PARA TODAS NÓS
HISTÓRIAS DE MULHERES PARA MULHERES
PARA TODAS NÓS
HISTÓRIAS DE MULHERES PARA MULHERES
PARA TODAS NÓS
HISTÓRIAS DE MULHERES PARA MULHERES
Organização de
Anna Katharine Alves Carolina Trifílio Rafaela Marques
Copyright do texto: © 2020 por Anna Katharine Alves, Carolina Trifilio e Rafaela Marques Copyright das ilustrações: © 2020 por Rafaela Marques Todos os direitos reservados, incluindo o direito de reprodução no todo ou em parte, em quaisquer meios. Narrativas Baseadas em histórias reais. Preparação
Anna Katharine Alves Carolina Trifílio Rafaela Marques Ilustrações
Rafaela Marques Capa
Anna Katharine Alves Carolina Trifílio Diagramação
Anna Katharine Alves Carolina Trifílio
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
X123X Para todas nós: histórias de mulheres para mulheres/ Texto Anna Katharine Alves, Caroline Trifílio, Rafaela Marques; Ilustração Rafaela Marques - 1. Ed. Rio de Janeiro: Quintal Edições, 2020. ISBN 978-85-8057-111-1 Literatura brasileira. I. Alves, Anna. II. Trifílio, Carolina. III. Marques, Rafaela. IV. Título. 10-12345 CDD: 012.3 CDU: 098.7
Todos os direitos dessa edição reservados à Editora Quintal Edições LTDA. R. João Junqueira, 120 - Santo Antônio 30350-270 - Belo Horizonte - MG Tel.: (31) 3525-7400 contato@quintaledicoes.com.br
Esse livro foi escrito por trĂŞs mulheres, estudantes de design da PUC-Rio e ĂŠ dedicado a todas as mulheres.
Agradecimentos Este livro se originou na disciplina Projeto Avançado - Produção e Distribuição do curso de Design de Comunicação Visual da PUC-Rio, três alunas se reuniram para criar um projeto editorial visando retratar o tema corporeidade feminina e contar a história de diversas mulheres em perspectivas diferentes sobre suas vivências acerca do assunto. Agradecemos à todas as mulheres que contaram suas histórias e nos permitiram recontá-las, nos possibilitando acreditar na viabilidade desse projeto editorial. Agradecemos aos nossos professores Cláudio Werneck,Izabel Oliveira, Luiz Ludwig e Roberta Portas, que orientaram o processo de desenvolvimento e produção do projeto. Esse livro é dedicado a todas as mulheres, que assim como nós, vivem na intensa e incessante luta contra os preconceitos que nos cercam, todas nós somos fortes e graças a isso estamos aqui hoje para contar nossas histórias e ouvir as das nossas companheiras, obrigada por terem nos inspirado e nos encorajado a criar esse livro.
Você deve ser nova aqui, então é melhor a gente te situar. Esse é um livro que vai contar a história de diversas mulheres, que assim como você entram em confronto com as dificuldades de ser mulher. Em nosso dia a dia, somos julgadas por nossas roupas, nosso jeito e aparência, somos praticamente julgadas por sermos quem nós somos. Nós sabemos o quanto é difícil passar por tudo isso e entender o que está acontecendo, por isso, decidimos reunir histórias de diversas mulheres e contá-las para você e pedimos que você nos conte um pouco da sua também. Esse livro é dividido em seções de leitura, onde você vai conhecer um pouco sobre cada uma das mulheres que nos contou suas experiências vividas e seções de atividades, onde sugerimos diversos modos de externalizar e contar toda a sua história, porque afinal, não há nada mais intenso e esclarecedor do que narrar a sua própria história. Bora lá?
assĂŠdio
Mônica Sabe aqueles dias bem bonitos, que você acorda olha pela janela e a primeira coisa vem na cabeça é a praia, matte, biscoito o globo e os amigos. Foi assim que começou meu dia, no início da adolescência com meus 13 anos, indo pra praia com os meus amigos da escola. Com um short, uma blusa do Bob Esponja e assim estava eu indo ao encontro dos meus amigos na porta do colégio, quando caminhando pela rua um grupo de homens mexeram comigo. Foi um desconforto imenso. Isso deve ter acontecido a uns 10 anos atras e eu sempre me pergunto, os hábitos não mudam né? Porque os homens são assim? Porque isso continua acontecendo, mesmo se passando tanto tempo e onde se esperava que as pessoas fossem mais evoluídas.
por que isso continua acontecendo conosco?
Gabriela Quando eu era magra, lá na minha adolescência e isso já tem um tempo rs, eu tinha um corpo lindo, descendo do ônibus um rapaz tentou passar a mão em mim, isso tudo porque eu estava com um vestido curto, não que isso fosse motivo óbvio, até porque o curto pra ele ou alguém não é pra mim. Eu dei um berro tão grande que todos do ônibus ficaram atentos e alguns vieram falar comigo pra saber se estava tudo bem. foi minha roupa que provocou isso? não, ele não tinha o direito
JULIANA Sabe aquelas festinhas de adolescente? A Famosa social, estava eu em uma com meus amigos, essas festas costumam ter bastante bebida alcoólica e por esse motivo um cara achou que tinha o direito de passar a mão na minha bunda, e eu tava bem na frente do segurança e o cara não fez.... nada.
beber e me divertir não dá o direito de alguém me assediar
VocĂŞ nĂŁo precisa carregar tudo sozinha
e t i e p s e R osso on o p r o c MARIANA Quando eu era magra, lá na minha adolescência e isso já tem um tempo rs, eu tinha um corpo lindo, descendo do ônibus um rapaz tentou passar a mão em mim, isso tudo porque eu estava com um vestido curto, não que isso fosse motivo óbvio, até porque o curto pra ele ou pra alguém não é pra mim. Eu dei um berro tão grande que todos do ônibus ficaram atentos e alguns vieram falar comigo pra saber se estava tudo bem. fiquei um pouco aliviada ao receber ajuda de pessoas que estavam no ônibus
Bruna Eu amava ir pras festinhas de faculdade um dia voltando de carona (não pegue carona com pessoas que beberam, mesmo que sejam seus amigos), o motorista fez uma manobra meio brusca e eu me assustei e a minha reação foi segurar no braço de um dos meninos que estava do meu lado, logo depois ele colocou a mão na minha coxa e foi descendo em direção a minha vagina, eu gritei um não na hora, depois ele veio me pedir desculpa por mensagem e acabei deixando passar. Eu e esse menino tínhamos ficado uma vez, pra nunca mais, foi horrível, toda vez que a gente saia com os mesmo grupo de amigos ele insistia eu dizia não e ele me questionava. Eu cheguei a falar com os outros meninos que eram mais próximos dele pra darem um toque nele, porque tava super desagradável, contei a história do carro e a insistência em si. Depois disso os amigos foram conversar com ele, e logo ele apareceu me chamando de maluca falando que eu precisava de um psiquiatra, que estava inventando coisa, que nunca tinha assediado nenhuma mulher e continuou falando e por fim ainda apagou os áudios do pedido de desculpas do dia da festa.
"você é maluca!" não tente me invalidar Nessas horas que você sente na pele, que por mais que você esteja certa os homens sempre vão querem ter por como errada.
O CORPO DA MULHER SÓ A ELA PERTENCE
bota pra fora As personagens tiveram diversos pensamentos e questionamentos ao passarem por essas situações. Convido você a escrever seus próprios pensamentos e questionamentos ao ler essas histórias. Se já viveu alguma situação de assédio como você se sentiu?
bullYing
bulling
Luisa Estudava em um colégio tradicional, daqueles com saia plissada e meia alta. Eu me sentia péssima nessa roupa, enquanto todas as meninas ficavam lindas naquela roupa eu me sentia um botijão de gás. Quando eu estava na 3ª série eu ganhei até uma música, e não ache que essa parte da história vai ser legal, “Sou um panda/Olhe bem pra minha pança/Gosto muito de comer”. Eu escutava isso toda vez que entrava na sala, além dessa bela música, existia uma sequência de apelidos pra acompanhar. E aquelas que eu achava que eram `minhas amigas` também estavam nessa. hoje eu percebo que ficava sim bonita naquele uniforme
E assim a minha autoestima foi por água abaixo. Ah não ache que eu resolvi esse problema não tá? Ainda tem muito chão pela frente… aos poucos eu vou conseguindo reconstruir minha autoestima
Amélia No início da pré adolescência, os meninos da sala faziam uma votação com as categorias: a mais bonita, a mais gostosa e a mais ridícula e adivinhem só, eu sempre caia na última categoria e não foi uma única só vez. Qualquer oportunidade que eles tinham de me humilhar e jogar na minha cara o quanto eu não me encaixava nos padrões (branca, magra e de traços faciais brancos) que o restante da maioria das meninas ali pertenciam, eles aproveitavam. Conforme eu fui crescendo, me conhecendo e conquistando coisas de forma geral, eu aprendi que eu sou muito mais que um rosto ou corpo bonito e que a beleza real vem de dentro para fora.
se ame, não viva pelo o que os outros falam, o que importa é você se conhecer.
Se amar inspira outras mulheres a se amarem
Sofia Na época da escola eu era gordinha e sofria bullying por não ter o padrão estabelecido na escola. Chegou no ensino médio e eu fui emagrecendo, mudei minha alimentação, comecei a fazer treinos regados e tudo mais. E com isso eu fui muito criticada por meninas que eu achava que fossem minhas amigas, eram críticas do tipo: “nossa, você tá muito magra” “tem que comer” “não tá bonito” “tá magra demais” e eram as mesmas que reclamavam que eu estava acima do peso e precisava emagrecer. eu gostaria que minhas amigas não tivessem julgado a minha aparência
bota pra fora Depois de conhecer a história de tantas mulheres, percebemos que nós não estamos sozinhas, inspire alguma outra mulher, dê forças para que ela possa se motivar e também ser a inspiração para outras mulheres. Escreva uma mensagem para alguma mulher que esteja presente na sua vida e mande essa mensagem para ela.
SEXUALIDADE
o Meu corpo ĂŠ a minha histĂłria
Maria Com o tempo e as coisas que fui vivendo, descobri que era bissexual. Não recebia atenção dos meninos da escola, pelo meu peso, minha aparência e ainda tenho dúvidas como alguém pode se interessar por mim. Quando chegou o ensino médio a situação só piorou, no auge em que todas se arrumam, tiram fotos e tudo mais e como eu ia lidar com isso, sendo feia e gorda?
é um saco ter que lidar com todas as qualidades que os garotos exigem em uma garota.
Corpo é só
Yasmim Chegou a faculdade e a vida deu um up, mais só por um tempo. As preocupações vieram e o peso também. A vergonha aumenta, os medos entram e assim vou me isolando, sem sair, ir a praia e deixo de fazer coisas comuns pra uma garota da minha idade. E quando eu paro e penso sobre o passado, vejo que na época da escola, eu era magra e que eu sempre fui bonita e eu deveria me ver dessa maneira hoje. Tento me enxergar e me tornar hoje como a menina da época do ensino médio, que eu odiava e hoje eu vejo o quanto ela era bonita. isso afetou a forma que eu me relacionava com as pessoas, não conseguia me sentir confiante para entrar em um relacionamento.
corpo
bota pra fora Escreva uma carta para si, seu eu atual, se olhe no espelho para se sentir inspirada, olhe dentro dos seus olhos e conte na carta o que essa mulher estรก dizendo e o que ela gostaria de ouvir.
aceitação
Juliana Existem vários tipos de pessoas, aquelas que se acham maravilhosas, aquelas que acham que sempre tem algo pra melhorar ou algo que não se identificam e aquelas que não gostam de nada em si. Bom, eu faço parte do grupo do meio, que gosta de umas e de outras coisas, e essa parte do corpo que e não curto em mim são os seios, eles sempre foram um obstáculo pra mim, nunca achei eles desenvolvidos o suficientes, sempre tive dificuldade em achar algo que sirva em mim e eu me sinta bem. Ah tem mais uma coisinha rs, por muito tempo eu não conseguia ficar nua na frente de ninguém, e não ache que esse ninguém é um namoradinho, uma amiga. Esse ninguém era minha própria mãe. não encontrar nas lojas peças que fiquem boas em mim influência na percepção negativa que eu tenho do meu corpo.
Mônica Eu acho que descobri de onde veio essa minha insegurança, com uns 16 anos quando eu tinha um namoradinho, vi que ele tinha feito um comentário no twitter `todo mundo sabe que você é despeitada`, isso foi logo depois que postei pela primeira vez uma foto de biquíni. Depois disso, essas situações que te contei aí em cima passaram a acontecer e até hoje eu tenho problemas de usa biquíni em público.
Refletir é se
Andreia Bom, acho que como de muitas aqui a relação com meu corpo foi difícil quase a minha vida toda. Já tive altos e baixos, principalmente durante a pré adolescência e adolescência, mas hoje em dia aprendi que tá tudo bem não estar sempre no padrão estabelecido pela sociedade. Quando eu tava na pré adolescência eu era gordinha e emagreci muito no início da adolescência, principalmente no segundo/ terceiro ano do ensino médio que foi quando eu comecei a me cuidar em relação à saúde, alimentação saudável e exercícios físicos, além óbvio do mais comum de todos os estresses, o do ano do vestibular. Já `adulta` com os meus 20 anos engordei bastante por causa de estresse e ansiedade. Hoje em dia eu consigo aceitar meu corpo do jeito que ele é, e ao invés de ficarmos sofrendo com o nosso corpo, podemos buscar ajuda, apoio seja médico ou de amigos para conseguir melhorar.
cuidar
Luiza Hoje em dia eu estou fora do peso que eu considero ideal, já briguei muito com a balança. Agora já me acostumei com ele e procuro me sentir da melhor forma possível. Eu adoro passear no shopping e sempre que quero comprar algo é um sofrimento, a maioria das lojas não tem o meu tamanho, que seria um GG normal, é constrangedor você entrar no provador e sair sem nada e é visível que as pessoas ficam te olhando meio estranho.
Sofia Sabe aquelas pessoas chatas, que adoram dar pitaco na nossa vida? Pois bem, esbarro com elas sempre, várias vezes recebia comentários que não me agradaram muito. Muita gente já falou da minha postura (pessoas que não são ortopedistas, fisioterapeutas e afins) tentando corrigi-la etc. Mas o negócio é que sim, minha postura poderia ser melhor, mas não interfere muito no meu corpo. Já falaram que as minhas pernas são muito finas, que parecem que vão quebrar, que são esquisitas e tal. Ou que meu pescoço é muito pra frente etc. Normalmente essas coisas aconteciam no colégio, pelas meninas e mais ainda pelos meninos.
Patricia Eu comecei a engordar, como eu era bem magra foi mais fácil das pessoas perceberem. Meu companheiro, sempre falava que eu estava engordando e que pelanca não cortava. Com esses comentários maravilhosos dele, eu deixei de ir á praia e tenho vergonha até hoje. Eu sou aquele tipo sanfona, emagreço e engordo o dobro, hoje eu estou mais gorda do no início da história. os comentários de quem eu confiava deixaram marcas profundas na minha autoestima
Você é incrível, tenha orgulho de quem você é
Rafaela A relação que eu tenho com meu corpo é péssima, não gosto nem um pouco de como ele é e me sinto frustrada porque não importa quanto eu tente ele não muda. Quando eu paro pra olhar pra trás eu consigo perceber o quanto eu era linda. o meu corpo era perfeito e eu odiava. E aí que me surge a dúvida: se hoje eu não gosto do meu corpo, será que mais pra frente eu vou gostar de como ele era?
NĂŁo se nasce mulher, torna-se
bota pra fora Faça um auto retrato destacando as partes que você mais gosta em você fisicamente. O auto retrato é livre você pode usar qualquer material que lhe for conveniente.
Movimento #BotaPraFora Nas redes sociais iniciamos o movimento #BotaPraFora onde convidamos as mulheres a contarem suas experiências como mulheres em uma sociedade que é severa conosco. Esperamos que vocês interajam entre si, pois conhecendo umas às outras passamos a criar empatia pelo o que é diferente da nossa realidade e nos reconhecemos no que é parecido. A rede de confiança e parceria que gostaríamos de criar vai além da publicação editorial e segue nas vidas de quem a conhece.
"Hoje a relação com meu corpo é bem melhor do que era há um, dois anos. Desde que me entendo por gente, não tive uma relação muito boa com o meu corpo. Alguns momentos eram piores do que outros, eu comecei a me privar de fazer muitas coisas e passei a usar muitas roupas por causa dessa relação conturbada comigo. Não conseguia me olhar no espelho e ter carinho por esse corpo que me acompanhou por tudo o que já vivi. Mas, hoje eu e ele estamos em trégua, tô aprendendo a apreciar tudo que considerava defeitos e a vida é bem melhor e mais leve assim.Acho que comecei a me sentir melhor com ele conforme fui crescendo, tendo outras inspirações além das que aparecem na televisão, procurando mais sobre o assunto de auto aceitação e etc."