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ANATOMIA APLICADA À DANÇA MÓDULO I
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_INTRODUÇÃO O curso de Anatomia Aplicada à Dança tem como objetivo abordar de forma simples e dirigida o funcionamento do corpo e sua relação com a dança. Conhecer a anatomia, a função dos músculos e articulações irá aumentar a sua consciência corporal, o controle sobre o movimento, tornando sua dança mais leve, natural e segura. Para os professores, o curso irá ajudar a reconhecer os limites e características individuais de cada aluno e assim orientá-los e prepará-los melhor para a dança. Falaremos sobre a parte óssea, incluindo as principais articulações e seus movimentos. E sobre os músculos, localização, ação e relevância para a dança.
A dança exige uma interação completa entre a ciência do movimento e a arte da dança. No passado, essa interação acontecia em um nível inconsciente e empírico. No entanto, quando o bailarino tem acesso a informações especificas sobre a estrutura e função do corpo essa integração pode se tornar consciente.’ Sally Fitt
MÓDULO I
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_SISTEMA ÓSSEO O esqueleto é composto por 206 ossos que juntos exercem a função de: • Sustentação do corpo • Fixação para os músculos • Formam uma caixa protetora de órgãos nobres como coração, cérebro e medula espinhal. Mas a característica que mais nos interessa é a mobilidade, que é garantida pela presença das articulações. O esqueleto provém o potencial para o movimento, mas é o sistema muscular que irá gerar a força para movê-lo.
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Os ossos são estruturas rígidas, mas que ainda assim tem grande capacidade de absorver as cargas impostas ao corpo, como nos saltos. Quando essa carga não é corretamente distribuída ou absorvida pelos ossos deformações podem ocorrer com o tempo. Por isso é tão importante um trabalho seguro e bem orientado, principalmente na infância, aonde os ossos estão em franco crescimento e podem sofrer ainda mais com os trabalhos mal orientados. A formação de joanetes, por exemplo, no uso precoce dos sapatos de ponta, por alunas que ainda não tem conhecimento suficiente da técnica, controle dos movimentos do corpo ou musculatura suficientemente desenvolvida. _AS ARTICULAÇÕES As articulações são a junção entre dois ou mais ossos que permitem o movimento. O tipo de movimento e a amplitude, são determinados pelo formato dos ossos que compõe a articulação e o tipo de encaixe que elas formam. As articulações do ombro e do quadril, por exemplo, podem realizar três tipos de movimento: flexão e extensão; rotação interna e rotação externa e adução e abdução. Já as articulações do joelho e cotovelo podem realizar apenas um tipo de movimento, o de flexão e extensão. Os ossos não podem ter sua estrutura amplamente modificada ao ponto de mudar completamente as características de uma articulação. Porém quando a criança inicia o ballet desde cedo, alguns movimentos podem direcionar o crescimento dos ossos, tornando-os mais apropriados para a atividade. Mas é importante estar ciente que mudanças estruturais completas são impossíveis, haverá sempre uma relação com suas características de nascença. Por exemplo, se a criança desde cedo faz sapinho nas aulas de ballet, ou se ela começa cedo a fazer as extensões para os Cambrées certamente ela terá articulações mais favoráveis para esses movimentos do que se ela começasse com 16 anos.
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Cada articulação tem uma amplitude de movimento padrão média (arco de movimento), que pode com o trabalho ser aumentada, como fazem os bailarinos, que buscam sempre aumentar o arco de movimento através dos exercícios de alongamento. O Movimento de uma articulação será sempre limitado de alguma forma: pode ser um limite ósseo, muscular, ligamentar, ou uma combinação dos três. Desses limitadores, o ósseo é aquele que dificilmente venceremos. A amplitude de movimento de uma articulação irá variar de um indivíduo para o outro. É aquela famosa pergunta: Porque a minha perna não sobe? Podemos observar que algumas pessoas são mais “móveis” enquanto outras mais “presas”. Dependendo do formato dos ossos da articulação da perna ela terá maior amplitude ou não. Mas essa será uma característica que vem de nascença. Apesar dos bailarinos frequentemente questionarem a limitação dos movimentos, existe uma grande razão para elas estarem aqui: ficarmos de pé. Articulações envolvidas com a sustentação do corpo em pé tem menor amplitude de movimento comparando com outras que não são usadas para apoio, como o braço, por exemplo. Entender a relação mobilidade x estabilidade é muito importante, pois quanto maior a mobilidade de uma articulação, menor será sua estabilidade. E essa é a grande busca dos bailarinos, ter uma grande mobilidade, mas ainda assim conseguir manter as articulações estáveis. E para isso ele irá precisar de um excelente tônus muscular. É importante lembrar que todo esse arco de movimento de uma articulação depende de uma força para move-la. Os músculos desempenham esse papel. Então nem sempre quando o bailarino não levanta uma perna bem alto quer dizer que há falta de movimento articular. O problema dele pode estar na falta de força muscular. Sabendo avaliar essa situação, o bailarino ou o professor poderá direcionar melhor a aula.
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_COMPONENTES ARTICULARES As articulações funcionam como sistemas e cada componente tem uma função importante. Certamente já ouviram falar deles, mas agora saberemos a sua atuação: • Ligamentos: os ligamentos são formados por um tecido fibroso, resistente, não elástico que liga os ossos que formam aquela articulação, mantendo-os conectados e principalmente delimitando o sentido e a amplitude de movimento permitida. Os ligamentos são muito importantes pois garantem a estabilidade de uma articulação. Os bailarinos por estarem sempre em busca de mais amplitude muscular nas articulações seus ligamentos tendem a se desenvolver um pouco mais permissivos, o que não há grande problema contanto que ele tenha uma excelente musculatura para garantir a estabilidade da articulação. Já quando esse tônus não é tão bom ele poderá ter problemas articulares. • Cartilagem articular: as superfícies articulares são revestidas por uma cartilagem branca que tem como objetivo principal proteger a superfície do osso para que ele não se desgaste com o movimento. Porém atividades de movimento repetido e alto impacto como a dança, podem acelerar o desgaste dessa cartilagem, que tem baixa capacidade de regeneração. Dançar em um bom solo, ter boas técnicas de amortecimento, bons pliés por exemplo, podem reduzir esse risco. Outros componentes articulares são: capsula articular, membrana sinovial, liquido sinovial e Bursa.
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_MOVIMENTOS ARTICULARES Cada tipo de articulação tem predeterminados o número e os tipos de movimentos padrão que pode realizar. O que vai variar de uma pessoa para a outra é a amplitude (arco de movimento) que essa articulação pode realizar.
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Os principais movimentos são: Tabela 1. Tipos de movimentos
Nome do movimento
Descrição
Exemplos
Extensão
Quando há diminuição do angulo articular, quando “dobramos” ou “fechamos” uma articulação. Quando há aumento do ângulo articular, ou quando “esticamos” a articulação.
O plié é uma flexão dos joelhos, por exemplo. O grand battement devant uma flexão da articulação do quadril. O retorno de um plié é uma extensão.
Adução
Quando o segmento se aproxima do Para fecharmos quinta posição nossas centro do corpo. pernas estão em adução.
Flexão
Abdução
Rotação Interna Rotação Externa
Quando o segmento se afasta do centro Em um tendu a la second há uma do corpo. abdução na articulação do quadril, ou quando estamos com os braços na segunda posição, temos uma abdução dos braços. Quando uma parte do corpo gira em Quando rodamos os pés para dentro direção ao meio do corpo. temos uma rotação interna dos quadris. Quando uma parte do corpo gira na O en Dehors, por exemplo, aonde direção oposta ao meio do corpo. as coxas estão voltadas para fora realizando uma rotação externa da articulação do quadril.
• Deslizamento: algumas articulações não têm grande quantidade de movimento, os ossos apenas deslizam entre si, se acomodam. Geralmente são articulações que complementam, através do deslizamento, o movimento de outras articulações que estão ao redor. Como por exemplo os ossos do pé, conhecidos por ossos do tarso, que ao deslizarem entre si complementam a curva feita principalmente pela articulação do tornozelo quando esticamos o pé.