Identidade, Patrimônio e Memória: Favela do Boqueirão

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Identidade, Patrimônio e Memória:

FAVELA DO BOQUEIRÃO 1


Imagem 0 | Cartaz sobre o fechamento da rua. Fonte: Acervo da autora


Caroline Yukie Narisawa

Identidade, Patrimônio e Memória:

FAVELA DO BOQUEIRÃO Trabalho de Conclusão de Curso desenvolvido no Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Senac sob a orientação do Prof. Ms. Ralf José Castanheira Flôres.

São Paulo 2018


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Agradeço à Deus.. Aos meus pais, e amigos que deram o suporte necessário para chegar até aqui. À toda a favela do Boqueirão. Ao Rudinei e à dona Didi. Ao meu orientador, que desde o primeiro semestre me provocou à querer ir além do que me achava capaz. Dedico à todos os moradores da favela do Boqueirão


RESUMO A demanda de uma inclusão social no universo patrimonial é expressiva e neste trabalho a fotografia viabiliza falar de um espaço socialmente desvalorizado e provocar a imersão do leitor dentro da cidade informal, a qual possui tanto valor cultural, social, identitário e patrimonial quanto a cidade formal. Aborda-se o espaço da favela do Boqueirão (SP), sob o aspecto de um bem cultural para a cidade, através da linguagem iconográfica com a criação de um álbum de fotografias que narra o cotidiano.

Palavras-chave: Favela, documentação, cidade informal

Foto


Memória, festa, casa, rua, família, vida armavam um campo único de significados.” (SANTOS, 1984)


SUMĂ RIO

ANEXOS A. Entrevista com Rudinei Borges B. Entrevista com Dona Didi

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10 INTRODUÇÃO 12 IDENTIDADE E MEMÓRIA DA AUTORA 24 DINÂMICAS DO ESPAÇO 2.1 Patrimônio, memória, cultura, hábitos, cidade 2.2 Segregação, conflito: Cidade informal e cidade formal 30 A FAVELA DO BOQUEIRÃO história, cotidiano e práticas 38 ESTUDOS DE CASO na fotografia, no audiovisual e na arte cênica 48 A IMAGEM DA FAVELA DO BOQUEIRÃO representação do cotidiano na favela e memorial descritivo 54 CONSIDERAÇÕES FINAIS 58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA


Quando se fala sobre patrimônio em arquitetura e urbanismo, muitos de imediato pensam em antigos edifícios, algum estilo específico que os caracterize, uma manifestação cultural conhecida e identificável ou cidades turísticas que são tombadas como patrimônio. “Barroco!” “Não, neoclássico!” “Ah, esse é ArtNouveu!” Era o que dizíamos, visitantes e estudantes de arquitetura e urbanismo, enquanto andávamos pelas ruas de Belo Horizonte. Também nos encantávamos por andar pela primeira vez em Paranapiacaba – a cidade conhecida como patrimônio da Humanidade – para realizar uma oficina que abordava patrimônio e memória. Todavia, subindo morros, tropeçando em pedras, criávamos memórias além. Em todas essas experiências me pergunto sempre o que foi feito da vida de quem um dia ali habitou, por ali passou, ali viveu, ali trabalhou. O que sobrou? Matéria? Sim, também, mas memórias de um cotidiano. Então, obrigo-me a ver que patrimônio não é o somente o que já foi, mas o que é e ainda será. Assim, dinâmica, a cidade se transforma a cada instante, e quem (e como) é que dita o que permanecerá? Falarei sobre, mas não procuro responder essa questão neste trabalho. Muitos livros e teorias já o fazem. Instigo-me a olhar para o cotidiano, para a vida e a convivência dentro da cidade, o valor que isso adita a cada lugar. Entretanto, além de olhar é preciso mostrar. 10


Se muito vale o já feito, mais vale o que será... (NASCIMENTO, 1978)

E porque não mostrar um recorte pouco valorizado pela sociedade? Por isso escolhi a favela do Boqueirão, que se insere dentro do quadrante Sudoeste da cidade, considerado uma região privilegiada, para reafirmar a segregação urbana existente e expor a necessidade da inclusão social no universo patrimonial. Ao longo do curso fiz trabalhos sobre o desenho da cidade em que pensávamos tecnicamente o que seria melhor para determinada área, remover a favela para construir habitação parecia fácil olhando para os mapas, mas raramente pensamos sensivelmente na história do lugar e na possibilidade de fazer dela a essência do nosso gesto de projeto. Percebi minha própria deficiência em lembrar que dentro do mapa há trabalho, há memória, há vida. Sendo assim pretendo identificar e reconhecer relatos dos moradores, fotos da memória do lugar, experiências vivenciadas, minhas (como investigadora), e dos moradores como etapas e meios fundamentais para o processo de desenvolvimento deste trabalho. Veremos a importância da fotografia documental, não como um simples registro da história formal ou oral. Mas a fotografia como narradora do espaço. 11


CAPร TULO 1

Identidade e Memรณria Da Autora


Imagem 1 | Autora na Casa Modernista, por Sophia Silva Fonte: Acervo da autora

Neste capítulo exponho alguns trabalhos de disciplinas diversas que auxiliam a entender minha motivação em escolher o tema deste trabalho de conclusão de curso (TCC). Todas as disciplinas e atividades extracurriculares foram fundamentais em minha formação, porém, há aquelas que nos identificamos e determinam um caminho a seguir. Os objetivos vão desde entender os espaços de atuação profissional do Arquiteto, o que é patrimônio, até reflexões acerca de identidade na contemporaneidade. Não poderia falar de Patrimônio, Identidade e Memória, sem falar de minhas memórias e identidade, de uma família que nunca se fixou em um lugar por mais de 5 anos experimentando cidades brasileiras e japonesas. Identidade e pertencimento sempre foram questões recorrentes – e digo até que cativantes - em minha vida. 13


PI (projeto interativo) | 1º Semestre Prof. Ms. Ricardo Silva “O que é cidade?” Começo de uma nova etapa, o início do curso, a primeira aula de Arquitetura e Urbanismo. O professor nos indagava “o que é cidade?”. Pareceu-me fácil responder na hora, mas logo percebi a complexidade. É um aglomerado com limite administrativo? São as relações sociais num determinado espaço? O exercício principal era, a partir da leitura de um texto, um filme ou um tema, realizar colagens, desenhos, e fotos em recortes de papel de 21x21 que resultaria em um caderno. Lemos O que é cidade? de Raquel Rolnik, A construção da cidade segundo seus princípios artísticos de Camillo Sitte,

Carne e Pedra – o corpo e a cidade na civilização ocidental de Richard Sennett, vimos o filme Nina

de Heitor Dhalia, entre outras referências. Apesar de entendermos um pouco o que estávamos fazendo ali, em relação a escolha do curso, ao fim da disciplina ainda era impossível responder certamente à questão principal. Afinal, um simples conceito não poderia respondê-la. A escolha do tamanho dos recortes deste trabalho será usada aqui também. O tamanho foi escolhido pela facilidade de recorte e possibilidades de diagramação, falarei mais no último capítulo. 14


SOCIOLOGIA | 3º Semestre | Prof. Ms. Ralf J. C. Flôres Já no terceiro semestre fizemos um trabalho a partir da leitura do texto “São Paulo: cidade da intolerância, ou o urbanismo "à Brasileira".” De João Sette Whitaker Ferreira, artigo publicado na revista Estudos Avançados. Foi-nos dada algumas opções de textos, todos dessa revista. Esse foi o que mais me chamou a atenção. A proposta era que lêssemos e tirássemos 3 fotos relacionadas ao texto. Concluí que a cidade é reflexo da sociedade que a habita. O Estado, como regulamentador do uso e ocupação do solo e responsável por investimentos públicos em infraestrutura urbana, possui o poder de ordenar uma divisão espacial justa e igualitária. Porém, não é essa a realidade no Brasil. Legitimado por uma sociedade patrimonialista, o Estado promove e alimenta a intolerância a pobreza, e a desigualdade social é explícita no espaço urbano. Enquanto a elite é privilegiada em seus "terraços em frente ao mar", as camadas inferiores dessa sociedade estratificada, vive em locais - em sua maioria- desapropriados à moradia, e quem nem ao menos possui uma, é expulso do cenário urbano. A partir de 2005, na cidade de São Paulo, diversas obras foram realizadas pela prefeitura a fim de erradicar a permanências de moradores de rua em espaços públicos. Um exemplo nada sutil da intolerância à pobreza. obs.: O poema da próxima página faz parte deste trabalho.

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Imagem 2, 3 e 4 | Trabalho realizado na disciplina de PI. Fonte: Acervo da autora

Imagem 5, 6 e 7 | Fotografias embaixo de pontes de São Paulo para a disciplina de Sociologia. Fonte: Acervo da autora

Imagem 8, 9 e 10 | Gravação do vídeo “O que é Patrimônio para você?”, por Tudz Fotografia. Fonte: Acervo da autora

Imagem 11, e 12 | Imagens do anime

Ghost in the shell.

Fonte: Print do anime Imagem 13 e 14 | Fotografia em Paranapiacaba e São Luís do Paraitinga. Fonte: Acervo da autora


Neste terraço mediocremente confortável, bebemos cerveja e olhamos o mar. Sabemos que nada nos acontecerá. O edifício é sólido e o mundo também. Sabemos que cada edifício abriga mil corpos labutando em mil compartimentos iguais. Às vezes, alguns se inserem fatigados no elevador e vêm cá em cima respirar a brisa do oceano, o que é privilégio dos edifícios. O mundo é mesmo de cimento armado.” "Privilégio do mar", de Carlos Drummond de Andrade.


MISTIFÓRIO | Revista Universitária | Caroline Yukie, Mariana Lira, Vanessa Ramos, Sophia Silva No quinto semestre, idealizei uma revista com um grupo de amigas para expor alguns materiais – artigos, fotografias, trabalhos artísticos - independentes de alunos do Centro Universitário Senac. Não levamos adiante, porém publicamos uma primeira edição, que seria uma prévia da revista. O tema da edição foi O que é patrimônio para você?. A ideia da revista surgiu após uma visita e oficina em Paranapiacaba realizada pelo projeto de extensão Patrimônio Cultural e Práticas da Memória. Após a visita escrevemos relatos, e tínhamos muitas fotos e percebemos que não tínhamos nenhum meio dentro do centro universitário para divulgar nossos relatos, artigos e fotos independentes de alguma disciplina ou atividade orientada. A primeira edição citada foi um vídeo temático. Queríamos falar de patrimônio, mostrando que cada um tem uma visão sobre o tema, e aquela era a nossa visão, e ainda é minha visão. A mistura do imaterial (a dança) e o material (as ruínas de Paranapiacaba). A mistura de conceitos. A mistura de pessoas com ideais e pensamentos distintos. E daí surgiu o nome da revista.: Mistifório. A realização desta revista nos proporcionou uma experiência fundamental para entender a importância do registro e da iconografia para, não só expor um ponto de vista, mas mostrar realidades distintas da que estamos acostumados. Obs.: acesso ao vídeo através do QR code 18




URBX | Iniciação Cientifica | Prof. Dr. Ms. Nelson José Urssi Pretendeu identificar e analisar as experiências na cidade, explorar as contribuições multimídias na atual vida urbana e identificar novas apropriações desse ambiente. A questão de maior importância se refere à possível desmaterialização das trocas socio-econômica-culturais na cidade e decorrente alteração das atividades humanas no espaço físico. Toda construção identitária é influenciada pelo espaço que a permeia. Podemos até estar onde decidirmos, mas entende-se que não é só o indivíduo que com suas próprias escolhas define quem é. Talvez se defina em seu imaginário, porém há muito além disso. A cultura capitalista tem transformado o mundo de maneira a induzir muitos dos comportamentos humanos, suas criações e construções seja em ambientes físicos ou em ambientes virtuais. Raramente abrimos alguma página da web, ou

temos uma interface digital que não tenha alguma propaganda e isso não se difere de espaços físicos, onde vamos vemos algum anúncio. Apesar da globalização - decorrente dos avanços tecnológicos mais recentes - instigar essa necessidade de estar incluído na sociedade capitalista, não devemos encará-la como uma “vilã” da sociedade, mas como algo que faz parte do processo histórico da humanidade. Podemos vê-la também como possibilitadora. Com a quebra das relações tradicionais que temos de tempo e espaço é possível estar em vários lugares ao mesmo tempo o que nos proporciona uma identidade híbrida. Neste trabalho analisei diversos filmes e séries que mostram esses comportamentos e mudanças e todos eles têm o espaço como suporte para todas as relações e acontecimentos. O anime Ghost in the shell foi o principal, mas também foram analisados, Matrix, Blade Runner, Black Mirror e Sense 8. 21


PATRIMÔNIO CULTURAL E PRÁTICAS DA MEMÓRIA Extensão Universitária | Prof. Ms. Ralf J. C. Flôres Ingressei no projeto de extensão no terceiro semestre, logo em sua formação. A descrição do projeto me interessou por se tratar de um assunto que eu tinha muita curiosidade e ainda não havia passado por nenhuma disciplina que o abordasse. Além disso, eu estaria trabalhando com alunos de outros semestres, instituições externas e a população em geral. Inicialmente tivemos contato com o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e fomos para São Luiz do Paraitinga e Paranapiacaba. Foram duas visitas à cada lugar. Na primeira visita estudávamos e conhecíamos o local e na segunda visita realizávamos uma oficina chamada “Práticas da memória” que consistia em executar uma maquete a partir da memória a qual precedia uma discussão sobre preservação e memória. Já no quinto semestre fizemos parceria com o Arquivo Histórico Municipal, onde realizávamos reuniões, e fizemos a mesma oficina de maquetes voltada para o bairro do Bom Retiro. Também realizamos uma oficina de fotografia chamada “Capture memória”, a qual consistia também em andar pelo Bom Retiro, mas dessa vez fotografando. Esta oficina resultou na exposição “Intrínseco: um olhar sobre o Bom Retiro”. no Centro Universitário Senac. E por fim, fizemos parceria com o Museu da Cidade de São Paulo. Todas essas atividades e discussões colaboraram para entender que patrimônio vai além da herança material e palpável. O que confere valor a um bem, uma cultura, um lugar, são as experiências humanas, são as memórias e os sentimentos de pertencimento, são as construções identitárias. 22



CAPÍTULO 2

Dinâmicas Do Espaço: Entre Memória e Segregação


São Paulo: uma cidade em constante transformação, do macro ao micro lidamos com mudanças a todo tempo. O que se pretende aqui é entender essa dinâmica e os desdobramentos entre o espaço, memórias e experiências vividas dentro da cidade de forma geral. A princípio é necessário estar consciente da interdependência dos fatores a serem analisados; que não há cidade sem as relações sociais, e não existe patrimônio e valor de preservação se não há valor significativo para quem usufrui do espaço e das construções de um determinado local. Ou seja, o espaço e o indivíduo são influenciados constante e mutuamente.

Sem as práticas sociais, não há significados sociais. Mas também não há significados sociais sem vetores materiais. É, portanto, apenas dentro do campo de forças e dos padrões segundo os quais elas agem (e valendo-se de suportes materiais de sentidos e valores), que se pode compreender a gênese e a prática do patrimônio. (MENESES, 2006, 36. ABNT)

Imagem 15| Loja de acessórios para celular na Dom Macário. Fonte: Acervo da autora.

Quando se fala aqui sobre relações sociais, remete-se á política em sua concepção etimológica. Derivada da palavra Politiká, que por sua vez se deriva de Polis, ou seja, cidade, a qual é originalmente designada para “aquilo que é público”. Portanto, tratamos aqui da vida pública e do coletivo. Tudo isso compõe essa dinâmica e são indissociáveis. O indivíduo, a memória, a cultura, o patrimônio, a Pólis. 25


2.1 Patrimônio, Memória, Cultura, Hábitos, Cidade Como discorremos em “Memórias da autora”, na secção sobre a revista Mistifório, patrimônio é um tema amplo que pode ser abordado sob vários aspectos, desde bens materiais até práticas coletivas. Segundo o dicionário Michaelis, o significado de Patrimônio é: herança paterna; bens de família; quaisquer bens matérias ou morais pertencentes a uma pessoa, instituição ou coletividade. Apesar dessa ramificação do tema há algo comum entre todos os significados: a valorização de uma memória. Todavia, entende-se neste trabalho que o valor patrimonial não está apenas no que já é reconhecido por algum órgão público (IPHAN, CONDEPHAT, etc.). Todavia, é justamente o valor intrínseco ao cotidiano do habitante da cidade que deve ser inserido nesse campo patrimonial. Não apenas os habitantes que possuem poder aquisitivo para morar em locais supervalorizados e aos quais lazer e urbanismo são amparados por legislações e estatutos do governo; mas também o morador das favelas, dos lotes irregulares, das áreas de proteção de mananciais e encostas, do espaço que “sobrou” para eles dentro da cidade ou em suas bordas, que são até mesmo limitados em sua mobilidade.

A falta de afetividade pelos lugares e pelo que representam é um caminho reto para a pobreza cultural. As pessoas ficam desorientadas quando não conseguem mais entender a linguagem espacial que vivem no cotidiano e que lhes diz que, neste presente particular, há passados respeitáveis e futuros esperançosos. (SANTOS, 1984, 61. ABNT) Em suma, os valores de preservação, tanto do imaterial quanto do material estão sujeitos a fenômenos urbanos que entenderemos nos próximos tópicos, os quais segregam boa parte da população e anulam os direitos desta dentro do universo patrimonial. 26


“É pena que, em geral, quando se pensa em preservar uma área urbana qualquer, tudo o que se invente logo implique em tirar aquela gente que está lá, encardindo, incomodando.” (SANTOS, 1984) 27


2.2 Segregação, Conflito: Cidade Formal E Cidade Informal Os problemas encontrados na cidade não são dados por sua forma espacial apenas, mas sim pela forma como é regida, explorada e organizada pela sociedade e poder público. Entre esses problemas vemos a exclusão social, a intolerância a pobreza e a segregação urbana. E consequentemente, isso se estende para o campo patrimonial. Uma vez que as regras são ditadas por quem possui maior poder aquisitivo ou político, como vimos na seção do trabalho de sociologia com base no texto de João S. W. Ferreira, o próprio Estado ajuda a promover os problemas citados, pois procura atender prioritariamente ao mercado imobiliário e sua lógica. Podemos citar o exemplo das operações urbanas realizadas em São Paulo, praticamente todas elas procuram valorizar uma área especifica e restrita da cidade, ocorrem inúmeras remoções com a proposta de amparar todas as famílias prejudicadas com HIS - habitações de interesse social. Entretanto, não são todas as famílias a serem amparadas, as remoções ocorrem mas construções de HIS são delongadas. Então essas famílias são destituídas de direitos e valores. Porém, para mudar essa situação existe um caminho a ser seguido, e este é citado também por Ulpiano.

Seja como for, o caminho mais seguro para criar, no campo do patrimônio cultural, condições mais favoráveis para a inclusão social é, sem qualquer dúvida, o reconhecimento da primazia do cotidiano e do universo do trabalho nas políticas de identificação, proteção e valorização(...) (MENESES, 2006, 36. ABNT) 28


O próprio morador da favela a desvaloriza e perde a afetividade com o local em que vive. A favela é um espaço de conflito. É o morar ilegal, é o morar indigno. As políticas de habitação são ineficientes. Durante o curso vimos a exclusão a partir da expulsão branca, cujo protagonista é o mercado imobiliário e o Estado agindo de acordo com as coordenadas deste mercado. Ou seja, os preços dos imóveis aumentam absurdamente e a população de renda baixa é obrigada a se mudar para regiões mais afastadas ou passam a morar ilegalmente.

E nas áreas desprezadas pelo mercado imobiliário, nas áreas ambientalmente frágeis, cuja ocupação é vetada pela legislação e nas áreas públicas, que a população pobre vai se instalar: encostas dos morros, beira dos córregos, áreas de mangue, áreas de proteção aos mananciais... Na cidade, a invasão de terras é uma regra, e não uma exceção. Mas ela não é ditada pelo desapego à lei ou por lideranças que querem afrontá-la. Ela é ditada pela falta de alternativas. (MARICATO, 2005. ABNT) Por fim, é imprescindível uma mudança política para a valorização da cidade informal, a qual possui tanto valor cultural, quanto a cidade formal. Afinal, uma depende da outra. O cidadão da cidade formal, depende dos serviços dos que vivem na cidade informal. Ademais, vemos uma vasta diversidade cultural e o sentimento de pertencimento e coletividade, que serão mostrados no produto deste trabalho. 29


CAPÍTULO 3

A Favela Do Boqueirão

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Imagem 16| Vendinha em uma das vielas ainda ausentes no mapa. Fonte: Acervo da autora.

A ocupação tem 30 anos. Em 2002 foi declarada Zona Especial de Interesse Social (ZEIS). O Instituto de Previdência do Estado de São Paulo (IPESP) entra com a reintegração de posse em 2007. Um grupo já havia sido removido para a construção de HIS (antigo+projeto Cingapura), que não contemplou a todos. Passaram a ocupar a calçada das ruas D. Macário, Elgênio Falk e Pedro Eggerath. A grande maioria dos moradores são migrantes. Esses são dados técnicos, mas para nós estes não são prioridade, mas vamos nesse capítulo capturar a essência da Favela do Boqueirão. Através conceito utilizado por Ulpiano Meneses em “A cidade como um bem cultural”, podemos compreender o espaço da favela do Boqueirão como um bem cultural, quando consideramos essas três dimensões: Artefato | (cidade fabricada)

Campo de forças (conflitos)

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Significações (representação)

Favela do Boqueirão | Segregação urbana | Fotodocumentação Abaixo traduzimos para o objeto deste trabalho. A Fotografia será o suporte para mostrar essas significações, ficará mais claro no capítulo 5. Neste capítulo vamos mergulhar no universo da favela do Boqueirão. A autora volta aqui a escrever em primeira pessoa, para que o leitor possa se aproximar de suas memórias. 31


Ora, para compreender a cidade como bem cultural é preciso enfrentá-la simultaneamente nas três dimensões. O bem cultural tem matrizes no universo dos sentidos, da percepção e da cognição, dos valores, da memória e das identidades, das ideologias, expectativas, mentalidades, etc. (MENESES, 2006, 36)

Imagem 17| Mapa da Favela do Boqueirão com nomes das ruas. Fonte: My maps. Google.

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Rua Dom Macário 1 Rua Padre Cursino de Moura 2 Viela Felicidade 3 Viela Vitória 4 Rua Dom Pedro Eggerath 5 Travessa da Manilha 6 Viela Dom Macário (1000) 7 Rua Engênio Falk 8 Rua do Boqueirão 8 Avenida Presidente Tancredo Neves 10


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Iniciei com visitas à favela do Boqueirão, as quais ocorreram de duas à três vezes na semana a partir de janeiro de 2018. Eu já conhecia a favela do Boqueirão através de um trabalho social de integração com jovens na faixa etária de 14 à 25 anos. Sabendo, então, um pouco de cada história, gerou-se a necessidade de conhecer ainda mais a favela pelo valor que havia reconhecido. Havia muito mais do que barracos e terra batida, muito mais que tijolos. E a cada visita mudanças significativas eram vistas, e memórias eram construídas. O texto introdutório pouco foi mudado, desde o princípio a ideia era coletar memórias e durante o processo fui entendendo e projetando o que seria feito. Simultaneamente às visitas, pesquisas acerca da história e dados sobre a favelas do Boqueirão foram realizadas, assim encontrei o site do Núcleo Macabéa, um grupo cênico que havia feito residência na favela do Boqueirão, o que chamou à atenção foi o documentário realizado pelo grupo nomeado Tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas., foi uma das principais fontes para entender a favela do Boqueirão. Segundo a descrição no site o documentário reúne memórias dos cinco anos de residência artística do Núcleo Macabéa na Favela do Boqueirão, em São Paulo. Ele mostra a realidade dos moradores que vindo de outras regiões, majoritariamente do Nordeste, buscam a felicidade em uma cidade grande. Para entender o propósito do trabalho do grupo cênico é de suma importância atentar para o nome do grupo, “Macabéa”, sua origem é a protagonista do livro de Clarice Lispector A hora da estrela. No livro, Macabéa é migrante, vai do Nordeste ao Rio de Janeiro. O mais interessante é a visão do narrador, o qual instiga o leitor a se colocar no lugar da protagonista, imergir naquele universo. A leitura do livro me despertou ainda mais o interesse em conhecer quem estava por trás do projeto cênico. 34


A única “verdade” indiscutível são as existências individuais. Intui, por certo, a identificação de todos em uma unidade (“Todos nós somos um”), mas a unificação se mostra principalmente pela carência (“e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro — existe a quem falte o delicado essencial”). (LISPECTOR, 1998) Pesquisando à fundo descobri que o grupo fizera vários trabalhos dentro da favela do Boqueirão e fizeram residência na favela. Entrei em contato com o fundador e idealizador do grupo, o Rudinei Borges, que nos cedeu uma entrevista. Antes da entrevista fiz questão de ler seu livro Epístola.40, carta [des]armada aos atiradores, é na verdade o roteiro de uma peça que transpassa dentro da favela e se assemelha a ideia do narrador de A hora da estrela, facilmente conseguimos nos colocar no lugar dos personagens, os quais precisam lidar com a situação, o medo do despejo. Na entrevista pude entender melhor a intenção do autor. A motivação em mostrar àqueles moradores o valor que existe ali. Mostrar que são muitas as Macabeas. Mostrar através do teatro, não como uma simples conscientização, mas com a aproximação e inclusão dos moradores no universo das artes. Conversamos muito sobre a questão de moradia, afinal, um dos maiores dilemas da favela do Boqueirão é passar novamente pelo que já passaram. O despejo. Perder o que levou tempo para conseguirem construir. Um bom exemplo é de uma adolescente que conheci. Ela perdeu a mãe faz alguns anos, ela e mais 4 irmãos perderam o que os unia. Como havia diferença paterna, o avô – pai de sua mãe – resolveu ficar com a guarda de todos, assim eles não precisariam se separar. Então conhecidos da favela se juntaram para construírem uma casa para a família. A partir dessa história vemos o senso de coletividade e percebemos algo que é dito no documentário do núcleo 35


Macabea por um dos atores que reproduz uma frase de Augusto Boal (diretor de teatro) é legitimo ao indivíduo o desejo da felicidade, mas é necessário que a gente entenda que a felicidade humana é uma felicidade, fundamentalmente, coletiva. Essa felicidade individualista pregada pela sociedade de consumo, no fundo, é mais uma das molas que nos conduz à tragédia social. Um assunto que quero retomar aqui é sobre a cidade formal e a cidade informal. Em todas as visitas eu fotografava, a princípio, a fim de realizar um levantamento. Mas em uma dessas visitas fotografei um cartaz que dizia: “Srs. moradores informamos que todos sábados e domingos a rua Padre Cursino de moura ficara feixada das: 10h as 22h para lazer das crianças. Grato! Estamos aceitando doações de balas, brinquedos, jogos e etc Deixar com Didi mãe do Pela.” Na hora achei incrível o fato de estarem fechando a rua, mas ainda não tinha entendido o quão incrível realmente isso era, até mostrar ao meu orientador. Eles estavam reproduzindo algo que vemos na cidade informal, porém à maneira deles. Simples. Espontâneo. Ficou claro que algo que na cidade formal e em grande escala acontece às vezes de forma tão burocrática e gera discussões sem fim como foi com a Paulista aos domingos e o minhocão. Ali estava acontecendo naturalmente. Entrevistei a D. Didi, para conhecer sua história e entender o que a motivou a fechar a rua. Ela mora no Boqueirão há mais de 20 anos, antes mesmo de sua neta nascer. E a resposta foi simples. fecharam para lazer das crianças. Ao perguntar se existia uma associação de moradores, disse que nunca existiu e soltou a frase “a gente faz de cabeça mesmo” e sua neta acrescentou que fecham por eles mesmo. Vi que dentro de seu barraco havia muitas doações e as pessoas passavam perguntando se tinha alguma peça específica. Fomo interrompidas algumas vezes por alguém pedindo algo. Foi ali que descobri o potencial das fotos que eu estava tirando. Não eram um 36


simples levantamento, mas um documento. Vi a fotografia narrando o espaço. Um espaço desvalorizado pela sociedade no geral, mas que possui um grande valor de pertencimento e coletividade, que é só é perceptível quando conhecemos, experimentamos e convivemos. Talvez, como veremos nos estudos de caso, nem as próprias pessoas da favela percebem. E todas as vezes que eu passo pela rua Padre cursinho de Moura, lá está a D. Didi cuidando das doações e do direito das crianças brincarem. Lá está a adolescente voltando da escola e cuidando dos irmãos na casa que só quem abe o real valor de uma moradia possibilitaria construí-la. Lá estão todos os moradores que procuram seus direitos de morar e serem felizes. Lá está um espaço que merece ser valorizado. E aqui estou para mostrar isso através do meu olhar e das memórias que foram construídas com cada um ao meu redor. A foto que abre o álbum prova que vai além de poder e dinheiro, o valor está no cotidiano e na construção das memórias. Falo mais sobre no último capítulo sobre como construí a narrativa do álbum.

“Toda a favela será desocupada, diz macabéa. Judas põe-se preocupado. Pra onde vai, agora? – Pensa consigo. Os barracos serão derrubados – continua a dizer Macabéa, Alegam que é um terreno particular. Os donos acionaram reintegração de posse. Essa gente de favela que saia daqui e devolva o que nunca foi dela: o direito de morar.” (BORGES, 2016) 37


CAPĂ?TULO 4 Estudos de Caso

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Imagem 18|Trabalhador na Rua Dom Macário. Fonte: Acervo da autora

Imagem 19|Ginásio Londrinense, 1943, por Divino Bortolotto Fonte: Acervo João Baptista Bortolotti Imagem 20|Imagem do curtametragem “Tem gringo no morro” Fonte: Print do Filme Imagem 21|Imagem do filme “Vivendo um outro olhar” Fonte: Print do Filme Imagem 22|Imagem do filme “Rocinha Brasil 77” Fonte: Print do Filme Imagem 23|Tem mais chão nos meu olhos do que cansaço nas minhas pernas Fonte: Print do Documentário Imagem 24|Epístola.40: carta [des] armada aos atiradores. Fonte: Print do Documentário

Os estudos de caso estão separados por categoria de trabalho. Foram estudados trabalhos teóricos sobre fotografia, documentários e curta-metragem e por fim, um trabalho cênico dentro da própria favela do Boqueirão. Seja por uma imagem, um recurso visual ou uma peça teatral, todos os estudos de caso propõem mostrar o valor de determinado local. 39


a Fotografia FRAGMENTOS DA HISTÓRIA: O USO DA FOTOGRAFIA PARA RECUPERAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA DE LONDRINA Maria Luiza Hoffmann Este estudo de caso é muito mais de ordem teórica do que prática, apesar de haver uma praticidade em selecionar e realizar pesquisas de campo. Fala da importância da fotografia, ou iconografia para registro histórico.

Esta pesquisa recuperou aspectos pouco conhecidos da história de Londrina (PR) entre 1929 e 1948, por meio de fotografias, pesquisa bibliográfica e de campo realizada junto aos primeiros habitantes da região. As entrevistas com 15 fontes selecionadas foram intermediadas por registros fotográficos do período recortado, num total de 50. Pretendeuse, nessa tese, investir no procedimento metodológico que alia fotografia aos relatos de fontes orais, (...) (HOFFMANN, 2015. ABNT) Segundo o resumo podemos perceber a aproximação do trabalho de mestrado com este trabalho. Muito embora a tese de mestrado esteja lidando com fotografias já existentes e com uma cidade inteira, e este com o espaço da favela e fotos recentes, o tratamento em questão de memória e valorização é o mesmo. Também foram utilizadas fontes orais, semelhante a este trabalho (TCC). A autora defende a fotografia como elemento ativador da memória.

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TEM GRINGO NO MORRO Bruno Graziano e Marjorie Niele

Um retrato do turismo estrangeiro na Rocinha, considerada a maior favela da América Latina e que recebe mais de 3000 gringos todos os meses. Eles vem interessados pelos mais diversos aspectos; da pobreza à violência, da geografia à arquitetura, da paisagem ao calor humano, da curiosidade ao assistencialismo. (IMDB, 2013. ABNT). O curta metragem de 2013 dirigido por Bruno Graziano e Marjorie Niele, chama atenção por mostrar que o Brasil exteriormente se promove pela cultura que está dentro da favela, o que faz os turistas procurarem isso quando vêm visitar o país. Ou seja, os turistas reconhecem um valor dentro das favelas, que o próprio brasileiro não reconhece, um valor cultural do cotidiano. Percebemos no curta também o Estado se beneficiando disso, “embeleza” as partes que convém da favela só para turistas verem, mas são poucos os moradores beneficiados. É instigante o fato de o turismo na favela ter uma aceitação muito boa entre a maioria dos moradores, afinal, é uma forma de reconhecimento. 41


VIVENDO UM OUTRO OLHAR Guillermo Planel O filme mostra que existe um novo olhar em relação aos conceitos de Cidade Partida, como o próprio Zuenir Ventura define no filme. A favela deixa de ser uma parte empobrecida, menosprezada, que criminaliza a pobreza, para se tornar uma parte participante nas criações das novas políticas públicas sociais. As “multi-perceptividades” de vozes e de olhares que surgem ao longo do filme são importantes no sentido de apresentar as comunidades a partir de um enfoque aberto sem criar um discurso, um monólogo, a partir dos principais aspectos sociais deste assunto. O documentário me ajudou a entender a importância da foto documentação com o poder de desconstruir a lógica da criminalização da pobreza, ele demonstra o que diz o texto do João S. W. Ferreira sobre a intolerância à pobreza. Vemos os próprios moradores entendendo o espaço que habitam e tomando consciência da importância do registro fotodocumental.

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ROCINHA BRASIL 77 Sergio Péo Em uma pesquisa sobre iconografia da história, encontrei o documentário do arquiteto Sergio Péo. Em entrevista o arquiteto, diretor e cineasta falou sobre o interesse em falar sobre questões habitacionais, urbana e comportamentais após ter se formado em 1967. Na época isso já trazia preocupações e discussões. O curta metragem de 1977, mostra em imagens hábitos e qualidade de vida na favela da rocinha, acompanhado de relatos de moradores e profissionais. Através do recurso audiovisual mostra-se questões e conflitos sem acompanhar um texto. Apenas os relatos, as memórias, as reflexões em áudio, aliadas à imagem, são capazes de expor uma realidade que pouca gente conhecia da favela da rocinha. O autor do curta teve que estar dentro da favela e passou a morar lá, para de fato entender e mostrar o cotidiano e a vida dentro da rocinha, hoje a maior favela da américa latina. 43


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TEM MAIS CHÃO NOS MEUS OLHOS DO QUE CANSAÇO NAS MINHAS PERNAS Núcleo Macabéa O documentário dirigido por Rudinei Borges abriu minha visão a acerca do espaço da favela, procura identificar e reconhecer os relatos, as memórias das moradoras. E documentam todo o trabalho cênico através do recurso audiovisual. O trabalho do núcleo Macabéa transforma a favela em cenário de um enredo que aborda os conflitos e as experiencias urbanas. EPÍSTOLA.40, CARTA [DES]ARMADA AOS ATIRADORES Rudinei Borges

A tentativa de equacionar o que nos chega de uma realidade em franco desmoronamento, de um campo social que trata os pobres a chutes e bordoadas, território que se ergue sobre a negação ao direito mais elementar de viver com alguma dignidade. A fábula de uma família que vaga em constante processo de expulsão, e que mal conseguindo se acocorar numa favela enfrenta mais uma vez o murro da exclusão, nos parece a metáfora mais adequada a um país que se vê repetidamente despejado. Escrita a partir de memórias de moradoras da Favela do Boqueirão, do romance A hora da estrela de Clarice Lispector e do Primeiro Livro de Macabeus, a peça narra a saga de uma família de retirantes nordestinos, da chegada em São Paulo ao despejo da comunidade onde viviam. (BORGES, 2016 ABNT) Os dois últimos estudos de caso foram os mais contundentes para este trabalho. Foram citados no capítulo anterior. 45


CAPÍTULO 5 (final)

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A imagem da favela do Boqueirão


Imagem 25|Rua Padre Cursino de Moura, Vultos. Fonte: Acervo da autora

O último capítulo explica como se definiu o produto deste TCC. Embora haja dito no capítulo quatro, retoma-se aqui, para que todo o processo possa ser entendido.

Iconografia descreve o estudo ou a pesquisa referente ao

conjunto da produção de imagens de qualquer espécie referente a determinado assunto. É uma palavra de origem grega em que “Icono” vem de eikon, que significa imagem ou ícone, e graphia pode ser traduzida como escrita. Assim, de forma literal, etimologicamente iconografia significa escrita da imagem. A história oral é uma metodologia de pesquisa que consiste em realizar entrevistas gravadas com pessoas que podem testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea. 47


O projeto do álbum pretende afirmar o valor da favela do Boqueirão, que não são reconhecidos pela sociedade em geral. São usados dois recursos, o texto com base em história oral, a partir de trechos das entrevistas realizadas durante a composição deste trabalho; e imagem capturadas por mim, a partir do meu olhar sobre o lugar. Para entender este álbum, é necessário entender seu conceito e sua fundamentação. Uma referência imprescindível, foi o livro Fotografia e Cidade de Solange Ferraz de Lima e Vânia Carneiro de Carvalho. Logo em seu prefácio temos um texto de Ulpiano Meneses, que já foi citado nos primeiros capítulos. Ele diz:

O ponto de chegada, portanto, da História Visual deveria ser, não a História que se faz com documentos visuais, mas a História que elege a visualidade como plataforma estratégica de observação de uma sociedade, na sua organização, funcionamento, mudança. (MENESES, 1997. ABNT) No segundo capítulo deste trabalho, ao citá-lo, vimos que não há significações sociais sem vetores materiais. Poderíamos dizer, então, que aqui a História Visual, mais especificamente o álbum Fotográfico, é o vetor material que nos permite falar das práticas sociais dentro da favela do Boqueirão. É o que permite identificar a partir dessas práticas a identidade, o patrimônio e a memória do lugar e evidencia os valores imateriais. A diferença entre os álbuns analisados no livro Fotografia e Cidade é que as fotos deste são autorais e falamos de um espaço informal. Porém os conceitos são facilmente identificados e reproduzíveis. As autoras defendem as seguintes teorias sobre os álbuns: (...) é um tipo de publicação iconográfica na qual são aglutinadas, segundo um arranjo específico, fotografias que pretendem representar diversos aspectos da cidade (LIMA, CARVALHO, 1997 ABNT). 48


(...) localizam-se em uma faixa intermediária no processo de cristalização dos tipos urbanos, permitindo a articulação de um rico universo de imagens associado à cidade e organizado segundo uma narrativa própria. (LIMA, CARVALHO, 1997 ABNT)

A imagem não é uma ilustração da história ou do espaço urbano, mas é a própria história. O livro é dividido em duas partes, a primeira é escrita por uma das autoras e a segunda por outra. Na primeira parte temos um texto mais técnico sobre a organização dos álbuns em análise, isso me ajudou a categorizar o álbum a partir de padrões encontrado nas fotografias, primeiro em temas. Trabalho, Lixo, Construções, Crianças, Animais, Lazer. Iluminação, enquadramento e cor também foi considerado num primeiro momento. Em seguida entendi que a organização de fotografias em sequencia nos permite abordar e reforçar as qualidades dos espaços da cidade. Na segunda parte, majoritariamente entra a narrativa do álbum. Detalhes como aproximar fotos passadas e atuais, o que mostra a inconstância do espaço urbano, constroem essa narrativa. Sendo assim, como disse, há uma diferença significante entre os álbuns da cidade de São Paulo e o álbum aqui projetado, entretanto, isso só reforça e complementa minhas motivações. Fora arriscado construir uma narrativa com fotografias autorais, então, a ajuda do orientador nesta etapa foi crucial, em escolher e identificar as fotos que fariam parte da composição. Afinal, um olhar externo pôde equilibrar essa narrativa . As imagens das partes da cidade que foram remodeladas e embelezadas expressam a ação do poder público no seu empenho em limpar a cidade de uma ocupação de baixa renda, principalmente a região central e arredores, melhor servidos de infraestrutura. A febre de higienização pública assim como as proposições de embelezamento urbano constituíram os dispositivos, justificados pela ciência e técnica, de segregação social (LIMA, CARVALHO, 1997 ABNT) 49


O álbum foi formatado no tamanho de 21x21, memória do trabalho de projeto interativo “O que é cidade?”, 21cm tamanho de um lado de uma folha A4 pela facilidade de corte para o trabalhos da disciplina. Escolhi somente pela referência da disciplina, possibilidades de diagramação e pela facilidade em manuseá-lo. A capa preta remete ao desconhecido, o mesmo conceito da primeira etapa deste trabalho de conclusão de curso, no qual a proposta era criar um suporte para apresentação dos trabalhos do grupo de orientação relacionados à Patrimônio. Todos do grupo abordam temas que procuram valorizar algo desprezado pela sociedade. Então utilizamos um gaveteiro e o pintamos de preto, e quem quisesse conhecer o trabalho precisava puxar as gavetas e cada gaveta tinha um tema. Texto de um lado, colagem do outro, ao lado algumas fotos do trabalho A luva do álbum é em craft em analogia à terra. Só é possível chegar ao desconhecido se entrar em seu território, pisar naquela terra e só é possível desvendar o desconhecido se o percorrer, ou seja, se o folhear e o ler. Esse é o principal desafio deste álbum, que o leitor possa experimentar a Favela do Boqueirão. Por isso a preocupação na construção dele desde o primeiro. A guarda é composta por um mapa, a favela é demarcada por uma máscara gradual com as 3 cores que compõem a primeira imagem do álbum, decidi fazer colorido, pois muitas vezes em diversas circunstância vemos a favela como local de marginalidade, que atrapalha e incomoda e está onde não deveria. Devido a isso vemos o inverso, a favela colorida, onde há vida, memória e valor. 50


Imagem 26|Colagem com fotografias da autora. Fonte: Acervo da autora Imagem 27|Capa preconceituosa da Revista Veja Fonte: Google imagens Imagem 28 e 29|Gaveteiro preto utilizado na primeira entrega. Fonte Acervo da autora

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O álbum pode ser interpretado pelo leitor como queira, porém aqui neste capítulo contarei minha visão e meus motivos. Cada foto tem sua importância, não necessariamente porque uma esta diagramada menor que é menos importante. Não, mas a diagramação foi pensada foto a foto pensando no que deveria ser evidenciado. Todos os textos são acompanhados de espectros, são colocados em paginas isoladas. Afinal, os textos não são descrições das imagens. São apenas devaneios. Isso começa com o título do álbum. As cores do espectro são definidas pela cor predominante da foto na próxima pagina, o que induz uma conexão, ao percorrer o álbum que conta com sete textos, em sua maioria poemas, dois deles de minha autoria. A primeira foto foi o estopim deste trabalho, o que permitiu definir que faria o projeto de um álbum fotográfico. A segunda foto é o fechamento da rua Padre Cursino de Moura, com um cavalete simples de madeira. Adentramos a favela. As fotos foram organizadas a fim de fazer o leitor caminhar pela favela do Boqueirão em um dia. Portanto, as fotografias diurnas são as primeiras, e conforme a pessoa adentra a favela, vai entardecendo. E por fim temos as fotos noturnas. Ou seja, podemos ver o trabalho de um ano resumido em um dia. Durante a realização deste trabalho algumas coisas relacionadas às práticas sociais me marcaram. Um exemplo são os cartazes ou informes, muitos deles feitos à mão, como o da primeira foto. Isso é tão comum e presente, que certo dia uma das crianças pegou um papel e disse que precisava colar o desenho dela na parede. Esta foto esta acompanhada de uma colagem com imagens de cartazes e textos. 52


Outra coisa foram as mudanças ocorridas. A instabilidade do espaço urbano. As fotografias “o era, o antes” e “construindo o depois” demonstram bem isso. Em uma semana uma casa foi construída. Em todo o tempo trabalhando na favela do Boqueirão pude presenciar o cuidado dos moradores em realizar suas casas. Em alguns casos a construção fora rápida, todavia, muitas ainda estão sendo ainda construídas desde que conheci a favela. Em todo o álbum podemos perceber o olhar externo, o meu olhar. Todas as fotos foram espontâneas. A única não espontânea fi a da D. Didi, quando pedi à ela uma foto, ainda assim esperei ela se distrair para tirar. Além disso, tudo foi fruto do caminhar pela favela. Foram tiradas aproximadamente 200 fotos e foram realizadas duas seleções. Uma primeira seleção minha e outra do orientador. A organização também se deu em duas partes. Dividi as fotos em categoria, animais, crianças, lixo objetos, placas, trabalho, lazer, construções. Já na montagem do álbum considerei a primeira organização, porém a organização foi feita para criar a narrativa desejada e, consequentemente, a experiência desejada. Ficaram 52 duas fotos, sendo uma delas a colagem.

O ato de caminhar está para o sistema urbano como enunciação está para a língua ou para os enunciados proferidos” (CERTEAU, 1980) 53


CONSIDERAÇÕES FINAIS Meu maior objetivo é que este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) seja um documento em memória à Favela do Boqueirão. Sabemos, e inclusive vimos através deste trabalho, que além da natural instabilidade do espaço existe um problema real que assombra os moradores de qualquer área irregular, a ordem de despejo. Já aconteceu e pode acontecer outra vez. Mas aqui ficam as memórias e o valor de um cotidiano pouco valorizado, porém com um valor inestimável, dado pelas práticas sociais. A favela do Boqueirão me ensinou que a coletividade é o caminho mais curto para a felicidade individual. A cidade formal tem sido formal demais, o senso de coletividade tem se perdido. A cidade informal nos ensina muito mais sobre Identidade, Patrimônio e Memória. Que existam por aí muitas outras Donas Didis. Não se trata apenas que foi ou do que será, trata-se muito mais de agora construirmos memórias que valerão a pena serem lembradas. 54

E seja bem-vindo ao Boqueirão!


Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.” “Mãos dadas”, de Carlos Drummond de Andrade.

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Imagem 30|Tênis no Varal Fonte: Acervo da autora

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANDRADE, Carlos Drummond de, 1902-1987. Sentimento do mundo/ Carlos Drummond de Andrade. — 1a ed. — São Paulo: Companhia das Letras, 2012. BORGES, Rudinei. Epístola.40, carta (des)armada aos atiradores. São Paulo, 2016. CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. as artes de fazer; 16ª Ed. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. FERREIRA, Jõao S. W. São Paulo cidade da intolerância ou o urbanismo “à brasileira”. São Paulo, 2011. LIMA, Solange Ferraz de; CARVALHO, Vânia Carneiro de. Fotografia e cidade: da razão urbana à lógica de consumo. Álbuns de São Paulo (1887-1954). Campinas: Mercado das Letras; São Paulo: Fapesp, 1997. LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro, 1998. MARICATO, Ermínia. Conhecer para resolver a cidade ilegal. Belo Horizonte, 2003. MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. A cidade como bem cultural. NASCIMENTO, Milton. O que foi feito devera. 1978 SANTOS, Carlos Nelson F. dos. Preservar não é tombar, renovar não é por tudo a baixo. Rio de Janeiro, 1984. VILLAÇA, Flávio. São Paulo: segregação urbana e desigualdade. São Paulo, 2011.

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ANEXO A. ENTREVISTA COM RUDINEI BORGES ANEXO B. ENTREVISTA COM DONA DIDI


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A IMAGEM DA

FAVELA DO BOQUEIRÃO FAVELA

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O

A IMAGEM DA

FAVELA DO BOQUEIRÃO

A IMAGEM DA

DO BOQUEIRÃO Caroline Yukie Narisawa 63


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Aqui se chega quando s vem de longe:

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Nalgum lugar-chão: Nalgum lugar-terra: Nalgum lugar-estirão Nalgum lugar-partida Nalgum lugar-chegad Nalgum lugar-pau-de-a ra: Nalgum lugar-favela Nalgum lugar-cão. Caco. Barraco. Pedaço


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o.

BORGES, Rudinei

: : o a: da: ara-

Aqui se chega quando se vem de longe: Nalgum lugar-chão: Nalgum lugar-terra: Nalgum lugar-estirão Nalgum lugar-partida: Nalgum lugar-chegada: Nalgum lugar-pau-de-arara: Nalgum lugar-favela: Nalgum lugar-cão. Caco. Barraco. Pedaço. Sertão. Azougue. (Sussurra) Asas. Nalgum lugar-Boqueirão

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FA

FALO ASSIM SEM SAUDADE FALO ASSIM POR SABER SE MUITO VALE O JÁ FEITO

SE

MAIS VALE O QUE SERÁ MAIS VALE O QUE SERÁ sem saudade Falo assim assim por saber E O QUE FOI FEITO ÉFalo PRECISO

Se muito vale o já feito Mais vale o que será Mais vale o que será PARA MELHOREPROSSEGUIR o que foi feito é preciso Conhecer, para melhor prosseguir (...)

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EOQ NASCIMENTO, Milton

CONHECER

PAR


ALO ASSIM SEM SAUDADE

FALO ASSIM POR SABER

E MUITO VALE O JÁ FEITO

MAIS VALE O QUE SERÁ

MAIS VALE O QUE SERÁ

QUE FOI FEITO É PRECISO

CONHECER

RA MELHOR PROSSEGUIR 81


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são as memórias das nossas casas (...) A pessoas querem ter dignidade, e essa dignidade se materializa na própria logística de construção de suas casas.

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BORGES, Rudinei

Nossas memórias, são as memórias das nossas casas(...) A pessoas querem ter dignidade, e essa dignidade se materializa na própria logística de construção de suas casas. Nossas memórias,


Nossas memórias, são as memórias das nossas casas(...) A pessoas querem ter dignidade, e essa dignidade se materializa na própria logística de construção de suas casas 97


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NARISAWA, Caroline Yukie

No Boqueirão conheci gente de todo tipo De todo tipo de sonho Conheci até quem sonho nem tinha Um queria ser Mc, voltou para o Piauí, o outro também, tinha talento o menino, mas não o tenho visto Agora o outro queria ser desenhista ou tatuador. A moça já se esforça pra conseguir entrar numa boa faculdade A dona já não sonhava mais era dessas que pensava só em viver

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Pra cada varal uma rotina Placas ao redor que dizem, E também falam, disseram Vida por todo lado

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NARISAWA, Caroline Yukie

Sons po Ando. Observ Enquanto meus sa Esgoto a céu abert Pra cada va Placas Sons por todo lado ao re Ando. Observo. Sou observada E também f Enquanto meus sapatos tocam o barro Vida po Esgoto a céu aberto me sobem às narinas


or todo lado vo. Sou observada apatos tocam o barro to me sobem Ă s narinas aral uma rotina edor que dizem, falam, disseram or todo lado

Sons por todo la Ando. Observo. S observada 125


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Ouvira na Rád Relógio que ha sete bilhões d pessoas no mun Ela se sentia per

havia sete bilhões de pessoa no mundo. Ela se sent perdida. Mas com a tendênc que tinha para ser feliz log se consolou: havia sete bilhõe 138


as tia cia go es

LISPECTOR, 1998

dio avia de ndo. rdida.

Mas Macabéa de um modo geral não se preocupava com o próprio futuro: ter futuro era luxo. Ouvira na Rádio Relógio que havia sete bilhões de pessoas no mundo. Ela se sentia perdida. Mas com a tendência que tinha para ser feliz logo se consolou: havia sete bilhões de pessoas para ajudá-la.

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no brincar fim de semana. Fim de semana nós fecha aqui e lá em cima (...) 152

Dona Didi

Conversando com os meninos aí do lado de lá, aí mandaram nós fechar, né. Pros menino brincar fim de semana. Conversando Fim de semana nós com os menino aí do lado de lá, fecha aqui enóslá emné,cima. aí mandaram fechar, Pros meni-


Conversando com os meninos aí do lado de lá, aí mandram nós fechar, né. Pros menino brincar fim de semana.Fim de semana nós fecha aqui e lá em cima.

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F O T O G R A F I A S FOTOGRAFIAS LISTA DE FOTOGRAFIAS

Todas as fotografias foram tiradas no mesmo formato, na resolução de 4656x2620, em modo paisagem pelo celular Asus Zenfone 3.

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Fotografia 1 O cartaz da D. Didi

Fotografia 2 Rua Fechada

Fotografia 3 Fachadas Dom Macário

Fotografia 4 A chegada, A travessa, o beco

Fotografia 5 Cores no varal

Fotografia 6 3 pares de tênis


Fotografia 7 Fachada das flores

Fotografia 8 Banner

Fotografia 9 Fiação

Fotografia 10 Os improvisos

Fotografia 11 Colando

Fotografia 12 119

Fotografia 13 Vende-se farinha

Fotografia 14 Recado importante (colagem)

Fotografia 15 Olhar diurno

Fotografia 16 Olhar noturno

Fotografia 17 A escada, o vazio

Fotografia 18 Castigo

Fotografia 19 Má sorte

Fotografia 20 Botas

Fotografia 21 Fronteira

Fotografia 22 O era, o antes

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Fotografia 23 Construindo o depois

Fotografia 24 A pipa

Fotografia 25 Estrangeira sob olhares

Fotografia 26 Construindo

Fotografia 27 Noturno

Fotografia 28 Despedida

Fotografia 29 Bolinha de gude

Fotografia 30 Altura

Fotografia 31 TV. MANILHA

Fotografia 32 TRV. DA MANILHA

Fotografia 33 Uma travessa

Fotografia 34 Luz e sombra

Fotografia 35 Reboco

Fotografia 36 Espera

Fotografia 37 Novela

Fotografia 38 Poodle


Fotografia 39 Bar

Fotografia 40 Social na Dom Macário

Fotografia 41 Vende-se acessórios

Fotografia 42 Luz ao fim da viela

Fotografia 43 Voltando da escola

Fotografia 44 Vendinha Primeira perspectiva

Fotografia 45 Vendinha Segunda perspectiva

Fotografia 46 Mercado Primeira perspectiva

Fotografia 47 Mercado Segunda perspectiva

Fotografia 48 Quase invisíveis

Fotografia 49 Caminhão de areia

Fotografia 50 A dona do cartaz

Fotografia 51 Vultos em frente à Dona Didi

Fotografia 52 A partida

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