapondo a religiões de origem africana como umbanda e candomblé, que se utilizam de símbolos e rituais para se livrar do mau olhado. guiu dominar a sua inveja e perdendo sua identidade para “O ânimo sereno é matou o irmão”. querer ser outra pessoa”. a vida do corpo, mas a A palavra inveja é citada 39 A Igreja Católica não possui inveja é a podridão dos vezes ao longo da Bíblia. O paum amuleto específico, mas ossos.” Provérbios 14:30

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egundo a religião católica, o primeiro ato de inveja na Bíblia encontra-se no livro de Gênesis, capítulo 4, versículo 8. “Caim e Abel, filhos de Adão e Eva, ofereceram ofertas a Deus, tendo Ele se agradado mais com a oferta de Abel, o que acabou provocando a ira de Caim. O jovem não conse-

dre Valdeci João dos Santos, da Igreja Matriz de São Vicente, diz que quando se fala de inveja a primeira pergunta a fazer é se a pessoa é invejosa porque quer ou o contexto social no qual está envolvida a faz ser assim. Para ele, a inveja também é uma questão social e, muitas vezes, é gerada pela desigualdade social. “A inveja faz com que a pessoa reconheça a sua impossibilidade ou a incapacidade,

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os santos, os escapulários e a água benta são uma forma de proteção para muitos fiéis. O padre explica que eles são uma aproximação com Deus. “Os objetos abençoam e protegem do mal se o cristão tiver fé”. A dona de casa Maria do Carmo Freitas, 40 anos, vai todos os domingos à missa. Ela acredita que a inveja possa prejudicar a vida de alguém. “Quando a pessoa passa por alguma dificuldade na vida, po-


inveja

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de ser em decorrência das energias negativas geradas pela inveja de outras pessoas. O catolicismo não acredita nessa possibilidade, mas creio que tenha influência”.

Não aos amuletos Enquanto a Igreja Católica possui as imagens de santos como forma de aproximação a Deus, na religião evangélica é diferente. Segundo a pastora Kielci Saraiva, da Igreja Batista Peniel ,localizada na Vila Margarida, em São Vicente, a igreja evangélica não acredita em imagens e amuletos. “Não cremos em amuletos e sim em Jesus Cristo. O que protege o ser humano é apenas a fé e mais nada”. A pastora afirma que a inveja e o mau olhado são sentimentos que nenhuma pessoa deve ter. “A inveja indica que não estamos satisfeitos com a vida e com o que Deus tem nos dado”. Kielci cita seu verso predileto da Bíblia que menciona a inveja: “Jó 5:02 - O ressentimento mata o insensato, e a inveja destrói o tolo”.

A inveja nos terreiros A umbanda é uma religião brasileira formada por elementos de outras religiões, como o catolicismo e o espiritismo, que junta ainda símbolos da cultura africana e indígena. O culto umbandista é realizado em templos, terreiros ou centros apropriados para o encontro dos praticantes, que entoam cânticos e fazem uso de instrumentos musicais. O candomblé é apenas de origem africana e não existem incorporações*

No camdomblé e na umbanda, o banho de ervas serve para afastar as energias ruins JÉSSICA SANTOS

de espíritos, ao contrário da umbanda. Outras diferenças entre as religiões são as entidades* cultuadas, evocadas* e os procedimentos do culto. O ajudante operacional Nilton dos Santos e sua esposa Alessandra Perez foram seguidores da umbanda por oito anos e há dois anos frequentam o candomblé. “A mudança de religião aconteceu quando o terreiro que frequentávamos fechou. Como tínhamos alguns amigos

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no candomblé, resolvemos mudar”, diz Santos. Segundo o casal, as religiões ensinam a não ter inveja, pois a maldade pode voltar contra o invejoso. O casal diz que nas duas religiões há dois lados. “Há o lado branco e o preto. Os dois fazem o bem, porém se a pessoa pedir alguma maldade ou destruição, o lado preto faz”. Alessandra diz que, tanto os trabalhos para o bem como para o mal não são cobrados na umbanda, ao


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contrário do candomblé. “Os trabalhos negativos só são feitos em alguns terreiros, não são todos que fazem”. O banho de ervas e folhas é utilizado pelas duas religiões para afastar as impurezas e retirar a inveja (para cada pessoa há uma determinada erva). É

inveja

também comum o uso de patuás* para proteção ou para o caso específico de certos trabalhos espirituais. No candomblé, segundo Santos, o ambiente é mais propício para a inveja do que na umbanda. Na primeira, cada pessoa vai com uma roupa mais

Para proteger

JÉSSICA SANTOS

Amuleto vem do latim “amuletum” que significa objeto que deve ser utilizado para defesa. Segundo o filósofo romano Plínio (79 d. C.), há três categorias destes tipos de objeto: aquele que oferece proteção contra as más energias, os que contêm substâncias curativas e aqueles que devem ser usados como remédios. Os amuletos estão presentes no cotidiano dos brasileiros, e muitos acabam usando sem saber o seu real significado. Com as novelas, os objetos acabam se popularizando. O colar de sal grosso fez sucesso após o uso pela personagem Wanda (Totia Meirelles) da novela global “Salve Jorge”. Há religiões que não acreditam nos objetos. Muitos os usam nem sempre como amuletos, mas como um acessório qualquer. Pimenta, olho grego, sal grosso, chaveiros, colares, e pulseiras são frequentemente usados por pessoas conhecidas, tornando-os preferidos do gosto popular.

Glossário Incorporações – dar o corpo a algum espírito Entidades – nome dado aos espíritos Evocadas – chamar para que apareça Patuás - amuletos feitos de um pequeno pedaço de tecido ao qual é bordado o nome do Orixá

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trabalhada que a outra. “Há pessoas que vão com roupas estimadas em cerca de 3 mil reais, enquanto outras se vestem com roupas mais simples, gerando cobiça. Na umbanda, as roupas são parecidas, pois todos vão de branco e com adereços mais simples”. DIVULGAÇÃO REVISTA CONTIGO

A cantora Claudia Leitte e a presidente Dilma Rousseff sempre usam uma pulseira com um pingente de olho grego. EVARISTO SÁ/AFP


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IRA Emoções à flor da pele

A paz que nasce da IRA

Pg. 84

Pg.88

Os prejuizos na saúde, causados pelo rancor

Como a religião pode auxiliar no combate

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88 84 80 Crônica

Emoções a flor da pele

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A origem dos pecados

Dias de fúria

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A paz que nasce da Ira


Ira 91 Pecado que mata por dentro

95 A Ira é pecado?

Pelo dicionário Aurélio...

s.f. Paixão que incita toda a nossa agressividade contra alguém ou algo; raiva, cólera, fúria: a ira é um dos sete pecados capitais. / Indignação furiosa, desejo veemente de vingança: a justa ira dos explorados.

Expediente Circula semestralmente. Revista produzida pelos alunos do 3º ano de Jornalismo da Universidade Santa Cecília.

Editora: Rafaella Matinez; Reportagem Diagramação: Andressa Amorim Fernanda Nápoli Luiza Ferreira Mara Menezes Rafaella Martinez Vanessa Pimentel;

Fotografia: Arquivo pessoal Divulgação Rafaella Martinez Sandra Porto Vanessa Pimentel; Capa: Murilo César (foto) Carolina Kobayashi Professores orientadores: Helder Marques (Texto) Fernando De Maria (Texto) Fernando Peel(Diagramação) Elaine Saboya (Crônica) Colaboração: Carolina Kobayashi


ira

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Uma visão sobre a IRA Vanessa Pimentel

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Ira é uma aberração. Um instinto, exagero daquilo que é próprio do ser humano. Defesa, proteção, ataque. Seja contrariado e a sinta chegando, tomando espaço em seu corpo, seu interior, sua mente, suas mãos. O ódio que vem com ela é considerado um obstáculo para o crescimento espiritual... Que se dane a alma nesse momento de dor, raiva, vontade de castigar você! Eu quero mesmo é o descontrole para sair do controle que você exerce sobre mim. A culpa é sua por ser tudo tão cinza, por me fazer ver as cores lindas da ilusão e sentir a dor de sentir a Ira aqui dentro de mim. Ela corrói. Se me é permitido comparar, pense em um ácido. Aquele capaz de corroer as vigas de aço da melhor base que você havia conseguido construir. Por minutos, ela queima. Tem dias que está ausente, mas quando volta, compensa os dias em que se fez silêncio. Esse ataque é contra você, mas quem morre sou eu. Matei-te tantas vezes. E você ainda não morreu, mas vai morrer, ah se vai... Ou não me chamo Ira! Faço parte dos sete pecados. Pe-ca-do, ouviu? Sabe o perigo que ofereço? Eu traço novos caminhos, geralmente são sem volta. Eu sou um monstro. Enferrujo por dentro. Sei fazer silêncio. Apareço quando menos se

espera e ai daquele que me dá espaço. Eu gosto é do estrago. Gosto da dor, do arrependimento, da falta de vigilância, do impulso. Eu só ganho espaço. Nasço nas entranhas. Tudo que é profundo vêm com mais força. Eu gosto assim. Mudo as temperaturas. Causo o gelo e o fervor do seu sangue. Eu tenho poder. Meu sobrenome é descontrole. O terceiro, desequilíbrio. Olhe ali e me diga. O que vê? Um lindo dia, não? Olhe agora, novamente, eu estou ao seu lado. Gargalhadas saem de mim. Desculpe, não consigo controlar. Dia feio, não? Deixa eu me recompor. Pronto. Quem manda aqui sou eu! Tomei conta de você, percebe como eu é quem escreve agora? Ora, não me venha com racionalidades. O espaço é pequeno por aqui. Por isso, explodo. Para sair tudo que carrego e assim criar espaço para novas desilusões. O engraçado é que as vejo de longe. Sei exatamente para onde te guiar. Não tenho amor, mas sou parente dele. Os bons sentimentos são belas portas que gosto de entrar. Não vigie seu silêncio, suas palavras, seus pensamentos, suas atitudes e elas se abrem ainda mais. Aconteço em um instante. Cuidado com eles. Momentos são perigosos quando se trata de uma vida. Eu ganhei. Mas o jogo não acabou. Ainda resta tempo para nós. Respire.

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A origem do PECADOS

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A IRA foi reconhecida como pecado a partir do seculo XI

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Fernanda Nápoli pecado da ira foi reconhecido no século XI, quando o papa Gregório Magno, que tomou como base as Epístolas de São Paulo, separou os principais vícios de conduta. Segundo São Tomé de Aquino, a ira é um pecado porque dá origem a outros pecados, sendo assim um pecado capital. O termo “capital” deriva do latim caput, que significa cabeça, líder ou chefe. Para a Igreja Católica, a ira não atenta apenas contra os outros, mas pode voltar-se contra aquele que deixa, o ódio dominar sua razão, e neste caso pode levar a pessoa ao suicídio ou a pratica de outros pecados.

Duas palavras gregas são usadas no Novo Testamento para a palavra “ira”. Uma (orge) significa “paixão, energia”; a outra (thumos) representa “agitado, fervendo”. Em se tratando de ira, pode-se concluir que ela nem sempre é considerada um pecado, pois a Bíblia cita inúmeros casos. Para o teólogo e pastor Waldemir Garest, 47 anos, o pecado é a transgressão perante as leis de Deus. “A Bíblia diz : Todo aquele que vive habitualmente no pecado também vive na rebeldia, pois o pecado é rebeldia. A criação dos sete pecados traz à tona o que há de mais pesado em relação às nossas atitudes. É como se ao cometer o pecado da ira a pessoa abrisse caminho para uma série de outros pecados que estão interligados uns aos outros”.

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Sodoma e Gomorra PECADOS

FOTOS DIVULGAÇÃO

Sodoma e Gomorra, de acordo com a biblia judaica, são duas cidades que foram destruídas por Deus com fogo e enxofre decidos do céu. Ainda segundo a Bíblia, as cidades e seus habitantes foram destruídos pelos muitos pecados e atos imorais ali cometidos. Segundo o livro de Gênesis, dois anjos de Deus disseram a Abraão que “o clamor de Sodoma e Gomorra tem se multiplicado, e porquanto o seu pecado têm agravado muito”. Abraão então intercedeu consecutivas vezes pelo povo sodomita, e Deus ao final lhe respondeu que, se houvesse em Sodoma dez justos na cidade, ele nao a destruiria. Nesse mesmo dia, os dois anjos que visitaram Abraão desceram à cidade e se hospedaram na casa de Ló. Antes de se deitarem, os homens da cidade cercaram a casa de Ló para terem relações sexuais com seus dois hóspedes. Ló então saiu em defesa dos anjos oferecendo suas filhas virgens para saciar o desejo da multidão. Ferindo com cegueira os homens que estavam junto à porta da casa de Ló, os anjos retiraram o patriarca e sua família da cidade e lhes deram a ordem de seguir sempre em direção às montanhas sem olhar para trás (imagem), pois se o fizessem seriam transformados em estátuas de pedra. A mulher de Ló desobedeceu a ordem dada pelos anjos e olhou para trás: virou estátua. Então, de acordo com Gênesis, iniciou-se a destruição de Sodoma e de toda a planície daquela região.

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Caim e Abel: Ira Fraternal PECADOS

Ilustração da briga entre Caim e Abel, filhos de Adão e Eva, que representa a ira como elemento desagregador

A história de Caim e Abel, filhos de Adão e Eva, está descrita no livro de Genesis 4 e narra o que seria o primeiro homicídio da história da humanidade. Caim sentia muito ciúmes de Abel, por acreditar que Deus dava preferência para o filho mais novo. Os dois irmãos ofereceram sacrifícios para Deus, que só aceitou a oferta de Abel, pois o irmão mais velho guardava em seu coração coisas que desagradavam a Deus, como inveja e rancor. Caim, tomado pelo ciúmes e pela ira, convidou Abel para um passeio. Quando estavam sozinhos, Caim bateu em seu irmão com toda a sua força e fúria até matá-lo. Caim foi condenado a viver fugindo, longe de tudo e de todos e nunca encontrou a felicidade. Esse foi o castigo aplicado por Deus, segundo a Bíblia, para a ira mortal de Caim.

A queda de Salomão

Rei Salomão: envolvimento com mulheres provocaram a ira divina

Salomão, filho de Davi, foi coroado rei após a morte de seu pai. Segundo a Bíblia, Salomão não pediu a Deus riquezas, mas sabedoria e inteligência para governar seu povo. Disse Deus a Salomão: “Já que este é o desejo de teu coração, e que não me pedes nem riquezas, nem tesouros, nem glória, nem a vida de teus inimigos, nem uma longa vida, mas me pedes sabedoria e inteligência a fim de bem governar o povo do qual eu fiz rei, pois bem, a sabedoria e a inteligência ser-te-ão concedidas, mas também riquezas, tesouros e glórias mais do que jamais possuirão os reis, teus predecessores, e que jamais possuirão teus sucessores”. (Crônicas 1:11).Deus concedeu a Salomão sabedoria, uma inteligência penetrante e um espírito de uma visão tão vasta. Porém, Salomão começou a se envolver com diversas mulheres, o que ocasionou a ira de Deus. O erro de Salomão não foi somente por se envolver com centenas de mulheres, mas o seu desprezo pelo conselho de Deus, fato que provocou a ira divina. Resultado: perdeu tudo o que havia conquistado.

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Emoções à flor da pele SE7E PECADOS

Estresse ajuda a desencadear problemas na pele Andressa Amorim

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rabalhos, filhos, contas e trânsito. Esses são alguns dos fatores que podem levar uma pessoa a sofrer de uma síndrome que já é considerada como o grande mal do século. De acordo com levantamento realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o estresse atinge cerca de 90% da população mundial. O cenário, ainda segundo a pesquisa, está associado ao desenvolvimento de uma série de doenças, como câncer, depressão, diabetes e hipertensão. No Brasil, por exemplo, 132 mil infartos são causados pelo estresse do dia a dia, conforme dados do Ministério da Saúde. O estresse hoje em dia virou sinônimo para cansaço e desânimo para determinadas tarefas. Pode ser diminuído por intermédio de psicoterapia e não há necessidade de acompanhamento psiquiátrico a não ser que por causa dele outras doenças se desenvolvam, como depressão, transtorno do pânico e ansiedade generalizada. Um dos sintomas mais frequentes é o surgimento de doenças na pele. “Elas podem ser desencadeadas ou agravadas

pelo estado emocional”, explica a psicóloga Sandra Porto. O estresse pode desencadear algumas doenças de pele. Em alguns casos, a situação é tão extrema que dermatites como vitiligo, acnes, manchas, psoríase e dermatite atópica. Segundo estimativa da OMS, uma em cada três pacientes que sofrem com doenças de pele já apresentou problemas emocionais, como estresse, ansiedade e depressão. O estresse libera uma substância nos nervos, chamada neuropeptídeo que provoca doenças de pele e inflamações. As doenças costumam aparecer nos cotovelos, joelhos, face e couro cabeludo. Fatores como estresse, infecção, problemas no trabalho ou no relacionamento podem ocasioná-las. Um exemplo é o aposentado Ubiratan Bento, de 79 anos. Ele sempre foi muito bem humorado, mas viu sua vida mudar na década de 80, quando sua fábrica que produzia ferramentas veio à falência. Com os inúmeros processos dos funcionários e os seus bens hipotecados, o estresse e a depressão tomaram conta de sua vida. E assim, acabou adquirindo a dermatite atópica. Ele conta que além dos remédios e

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SANDRA PORTO

“No consultório, em geral, as pessoas buscam auxílio psicoterápico quando já há sintomas de depressão. Na verdade, as pessoas ficam resistentes acreditando que vai passar, mas, só piora. A prevenção é uma forte aliada.” Sandra Porto Psicóloga


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de terapia, o bom humor o fez dar a volta por cima. E hoje, após longos processos terapêuticos, o quadro de depressão possui altos e baixos e foram nesses picos de fragilidade que apareceram inúmeros processos dos funcionários e os seus bens hipotecados, contribuindo para que o estresse e a depressão tomaram conta de sua vida. E assim, acabou adquirindo a dermatite atópica. Ele conta que além dos remédios e de terapia, o bom humor o fez dar a volta por cima. E hoje, após longos processos terapêuticos, o quadro de depressão possui altos e baixos e são nesses picos de fragilidade que elas tornam a aparecer.

A IRA foi reconhecida como pecado a partir

Pesquisas Uma pesquisa na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, mostra que homens podem ser naturalmente mais predispostos ao estresse, mesmo antes

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do nascimento. A pesquisa revela que o motivo pode ser o maior índice do hormônio cortisona entre os homens do que entre as mulheres. O estudo com carneiros apontou que os machos tinham o dobro de cortisona do que as fêmeas. Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais, descobriram que a psicoterapia é o melhor tratamento para o transtorno. Segundo a psicóloga Sandra Porto, a medicação é importante e, em alguns casos, necessárias para pacientes porque aliviam os sintomas causados pelo estresse. Conforme ela, a psicoterapia e os medicamentos são os tratamentos indicados. “No consultório, em geral, as pessoas buscam auxílio psicoterápico quando já há sintomas de depressão. Na verdade, as pessoas ficam

resistentes acreditando que vai passar, mas, só piora. A prevenção é uma forte aliada.” O importante é conseguir neutralizar os efeitos do estresse para seguir um estilo de vida melhor e evitar que tais doenças apareçam na pele. Algumas dicas para combater o mau astral sempre são válidas, como alimentação adequada, atividade física, repouso, meditação, e respiração de uma maneira completa. “O ideal é controlar o estresse por meio dessas atividades, com a finalidade de melhorar a qualidade de vida”, finaliza a psicóloga. Ou seja, existem maneiras relativamente simples para lidar com os transtornos diários que estamos suscetíveis a sofrer. Uma vida regrada e a consciência de ter que enfrentar “dragões” todos os dias exige muita sabedoria, paciência e dedicação. O necessário para passar tudo isso sem que interfira na sua vida é saber enfrentá-los a todo o momento.

Conheça algumas doenças decorrentes do estresse: Psoríase: Doença inflamatória da pele, crônica, não contagiosa, caracterizada por lesões avermelhadas e descamativas. Dermatite atopica: Processo inflamatório crônico da pele caracterizado por lesões avermelhadas, que coçam e, às vezes, descamam. Elas aparecem na face, nas dobras do joelho e cotovelo. Dermatite Seborréica: Conhecida pelos nomes de seborreia, caspa ou eczema, a dermatite se manifesta sob a forma de lesões avermelhadas eu descamam e coçam principalmente no couro cabeludo, sobrancelhas, barba, perto do nariz, atrás e dentro das orelhas, no peito, nas costas e nas dobras de pele, como por exemplo, nas axilas, virilhas e debaixo dos seios.

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DIAS DE FÚRIA Estresse diario gera momentos de tensão Luiza Ferreira

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e acordo com pesquisa realizada pelo Centro Psicológico de Controle ao Stress da PUC, relacionamento, empregos e problemas financeiros ocupam o top três do ranking da lista dos principais motivos que estressam os brasileiros. Nos relacionamentos existem situações que somente o coração sabe lidar. Na maioria das vezes, a emoção é superior a razão. Já no caso dos empregos, o cenário é oposto. Abandoná-lo geralmente não é a primeira opção de quem sofre de stress, por isso serve aquele ditado “se não pode com ele, junte-se a ele”. Deve-se portanto aprender uma maneira de conviver com as situações impostas pelo dia a dia do trabalho sem que isto interfira nas saúdes física e mental. Os motoristas de ônibus e os bancários são os líderes de afastamentos por este motivo.

Estresse Bancário A FENABAN (Federação Nacional dos Bancos) assegura estar sempre trabalhando para aperfeiçoar

as condições de saúde e segurança no setor bancário. Afinal são 21.144 registros “Depo de afastamenis de m to pelo INSS no meia ais de h o ano passado, r a t explic apenas nesta ar o o entando ele, co c categoria, e meçam orrido para no geral mais o Eu nã o pen s a discutir de 200 mil sei du . zes, p pessoas são a s v a erti par afastadas a cima dele.” anualmente em razão Júlio, ex-ba ao stress. ncário Os gastos de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez para passaram dos 4 bilhões. ele. Depois Isso foi o que aconteceu de mais de meia hora tencom Júlio (nome fictício). tando explicar o ocorriEle trabalhou como gerente do, começamos a discutir. de uma agência bancária em Eu não pensei duas veSantos durante dois anos. zes, parti para cima dele.” Após o incidente, em No segundo ano de trabalho, ele já estava exaurido, 2009, Júlio foi afastado havia engordado e tudo para do banco. O seu cansaço, ele era motivo de stress e descontrole emocional e discussão. “Eu bri- agressividade, desencadegava quase diariamente com aram a Síndrome do Pânia minha namorada, clientes co, que o mantém afastae funcionários do banco do do emprego até hoje. Recentemente o sindicato por me sentir pressionado o tempo inteiro. Cheguei a dos bancários organizou tirar algumas licenças, mas uma greve que durou 23 nunca tinha sido diagnosti- dias na cidade de Santos, cado com nada muito grave.” onde eles reivindicavam por O ex-bancário lembra sua reajustes salariais, melhoúltima história no banco antes res condições de trabalho do afastamento. “Um cliente (como o fim das demissões chegou me cobrando expli- em massa e assédio moral cações sobre um comunicado que adoece os trabalhadodo banco que havia chego res) e maior segurança.

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As dificuldades de conduzir vidas

Quanto aos motoristas de ônibus exigências de horários, multas (que às vezes são pagas pelos próprios) e o trânsito cada vez mais conturbado são as principais causas de afastamento do trabalho. O último levantamento divulgado pelo INSS em Santos, realizado em 2007, divulgou que apenas na 70% dos motoristas de ônibus foram afastados por stress e distúrbios mentais, que de acordo com eles ocorre devido o acúmulo de funções, precárias condições

de trabalho e excesso de horas extras trabalhadas. Um motorista de Santos, que preferiu não se identificar, afirma que nunca precisou se afastar do cargo, porém muitos de seus colegas não conseguiram lidar com a pressão diária. Segundo ele, além da responsabilidade de transportar vidas diariamente, atualmente com a nova lei que proíbe que o passageiro pague a passagem em dinheiro, criou-se um novo motivo de estresse entre ambos.

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“Muitas vezes não há pessoas vendendo cartões transportes nos pontos de ônibus. Como vou deixar alguém que precisa trabalhar ou voltar para casa esperar alguém aparecer ou procurar um dos postos que muitas vezes está sem recarga disponível? O que deveria nos ajudar no acúmulo de funções acabou trazendo mais um problema!” A empresa Piracicabana, responsável pelo transporte coletivo na cidade foi procurada, mas não se posicionou sobre o assunto.


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A PAZ QUE NASCE DA IRA

Como a religião ajuda a lidar com este pecado

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Vanessa Pimentel anter a paz, a calma e a paciência é fácil quando se vive afastado da sociedade e dos problemas do dia a dia. Essa é a ideia de muitas pessoas ao pensar em alguém que decidiu abandonar os padrões de vida comum e se dedicar à espiritualidade, fazendo da igreja ou de retiros espirituais, seu lar. Em um ambiente calmo como o encontrado em mosteiros e igrejas, fica difícil imaginar que o sentimento da Ira possa estar presente. Mas, e se ele ocorrer? Como padres e monges lidam com esta situação? Afinal, ninguém está livre dela. Religião remete à paz. Seja por meio de símbolos, como um altar, jardins, o

assoviar dos pássaros, o contato com a natureza e a ira. Ira? Com certeza, ao imaginar um lugar assim, este sentimento não passa nem perto da mente das pessoas, mas será possível ele estar presente em cenas como essas? O professor de Budismo e Meditação, Luiz Carlos Quadros, o Milo, como é conhecido, diz que sim. É possível até mesmo ocorrer em uma situação de paz como a descrita acima. “No budismo, ela é vista como um estado mental, passageiro. Não faz parte da personalidade da pessoa. Ela ocorre por uma determinada situação que desencadeia esse sentimento e ao perder o equilíbrio, a pessoa tem atitudes que podem colocar em risco a própria vida ou a vida de alguém.

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A raiva, agressividade, o querer machucar outra pessoa é tido como um dos estados mentais mais prejudiciais que existem.” Os monges, ele explica, são vistos com certa fantasia, como seres evoluídos e livres desses “pecados”, mas ao contrário do que se pensa, eles são seres humanos comuns e propensos aos sentimentos terrenos como a ira. Existem monges que antes de assumirem os votos tiveram família, filhos e trabalho. Só que em determinado momento da vida, devido alguma situação, decidiram se dedicar à vida espiritual e a partir daí a rotina mudou. O ato de raspar os cabelos representa a ausência de vaidade, assim como as vestes. “Ele faz uma promessa de se abster de


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ações negativas, se torna celibatário e aí começa a viver o estilo de vida de um monge. Como estudam técnicas de controle da mente, eles aprendem a lidar melhor com esses impulsos e como não se deixar levar por eles. Tudo depende da forma como se lida com os sentimentos. A todo o momento, eles também estão expostos e vivendo situações cotidianas e até mesmo em conflito com seus próprios estados mentais, mas a meditação e os ensinamentos de Buda mostram que a paz vem de dentro e tudo é resolvido interiormente, não exteriormente.” No budismo, eles identificam o grau em que as perturbações mentais se encontram e então começa um estudo para reduzir as causas desses efeitos na vida da pessoa. “É possível eliminar completamente os sentimentos ruins da vida de alguém”, destaca. Claro que esse controle acontece gradualmen-

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te. Os impulsos passam a ser controlados e a sua influência vai diminuindo até que um dia, talvez, ele passe a não mais existir. Os retiros budistas são locais abertos onde o treino da meditação é intenso e o ambiente totalmente propício a isso. Qualquer pessoa pode ir e ficar o tempo que achar necessário, mas os ensinamentos são postos à prova quando se vive as situações do dia a dia. Milo começou a praticar o budismo há dez anos, quando ganhou um livro de presente de aniversário que falava sobre os ensinamentos da doutrina. A partir daí começou a estudar, frequentar um centro budista e fazer retiros espirituais. Foi convidado para dar aulas voluntariamente e não parou mais. Ele diz que este é um trabalho diário de dedicação a ensinar métodos para treinar a mente das pessoas e dessa forma manter a paz interior, viver melhor e consequentemente, ser mais feliz.

Igreja Católica O padre Rouvilio Guizzardi, 75 anos, diz que a Igreja Católica não tem uma visão própria do pecado da ira, mas que para controlar este impulso é necessário a leitura da Bíblia e do Evangelho de Jesus. “A ira é a manifestação da falta de amor e, portanto da falta de perdão. Claro que aqui se encontra com a natureza humana. O que Jesus nos apresenta é que se alguém te dá um tapa na cara, volta o outro lado para que ele dê a segunda batida, mas isso VANESSA PIMENTEL

FOTOS ARQUIVO PESSOAL

Pe. Rouvilio antes de ministrar a missa

Na primeira foto, o budista Milo explica a filosofia aos presentes. Na segunda, oração de agradecimento

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“A ira é a manifestação da falta de amor e, portanto da falta de perdão”. Padre Rouvilio

certo? É que o Evangelho se serve de expressões linguísticas que são formas exageradas para dizer que na verdade, por mais que seja difícil, a solução cristã é o amor. Por isso, essa exigência de superar a ira.” Sobre a sua juventude dentro do seminário, ele explica que além dos estudos teológicos, há também a escola normal com Ensinos Fundamental e Médio. “A vida de seminário é uma vida de ascese”, ou seja, consiste na prática da renúncia do prazer para então atingir determinados fins espirituais. Há uma espécie de mentor chamado padre espiritual. É ele quem os seminaristas procuram quando querem explicações e ajuda para controlar os impulsos que sentem, como a ira e a sexualidade, tão comuns na adolescência, até que consigam controlar o próprio temperamento e aceitar o celibato. “Isso não caiu do céu. Foi fruto de um tirocínio, de uma educação, esforço e prática.” Quando questionado se sentiu alguma vez a força da ira, padre Rouvilio afirma

que já se sentiu contrariafamiliares durante seis anos, do, mas que nunca perdeu já que as viagens eram feitas o controle a ponto de bride navio e duravam o tempo gar ou machucar alguém. exato das férias. Hoje, ele é pá- E como faz para manroco na igreja Nossa Senhora ter a serenidade em meio dos Navegantes, em Santos. às situações cotidianas, gePortanto, a Ira se faz preralmente tão estressantes? sente para todas as pessoas. O - “Manter a paz durancontrole da mente e a religiote o sono é fácil, minha fisidade é que contribuem para lha!”, diz de forma sucinta. manter a paz interior. PINTEREST Ele fala que quando não há conflito com alguém, todos conseguem manter-se serenos. “A paciência tem de ser exercida em meio à sociedade e aos conflitos que existem por aí. Ela é o antídoto da ira.” O padre Rouvilio Guizzardi entrou para o seminário aos 12 anos. Vem de uma família cristã, cujo irmão mais velho é bispo emérito, pois já tem mais de 75 anos. Começou estudando em Rio Grande do Sul, onde nasceu. Depois foi para São Paulo e em 1957 foi estudar na Universidade Gregoriana dos Padres Jesuítas, em Na primeira foto, o budista Milo explica a filosofia aos Roma, período quanpresentes. Na segunda, oração de agradecimento do ficou longe dos

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PECADO QUE MATA POR DENTRO

Como o rancor pode desencadear graves transtornos emocionais no indivĂ­duo 91

Rafaella Martinez


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ra o jeito dela de ser: guardar as mágoas e o rancor para si, pois não queria ferir quem estivesse por perto. A ex-bancária e hoje técnica em segurança do trabalho da Petrobras, Neléia Critelli, 39 anos, não imaginava que possivelmente em decorrência dessa atitude a vida lhe pregaria uma peça: em um período de seis meses desenvolveu um câncer que por pouco não lhe custou a vida. A ira é uma necessidade violenta de reação provocada por um sofrimento ou contrariedade física ou moral. O pecado faz com que as pessoas se sintam impulsionadas a descarregar sua raiva em manifestações físicas – no sentido de atacar a outra pessoa. Porém, algumas vezes, como no caso de Neléia, essa manifestação acontece de maneira silenciosa. O que mais a espantou – e o motivo maior para levá-la a acreditar que talvez fosse em decorrência do lado emocional – foi que a doença evoluiu de uma forma rápida. Ela havia feito exames de rotina há pouco tempo e nada havia sido detectado. “Descobri o nódulo em um auto-exame. Fui ao médico e veio o diagnóstico que julguei ser meu atestado de óbito: carcinoma ductal invasor – o temido câncer.” Mesmo sem ter pesquisado sobre as doenças psicossomáticas, Neléia afirma que desde o início tinha certeza do motivo pelo qual a doença foi desencadeada. “A ira, o ran-

FOTOS:RAFAELLA MARTINEZ

cor, as mágoas que acumulei ao longo dos anos apodreceram dentro de mim e sei que isso desencadeou o nódulo em meu seio. E para uma mulher, o seio é o símbolo da feminilidade. Aquilo me fez trabalhar o meu interior.” Hoje, passados nove anos e depois de uma série de transtornos físicos e emocionais, a técnica avalia positivamente o período. “Não foi fácil, mas descobri que a gente cria a nossa própria doença. Analisando tudo o que aconteceu, hoje eu sei que o câncer me trouxe de volta à vida.” Mente sã, corpo são A psicossomática é descrita dentro da Psicologia como um estudo que observa as consequências de fa-

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A tensão no cotridiano provoca altrerações psiquicas e emocionais no individuo.


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tores sociais e psicológicos sobre processos orgânicos do corpo e sobre o bem estar. “Em uma definição simples seria o aparecimento de um sintoma físico qualquer, desencadeado por algum tipo de problema emocional”, destaca a psicóloga Djeane Moura. Djeane afirma ser possível pensar no homem como um ser “indivisível com várias partes”. É possível falar de mente e corpo, entre outras divisões, mas não em delimitar onde começam e terminam, pois ambas as partes vivem em sintonia onde uma fala pela outra. “Quando o corpo começa a reclamar, é preciso

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prestar atenção e avaliar as emoções, sentimentos e a maneira como o indivíduo tem levado a vida.” Muito se discute se o câncer pode ser caracterizado como uma doença psicossomática. De acordo com Djeane, embora a doença esteja associada a sentimentos mal resolvidos, ainda não existe um estudo concreto capaz de fazer essa associação. “Existem muitas linhas de pesquisas que afirmam que todas as doenças estão de alguma forma relacionadas com a mente, mas ainda há muito o que analisar e observar”, afirma.

“Em uma definição simples a doença psicossomática seria o aparecimento de um sintoma físico qualquer, desencadeado por algum tipo de problema emocional” Djeane Moura

ALERTA - Excesso de trabalho e responsabilidadepodem desencadear o estress, contribuindo para o surgimento de doenças.

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AJUDA - Pessoas encontram auxílio para o amenizar as doenças psicossomáticas nas telas do cinema. A terapia tem dado certo.

Cura pelo cinema Partindo do princípio de que os fatores psicológicos tem fundamental importância no desenvolvimento de todas as doenças, a Unimed Santos realiza gratuitamente desde 2011 a cinematerapia. A proposta do projeto é gerenciar o processo de estresse e auxiliar no tratamento das doenças psicossomáticas. O tratamento é um coadjuvante da dinâmica em grupo, que trabalha com o autoconhecimento, auxilia no combate às mágoas e inspira as mudanças de atitudes. Frequentadora de grupos que visam o combate às doenças psicossomáticas há mais de oito anos, a aposentada Laura

Fukushima consegue enxergar guma real evolução em seu dia a dia. “A gente envelhece e começam a surgir os conflitos de gerações dentro de casa”. Assim, ela começou a se sentir deslocada da realidade que viviam suas filhas e netas. “Eu me fechei e as manifestações físicas começaram a aparecer... Uma tristeza sem fim, uma mágoa guardada e quando me dei conta, a depressão já estava desencadeada.” Laura passou a frequentar o primeiro grupo de apoio ministrado pelo dmédico Hector Ojunian há 8 anos. Desde 1993, o médico oferece tratamento gratuito a pessoas que buscam encontrar o equilíbrio entre mente e corpo. “O problema é que muitas vezes não queremos

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encarar o problema de frente. No fundo, sabemos que para cuidar do físico primeiro é preciso lidar com o psicológico, mas aceitar isso é expor os problemas mal trabalhados, nossos fantasmas interiores”, afirmaLaura. Em entrevista concedida ao jornal Boqnews o doutor Hector Ricardo Ojunian, mestre em saúde coletiva e coordenador do programa de medicina psicossomática da Unimed Santos, afirmou ser impossível desvincular corpo e mente. “É necessário tratar a doença, mas é ainda mais importante evitar que se manifeste. Nesse processo, é fundamental interpretar a mente e buscar o equilíbrio psíquico. Conhecer a si mesmo é o primeiro passo para garantir saúde”, finaliza.


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A IRA PECADOS

é pecado?

Pecado, segundo os cristãos, é tudo que vai contra os ensinamentos do livro sagrado chamado a Palavra de Deus, ou Bíblia. Mas o que diz a Bíblia sobre a ira? Ela foi declarada como pecado capital, não porque a Bíblia diz, na verdade, a ordem divina é: “Irai-vos e não pequeis, mas dai lugar à ira (de Deus) porque está escrito: Minha é a vingança, eu recompensarei, diz o Senhor.” Saiba mais o que diz as Escrituras Sagradas sobre o pecado da Ira. Mara Menezes

e não s ; s i e a. equ não p a vossa ir e , s o e Irai-v o sol sobr ponha 6 s: 4:2

Efésio

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Bíblia é formada por 66 livros escritos por vários autores durante um período de 1500 anos. Reconhecido também como um documento histórico, contém relatos de fatos e épocas que antecedem os faraós do Egito, muitos comprovados por pesquisadores, cientistas e arqueólogos.

Um líder religioso católico, o papa Gregório Magno declarou a ira como um dos pecados capitais. Porém, o pastor Milton Alves, da Primeira Igreja Batista, interpreta o texto bíblico de forma adversa e relata que, na verdade, a Bíblia ensina que nem sempre a ira é pecado. “Pelas palavras das santas escrituras constata-se que há uma ira santa, justificada – Quando nos deparamos com coisas erradas e injustiças é natural que o homem se ire. Mas ele não deve perder o controle de suas ações.” No conceito budista a ira é um estado de vida. A líder budista Norá dos Santos explica: “ A pessoa neste estado, tem o desejo constante de derrubar as outras para se sentir numa posição superior ou mais favorável do que aquelas com quem convive.” Existe no Budismo o conceito das 14 atitudes que os verdadeiros seguidores devem evitar. O ódio, a inveja e o ato de sustentar o rancor, contidos no estado de ira, estão incluídos neste conceito. Entende-se ainda, segundo as palavras da líder Norá, que há um outro estado de ira, mais aparente e feroz. “A ira do estado de inferno em um nível mais profundo do que a auto-consciência. As pessoas não podem ver as coisas logicamente.” É caracterizado por uma ira incontrolável e inextingüível.

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O Gosho Budista -

“O que vive no mundo da ira, motivado pelo desejo incontrolável de ser superior a outros exaltando a si mesmo (...) pode mostrar aparentemente grande benevolência, (...) porém seu coração permanece no mundo da Ira. ”( Gosho Zenshu, p.430 )


ira em hom e o d d ira tiça is a s u e j u ue Porq pera a ving s o o os, v não mad e ão a N , . s (d mos Deu mes ar à ira cris ó es lug a v está nça; dai e s u a a m orq ving iz s), p Deu nha é a arei, d i s 19 to: M compen om.12: e R r r.” eu enho S o

esda d n a r la ab a pa post A res ror, mas a ira. fu ta ivia o ra susci discr u A d ) . (.. faz vra .15:1 omem o ua v o r P s do h ar-se; e er i ção m esqu e o i m e 1 tard está rov. 19:1 a i r P ó gl s. fensa cer o

ira se e t m men - Que l i c é a 9 m f ices; 2 ar-se e u Q ir ndoid m ime fará rdio e ntend ânie a e é t e em é d alta e d u x gran as o q ado e hot m - O ipi to; prec 15:18 suscita 7 mo cura. o u 14:1 und a lo irac Prov. mem ndas; te con

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O que é compatível com o que, segundo o pastor Alves, a Bíblia ainda fala sobre a ira humana que geralmente é impetuosa, e por isso, descontrolada. Ela vem acompanhada do sentimento da vingança, ligado ao orgulho e à vaidade. Nas palavras do presidente da Casa Espírita Maria Emília da doutrina de Alan Kardec, José Edilson de Oliveira, todos os sentimentos fazem parte da natureza humana e não há nada de errado em senti-los, porém a partir do momento que se excedem se tornam paixões sem controle. “O que ocorre é que temos que aprender a lidar com os mesmos por mais difícil que isso possa parecer. Uma pessoa irada é uma pessoa desequilibrada” ele diz. De acordo com os ensinamentos da Doutrina Espírita de Alan Kardec uma pessoa só consegue atingir o estado da perfeição por meio de sucessivas reencarnações em que o espírito vai aprendendo as leis de Deus.

O que fazer diante da Ira? “Devemos aprender a nos controlar,” ensina o pastor Alves. Em uma situação em que a pessoa se encontra como o alvo da ira de outra, a melhor atitude é forçadamente manter a calma. “Não se mostre agressivo nos gestos, no olhar e não responda. Deixe que o outro fale e extravase suas emoções até que se desgastem”, aconselha. O líder espírita José Edilson concorda. “Fique calmo. A outra pessoa está fora de si. Fique presente, consciente e espere que a pessoa se esvazie de sua raiva descontrolada.” Segundo ele, conforme a crença espirita, a superação desses sentimentos, por meio do amor, proporciona o espírito a sua evolução. A líder budista Norá também expressa sua opinião: “Quando algo acontece devemos refletir sobre nós mesmos, em como poderíamos ter agido para evitar o conflito, ao invés de culpar os outros ou nutrir ressentimentos e ódio. E nada impede que nos desculpemos com a outra pessoa desarmando-a”, conclui.

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A ira como pecado Há pessoas que são propensas à ira, chamados iracundos. A esses, a Bíblia adverte contra pois são pessoas dadas à confusão. Pessoas dessa ordem perdem o controle próprio por qualquer motivo banal e não hesitam em cometer loucuras. Norá também adverte contra o poder da língua, ou das palavras, de suscitar a ira de outros. E ensina sobre a necessidade do controle próprio, pois a ira humana faz com que o homem se torne impetuoso, irracional, perdendo o controle de suas ações e permitindo que palavras transbordem sem limites causando devastações pessoal e emocional irreparáveis, ou praticando ações que podem resultar em tragédias.

Não sa nenh ia da vos uma sa bo ca pala pe, m v ra t as só ora que para for b p oa caçã romover o, pa a ed ra ifi ça ao s que que dê g r a ouv a sios 4: 29 em. E fé-

Todas as escrituras religiosas concordam em ensinamentos no dever do homem de ser honesto no falar. Falando a verdade com controle emocional. “Não devemos permitir que o que está nos incomodando acumule até que finalmente percamos o controle. Compartilhar e lidar com o que está nos incomodando antes de chegar ao ponto de irarmos é muito importante”, diz o pastor Alves. Ataquemos o problema, não a pessoa. Devemos manter o volume de nossa voz baixo. Gritaria é geralmente considerada uma forma de ataque. Aja, não reaja.

Como um Bem Outra concordância dentre os líderes religiosos é que a ira quando baseada na compaixão ou senso de justiça, pode ser usada como uma força positiva. A ira, por exemplo, pode ser a razão para lutar contra as injustiças no mundo ou trabalhar por uma boa causa. Ela impulsiona o homem a lutar por seus direitos e de outros menos favorecidos. É da boa ira que nasce heróis e benfeitores da humanidade. E finalmente devemos fazer a nossa parte para resolver o problema. Pastor Alves aconselha: “Superar um temperamento explosivo não vai acontecer da noite para o dia. Mas assim como talvez alguém permita que a ira faça parte de sua vida através de prática habitual, também pode-se praticar responder da forma correta até que se torne um novo hábito que substitua os velhos”, conclui.

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Toda a ama rgura cólera , e ira , e gr ,e i taria, fêmia e blas e tod a sejam tirada a malícia s Antes sede u dentre vós. ns pa os ou ra com tro ricord s benignos , mise iosos, -vos u perdo ns ao andos outros també , m De us vo como doou s per em Cr isto. E 31,32 fésios 4:


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A ira de Jeová No livro sagrado é relatado que o próprio JeováDeus sempre se irou com a humanidade segundo inúmeras passagens bíblicas e continua a se irar hoje já que Deus é eterno. No livro de Romanos, no primeiro capítulo, de 32 versículos, está escrito o porque e como Deus manifesta sua ira em todo o tempo. O primeiro motivo é sobre os homens que se recusam a conhecê-lo simplesmente pelo e divindade. O pastor Alves adoram imagens de esculobservar da sua criação re- explica: “Entenda-se aqui, tura de humanos ´santos´ conhecendo nas obras da primeiramente, os que de barro ou madeira, se natureza seu eterno poder encurvando diante delas e prestando cultos e louvores ao que não tem vida, e Deus se ira com isto.” Ainda mais, os povos de “Deus é juiz justo, um Deus que se ira religiões pagãs em que uns todos os dias. (...) Porque as suas coisadoram o sol, o vento, ou as invisíveis, desde a criação do mundo, “divindades” representatanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se tivas dos rios, montanhas, vêem pelas coisas que estão criadas, para e do mar como as religiões que eles (os homen)fiquem inescusáveis; africanas, como o CandomPorquanto, tendo conhecido a Deus, não blé, por exemplo. Na Íno glorificaram como Deus, nem lhe deram dia, os hindus adoram vagraças, antes em seus discursos se descas, ratos e cobras, entre vaneceram, e o seu coração insensato se seus mais de 3000 deuses. obscureceu. (...) E achando-se sábios, se Estes estariam inclusos entornaram loucos e mudaram a glória do tre os que sofrem a ira de Deus incorruptível em semelhança da imDeus conforme o texto bíagem de homem corruptível e de aves, e blico. A forma de Deus made quadrúpedes, e de répteis.” Romanos 1 nifestar sua ira, segundo o quadro ao lado, é aban“Eu sou o SENHOR; este é o meu donando-os, e a seus finome; a minha glória, pois, a outlhos, às suas próprias vonrem não darei, nem o meu louvor às tades, deixando-os sem imagens de escultura.” Isaias 42:8 rumo, vagando na ignorância, nas misérias e maldades que o mundo contém.

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O mundo da Luxúria Traições Sex shop A indústria do sexo Sexo Tântrico Livros eróticos Sadomasoquismo Todos os fetiches!

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Ache aqui... Ache Literatura erótica: o prazer na leitura

O fantasma está à solta

A grama mais verde...

aq Entre quatro paredes

4 12 8 Definição

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s.f. Atração pelos prazeres carnais; comportamento desmedido em relação aos prazeres sexuais; lascívia. Estado do que é luxuriante; viçoso, abundante. Religião. Segundo os católicos, um dos sete pecados capitais. Brasil. Informal. Designação de cio e esperma. No âmbito vegetativo, magnificência; viço. (Etm. do latim: luxuria.ae)

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qui... O prazer sádico

Sexo além do prazer

Luxúria delivery

EXPEDIENTE

Textos: Nicole Siqueira, Renan Fiuza, Jéssica Bittencourt, Lia Rheck, Luciana Mohallen, Paula Mattos, Susete Ferreira

22 26

Edição: Susete Ferreira Fotos: Karla Gouveia, Paula Mattos, Nicole Siqueira, Divulgação internet

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Revisão: Helder Marques

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luxúria

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Literatura erótica: o prazer na leitura A literatura erótica ganhou novo fôlego com a trilogia Cinquenta tons de cinza NICOLE SIQUEIRA

Nicole Siqueira

C

hicotes, amarras, brinquedos eróticos e sexo em lugares públicos são alguns dos objetos e situações retratados por personagens nos livros conhecidos como soft porn, obras eróticas com descrições de atos sexuais, mas carregados de romantismo. A história da literatura erótica começa no século XVIII, com o libertino Marquês de Sade, com o livro Os 120 Dias de Sodoma, que conta os quatro meses passados no castelo Silling, no qual 48 pessoas se enclausuraram para praticar as mais devassas orgias. Só que tudo foi

fruto da imaginação de Sade. O responsável pela palavra sadismo escreveu também os livros Justine e Juliette, que contam a história de duas irmãs que são de uma família muito rica e ficam órfãs muito cedo, sendo criadas num convento. Assim que as duas meninas ficam pobres, a diretora do convento faz as piores coisas com elas, expulsando-as, inclusive. E isso vai dar dois destinos completamente distintos, que são dois livros. Um é o Juliette, ou as prosperidades do vício, e o outro é Justine, ou os infortúnios da virtude. Foi somente após a sua morte que ele começou a ter seus escritos e talento reconhecidos, pois teve sua obra proibida até o final do século passado. Elaine

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Robert Moraes, professora de Literatura Brasileira da USP e especialista em literatura erótica e das obras de Sade, conta que as obras do autor não estavam disponíveis ao leitor. As edições eram clandestinas. ”Eu li tudo em francês, me exigiu muito. Foi até bom, aprendi a falar francês com Sade. Não sabia falar coisas básicas, mas todos os palavrões do século 18, todas as nomeações dos genitais eu sabia”. Os leitores desse gênero liam escondidos e eram julgados pela sociedade como pervetidos, até 2011, quando a britânica Erika Leonard James, conhecida como E.L James, lançou o livro Cinquenta tons de cinza. A trilogia tornou-se um best seller mundial, que já vendeu 70 milhões de cópias

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em 37 países. Depois deste sucesso, vieram outros dramas com alto número de vendas no mundo todo, como a série Crossfire, da escritora Sylvia Day, que já vendeu mais de 165 mil exemplares no Brasil. A estudante Marina Alves, de 20 anos, começou a ler a obra de E.L. James por influência das amigas e precisou de um tempo para se acostumar. “É um universo diferente do que estava acostumada a ler. No começo fiquei meio chocada, mas depois me acostumei”, explica. Já a jornalista Erika Alencar não teve problemas para se adaptar ao gênero. “É uma leitura mais leve, menos rebuscada e mais direta. Sem entrar no mérito de ser bem ou mal escrito, o texto flui ra-

pidamente. A história também chama a atenção por ser abordada de uma forma diferente, bem típica do soft porn”, afirma. Para quem quer começar a se aventurar nesse tipo de leitura, Marina dá um conselho: “Prepare-se para fortes emoções [risos]”. Apesar de haver uma maior liberdade e aceitação da literatura erótica, principalmente pelas mulheres, ainda existe muito preconceito e julgamento. Erika não considera a opinião de pessoas que tecem comentários maldosos sem ler os livros. “As pessoas têm o direito de gostar ou não de livros, filmes e várias coisas na vida, afinal, ninguém é igual a ninguém. Mas não acho digno de consideração alguém falar

Conheça as histórias dos principais livros eróticos atuais Divulgação

"Cinquenta tons de cinza" narra o início da ardente história de amor entre a recatada estudante Anastasia Steele e o enigmático empresário Christian Grey em "Cinquenta tons mais escuros", em que Ana e Christian lutam para superar as diferenças e os problemas do passado e "Cinquenta tons de liberdade", traz o desfecho da série.

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A trilogia Crossfire narra a história de Eva Tramell, de 24 anos, que acaba de conseguir um emprego em uma das maiores agências de publicidade dos Estados Unidos. Até que ela conhece o jovem bilionário Gideon Cross. Ele imediatamente se interessa por Eva, que faz tudo o que pode para resistir à tentação, mas ela acaba se entregando.

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Divulgação

Em Belo Desastre, Abby Abernathy é uma boa garota e acredita que seu passado sombrio está bem distante. Ela vai para uma nova cidade cursar a faculdade, e então seu recomeço é rapidamente ameaçado pelo bad boy do local, Travis Maddox. Tudo que Abby precisa e deseja evitar. Mas o menino é um conquistador e logo se depara com a resistência de Abby.


luxúria mal do livro ou qualquer outro assunto que não conheça ou tenha pelo menos uma noção do assunto. Leio muitos livros, de vários gêneros e assim tiro minhas conclusões e faço as minhas comparações”. Elaine diz que as novas histórias nem se comparam com as antigas. “Achei uma coisa horrorosa do ponto de vista literário. Mas, gente, é uma história superconvencional, de amor ingênuo, de uma mocinha virgem – em 2013, ela está apaixonada por um milionário lindíssimo. Ela está ambientada num cenário meio S&M [sadomasoquista], mas é a história mais tradicional que existe. E sabe qual o objetivo da mocinha? Casar com o milionário! É curá-lo de suas obsessões e manias. Então, quando a gente vai olhar, vê que esse é um choque falso, porque ele está reafirmando uma série de valores que são bem tradicionais”.

Literatura erótica no Brasil No Brasil, a poesia erótica feminina manifestou-se de forma mais clara somente a partir do século XX. Antes disso, a repressão a tudo o que se referia ao corpo, incluindo sexo e virgindade, desencadeou uma mentalidade bastante preconceituosa, ao relacionar sexualidade com pecado, principalmente por parte da Igreja Católica e do cristianismo. Por isso, inicialmente apenas os homens escreviam uma poesia erótica, sendo que Gregório de Matos, lá no século XVIII, é considerado o primeiro representante brasileiro a introduzir esta temática em nossa poesia.

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Escritoras na Literatura Erótica A poesia erótica feminina surgiu na Grécia Antiga, no século VII a.C. pelas mãos da poetisa Safo de Lesbos, considerada a primeira mulher a se atrever a expressar o erotismo feminino em versos. Entretanto, poucos fragmentos da obra desta poetisa foram conservados devido à censura que sofreu por parte dos monges copistas na Idade Média. Durante esse período, as mulheres sofreram perseguições e ameaças de morte. Por isso, elas pouco se dedicaram à arte da escrita, principalmente literatura erótica. Somente a partir do Renascimento, mulheres como Marie de France, Eleanor de Aquitaine, Marguerite de Navarre, Louise Labé, Elisabeth I da Inglaterra e Cristina da Suécia, todas de educação privilegiada e pertencentes às altas cortes, libertaram suas penas e tinteiros e se dedicaram com mais afinco a este tipo de literatura. No período de transição entre os séculos XIX e XX, surge Rachilde, pseudônimo de Marguerite Aimery, que compôs inúmeros romances escandalosos para a sua época. Já no início do século XX surgem outros nomes, como Natalie Clifford-Barney, Renée Vivien, Lucie Delarue-Mardrus, Renée Dunan e Sidonie Collette. Surgem também neste período Anaïs Nin e Joyce Mansour, a primeira considerada a melhor romancista erótica moderna. De estilo surrealista e bastante interessada pelos sonhos e prospecção do inconsciente, seu erotismo é influenciado por algumas experiências vivenciadas por ela e

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marcado pela delicadeza e recusa da separação entre amor e sexo. Escritoras Brasileiras No Brasil, a voz erótica feminina clamava por ser ouvida. Nos anos 1960, com a revolução feminista, que reivindicava basicamente direitos iguais entre homens e mulheres, é que as coisas começaram a mudar também na literatura. A partir daí começam a surgir as primeiras poetisas e escritoras a adotar o tema erótico em suas obras, tais como Márcia Denser, Alice Ruiz, Betty Milan, Cassandra Rios, Myriam Fraga, Olga Savary, Gilka Machado, Hilda Hist, Adélia Prado, entre outras, sobressaindo-se as duas últimas. Hilda Hist adotou temas-tabus como: pedofilia, homossexualismo e lesbianismo. Nas duas últimas décadas aumentou consideravelmente o número de poetisas que passaram a adotar a temática erótica em suas obras, através de um discurso no qual são expressos desejos de liberdade, amor e erotismo, em variadas nuances, havendo, portanto, lugar tanto para o estilo mais refinado e rebuscado até o estilo mais simples e coloquial, inclusive para palavras de baixo calão. Neste contexto surgem poetisas como: Angela Montez, Laura Esteves, Verônica Dias, Mônica Mello, as quais têm se destacado entre tantas outras anônimas, que atualmente se dedicam a publicar seus poemas na Internet, seja em sites e blogs de literatura e poesia ou em redes sociais.


Os 10 livros eróticos recomendados por Elaine Robert Moraes

1. História da literatura erótica, Sarane Alexandrian (tradução de Ana Maria Scherer e José Laurênio de Mello). Rio de Janeiro: Rocco, 1994. 2. A imaginação pornográfica, Susan Sontag. Ensaio publicado em A vontade radical. Tradução de João Roberto Martins Filho. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. 3. Eros, tecelão de mitos: a poesia de Safo de Lesbos, Joaquim Brasil Fontes. São Paulo: Iluminuras, 2003. 4. Falo no jardim – priapeia grega, priapeia latina, João Ângelo Oliva Neto (organizador e tradutor). São Paulo: Ateliê/Editora da Unicamp, 2006. 5. Satíricon, Petrônio (tradução de Cláudio Aquati). São Paulo: CosacNaify, 2008. 6. Sonetos luxuriosos, Pietro Aretino (tradução, introdução e notas de José Paulo Paes). São Paulo: Companhia das Letras, 2000 . 7. A invenção da pornografia: a obscenidade e as origens da modernidade (1500-1800), Lynn Hunt (tradução de Carlos Szlak). São Paulo: Hedra, 1999 . 8. Moqueca de maridos: mitos eróticos, Betty Mindlin e narradores indígenas. Rio de Janeiro: Record/ Rosa dos Tempos, 1997.

cord, 1999.

9. Crônica do viver baiano seiscentista, Gregório de Mattos. Rio de Janeiro: Re-

10. Poesias eróticas, burlescas e satíricas, Manuel Maria Barbosa Du Bocage. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 1999.

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SE7E luxúriaSE7E Luxúria soberba PECADOS PECADOS

O fantasma está à solta Em tempos modernos, a traição se tornou comum na vida de muitos dos casais. Mas, o que é possível fazer para espantar este fantasma? Jéssica Bitencourt

T

udo vai bem. De repente, surge na agenda do seu parceiro(a) uma comemoração do trabalho, para a qual ele(a) não te convidou. Ou até convidou, mas você tem outro compromisso e não poderá acompanhá-lo(a). Não importa se a comemoração será na balada, no barzinho ou na casa de alguém. Se houver espaço no seu relacionamento, pode ter certeza que o fantasma da traição estará lá, rondando, esperando um deslize para dar o bote e trazer problemas. Desde que o mundo é mundo, esta é uma premissa dos relacionamentos estáveis. O que está mudando é o papel de cada uma das partes e a forma como a situação é tratada. As novas práticas culturais, a comunicação facilitada e o bombardeio de informações ao qual a sociedade fica exposta, foram causadores da banalização do adultério e do surgimento dos relacionamentos abertos. As mulheres, antes submissas, deixaram de sofrer caladas e tornaram-se donas de suas vidas. A conquista da independência ensinou a elas o que é a insatisfação, termo que os homens já conhecem há tempos, e lhes deu coragem de buscar na traição um meio de resolvê-la, como o sexo masculino faz. Por consequência, no momento atual, o índice de infidelidade disparou e está quase equiparado ao deles, que permanecem na frente quando o assunto é ‘pular a cerca’. É o que aponta um amplo estudo sobre o tema sexualidade, realizado entre 2002 e 2003 pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). De acordo com os resultados, compilados no livro “O Descobrimento Sexual do Brasil”, da sexóloga e professora Carmita Helena Najjar

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luxúria soberba Luxúria

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FOTO WILSON MELO

Campeões de traição Fonte: Pesquisa do Projeto Sexualidade, da Universidade de São Paulo (USP)

Homens

Mulheres

1º Bahia – 64% 2º Pará – 62,1% 3º Ceará – 61,1% 4º Rio Grande do Sul – 59,9% 5º Distrito Federal – 59,8% 6º Rio de Janeiro – 56,7% 7º Santa Catarina – 56,3% 8º Minas Gerais – 52,2% 9º Rio Grande do Norte – 51,8% 10º Pernambuco – 49,2%

1º Rio de Janeiro – 34,8% 2º Rio Grande do Sul – 31,7% 3º Rio Grande do Norte – 30,2% 4º Minas Gerais – 28,8% 5º Distrito Federal – 27,7% 6º Ceará – 26,7% 7º Pernambuco – 26,5% 8º Bahia – 25,2% 9º São Paulo – 24,1% 10º Santa Catarina – 20,9%

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Abdo, o índice brasileiro de traição entre os homens é de 50,6% contra 25,7% entre as mulheres. O estado da Bahia tem o maior índice de homens infiéis (64%) enquanto o Rio de Janeiro tem o maior de mulheres (34,8%). Em contrapartida, um dos campeões no índice de população mais fiel é o Paraná. Apenas 42,8% dos homens e 19,3% das mulheres traem o parceiro(a) no estado. Para o psicólogo e terapeuta sexual João Batista Pedrosa, as estatísticas têm uma explicação. “Questão de gênero. O homem faz mais sexo do que a mulher. A novidade é que as mulheres de hoje traem mais que as mulheres do passado”, afirma, e lembra que o conceito de traição é bem relativo. “Para muitos, é fazer sexo com outra pessoa que não seja o parceiro(a). Para outros, sexo sem envolvimento emocional, tipo casual, não é traição”. Cada um tem o seu ponto de vista. O site americano HuffPost Divorce divulgou, em maio, um estudo que revela a opinião da

* As mulheres traem quando são mais jovens (24 - 45 anos) enquanto os homens traem quando estão mais velhos (36 - 55 anos).

população dos Estados Unidos sobre o que é considerado traição. As mulheres são mais criteriosas: 85% disseram que um SMS ou foto sensual enviada à outra pessoa já constitui ato infiel. Outras 56% acreditam que o beijo na boca também. Entre os homens, os índices foram bem menores: 74% e 40%, respectivamente. Outra estatística revelou que 70% das mulheres que responderam a pesquisa tratam como traição se o parceiro tiver uma relação de afeto com alguém, ao passo que apenas 50% dos homens deram a mesma resposta. Conclusão dos fatos: a traição das mulheres é mental e a dos homens, física. A psicóloga e terapeuta sexual Márcia Atik garante que um modelo antigo e arcaico ainda é visto na maioria dos casos. “Ter uma amante é sinônimo de perpetuar o poder do homem, no sentido de posse”, admite, mas informa que também o contrário acontece. “Hoje em dia, há homens que se satisfazem em relacionamentos com

Curios

Fonte: Pesquisa “Quem trai e por quê?”, da

* Pessoas mais jovens (18 - 35 anos) procuram outros parceiros em busca de atenção, enquanto os mais velhos (+ 36 anos) buscam nos amantes uma vida sexual diferente.

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* De acordo com a pesquisa, 72% dos que traem já foram traídos.


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mulheres comprometidas. Por amor, comodidade ou opção, achando que, desta forma, estarão preservando a liberdade”. Lidando

com o

Fantasma

Quem nunca ouviu “eu estava bêbado(a), foi um acidente”, “não significou nada” ou a clássica “eu não queria, ela(e) que me seduziu” pode atirar a primeira pedra. As famosas desculpas esfarrapadas são comuns quando o fantasma da traição completa a sua missão, e sempre trazem consigo as expressões e sensações mais desconfortáveis. Apesar das estatísticas, é unânime a constatação de que cada pessoa tem motivos particulares para praticar a traição. E nenhum destes serve para justificar o ato àquele que foi traído. De acordo com Pedrosa, a escala de mais ou menos grave depende da percepção da parte, “que ficará magoada e terá a autoestima rebaixada”. Perdoar vale a pena? Pedrosa e Atik argumen-

luxúria

tam que sim. “É uma questão que, se for bem trabalhada pelo casal (e com ajuda profissional, se necessário) poderá ter um desfecho surpreendente”, defende a terapeuta. O discurso é perfeito na teoria, mas na prática, exige paciência e força de vontade dos envolvidos. E nem sempre dá certo, como foi o caso de Marina (nome fictício). A professora de Educação Física descobriu que o marido era infiel quatro meses depois de ser mãe. O casal persistiu, até que ela decidiu pela separação. “O olhar que eu tinha em relação a ele já não era mais o mesmo, a admiração havia acabado”, comenta a docente. A filha pequena foi sua principal preocupação. “Pensei muito nela. Doeu, mas hoje sigo feliz e tranquila, e minha filha nem parece que tem pais separados, já que temos um convívio amigável por causa dela”. Ao contrário do marido de Marina, a noiva de Jurandir (nome fictício) não teve a sua nova chance. Com o casamento sendo

sidades

a Dra. Leanna Wolfe | site Ashley Madison

* Os homens buscam a satisfação de suas fantasias sexuais, já as mulheres procuram companhia.

* Cerca de 71% dos entrevistados reconhecem que a traição não é uma prática honesta, mas não se sentem culpados.

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planejado, o administrador encontrou a amada nos braços de um colega de faculdade e não perdoou. “Meus sentimentos foram ódio, raiva e revolta”, conta, e relata como fez para superar a traição. “Comecei a frequentar bares, boates. Sempre com uma bebida em mãos, mas nunca passou disso. Fui traído sim, na confiança e no amor, mas sobrevivi”, ele comemora. Já para Bárbara (nome fictício), a decepção foi em dose dupla. Ao retornar de uma viagem, a programadora soube que a melhor amiga e o seu namorado andavam muito próximos. “Ela fingiu que machucou o pé para fazer com que ele a carregasse no colo, e quando eu cheguei, falou que ele a completava”, menciona a garota, furiosa. O clima entre as duas chegou à agressão física. “Eu disse que não queria ela se jogando para cima do meu namorado. Ela se ofendeu e me deu um tapa na cara”. A amizade teve o seu desfecho ali mesmo, e o namoro, pouco tempo depois.

* Não se trata de felicidade ou satisfação pessoal, já que 56% dos homens e 34% das mulheres disseram que estavam felizes no casamento quando traíram.


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A grama mais verde... Após anos juntos, casais podem recorrer à traição como fuga aos problemas. Investir numa boa conversa e no sexo pode ser a chave para a rotina não engolir a relação Lia Heck

S

ete anos casados. A paixão não é mais a mesma. Aquele fogo próprio dos casais no começo da relação não existe mais. Apesar de jovens (na casa dos seus trinta e poucos anos) eles já não mantém a mesma atividade sexual que no início do namoro, o que até é normal. Mas aí ela reclama, pois não se sente amada, desejada. Por outro lado ele diz que ela nunca está a fim de transar. “A história é sempre a mesma: ou é a dor de cabeça, ou o cansaço”, diz Leonardo* Melo, 37 anos. Muitas vezes esse é o começo do fim. A mesma história de sempre. Ele vê outra moça bonita no serviço ou num happy hour com os amigos. Ou ela, carente, passa a olhar aquele colega do trabalho, sempre tão atencioso, com outros olhos. Aí uma luz se acende e o primeiro passo para a traição é dado. Mas será que tudo tem que ser assim?

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Após anos de união, a famosa “D R”

Em dias que o apelo visual, onde tudo convida para o prazer, para a satisfação dos sentidos, ser fiel ao relacionamento seja ele casamento, namoro ou qualquer outro nome que se dê, é algo ainda mais difícil. Leonardo* diz que em muitas ocasiões ceder é a melhor opção, mas até onde isso pode afetar os próprios sentidos a ponto de não se reconhecer mais? “Muitas vezes o indivíduo se doa de tal maneira que passa a desconhecer suas vontades, anseios e desejos. E não falo apenas em sexo, até mesmo porque ele faz parte do pacote e tem uma parcela de extrema importância, mas não é tudo”, afirma. “No tempo da minha avó, ou seja, uns 60 anos atrás, o diálogo entre casais era algo impraticável. A relação de submissão entre os casais era o comum, as vontades e desejos femininos eram reprimidos. Mas após a tal revolução feminina, a mulher vem conquistando espaço nunca pensado antes e, com isso, uma independência não apenas profissional e financeira. Muitas delas sustentam seus lares, ganhando mais do que os parceiros. E isso trouxe uma nova configuração familiar e nas relações entre os


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Luxúria

”, ou discussão da relação, pode ser a saída para que o “felizes para sempre” não termine em “até outra pessoa aparecer”

parceiros”, diz Paula* Silva, 33 anos. Casada há cinco anos, está na segunda união. Ela conta que a primeira união durou dois anos e divorciou-se após descobrir a traição do ex. “Acredito que o fato de ganhar mais do que ele foi algo que também prejudicou meu casamento. Não tudo, mas foi um fator. Acho que ele sentia-se diminuído, mas também não corria atrás”, relata Paula*. O trabalho, os problemas, muitas vezes os filhos, e até a tecnologia são empecilhos para aquele ‘olho no olho’ e uma boa conversa. ”Como foi seu dia?”, para muitos é uma besteira. A psicanalista Regiane Alves defende a ideia de que a conversa é essencial. “Dividir os pensamentos é importante. O parceiro não tem bola de cristal. Dizer o que não gosta e o que aflige numa relação é importante para que possam se conhecer e caminhar juntos”. Os homens têm a tendência de se afirmarem como conquistadores e isso é encarado como algo normal na sociedade. Já a mulher é condenada, principalmente se possui filhos. Recorrer a uma relação extraconjugal pode ser comum em casais que ‘caíram na mesmice’. Regiane Alves

diz que investir no erotismo é importante. “Após anos juntos, o casal precisa se reinventar”. Ele diz ainda que despertar o interesse em novas experiências leva o casal a se conhecer melhor, se unirem. Assim, não haverá espaço para uma traição. Saulo Pereira, 43 anos, e Heloísa Schineider, 40, estão casados há 15 anos. Pais de duas meninas, eles confessam que já passaram por períodos difíceis no casamento. Teve um momento que achei que fosse rachar. Pensei: agora acabou!”, conta Heloísa. A rotina com as crianças, uma fase difícil no trabalho dele e um problema de saúde na família fizeram com que a crise no relacionamento por pouco não terminasse em divórcio. “A gente se manteve junto, primeiro pelas filhas e depois pela religião. Temos uma crença religiosa que é contra o divórcio, mas não hesitamos em recorrer à ajuda profissional. Na verdade partiu dela, eu relutei um pouco mas resolvi ceder à terapia de casal, e foi bom. Conseguimos superar e percebemos que o amor ainda estava ali, só precisava respirar”, diz Pereira. * Nomes fictícios para preservar os entrevistados

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Entre quatro paredes Nos dicionários, o vocábulo ‘swing’ refere-se à música, dança e até pugilismo. Em busca do significado mais peculiar da palavra, encontramos o que o Aurélio jamais poderia imaginar Luciana Mohallem

N

ão é novidade. As casas de praticantes de uma vertente específica do liberalismo, e não estamos falando sobre convicções políticas, já fazem parte da vida noturna de inúmeras cidades Brasil afora. Apesar de concentradas em capitais (uma rápida busca no Google resulta em uma infinidade delas), na Baixada Santista há pelo menos três desses estabelecimentos, casas de swing ou para casais liberais, voltados estritamente à realização de fantasias e ao prazer sexual A mais famosa, Atenas Club, fica em Praia Grande. Comandada por Ale e Fe, a casa - que possui cerca de 3 mil clientes cadastrados de várias cidades e estados segue os mesmos moldes das baladas da capital: é destinada a casais estáveis (embora singles, assim chamados os solteiros, sejam bem vindos). O local ainda preza por se-

gurança e privacidade, além de possuir projeto arquitetônico específico ao objetivo proposto. Atenas possui pista de dança, palco para pole dancing, aquário, labirinto, darkroom, sala de toque e, claro, ambientes privativos. Cada um desses espaços é estrategicamente pensado em acolher os praticantes e proporcionar momentos íntimos a dois, três, quatro e quantos mais couberem de maneira confortável. O darkroom, por exemplo, é um ambiente sem luz alguma onde a expressão “à noite todos os gatos são pardos” faz todo o sentido. Já a sala de toques é um dos locais mais curiosos: possui buracos nas paredes que permitem a quem estiver fora acariciar quem estiver dentro. Ainda, o aquário é uma versão em tamanho gigante de um estúdio de rádio e voltado aos voyeurs. “O Atenas é mais que uma balada de swing. É um clube de amigos”, ex-

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plica a proprietária do local. Para exemplificar melhor esse estilo de vida, Ale reuniu quatro casais e dois singles que relatam, a seguir, o início de tudo e as experiências que a troca de casais permite. Adeptos do swing, o casal Sol e Lua (os frequentadores se identificam por apelidos), vive uma relação estável há mais de uma década e têm dois filhos pequenos. O biólogo de 37 anos e a secretária de 44 anos descobriram formas de prazer com outras pessoas há cerca de três anos. “É necessário realmente valorizar o sexo. Quando você encontra alguém que também pensa dessa maneira, basta abrir os olhos e perceber as oportunidades que a vida dispõe. Começamos com curiosidade em relação ao estilo de vida e hoje isso faz parte da nossa rotina”, comenta Lua. Outro casal, junto


Participe!!!! 113


da nossa rotina”, comenta Lua. Outro casal, junto há sete anos, Ninho e Ninha (São Vicente), é um exemplo das modalidades praticadas. Ela, 38 anos, secretária, e ele, 29, instalador de TV a cabo, praticam a troca de casais e variações do ménage à trois (sexo a três) há seis anos. “Tudo começou quando estávamos passando pela avenida Presidente Wilson, em São Vicente, e vi uma prostituta bastante atraente. Olhei para ele e perguntei, na lata, o que achava de fazermos a três. Dali para o swing foi um pulo”, conta a animada Ninha. De São Paulo, o casal VB/SP pratica o swing há oito meses e é considerado novato. Com 15 anos de casamento e duas filhas pré-adolescentes, VB/SP não disfarça o apetite sexual. Ele, professor de História com 60 anos de idade e ela, 37 anos e professora do Ensino Fundamental, dizem que tudo começou com o dogging, prática do sexo em público. Após o gostinho pela experiência, o casal se viu pronto para transpor mais um limite: a troca. “Em primeiro lugar, é necessário que ambos gostem muito de sexo. E tem que haver essa cumplicidade”, diz ele. A cumplicidade a qual se refere o professor é uma das principais dúvidas dos leigos. E quanto ao ciúme? A resposta é unânime. A questão de separar prazer sexual do amor é tão bem resolvida que não há espaço para o sentimento de posse. “Casais com questões

“Tudo é permitido e nada é obrigatório” Casal Quente pendentes, que pensam em utilizar o swing como solução de seus problemas, estão cometendo um grande erro”, enfatiza o professor. A mesma opinião é da psicóloga e terapeuta sexual Márcia Atik. A especialista adverte que, não raro, a brincadeira pode trazer consequências graves aos participantes menos preparados. “Atendi a um casal que, na tentativa de resgatar a paixão, foi a uma casa de swing. Ao ver a parceira tendo orgasmos com outro, o marido desenvolveu disfunção erétil”, relata ela sobre casos extremos. Márcia vai além. Para a especialista, nem toda fantasia pode ser trazida para a realidade. “A maturidade e limite pertencem, em primeiro lugar, ao indivíduo e não necessariamente ao casal”. Por isso, algumas regras são pré-estabelecidas àqueles que decidem ousar. “Tudo é permitido e nada é obrigatório”, diz um dos maridos presentes. Casado há 20 anos e adepto há 10, o empresário de 37 anos

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do chamado Casal Quente, revela como a abordagem acontece. “É um terreno de e para mulheres. Elas ditam o que vai acontecer. São as parceiras que iniciam o jogo”, explica. Aqui cabe uma observação. Quase 100% das frequentadoras são bissexuais. Porém, antes de julgamentos precipitados sobre machismo e submissão feminina, a dona da casa antecipa: “Sim, também há contato entre homens, de maneira mais velada, mas existe”. Voltando às mulheres, chegamos a Cléo, promotora de eventos em Praia Grande e single no clube. Apesar de se considerar tímida, aos finais de semana, a morena toma conta do pole dancing provocando homens e, principalmente, mulheres. “Convites para participar de ménage não faltam”, revela. Ali, naquela pista de dança, fica claro o porquê de as mulheres comandarem as festas. Elas se preparam para cada fim de semana como


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um evento único. Desde a maneira como se vestem até o comportamento. Encaram a sensualidade, própria e alheia, com uma propriedade pouco vista nos dias atuais. Ainda, o grupo, apesar de formado por mulheres bonitas, chama a atenção por um motivo específico. Fisicamente, elas são como qualquer outra moça que aguarda na fila do banco, leva o filho à praia ou faz compras com o marido no supermercado. A melhor definição de the girl next door. O mesmo ocorre com os maridos. “Não há espaço para preocupações com a aparência física de cada um. Temos um lugar livre para exercer nossa sensualidade e é isso que atrai pretendentes”, revela uma das meninas. A prova vem quando questionadas sobre como se vestem para a balada. Todas as cinco mulheres presentes se inclinam para frente, em um gesto simultâneo, gesticulando e falando, animadamente, como se fossem um típico grupo de amigas. “Vou com vestidos beeem sensuais”, “Você enlouqueceria com nossos sapatos”, “Eu me sinto linda e desejada”, entre outras frases que demonstram que a insegurança com temas tipicamente femininos não parece fazer parte do vocabulário delas. Integra ainda o grupo, mais um single. O analista de sistemas Rick, 45 anos, participa há três das festas promovidas na casa.

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Indagado sobre a hipótese de conhecer mulheres fora do ambiente, o analista comenta: “Vou tentar apresentá-la a esse estilo de vida. Se não der certo, possivelmente optarei pelo swing”. Rick já “suspendeu” a balada alternativa por um tempo, quando conheceu alguém. Mas o relacionamento não vingou e ele acabou retornando ao swing. “É viciante”, justifica. A opinião do single é compartilhada pelo grupo. “Nos denominamos atenasmaníacos”, dizem em coro. No entanto, a sexóloga Márcia Atik, faz ressalvas quanto à prática do estilo. “O prazer sexual envolve muito mais que os 2% proporcionados pelos órgãos sexuais. As emoções fazem parte da relação e desvincular o ato do afeto pode ser encarado como um alimento sem nutrientes” compara. Mas há vantagens, segundo a terapeuta. Se propor a frequentar esse ambiente, a título de curiosidade, como voyerismo por exemplo, é uma opção para casais que querem fugir da rotina e esquentar as coisas em casa. “É como o casal sair para comer pizza. Vai lá, come e volta para casa”, diz. Segundo Márcia, qualquer alternativa de realização de fantasia deve ser vista como um atalho. “O importante é sempre voltar para a estrada principal”, finaliza.

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A convivência entre os liberalistas criou uma série de normas que regem este universo. Confira algumas delas:

1. Seja educado: todos querem ser tratados como pessoas, não como objetos; 2. Prepare-se: leve itens de higiene pessoal como toalhas, escova de dente, desodorante e camisinhas; 3. Limpeza e higiene: partes íntimas limpas e depiladas é fundamental; 4. Nada é obrigatório. Conheça o clube, faça amizades e deixe com que o “algo a mais” aconteça naturalmente; 5. Evite qualquer situação incômoda com seu par; 7. Não seja insistente: se alguém, incluindo seu parceiro(a), disse NÃO, respeite-o (a). Entre o SIM e o NÃO, sempre prevalece o NÃO. 8. Aos singles:não deve-se abordar os casais sem ser convidado; 9. É totalmente proibido quaisquer tipos de drogas e similares bem como fumar cigarros dentro do clube; 10. Entrada somente para maiores de 18 anos; 11. Fotos, filmagens, câmeras e celulares não são permitidos, assim como bolsas e mochilas.


o prazer

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S Á D I C O


A

prática do sadomasoquismo, apesar de milenar, sempre foi alvo de muitos tabus. Com admiradores por todo o mundo, a forma de prazer e satisfação contrasta com os métodos românticos e sensíveis do sexo habitualmente praticados pela maioria.

uma prática

saudável Paula Matos

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W. Cruz, 32 anos, é adepto da prática sexual e considera a escolha uma forma natural de prazer. “Todo mundo tem seus fetiches e fantasias, todos têm suas preferências, a diferença fica em se aprofundar nelas ou não”, conta. Segundo ele, a busca pelo prazer é natural. “Se isso pode ser amplificado por um motivo X, ou

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uma prática Y, ou um modo Z, por que não?”, comenta. Cruz considera desnecessária a participação em grupos que se reúnem para debater ou praticar o sadomasoquismo. “Não acredito que seja necessário um clube para praticar fantasias e fetiches”. Para ele, se o seu parceiro/ parceira gosta, já basta.

egundo o Journal Of Sexual Medicine, do Reino Unido, que realizou uma pesquisa este ano, no qual os participantes responderam a uma série de questionários sem saber a verdadeira intenção do estudo, foi demonstrado que os praticantes do sadomasoquismo não eram diferentes do resto da população, apresentando um

comportamento mais aberto, extrovertido e com experiências conscientes. Os entrevistados também demonstraram ser menos neuróticos, um traço que é bastante característico da ansiedade entre as pessoas consideradas “normais”. Tais perguntas foram sobre personalidade, sensibilidade à rejeição, estilo de relacionamento, bem-estar geral, entre outros. Paula Matos

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Sadomasoquismo PECADOS

na cultura

SEXO

o mercado do

O conhecido livro 50 Tons de Cinza, lançado em 2011 pela escritora Erika Leonard James, é um romance erótico que aborda o tema em todo seu contexto. Sucesso em vendas, o livro conquistou leitores de diversas faixas etárias. Janaina Lopes, estudante, fala da influência que o livro teve na relação com o namorado. “Durante a leitura do livro eu sempre falava para meu namorado o que as personagens faziam e lançava como brincadeira durante nossa intimidade. Como mulher, ao ler o livro ocorreu sim um estímulo à libido e senti a vontade de testar coisas inusitadas”, comenta.

As lojas de artigos de sex shop nunca foram tão procuradas como nos últimos tempos. A abordagem da mídia teve forte influência nas vendas e trouxe o público mais distante à busca da realização dos desejos antes guardados a sete chaves.

Andrea Santos é vendedora de produtos do gênero e cita a relação da mídia como forte aliado às vendas. “Do ano passado pra cá, apareceram várias clientes novas, de diversas idades, a maioria entre 18 e 40 anos”, explica a vendedora.

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luxúria soberba

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Paula Matos

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Sucesso em vendas Segundo Francielle Souza, consultora em vendas da loja Sex Shop Fácil, um dos artigos mais procurados é o chicote, famoso entre os adeptos do sadomasoquismo. Os capuzes também são sucesso entre o público masculino. “Alguns homens curtem se mascarar, fazer suspense, dar aquele ar mais sádico à relação”, comenta Francielle. As amarras e sepa-

radores são outras opções bastante requisitadas em complemento aos outros artigos. “Mulheres adoram ser dominadas, provocadas”, finaliza.

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Sexo além do prazer O sexo tântrico vem atraindo casais que querem “apimentar” a relação. Mas, para atingir orgasmos múltiplos, é necessário muita concentração e dedicação Renan Fuiza

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rgasmos múltiplos, horas incansáveis de sexo e muita troca de energia. O que parece ser a descrição de filmes eróticos ou livros de adultos acontece na vida real. O tantrismo ou sexo tântrico, como é conhecido, proporciona aos seus praticantes uma mistura de sensações.

palavra chave para que o momento se torne inesquecível. “Praticantes do sexo tântrico conseguem manter a relação sexual por 40 minutos, cinco horas ou o dia todo, não existe limites”, afirma a mestre Paula Cerqueira, professora de Ioga e de sexo tântrico há cinco anos. “No sexo, digamos convencional, o homem gasta muita energia através da ejaculação”, explica a professora.

o fim de todo um longo processo. O fato de o homem não ejacular, faz com que ele canalize essa energia. Sendo assim, permite que o praticante mantenha o ato sexual por quanto tempo quiser.

Segundo a professora, o homem tem dificuldades para controlar a ejaculação. Quando iniciam-se no tantrismo, chegam a demorar quase um ano para ter o autocontrole. O prazer é algo fundamen“As pessoas têm que cotal, mas exige de seus praJá no tantrismo, os prati- meçar a enxergar o sexo ticantes um elevado grau de cantes utilizam-se da ejacu- de uma maneira diferente”. concentração. Disciplina é a lação como uma libertação e Para ela, há um novo

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conceito a ser compreendido pelo ser humano. Deve-se interpretar o ato sexual como autorreflexão, ampliação da consciência, produção de energia, conhecimento do parceiro e evolução. O que não quer dizer que haverá falta de prazer. “Quando o foco é a valorização da mulher e não o sexo por sexo, há uma relação harmonizada, que transcende o ato sexual. Isso faz com que os dois caminhem juntos. Essa é a maravilha do sexo tântrico”, afirma.

tudo como forma de integração, já que a base do tantra é compartilhar. Dentro da filosofia, existem algumas vertentes intituladas NeoTantra – termo que apareceu recentemente e descreve o moderno, ou ocidental. As técnicas neotantricas não necessariamente acompanham todos os valores convencionais do Tantra, como originalmente foi desenvolvido. “Para um casal, o conhecimento mútuo e o amadurecimento de seus mecanismos de prazer são primordiais para a iniciação Criada no norte da Índia na filosofia. A prática fará há mais de 5 mil anos, a filo- com que os tantristas se torsofia hindu Tantra é uma das nem cada vez mais cientes mais antigas já registradas de suas capacidades orgásna historia, tendo caracte- ticas, caminhando para o rísticas sensorial, naturalis- comando de sua energia seta e desrepressora. Na visão xual”, comenta a professora. hinduísta, a mulher sempre foi exaltada e até mesmo O desenvolvimento senendeusada, por ter a capa- sorial e o autoconhecimento cidade de gerar outras vidas. Na escola de Ioga Kama, que significa Deus do Amor, localizada em São Paulo onde Paula trabalha há três anos, existem cursos para o desenvolvimento de técnicas físicas e de meditação com duração de quatro anos. “No início os alunos não têm relações sexuais nas aulas, mas existem outras maneiras de estímulo, que dão prazer sem que haja penetração”. Segundo Paula, na cidade de São Paulo há centenas de escolas tântricas e de grupos tântricos. Mesmo que a pessoa opte por ingressar nesse universo sozinha, os mestres irão compartilhar de seus conhecimentos e vivências,

Estátuas do templo indiano de khajuraho. Conhecido mundialmente por suas imagens eróticas

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corporal são fundamentais na busca do prazer. Uma prática importante ensinada no curso é o estímulo do clitóris com sucções. “Basicamente é a pratica do sexo oral, mas nada de movimentos brutos e sim circulares, acompanhado de uma leve sucção ao mesmo tempo”. Segunda ela, o homem precisa aprender a ler os chamados “sinais” do corpo feminino. Antes da penetração, deve haver excitação e lubrificação. Todo esse processo é demorado, diferentemente do que pensam os homens, que as populares “rapidinhas” são prazerosas. “As preliminares e o ato sexual devem ser feitos de maneira lenta, sem pressa. É fundamental aprender a ter orgasmos ao mesmo tempo que o parceiro”, conclui. imagem internet


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Posição flor de lotus, fazendo referência aos sete pontos dos Chakras

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Principais posições Existem inúmeras posições sexuais, mas no “Maithuna” ou união sexual, é a mulher que quase sempre fica por cima ou na frente do homem. Na visão tântrica entende-se que é o sexo feminino que tem o controle sobre o sexo masculino. Desta maneira, a posição permite que o homem possa controlar melhor a ejaculação, fazendo com que o pênis toque em um ponto conhecido como Svadhisthana Chackra, equivalente ao ponto G. A penetração por trás, com a mulher deitada, também é indicada para alcançar o ponto mágico.

Chakras Os Chakras são os principais “pontos” do corpo humano, o centro energético que trabalha em sintonia com o físico e o psíquico. Eles relacionam-se com os sistemas parassimpático, simpático e sistema nervoso autônomo. Chakra é um termo sânscrito que quer dizer: círculo em movimento, influenciando diretamente na nossa energia vital. Svadhisthana – O Chakra Esplênico é responsável pela energização geral do organismo e por ele, entram as energias sexuais. Para a instrutora de Ioga Glaucia Pires, que estudou os fundamentos hinduístas por dois anos na Índia, esse chakra quando estimulado, propicia uma ótima captação energética. “O segundo chakra fica locali-

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zado na região umbilical, acima dos genitais, também alinhado com a coluna, estando ligado à sensualidade e paixão. Ou seja, é um ponto no nosso organismo fundamental quando está unido ao tantrismo”, comenta. Do ponto de vista anatômico, ovários, úteros, além de tudo que é líquido, como sangue e esperma, são comandados pelo Chakra. . “A sexualidade de um indivíduo e a autoestima, fazem parte deste ponto. As principais energias fecundantes e acolhedoras nascem nessa região. Sendo assim, a utilização e o domínio completo do segundo chakra para praticantes do tantrismo, ioga, ou qualquer vertente ligada, é imprescindível”, conclui.


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Irresistível

CRÔNICA

Nicole Siqueira

Eu nasci há 150 mil anos, junto com os primeiros humanos. Passei por todas as épocas. Fui condenado e idolatrado por todas as religiões. Sou heroína e vilã, na vida real e na ficção. Levei pessoas à glória e à ruína. Causei guerras e trouxe a paz. Sempre foi assim, por onde passei dividia opiniões. Participo da profissão mais antiga do mundo. Desperto, além do prazer, hipocrisia, preconceito e intolerância. Inspirei o sadomasoquismo e o masoquismo, entre outros “desvios” sexuais. Para algumas pessoas sou errada antes do casamento e, após, sirvo apenas para reprodução. Para outras pessoas sou o fogo da paixão, a intimidade mais profunda, o jeito mais intenso de amar e o exilir do prazer. Sou assim, sempre amada ou odiada, nunca soube o que é meio termo, e muito provavelmente, nunca saberei. Pode me culpar ou me absolver dos “crimes” dos quais sou acusada, mas lembre-se, sou apenas um sentimento, quem tem o poder do controle é você, você que escolhe se eu existo ou não, e com qual intensidade. Para os que não me conhecem, muito prazer, eu sou a luxúria. O mais prazeroso dos sete pecados. Para os que me conhecem tenho uma única pergunta, não precisa me responder em voz alta, pode preservar o anonimato. Você é capaz de resistir a mim?

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Luxúria delivery PECADOS

Conheça a secreta indústria do erotismo

Susete Ferreira

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ordinha, sexy e descolada, esta é Grazielle Mendes do Valle, revendedora de produtos eróticos. Foi na casa de uma prima, que a secretária Grazielle viu os produtos pela primeira vez. “Pra que servem essas bolinhas, Cintia”? Depois de rir bastante, Cintia explicou que as bolinhas coloridas eram usadas durante a relação sexual para liberar um aroma afrodisíaco e aumentar o erotismo. Além das bo-

linhas, a prima costumava utilizar outros itens e disse que conhecia várias pessoas que gostavam de comprar produtos eróticos.Ao chegar em casa, Grazielle foi direto para o computador e começou a pesquisar sites de revenda desses produtos, pois sentiu que era uma boa oportunidade de aumentar sua renda. Ela entrou em contato com um fornecedor e recebeu um kit para experimentar. No dia seguinte já fez a propaganda no trabalho e imediatamente começaram a chover encomen-

das. “Calma, eu ainda nem peguei o kit!”, brincou, “e depois eu ainda preciso experimentar, conferir se os produtos são bons.”, completou.No mesmo dia que levou o kit para o trabalho vendeu 80% dos produtos e recebeu mais encomendas. Ela diz que o gel lubrificante é o produto mais vendido; em segundo lugar vem os óleos de massagem e, em terceiro, as famosas bolinhas citadas no começo da matéria.Rosana Nascimento, casada, 33 anos, trabalha na mesma empreFOTOS KARLA GOUVEIA

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soberba Reprodução TV GLOBO

sa que Grazielle e vibrou quando a colega de serviço levou os produtos para revender. “Sempre tive vontade de usar, mas morria de vergonha de ir a um sex shop. Tinha medo de encontrar alguém conhecido e a pessoa pensar que eu era uma assanhada”. Rosana comprou cinco produtos e usou no mesmo dia. “Meu marido adorou!” confessou, com certa timidez. Outra cliente satisfeita é a agente de organização escolar Beatriz Aparecida de Souza, que morava em São Paulo e costumava comprar direto do sex shop. Beatriz conta que, quando mudou para o litoral, não conhecia nenhum lugar onde comprar esses produtos e assim que soube que a colega estava vendendo passou a comprar com ela. A esteticista Karla Gouveia vende produtos eróticos há seis meses e, a partir de um pedido de uma cliente, passou a trabalhar com decoração sensual de ambientes. A proposta da cliente era criar um ambiente romântico para usar os apetrechos eróticos e surpreender ainda mais o marido. O sucesso foi tão

grande que ela não parou mais, e além das decorações faz também eventos com gogoboys para promover seus produtos. Ao contrário de Grazielle, prefere ir a São Paulo e comprar tudo pessoalmente para conhecer os lançamentos e novidades do setor. A motivação para vender foi a mesma, sabia de várias mulheres que gostavam de usar os produtos, mas tinham vergonha de ir à loja. Apesar de todo esse clima de luxúria, a maioria das suas clientes compra produtos para usar com seus maridos. Se há casos de infidelidade ela desconhece, até porque sua atividade exige discrição. Karla que é casada, conta que já recebeu diversas cantadas por conta dos produtos que vende, mas como seu marido sempre a acompanha nos eventos para ajudá- la, tira de letra as investidas mais ousadas. Aliás, ele também é alvo de cantadas, pois nesses eventos a presença das mulheres é esmagadora. O carro chefe das vendas é o pó da bruxinha, um energético estimulante sexual feminino no valor de 5

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reais. Em segundo lugar na preferência da mulherada é o vibrador em spray, novidade no mercado. O produto mais caro é a calcinha que vibra, custa 65,00. Quem já usou diz que é maravilhoso, mas Karla, discreta como sempre, não revela o nome das clientes. O preço das decorações depende muito do que a cliente quer; às vezes é na própria residência, outras em quarto de motel. A única dificuldade é que alguns motéis fazem sua própria decoração e não aceitam um trabalho terceirizado. “Eu ligo pro motel converso com o responsável e reservo um quarto. Tenho uma amiga que me ajuda nessas ocasiões e no geral é sempre tranquilo. Em duas terminamos rapidinho a decoração,” diz. Em média uma decoração sai por R$ 300,00.Karla, que também é massoterapeuta e depiladora diz que não consegue controlar seus gastos e não sabe ao certo o lucro mensal de seus produtos sensuais, mas calcula que chega a arrecadar 3.000,00. “Estou deixando meu marido administrar agora. É melhor assim, sou muito gastona” brinca.


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PREGUIÇA

Ano 1 - Número 1 - Novembro de 2013


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ORGULHO DE SER DO SANTA

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Preguiça Definição do dicionário Aurélio: s.f. Aversão ao trabalho; pouca disposição para trabalhar. Lentidão em fazer qualquer coisa; moleza; morosidade.

SUMÁRIO Crônica: 5 minutinhos É hora de trabalhar ou de se divertir? Preguiça e obesidade andam de mãos dadas Segunda - feira dia da preguiça, verdade ou mito? Sonolência Excessiva: Preguiça ou doença? EXPEDIENTE Circula semestralmente. Revista produzida pelos alunos do 3º ano de jornalismo da Universidade Santa Cecília. Repórteres: Carolina Huerte, Carolina Ramires, Thiago Costa e Mayara Psiciotta. Diagramação: Carolina Huerte e Mayara Psiciotta Fotografia: Carolina Huerte, Mayara Psiciotta, Thiago Costa e Divulgação Professores Orientadores: Helder Marques e Fernando De Maria


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preguiça

5 Minutinhos É

sempre aquela história... Não importa se é segunda ou sexta-feira. Toda vez que o despertador toca, paro e penso: só mais cinco minutinhos... Essa rotina é muito desgastante, trabalhar o dia todo, pegar ônibus fretado para ir até a faculdade, estudar horas a fio (ou não) e depois pegar o fretado de volta... Nunca tem aquele tempinho do descanso, sabe? Por esses motivos que penso: Será que tudo isso vai valer a pena, ou devo parar tudo pra dormir? Ah, mais a resposta já vem logo em seguida: Que isso? Isso é o cumulo da preguiça... Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima... Aí continuo para aquela tal da rotina... E nada de descansar... Ah, e quando chega o sábado? Que alegria... Parece que as horas voam e nem vejo o dia passar de tanto que durmo, mas nunca é o suficiente... Ô PREGUIÇA... Assim chega o sábado a noite, saio para distrair a cabeça e quando eu vejo o domingo já chegou. Domingo é o dia para os preguiçosos, isso é fato! Domingo é aquele dia que você dorme, assiste TV, come e dorme de novo... Isso quando você não assiste TV e nem come, só dorme mesmo... Mas, nada é mais triste na vida de um ‘preguiçoso de plantão’ do que o domingo à noite, porque você pensa: ‘Amanhã já é segunda, de novo? E lá vem aquela rotina chata que não vai me deixar dormir’. Bom, mas a vida é assim mesmo... Não tem como você só dormir, ou só descansar e deixar de fazer as outras coisas, como trabalhar e estudar... Infelizmente, ou felizmente, o mundo não é mesmo para os preguiçosos... O mundo é dos espertos, dos corajosos e daqueles que batalham para ter uma vida e um futuro melhor, como eu e você que está lendo este texto... E quanto a descansar? Bom, dormir é sempre muito bom mas, sentir aquela preguicinha durante a semana ou depois ao almoço também é muito saudável, você não acha?... Afinal, quem é que nunca cometeu um pecado capital? Podo ter certeza que, se você sentir aquela preguiça ou a síndrome dos ‘cinco minutinhos’ você será perdoado... E, ainda, faz você se sentir vivo, que é o que temos de mais importante em nossa vida.

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C R Ô N I CA

Carolina Huerte


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É HORA DE TRABALHAR OU DE SE DIVERTIR? Que atire a primeira pedra quem nunca sentiu uma preguiça logo após um belo almoço de domingo. O ruim é quando essa ‘preguicinha’ se torna constante e começa a atrapalhar o ambiente de trabalho e o resultado do serviço. Empresas como a ‘MKT Virtual’, sediada em Santos, disponibiliza para os funcionários um ambiente para descanso. “Temos futon, sofá para leitura, biblioteca, televisão, lounge com vídeo game, mesa de sinuca e mesa de pingue-pon-

gue, que é revertida em dia e eles têm acesso a uma mesa de refeições”, explica verba anual para realizarem a assistente de produção da cursos”, completa Beatriz. empresa, Beatriz Romero. Stephani Marchesoni GiHá outras formas de os menes, responsável pelo funcionários da ‘MKT Virtu- setor de design da agênal’ distraírem sua cabeça e cia digital Firefish, comentrabalharem melhor. “Tam- ta que, além dos jogos de bém permitimos que nos- tabuleiros, os funcionários sos colaboradores (esta é a aproveitam o horário do forma como eles tratam os almoço para colocar a confuncionários), adotem o es- versa em dia. “Geralmenquema home-office, no qual te vamos à sala logo após eles podem dedicar 10% de o almoço, e ficamos todos sua jornada de trabalhan- no sofá, jogando e colodo em casa. Além disso, os cando o papo em dia. Tem colaboradores podem con- dias que até combinamos sumir frutas durante todo o de ficar mais CAROLINA HUERTE

Dentro da agência: funcionários têm jogos de tabuleiro e sofás para descansar

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tarde só para umas jogatinas, é bem divertido. Tenho certeza que meu trabalho rende muito mais quando tiro um cochilo de 15 minutinhos. Vou trabalhar muito mais feliz”, diz, rindo.

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funcionários e até mesmo com o chefe é bem mais informal e tranquila. Segundo a administradora de empresas, Luanny Garcia, o estimulo do ‘ócio

vão ter que dar essas facilidades para seus funcionários. Nosso emprego é nossa segunda casa e isso faz com que os funcionários se tornem uma família. A atividade rende mais quando você faz se divertindo”, comenta.

Diferente da CA MKT, que tem RO LI NA uma sala para Corporações HU ER o descanso, na área da interTE na Firefish o net, empresas sofá, os jogos de telemarkede tabuleiro e ting e agências o vídeo game de publicidade são no messão as pioneimo ambiente ras no incentivo de trabalho. do lazer no amO funcionábiente de trario, quando balho. “A maioacha necessária das pessoas rio, deita uns acaba querendo minutos no trabalhar nessofá, joga um ses locais. Além cubo mágico da remuneraEnfeites - uma maneira de deixar um clima mais informal da empresa ou fica conção, as facilidaversando – tudo para esti- criativo’ é um diferencial no des oferecidas são muito mular a criatividade. Neste mercado de trabalho. “Va- importantes na hora de um tipo de ambiente, a comu- mos chegar a uma época candidato a emprego dinicação entre os próprios em que todas as empresas zer sim”, completa Luanny.

Ócio criativo É uma teoria desenvolvida pelo sociólogo italiano Domenico De Masi nos anos 1990. Ele é um dos pioneiros nesse assunto, responsável pela publicação de vários livros a respeito como, por exemplo, Ócio Criativo, publicado no ano de 2000, e Diálogos Criativos, publicado em 2008. Para “praticar” o ócio criativo, é simples! Basta se libertar da ideia tradicional do trabalho como obrigação e mesclar outras atividades, como o lazer e estudo durante a realização das tarefas. Segundo Masi, fazemos parte de uma sociedade em que a vida adulta é dedicada exclusivamente ao trabalho, mas isso está mudando. “Hoje grande parte da sociedade dedica-se a outra atividade e essa é a abertura para o ócio criativo. A geração Y tem demonstrado isso com o seu comportamento. É uma geração muito mais preocupada com o bem - estar, meio ambiente e qualidade de vida, bem diferente das outras gerações que esperam a aposentadoria para começar a curtir a vida. Os Y querem curtir e aproveitar o hoje e o agora“, afirma De Masi.

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PREGUIÇA E OBESIDADE ANDAM DE MÃOS DADAS Segundo o Ministério da Saúde, 51% da população com mais de 18 anos está acima do peso ideal DIVULGAÇÃO

Thiago Costa

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preguiça esta diretamente envolvida com umas das doenças que mais cresceu nas ultima décadas, a obesidade é a causa da morte de 2,8 milhões de pessoas por ano. Segundos dados divulgados pela OMS (Organização Mundial de Saúde) cerca de 12% da população mundial é considerada obesa. Doenças como hipertenção arterial, cardiovasculares e diabetes estão entre os principais problemas da obesidade que a cada ano esta levando um numero maior de pessoas aos hos-

pitais, no Brasil o percentual de pessoas com excesso de peso já superou a metade da população, segundo dados do Ministério da Saúde 51% da população com mais de 18 anos está acima do peso ideal o que nos leva a repensar os costumes da população já que no ano de 2006 somente 43% da população era estimada como obesa. As pessoas estão ficando cada vez mais preguiçosas deixando de lado hábitos simples e que ajudam a preservar a saúde, e isso esta

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população, segundo a ultima avaliação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) realizada entre 2008 e 2009 cerca de 40% das crianças estava acima do peso. Fatores genéticos são uns dos principais problemas para a proliferação da obesidade mais também vale resaltar que a má alimentação e a falta de exercícios físicos contribuem para que tanto jovens quanto adultos desenvolvam a doença. A OMS ainda revelou que somente 22,7% da população ingerem a porção recomendada de frutas e hortaliças diárias necessárias para uma boa alimentação. Cuidar bem da alimentação é o primeiro passo para combater o sobrepeso, ter um cardápio variado e com o acompanhamento de um nutricionista é fundamental para jovens e adultos que correm o risco de desenvolver a doença. Outro fator fundamental para o desenvolvimento do sobrepeso é a falta de exercícios físicos regulares, que ajudam no combate e controle da doença, principalmente entre os jovens que estão preferindo trocar a prática de esportes por jogos de videogames ou outras atividades que não incluem o esforço físico. Aquela preguiça que bate quando se recebe um convite para alguma atividade física esta diretamente relacionada à mudança de hábitos da população que nos dias de hoje da preferência as atividades que se possam fazer dentro de ambientes fechados e que de preferência envolvam o mínimo de esforço físico, esse sedentarismo acaba facilitando o desenvolvimento de doenças crônicas como a obesidade. È difícil levantar e tirar o corpo e a mente da estagnação

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mais isso é fundamental para espantar a preguiça e desenvolver hábitos mais saudáveis, praticar cerca de 60 minutos de atividades físicas por dia pode evitar o surgimento de diversas doenças no futuro. Luta contra a preguiça Grande aliado contra a preguiça o esporte é ponto fundamental contra a vida ociosa, dentre eles o MMA esta arrebatando milhares de praticantes ao redor do mundo. A sigla em inglês quer dizer Artes Marcias Mistas e como o próprio nome nos revela é um mesclado do que melhor tem a oferecer as diversas artes marciais espalhadas pelo mundo, Boxe, Judô, Caratê, Jiu-Jitso, Capoeira, Muay Thai entre outras milhares de lutas que fazem parte deste mundo chamado MMA. Para a pessoa que busca mandar a preguiça para longe, o MMA é uma excelente maneira de fazer isso, os treinos buscam melhorar o condicionamento físico do aluno e ensinar técnicas de defesa pessoal. Mais se você esta pensando que para praticar o esporte você vai ter que sofrer dentro dos tatames levando socos e sendo finalizado você esta muito enganado. As aulas são muito regradas e para se manter nos treinos é preciso muita disciplina e força de vontade, pois o aluno vai aprender primeiro os passos básicos da luta , depois sim,vai poder botar em prática o que aprendeu dentro do tatame. A aula começa com um grande alongamento para soltar o os músculos do aluno, depois um forte aquecimento que começa a mostrar o porquê que

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o esporte é um excelente aliado para a saúde,uma hora de exercícios que envolvem abdominais, flexões, levantamento de peso e corrida entre outros é a média nos treinos desta modalidade.Logo depois disso o professor começa a ensinar as técnicas para os alunos que em silêncio prestam atenção para botar em prática logo após a demonstração, a repetição da técnica aprendida leva cerca de meia hora aonde o aluno com mais tempo na modalidade consegue repetir cerca de 300 vezes.Passado o período de repetição das técnicas os alunos se perfilam para poder de modo regrado lutarem entre si e botar em prática o que desenvolveram no treino.Depois de treinar com seus colegas de tatame o aluno passa por outra serie de alongamentos para aliviar a tensão muscular,e por fim uma boa conversa entre alunos e professores. Dependendo da intensidade da aula o aluno chega a perder cerca de 1000 calorias por treino, tudo vai depender do quanto o aluno se dedicar na prática da modalidade é o que nos conta Domingos de Castilho faixa preta em Judô, JiuJitsu e professor de boxe na academia Nine-Nine DC (Domingos de Castilho) em Peruíbe, litoral sul de SP, ‘’ O aluno tem que deixar a preguiça de lado e focar-se nos treinos, tudo vai depender dele, basta ter força de vontade.’’ Se a intenção do aluno for mandar a preguiça para longe, livrar-se do stress do dia a dia e melhorar a saúde, os treinos desta modalidade, autorizados por um medico e praticados dentro da capacidade do aluno, são perfeitos para alcançar


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Cleiton Gaspar, instrutor de boxe, tem como idolo Rocky Balboa

esses objetivos, como nos conta o aluno e também instrutor de boxe Cleiton Gaspar Gomes. O MMA como já diz o nome é um esporte que envolve diversas artes marciais, então o praticante da modalidade vai aprender milhares de combinações que ele pode fazer usando somente o seu próprio corpo.Para isso, o aluno vai ter que treinar muito e suar bas-

“Niguém baterá tão forte quanto a vida. Porém, não se trata de quão forte pode bater, se trata de quão forte pode ser atingido e continuar seguindo em frente. É assim que a vitória é conquistada” Rocky Balboa

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tante a camisa nos exercícios.Dai começamos a notar que o aluno vai perdendo peso, tendo uma resistência maior quanto ao desgaste físico, a musculatura vai ficando mais rígida entre outros benefícios ’’ Espantar a preguiça e ter uma vida menos ociosa depende só da própria pessoa, o MMA esta disponível para todos que querem ter um estilo de vida mais saudável, basta dar o primeiro passo e começar a treinar.


Quais os benefícios do MMA para a pessoa?

Um lutador tem preguiça? Mingo: Tem com qualquer ser humano, mais um lutador tem que ver a preguiça como um adversário que ele tem que vencer. E para isso basta ele se levantar e treinar um dia após o outro.

Mingo: Fisicamente a pessoa passa a ser mais saudável, tonificada, passa a ter um melhor rendimento cardiopulmonar, melhora a parte imunológica além de ter uma aceitação melhor de si próprio e acreditar mais nele mesmo.

Além do trabalho de desenvolvimento do corpo, a mente é algo que deve ser trabalhado, como você faz isso? Mingo: Um trabalho de conversa é fundamental.Pois você pode estar super bem preparado fisicamente, mais se espiritualmente o aluno não estiver bem, jamais ele vai ser um campeão.Corpo e alma devem andar sempre em comunhão.

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preguiça

Segunda-feira, “dia da preguiça” Mayara Pisciota

MAYARA PSICIOTTA

Começar a segundafeira nem sempre é tarefa fácil para a maioria das pessoas que trabalham e estudam. Depois de um fim de semana de descanso e muita diversão, é inevitável que famosa frase “hoje é segundafeira, que preguiça!” não seja dita pelas pessoas. A preguiça e o desânimo que tomam conta do primeiro dia útil da semana e fazem o ritmo de trabalho, estudo, animo felicidade e a produtividade abaixarem, não é a Ginastica da professora Mara, Centro Esportivo Robinho, em São Vicente preguiça e sim o cansaço do fim de semana. Seg- balho ou da aula, a partir namorado (a), nesses dois undo o psicólogo Sandoval daí vão dormir tarde e no dias tentar não pensar em Pereira, a “Síndrome da outro dia nem descansam trabalho ou estudo, parece Segunda-Feira”, não existe, e já vão sair de novo, no difícil, mas ajuda muito. o que realmente acontece é domingo a mesma coisa. Uma dica é fazer todo o que a pessoa na segunda- Desse jeito é totalmente trabalho da escola/faculfeira de manhã ainda esta natural que na segunda-fei- dade ou serviço durante a cansada do final de se- ra estejam cansados, com semana, assim no final de mana, e cansaço não pode sono e sem disposição”, semana você estará livre o psicólogo. para aproveitar da sua maser considerado um caso explica Não dormir tarde na sex- neira, mas sem exageros, e de “Síndrome da Preguiça”. ta, não exagerar na bebida, assim terá uma melhor disDe acordo com o Psicólogo Sandoval, exis- acordar em um horário ra- posição na segunda-feira. Nada de usar a segundatem muitos fatores que po- zoável como ás 9h ou 10 hodem influenciar a famosa ras, por exemplo, já ajudam feira como desculpa para “preguiça”, “A agitação do a pessoa a não chegar es- dormir até mais tarde e fim de semana é uma das gotada na segunda-feira. deixar de ir à academia. causas, para muitos jovens O sábado e o domingo são Praticar atividade física faz o final de semana começa dias livres para relaxar, se bem para a saúde e para na sexta depois do tra- divertir, sair com amigos ou a mente. Te deixando em

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Caminhada Bate Coração é exemplo de aula diferenciada forma e com os pensamentos claros, e força de vontade de levantar espantar a preguiça e ir correr atrás dos seus objetivos. Enfrentar a preguiça e pular da cama para praticar atividade física não é tarefa fácil, “sim é difícil dar o primeiro passo, deixar a preguiça de lado, mas basta meia hora diária ou três horas semanais em dias alternados de exercício físico para uma melhora tanto na parte física como psicológica, depois de uma semana de aula o seu corpo

já vai estar acostumado e vai ser mais fácil”, diz Mara Nogueira da Silva, educadora física do Centro Esportivo Robinho. E para fugir da rotina nas aulas de ginástica e manter as alunas motivadas, aulas diferentes são importantes. de festas e lugares para curtir a noite toda. Música, bebida e agitação não podem faltar. “Não precisamos ficar até tarde na rua no sábado e domingo, até por que para muitos o final de semana começa na sexta-feira, isso quer dizer três

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dias só saindo bebendo, e ainda muitas “viram” esses três dias. Aí não tem como não sentir preguiça na segunda-feira”, conta Sandoval A famosa frase “hoje é segunda-feira, dia de preguiça”, pode ser considerada um mito, pois se a segunda-feira trocasse de lugar com a sexta-feira, amaríamos a segunda e odiaríamos a sexta. Então a preguiça não tem nada a ver com a segunda e sim por ela é o inicio da semana.


Festas Um exemplo são os alunos da turma da professora Mara, que se reúnem para fazer caminhadas, fazem festas de aniversariantes do mês, de fim de ano, dia dos professores e também brincadeiras durante a aula, segundo a professora isso ajuda a manter a turma unida e motivada, “aulas diferentes são elementos surpresas, fazem todo um diferencial, na minha opinião incentiva a atividade física”, explica Mara.

O Mito Não devemos deixar a preguiça da segunda-feira nos intimidar, se respirarmos fundo e não fizermos corpo mole conseguimos espantar a preguiça, ter uma vida saudável, se divertir e fazer amigos. Durante todo o fim de semana não faltam opções.

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preguiça

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10 dicas infalíveis para espantar a preguiça! Normalmente temos muita preguiça durante a segunda-feira, mas o periodo da manhã é a parte do dia em que temos mais preguiça.Então aí vão 10 dicas para espantar a preguiça na segunda-feira.

1. Descansar é necessário! Mesmo que não queira perder 1 minuto do Domingo, tiro 1 hora para descansar, assim você irá acordar muito bem disposto; 2. Para dormir bem, tome um banho para ficar bem relaxado antes de dormir e ira acordar melhor; 3. Durma cedo! Resista à tentação de ficar até mais tarde vendo TV ou na internet. 4. Ao acordar, coloque uma música agradável e lembre-se dos compromissos divertidos que você terá durante o dia, como encontrar os amigos, familiares ou namorado(a); 5. Tome um banho morno ao acordar, pois água morna pode provocar espasmo muscular, enquanto a quente relaxa muito e dá ainda mais preguiça; 6. Pratique atividade física pela manhã, assim você irá espantar a preguiça do seu corpo. 7. Evite as comidas gordurosas e pesadas no jantar. Os alimentos calóricos demoram mais para ser digeridos. Com isso, o corpo tende a poupar energia para ser usada no processo digestivo e a preguiça aumenta. 8. No trabalho e faculdade, divida a tarefa em partes. Muitas vezes, a preguiça toma conta das pessoas quando a tarefa é grande e difícil. Dividi-la em etapas, com prazos possíveis para cada fase, facilita a execução. Além disso, cada etapa concluída atua como reforço à motivação de seguir em frente. 9. Fuja da rotina. Fazer sempre as mesmas atividades pode te deixar desmotivada. Para não cair na monotonia. Mude a sua rotina: troque de caminho, veja programas diferentes, vá a lugares que nunca foi. 10. Obtenha ajuda. Se nenhum dos métodos acima ajudar, sua preguiça pode possivelmente estar ligada à depressão. Pode valer a pena procurar ajuda profissional.

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preguiça

Sonolência excessiva: preguiça ou doença? CAROLINA RAMIRES É normal sentirmos uma preguiça de vez em quando. Após o almoço, assistindo TV, trabalhando... Até aí, nada parece anormal, certo? O que acontece e poucas pessoas sabem, é que a preguiça excessiva pode ser uma doença: a narcolepsia, causada por episódios incontroláveis de sono durante todo o dia. Segundo Carolina Elena Carmona de Oliveira, médica especializada em doenças do sono e fisioterapeuta da Duoflex, a doença é preocupante, pois limita a pessoa de fazer suas tarefas diárias, além da demora de saber o que está acontecendo com o organismo. “O pior de tudo é que seu diagnóstico não é muito fácil, podendo demorar vários anos até que, realmente, a doença possa ser identificada corretamente”, diz. Carolina conta que a dificuldade em detectar o problema é que ele pode ser confundido com uma preguiça excessiva, sonolência em excesso ou

transtorno de atenção, ainda que a pessoa durma bem durante a noite. “Apesar de não ser considerada uma doença grave, os ataques desse distúrbio podem ser preocupantes. Afinal, tendem a acontecer a qualquer momento e em ocasiões inusita-

das, como enquanto a pessoa está dirigindo um automóvel, operando máquinas, cozinhando, etc. E isso, com certeza, é alarmante, já que se tratam de situações em que o indivíduo está concentrado em uma atividade e extremamente vulnerável”, explica.

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O problema é tão sério que a recepcionista Laís Alppes Ferreira, de 21 anos, conta que descobriu a doença há um ano, quando perdeu vários dias de trabalho por conta do sono interminável. Notei que o meu caso era grave quando não conseguia sair da cama para trabalhar e acabei perdendo meu primeiro emprego. Precisei procurar um especialista e me tratar”, conta. H o j e Laís faz um tratamento e toma medicação para controlar a doença. “Tenho um certo cansaço, mas já posso fazer minhas atividades sem problema. Mas tenho que me tratar sempre, por meio de alimentação e medicação”, afirma. Segundo a médica, a cataplexia (a súbita perda da força e controle muscular) é um sintoma comum a todos os portadores da narcolepsia. “Outros indícios também podem se


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Divulgação

preguiça

Pessoa com cataplexia, doença do sono

manifestar de pessoa para pessoa. É o caso da paralisia do sono, quando o indivíduo acorda e não consegue movimentar-se e das alucinações hipnagógicas, que se caracterizam por possíveis sonhos vividos na transição do sono com a vigília. Há situações em que os portadores da doença interagem com os sonhos, o que os levam a situações inadequadas em público ou em casa, além da fragmentação do sono, caracterizada clinicamente por despertares noturnos”, diz. A médica explica que existe um estudo que diz que a causa da doença seria a quantidade reduzida de uma proteína denominada

hipocretina, que é gerada no cérebro. Porém, não se sabe ainda o que leva o cérebro a produzir pouca quantidade desta proteína. Na maioria dos casos, o paciente sofre incompreensão da família, amigos e patrões. A sonolência é confundida com uma situação normal, o que leva a uma dificuldade de diagnóstico. “Nestes casos, é fundamental o apoio psicológico e, claro, a busca por tratamento”, conta. A médica explica a melhor forma de tratar a doença e fala dos cuidados que precisam ser tomados diariamente. “É indispensável a adoção de algumas medidas com-

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portamentais, como: adotar horários regulares para atividades do dia a dia, evitar situação de privação de sono noturno e, sempre que possível, realizar cochilos programados de 15 a 20 minutos, duas ou três vezes durante o dia, para facilitar o controle da sonolência diurna”. Ainda segundo ela, é indispensável que o paciente procure um especialista no assunto. “A narcolepsia pode ser confundida com preguiça e, inevitavelmente, atrair preconceitos e incompreensões. Por isso, ao primeiro sintoma incontrolável, procure ajuda médica”, finaliza.


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preguiça

Curiosidade: Quanto tempo devemos dormir? O ser humano dorme, em média, 8 horas por dia. Um idoso precisa de 5 a 7 horas de sono. Recém-nascidos dormem, em média, 20 horas por dia. Crianças de 8 a 10 anos dormem de 9 a 10 horas por dia. Adolescentes dormem cerca de 9 horas por dia. A privação do sono pode trazer sérias consequências como, prejuízos e alterações de humor e comportamento, queda do nível de atenção, memória e na qualidade de vida em geral.

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Soberba mãe de todos os pecados

?

• A publicidade estimula? • Sem distinção social • A vaidade alheia

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´ Mãe de todos os pecados 150

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Lidando com a vaidade alheia

Status que consome 155 158

Exemplo que vem de casa

Montanha russa da vida

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A nova Classe C

Funk ostentação 171

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Realidade nas telas

Citações

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Crônica

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Expediente: Repórteres: Alexa Flambory, Camilla Laranjeira, Lucas Pereira, Luis Varela, Jean Sgarbi, Juliana Justino, Rafael Correia, Thaigo Costa. Designer Gráfico: Rafael Correia Edição: Rafael Correia Orientação: Professores Fernando de Maria e Helder Marques

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soberba

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Mãe de todos os pecados Rafael Correia

A

soberba geralmente é considerada como mãe de todos os vícios e, em dependência dela, se situam os sete pecados capitais, dentre os quais a vaidade é o que lhe é mais próximo: pois esta visa manifestar a excelência pretendida pela soberba, e, portanto, todas as filhas da vaidade têm afinidade com a soberba” (De Malo 9, 3, ad 1). Va i d a d e , o r g u l h o , v a n g l ó r i a . . . E i s a m i s t u r a perfeita para se obter o “pecado supra-capital”. Entre os pecados capitais, o padre dominicano, teólogo e filósofo São Tomás de Aquino - considerado um dos mais conceituados estudiosos e pensadores cristãos – destaca aquele que seria o pecado mater, a origem de todos os demais: a soberba. De acordo com os ensinamentos da Igreja Católica, até mesmo o inferno seria fruto desse pecado. Como? Com o anjo caído, Lúcifer, que teria se subjugado acima de Deus, o seu próprio criador. Em outras palavras, a soberba nada mais é do que a excelência. A ideia de que o homem pode se colocar acima dos demais. E é nesse contexto que, segundo São Tomás, a vaidade e o orgulho se encaixam. Os pecados capitais foram formalizados no século VI, pelo Papa Gregório Magno, que, baseado nas Epístolas de São Paulo, enumerou sete vícios capitais. Porém, a origem da denominação “soberba” data de 535 a.C. a 496 a.C., quando Lucius Tarquinius Superbus era o governador de Roma. Segundo a obra Ab urbe condita, do historiador Tito Livio (59 a.C.), Tarquinius eliminou e desterrou todos os opositores ao seu governo. Ele teria confiscado os bens de famílias poderosas, recebendo então o título que o marcaria historicamente: “Tarquínio, o Soberbo” (o Orgulhoso), que em grego significava tirano. Em seu artigo, Soberba: conceito exagerado de si pode arruinar a vida, a psicóloga Rosemeire Zago diz que “a pessoa que manifesta a soberba atribui apenas a si os bens que possui”. Segundo ela, pessoas com essa característica têm ligação direta com a ambição desmedida, a vanglória, a hipocrisia, a ostentação, a presunção, a arrogância, a altivez, a vaidade, e o orgulho excessivo, com conceito elevado ou exagerado de si próprio. Depois disso tudo, alguém ainda duvida de que a soberba é a mãe de todos os pecados? <

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O orgulho e a vaidade na boca de algumas figuras hist贸ricas...


soberba

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IAN ROBERTSON

Lidando com a

vaidade alheia

Trabalhar, estudar e conviver com amigos que estão sempre à sombra do orgulho e da soberba pode ser um estresse diário Juliana Justino

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A

soberba está em todo lugar. Desde o ego do chefe que acredita que seus subordinados são meros peões no seu tabuleiro de xadrez até aquele primo que gasta todo o dinheiro da família em viagens para a Europa e baladas caras na noite paulistana. Todo mundo já teve um colega de trabalho ou amigo que acha que faz tudo melhor do que os outros, que tem a certeza que é mais bonito, mais legal e tem a vida mais interessante. Dificilmente estas pessoas se reconhecem como soberbas, mas quem convive com elas sabe o quanto é difícil esta relação. O publicitário Adriano (nome fictício) vem de uma família de classe média alta, estudou em escola particular e mora em um bairro nobre de Santos. Como é de se esperar, seu círculo de amigos tem o mesmo histórico. No entanto, ele diz que, às vezes, fica chocado com a atitude de alguns colegas. Ele conta que já viu suas amigas dando risada da roupa de

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soberba

pessoas mais humildes e amigos que ostentam carros importados, celulares caros e roupas de marcas de luxo. “Tem hora que dá vergonha. Não é porque você tem mais dinheiro ou estudo que é melhor do que alguém. Ninguém é melhor do que ninguém, a gente não precisa disso. Todo mundo tem seus defeitos e qualidades e é preciso respeitar as pessoas”, diz. Adriano diz que até dá

preconceito. A pessoa começa a achar que pobre é isso, nordestino é aquilo. Acha-se no direito de julgar todo mundo, já que está acima disso tudo no seu mundinho perfeito. Então não adianta discutir”, explica.

Ambiente carregado

Normalmente, a família se enquadra em padrões de criação e amigos têm “Tem hora que dá comportamentos parecidos. No trabalho, costuma vergonha. Não é ser um pouco diferente, porque você tem pois as pessoas não criam vínculos por afinidade. Elas mais dinheiro ou se aglutinam por funções, mais estudo que departamentos e setores, e acabam interagindo com é melhor do que pessoas que vivem nas alguém” mais diversas realidades. Por isso, o ambiente de traAdriano, publicitário balho é um lugar onde o ‘bichinho da soberba’ gosta de se instalar. Quem vive isso na pele é uns toques quando é um a analista de tecnologia da amigo mais próximo, mas que, no geral, nem se pre- informação de uma multiocupa em tentar mudar a nacional alemã, Fátima Nocabeça deles. “A sorber- gueira. Ela lida diariamente ba tem muito a ver com o com estrangeiros que vieDIVULGAÇÃO/SHOOTERS CLUB

Acostumado a frequentar festas chiques em baladas caras de São Paulo, Adriano conta que diversas vezes ficou chocado com o comportamento das amigas. Ele diz que as garotas não perdoam quem usa uma roupa barata ou um penteado fora de moda

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soberba e está sempre no meio de uma guerra de egos. “Alemão é um povo chato. Engenheiro mais ainda. Juntando estes dois, dá para fundar uma nova religião”, brinca. Segundo Fátima, seus colegas de trabalho passam o tempo todo discutindo quem está mais certo, quem tem o projeto mais caro e quem é mais querido pelo chefe. “Nunca termina. Como cada um acredita ser melhor do que o outro, nunca se chega a uma conclusão e sempre há uma tensão pairando no ambiente”, conclui. Outro constrangimento é a forma com que as pesso-

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as são tratadas por alguns colegas. Para ela, quanto mais alto o cargo, mais a pessoa deveria se preocupar em ser um exemplo para os outros e cativar os funcionários pela admiração. “Eu cresci dentro da empresa desde lá de baixo, conquistando meus cargos e posições com muito trabalho. Por isso, sei o valor de quem está abaixo de mim na hierarquia”. Ela reclama do desrespeito de funcionários mais graduados com alguns subordinados. “Há situações em que um diretor trata um analista como bem entende, como se estivesse

fazendo um favor por empregar alguém”, afirma.

“Alemão é um povo chato. Engenheiro mais ainda. Juntando estes dois, dá para fundar uma nova religião” Fátima Nogueira, analista de TI Educação Mas a soberba não está presente na vida das pessoas apenas no que se re-

Em alguns casos de soberba no trabalho, como acontece quando um chefe trata mal um de seus subordinados, o episódio pode até transformar o funcionário em motivo de chacota dos colegas

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DIVULGAÇÃO/WIKIHOW


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laciona a status social ou condição financeira. A bióloga Carla Braga lembra que passou por maus momentos durante os anos em que cursou a pós-graduação na Universidade de São Paulo (USP). “Estudei muito para ingressar em um bom programa, dentro de uma universidade conceituada, e melhorar o meu currículo, além de aprimorar meus conhecimentos na minha área, mas para os colegas de curso eu nunca estava no mesmo nível. Não era boa o suficiente”, conta. Na turma de Carla, a maioria dos alunos era formada em universidades públicas e não aceitava a concorrência direta com um aluno formado em uma faculdade particular. “Nunca falavam isso na minha cara, mas ficava claro na hora de fazer trabalhos em grupo ou nas discussões de temas científicos. “Sempre se achavam

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Uma das principais características de quem é soberbo e exclui as pessoas que não se encaixam nos seus padrões de convívio é ficar sempre em grupos com outras pessoas que têm as mesmas atitudes. Isso acontece porque a maioria das pessoas se afasta destes grupos por REPRODUÇÃO / INSTAGRAM

“No fundo, até me estimulou a ser cada vez melhor e mostrar que sou capaz” Carla Braga, bióloga melhores do que os profissionais que vinham de faculdades pagas”, completa. Ela conta que quando tinha que formar grupos, sempre se sentia como “aquele menino gordinho que é sempre o último a ser escolhido para o time de futebol na escola”. Carla ainda diz que o comportamento dos cole-

gas seria comparado ao bullying, se fossem crianças. “Como já éramos todos adultos graduados, só se passavam por bobos aos olhos dos colegas”, diz. Ela acredita que isso acontece em todas as áreas profissionais, mas não acha que isso possa atrapalhar sua carreira. “Eles se sentiam superiores, mas isso nunca me impediu de continuar

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estudando e fazendo o que eu gosto com excelência”. Ela frequentava todas as aulas, tirava boas notas e nunca teve problema com os professores. “No fundo, até me estimulou a ser cada vez melhor e mostrar que sou capaz. Quem passa por isso não pode deixar que a soberba do outro te deixe para baixo”, explica a bióloga<


DIVULGAÇÃO: BURBERRY

soberba

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STATUS QUE CONSOME

Milhares de consumidores gastam mais dinheiro a cada ano. Até agora, o impulso era o principal culpado. Mas e quando o status fala mais alto?

S

e alguma vez você já comprou algo sem uma boa razão para fazê-lo, então você pode ser vítima do consumismo. E se você pensou que aquele relógio Cartier, a bolsa Louis Vuitton ou um iPhone da Apple fizeram com que você se sentisse melhor sobre si mesmo ou, mais importante ainda, sobre a forma como outras pessoas o vêem, então você também é vítima da soberba. A boa notícia é que não é o único. Aliás, na sociedade pós-moderna em que vivemos, o consumismo é cada vez mais aceito, até mesmo exigido. Justificado pelo hedonismo, nosso estilo de vida é baseado em objetos, utilizados para construir uma identidade pessoal. A função do produto é irrelevante desde que tenha status. Andando em qualquer shopping, é fácil perceber a multiplicação de “lojas de marca”. Todos querem ser um personagem de um anúncio publicitário a qualquer custo. Literalmente. O publicitário Daniel Mason, que trabalha na MCF Consultoria, em São Paulo, explica

como a propaganda influencia o consumidor. “A propaganda é usada no sentido de comunicar os diferenciais do produto e envolver o consumidor no universo da marca de maneira única e que o vincule emocionalmente”, diz.

“A propaganda é usada no sentido de comunicar os diferenciais do produto e envolver o consumidor no universo da marca de maneira única e que o vincule emocionalmente”

Daniel Mason

É justamente esse vínculo emocional com a marca que justifica a compra, mesmo que feita em 24 vezes sem juros. “Aqui é o único país onde se é possível parcelar a compra de um item de luxo, além de haver um crescimento da renda da classe C. Em termos gerais, o perfil do brasileiro é voltado ao status e à auto-recompensa em diversas formas”, explica. Status já não é algo tão fácil de definir, pois envolve a percepção que as pessoas ao redor

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Luis Varela

têm em torno de cada um. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), encomendada pela Agência Brasil, 63,1% das famílias brasileiras se declararam endividadas. Como era de se esperar, 74,5% dos entrevistados culpam o cartão de crédito. Ficou mais fácil gastar dinheiro, o que acaba servindo de argumento para fazê-lo. “É claro que você é tratado de forma diferente, dependendo do que você está vestindo”, diz o universitário César Nascimento. Mas até onde vai esse argumento? “Todo mundo quer frequentar bons restaurantes e ter o celular de última geração, mas você também tem que ser inteligente com o seu dinheiro”. Mais fácil falar do que fazer. Com o aumento no poder aquisitivo do brasileiro, as pessoas têm comprado, viajado e até se endividado mais. Durante uma viagem à Espanha, a assessora de imprensa, Karina Carneiro, não resistiu e terminou comprando tudo por impulso na loja do clube Real Madrid, antes do jogo. “Saí


soberba pegando camisas, canecas, chaveiros. Não vi preço. Lembra daquele programa onde a pessoa tinha um minuto para jogar tudo o que queria no carrinho? Era eu”. Apesar de ter gasto €170 (R$500,00) em questão de minutos, ela não se ar-

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repende. “Se você parar e fazer a conversão, acaba não comprando.” Quanto ao status, Karina diz que já presenciou esse tipo de atitude, enquanto fazia compras com uma amiga. Quando questionada se valia a pena gastar mais por algo tão

parecido, a amiga justificou que preferia comprar em determinada loja, mais sofisticada. “Ela pagou a marca, não a necessidade. E é uma coisa que ela realmente não precisava, porque tem 300 blusas no armário que ainda não usou <

Como funciona o

mundo das marcas Há a necesidade ou não de se adquirir um novo produto

Dotado de sua bagagem cultural, o indvíduo encontra pela frente o poderoso mundo das marcas

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O que é hedonismo?

As mais valiosas do mundo

A palavra tem origem no grego “hedône”, que significa prazer. Em nossa sociedade cada vez mais individualista, essa filosofia de vida tem influenciado a forma como consumimos. Hoje, a pergunta não é mais “Eu preciso comprar”? Nós simplesmente afirmamos tendo em mente o prazer momentâneo. É o caso, por exemplo, da mulher no intervalo do expediente, que vai ao shopping para “aliviar o estresse”. Não é a necessidade, mas a satisfação instantânea que é buscada. A mídia incentiva esse comportamento associando, por meio de imagens, um conceito de beleza idealizado com produtos de grife.

Essas são as marcas mais procuradas no mercado de luxo, segundo a revista Forbes. A francesa Louis Vuitton permanece no topo há oito anos, enquanto a maioria das empresas, exceto Tiffany & Co. e Ralph Lauren, têm origem européia. 1. Louis Vuitton ($23,58) 2. Gucci ($9,45 bilhões) 3. Hermes ($6,18 bilhões) 4. Cartier ($5,5 bilhões) 5. Tiffany & Co. ($5,16 bilhões) 6. Burberry ($4,34 bilhões) 7. Prada ($4,27 bilhões) 8. Ralph Lauren ($4 bilhões)

É nessa hora que há a influência do meio onde ele vive. Se o produto ou marca em questão é tendência, logo, deverá ser adquirido

Enfim, o produto foi comprado. E, uma possível dívida desnecessária foi realizada E na soma desses dois fatores surge a possibilidade de escolher um produto além do que o necessário

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EXEMPLO

QUE VEM DE CASA

Crianรงas comeรงam a se ligar aos bens materiais sem perceber, e os pais influenciam cada vez mais (in)conscientemente

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O

Jean Sgarbi

s pais de mui- mais próxima ao que se tos mais absorvidos pelas tas crianças, tem de definição de sober- crianças. “Desde uma simao ler esta ba”, completou. ples discussão em casa até matéria, vão Mas de onde chegam tais uma cena de novela na TV dizer que isso atitudes, por qual meio as podem influenciar a criança “é só uma fase do meu fi- crianças absorvem esse em suas atitudes futuras”. lho” ou podem falar, “mas tipo de abordagem. Na ineu fico com dó de não fazer fância, mentalizamos muiCrianças isso para ele”, mas defini- to mais informação do que tivamente a soberba está por exemplo, quando esAtitudes são copiadas de ativa dentro das atitudes tamos na adolescência, ou recentes vivências do cotide muitas crianças nesse até mesmo quando adultos. diano, assim que nós comemundo pós moderno. Ati- A diferença é o que enten- çamos a nos comunicar, em tudes que muitas vezes são demos e levamos para vida linguagem corporal e vocal. pensadas, sem o conheci- do que se absorve. Este é o As crianças começam a agir mento desta palavra tão di- ponto. Atitudes, movimen- diferentemente. Só que a fícil e mística: soberba. tos e trejeitos são os pon- grande questão é se tais Para a psicóloga Barbara Rodrigues, Reprodução Youtube as crianças sentem a necessidade de mostrar o que elas conseguiram de novo. “Ou pelo menos que o outro colega veja que ele está, por exemplo, com um tênis novo”. Dependendo da idade, tudo pode não passar de uma interação social simples, como quando damos uma notícia para um colega por uma mensagem de texto. “Crianças necessitam, muito mais do que nós, adultos, de troca de informações entre eles. Alguns procuram menos e outros muito mais. Nesses casos que se pode identificar alguma atitude Comercial da tesoura da Minnie, que incentivava o consumo infantil

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soberba

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Crédito: Alamy atitudes são realmente assimiladas por elas, já que o universo publicitário se aproveitou desta questão, e fez comerciais clássicos como o da tesoura em que a criança fala descaradamente: “eu tenho, você não tem!” “O que tem de mal nisso? Uma criança brincando com a outra, mesmo que seja por uma tesoura”. Assim, o pai de Caetano Machado, Isaac Machado Dias, policial civil há 5 anos, define o comercial. Apesar de muita gente pensar dessa maneira, o buraco, em brincadeiras desse tipo, é mais em baixo. “ A situação que se cria em cima da criança, que indaga os pais porque ele não tem a tesoura, por Segundo psicóloga, atitudes infantis são um espelho do que é vivido em casa exemplo, afeta toda a família onde o menino está “Os pais não devem se convívio no lar”, categoriza alojado. A prepotência se preocupar com essa fase a psicóloga Barbara Rodrigues, que aliás, instala nos pais, e reconhece que não na criança, que seu próprio filho uma semana depois, “cria uma soberpode voltar a brincar ba com a barra normalmente com o de chocolate comenino.” migo, e olha que eu dei a barra Impossível para ele”. Crianças são Explicada a orgaseres inocennização da mente de tes, que agem uma criança, a preode maneiras escupação é como evitranhas muitas tar esse tipo de mal vezes. Mas deestar. A resposta é simples: impossível. Barbara Rodrigues, vemos sempre As crianças receppsicóloga pensar, que por mais estranha tam as atitudes de que seja atitude, pessoas próximas, elas são reprodumas também de pesdas crianças, isso não é lesoas que ela gosta. Então vado para vida. Repreender zidas, muitas vezes de uma pode ser na escola, com a é viável, porém, não muito prepotência adquirida pela atitude de um professor, influenciador nessa hora. A família, que também deem uma conversa de traba- criança absorve, e depois pende desse mal exemplo lho, nas imagens buscadas cospe, conforme acompa- para se sobressair no meio de um jogador ou até mes- nha outras coisas no coti- ambiente onde vive. Quem mo na própria família, com diano. O mínimo é mostrar paga é a criança, quem soum tio mais distante. e dar carinho durante o fre é a família<

“A situação que se cria em cima da criança[...]afeta toda a família onde o menino está alojado. A prepotência se instala nos pais”

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Montanha Russa

da vida

Viver em sociedade impõe algumas regras e metas. Em certos momentos somos surpreendidos com os resultados que buscamos, o que pode ser bom ou ruim, pois nem sempre chegamos ao ponto exato que programamos, no momento exato que queremos. A felicidade é relativa. Estar bem, pode não depender diretamente de quanto dinheiro você tem no bolso, pelo contrário, muitas vezes o dinheiro pode mudar o indivíduo, levando-o a ser quem não é e fazer coisas que não faria sem ele Thaigo Costa

A

soberba não é privilégio dos ricos. Os pobres também podem experimentá-la e tentar ser o que não são. Não só por meio de bens materiais, pois muitas vezes a pessoa pode se sentir superior aos outros por acreditar que é o melhor no que faz no que decide e na sua capacidade de resolver situações. “A vida nos prega muitas peças”. Essa foi a última frase de uma longa entrevista, de mais de duas horas, com “E” (nome fictício da personagem que pediu para não ser identificada por conta de constrangimentos com amigos e familiares), prova viva de que muitas vezes o

fim pode ser o começo. Casou-se pela primeira vez aos 17 anos, com um homem 21 anos mais velho, empresário e bem estruturado financeiramente. Viveram juntos durante 19 anos, período a qual ela desfrutou de uma vida de rainha. Era de classe média baixa até casar com ele. “Daí para frente foi um sonho, um conto de fadas, que terminou de uma hora para outra, transformando-se, inicialmente, em um pesadelo”, comenta. Seu marido morreu aos 57 anos de infarto fulminante. Ela tinha 36. Em menos de um ano, após a morte do marido, a em-

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presa deixada de herança faliu. “E”, junto com seus dois filhos, um rapaz de 17 anos e uma menina de 11, foi obrigada a vender tudo que tinha para pagar as dívidas. Apartamento duplex em frente à praia, carros importados, além de uma chácara e uma casa de veraneio no Litoral Norte. “Hoje sou uma nova pessoa. Acho que por vir de baixo, sempre fui mais humilde com os pobres. Confesso que, naturalmente, fiquei um pouco mais materialista e, às vezes, até um pouco fria com as pessoas, por me sentir superior inanceiramente. Mas de uma hora para outra, assim como enriqueci, voltei a ser pobre”, reflete e, com lágri


soberba mas nos olhos. Casamento dos sonhos Aos 41 anos, E relembra seu passado encantador no início do casamento. Tudo era glamour e quem não tinha classe (dinheiro) também era humano, mas “só um pouquinho diferente”. Ela reconhece que já descriminou pessoas em razão de sua condição social. “Nunca descrimi-

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nei abruptamente, mas já o fiz. Hoje, vejo o quão ridícula fui em alguns momentos”. E lembra também de suas falsas amizades. “Eu tinha ‘amigas’, se é que posso chamá-las assim, que eram extremamente preconceituosas. Não gostavam nem de passar do lado de gente com cara de pobre. Depois que perdi meus bens, nunca mais tive contato com as supostas

amizades”. “Hoje, vivo com meus filhos e meu novo marido, em uma vida, digamos que normal. Não tenho excessos, mas não passo necessidades. E realmente vejo o mundo com outros olhos”. Ela reconhece que o dinheiro subiu-lhe à cabeça. “Acredito que tenha pessoas que consigam conviver melhor com essas mudanças. Eu não fui uma delas”, reconhece.

Humildade como antídoto De acordo com o psicólogo Vinicius Rodrigues, a correção da soberba ocorre única e simplesmente por meio da humildade, ou seja, o soberbo vê o mundo começando a partir de si, enquanto o correto seria que ele olhasse ao redor, comparasse, analisasse e traçasse seu caminho individualmente, com virtude e solidariedade. “É agindo com simplicidade que se consegue combater a soberba nas suas mais diversas formas, evitando a ostentação, contendo as vaidades e olhando o mundo não apenas a partir de si, mas principalmente ao seu redor”, comenta. Porém, algumas vezes, também se pode perceber que o excesso de humildade é sinal de uma soberba focada na inferioridade. “O soberbo não aceita ser como os demais. Ele precisa se destacar dos outros sendo o ‘maior’. Se não consegue ser o mais inteligente, ele então desejará e será o mais ignorante”, conclui Rodrigues. Portanto, mais uma prova de que a soberba não está diretamente relacionada ao status social ou econômico e sim à relatividade de cada indivíduo, independente de cor, religião ou classe social <

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soberba

A nova classe C PECADOS

a busca pelo status ideal

Pessoas costumam se sentir mais importantes e poderosas quando obtêm o que consideram existir de melhor no mercado. Em contrapartida, ao se deixar levar pela vaidade, algumas incluem a arrogância e o orgulho em suas atitudes Alexa Flambory gistrada. É só olhar em volta: o consumismo, o status e o estar na moda são os objetivos que muitos almejam. Os integrantes da nova classe C têm mantido a economia em ascensão em busca desde a primeira TV de LCD à realização da viagem de avião, a compra do carro e da casa própria. Essa realidade, que antes era distante, tem ficado cada vez mais próxima e criado um novo nível social - a nova classe C. Encher a casa de produtos eletrônicos, às vezes, pode não ser o suficiente para a satisfação de alguns dos integrantes da nova

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compras, também busca maior qualidade no consumo dos produtos. No caminho dessa busca constante, podem surgir os excessos levando algumas pessoas à perda da noção das coisas e da realidade, sendo induzidas a atitudes erradas. Na procura pelo melhor, a vaidade e o desejo de superioridade podem se sobressair e resultar em um sentimento negativo. A busca pelo poder, a ambição desmedida e o desejo das pessoas em levar vantagem em tudo se tornam marca re-

DIVULGAÇÃO/ INTERNET DIVULGAÇÃ

C

onsiderado um dos piores entre os sete pecados capitais, a soberba está presente em todas as classes sociais, mas já não exclusiva da classe A. O pecado trata do excesso de arrogância, prepotência, orgulho e vaidade, adjetivos até então restritos aos mais abastados. A nova classe média, além de estar mais exigente na hora das

Rústico e luxuoso, uma combinação típica da busca pelo status

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soberba classe média. De acordo com dados do Data Popular, em 2001, a classe C representava 38,6% dos brasileiros; hoje é composta por 53,9% da população. Crescimento obtido pelas políticas públicas, a manutenção da estabilidade econômica e a queda no desemprego. Além de crescer em número de pessoas, a nova classe média também movimentou R$ 1,03 trilhões, em 2011. São 104 milhões de pessoas que melhoraram sua renda, se estabeleceram de forma definitiva no mercado de trabalho e conseguiram acesso ao

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crédito, o que possibilitou uma intensa mudança no poder de consumo. Como mecanismo para atrair o consumidor a publicidade explora e cria as necessidades do comprador, permitindo a sua inclusão e o reconhecimento social. Segundo a professora de psicologia do consumidor, da Universidade Santa Cecília, Oleni Lobo, a publicidade trabalha as expectativas do comprador, que são mais importantes do que o desejo que remete à situação social do consumidor. “Este público da classe C é mais imediatista, eles buscam ascensão e respeito a

sua forma de ser”, explica. Para chegar no psicológico do consumidor, a publicidade estimula a imaginação simbólica e tudo que se refere às características do produto de forma subjetiva. A professora explica que são trabalhadas a aprendizagem, a motivação e a percepção como ferramentas de estímulo. Na aprendizagem, é provocado o cotidiano, valores e crenças, por meio das músicas inseridas nos comerciais, que facilitam a memorização para ligar sensações ao produto. Na motivação, são estimuladas as necessidades do consumidor sobre a rele-

Poder econômico Em 2011, a população era 193 milhões Classe E 3,8% Classe D 31,1%

Em 2014, a população chegou a Classe A 197 milhões 3,3% Classe A 3,2%

Classe B 8,0%

Classe E 2,9% Classe D 26,8%

Classe C 53,9%

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Classe B 8,7%

Classe C 58,3%


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vância do produto, por meio de celebridades ou grupos de referência. Já na percepção, são as sensações que selecionam, organizam e interpretam as informações recebidas. “O consumidor compra o significado do serviço ou produto. Por isso, mesmo se o preço for alto, pode ser aceito se estiver ligado à qualidade”, conta a professora. Segundo a psicóloga clínica, Sônia Cristina Spindola Fernandes, não é possível extrair algo positivo da soberba. “Ela é considerada um sentimento negativo, que pode levar uma pessoa à destruição”. Para

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ela, a soberba não ajuda, nem estimula as pessoas a crescer financeiramente e pode, muitas vezes, prejudicar o crescimento delas em diversos aspectos. A família da estudante, Miriam Hellen, 17 anos, que está inserida na nova classe média, sofre com o comportamento do seu pai, de 42 anos. “Ele sempre precisa parecer que tem mais. Até nos pequenos gestos dá para ver o ar de superioridade dele”, reclama. “É um pouco vergonhoso, ainda mais que ele não admite. Ele se considera um homem bom, modesto e generoso. Ele é bom, mas não é

Renda média domiciliar mensal por classe social (em mil R$) 0,27 0,94 2,30 6,07 14,20

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modesto”, conta Miriam. Apesar de já ter tentado fazer tratamento psicológico para conseguir melhorar seu comportamento, o pai de Miriam continua com as mesmas atitudes. “Minha mãe ganha bem e sustenta a casa. O que meu pai recebe é só para os gastos. É quase um filho adolescente. Meus avós também ajudam na parte financeira”. A estudante ressalta que mesmo tendo esse comportamento, o pai não a estimula a ser igual a ele. “Ele repudia as próprias ações”, diz. “Cada um tem uma história de vida, que estimula um tipo de comportamen


soberba to. Todos vivemos dentro de um contexto que pode ou não estimular algumas atitudes. Todo sentimento ou comportamento pode ser alimentado ou não”, explica a psicóloga. Para Miriam, as atitudes de seu pai a afetam. “Ele não aguenta ter um carro inferior ao do vizinho. Tem que ser igual ou melhor. Temos um relacionamento saudável, de pai e filha, porém eu não suporto essa necessidade dele”, diz. Uma das principais características da nova classe C é o consumo de produtos eletrônicos e no caso do pai de Miriam não é diferente. Para a estudante, a sorte da família é que a mãe tem um comportamento diferente ao de seu pai. “Vivemos no vermelho. Ele chegou a cogitar tirar cartão de crédito no meu nome para comprar um novo modelo de TV mesmo ele tendo comprado

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uma dois meses antes”. Ela lembra que existem dias que não há suco para fazer em casa. “Mas a TV de 50 polegadas está pendurada na parede. A nossa sorte é que a minha mãe é mais controlada, então não passamos sufoco”, desabafa. A soberba pode prejudi-

to”, analisa a psicóloga. O soberbo se basta. Para ele, os outros são só os outros. “Ele coloca-se acima do bem e do mal”, diz Sônia. A soberba anda lado a lado com a arrogância, a cobiça e a falta de respeito pelo próximo. Geralmente, os soberbos se consideram superiores às outras pessoas e desvalorizam as demais. A pessoa que sofre desse mal acredita ser o verdadeiro dono do mundo. Para a Psicologia, a saída para o pecado da soberba é aprender a administrar e controlar os sentimentos e comporSônia Cristina Spindola, tamentos. Se o soberbo conseguir perceber, ao psicóloga longo do tempo, o que o faz agir desta forma e car o crescimento das pes- por meio desta análise mesoas em diversos aspectos. lhorar, resgatar a simplici“A ótica do soberbo para dade e a essência de ser, as coisas é distorcida e isso será sinal da necessidade faz com que ele perca a por mudança. E sempre há noção do real e do corre- tempo para isso ocorrer<

“O soberbo coloca-se acima do bem e do mal”

Crescimento da classe C Em 2002

Hoje

Renda familiar acima de R$4.591 13% - Elite (classes A e B) __________________________________15,5% de R$1.065 até R$4.591 44% - Classe média (classe C) _________________________________52% de R$768 até 1.064 12,5% - Remediados (classe D) ___________________________14% renda abaixo de R$768 30,5% - Pobres (classe E) _________________________________18,5%

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Funk

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O tentação

Arquivo Pessoal

TER OU SER

O mercado fonográfico ganhou um novo aliado. O funk ostentação se destaca entre os jovens trazendo um novo estilo de vida


soberba

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Ter ou ser? Camilla Laranjeira “De Range Rover Evoque antes o estilo que predomi- music, estilo americano. na pista eu arraso, cama- nava era o hip hop, mas o A moda da vez é ostenrote fechado Champagne batidão paulista tem a sua tar. Antes as letras do ritpra estourar, Já peguei as personalidade. Influenciado mo dançante eram focachave da mansão do das para a apologia ao Guarujá. Uns vê que o crime, drogas e sexo. “O funk é um cifrão de desenho aniHoje deram espaço mado”, (Música do MC para o carro luxuoso e mercado de muito Guime). roupas de marca, além Não entendeu? Essa de cheques recheados. dinheiro e você é uma das batidas do Muitos intérpretes alegra as pessoas funk ostentação, com conseguiram engajar o letras que remetem à estilo e construir fortupor onde passar, riqueza e ao luxo, carnas com a música. por isso estou ros, motos e roupas importadas, que toMesma raiz muito feliz” mam conta do cenário do funk. Antes, o gêPara os críticos, a nero contava a realiMC Robin Wood identidade do funk que dade nas comunidades surgiu na periferia se carentes, mas hoje as perde, por conta das músicas são caracterízadas pelo estilo carioca, os MC’s novas letras. Para o MC Ropelas palavras dinheiro e criaram uma nova indústria bin Hood, que canta desluxo. dentro do ramo que se cha- de adolescente, não houve Faz um tempo em que mam de Funk Ostentação mudança. “A raiz do funk é o funk ostentação saiu da com letras que caracteri- o pobre favelado que sonha Baixada para São Paulo, zam a inspiração no black em ser rico, e ostentar já DIVULGAÇÃO INTERNET

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MC Guime é um dos pioneiros do funk ostentação no Estado de São Paulo


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soberba

foi um sonho, hoje realizado por muitos”, completa, dizendo que as letras já traziam isso em sua essência. E para MC Leco, que canta nos bailes da Baixada Santista, não é preciso cantar o que se vive. “Nós somos intérpretes da música. Adaptamos para nosso estilo. Isso não quer dizer que vivemos o que cantamos”, reforça. Força da internet Os videoclipes repletos de visualizações na internet são a principal ferramenta usada Para o MC Leco, o foco e o dinheiro são consequências deste novo estilo musical pelos cantores. O intérprete mais cobalho, mas ainda não con- loga Mylene Mizrahi mostra nhecido no meio é o MC quistei o que quero finan- a estética do funk carioca Gimê, que não exita em ceiramente”, revela o MC. e contrates que existem usar carros luxuosos, rouPara Alexandre Martins, entre eles. O estudo usou pas de marca e mulheres MC Leco, o foco e o dinhei- como base a carreira do MC para passar a realidade de ro são consequências. “Em Catra, mostrando um consuas músicas. O lado nega- média um MC ganha de R$ traste entre a comunidade tivo é que a exposição faz 100 a 500 mil por mês”. Ele e a vida do intérprete. Ela com que eles se tornem diz que mesmo os MC’s que foi premiada como melhor vulneráveis e vítimas de não enriqueceram, perma- tese pelo jornal O Globo. crimes, como foi o caso do necem cantando o funk osO fenômeno pode ser MC Daleste, morto no palco tentação mesmo não sendo crucial na explicação do cadurante show no interior de uma realidade em sua vida, pitalismo exagerado entre São Paulo. mas pelo fato de ser o que os jovens e isso influencia Em início de carreira, Rô- faz sucesso no momento. de forma direta na economulo Siqueira, mais conhe- Pesquisas mostram que no mia. Mesmo assim as fescido como MC Robin Wood, início da carreira profissio- tas não se difereenciam das sentiu-se realizado. “O funk nal, os cantores recebem outras, pois ainda são realié um mercado de muito em média um cachê de 50 zadas nas ruas ou em bailes dinheiro e você alegra as mil. chamados de “proibidão”. pessoas por onde passar, A partir da ostentação alSeja do gosto ou não de por isso estou muito feliz” guns estudos estão sendo todos, o novo estilo já está afirma. Muitos ainda não desenvolvidos, mas ainda entre os prediletos não só conquistaram a ostentação não existem teses sobre o de bairros periféricos, mas fora dos palcos. “Já consigo estilo. A tese de doutorado também dos bairros de alto me sustentar pelo meu tra- desenvolvida pela antropo- luxo <

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soberba LUCAS MARTINS SANTOS

Realidade nas telas

A soberba também está presente na indústria cultural. Filmes e programas de diversos gêneros mostram que uma vida baseada na arrogância geralmente traz consequências negativas Lucas Martins

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soberba A soberba parece estar presente no cinema há muito tempo. Tanto que existe um filme de 1942 com esse nome. The Magnificient Ambersons (Soberba) que conta a história de uma família rica que cria um garoto de forma mimada. Quando cresce, o rapaz se torna uma pessoa insuportavelmente arrogante.Mas esse foi apenas um dos diversos filmes que têm a soberba como coluna central para o desenrolar das histórias. Personagens arrogantes pipocam nas telas aos montes, às vezes para alegria, às vezes para o ódio do público. Mas não é só o cinema que aborda esse pecado. No Brasil, os programas de televisão (principalmente as novelas) também possuem seus soberbos. Pode-se tomar como exemplo o personagem Félix, da novela Amor à Vida produzida pela Rede Globo. Félix é rico e arrogante. Ele faz de tudo para chamar a atenção das pessoas. Tudo

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Lucas Martins Santos

Gabriel criou um blog para publicar suas críticas após participar de um concurso de cinema

mesmo. Se preciso, atenta contra a vida de quem atrapalha seus planos. O professor de Teoria da Comunicação da UNISANTA, André Rittes, explica que as produções com personagens soberbos passam a mensagem de que não vale a pena ter esse tipo de comportamento. “A indústria cultural na verdade é um reflexo da cultura maior que a gente tem. A cultura de massa dificilmente deixa passar a questão do comportamento inaceitável ou

nição. Então, geralmente, o vilão, o bandido, o lado negativo sempre é punido”.Para comprovar esse argumento, o professor usa como exemplo a novela Vale-Tudo, exibida pela Rede Globo entre 1988 e 1989. “O final desagradou enormemente porque o vilão conseguia fugir do País. Ele pegava um avião e ainda dava uma banana para a paisagem brasileira do Rio de Janeiro. Isso foi marcante na época”. O estudante de Engenharia, Gabriel Fer-

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REPRODUÇÃO/TV GLOBO

“A cultura de massa dificilmente deixa passar a questão do comportamento inaceitável ou ruim, sem uma punição” André Rittes, professor de Teoria da Comunicação

O personagem Félix (Mateus Solano) da novela Amor à Vida faz de tudo para alcançar os ruim, sem um tipo de puobejtivos propostos

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nandes, é apaixonado por cinema desde pequeno. Ele escreve num blog próprio, sobre o que assiste nas telonas a cada semana. Começou nessa atividade, após acertar 70% dos pal-


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soberba Reprodução TV GLOBO

Miguel Falabella e Marisa Orth encenando Sai de Baixo: a soberba tratada de forma cômica

pites sobre os vencedores do Oscar, ao participar de um concurso de cinema. Ele destaca O Grande Gatsby (adaptação do livro de F. Scott Fitzgerald), do diretor Baz Luhrmann, como um dos filmes recentes que melhor mostram a situação de personagens soberbos na indústria cultural. “O que chama a atenção de todos é o fato dele realizar enormes festas, nas quais aparecem pessoas que não fazem ideia de sua existên-

cia ou pouco se importam de quem ele seja. Estão ali para comer, beber e namorar por conta dele”. A única pessoa que fica ao lado de Jay Gatsby (Leonardo Dicaprio) na maior parte do tempo é Nick Carraway (Tobey Maguire), seu vizinho. Nick é primo de um antigo amor de Jay, a personagem Dasy Buchanan (Carey Mulligan). Jay aproveita o contato de Nick com Dasy, para tentar se reaproximar dela. Nesse meio tempo

REPRODUÇÃO/SITE O GRANDE GATSBY

O milionario Jay Gatsby (Leonardo Dicaprio) adora dar festas e desfrutar de luxos, mas vive só

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Nick e Jay viram amigos. Tão amigos que Nick é a única presença no enterro de Jay. “Em outras palavras, o escritor quis trazer à tona que mesmo sendo rico e fazendo enormes festas, ninguém estava nem aí para ele a não ser por interesse, inclusive seu antigo amor”, conta Gabriel. Mas como em toda regra há exceção. Um personagem que parece ir contra toda a negatividade gerada por uma figura dramática soberba na dramaturgia é Caco Antibes (Miguel Falabella), do sitcom Sai de Baixo. Falido, Caco Antibes tentava a todo custo manter sua pose de rico e arrogante. “Eu tenho horror a pobre”, era um dos bordões mais pronunciados pelo ex-rico, quando ele contava suas experiências com pobres. Arrancava risadas da plateia sempre cheia, do Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, local da gravação. Miguel Falabella acertou ao usar em seus textos essas “críticas” aos pobres, porque gerou uma identificação do público com as situações apresentadas por ele. “Ele tira sarro de coisas que todo mundo já comeu ou já vivenciou. A gente reconhece que algumas coisas a gente já fez e até faz, tipo juntar vários pedacinhos de sabonete para fazer uma bolinha... são coisas que falam como se fosse de pobre, mas todo mundo já fez”, conta Rittes<


soberba

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Filmes com a temática soberba

Eles são heróis, vilões, inconsequentes, insuportáveis e abusam do poder. Nesse infográfico estão alguns personagens arrogantes ao longo da história do cinema REPRODUÇÃO/INTERNET

TITANIC (1997)

A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971 e 2005)

O Diabo Veste Prada (2006)

A arrogância é vista como uma das principais características de Caledon Hockley (Billy Zane). Há várias cenas em que ele usa o dinheiro para conseguir o que quer e não se importa com os outros.

Nos filmes há algumas crianças soberbas. Mas entre todas, a que se destaca é Veruca Salt. Está sempre exigindo presentes inusitados para o pai milionário. Não obedece e não respeita ninguém.

A diretora da revista Runnaway Miranda Priestly (Meryl Streep) é uma chefe insuportável. Dá ordens absurdas aos funcionários, não aceita ser contrariada e sempre despreza a opinião e a companhia de todos.

Fenômenos Paranormais (2011)

Homem de Ferro (todos os filmes)

Rush- No limite da emoção (2013)

O apresentador de um reality Lance Preston (Sean Rogerson, acima) é arrogante com sua equipe. Diante do perigo iminente, ele insiste para que todos continuem as gravações. Essas atitudes levam a consequências ruins.

Tony Stark (Robert Downey JR.) é um herói soberbo. Tem como principal característica não escutar os outros. Ainda que sejam os seus amigos tentando dar um alerta. Além disso, tem convicção de que é melhor do que todos.

O piloto de Fórmula 1 James Hunt (Chris Hemsworth) vê a corrida como um meio de prazer e ganhar dinheiro. Costuma ir a festas, tem ódio pelo seu rival e é arrogante com sua equipe.

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soberba

Era só o que faltava

CRÔNICA

Juliana Justino Às vezes um simples objeto pode significar a vida de uma pessoa. Duvida? Não estamos falando de marca-passos, paraquedas, coletes à prova de balas ou outros aparatos que de fato podem salvar uma vida. Para Johnny, seu iPhone era tudo. Um aparelhinho de vidro e plástico que continha toda a sua vida, todos os seus amigos, seus desejos e ambições. Tudo ali dentro, protegido por uma senha e uma capa de couro Louis Vuitton. Johnny estava no evento de inauguração de mais um de seus restaurantes. Uma temakeria na avenida da praia, mas com a cara das baladas de Nova York, o cheiro do centro de Londres e a antipatia do metrô de Paris. Ah, sim. E a comida de um boteco qualquer do subúrbio de Tóquio. Todos sorriam, brindavam e diziam meias verdades. Cansado do burburinho que ouvia entre taças de champagne e petiscos ictiológicos, Johnny foi tomar um ar na rua. Precisava fumar um cigarro, e era sempre essa a desculpa para fugir. Mas era uma fuga boa, uma fuga fresca e coberta de estrelas. O prazer de Johnny em inalar fumaça na brisa fresca foi interrompido pelo toque do seu telefone. Uma música que poderia facilmente ter saído de uma daquelas baladas nova-iorquinas encheu a noite e quando ele tirou o aparelho do bolso. Tump. O celular. O amado celular adquirido em 12 vezes no cartão de crédito. Em um piscar de olhos, a balada se transferiu de Nova York para dentro do bueiro. Ele não sabia o que fazer. Quem podia chamar? Qual das risadas abafadas de dentro do restaurante poderia inventar um jeito e sujaria os joelhos para lhe ajudar? Desolado, ficou parado, olhando para baixo e ouvindo o David Guetta tocar na balada que acontecia dentro do bueiro. Para sua surpresa, viu um homem se aproximar. “Precisa de ajuda, senhor?”, perguntou o rapaz humilde com uma vara de pescar. Era tarde e estava escuro, e talvez Johnny até tenha sentido um certo receio enquanto era abordado, mas entendeu que se tratava de alguém que estava ali simplesmente para ajudá-lo. Sem interesse e sem saber quem ele era. Entre varas e linhas, passaram a noite rindo e jogando conversa fora, enquanto realizavam a delicada operação de resgate do celular de Johnny. Ele percebeu, então, que não se importava com as vozes abafadas vindas da festa e nem precisava de todos os aplicativos instalados em seu celular. Johnny precisava mesmo era de mais noites estreladas.

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