TFG - Ruínas do Convento de São Boaventura - Intervenção no Sítio Arqueológico Fazenda Macacú

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A Deus, pela minha vida e pela oportunidade de concluir este intenso e maravilhoso ciclo. Ao meu amado marido, por tanto sacrifício, compreensão e apoio sem medidas. Eu não teria chegado aqui sem você. À minha mãe, por tanto carinho, ajuda e orações. Com muito amor lhe dedico minha realização profissional. Às minhas irmãs pelas palavras de incentivo e consolo, carinho e torcida, de perto e de longe. Aos professores que muito admiro, por serem fonte de inspiração e por transmitirem conhecimento com tamanha paixão e estímulo, em especial ao querido Dr. Romulo Guina, que dispôs do seu preciso tempo para, com sua vasta sabedoria, me orientar nesta jornada. Aos amigos que conquistei durante a formação, pelo companheirismo nas melhores e mais sofridas etapas da formação. Aos que de alguma forma contribuíram com a execução deste trabalho, especialmente à amiga Chris Lyrio, por tanto encorajamento e colaboração. A todos os familiares e amigos que sempre acreditaram na minha capacidade, principalmente nos momentos em que eu duvidei.

Minha sincera e eterna gratidão!



Preservar as características de uma sociedade através da proteção de seu patrimônio e do resgate histórico é o procedimento que garante o acesso das gerações futuras ao conhecimento, entendimento e apreciação de determinada cultura. Mediante pesquisa sobre o histórico distante e recente e análises contextuais de um território que foi e continua sendo palco do desenvolvimento do país desde o período colonial, este trabalho tem o objetivo de reflexionar a pertinência e os parâmetros imprescindíveis para a implantação de um Centro de Interpretação no espaço em questão, em virtude da sua relevância histórico-cultural e por abrigar remanescentes das imponentes e ao mesmo tempo singelas ruínas do Convento de São Boaventura, bem como resquícios arqueológicos ainda não desvendados, que configuram esplêndido marco na paisagem de um belíssimo cenário natural, a fim de incentivar a educação patrimonial, valorização cultural e resgate da memória local.



Preserving the characteristics of a society through the protection of its heritage and historical retreave is integral to guaranteeing future generations access to knowledge, understanding and appreciation of a given culture. Through research on the distant and recent history and contextual analysis of a territory that has been and continues to be the scene of the country's development since the colonial period this review aims to reveal the pertinence and the indispensable parameters for the implementation of an Interpretive Centre in the space in question, due to its historicalcultural relevance and because it houses remnants of the imposing and at the same time simple ruins of the Convent of SĂŁo Boaventura and Santo AntĂ´nio de SĂĄ Village, as well as archaeological remains not yet discovered, which makes a splendid landmark in the landscape of a beautiful natural setting in order to encourage heritage education, cultural appreciation and rescue of local memory.


A presença do homem no território Colonização Portuguesa A Companhia de Jesus e a Capitania do Rio de Janeiro Origem da Fazenda Macacú A Vila Santo Antônio de Sá

O Convento de São Boaventura Decadência e abandono Síntese dos registros em linha do tempo


Contexto

O Recorte

Mapas de análises do Município

Pertinência à implantação de um Centro de Interpretação

Porto das Caixas

Estudos de caso

Mapas de análises do Distrito

Fundamentação Teórica

Transformações no rio Macacú

Diretrizes

APA Guapimirim

Estratégias

Transformações no território

Programa e dimensionamento

Transformações no recorte

Fluxos

Análise arquitetônica

Partido

Materialidade

Ato Singelo

Tombamentos

Conclusões finais

Relações com a Petrobrás

Anexos

Consolidação

Referências Bibliográficas

Arqueologia: achados históricos



Ruínas do Convento de São Boaventura, 1974. Arquivo Geral Iphan RJ.


Resgatar a memória de um lugar e proporcionar a experiência de vivenciar um espaço do passado é uma dentre tantas gratificantes atribuições de um Arquiteto e Urbanista. A paixão e a responsabilidade são multiplicadas quando se trata de um monumento histórico tombado. Para possibilitar o estudo de uma Intervenção num Patrimônio tão rico e significativo, é preciso remontar ao passado: buscar a fundo o entendimento do que foi o início desse lugar, passar a limpo as etapas da ocupação territorial, compreender as condicionantes que levaram ao declínio para que chegasse ao estado atual. É substancial identificar fatores preexistentes para compor o que virá adiante. Sendo assim, este estudo será estruturado em três eixos: Passado, Presente e Futuro, onde em cada um serão apresentadas informações levantadas a partir de pesquisa e análise de dados obtidos através de estudos de caso de profissionais da área de Arqueologia, História, Preservação do Patrimônio e Geografia, bem como desenvolvimento autoral de pesquisas e estudo preliminar para o projeto de intervenção aqui proposto.

É importante enfatizar que o objetivo desta fundamentação não é documentar os pormenores de todos os aspectos históricos do lugar, porém, devido a sua magnitude espacial, importância cultural e relevância patrimonial, torna-se indiscutível a necessidade de aprofundamento no estudo de todos os períodos e etapas que marcaram o local e seu entorno. Adiante da leitura histórica, será possível compreender as condicionantes do contexto atual levando em consideração as transformações ocorridas no passado recente, e, aproximando os estudos e levantamentos do recorte de projeto, serão ponderadas as problemáticas e particularidades que fundamentarão a proposta de intervenção, permitindo o aprofundamento nas questões de espacialidade e eixos ordenadores e determinantes das diretrizes do projeto que será desenvolvido futuramente. O Centro de Interpretação terá como principal finalidade o resgate do passado a fim de preservar a história da Vila Santo Antônio de Sá e o precioso exemplar arquitetônico do Convento de São Boaventura, fazendo com que a população tome conhecimento da origem da própria cidade e de seus antepassados, estimulando nos indivíduos o sentimento de pertencimento para motivar a conscientização sobre o Patrimônio e a valorização da cultura local, o que consequentemente coloca em evidência todo o preciso Patrimônio Cultural, Histórico e Natural do Município de Itaboraí.


Ruínas do Convento de São Boaventura, 1974. Arquivo Geral Iphan RJ.




Ruínas do Convento de São Boaventura, 1963. Arquivo Geral Iphan RJ.


Torre sineira—Ruínas do Convento de São Boaventura, 1952. Arquivo Geral Iphan RJ.

Ruínas do Convento de São Boaventura, 1974. Arquivo Geral Iphan RJ.


O espaço que abriga o objeto de estudo está localizado no bairro Porto das Caixas, município de Itaboraí, que se distancia 70 km da capital do estado do Rio. Atualmente, o sítio faz parte de uma área privada e restrita de caráter industrial, pertencente à Petrobrás, aonde se instala o COMPERJ.

Sua história, assim como a região que a circunda, possui fragmentos e heranças que correspondem do período préhistórico ao colonial, apresentando vestígios da presença de grandes animais extintos, tribos indígenas e da colonização do Brasil. O lugar, hoje conhecido como Itaboraí, abriga sítios arqueológicos de enorme importância, e entre eles se destaca o da Bacia Calcária de São José, no qual foram encontrados fósseis da fauna e flora que se desenvolveram após a extinção dos dinossauros, no final do período Cretáceo, aproximadamente 60 milhões de anos. Na região também foi evidenciada a presença de espécimes da megafauna do período pleistocênico, como mastodontes, preguiça gigante e tartaruga gigante.

Aldeias da civilização Tupi-Guarani puderam ser reveladas através dos vestígios arqueológicos encontrados nos sítios, sendo relacionados à tribo pelos acampamentos para coleta de moluscos. Imagem: Google Earth 2019.


Nos anos que sucederam a fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, os portugueses tiveram grande dificuldade em seguir conquistando as terras do lado leste da baía de Guanabara, este densamente ocupado por aldeias e florestas, isto por que os índios Tamoios, catequisados pelos franceses, agora expulsos, rivais dos portugueses na colonização, realizavam ataques contra.

A Fundação da cidade do Rio de Janeiro. Tela de Antônio Monteiro. Acervo da Câmara Municipal do RJ

A fim de restringir o acesso de inimigos ao interior do estado, também de gerar receita e insumos com a produção agrícola, medida em que as terras adjacentes à baia eram dominadas, coroa portuguesa, através de Mem de Sá, delimitava extensões doava por meio de sesmarias.

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Carta de Sesmaria do 1º Ofício de Notas assinado pelo capitão e governador do Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá. Datado de 1594, o mais remoto registro do Arquivo Nacional.


Ao longo da colonização do Brasil, uma organização religiosa exerceu uma importante função na metodologia social utilizada pela colônia: a Companhia de Jesus, sendo seus membros mais conhecidos como os Jesuítas. Fundada na Europa em 1534 por Santo Inácio de Loyola com o objetivo de impedir o aumento do número de protestantes, a Companhia de Jesus foi enviada ao Brasil, liderados por Manuel de Nóbrega, com a principal função de catequizar e evangelizar os índios que habitavam as terras. Para que os índios fossem catequizados, era necessário que aprendessem a língua portuguesa, e assim pudessem ler trechos bíblicos e aprender práticas religiosas. Dentre os missionários Jesuítas, o de maior destaque foi o padre José de Anchieta. Os Jesuítas ensinavam também filhos de colonos, senhores de engenhos, e para tal foram criados alguns colégios pela colônia, sendo o mais conhecido o Colégio de São Paulo, entorno do que hoje se apresenta a cidade de mesmo nome. Com a missão de tornar os índios em católicos e favoráveis à colonização, a Coroa doou sesmarias à Companhia, algumas apelidadas de Fazendas, para que estes pudessem estabelecer o cultivo e a produção de insumos para própria subsistência e facilitar o acesso às aldeias. Dentre as mais importantes, entram em evidência a Fazenda de Santa Cruz e a Fazenda Macacú, local de estudo deste trabalho.

Anchieta e Nóbrega na cabana de Pindobuçu, retrato de um momento da catequização dos índios. Tela de Benedito Calixto (1853-1927)


A Fazenda foi constituída a partir da doação de sesmaria à Companhia de Jesus por Miguel de Moura, secretário e escrivão da Fazenda Lisboa e sua esposa, Beatriz da Costa. Em 1567 estas terras haviam sido cedidas à Miguel de Moura, abrangendo quatro léguas de comprimento por três léguas de largura - o correspondente a uma área de 280 km² - , com o rio correndo por seu meio, banhadas também pelo rio Casserebú e sendo constituída de densas florestas. Ocupada por indígenas das tribos Tamoio e Tupinambá, a fazenda ficou sem uso por três anos, e, correndo o risco de perdê -las por este motivo, conforme as regras de doações de sesmarias, Moura decide então, no dia 17 de dezembro de 1571, doá-las para os Jesuítas. A conquista destas gerou o confronto entre colonizadores e Tamoios, já que estes eram contra a tomada das terras pelos portugueses, diferente da tribo Tupi, que foi cristianizada e atuou no processo de aldeamento, estas servindo inclusive como pontos de apoio de defesa contra invasões à cidade do Rio de Janeiro. A posse da sesmaria de Miguel de Moura e Beatriz da Costa foi dada ao Pe. Gonçalo de Oliveira em 22 de outubro de 1573, mas apenas de modo representativo, uma vez que as batalhas para a conquista da Fazenda se estenderam por anos, e assim, as demarcações de terra apenas foram iniciadas em julho de 1579, continuadas no ano de 1584 e concluídas em 1599. Concessões de Sesmarias na Capitania Real do Rio de Janeiro - 1567 à 1575. ABREU, Maurício. Geografia histórica do Rio de Janeiro. (1502 à 1700).


As terras próximas ao Macacú eram compostas por manguezais e densas matas, repletas de pau-brasil, e foram descritas por escritores da época como locais com a presença constante de índios - Tamoios e Tupis - que ali coletavam ostras e realizavam outras atividades pesqueiras, prática muito importante para a sobrevivência na região, o que justifica a existência de inúmeros sambaquis, locais compostos por montes de conchas, solo e comumente utilizado para sepultamentos, habitados por povos pré-históricos.

Estas terras eram consideradas as melhores para plantio no entorno da baía de Guanabara, pois abasteciam e supriam as necessidades das populações que à habitavam, fornecendo também mariscos e outros recursos naturais. Essas se tornaram produtoras importantes de mandioca e sua farinha, cana de açúcar, aguardente, além de fomentar a extração massiva de madeira. Sabe-se que foram solicitadas, em março de 1579, terras ainda desocupadas e sem proprietários no entorno do rio Macacú. Ali, em nome dos índios cristãos, foi criado o aldeamento de São Barnabé, sobre extensões de terra concedidas por Salvador Correia de Sá. Este tipo de solicitação ocorreu algumas vezes, o que aumentou a propriedade e domínio da Companhia de Jesus sobre os nativos e sua mão-de-obra.

Conforme os Jesuítas se apropriavam e se instalavam nas terras, avançava o processo de catequização e exploração dos índios e escravos trazidos pelos colonizadores, e intensificava-se a larga produção agrícola que abastecia diversas áreas do Rio de Janeiro, por conta da facilidade de escoamento destes através rio Macacú para a baía de Guanabara até chegar aos portos da Capitania.

Escavação de um dos Sambaqui encontrados no Vale do Macacú. Foto exibida na exposição A Vila de Santo Antônio de Sá na Caixa Cultural contendo parte do acervo arqueológico achados no local.


Localização das fazendas, engenhos e aldeamentos jesuíticos na capitania do Rio de Janeiro XVI-XVIII Fonte: Leite, 2000:73


Vila Sto. Antônio de Sá


Recorte ampliado: Mapa corogrรกfico da capitania do Rio de Janeiro. Domingos Capassi 1730. Biblioteca Nacional.


Passados alguns anos, uma parte da extensa fazenda é vendida a Manoel Fernandes Ozouro, que em 1612 funda uma capela entre os rios Cacerebú e Macacú, sob invocação de Santo Antônio e faz doação de parte de suas terras à Companhia de Jesus e cria-se o curato, com sede na capela, que dá origem à Igreja Matriz de Santo Antônio de Sá. Com a ampliação das atividades e aumento de moradores e trabalhadores da área rural, e, consequentemente de fiéis, em 1644 o curato é elevado à categoria de Paróquia, expandindo o lugar a Freguesia de Santo Antônio de Cacerebú. Em 1697, quando a Capitania do Rio de Janeiro era governada por Artur de Sá e Menezes, é fundada a vila homenageando o Santo de devoção e o governador representante de Sua Majestade: vila Santo Antônio de Sá, a primeira do recôncavo da Guanabara. A descoberta do ouro nas Minas Gerais no final do século XVIII colocou a vila em destaque, já que apresentava vantagens estratégicas para a logística, se tornando rota de passagem para auxiliar no escoamento. Essa notoriedade faz com que o Estado implante na praça pública um pelourinho, a Casa de Câmara e a Cadeia. A região era constituída por vastas e densas florestas, o que tornou a extração de madeira um importante fator econômico e auxiliou no desenvolvimento da vila, fazendo de Santo Antônio de Sá o maior produtor de tábuas da Capitania fluminense no final do século XVIII.

Ruínas da igreja Matriz de Santo Antônio de Sá, 1929 - Mário Baldi. Acervo Iconográfico - Secretaria de Cultura de Teresópolis.


Feita à sentimento, a planta mostra a implantação da vila:

Recorte ampliado da planta da vila com indicação:

Igreja da Ordem Terceira

Convento de São Boaventura

Rio Macacú

Igreja Conventual de São Boaventura

Casa de Câmara e cadeia

Praça

Mapa da vila Santo Antônio de Sá por Major Rivierre, 1838. Arquivo Geral do Iphan.

Igreja Matriz de Santo Antônio


Com a chegada de novos colonos e expansão da população, os Jesuítas perceberam a necessidade de criar um convento dedicado à formação religiosa e ao abrigo dos frades que pregavam na região, e também ao apoio à conversão dos índios. Em 20 de novembro de 1649 foi então fundado o Convento de São Boaventura, com o início da construção da casa provisória que serviu de abrigo aos frades durante a obra da edificação principal, construção iniciada em apenas em 1660.

O mesmo documento relata que a Ordem se estabeleceu em Macacú no ano de 1710, e possuíam a princípio uma capela lateral no corpo da igreja conventual. Por ocasião da reconstrução do convento, iniciaram a construção de uma outra capela, esta separada da igreja conventual. Em 1728 ficou estabelecida a criação de um Seminário de gramática, que contaria com a formação de 12 alunos por ano, tendo suas dependências construídas nos fundos do convento.

O edifício, composto por uma fachada de 75 metros que levou aproximadamente dez anos para ser concluída, se classificou como a quinta construção do tipo feita pela Ordem Franciscana do Brasil. O noviciado foi inaugurado em 1672, sendo um importante centro de formação de antepassados religiosos, tendo passado por ele o primeiro Santo brasileiro, Frei Galvão. O convento funcionou na edificação por 114 anos, já que em 1784 começou a ser reconstruída. Os registros da edificação anterior estão em posse da Ordem Franciscana em São Paulo, não sendo possível coletar mais informações.

Na medida em a influência dos Jesuítas crescia dentro das relações sociais na colônia, assim como o seu controle e poder econômico nas aldeias, aumentava também sua autonomia em relação à Coroa e à própria Igreja. Dessa forma, a Coroa passou a enxergar os Jesuítas como uma possível ameaça à seu poder, tendo em vista também que os Inacianos defendiam a liberdade dos índios, o que divergia da visão e dos interesses de Portugal.

Em seu livro “Páginas da História Franciscana no Brasil” de 1957, Frei Basílio Rower descreve a presença de “...três altares, altarmor com a imagem do Padroeiro, os laterais com a de Conceição e de São Francisco, e entre as colunas do retábulo do altar-mor estavam colocadas as imagens de Santo Antônio de Sá e de São Beneditino.” (ANEXO I)

Confrontos levaram à expulsão de centenas de Jesuítas em todo o Brasil no ano de 1759 pelo então secretário de estado português, Marquês de Pombal, o que acarretou na desestruturação da ordem no país, causando enormes prejuízos aos aldeamentos indígenas e ao ensino na colônia. Todos os bens e obras da Companhia de Jesus passaram para a coroa e os padres e irmãos da ordem foram presos e depois enviados para a Europa.


Em 1784 foram paralisadas as atividades no noviciado para dar início às reformas que se faziam necessárias, porém o retorno nunca aconteceu. Foram necessários muitos anos para concluíla, uma vez que as condições da edificação eram precárias chegando a colocar vidas em risco, sendo preciso demoli e reconstruir diversas partes. Um nome fundamental nesta etapa de reconstrução é o do Frei Inácio da Anunciação, na época Guardião responsável. Os elementos mais transformados nesta etapa foram a fachada e o corpo do convento e a fachada da Igreja, uma vez que foram postas abaixo. Neste período, poucas áreas do restante do conjunto foram refeitas. Nota-se o esmero e a simplicidade na monumentalidade destas fachadas, hoje preservadas em ruínas. Descrito com um paradoxo, o término da reconstrução do convento marca o início da sua decadência.

O entorno da vila se desenvolveu, lugarejos ganharam notoriedade formando novos entrepostos, como Porto das Caixas e São João Batista de Itaboraí. Fazendas e engenhos produziram em larga escala açúcar, farinha de mandioca e outros. Registros mostram que por volta de 1778 a vila possuía aproximadamente 340 moradias. Em 1788, tinha população de 2.320 habitantes livres e 2.410 escravos. Já em 1821, os números saltaram para 3.918 e 3.826, respectivamente.

Ilustração da fachada do Convento de São Boaventura de Macacú. Sem data. Arquivo Geral Iphan


Associada ao desenvolvimento das aldeias e vilas que circundam a região, e à inauguração da ferrovia Cantagalo, que tornou desnecessária a passagem de produtos e mercadorias pelo porto de Macacú, houve um declínio no número de noviços e estudantes no convento, o que limitou a chegada de outros frades para atuar ali, reduzindo a população e atividades religiosas. Entre 1828 e 1829, epidemias de malária e cólera assolaram o território, causando inúmeras mortes e fazendo com que moradores e frades abandonassem o local, e gerando o arruinamento da vila de Santo Antônio de Sá e do conjunto religioso. Esse evento ficou conhecido com a Febre de Macacú. Em 1835 o local foi definitivamente abandonado e por anos foi saqueado por indivíduos em busca de potes de outro que teriam sido enterrados ali.

Ruínas do Convento de São Boaventura, 1963. Arquivo Geral do Iphan.

Ruínas do Convento de São Boaventura, 1963. Arquivo Geral do Iphan.


Em 1922, as ruínas e todo o território que a abriga foi vendida pela Província aos Beneditinos, e deles, foi vendida para outros. Após anos desativada, voltou a funcionar como fazenda em 1865, ano registrado no frontão da Sede, como apontam os registros do inventário de 1982 do FUNDREM. “A antiga sede da Fazenda Macacú localiza-se numa pequena elevação bem próxima as ruínas do Convento de S. Boaventura. Sua implantação segue a mesma orientação dada a fachada principal do convento. Tendo a sua frente uma grande planície, o prédio da fazenda é visto a distância , como uma grande massa horizontal, marcada por um corpo central de dois pavimentos de desenho neoclássico, dominando a paisagem da região.”

Localização da Sede da Fazenda Macacú. Inventário dos Bens Culturais Município de Itaboraí. FUNDREM. 1982. Arquivo Geral do Iphan.

Sede da Fazenda Macacú. Inventário dos Bens Culturais Município de Itaboraí. FUNDREM. Arquivo Geral do Iphan.

Ruínas do Convento de São Boaventura, 1963. Arquivo Geral do Iphan.


A descrição da edificação da sede no inventário aponta que não foi possível verificar o programa arquitetônico da edificação, mas que aparentemente seguia a orientação espacial de uma residência urbana, tendo o pavimento inferior ocupado para serviços e depósitos, somente adotando elementos neoclássicos no tratamento da fachada principal. Também informa a existência de uma capela à lateral da sede, possuindo um altar de madeira em estilo rococó.

Vista parcial da Sede da Fazenda Macacú e da Capela. 1982. FUNDREM. Arquivo Geral do Iphan.

Interior da Capela da Sede da Fazenda Macacú.1982. FUNDREM. Arquivo Geral do Iphan.


Fotografia de banco estilo marquesa pertencente à Casa da Sede da Fazenda. Registro de 1940. Arquivo Geral do Iphan.

Fotografia de escultura sacra pertencente à Capela da Sede da Fazenda. Anotação no verso: “Museu de Arte Sacra de Niterói.” Registro de 1940. Arquivo Geral do Iphan.

Atualmente nada resta das edificações da Sede, que sofreram com a ação do tempo e do abandono. Documentos anexos ao inventário da Sede da Fazenda no Arquivo Geral do Iphan mostram as imagens destes dois objetos que pertenceram à Sede da fazenda: banco marquesa em madeira e trama de palha e escultura sacra, que, no verso da fotografia, é possível ler “Museu Arte Sacra Niterói”, entende-se por isto que este é o local em que a escultura se encontra. Não foi encontrada menção de outros itens da fazenda no inventário analisado.

Verso da fotografia de escultura sacra. Arquivo Geral do Iphan.

Ruínas do Convento de São Boaventura, 1963. Arquivo Geral do Iphan.



Ruínas do Convento de São Boaventura, 1963. Arquivo Geral do Iphan.


As terras do antigo distrito de Macacu foram concedidas em sesmaria a Baltazar Fernandes e, em outubro deste mesmo ano, a sesmaria foi concedida a Miguel de Moura;

Miguel de Moura faz doação de sua sesmaria aos Jesuítas;

Os Jesuítas vendem parte das terras a Manuel Fernandes Ozouro, que construiu uma Capela de Santo Antônio que foi o núcleo primitivo da Vila de Santo Antônio de Sá. Esta capela foi elevada à curato em 1624;

No dia 20 de novembro, foi fundado o convento franciscano, denominado Convento São Boaventura, iniciado com uma casa provisória;


Iniciou-se a reforma e ampliação do Convento, sob o comando de Frei Gonçalo da Conceição. A obra durou 10 anos, sendo inaugurada em 4 de fevereiro de 1670, e então, em 1672 foi aberto o noviciado.

A Freguesia tornou-se Vila, recebendo o nome de Vila de Santo Antônio de Sá em homenagem a Artur de Sá Menezes, que pessoalmente compareceu àquela região, para ali instalar todos os elementos do Governo e Câmara em 20 de agosto. A Vila passou a atuar como importante entreposto comercial, abrangendo os atuais municípios de Magé, Itaboraí, Sant’Ana de Japuíba e Rio Bonito, servindo de ponto de apoio obrigatório para aqueles que se dirigiam ao inóspito sertão de Macacu;

A Ordem III de São Francisco da Penitência foi estabelecida em Macacu; Em 1759 os jesuítas são expulsos do Brasil pela Coroa.

Com a chegada dos novos religiosos, houve uma reforma no Convento, quando foi demolido o corpo da igreja e todo o corredor da frente do Convento, com a respectiva reconstrução. Nesta mesma época teve início a construção da Igreja dos Terceiros e da Irmandade da Ordem Terceira (criada em 1710), ao lado da Igreja do Convento;


Iniciou-se a decadência da região, assolada pela malária, as febres do Macacu que fizeram numerosas vítimas. Os moradores amedrontados fugiram da Vila, e, por volta de 1836, as terras tornaram-se improdutivas em consequência da formação de bancos de areia que, provocando o transbordamento dos rios e o alagamento das terras, tornaram a região extremamente insalubre, com isso, o Convento ficou completamente abandonado, começando a desmoronar.

Os frades franciscanos deixaram o Convento e, como marco de sua retirada, entregaram no Convento de Santo Antônio, no Rio de Janeiro, o inventário e as alfaias que guarneciam o Convento de São Boaventura, que desde então, abandonado, foi sofrendo progressiva ruína.

O Provincial Frei Miguel de Santa Rita arrendou a Felicíssimo Antônio de Oliveira a horta e “todo o campo existente dentro da cerca em redor do Convento até ao portão grande do carro”. Os sucessores renovaram o contrato até 1859. Passou a ser utilizada como fazenda novamente, e teve sua sede construída e datada de 1865, ficando ativa por alguns anos até sua paralização total.

As ruínas e todo o terreno foram vendidos pela Província aos Beneditinos, que mais tarde, em 1930, as venderam a outros, passando então por vários proprietários, sendo utilizada como pasto para gado por alguns anos, até sua desativação.


Através do processo n°E03/33714/78 as ruínas do Convento de São Boaventura foram tombadas pelo INEPAC;

As ruínas, através do processo n° 690-T-63, foram tombadas pelo Iphan, à partir do requerimento datado de dezembro de 1962, solicitado por dois jornalistas do jornal “O Globo”, que produziram uma matéria alertando sobre a relíquia histórica entregue ao tempo e ao descaso.

Foram tombadas pelo poder público Municipal, sendo incluída neste ato a torre sineira da igreja matriz, assim, o conjunto passou a ser objeto de proteção cultural pelas esferas federal, estadual e municipal. Em julho de 2000 foi incluído no Cadastro nacional de Sítios Arqueológicos - CNSA/IPHAN, sendo registrado como Sítio Arqueológico Fazenda Macacú.

As terras que abrangem o conjunto e seu entorno são vendidas à Petrobrás, dando início à implementação do COMPERJ. A estatal assume a responsabilidade sobre a preservação e conservação das ruínas e do sítio, com a supervisão do Iphan e INEPAC. Em 2008 é desenvolvido um estudo para projeto de consolidação das ruínas e ocorrem as primeiras escavações no sítio. Iniciadas em 2013, as obras de consolidação duraram aproximadamente 500 dias, sendo finalizadas em set/2015.


A partir da leitura e do mapeamento dos acontecimentos mais relevantes da história do lugar e do conjunto tombado torna-se possível qualificar os aspectos que conferem tamanha importância e significado destes. Sabe-se que a existência da Vila Santo Antônio de Sá foi crucial para o desenvolvimento do território como um todo, tendo abrigado grande parte das atividades que fomentaram a produção de alimentos e a economia do Estado. Feita a análise dos fatos ocorridos, determina-se que a Vila de Santo Antônio da Sá foi despovoada e abandonada pelo desdobramento das freguesias, pela construção da ferrovia que passou a transportar toda a produção das regiões até o Rio de Janeiro, e pelo desencadeamento de epidemias que assolaram a população, fazendo com que dela restasse apenas as ruínas da torre sineira da Igreja Matriz e do Convento de São Boaventura. Após longos anos de depreciação e solicitações de tombamento e restauro para preservação do conjunto, como contrapartida à implantação do Comperj, a Petrobrás decide investir nas pesquisas sobre a vila e financia a consolidação das ruínas. Até aqui viu-se o histórico distante, e adiante serão examinados dados e informações do passado recente e da atualidade do contexto em que o objeto está inserido para que se obtenha uma aproximação das especificidades e condicionantes do território.


Ruínas do Convento de São Boaventura, 1963. Arquivo Geral Iphan RJ.

Ruínas do Convento de São Boaventura, 1963. Arquivo Geral Iphan RJ.




Imagem extraída de filmagem aérea publicada na página Itaboraí Cultura e Turismo no Facebook em 29/09/2019. Link nas Refer ências.


Ruínas do Convento de São Boaventura após a consolidação. Foto: FAMACRUZ


Teresópolis (100 km)

Friburgo (90 km)

Petrópolis (90 km)

Guapimirim (76 km) Magé (30 km)

Itaboraí São Gonçalo (43 km) Niterói (55 km) Rio de Janeiro (70 km) Maricá (47 km)

Localizado à 50 km da capital do Rio, o município de Itaboraí faz parte da região metropolitana do estado, é dividido em oito distritos e faz limite com cinco cidades: Cachoeiras de Macacú e Guapimirim (ao norte), Maricá (ao sul), Tanguá (a leste) e São Gonçalo (a oeste.) Sua história se mistura à da vila Santo Antônio de Sá, por ser resultado da junção do território desta e de outras duas vilas. Formado majoritariamente por área rural, as atividades agrícola, pecuarista e ceramista são responsáveis por grande parte da economia. Seu território abriga importantes achados arqueológicos e paleontológicos, marcos do período colonial e áreas de proteção ambiental.

Extensão territorial - 430.438 km²

População estimada (2019) - 240.592

Densidade demográfica - 506.55 hab/km²


Imagem aérea da Praça de Itaboraí. Fonte: Ascom Itaboraí


Itaboraí - traduzindo do Tupi-Guarani, Pedra Bonita - é rica de história e edificações importantes. O Parque Paleontológico de São José foi criado em 1995 a partir da descobertas de vestígios arqueológicos e paleontológicos, fósseis e artefatos líticos, durante a extração de calcário de uma bacia sedimentar localizada no bairro de São José no distrito de Cabuçu entre 1928 e 1980, restando desta ação uma enorme depressão de 70 metros de profundidade, que por acumular água da chuva e de veios subterrâneos forma um enorme lago artificial.

Vista do lago artificial do Parque Paleontológico de São José de Itaboraí. Foto: Sandro Giron

A atual Igreja Matriz de São João Batista é a reconstrução da antiga capela, erguida em 1864, que deu origem ao núcleo urbano da cidade. Foi tombada pelo IPAHN em 1970.

Igreja Matriz de São João Batista, Itaboraí - 2015. Foto: Luiz Maron


Datado de 1834 a residência de Joaquim José de Rodrigues Torres, o Visconde de Itaboraí servia de hospedagem para a Família Real em visita a cidade. Foi tombado pelo Iphan em 1964 e pelo INEPAC em 1979. Atualmente abriga a sede da Prefeitura.

Palacete Visconde de Itaboraí, atual sede da Prefeitura. Foto: O correio da Cidade.

O edifício foi construído em 1840 para abrigar a Casa de Câmara e Cadeia Pública da então recém criada vila de São João de Itaboraí. Foi restaurado e tombado pelo INEPAC em 1979 e hoje abriga as atividades da Câmara Municipal.

Edifício: Casa da Câmara Municipal e Cadeia. Atual Câmara. Fonte: INEPAC


O território é dividido em oito distritos, sendo o local de estudo desta pesquisa localizado no 2º - Porto das Caixas.

Legenda: Limite interdistrital Limite Comperj Fazenda Macacú

Fonte: IBGE 2010. Prefeitura de Itaboraí 2017. SEMMAURB.


Apresenta diversidade de ecossistemas e formas de uso do solo, com predominância de capoeira.

Legenda: Limite interdistrital Limite Comperj Fazenda Macacú Aterro Sanitário Capoeira Floresta ombrófila

Floresta secundária Hidrografia Mangue Mangue degradado

Pastagem Solo exposto Várzea Área agrícola

Área urbana Patrimônio natural

Fonte: IBGE 2010. Prefeitura de Itaboraí 2017. SEMMAURB.


A cobertura predominante caracteriza pastagem. Possui áreas em recuperação de vegetação e de proteção ambiental.

Legenda:

Limite interdistrital Limite Comperj Fazenda Macacú Agricultura

Floresta Mangue - APA Guapimirim Pastagem Pastagem em várzea

Vegetação secundária em estágio inicial Áreas úmidas

Fonte: IBGE 2010. Prefeitura de Itaboraí 2017. SEMMAURB.


Possui diversos cursos d’água, sendo o principal o Macacú, que foi transposto para diminuir alagamentos e abastecer os municípios de São Gonçalo e Niterói.

Legenda: Limite interdistrital Limite Comperj Fazenda Macacú

Hidrografia Hidrografia principal Lagoa Terreno sujeito à inundação

Bacia dos rios Guapi-Macacú Bacia dos rios Guaxindiba-Alcântara

Fonte: IBGE 2010. Prefeitura de Itaboraí 2017. SEMMAURB.


Abriga diversidade de flora e fauna, contemplando áreas de proteção inseridas no território e no entorno. Cabe ressaltar que a área limítrofe do local de estudo faz parte da APA Guapimirim.

Legenda: Limite interdistrital Limite Comperj Fazenda Macacú Federal: Estação Ecológica da Guanabara (Proteção Integral) Federal: APA Guapi-Mirim (Uso Sustentável) Estadual: APA Bacia do rio Macacú (Uso Sustentável) Municipal: Parque Paleontológico de São José (Proteção Integral) Municipal: Unidades de Conservação da Natureza

Fonte: IBGE 2010. Prefeitura de Itaboraí 2017. SEMMAURB.


A concentração de habitantes destaca-se na região central do município. As áreas mais afastadas são de caráter rural, de conservação ou estritamente industrial.

Legenda:

Limite interdistrital Limite Comperj Limite de bairro Fazenda Macacú 7,39 hab/km²

6.401,97 hab/km²

Fonte: IBGE 2010. Prefeitura de Itaboraí 2017. SEMMAURB.


Três pontos de centralidade de destacam no município. Fica claro que o local de estudo é afastado de aglomeração, o que reforça a característica restrita do espaço.

Legenda:

Limite interdistrital Limite Comperj Vias Fazenda Macacú

Centralidade Centro de Bairro

Fonte: IBGE 2010. Prefeitura de Itaboraí 2017. SEMMAURB.


O município é cortado pelo Arco Metropolitano (BR 493), e por outras vias importantes. Foi criada rota de acesso para o Comperj, que liga Itambi à Porto das Caixas.

Legenda: Limite interdistrital

Limite Comperj Vias Fazenda Macacú Ferrovia desativada

Principais vias Estrada do Comperj

Fonte: IBGE 2010. Prefeitura de Itaboraí 2017. SEMMAURB.


Unidades de Saúde estão espalhadas pela região de acordo com a densidade de habitantes de cada um dos distritos.

Legenda:

Limite interdistrital Limite Comperj Vias Fazenda Macacú

Unidade Básica de Saúde Atenção Especializada Vigilância em Saúde Unidade de Pronto Atendimento

Urgência e Emergência Móvel Hospital Municipal

Fonte: IBGE 2010. Prefeitura de Itaboraí 2017. SEMMAURB.


As Escolas Municipais se concentram nas áreas de maior número de habitantes, permeando as regiões de mais centralidade.

Legenda: Limite interdistrital Limite Comperj Vias

Escolas Municipais Fonte: IBGE 2010. Prefeitura de Itaboraí 2017. SEMMAURB.


Por se tratar de local fundado no período colonial, engloba inúmeros exemplares históricos. Pode-se observar a relação do patrimônio do município no Anexo II.

Legenda: Limite interdistrital Limite Comperj Vias Edificação / Monumento Arqueologia / Paleontologia Patrimônio natural

Fonte: IBGE 2010. Prefeitura de Itaboraí 2017. SEMMAURB.


A implantação do empreendimento insere no território quilômetros de dutos Nota-se a magnitude da extensão destes e pode-se ter ideia dos inúmeros impactos gerados.

Legenda: Limite interdistrital Limite Comperj Fazenda Macacú

Gasoduto Emissário

Fonte: IBGE 2010. Prefeitura de Itaboraí 2017. SEMMAURB.


Localizado ao norte do município de Itaboraí, o distrito de Porto das Caixas se divide em dois bairros e faz limite com a cidade de Guapimirim e Cachoeiras de Macacú. Se desenvolveu como escoadouro da produção agrícola das terras ao redor, transportando grandes cargas de açúcar em caixas, daí o nome do local. Porto das Caixas ganhou em suas proximidades uma estação de trem e se tornou importante e rica, mas gradativamente foi perdendo importância após a instalação de novos ramais da estação de ferro.

Extensão territorial - 52,73 km²

População estimada (2019) - 3.782 Foto da extinta estação ferroviária de Porto das Caixas demolida na década de 1980. Fonte: BARCELLOS, 1990, ilustração 3.

Densidade demográfica - 71,72 hab/km²


Imagem aérea do centro de Porto das Caixas. Acervo do Santuário de Jesus Crucificado.


A capela de Nossa Senhora da Conceição, localizada no centro do distrito, foi construída pelos jesuítas no século XVII, porém dela só restam duas paredes de pedra. Relados apontam que em janeiro de 1968 a imagem de Jesus Crucificado (que pertencia ao Convento de São Boaventura e foi levada pelos Frades para a capela durante o abandono da Vila) gotejou um líquido vermelho pelas chagas, e exames teriam comprovado que se tratava de sangue humano. O episódio atrai até os dias atuais milhares de peregrinos à hoje Igreja Matriz, tombada pelo INEPAC em 2001, porém o acontecimento não foi reconhecido pelo Vaticano até então.

Ruínas da primitiva Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Fonte: Viviany Nogueira, 2005

Imagem do Cristo Crucificado de Porto das Caixas. Acervo das irmãs de Belém,1968.


Em 2004 foi anunciada a implantação do Comperj em uma grande extensão de terra pertencente ao distrito, intervenção que traria um enorme investimento de infraestrutura para a região causando enorme impacto no desenvolvimento do município. O complexo fica à leste do sítio arqueológico e das ruínas do Convento, à 2 km de distância. Durante as obras de terraplanagem foram encontrados sítios arqueológicos, e todos os itens encontrados fazem parte do acervo do Museu Nacional, e não foram atingidos pelo incêndio em 2018. Cabe enfatizar que o espaço é de propriedade privada, isolado e de acesso altamente controlado devido a sua periculosidade e complexidade.

Atualmente a Petrobrás detém a responsabilidade pela guarda e integridade das ruínas e do sítio, uma vez que o território foi por ela comprado. Uma parcela das terras, incluindo o patrimônio tombado, foi classificada como Área Especial de Preservação do Patrimônio Cultural - APAC - a fim de impulsionar a proteção e notoriedade da região, e, em um futuro próximo, tornar o local acessível à visitas, estimulando a conscientização da população sobre a importância da preservação e resgate do patrimônio histórico, cultural e natural. Já a parte que comporta as instalações do Comperj foi especificada como Zona Urbana de Uso Estritamente Industrial - ZEI.

Vista aérea do Comperj, 2014 Foto: Custódio Coimbra.

Vista das ruínas do convento e equipe da Petrobrás durante fiscalização. Foto: Gustavo Stephan


Porto das Caixas possui baixa densidade de ocupação comparada a sua extensão territorial. A população habita a região do entorno em que foi construída a Estação Ferroviária no período de expansão dos aldeamentos.

Legenda:

Limite Distrito Limite Comperj Limite de bairro Fazenda Macacú 7,39 hab/km²

2.957,34 hab/km²

Fonte: IBGE 2010. Prefeitura de Itaboraí 2017. SEMMAURB.


Categorizado em sua maior parte como ZEI para demarcar as instalações do Comperj, e à oeste delimitado como APAC, preservando a integridade do conjunto tombado e o limite vizinho da Área de Proteção Ambiental de Guapimirim.

Legenda: Limite Distrito

Limite Comperj Fazenda Macacú Vias Hidrografia Principal

Área Especial de Preservação Permanente de Rio - APP Área Especial de Proteção Ambiental - APAM Área Especial de Interesse Ambiental - AEIA Área Especial de Preservação do Patrimônio Cultural - APAC

Área Especial de Interesse Social - AEIS Área Especial de Produção Mineral - APM Zona Rural de Uso Agropecuário - ZUAP Zona Urbana de Expansão - ZURBE Zona Urbana de Uso Diversificado - ZUD Zona Urbana de Uso Estritamente Industrial - ZEI

Fonte: IBGE 2016. Prefeitura de Itaboraí 2018. SEMMAURB.


A bacia do rio Guapi-Macacú é resultado da união artificial das bacias dos rios Macacú e Guapimirim, e abrange em torno de 1.300 km². Esta união se deu a partir da construção do canal do Imunana, e desvia o curso natural do rio Macacú unindo-o ao Guapimirim a fim de drenar as áreas da baixada. A nascente principal do rio Macacú se situa na serra dos Órgãos, percorrendo 74 km até sua união com o rio Guapi-Açú e Guapimirim, desemboca na Baía de Guanabara dentro da APA Guapimirim. Esta junção recebe hoje o nome de bacia dos rios Guapi-Macacú, e, junto com a bacia do rio Caceribu abastece toda a parte leste da Baía de Guanabara.

Estas ações fazem parte de um conjunto de obras de drenagem executadas pelo DNOS no estado com o propósito de erradicar a malária e recuperar as terras para agricultura. Diversos pontos do Macacú, Guapi-Açú e Caceribu foram canalizados, encurtando em até 3 vezes o percurso original deles. As obras tiveram início em 1910, e em 1947 começou a ser construído o canal do Imunana, interligando o Macacú, Guapi-Açú e Guapimirim. Posteriormente, o rio Caceribu passou pelo mesmo processo. Estas intervenções drásticas causaram impacto sem precedentes na fauna e na flora, levando ao desaparecimento de grande parte dos brejos e manguezais. Outras intervenções estavam programadas, porém, após conflitos sobre o ecossistema local, foi criada a APA para proteger o que restou.

Canal do Imunana

Antigo leito do rio Macacú Convento

Torre Sineira

Antiga Sede da Fazenda

Intervenções do DNOS nas bacias. Fonte: Negreiros et al. 2002.

Legenda:

Traçado original

Trechos canalizados

Imagem de satélite mostrando a Fazenda Macacú. 2019.


Concebida pela Lei Estadual nº 4.018, de 05 de dezembro de 2002, se estende por mais de 14 mil hectares, englobando partes dos municípios de Cachoeiras de Macacu, Itaboraí e Guapimirim, e tem como principal objetivo proteger as margens da bacia do rio Guapi-Macacú, maior contribuinte da Baía de Guanabara e resguardar os remanescentes da Mata Atlântica, dos manguezais e da diversidade de vida que ainda existe. A fim de influenciar positivamente a gestão do uso do solo, protegendo os recursos hídricos através da limitação da extração de areia e outras atividades prejudiciais aos recursos hídricos, a estratégia visa compatibilizar a conservação da biodiversidade e o uso sustentável dos recursos, respeitando a vocação agropecuária das unidades produtivas existentes na APA.

Como forma de minimizar tantos impactos, projetos relevantes para a manutenção dos recursos naturais da APA estão sendo desenvolvidos: o Projeto Replanta Macacú, que consiste em reflorestar as margens do rio Macacú com dois milhões de espécies nativas da Mata Atlântica da região, a fim de melhorar a qualidade da água e recompor a fauna e a flora, e o Projeto do Parque Fluvial, que compreende intervenções nas áreas já utilizadas para banho de rio pelas populações locais e turísticas, com o objetivo de promover educação ambiental e a melhoria na qualidade da água.

Vista do rio Macacú no trecho da APA Guapimirim. Foto: Custódio Coimbra.

Fauna no rio Macacú, trecho da APA Guapimirim. Foto: Custódio Coimbra.


Ruínas

Ruínas

Ruínas

Ruínas


Ruínas

Ruínas

Ruínas

Ruínas


Ruínas

Ruínas

Ruínas

Ruínas


Ruínas

Ruínas

Ruínas

Ruínas


Antigo leito do rio Macacú

Antigo leito do rio Macacú Convento

Convento

Torre Sineira

Torre Sineira

Antiga Sede da Fazenda

Antiga Sede da Fazenda

Antigo leito do rio Macacú

Antigo leito do rio Macacú

Antiga Sede da Fazenda

Convento

Convento

Torre Sineira

Torre Sineira

Antiga Sede da Fazenda


Antigo leito do rio Macacú

Antigo leito do rio Macacú Convento

Convento

Torre Sineira

Torre Sineira

Antiga Sede da Fazenda

Antiga Sede da Fazenda

Antigo leito do rio Macacú

Antigo leito do rio Macacú

Antiga Sede da Fazenda

Convento

Convento

Torre Sineira

Torre Sineira

Antiga Sede da Fazenda


Antigo leito do rio Macacú

Antigo leito do rio Macacú Convento

Convento

Torre Sineira

Torre Sineira

Antiga Sede da Fazenda

Antiga Sede da Fazenda

Antigo leito do rio Macacú

Antiga Sede da Fazenda

Antigo leito do rio Macacú Convento

Convento

Torre Sineira

Torre Sineira

Antiga Sede da Fazenda


Antigo leito do rio Macacú

Antigo leito do rio Macacú Convento

Convento

Torre Sineira

Torre Sineira

Antiga Sede da Fazenda

Antiga Sede da Fazenda

Convento

Antigo leito do rio Macacú Convento

Torre Sineira Torre Sineira

Antiga Sede da Fazenda

Antiga Sede da Fazenda


Ilustração das ruínas do Convento de São Boaventura, 1963. Pasta de Inventário de Patrimônio tombado. Autor desconhecido. Arquivo Geral do Iphan.


O conjunto passou por inúmeras reformas desde a sua formação original, o que dificulta estabelecer com precisão as camadas sobrepostas e suas datas. Analises de imagens permitem observar que os conventos edificados pelos franciscanos no Brasil foram inspirados nas construções portuguesas, e as técnicas construtivas adaptadas às condições climáticas e à viabilidade da época. A filosofia franciscana caracteriza-se pela simplicidade e esmero, tanto nas plantas quanto nas fachadas, valorizando, além de sua monumentalidade, elementos como portas, janelas e campanários, e internamente os altares, tetos e pisos. Neles encontram-se traços dos estilos arquitetônicos português e barroco. O programa obedece a um padrão funcional específico com características constantes, apresentando a igreja conventual com nave única, capela-mor, sacristia, coro e galilé, campanário único na lateral, claustro e adro. A igreja da Ordem Terceira da Penitência tem lugar de destaque junto a Igreja conventual e recebe igual tratamento estético na fachada. As edificações franciscanas apresentam dois elementos bastante peculiares e típicos da situação brasileira: o galilé e o adro.

Desenhos das fachadas dos conventos de Santo Antônio (Rio de Janeiro) e São Boaventura (Macacú) por Frei Basílio Rower.


Através do trabalho desenvolvido pela Arquiteta Ana Maria Moraes Guzzo para sua dissertação de Mestrado em História da Arquitetura pela UFRJ, é possível observar as prováveis configurações do convento por meio da reconstituição hipotética da planta baixa, feita com base em análises de outros 22 conventos franciscanos no país:

Guzzo concluiu que a planta do convento de São Boaventura segue a mesma tipologia dos conventos do sul do Brasil, muito se assemelha ao convento São Bernardino (Angra dos Reis), e podese dizer que as ruínas que são vistas atualmente são de um convento do século XIII.

Planta Baixa Primeiro Pavimento

Planta Baixa Primeiro Pavimento

Planta Baixa Segundo Pavimento

Planta Baixa Segundo Pavimento


Planta Baixa Primeiro Pavimento

Alvenaria existente - ruínas Traçado hipotético

Planta Baixa Segundo Pavimento

Alvenaria existente - ruínas Traçado hipotético


Técnicas Construtivas - fundações em pedras de mão e tijolos de barro. As alvenarias são mistas, feitas de pedras, tijolos de barro cozido e cru assentados em argamassa de cal. Vê-se paredes feitas posteriormente de tijolo maciço e adobe.

Detalhe de alvenaria mista em pedras e tijolo de barro. Foto: Marca Braga.

Pisos - as escavações possibilitaram identificar pisos de alguns trechos, estes de pedras e barro. Cobertura - não mais existente, restam apenas algumas telhas de barro em poucos topos de alvenaria.

Topo de alvenaria com beiral e telhas. Foto: Marca Braga .


Revestimentos - na fachada principal ainda é possível identificar revestimento em argamassa de superfície lisa e aparência homogênea. Os poucos azulejos decorados foram encontrados na fachada interna da Igreja Conventual.

Elementos decorativos - requadros de vãos trabalhados em pedra Biotita Gnaisse e componentes decorativos em tijolo e argamassa. Pedaços de madeira foram achados nas guarnições das esquadrias.

Vista da fachada interna mostrando remanescentes de revestimento. Foto: Marca Braga .

Detalhe de elemento decorativo na fachada. Foto: Marca Braga.


O primeiro tombamento das Ruínas do Convento de São Boaventura foi realizado pela instância Estadual, através do INEPAC, apesar de um requerimento para tal ter sido aberto no IPHAN em dezembro de 1962, na época SPHAN. Em 11 de dezembro de 1978, através do processo de número E03/33.714/78, foi homologado o tombamento provisório das monumentais ruínas.

Como citado anteriormente, o requerimento para reconhecimento e proteção desta relíquia havia sido aberto em 1962, por Gean M. L. Bittencourt e Pierre Garnotel, jornalistas autores de um artigo sobre o abandono e descaso com as ruínas, publicado no jornal “O Globo” em novembro do mesmo ano. Registros mostram que não foi a primeira vez que as ruínas e suas precárias condições foram destaque em jornais.

Ruínas do Convento de São Boaventura. INEPAC.

Imagem do artigo sobre as ruínas do Convento de São Boaventura por Gean B. e Pierre G., 11/1962. Arquivo Geral do Iphan RJ.


A análise dos registros do processo de tombamento pelo IPHAN permite verificar que houve dificuldade para realizar o tombamento por conta de falta de verbas e recursos para preservação e manutenção do bem e pela complexidade em acessar a área, na época tomada pela vegetação.

Requerimento para tombamento das ruínas do Convento de São Boaventura por Gean B. e Pierre G., 12/1962 enviado ao SPHAN. Arquivo Geral do Iphan RJ.

Justificativa por Lucio Costa, Diretor da D.S.T. pela demora no processo de tombamento das ruínas. Arquivo Geral do Iphan RJ.


Após anos de pesquisa e levantamento de informações, foi homologado em 28 de abril de 1980 o tombamento das ruínas em instância federal.

Certidão do tombamento das Ruínas do Convento de São Boaventura. Arquivo Geral do Iphan RJ

Apenas em 30 de outubro de 1996 as ruínas da Torre Sineira da Igreja Matriz de Santo Antônio foram reconhecidas como patrimônio, tombadas na instância Municipal através do Decreto nº 112 da mesma data.

Decreto do tombamento das ruínas da Torre Sineira da Igreja Matriz de Santo Antônio. Prefeitura Municipal de Itaboraí.


Finalmente, em julho de 2000, foi registrado no CNSA/IPHAN o Sítio Arqueológico Fazenda Macacu, abrangendo a antiga Vila de Santo Antônio de Sá.

Até o momento foram descobertos e registrados 19 sítios arqueológicos na Fazenda Macacú. A relação abaixo, elaborada pelo IPHAN, traz uma breve descrição de cada um deles.


Em 2008 a estatal adquiriu a propriedade para instalação do Complexo Petroquímico, e em contrapartida à intervenção assumiu a compromisso de realizar a consolidação e manutenção das ruínas do sítio arqueológico com a supervisão dos órgãos responsáveis pelo Patrimônio, IPHAN, INEPAC e Prefeitura de Itaboraí, financiando os estudos, projetos e execução da consolidação das ruínas e os estudos, levantamentos e escavações do sítio arqueológico.

Com base nas informações levantadas, sobreposições das camadas dos mapas e desenhos existentes foram testadas e relacionadas aos dados levantados em campo, resultando em uma prospecção da provável localização das edificações retratadas pelo Major Rivierre no mapa de 1838.

N

Cemitério

O documento “Estudos e Projeto de consolidação das Ruínas do Convento de São Boaventura, Pesquisa Arqueológica, Projeto Ambiental Paisagístico da Vila de Santo Antônio de Sá” foi elaborado por uma equipe multidisciplinar do Instituto de Dinâmica e Estudos Culturais RJ em 2008, com o apoio do IPHAN e INEPAC. Este, por meio de extenso trabalho de campo, levantamento de dados e análises de registros permite fazer uma observação detalhada do estado das ruínas antes da consolidação e apresenta informações até então desconhecidas dos remanescentes arqueológicos.

Porto

Casa de Câmara e Cadeia

Praça

Igreja Matriz de Sto. Antônio de Sá

Os estudos foram elaborados a partir dos remanescentes das ruínas, dos desenhos do Frei Basílio Rower publicados em seu livro já citado, relatos descritos em cartas pelos que visitaram o local e comparações com outros conventos construídos no mesmo período no Brasil. Sobreposição da vila sobre cenário atual segundo Estudos do IDEC.

Legenda: Vila

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Estudos desenvolvidos pela Professora Maria da Conceição Guimaraes e equipe contemplam imagens da reconstituição das ruínas da Vila através de um modelo tridimensional. Às ruínas do Convento foi acrescentada estrutura metálica que seria utilizada para acesso de visitantes em proposta de novo uso.

Reconstituição das ruínas da Vila e do Convento. Prof. Maria Guimaraes e equipe.

Ruínas do Convento. Prof. Maria Guimaraes e equipe.

As informações também possibilitaram a elaboração de um modelo das ruínas, que pode ser visualizado em uma animação gráfica disponível no canal da Estatal na plataforma Youtube. Este mostra não apenas o exterior, mas também as possíveis instalações das Igrejas e do Convento de forma detalhada.

Imagem extraída da animação da reconstituição do Convento. Petrobrás.

Imagem extraída de animação da reconstituição do Convento de São Boaventura. Petrobrás .


O projeto e a execução de consolidação das ruínas tiveram como premissa a manutenção das estruturas existentes, sem intervenções de complementação que não fosse exclusivamente de conservação. Foi realizado um minucioso mapeamento de danos nas 48 fachadas do conjunto. O estado das ruínas no ano do projeto, 2012, era precário e problema mais grave identificado foi o risco de desabamento iminente dos arcos cruzeiros das igrejas. As outras fachadas apresentavam danos como rachaduras, pátina biológica, presença de vegetação e pichação. Os métodos utilizados para solução não estrutural foram: lavagem com jateamento de baixa pressão nas áreas revestidas com argamassa; consolidação de rachaduras por meio de técnica de costura, injeção de argamassa com materiais criteriosamente indicados especificamente para o caso de ornamentos decorativos, emboço e reboco; embrechamento e recobrimento para os topos das alvenarias com telhas de dimensões iguais nos locais em que ainda existiam e cobrimento com revestimento nos locais já destelhados e com perdas passíveis de maior degradação por exposição; tratamento de bordas de argamassa de revestimento; recomposição de frisos horizontais através de carrinho; tratamento da pichação; recomposição das partes pétreas estruturais de vãos com pedras e/ou concreto. Segundo a Petrobrás, a consolidação foi finalizada em setembro de 2015.

Vista posterior do arco cruzeiro da Igreja da Ordem Terceira durante o processo de consolidação. Márcia Braga.


Mapa de danos da Fachada Principal externa. Projeto de consolidação das ruínas do Convento de São Boaventura. Petrobrás, 2012.


Em conjunto com a elaboração do projeto de consolidação das ruínas, foram executadas análises do solo por meio de técnicas de leitura subterrânea com radares para identificar as ocorrências abaixo da superfície e gerar os dados necessários para dar início às escavações nas imediações das ruínas. O território foi mapeado com quadrículas de 20x20 metros para facilitar a identificação e demarcação do local de cada achado. Os itens coletados foram analisados em laboratório e catalogados, para possibilitar a identificação de origem, data e, posteriormente serem consolidados e tombados.

Prato de faiança decorada em azul no padrão “arranhões” - Sítio Morro do Sol. Fotografia de Chris Lyrio na exposição “Santo Antônio e Sá - Primeira vila do recôncavo da Guanabara.” Caixa Cultural, 26/11/2019.

O relatório do IDEC afirma que mais de 2 mil itens foram retirados do local, a maioria composta por fragmentos de louça, cerâmica e vidro e metal. Material humano, restos de esqueletos foram encontrados no solo da capela da Ordem Terceira. Objetos como cachimbo e louças com determinados tipos de desenhos e cores puderam confirmar a presença de escravos no lugar, o que garante a participação deles na expansão da colonização. Todo o material coletado nas escavações realizadas em 2008 fazem parte do acervo do Museu Nacional.

Vista das escavações e fachada das ruínas ao fundo. 2008. Histórias e Monumentos.


O relatório também indica que até o momento apenas uma pequena parcela do território foi estudado e escavado, e que as análises precisam ser aprofundadas, as escavações devem ser continuadas e que a prospecção da área tombada deve ser aumentada, dada a extensão da ocupação do local e sua relevância histórica.

Fragmento de bule em “Basalt Ware” com decoração em relevo moldado, Inglaterra, meados do século XVIII até o XIX - Sítio São Barnabé. Fotografia de Chris Lyrio na exposição “Santo Antônio e Sá Primeira vila do recôncavo da Guanabara.” Caixa Cultural, 26/11/2019.

Telhas da antiga Fazenda Macacú. Acervo: Casa de Cultura Heloísa Alberto Torres, Itaboraí. Fotografia de Chris Lyrio na exposição “Santo Antônio e Sá - Primeira vila do recôncavo da Guanabara.” Caixa Cultural, 26/11/2019.


Ao fazer a análise das informações atuais e pouco distantes do território, nota-se a importância histórico-cultural desse o período colonial, possuindo diversos exemplares tombados e marcos naturais, sua vocação religiosa e sua relação com o desenvolvimento econômico do Estado. Observa-se também através das imagens de satélite a brusca transformação no local causada pela instalação do Polo Petroquímico, que logicamente levou benefícios ao Município e ao monumento em questão, porém é incontestável que esta implicou diversos impactos negativos, inclusive ambientais e visuais. Contudo, a implantação do Comperj trouxe ocasionou a descoberta de novos sítios arqueológicos e impulsionou as pesquisas e projetos para o conjunto, colocando foco sobre o patrimônio e possibilitando finalmente a consolidação das ruínas e iniciando as escavações no local em que existira a Vila Santo Antônio de Sá, trazendo a tona artefatos que um dia fizeram parte do cotidiano dos que alí viveram. Visto isso, inicia-se a seguir o esboço do projeto, observando as justificativas para a implantação de um Centro de Interpretação, a correlação entre exemplos existentes e funcionais da mesma categoria de projeto, a reflexão acerca da abordagem de restauro do bem tombado, a definição das diretrizes e estratégias projetuais e lançando o partido arquitetônico.


Ruínas do Convento de São Boaventura após a consolidação. Foto: FAMACRUZ




Ruínas do Convento de São Boaventura após a consolidação. Foto: FAMACRUZ


Vista da Torre do interior das ruínas do Convento. Imagem extraída do Livro “A Vila de Santo Antônio de Sá e o Convento de São Boaventura” de Maria Beltrão.


Para delinear a área a de projeto foram levados em consideração os limites previamente estudados que demarcam os sítios arqueológicos descobertos até o momento, a área de abrangência da APA Guapimirim e a ZEI, a fim de manter distância segura entre o Polo Petroquímico e o Centro de Interpretação, deixando claro que existe a possibilidade de aumento da demarcação no futuro, conforme necessidade de ampliação da superfície para estudo e escavação.

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O recorte compreende uma área de 640.000 m², possui dimensões de 980 m x 640 m, englobando o morrote ao norte das ruínas do Convento, já compreendidas como cemitério da Vila e que atualmente encontra-se densamente arborizado, o trecho do antigo leito do rio Macacú, parcelas de outros morrotes, inclusive o qual abrigava a Sede da Fazenda e toda a extensão de projeção da Vila Santo Antônio de Sá conhecida até o presente. Em razão melhor contextualizar o estudo, foi incorporado ao recorte parte do território situado ao sul da estrada, evidenciando a inexistência de quaisquer atividade ou objeto que possa interferir de maneira positiva ou negativa no projeto proposto. Cabe frisar também que o território é de propriedade privada, de acesso altamente restrito, distante de zonas urbanas, não existindo linha transporte público. Desta maneira, a visitação se dará através de agendamento prévio e limitado, permitindo a entrada apenas de pessoas devidamente cadastradas e em veículos particulares, respeitando as normas estabelecidas pela Petrobrás para que não aja comprometimento na segurança dos usuários, e, preservando da mesma forma as fragilidades do Patrimônio, antepondo o silêncio e respeito que à este cabem.

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Recorte de parte da Fazenda Macacú. Levantamento topográfico sobreposto à imagem de Satélite, 2019. Google.


Ruínas

Comperj

Recorte de Intervenção

Panorâmica da Fazenda Macacú e de parte das instalações do Comperj. Imagem de Satélite, 2019. Google.


Compreendidas todas as informações e estudos até aqui, podese afirmar que abundantes são as justificativas à implantação de um Centro de Interpretação para trazer à tona toda a história e valor deste conjunto de tamanha preciosidade arquitetônica, artística, histórica e cultural. Tomando por comparação quanto à relevância histórica e cultural, pode-se concluir que as Ruinas do Convento de São Boaventura e o Sítio Arqueológico da Fazenda Macacú possuem mesmo grau de significância e expressão que as Ruínas existentes no Sítio Arqueológico de São Miguel arcanjo, no Rio Grande do Sul, as quais foram declaradas Patrimônio Cultural Mundial pela Unesco em 1983, juntamente com outros Sítios Arqueológicos relacionados no Paraguai, Uruguai e Argentina. Cabe então, visto sua magnitude e vocação, exaltar suas propriedades com a intenção de reestabelecer os estudos acerca do Patrimônio para que sejam resgatados todo e qualquer fator relevante à sua história, devendo esta ser realizada em conjunto com os órgãos competentes, e, para tornar o monumento integrante novamente do território e garantir recursos ao prosseguimento das pesquisas, monetizar a visitação controlada. Não foram encontradas informações relacionadas ao andamento de processo de solicitação de inclusão das Ruínas do Convento de São Boaventura e do Sítio Arqueológico na lista de Patrimônio Mundial da UNESCO, apesar de em boletim informativo distribuído aos funcionários do Comperj conter esta declaração. Sendo assim, como mencionado pelo IDEC, é oportuno e cabível que esta solicitação seja efetuada, o que agregará ainda mais notoriedade ao conjunto, dando destaque ao Patrimônio, ao Município de Itaboraí e ao Estado do Rio de Janeiro.

Detalhe da alvenaria. Imagem extraída do Livro “A Vila de Santo Antônio de Sá e o Convento de São Boaventura” de Maria Beltrão.


Detalhe da fachada da igreja Conventual. Imagem extraída do Livro “A Vila de Santo Antônio de Sá e o Convento de São Boaventura” de Maria Beltrão.


Localizado na fronteira do Brasil com Uruguai, mais precisamente na cidade de Jaraguão - Rio Grande do Sul, as Ruínas da Antiga Enfermaria Militar, fundada em 1883, irão abrigar o primeiro Centro de Interpretação do país. O edifício entrou em desuso no final do século XX, passando a abrigar outras atividades até ser abandonado nos anos 1970 e foi tombado pelo IPHAN em 1990.

A intervenção tem características pautadas no restauro crítico, dando novo uso ao objeto sem recriar seu aspecto original. Segundo os arquitetos criadores do projeto, o tema central do museu é a singularidade da paisagem física e humana do que se chama pampa. A ideia é propiciar a experiência de um museu vivo em que os visitantes possam vivenciar a especificidade e a riqueza da natureza, da cultura e da história do lugar.

Ruínas da Antiga Enfermaria Militar. Jornal Tradição.

Perspectiva do Centro de Interpretação do Pampa. Brasil Arquitetos..


Perspectiva do Centro de Interpretação do Pampa. Brasil Arquitetos..


Atualmente em fase de construção e abrangendo o total de 1.880 m², o Centro contará com espaços livres de convivência, auditório escavado na rocha existente, salas de paleontologia e genética, galeria temática, memorial da enfermaria, centro de acolhimento, videoteca e biblioteca, administração e reserva técnica, espaço para exposições temporárias e concha acústica.

Planta Baixa centro de Interpretação do Pampa. Brasil Arquitetos.

Cortes longitudinais Centro de Interpretação do Pampa. Brasil Arquitetos..


Perspectiva do Centro de Interpretação do Pampa. Brasil Arquitetos.


Mais conhecidas como ruínas de São Miguel das Missões, estas são remanescentes da redução jesuítica construída a partir de 1687 no município de mesmo nome, no Rio Grande do Sul. Com a finalidade de abrigar e catequizar os índios nativos, esta originou um dos Sete Povos das Missões, ações instauradas por padres jesuítas, implantadas no território que hoje compreende regiões do Paraguai, Argentina, Uruguai e Brasil.

Fachada da Igreja de São Miguel antes da remoção da vegetação em 1925. Arquivo Histórico do RS.

A redução era constituída por casas para os índios, casa para viúvas, casa de hóspedes, colégio, oficinas, cemitério e a igreja. O local foi depredado, abandonado e saqueado em 1828, tombado pelo IPHAN em 1938, e dois anos depois foi criado por Lucio Costa o Museu das Missões. Juntamente com as Missões implantadas na Argentina, o sítio foi declarado em 1983 Patrimônio Cultural Mundial pela UNESCO.

Ruínas da Igreja de São Miguel e Museu das Missões ao fundo, 2009. Foto: Jaime Costa.


Ruínas da Igreja de São Miguel Arcanjo, São Miguel das Missões. Foto: Jefferson Bernardes .


Legenda: Le Corbusier: 1 - Catedral de São Miguel 2 - Praça 3 - Museu 4 - Casa do Zelador 5 - Exposições 6 - Estar 7 - Dormitório 8 - Cozinha

Implantação Museu das Missões. Arquivo Histórico do RS.

Com o objetivo de abrigar o acervo de 92 itens pertencentes à igreja, o museu conformado em estilo de um alpendre missioneiro, que, em um primeiro momento acontecia sem fechamento nas laterais e hoje é vedado com panos de vidro, possibilita a visualização ininterrupta das ruínas da igreja, proporcionando a continuidade do sítio arqueológico dentro deste. Tal método pioneiro de expor Patrimônio foi criticado pelos mais conservadores, mas hoje é amplamente difundido.

Plantas Museu e Casa do Zelador. Arquivo Histórico do RS.


Vista lateral do Museu das MissĂľes. Foto: Alexandre Feitosa


No nordeste da França em 1950, Le Corbusier foi chamado para reconstruir um santuário parcialmente destruído na Segunda Guerra Mundial. Concluída em 1955, capela de Notre Dame du Haut se tornou um ícone do século XX, e ao logno do tempo outros usos foram agregados, como estacionamento, loja, recepção, sanitários e serviços de emergência. Em 2006, Renzo Piano foi convidado pela administração do Santuário para propor um projeto a fim de estabelecer um convento dedicado à Santa Clara e criar um lugar de silêncio, paz, oração e alegria.

Convento de Santa Clara. Ronchamp. Renzo Piano Building Workshop.

O projeto exigiu a demolição do edifício de recepção existente, por sua posição ilógica dentro do contexto. Para substituí-lo, um novo edifício de 450 m² integrado à paisagem foi proposto. O convento engloba uma área de 1.800 m² e contempla 12 celas, áreas comuns de trabalho e residências, um oratório com 38 assentos, área confessional e área polivalente com capacidade para visitantes, composta por 9 salas e várias áreas comuns. Toda a intervenção respeita a hierarquia da paisagem e se integra à natureza, mantendo a Capela como o marco único.

Planta Baixa Térreo. Convento de Santa Clara. Ronchamp. Renzo Piano Building Workshop.


Vista aĂŠrea Capela Notre Dame du Haut e Convento de Santa Clara. Ronchamp. Renzo Piano Building Workshop.


O edifício é composto por dois blocos parcialmente cravados na topografia. O térreo abriga as casas de freiras e visitantes, e o nível superior abriga as demais funções pertinentes ao convento. A encosta foi reflorestada e atenção especial foi dada aos espaços abertos. Todas as células foram projetadas em módulos de 2,70 x 2,70 m, e possuem alta eficiência energética: recebem ventilação mecânica que permite que o ar seja distribuído para todos os quartos a uma temperatura média de 12 ° C, garantindo o conforto térmico independente da estação. As janelas possuem vidros duplos, incluem um pequeno jardim de inverno, e as áreas subterrâneas são iluminadas por clarabóias.

Legenda: Le Corbusier: 1 - Capela Notre Dame du Haut 2 - Abrigo de Peregrinos 3 - Casa do Capelão 4 - Pirâmide Jean Prouvé 5 - Pórtico do Sino Renzo Piano 6 - Centro de Visitantes 7 - Convento de Santa Clara

Planta Baixa Convento de Santa Clara, Ronchamp. Renzo Piano Building Workshop. Croqui e Corte - Convento de Santa Clara, Ronchamp. Renzo Piano.


Vista do Centro de Visitantes, Convento de Santa Clara, Ronchamp. Renzo Piano Building Workshop.


Para que se possa preservar um conjunto histórico, é necessário entender as linhas de conceitos aplicáveis de restauro e ordenar as diretrizes à uma delas. O conceito de restauro como intervenção designada a repor um produto da atividade humana está intimamente vinculado ao conceito de obra de arte. Essa relação entre obra de arte e restauração se faz presente na frase do teórico de restauro crítico Cesare Brandi, que diz: “a restauração constitui o momento metodológico do reconhecimento da obra de arte, na sua consistência física e na sua dúplice polaridade estética e histórica, tendo em vista a sua transmissão ao futuro”. Esta definição se baseia no conceito de obra de arte, do primor da atividade humana enquanto passível de reconhecimento durante tomada de consciência de que realizá-la é possível, por um indivíduo ou por toda a sociedade. Assim, Brandi reafirma: “O produto humano ao qual se faz o reconhecimento como obra de arte se encontra lá, diante dos nossos olhos, mas pode ser classificado genericamente entre outros produtos da atividade humana, até que o seu reconhecimento pela consciência o transforma em uma obra de arte, o que não o exclui de modo definitivo da comunhão com os outros produtos.”

Ao desenvolver uma intervenção de restauração em determinada produção humana, deve-se examinar nesta a possibilidade de enxergá-la como obra de arte, pois, como Brandi defende, “Se restaura somente a matéria da obra de arte”. Brandi estabelece dois aspectos que devem ser considerados em uma criação para que ela seja considerada obra de arte: o estético e o histórico. O aspecto estético discorre sobre o julgamento de valor pelo qual se classifica uma produção como obra de arte, e o aspecto histórico arte e o histórico estipula que uma criação humana em determinado espaço e tempo permanece nestes. Ao se pautar a arquitetura no conceito de obra de arte, deve-se observar também duas condicionantes: sua função e seu ambiente. Arquitetura é um campo multidisciplinar de complexidade praticada pelo homem com objetivos específicos que se materializa em sua própria construção em seu uso, e gera uma concepção individual enquanto ambiente interno, e obriga uma outra do local em que se encontra, externamente. Assim, pode-se ter como monumento arquitetônico a criação do homem que tem a finalidade de ser passada ao futuro, e que se insere em um tempo e lugar na memória da sociedade, podendo ser composto por uma edificação ou um conjunto delas. Desta forma, a obra arquitetônica é definida como monumento histórico e ao mesmo tempo como obra de arte, assim se encaixando nos conceitos do fundamento de Brandi.


Isso leva a definir que o restauro arquitetônico não precisa estar necessariamente ligado ao espaço em que se encontra, e que para o restauro de um monumento, o espaço de inserção está vinculado à ele e não deve ser desagregado deste. Sua conservação determina a preservação de seus fatores internos, externos e ambientais. Logo, Brandi defende que o objeto restaurado não retorne para a época de sua concepção, e sim que prossiga levando consigo os vestígios adquiridos com o passar do tempo, respeitando seu passado como sua história, sua vivência, e a sua conformação original, sem destruir sua autenticidade. Estes eixos definem a Teoria do Restauro Crítico, criada por Brandi e amplamente implementada em projetos pelo mundo. Tendo este conceito como base, a abordagem apropriada à ser adotada na intervenção aqui proposta será de resguardo quanto ao Patrimônio, a fim de que não seja comprometida sua unidade, e execução periódica de manutenção da consolidação para prevenir sua degradação. Em contrapartida, seguindo os preceitos de Restauração, ainda que se distanciem fisicamente um do outro, o novo objeto será concebido em linguagem que se contraste nitidamente da pré-existência, enfatizando as peculiaridades do recente e do remoto.

Detalhe de ornamento da fachada da igreja Conventual. Imagem extraída do Livro “A Vila de Santo Antônio de Sá e o Convento de São Boaventura” de Maria Beltrão.


Turismo Histórico-Cultural - inserção do Monumento e do Sítio Arqueológico no Circuito Cultural, possibilitando o acesso controlado de visitantes.

Reverência ao Patrimônio - conservar a hierarquia da paisagem respeitando o marco singular das ruínas sem criar interferências arquitetônicas no nível deste cenário.

Educação Patrimonial - incentivo ao conhecimento patrimonial e sua preciosa história, bem como a necessidade de sua preservação e valorização.

Circuito de observação - criar espaços de exposição da história do lugar, e percurso no eixo das vias da Vila, gerando o encontro do visitante com as ruínas e com as janelas arqueológicas.

Detalhe de alvenaria. Imagem do Livro “A Vila de Santo Antônio de Sá e o Convento de São Boaventura”, Maria Beltrão.

Detalhe da Igreja da Ordem. Imagem do Livro “A Vila de Santo Antônio de Sá e o Convento de São Boaventura”, Maria Beltrão.


Ruínas do Convento e da Torre Sineira – preservação e manutenção dos monumentos com base na teoria de restauro crítico fundamentada por Cesare Brandi, mantendo-o como objeto de contemplação e respeito. Sítio Arqueológico - Sobreposição das camadas da Vila Santo Antônio de Sá com a topografia existente, análise de sondagens do solo para mapeamento de áreas de escavação para que esta seja retomada. Caminhos do passado - Trajetos de passagem por eixos determinantes criados a partir da configuração da vila e da edificação conventual, respeitando as áreas de investigação e escavação no solo. Devido a dimensão e restringibilidade do lugar, estes serão realizados em veículos elétricos.

Volume - implantação da edificação que abrigará os novos usos fora do alcance visual do Patrimônio, com localização afastada e em cota inferior, obedecendo a ordem de importância no panorama, tirando proveito da topografia para incorporá-la parcialmente ao solo, a fim de que se integre à natureza, fazendo assim uso do método de topografia operativa. Espacialidade - setorização em blocos de funções, segmentados de forma simétrica e ordenada, fazendo alusão à composição hierárquica e equilibrada da arquitetura religiosa colonial. Materialidade - utilização de alvenaria autoportante em concreto ciclópico, fechamentos em vidro e elementos em aço corten, evidenciando a contemporaneidade da intervenção para ressaltar a distinção entre o novo e o antigo.


Hall - 100 m² Recepção / Bilheteria - 15 m² Sanitários de Visitantes - 20 m² Sanitários de Funcionários - 20 m² Copa - 5 m² DML - 5 m²

Salão - 150 m² Sanitários de Visitantes - 20 m² Sanitários de Funcionários - 20 m² Sala de Funcionários - 10 m² Cozinha - 10 m² Copa - 5 m² DML - 5 m²

Salão - 130 m² Sanitários de Visitantes - 20 m² Sanitários de Funcionários - 20 m² Sala de Funcionários - 10 m² Caixa - 5 m² Administrativo - 10 m² Cozinha - 15 m² Copa - 5 m² DML - 5 m²

Salas de Exposições - 250 m² Sala multimídia - 50 m²

Sala de administração - 15 m² Sala de controle - 20 m² Sala de descanso - 20 m² Enfermaria - 10 m² Brigada de Incêndio - 5 m² Depósito - 20 m² Sanitários - 20 m² Refeitório - 20 m² Cozinha - 10 m² Copa - 5 m² DML - 5 m²

Salas de Pesquisa - 25 m² Laboratórios - 25 m² Acervo - 50 m² Depósito - 10 m² Administrativo - 10 m² Sanitários - 20 m² Refeitório - 20 m² Cozinha - 10 m² Copa - 5 m² DML - 5 m²


Conveniência

Centro de Interpretação

Visita Guiada

Técnico

Expositivo

Centro de Visitantes

Acolhimento

Legenda: Recorte de Intervenção Sobreposição as Vila Acesso Visitantes Acesso Técnico

Ruínas Convento

Ruínas Torre Sineira

Legenda: Percurso a pé

Recorte de Intervenção

Acesso

Percurso motorizado

Sobreposição da Vila

Percurso a pé

Percurso misto

Acesso Técnico

Percurso motorizado


Tendo como referência a estruturação espacial das Igrejas e Conventos da Ordem Terceira, o partido se caracteriza pela simplicidade e equilíbrio formal utilizando linhas objetivas.

Tomando partido da topografia e da necessidade de camuflar o novo objeto, é adotado o método da topografia operativa, conformando de forma harmônica os volumes em torno do terreno acidentado.

Com o objetivo de manter garantir maior acessibilidade e trajetos no mesmo nível, comportar todos os ambientes do programa e atender as necessidades de privacidade de cada uso, o objeto foi compartimentado em blocos onde cada um abrigará uma especificidade do projeto.

A disposição dos objetos permite a criação de nichos entre eles, gerando novos ambientes de permanência e possibilitando a integração dos blocos.


N

0

100

O estudo mostrado a partir deste ponto compõe a representação simplificada da aplicação dos conceitos e entendimentos obtidos ao longo desta fundamentação. É importante frisar que se trata da constituição de volumes a fim de se ter compreensão da espacialidade, não contemplando o modelo nesta fase inicial detalhes construtivos, soluções técnicas, exatidão de dimensionamentos e especificidades de materiais.

200

Vista aérea em 3d do recorte com sobreposição da Vila.

Perspectiva aproximada das Ruínas em 3d.


A configuração existente é composta por uma via traçada por cima do sítio arqueológico que liga a Estrada de acesso às ruínas do Convento.


Desativação da via

Blocos do Centro de Interpretação

Novo acesso

A configuração proposta extingue a via de ligação existente, tomando o local para demarcação do sítio, abertura de janelas arqueológicas e implementação do traçado para a rota de visita guiada. É criado um acesso no talude em que são implantados os blocos do Centro de Interpretação, estes se conformando à topografia.


Demonstração das atividades e funções que serão alocadas nos blocos do Centro de Interpretação. A lógica da configuração respeita a necessidade de privacidade de cada setor, porém será estabelecida conexão entre o bloco técnico e o expositivo, a fim de facilitar o acesso logístico entre eles.

N

Legenda: Centro de Visitantes Conveniência Expositivo Técnico Administrativo

0

Perspectiva demostrando setorização.

50

100 m

Setorização em Planta .


Perspectiva axonométrica demostrando setorização.


Corte perspectivado demonstrando a espacialidade proposta na edificação através da relação entre o usuário e o ambiente.


Perspectiva da cobertura do Cento de Interpretação com as ruínas ao fundo.


Não caberia propor a recomposição de suas funções originais, todavia a inquestionável essência do espaço o faz manifestar-se por si só. Como uma homenagem e demonstrando profundo respeito por todo o sofrimento vivido neste lugar, sutilmente serão inseridos uma Cruz e alguns pequenos assentos no interior das ruínas da Igreja da Ordem Terceira, concebendo um momento de aproximação religiosa e de silenciamento mental, dando ao visitante a oportunidade de refletir sobre o que ali foi vivenciado e sobre o propósito desta intervenção. Estes elementos serão confeccionados com a mesma linguagem e materiais do Centro de Interpretação, para que se diferenciem da pré-existência.

Interior das ruínas da Igreja da Ordem com a intervenção.

Intervenção pontual nas ruínas.


Perspectiva com vista para a fachada das ruínas demonstrando a intervenção pontual no interior da Igreja da Ordem Terceira.


A necessidade de resgatar a história deste fascinante lugar parado no tempo, ainda que lamentável sob muitos aspectos, é vital para o conhecimento profundo das raízes culturais dos habitantes. Muito além de reverenciar o conjunto arquitetônico como um excepcional exemplar, o olhar de admiração e respeito ultrapassa o físico e se transforma em tributo aos homens e mulheres que vivenciaram estes ambientes, aos índios, escravos e aos religiosos que tiveram a intenção de ajudar a construir um novo mundo. O Centro de Interpretação se objetiva a proporcionar ao usuário a experiência de vivenciar estes espaços, o vazio entre eles, observar o que restou de uma comunidade a fim de que se possa experimentar as sensações provocadas neste local, pois é disso que a arquitetura trata: a troca entre o usuário e o espaço, os sentimentos e reações causados pela atmosfera transmitida na ambiência de um recinto, sendo este edificado ou não, contemporâneo ou antigo, em seu estado original ou em ruínas.


Vista das ruĂ­nas do Convento no interior da Torre Sineira. Autor desconhecido.













Tabelas elaboradas pela equipe técnica de revisão do Plano /diretor do município de Itaboraí. Dados: SEMMAURB e SEMCELT.


Arquivos físicos:

Iphan: Processo de Tombamento 690-T-63: Ruínas do Convento de São Boaventura de Macacú, Itaboraí-RJ. Pastas de Inventários: RJ 127-02-01,02 / RJ 127-03-01 ,03 / RJ 196-03-03 / RJ 197-01-01 / RJ 197-03-02 BELTRÃO, Maria. A Vila de Santo Antônio de Sá e o Convento de São Boaventura. Arqueologia, memória e patrimônio. 1ª ed. 2013. Arquivos Digitais: GUIMARAENS, C. et alli. Estudos para projetos de consolidação das Ruínas do convento de São Boaventura. Rio de Janeiro: PROARQ, 2003. GUZZO, A. M. O convento de São Boaventura de Macacu na arquitetura franciscana brasileira. 1999. Rio de Janeiro: PROARQ – FAU / UFRJ.

Dissertação de mestrado FERNANDES DA SILVA, C. O Convento de São Boaventura de Macacu. Roma; Universidade de Roma, 1986. Tese de laurea COSTA, Gilciano Menezes (2013). Dissertação de Mestrado. A escravidão em Itaboraí: uma vivência às margens do rio Macacú. (1833 - 1875).

Universidade Federal Fluminense. NOGUEIRA, Viviany Barreto. A peregrinação em Porto das Caixas: o espaço sagrado modelando a dinâmica na paisagem/ Viviany Barreto Nogueira. – Rio de Janeiro: UFRJ/FAU, 2009 .


ITADADOS 2018, 2ª etapa da revisão do Plano Diretor de Itaboraí. SEMMAURB.

FUNDREM. Inventário dos bens culturais do Município de Itaboraí. 1982. MARIA COSTA RIBEIRO, Rosa . O Convento de São Boaventura de Macacu e a Vila de Santo Antônio de Sá – história e arquitetura. AMANTINO, Marcia. MAIA CARDOSO, Vinicius. A fazenda jesuítica da Papucaia, Rio de Janeiro século XVIII. 2013. RIBEIRO, Maria de Fátima Bento, MELO, Alan Dutra de. Centro de Interpretação do Pampa – Jaguarão RS. Pg. 286 a 303. Publicado in: Espaços culturais e turísticos em países lusófonos: Cultura e Turismo. Luiz Manuel Gazzaneo, organizador. -Rio de Janeiro: UFRJ/FAU/PROARQ 2011.

CABRAL, Diogo de Carvalho. Homens e árvores no ecúmeno colonial—Uma história ambiental da indústria madeireira na bacia do Macacú, Rio de Janeiro, 1763-1825. Dissertação de Mestrado em História Social. Rio de Janeiro: UFRJ, 2007. MAIA, Thalita de Moura Santos. Terras e poderes: redes de solidariedade, conflitos e os domínios territoriais da Câmara do Rio de Janeiro entre 1700

e 1763 . Dissertação de Mestrado em História. Rio de Janeiro: UFRJ, 2012. Consumo e abastecimento de água nas bacias hidrográficas dos rios Guapi-Macacú e Caceribu, RJ / Zina Cáceres Benavides. - Dados eletrônicos. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2009. BARBOZA, Maria José. A Companhia de Jesus e os índios na capitania do Rio de Janeiro. Séculos XVI, XVII e XVIII: As Fazendas de Santa Cruz e Macacú. Pesquisa de Iniciação Científica iniciada em 2008. Departamento de História. Rio de Janeiro: PUC, 2009. FERNANDES, Eunícia B. B. Os jesuítas, os índios e a capitania do Rio de Janeiro: usos e sentidos do espaço Anais do XXVI Simpósio Nacional de História—ANPUH. São Paulo, julho de 2011.

Ruínas do Convento de São Boaventura, 1963. Arquivo Geral Iphan RJ.


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http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1652/


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Vídeos: Convento São Boaventura, uma herança cultural preservada pela Petrobras - https://www.youtube.com/watch?v=SlRWWwVvsnM Filmagem aérea das Ruínas do Convento de São Boaventura - Secretaria de Cultura e Turismo de Itaboraí Disponível em: https://www.facebook.com/102843284457127/videos/1024658904555895/?__tn__=%2Cd%2CPR&eid=ARCFa0qWqjZF1zhlriHfnetpqtZj0ivhdj6TNnF7xBG4YihJdDlKCWjo0TmWP8Qyx9sSvfPK8Ks5M8D4

Ruínas do Convento de São Boaventura, 1963. Arquivo Geral Iphan RJ.


Ruínas do Convento de São Boaventura após a consolidação. Foto: FAMACRUZ



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