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SOBRE OS AUTORES

aparece a encenação da companhia de Zé Celso Martinez Correia d’O rei da vela. Eu, aliás, quando o Zé Celso estava fazendo essa encenação, ele me pediu para escrever sobre a peça como preparatório a essa encenação. E eu realmente escrevi dois artigos no Correio da Manhã do Rio. Artigos só recentemente reunidos e que só recentemente vieram a ser publicados na edição da Globo da peça O rei da vela, reunidos e transformados como prefácio. Mas o que foi interessante nessa explosão que aconteceu com essa encenação é que em vida Oswald jamais viu seu teatro ser encenado. Mesmo o mais importante historiador do teatro, o crítico de teatro brasileiro, o Sábato Magaldi, na sua História do teatro brasileiro, de 1962, diz que o teatro de Oswald teatralmente não funciona, que o Oswald, apesar de cheio de ideias, é um escritor extremamente criativo, mas que o trabalho dele não tomou em consideração o específico do teatro, portanto, não podia ser representado. Depois disso, a bem da verdade, isso precisa ser registrado, o Sábato Magaldi se transformou no maior defensor do teatro do Oswald. Desde 64 ele reviu sua posição e finalmente escreveu inclusive uma tese universitária sobre Oswald de Andrade em que ele dá a Oswald a precedência sobre Nelson Rodrigues, que é um dos outros vultos da criação de um teatro novo no Brasil. Mas até 62 se desconfiava da encenação do teatro de Oswald. E curiosamente um homem do teatro europeu, o Rogerio Jacob, que viveu no Brasil no período e deu aula na Universidade do Rio Grande do Sul, ele sim soube ver, na mesma época em que o Sábato tinha dúvida sobre a teatralidade, a prova de palco. O Jacob disse que havia prometido a Oswald, antes dele morrer, encenar o teatro de Oswald, mas que seu teatro tinha aquela beleza extremamente nova, como aquela de Apollinaire, de Ubu rei de Jarry, o teatro de agitação de Maiakovski, e disse assim: “agora que Oswald morreu e está num céu de anjos antropófagos, eu quero dizer que vou encenar O rei da vela”. Só que o Jacob voltou para Itália e quem cumpriu a promessa de forma extremamente criativa foi o Zé Celso. E aí de fato houve o estouro. Através da montagem do teatro de Zé Celso, o teatro de Oswald passou a interessar à música popular e a ter uma difusão extremamente grande, o cinema do Júlio Bressane, do Rogério Sganzerla, o chamado udigrudi, o cinema marginal, o próprio Glauber que tinha uma relação também com esses tipos de aspectos criativos e com o udigrudi, o cinema marginal – que está cada vez mais sendo discutida –, basta ver que o último filme dele, A idade da terra, que tem muito mais a ver com o cinema do Sganzerla e do Bressane do que com o Cinema Novo, que já estava naquela época agonizante. Mas, enfim, o Hélio Oiticica nas artes plásticas, a música popular através de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto etc., Oswald passa a ser integrado entre os valores cultuados pelos jovens. Até certo ponto, Oswald virou um personagem como Bocage, na literatura portuguesa, jovens que talvez nunca tivessem lido com mais atenção tinham o Oswald como modelo existencial, tinham Oswald como uma espécie de Malasartes, Macunaíma, capaz de todas as transgressões. Era uma recepção empática, simpática, aurática, embora não crítica. Mas isso também não era mal, na medida em que era a mudança de um certo comportamento. Para um homem que foi tão carenciado como Oswald, que os contemporâneos achavam detestável e os moços amavam, eu acho que a prova do amor é importante. Eu não sou crítico a respeito dessa recepção acrítica, eu acho que é uma fase, não de leitores mas de curtidores que de

uma maneira ou de outra empaticamente tiveram uma maior proximidade ao espírito oswaldiano que aqueles conservadores das velhas gerações que sempre o consideravam um clown, uma pessoa sem profundidade, um anarquista que não tinha deixado nenhuma obra importante. Isso de modo nenhum é verdade, basta ver a obra completa do Oswald, em dez ou mais tomos, que está sendo publicada pela [Editora] Globo. Agora, os acidentes do percurso. Apesar de todo esse processo revisional, eu o estou descrevendo apenas do ponto de vista da minha participação, do meu grupo, em que houve trabalhos de Décio Pignatari, Augusto de Campos, mas há também trabalhos importantíssimos no campo da recuperação da filosofia antropofágica por Benedito Nunes. (...) (Nota: a gravação se encerra aqui, embora Haroldo de Campos tenha continuado a palestra, falando por mais alguns minutos. A razão é que a fita acabou, não possibilitando a finalização da gravação de sua fala, infelizmente.)

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ALFRED J. MAC ADAM é professor de literatura latino-americana no Barnard College-Columbia University. Traduziu obras de Carlos Fuentes, Mario Vargas Llosa, Juan Carlos Onetti, José Donoso, Jorge Volpi e Alejandro Jodorowsky entre outros. Publicou recentemente um ensaio sobre o poeta português Fernando Pessoa incluído no The Cambridge Companion to Autobiography.

ANA ALY é formada em Artes Plásticas pela FAAP e cursou mestrado completo em Comunicação em Semiótica na PUC-SP (sem defesa de dissertação). Artista e poeta visual, tem participado de inúmeras exposições, antologias e revistas nacionais e internacionais. Durante os anos de união com o poeta e intelectual Philadelpho Menezes ( 1960-2000), colaborou ativamente com seus projetos e, em 2019, lançou o livro Coisias reunidas, sobre a obra de Philadelpho Menezes, pela EDUC e Editora Laranja Original.

DJAMI SEZOSTRE é poeta, performer e ativista. Estreou em 1986 com o poema/livro Lágrimas & orgasmos. Desde então, publicou dezenas de obras de poesia, dentre as quais estão Zut, Cavalo & catarse, O pênis do Espírito Santo, Cão raiva e Óbvio oblongo. Tem sua obra traduzida para o espanhol, francês, italiano, inglês, alemão, finlandês, grego, húngaro e búlgaro. Organizou diversas antologias e participou de outras tantas coletâneas poéticas. ELIANE MARQUES. Poeta, ensaísta, editora, coordenadora da Escola de Poesia e do projeto orísun oro. Publicou Relicário e e se alguém o pano (Prêmio Açorianos na categoria Poema-2016). Com outras autoras, publicou Arado de palavras e Blasfêmeas: mulheres de palavra. Traduziu “O Trágico em Psicanálise”, de Marcela Villavella (Ediciones Psicolibros, 2012) e “Pregón de Marimorena”, de Virginia Brindis de Salas (no prelo). Especialista em Economia, Política e Direitos Fundamentais. Mestre em Direito Público. Auditora Pública Externa do TCE/RS.

FELIPE PAROS. Mestre e doutorando em Artes pela Unesp, atualmente desenvolve pesquisa sobre a participação feminina em periódicos da vanguarda poético-construtiva no Brasil e em Portugal. É professor do Departamento de Artes do Núcleo de Ciências Humanas da Fundação Universidade Federal de Rondônia, em Porto Velho.

GUSTAVO REIS LOURO tem graduação em Letras e mestrado em Teoria da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com a dissertação “As afinidades seletivas de Haroldo de Campos: um itinerário intelectual” sobre referências teóricas na obra de Haroldo. Atualmente cursa o doutorado na Universidade de Yale nos EUA, conduzindo um pesquisa sobre a questão do cânon da literatura brasileira na obra de Haroldo, em contraste com Antonio Candido.

KENNETH DAVID JACKSON é diretor de Estudos de Português na Graduação da Universidade de Yale. Suas áreas de interesse são: literaturas brasileira e portuguesa; Camões, Machado de Assis e Fernando Pessoa; literaturas modernista, de vanguarda e interartísticas; cultura portuguesa na Ásia; etnomusicologia. Algumas de suas obras são: A Vanguarda Literária no Brasil (1998), A Prosa Vanguardista na Literatura Brasileira: Oswald de Andrade (1978), Staging Portuguese and Brazilian Theater (2000), Experimental, Visual, Concrete: Avant-Guarde Poetry since 1960 (1996), Haroldo de Campos: A Dialogue with the Brazilian Concrete Poet (2000) e Machado de Assis – A Literary Life (2015).

LUCIA SANTAELLA. Professora titular do programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP. É uma das principais divulgadoras da semiótica no Brasil, com mais de 30 livros publicados. Suas áreas mais recentes de pesquisa são comunicação, semiótica cognitiva e computacional, estéticas tecnológicas e filosofia e metodologia da ciência. Foi professora convidada pelo DAAD na Universidade Livre de Berlin em 1987, na Universidade de Valencia, em 2004, na Universidade de Kassel, em 2009, na Universidade de Évora em 2010, na Universidad Nacional de las Artes, Buenos Aires, 2014, na Universidade Michoacana de San Hidalgo, México, 2015 e na Universidade de Caldas, Colômbia, a partir de 2018. Recebeu o prêmio Jabuti em 2002, 2009, 2011 e 2014, o Prêmio Sergio Motta, Liber, em Arte e Tecnologia, em 2005 e o prêmio Luiz Beltrãomaturidde acadêmica, em 2010.

MONALISA MEDRADO BOMFIM é pesquisadora e escritora. Doutora em Estudos de Literatura, pela universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e mestre em Estudos de Literatura, pela mesma instituição, tem como horizonte de pesquisa a poesia concreta, principalmente a poética de Haroldo de Campos e Décio Pignatari. Como escritora, produz artigos, poemas e contos que publica em revistas e de modo independente.

OMAR KHOURI. Graduado em História pela USP, Mestre e Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Livre-Docente em Teoria e Crítica da Arte pelo IA-UNESP, Pós-Doutor pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Professor Adjunto no Departamento de Artes Plásticas do IA-UNESP, campus de São Paulo-Brasil - aposentado, atua como colaborador/voluntário. Poeta, artista gráfico, editor, historiador, crítico de linguagens, curador, tem poemas publicados em diversas revistas: Código, Artéria, Qorpo Estranho, Atlas etc. Junto a Paulo Miranda, criou e mantém uma das mais importantes revistas de poesia experimental do Brasil: a Artéria. Participou de exposições coletivas de Poesia Intersemiótica no Brasil e em outros países (EUA, Holanda, Portugal, Itália…). RAQUEL CAMPOS é pós-doutoranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de São Carlos e membro do NEPPOC - Núcleo de Estudos e Pesquisas em Poesia e Cultura, sob a supervisão da Profª. Drª. Diana Junkes. Possui doutoramento em Literatura pela Universidade de Brasília (UnB) e foi Visiting Assistant in Research em Yale University, EUA, em 2017. Mestra em Literatura pela Universidade de Brasília com pesquisa financiada por bolsa Capes. É membro da Brazilian Studies Association (BRASA). Tem como principais áreas de atuação Teoria Literária e Literatura Brasileira. Apresentou trabalhos em diversas universidades do Brasil e dos Estados Unidos (Yale e Temple University).

RONALD POLITO é poeta, ensaísta, tradutor e historiador brasileiro. Além de sua obra própria, o seu trabalho como historiador e tradutor se vincula, em regra, à literatura, destacando-se os estudos sobre poetas coloniais brasileiros (principalmente Tomás Antonio Gonzaga) e as numerosas traduções de autores catalães (de Ramon Llull até escritores contemporâneos, como Joan Brossa, Carles Camps Mundó e Narcís Comadira). Preparou a edição de O Desertor: Poema Herói-cômico, de Manuel Inácio da Silva Alvarenga e publicou Ao abrigo, Um coração maior que o mundo e Terminal, entre outros.

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