UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA BACHARELADO EM TURISMO E HOTELARIA
ANA CLÁUDIA BITENCOURT SANTOS
A FUNDAÇÃO CASA DE JORGE AMADO COMO SÍMBOLO DA CULTURA BAIANA: interfaces entre cultura, museus e turismo
SALVADOR 2011
ANA CLÁUDIA BITENCOURT SANTOS
A FUNDAÇÃO CASA DE JORGE AMADO COMO SÍMBOLO DA CULTURA BAIANA: interfaces entre cultura, museus e turismo
Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Turismo e Hotelaria, Departamento de Ciências Humanas da UNEB, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Turismo e Hotelaria. Orientadora: Profª. Dra. Carmen Lúcia Castro Lima
SALVADOR 2011
ANA CLÁUDIA BITENCOURT SANTOS
A FUNDAÇÃO CASA DE JORGE AMADO COMO SÍMBOLO DA CULTURA BAIANA: interfaces entre cultura, museus e turismo Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Turismo e Hotelaria, Departamento de Ciências Humanas da UNEB, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Turismo e Hotelaria. Orientadora: Profª Dra. Carmen Lúcia Castro Lima
______________________________________________ Profª. Dra. Carmen Lúcia Castro Lima Doutora em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia ______________________________________________ Prof. Msc Archimedes Ribas Amazonas Mestre em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia ______________________________________________ Profª. Rosana Santana dos Reis Especialista em Administração Hoteleira
SALVADOR 2011
Dedico este trabalho aos meus pais, pelo amor e apoio incondicional dedicados, durante toda a minha vida.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar a Deus, por me guiar sempre, me dando força para superar as dificuldades, fé para prosseguir meu caminho e esperança para crer que no final tudo dará certo. Aos meus pais e meu irmão, que sempre estiveram ao meu lado, me dando amor, me incentivando e acreditando no meu potencial. Ao meu namorado Vinícius Freire, por toda compreensão, apoio e carinho dedicados. A minhas avós e a toda minha querida família, por compreender a minha ausência em momentos de celebração. A todos os meus colegas e amigos, por tornarem a minha jornada acadêmica mais alegre. A todos os professores, que durante estes anos, contribuíram para enriquecer os meus conhecimentos. A minha orientadora Carmen Lúcia, pela paciência, disposição e observações preciosas, sem as quais, eu não estaria escrevendo estas linhas hoje. A Carlos Paiva, da Superintendência da Promoção Cultural (SUPROCULT), A Manoel Passos, da Superintendência de Serviços Turísticos (SUSET), A Beatriz Lima, do Escritório de Referência do Centro Antigo e a diretora executiva da Fundação Casa de Jorge Amado, Myriam Fraga, por me cederem alguns minutos do seu valioso tempo, para conversar comigo, contribuindo enormemente para a criação deste trabalho e para o meu aprendizado de uma forma geral. E um agradecimento especial a todos os profissionais da Fundação Casa de Jorge Amado, pela cessão de informações, pela boa vontade em me ajudar, pela amizade, e principalmente por despertar em mim a paixão pela literatura de Jorge Amado. A todos vocês, muito obrigada!
“A esperança do homem está com os artistas e escritores, com os criadores da arte e da beleza, os que transpõem para uma nova dimensão a realidade e os sonhos humanos”. (Jorge Amado)
RESUMO
A identidade cultural de uma região e de seu povo é formada por uma série de elementos que os representam. Dentre estes, encontram-se: a gastronomia, as religiões, os modos comportamentais e as manifestações artísticas. No que tange a divulgação destes valores e a manutenção ou exclusão de costumes e crenças, a literatura assume um papel importante. No âmbito nacional, destaca-se a literatura do escritor Jorge Amado, um dos maiores difusores da cultura baiana pelo mundo e um grande ativista das causas populares da Bahia. Considerando que todo o acervo deste escritor encontra-se na Fundação Casa de Jorge Amado, e tendo em vista o papel das instituições culturais como mantenedoras e difusoras de um patrimônio, o presente trabalho apresenta um estudo da Fundação Casa de Jorge Amado como símbolo da cultura baiana. Esta pesquisa pretende, ainda, descobrir quais impactos a instituição provoca na atividade turística da região, visto que o turismo, se bem planejado, pode se constituir em uma ferramenta auxiliar no processo de valorização cultural do estado.
Palavras-chave: Identidade Cultural, patrimônio e Turismo. Literatura. Fundação Casa de Jorge Amado.
ABSTRACT
The cultural identity of a place and its people is build by a series of elements that represent them. Among these, we find: gastronomy, religions, ways of behavior and artistic manifestations. Concerning the transmission of values and the maintenance or exclusion of customs and beliefs, the literature takes an important role. On national scale, Jorge Amado´s writing stands out, being one of the most transmitters of baiana culture throughout the world, as a great activist of popular causes in Bahia. Giving that his whole book collection is inside the Fundação Casa de Jorge Amado, and knowing the role of cultural institutions as safekeepers and transmitters of a cultural patrimony, this work presents a study of Fundação Casa de Jorge Amado as a symbol of the baiana culture. This research intends on discover which kind of impacts this institution provokes on the touristic activities of the region, acknowledging that once this activity is well planned, it may constitute an auxiliary tool in the process of cultural valorization.
Keywords: Cultural identity, patrimony and tourism. Literature. Fundação Casa de Jorge Amado.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABL – Academia Brasileira de Letras BANEB – Banco do Estado da Bahia CAS – Centro Antigo de Salvador DPDOC – Departamento de Pesquisa e Documentação EDUFBA – Editora da Universidade Federal da Bahia FCJA – Fundação Casa de Jorge Amado FUNCEB – Fundação Cultural do Estado da Bahia ICOM – Conselho Internacional de Museus IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional MINC – Ministério da Cultura ONG’S – Organizações Não Governamentais SUPROCULT – Superintendência de Promoção Cultural SUSET – Superintendência de Serviços Turísticos SPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional UFBA – Universidade Federal da Bahia UNEB – Universidade do Estado da Bahia UNESCO – Organizações das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
LISTA DE FOTOGRAFIAS
Fotografia 1
Prêmio Internacional Lênin
35
Fotografia 2
Prêmio Pablo Neruda
35
Fotografia 3
Vitrine expositiva de medalhas de cidadão honorário da FCJA
35
Fotografia 4
Fardão da ABL, de Jorge Amado
36
Fotografia 5
Fundação Casa de Jorge Amado
38
Fotografia 6 Máquina de escrever de Jorge Amado
46
Fotografia 7
Armário com as primeiras edições dos livros de Jorge Amado
47
Fotografia 8
Pastas de recortes de periódicos
48
Fotografia 9
Estantes de livros do DPDOC
Fotografia 10 Computadores touchscreen da FCJA
48 54
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................11 2 CULTURA, BEM, VALOR E PATRIMÔNIO CULTURAL .............................14 2.1 CULTURA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES................................................14 2.2 A NOÇÃO DE BENS E VALORES CULTURAIS.........................................17 2.3 A QUESTÃO DA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL...........19 3 OS MUSEUS E A SUA RELAÇÃO COM O TURISMO.................................23 3.1 MUSEUS: CONCEITO E HISTÓRICO........................................................23 3.2 MUSEUS: QUESTÕES ATUAIS.................................................................25 3.3 OS MUSEUS E O TURISMO CULTURAL..................................................28 4 FUNDAÇÃO CASA DE JORGE AMADO: O SEU PAPEL COMO MANTENEDORA DO ACERVO DE JORGE AMADO....................................32 4.1 BIOGRAFIA DE JORGE AMADO...............................................................32 4.2 A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA FCJA......................................................37 4.3 A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL..........................................................42 4.4 O ACERVO E A SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA...............................45 5 A REPRESENTAÇÃO SIMBÓLICA DA FCJA E OS SEUS IMPACTOS NA ATIVIDADE TURÍSTICA DA REGIÃO..............................................................50 5.1 O PAPEL DA INSTITUIÇÃO NA PRESERVAÇÃO DO ACERVO DE JORGE AMADO..............................................................................................................50 5.2 A FACE TURÍSTICA DA INSTITUIÇÃO......................................................53 5.3 A FCJA COMO INSTRUMENTO SOCIAL NO PROCESSO DE REABILITAÇÃO DO CENTRO ANTIGO...........................................................58 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................61 REFERÊNCIAS.................................................................................................63 ENTREVISTAS REALIZADAS.........................................................................69 APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA..................................................70
1 INTRODUÇÃO
O homem constrói o mundo por meio da cultura. Se não houvesse crenças, costumes, línguas, valores espirituais e materiais, manifestações individuais e coletivas expressas pela arte ou pela ciência, não existiriam sociedades, nem tampouco a diversidade dos povos. Nessas manifestações culturais existe o sentimento de se transpor os limites do tempo e do espaço, e para tal, há a necessidade de se comunicar através dos diversos meios e símbolos. Quando um indivíduo se expressa, ele o faz carregando consigo as características do meio em que vive. Mesmo que implicitamente, o modo de andar, de se vestir, de se alimentar e de ser desta pessoa está relacionado com a sociedade na qual ela está inserida. Por sua vez, as atitudes deste ser, juntamente com o restante da população, vão influenciar diretamente na construção da imagem deste local. As expressões culturais, criações e criadoras de uma determinada sociedade necessitam de lugares para a preservação e expansão de suas atividades. Esses espaços culturais podem ser teatros, cinemas, museus, casas culturais e até mesmo, as ruas. Os espaços culturais são locais que tornam o conhecimento acessível a todos, preservam as tradições de uma região, incentivam a produção cultural e possibilitam a troca de experiências dos diversos povos, das diversas classes sociais e dos diversos países do globo. Salvador, uma cidade mestiça, de pluralidade religiosa, artística e social, primeira capital do Brasil, reconhecida pela UNESCO como patrimônio cultural da humanidade, apresenta em seu território, um centro histórico que também é reconhecido como patrimônio. Este patrimônio histórico possui em suas imediações um conjunto arquitetônico da era colonial, com aspectos do barroco português,
diversas igrejas revestidas de madeira e talhas em ouro, além de inúmeros museus, teatros, organizações não-governamentais (ONG’S) e espaços culturais que se constituem em grandes atrativos turísticos. Neste universo de espaços culturais, encontra-se a Fundação Casa de Jorge Amado. Uma instituição da memória, que preserva e divulga o acervo do escritor Jorge Amado, grande (re) construtor da identidade cultural baiana. Como ele mesmo afirmou: “Nunca desejei senão ser um escritor do meu tempo e de meu país. Não pretendi, nem tentei jamais ser universal senão sendo brasileiro e cada vez mais brasileiro. Poderia mesmo dizer, cada vez mais baiano” (AMADO, 1961, p.20). Diante da relevância do acervo que abriga e do papel que desempenha, frente à cultura da região, o objetivo do presente trabalho é analisar o papel da Fundação Casa de Jorge Amado como mantenedora do acervo do escritor Jorge Amado. Os focos do estudo são a sua representação simbólica para a cultura baiana, bem como a vocação turística que a instituição apresenta. O interesse pela realização deste trabalho foi decorrente do fascínio pelas questões culturais, em particular pela cultura baiana, tão rica e distinta, singular na sua pluralidade única. A necessidade de se preservar as instituições que contribuem para a formação da identidade baiana e o desejo de estimular o trabalho destes símbolos culturais foram determinantes para a escolha do tema. Por se tratar de uma intersecção entre três áreas (a cultural, a museológica e a turística), as discussões propostas no presente trabalho trazem contribuições a estudantes de museologia, de turismo, de literatura, bem como de outras áreas que trabalhem com a questão humana e social. A abordagem utilizada na elaboração deste trabalho foi a reflexiva, pretendendo suscitar a importância da Fundação Casa de Jorge Amado, e conseqüentemente, da obra de seu patrono para a afirmação de uma identidade cultural baiana, que se deseja perpetuar. Para tanto, utilizou-se como levantamento de dados a pesquisa bibliográfica e documental. O material consultado foi encontrado nas bibliotecas da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da própria Fundação Casa de Jorge Amado (FCJA). Além disso, os documentos e artigos disponíveis na internet complementaram os estudos. O propósito do estudo foi investigar: Qual a importância simbólica da FCJA para a cultura baiana e para a atividade turística da região? A motivação inicial para
tal indagação está associada ao fato de a Fundação Casa de Jorge Amado ser uma instituição que preserva e promove o acervo do escritor Jorge Amado — um dos maiores difusores da cultura baiana. Neste sentido, objetivando dar mais consistência ao aporte teórico, foram realizadas algumas entrevistas. Os entrevistados foram de diversas áreas: da Superintendência da Promoção Cultural (SUPROCULT), o seu superintendente Carlos Paiva; do Escritório de Referência do Centro Antigo de Salvador, a sua coordenadora geral, Beatriz Lima; da Superintendência dos Serviços Turísticos (SUSET), o historiador Manuel Passos e da Fundação Casa de Jorge Amado, a sua diretora executiva, Myriam Fraga. Baseado no objetivo que se propôs alcançar, optou-se por escolher a técnica de entrevista semi-estruturada. Segundo Gil (1993), este tipo de entrevista consiste na apresentação de um roteiro com questionamentos básicos, por parte do investigador, e no livre discurso dos entrevistados. Utilizando-se este método de pesquisa, podem-se captar as percepções de valor e os sentimentos expostos pelos entrevistados. Além desta introdução, o trabalho foi estruturado da seguinte forma: no segundo capítulo são apresentadas algumas considerações sobre cultura, os bens culturais e o seu valor simbólico, bem como uma discussão sobre patrimônio cultural. O terceiro capítulo traz uma evolução histórica sobre os museus e a relação entre a prática do turismo e as instituições museológicas. O quarto capítulo caracteriza a história, a estrutura organizacional, a composição do acervo e a sustentabilidade econômica da Fundação Casa de Jorge Amado. No quinto capítulo, é discutido o papel da Fundação sob três aspectos: o turístico; o preservacionista e divulgador do acervo de Jorge Amado e da cultura baiana, e o social, no processo de reabilitação do Centro Antigo da cidade de Salvador. No último capítulo, são feitas as considerações finais.
2 CULTURA, BEM, VALOR E PATRIMÔNIO CULTURAL
Os estudos sobre cultura se situam em um campo amplo e controverso, com uma fonte inesgotável de possibilidades de discussões. Portanto, este capítulo limita-se a fazer considerações relevantes ao tema de estudo, como: a conceituação do termo cultura e suas características; uma análise sobre bens e valores simbólicos e por fim, uma discussão sobre a questão da preservação do patrimônio cultural.
2.1 CULTURA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
A Cultura é o que diferencia o homem dos outros animais. As ações humanas são dotadas de consciência, diferentemente dos atos dos demais seres vivos, que são guiados por um instinto selvagem. Enquanto o restante dos seres precisa modificar sua estrutura física para se adaptar a novos ambientes, o ser humano modifica o meio, de modo a torná-lo apto à satisfação das suas necessidades. Esta capacidade do homem em acumular habilidades e aprendizados gera um conjunto complexo e racional de comportamentos, que possibilita o processo da criação, construção e transformação. A complexidade comportamental do homem origina a cultura, compreendida por Myanaki et al (2007, p. 08) como o: "Conjunto de crenças, costumes, valores espirituais e materiais, realizações de uma época ou de um povo, manifestações voluntárias que podem ser individuais ou coletivas pela elaboração artística ou científica". Segundo Cesnik e Beltrame (2005), a palavra cultura deriva do significado europeu da palavra jardim, e representa a base central de onde brotam as condições
de existência de um grupo. De acordo com Mello (2008), quando esse conjunto de crenças, valores e comportamentos é resultado de experiências pessoais, ele é denominado de cultura subjetiva. Uma acepção cultural muito importante, porque traz a percepção que o indivíduo possui do mundo em que vive. Na medida em que essa visão de mundo, essas aptidões e hábitos interiorizados vão se revelando, se transformando em ações e práticas, essa cultura passa a ser objetiva, portanto, suscetível a análises e estudos. Ainda seguindo o pensamento de Mello (2008), percebe-se que a exteriorização da cultura é necessária para que ela possa ser aprendida, vivida e perpetuada, já que envolve a padronização de comportamentos e hábitos e configura-se assim em um processo social e não individual. Um indivíduo não aprende a falar para dialogar consigo mesmo; ninguém escreve uma música ou um livro para si, escreve para compartilhar com outrem. Os seres humanos não sobrevivem sozinhos e nenhum homem pode viver sem cultura, pois é ela que define o modo de andar, de falar, de vestir e a maneira de ser das pessoas. É com base na vivência em sociedade que vamos desenvolvendo nossas habilidades e ações. Outro fator que elucida a necessidade das relações sociais para a sobrevivência humana é a evidência de que a maioria das coisas que precisamos é construída por outras pessoas, cada um possuindo uma determinada tarefa na formação da vida social. E se cultura é um processo social, então podemos dizer que esta é universal, visto que não existe ser humano desprovido de cultura. O termo "sem cultura "existe apenas como uma conotação popular para distinguir as pessoas instruídas e educadas com boas maneiras — segundo os padrões da sociedade — dos indivíduos carentes de conhecimento escolar. Segundo Goldstein (2009), a cultura pode receber distintas denominações dependendo do seu público-alvo e dos seus produtores: existe a cultura erudita, aquela destinada e produzida por intelectuais, pessoas que possuem certo nível de educação formal e cujas manifestações obedecem a padrões estéticos e científicos. Em contrapartida, tem a cultura popular produzida por pessoas que não tiveram acesso à escola e que abrange as relações lúdicas e coletivas de um povo, onde são expressos símbolos, imagens e valores que os representam.
É possível identificar ainda uma cultura de massa, aquela que alimenta a indústria cultural, a que transforma os livros, filmes, peças teatrais e shows, em meros objetos de consumo, visando atrair o maior número de pessoas possível, até que o mercado atinja o ponto de saturação e precise ser renovado. No entanto, na prática essas distinções não existem. O advento dos meios de comunicação eletrônica tornou o conhecimento acessível a uma grande parcela de público, de maneira igualitária. Embora a aprendizagem seja um processo subjetivo e dependa da percepção do ser. Existem alguns aspectos que são comuns a todas as culturas. Estes são denominados aspectos universais da cultura, como descreve Herskovits (1963): todos os povos possuem uma forma de produzir; um modo de distribuição dos produtos; instituições como a família, a religião e o Estado; manifestações artísticas; músicas; danças; apresentam um tipo de “linguagem” que possibilite a comunicação entre a população e uma filosofia de vida. Enfim, todas as organizações sociais apresentam os atributos necessários para garantir a sobrevivência em sociedade. Assim, a base que sustenta uma sociedade é fundamentada nesses elementos comuns, as mudanças entre as culturas de diferentes povos acontecem na aparência e não na estrutura funcional. O modo como as aptidões, os hábitos e os comportamentos de um povo vão se manifestar depende do contexto cultural, do qual faz parte. São as particularidades de cada sociedade que vão criar as chamadas culturas regionais e nacionais. Apesar de o processo cultural estar em constante movimento, as transformações geralmente ocorrem de maneira lenta e regular, o que permite que a cultura se mantenha como instituição tradicional. Mello (2008) afirma que a função transmissora torna a cultura obrigatoriamente mutável, em que novos valores são incorporados ou eliminados, de acordo com as necessidades dos povos de determinada região e/ou época. A cultura de determinadas regiões pode sofrer alterações baseadas no modo de vida de outras populações, ou seja, pelo processo da difusão cultural. Com o advento das tecnologias, principalmente na área das comunicações, tornou-se possível a interação entre povos das mais diferentes regiões do mundo. Tal fato ocasiona uma intensa transferência de elementos culturais, gerando uma descaracterização, cada vez mais comum, dos valores de uma população. Diante desse quadro, é muito difícil encontrar, atualmente, um local que tenha
uma cultura essencialmente "pura", ou seja, com comportamentos, costumes e crenças totalmente estabelecidos pela população autóctone. O mundo pós-moderno está vivendo uma verdadeira crise de identidade. Nações do mundo inteiro vêm lutando para preservar as características que constituem a identidade de seu povo. As identidades, por sua vez, são compreendidas por Brandão a seguir: [...] representações inevitavelmente marcadas pelo confronto com o outro, por se ter de estar em contato, por ser obrigado a se opor, a dominar ou ser dominado, a tornar-se mais ou menos livre, o poder ou não construir por conta própria o seu mundo de símbolos e, no seu interior aqueles que qualificam a pessoa, o grupo, a minoria, a raça, o povo. Identidades são mais do que isto, não apenas o produto do inevitável da oposição por contraste, mas o próprio reconhecimento social da diferença. (BRANDÃO, 1986, p.21).
Diante da afirmação descrita acima, pode-se constatar que as identidades expressam “o que somos” de acordo com a relação que estabelecemos com nossos semelhantes – sejam eles, de raça, gênero ou classe social – e com aqueles que possuem características diversas das nossas. De acordo com Hall (2006), antes dos indivíduos se reconhecerem como pessoas independentes, eles se enxergam como membros de uma sociedade. E como tais, adquirem distintos papéis nos diversos campos institucionais – familiar, profissional, amoroso, dentre outros. A execução dessas funções sociais vai auxiliar na formação da identidade cultural dos seres, que está em processo de construção.
2.2 A NOÇÃO DE BENS E VALORES CULTURAIS
Do ponto de vista econômico, a cultura é analisada como o conjunto de bens, serviços e manifestações culturais que participam dos processos de produção, distribuição e consumo. Os produtos culturais circulam em duas esferas, a dos preços e a dos valores. Enquanto o preço é percebido em conjunto, pelo gerenciamento das relações de troca e da interferência direta no fluxo de vendas, a percepção de valor é algo percebido individualmente, de acordo com os gostos e hábitos de cada um.
Para o economista cultural Throsby (2001), para compreender o valor cultural de um bem, devem ser levados em conta os seguintes aspectos: a relação com o passado e o presente do local em que ele está inserido, configurando assim, seu valor histórico; a sua beleza, forma e estilo que lhe dão valor estético; a coerência com a realidade a qual faz parte, definindo seu valor social; os significados que transmite refletindo seu caráter simbólico; o entendimento espiritual que proporciona ao seu consumidor e a autenticidade que a obra possui. Diante da análise valorativa dos bens culturais, faz-se necessário conceituálos. Segundo Throsby (2001), os bens culturais abrangem todas as atividades e os produtos resultantes da ação do homem, que envolvem aspectos morais, artísticos e intelectuais e que possuem três características básicas: significado simbólico, produção vinculada ao intelecto e processo criativo. Dentro do mercado dos bens culturais existem os bens privados, públicos e os mistos. Os bens privados dependem da política de oferta e demanda e são consumidos de acordo com as preferências dos clientes, os bens de natureza pública não têm um preço fixado pelo mercado e geram uma série de valores para a sociedade e os bens mistos são aqueles que podem ser comercializados, ao mesmo tempo em que transmitem uma mensagem simbólica aos seus apreciadores. Os bens de natureza pública podem ser chamados de bens do patrimônio cultural, e de acordo com Navrud e Ready (2002), apresentam diferentes níveis de exclusão de visitação. Enquanto os museus e centros culturais podem cobrar taxas de entrada para a sua manutenção, limitando e selecionando o número de visitantes, a apreciação de um monumento em praça pública ou a visitação a uma cidade histórica impossibilita a cobrança de tarifas, tornando a admiração do bem acessível a todos. Outra característica importante dos bens públicos é a inexistência de rivalidade quanto ao consumo. Várias pessoas podem admirar um monumento e uma galeria de arte ao mesmo tempo sem prejuízo à experiência vivida e ao valor que esta lhes proporciona. Esse mercado dos bens simbólicos vem passando, ao longo dos anos, por um processo de autonomização. De acordo com Bordieu (2005), a criação de um campo artístico e intelectual em contraste aos campos econômicos, religiosos e políticos modificou a história de produção dos intelectuais.
Esta modificação, por sua vez, foi decorrente de uma série de processos, dentre eles: a ampliação cada vez mais significativa do número de consumidores virtuais que resultou na independência econômica do segmento, a aparição de novos produtores e empresários e o surgimento de mais espaços de conservação e difusão dos bens culturais. Bordieu (2005), afirma que essas transformações tiveram início em Florença, no século XV, quando os produtos culturais passaram a ser regidos pelas próprias leis. Controlado pelo poder da igreja e da nobreza, o processo de independência do campo simbólico foi interrompido na época da monarquia absolutista, só tendo sua força de desenvolvimento retomada com o advento da Revolução Industrial, quando as tecnologias de produção se intensificaram e a facilidade de acesso culminou em uma extensão dos consumidores. Além disso, a demanda por práticas culturais foi intensificada pelos folhetins romancistas que atraíram uma parcela diferenciada de público (as mulheres, por exemplo). A consolidação de um mercado artístico e intelectual assegura a singularidade da produção artística, contrapondo-a a condição de simples mercadoria atrelada ao consumo. Como evidencia Bordieu (2005, p.102), os bens simbólicos “constituem realidades com dupla face — mercadorias e significações — cujo valor propriamente cultural e cujo valor mercantil subsistem relativamente independentes, mesmo nos casos em que a sanção econômica reafirma a consagração cultural”.
2.3 A QUESTÃO DA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL
De acordo com Barreto (2007), a palavra patrimônio surge no âmbito da revolução francesa — no século XVIII —, quando os bens do clero e da nobreza são transferidos para a nação como herança de “todos”. No sentido etimológico, o termo tem origem no latim — patrimonium, onde pater=pai e monium = valor reconhecido, ou seja, refere-se aos bens legados aos filhos pelos pais. O conceito de patrimônio pode, ainda, estar ligado aos bens de uma organização pública ou privada, de um território nacional ou mundial, gerando, portanto, uma série de denominações, de acordo com a área de abordagem.
Segundo Barreto (2007), pode se dividir o patrimônio em natural e cultural. O natural abrange os elementos existentes no meio ambiente, como as florestas, minas e outras riquezas da natureza. O patrimônio cultural, por sua vez, está ligado aos aspectos históricos, arqueológicos e industriais. Durante muito tempo, o patrimônio cultural esteve representado somente pelas artes materiais: a pintura, a escultura e a arquitetura. No entanto, com a evolução dos estudos sobre cultura e antropologia, o conceito se estendeu para as formas de artes intangíveis, como as danças, a música, o folclore, o modo de produção artesanal, enfim, para todas as manifestações oriundas de um povo. Desse modo, haveria duas classificações dos bens que formam o patrimônio cultural: bens materiais e imateriais. Segundo Armelin (2008), os bens materiais são os locais onde são guardados os documentos; as instituições, onde são feitas as transcrições dos documentos; os museus, organizações destinadas a preservar obras de arte, livros e objetos que remontam de outro período histórico. Compreendem ainda as bibliotecas, pinacotecas, todas as edificações que possuem objetos que têm importância para a cultura de uma região e, principalmente, o próprio acervo destas edificações. Por sua vez, os bens imateriais correspondem à reunião da sabedoria da vida cotidiana da população local e dos modos particulares de se fazer algo. Abrangem também as maneiras como as pessoas autóctones estabelecem relações sociais, as festas populares que traduzem a história do povo e de seus antepassados, as expressões artísticas, como a música, a literatura, o teatro, as formas de lazer e as artes plásticas que traduzem as raízes da sociedade (ASSUNÇÃO, 2003). De acordo com Julião (2006), no Brasil, as idéias modernistas da década de 1920 pregavam a construção de uma identidade tipicamente nacional, onde as singularidades nacionais seriam valorizadas, em detrimento aos costumes e ritos tidos como réplicas estrangeiras. Essa forma de pensar gerou consciência acerca da necessidade de se preservar os monumentos e as tradições que representavam o povo e desencadeou a criação da Inspetoria de Monumentos, em 1923 e a organização do Serviço de Proteção aos Monumentos Históricos e Obras de Arte em 1934. Essas primeiras iniciativas institucionais serviram de base para a criação, em 1937, do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), atualmente
conhecido como Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), órgão responsável pela preservação do patrimônio cultural do país. O patrimônio cultural brasileiro é compreendido como: Os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência e identidade, a ação, a memória dos diferentes grupos formados da sociedade brasileira nos quais se incluem as formas de expressão, os modos de criar, fazer e viver, as criações científicas, artísticas e tecnológicas, as obras, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais e os conjuntos urbanos e sítios de valor históricos, paisagísticos, artísticos, arqueológicos, paleológicos, ecológicos e científicos. (BRASIL, 1988).
Sendo assim, os bens que compõem o patrimônio de um povo e/ou localidade precisam ser preservados para que as gerações futuras tenham acesso à herança cultural de seus antepassados. O valor existente no patrimônio reflete as dimensões múltiplas da cultura como imagem de um passado vivo. Camargo (2005, p.25) evidencia o valor do patrimônio, quando afirma que “(...) os monumentos históricos são símbolos que se deseja perpetuar”. Esta necessidade obrigou o Estado a criar uma política de preservação: o tombamento. De acordo com Assunção (2003), tombar significa registrar no livro de tombos, os monumentos, as edificações e os objetos que representam a identidade cultural de um povo. Os bens depois de tombados passam a ser geridos pelo Estado vigente, que é o responsável por garantir que o patrimônio material irá manter suas características originais, permanecendo em bom estado de conservação. De acordo com Oliveira (2008), os bens imateriais são registrados em 4 livros: o Livro de Registro dos Saberes; o Livro de Registro das Celebrações; o Livro de Registro das Formas de Expressão e o Livro de Registros de Lugares. O procedimento adotado pelo Estado para a preservação dos bens de natureza imaterial consiste na documentação e no acompanhamento das diversas manifestações culturais para identificar os elementos mutáveis e permanentes. Por meio do registro, ocorre uma valorização e consagração das diversas formas de expressão da cultura. Como a eleição de determinado bem como patrimônio cultural vai depender dos valores culturais, históricos e dos interesses de determinada sociedade, muitas vezes o apelo turístico ultrapassa a necessidade de se perpetuar determinado bem de tradição.
Quando se fala em conciliar atividade turística com preservação da cultura, surge um impasse: como permitir o acesso de inúmeros visitantes a um prédio histórico, sem que este grande número de pessoas venha a impactar o local? E usar a cobrança de ingressos para limitar a visitação do patrimônio não é contraditório, quando este se trata de uma herança de todos? Eis os novos desafios do mundo contemporâneo que geram opiniões diversas e que dependem dos mediadores culturais, que devem identificar, se é viável a tributação e se o valor imposto é compatível com os benefícios adquiridos. Estes benefícios multiplicam-se quando os visitantes utilizam a arte da interpretação para compreender o valor do bem. Temos a interpretação do patrimônio como: [...] o processo de acrescentar valor à experiência do visitante, por meio do fornecimento de informações e representações que realcem a história e as características culturais e ambientais do lugar [...] mais que informar interpretar é revelar significados, é provocar emoções, é estimular a curiosidade, é entreter e inspirar novas atitudes no visitante é proporcionar uma experiência inesquecível com qualidade. (MURTA, 2002, p.13-14).
No próximo capítulo será feita uma abordagem sobre museus: monumentos que fazem parte do patrimônio edificado e que são responsáveis pela preservação de objetos e idéias de gerações anteriores. A discussão se ampliará para a atividade turística, dando ênfase ao viés cultural e a ligação desta com as instituições museológicas.
3 OS MUSEUS E A SUA RELAÇÃO COM O TURISMO
Este presente capítulo objetiva analisar a relação entre os museus e a atividade turística. Para tanto, serão apresentadas três seções. A primeira introduzirá o conceito de museu fazendo um recorte no passado para buscar as origens da instituição. Em seguida, serão abordadas questões atuais referentes aos modos de funcionamento e aos papéis desempenhados pelos museus. A terceira e última seção, trará definições de turismo, que mantenham co-relação com a prática cultural, e, portanto, com as instituições museológicas.
3.1 MUSEUS: CONCEITO E HISTÓRICO
Os museus, enquanto instituições que visam preservar e promover estudos que remontam a história de um povo, têm a sua origem no ato de colecionar. Segundo Barreto (2007), o interesse por reunir diversos artefatos é uma característica inerente ao ser humano e, portanto, está presente desde a ancestralidade. Quanto à origem da palavra museu, Suano (1986) afirma que o vocábulo remonta do termo mouseion da Grécia Antiga, que fazia referência ao local de contemplação das musas, filhas de Zeus e Mnemosine — deusa da memória. Além destes espaços sagrados que serviam de inspiração filosófica e exercício de práticas científicas, os gregos de Atenas possuíam uma pinakothéke, depósito de obras de pintura e de outros objetos valiosos. Segundo Barreto (2007), contrariando a concepção atual do termo, as primeiras coleções que vão originar os museus foram criadas para preservar os tesouros das classes dominantes, tendo inicialmente um
caráter privado, que excluía o restante da população. Durante os séculos XV e XVI, na época do Renascimento, as estátuas gregas e os vasos romanos ganham destaque, agregando-se às grandes coleções de manuscritos, livros e instrumentos de guerra. Além disso, os artefatos encontrados pelos grandes navegadores marítimos e as obras dos artistas contemporâneos — como Michelangelo — financiados pelos príncipes europeus e pela igreja são incorporadas às coleções da nobreza, de forma amontoada e aleatória, como representações de poder e riqueza (SUANO, 1986). Segundo Barreto (2007), as coleções eram armazenadas em prédios fechados e em salas disponíveis nos palácios. A primeira construção erguida para abrigar um museu foi a Galeria Ufizzi, em Florença, cuja exposição continha as obras de arte da família Médici. Apesar das mudanças no sentido da forma, a função social dos museus só vai aparecer no fim do século XVIII, devido aos ideais de igualdade pregados pela Revolução Francesa. Como conseqüência à ascensão da burguesia, torna-se livre o acesso da população à visitação dos museus, antes considerada regalia exclusiva de pessoas próximas aos proprietários. Em contraposição a nova concepção de museu resultante da Revolução Francesa e da sua consolidação no século XIX, a partir de 1930 o prestígio da visita aos museus vai decair consideravelmente. De acordo com Santos (1990), esta mudança vai ser proveniente dos novos modos de estudo dos antropólogos, que ampliam suas atividades para a cultura imaterial, deixando de lado os artefatos e, conseqüentemente, o local em que estes se encontram depositados. Por outro lado, o conhecimento do povo passa a ser valorizado e cresce a preocupação com as práticas pedagógicas e educativas dos museus. Diante dos novos interesses e das novas necessidades, em 1946 é criado pela UNESCO o Conselho Internacional de Museus (ICOM), com a finalidade de ampliar a visão tradicional da visita às instituições, agregando valor à experiência do visitante. Sendo assim, os museus são definidos como: (...) todas as coleções abertas ao público de materiais artísticos, técnicos, científicos, históricos ou arqueológicos, incluindo-se jardins botânicos e zoológicos, mas excluindo-se bibliotecas, exceto as que mantenham salas de exibição permanente. (ICOM, 1946 apud BARRETO, 2007, p.112).
Nos dias atuais, quando as atenções do público e dos dirigentes tendem a se voltar para a forma e a função dos museus — diferentemente de épocas anteriores, onde somente o conteúdo era valorizado — a sua definição atinge um sentido mais amplo e mais completo. Em vistas à necessidade de tornarem-se espaços de interação, lugar que possibilite trocas de experiências e conhecimentos entre os diversos povos e que provoque o surgimento de um verdadeiro intercâmbio cultural, o ICOM apresenta o novo significado de museu: Instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, pesquisa, expõe e divulga os bens tangíveis e intangíveis da humanidade e seu ambiente, com a finalidade de promover o conhecimento, a educação e o lazer. (ICOM, 2007, tradução nossa).
Com a reformulação do conceito, novos espaços são agregados à concepção de museu, dentre eles: as galerias de arte sem fins lucrativos; as reservas naturais; a reunião da fauna e flora de um local; os sítios arquitetônicos e os centros culturais que preservam e promovem os diversos bens do patrimônio. Dentre as diversas instituições que fazem parte do universo dos museus, encontra-se o memorial. Segundo Barcellos (1999), os memoriais são instituições que comunicam, preservam e expõem objetos, documentos, arquivos e bens de natureza imaterial que remetam a uma memória específica. Ainda segundo Barcellos (1999), os memoriais podem ser vistos como palco de homenagens, como centros culturais que estimulam a produção artística ou podem, assumir caráter agregativo, acumulando diversas funções. A identidade do memorial torna-se diretamente vinculada ao seu modelo de gestão. Ao se estender a classificação dos museus, surge cada vez mais a necessidade de se contextualizar o conteúdo, a forma e as funções destes à realidade histórica do local e de sua população.
3.2 MUSEUS: QUESTÕES ATUAIS
O surgimento de novas tecnologias e a efemeridade do mundo atual vem exigindo dos museus a implantação de um sistema informatizado e conectado ao
universo virtual, que possibilite a circulação de informações de modo mais rápido e eficaz. Nesse contexto, a digitalização dos acervos surge como ferramenta que auxilia o trabalho de preservação dos documentos, na medida em que o sistema computadorizado permite a localização das informações de forma dinâmica. Além disso, este sistema possibilita uma maior difusão das coleções, ocasionando em uma facilidade de acesso. No entanto, devem ser tomados alguns cuidados para que essa prática não se torne incoerente com a proposta funcional das instituições. As questões legais também devem ser levadas em conta, visto que os museus podem sofrer sanções jurídicas quanto à utilização inapropriada das imagens e de documentos, que necessitam de aprovação prévia dos autores. Ao mesmo tempo em que podem se prejudicar com a exposição indevida de seus arquivos ao grande público. No que tange ao espaço físico dos museus, Reis (2007) afirma que é preciso realizar mudanças no modo de apresentação das coleções. A exposição deve tornar-se cada vez mais interativa, com a criação de espaços de multimídia e oficinas de atividades culturais que possibilitem ao visitante uma experiência participativa. Além dessas práticas, é vigente a necessidade de integrar às comunidades locais o conhecimento e a diversão que as instituições proporcionam, através de exposições itinerantes e do desenvolvimento de ações educativas elaboradas em conjunto com a população. Outras medidas inovadoras que vêm sendo incorporadas aos museus são as modificações no estilo arquitetônico dos prédios que os sediam. Segundo Santos (1990), as mudanças acontecem no sentido de relacionar a forma das construções ao conteúdo exposto, tornando a estrutura mais coerente e os objetivos das instituições mais perceptíveis ao público. Para efetivar as mudanças necessárias e implantar novas tecnologias nas instituições, denota-se a precisão de uma grande quantidade de recursos financeiros. Todavia, o capital acumulado pelas receitas próprias do museu somadas aos incentivos do governo não chegam a ser suficientes para atingir seus objetivos. De acordo com Reis (2007), nesse contexto, o financiamento para a criação de serviços complementares às atividades desenvolvidas pelos museus aparece como alternativa limitada, visto que certas práticas poderiam ocasionar uma descaracterização do papel das entidades, a exemplo da construção de um
shopping Center. Tal iniciativa descaracterizaria por completo o sentido de existência dos museus. Dentro da perspectiva de obtenção de recursos, existe atualmente uma discussão acerca da legitimidade ou não da comercialização de peças de museu. Presume-se que a venda de peças incoerentes com o perfil da coleção exposta em um determinado museu poderia servir para aquisição de outras, mais relevantes para o contexto em que estão inseridas. Além disso, Benhamou (2007) alega que a maioria dos museus possui um acervo maior do que poderia expor, ou seja, faltam acomodações adequadas que armazenem e conservem essas obras excedentes. Diante das dificuldades de financiamento e da alta concorrência no meio cultural, os museus vêem-se obrigados a utilizar estratégias de atração de público. Dentro desse contexto, a criação de uma imagem institucional e de uma marca positiva e de qualidade conferem aos espaços culturais um status preferencial na disputa por incentivos. Segundo Amazonas (2009), a marca de uma instituição dá estabilidade e segurança aos seus consumidores, além de conceder-lhes atribuições de valor, como as denominações de pessoa culta e rebuscada. Para consolidar uma imagem, as instituições necessitam ultrapassar algumas etapas. A primeira delas consiste em analisar o perfil da organização, diante dos ambientes interno e externo. No segundo passo, deve-se traçar o perfil que a empresa deseja ter, e por fim, as características, os valores e princípios que orientam as atividades da mesma devem ser transmitidos aos diferentes públicos,
por meio de estratégias comunicacionais, como o
marketing, a propaganda e as relações públicas. Essas ações de comunicação devem ser feitas constantemente, com o objetivo de garantir que o público esteja bem informado acerca da instituição, e que se sinta atraído por ela. Além disso, conhecer o público-alvo e a representação que estes fazem da organização permite um maior direcionamento na escolha de técnicas de divulgação e atração dos visitantes. Ao atrair um grande número de público, espera-se que os dividendos que muitos museus geram — como atrativos turísticos — sejam suficientes para aumentar os subsídios por parte do governo e dos patrocinadores. Uma vez que os benefícios culturais, sociais e simbólicos proporcionados aparentam não ser o bastante.
3.3 OS MUSEUS E O TURISMO CULTURAL
Viajar sempre foi uma das necessidades do ser humano, portanto, esta prática existe desde o início da história da humanidade. Contudo, a concepção da motivação e as características de infra-estrutura existentes na área receptora de estrangeiros modificaram-se e evoluíram de tal forma, que deram origem à atividade turística e com ela, uma diversidade de conceitos. Segundo Beni (1997), o ato de viajar corresponde à característica principal do turismo. O próprio sentido etimológico do termo tour implica movimento de ida e volta. Ainda seguindo a linha de pensamento do autor, além do deslocamento, a atividade turística baseia-se em outras premissas básicas, como a estada do viajante fora de sua residência comum, o tempo de permanência na área receptora e os bens e serviços que os turistas usufruem. Diante da abrangência do setor turístico e da diversidade de áreas que estão interligadas a ele direta ou indiretamente, surgem conceitos variados de estudiosos de distintos campos educativos. Com base nos objetivos que se propõe alcançar, adota-se o conceito que mais se aplica: O Turismo é um fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário de indivíduos ou grupos de pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem do seu local de residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas inter-relações de importância, social, econômica e cultural. (PADILHA, 1992, p.19).
Apesar do distinto caráter motivacional das viagens, pode-se perceber a característica essencial que permeia o deslocamento: o contato com o outro. Em todas as formas de turismo, a relação com seres humanos de diferentes culturas está presente. Sendo assim, de uma forma geral pode-se dizer que todo turismo é cultural.
Todavia, discussões são geradas em torno dessa concepção, visto que uma visita superficial a uma praça, ou a um museu só para tirar fotos, por exemplo, não proporciona ao turista a compreensão do modo de vida da população local, muito menos lhe permite vivenciar os costumes e as crenças das comunidades receptoras. Portanto, de acordo com Funari e Pinsky (2001), o que caracteriza a prática efetiva de um turismo cultural não são os lugares que os turistas freqüentam e sim o modo como estes percebem a realidade cotidiana dos destinos turísticos e integram-se à vida das populações autóctones. Para uma melhor compreensão do fenômeno, define-se turismo cultural como: (...) uma incursão personalizada em outros locais e culturas para aprender sobre as pessoas, seus estilos de vida, seu legado e sua arte, características que devem ser mostradas de uma forma tal que represente genuinamente essas culturas e seus contextos históricos. (RYAN, 2002, p.953 apud BARRETO, 2007).
A prática do turismo cultural provoca nos turistas e nos nativos uma mudança na concepção de mundo. A partir da troca de experiências e da compreensão de diferentes costumes e tradições, um ser humano passa a ver o mundo sob a perspectiva do olhar do outro. Além disso, o conhecimento que o diálogo proporciona não se encontra registrado em nenhum documento oficial ou livro. Segundo Barreto (2007), esta relação entre turismo e cultura não é uma questão atual, a origem do turismo cultural remonta ao Grand Tour europeu, quando os aristocratas e a burguesia viajavam principalmente para contemplar monumentos, obras de arte e ruínas dos antigos povos gregos e romanos. Pode-se inferir com isso que a prática do turismo motivado primariamente pelo prazer e diversão, tal qual a concebemos atualmente, é posterior ao turismo impulsionado por adquirir conhecimento. Os turistas culturais apresentam uma série de diferenças com relação ao turista habitual. A primeira distinção, implícita na denominação do termo, refere-se à motivação das viagens. Segundo Costa (2009), estes turistas geralmente possuem um maior poder aquisitivo, são mais escolarizados, têm uma estada mais longa no local e gastam mais, ao mesmo tempo em que se tornam mais exigentes, quanto à qualidade do bem vivenciado e do valor dos produtos que consomem. Por na maioria das vezes se tratarem de pessoas com nível educacional mais alto, espera-se que os turistas culturais gerem menos impactos negativos nos
referidos destinos, do que os convencionais. Sendo assim, o principal objetivo de se estimular a prática do turismo cultural é a possibilidade da preservação dos bens culturais e, conseqüentemente a perpetuação da memória da região em que estes se encontram e do seu povo. O uso dos bens culturais como atrativos turísticos constituem-se em alternativas para a aquisição de recursos financeiros para as ações de conservação do patrimônio. Além dos bens materiais, a entrada de turistas pode contribuir também para a perpetuação do modo de vida dos povos, ou seja, do patrimônio imaterial do destino receptivo de turistas. Como atrativos culturais, podem-se entender quaisquer recursos de natureza simbólica que façam parte do conjunto do patrimônio cultural da região, sejam eles materiais ou imateriais. Segundo Filho (2000), nem todos os recursos culturais possuem potencialidade para vir a tornar-se um atrativo turístico e é necessário que se leve em conta os seguintes fatores: o caráter singular do bem, o seu estado de conservação e seu poder de atração. Em relação ao turismo, os museus vêm assumindo na atualidade um novo papel. Passam a agregar valor à atividade turística, na medida em que se constituem como atrativos que interagem com o público e, conseqüentemente, permitem uma maior apreensão de conhecimentos por parte dos turistas, em especial os culturais. Segundo Barreto (2007), a utilização dos museus como incremento ao turismo cresce consideravelmente na Europa e em quase todo o continente americano, com exceção da América do Sul, que ainda enfrenta a falta de interesse dos turistas e da população em geral em usufruir de atividades culturais. Com base nos estudos de Bordieu e Darbel (2003), o desejo de exercer determinadas práticas culturais — em especial, visita a museus —, está ligado ao nível educacional das pessoas, de modo que indivíduos com instrução escolar básica não possuem conhecimento necessário para compreender as obras que se encontram em um museu e muitas vezes, nem sabem o que este significa. Outro fator que influencia na atração por instituições culturais é o hábito familiar. Se desde jovens, os indivíduos são incentivados a freqüentar centros culturais, estes acabam por adquirir gosto pela cultura e discernimento para compreendê-la. Seguindo o pensamento de Barreto (2007), percebe-se que a tendência dos museus em se tornarem, cada vez mais, pólos de atração de turistas nacionais e
estrangeiros deve-se em parte, ao avanço das tecnologias de comunicação. A globalização
permite
que
coleções
sejam
reproduzidas
e
disponibilizadas
virtualmente, facilitando o acesso e gerando conhecimento, características essenciais para ocasionar o aumento do fluxo de pessoas nas instituições “reais”. Além disso, a utilização de novas técnicas de exposição, que permitem o contato do público com os objetos colecionados e a mudança na concepção dos estudiosos de museus, que se tornaram mais flexíveis quanto ao uso de tecnologias, constituem-se grandes preceitos para a criação de parcerias com o setor turístico, e conseqüente promoção da atividade nos centros do saber. Dentro da perspectiva de Hudson (1987), considerando os museus como atrativos turísticos, pode-se perceber a existência de um tipo específico de museu que apresenta grande aceitação por parte do público, sendo responsável por atrair inúmeros turistas: o site museum. Este museu de sítio corresponde ao espaço criado para conservar os recursos naturais e culturais do local em que está inserido e combina conhecimento científico, história, apreciação da natureza e lazer, através da participação ativa de seus visitantes. Em oposição aos benefícios que a prática turística realizada em museus pode gerar para as comunidades receptoras e para os visitantes, encontram-se os paradoxos que a relação museus e turismo supõem: o objetivo de preservação dos museus torna-se ameaçado pelo fluxo intenso de visitantes, ao mesmo tempo em que a atribuição turística dada à instituição, a torna valorizada e gera um maior incentivo do governo para a sua manutenção. Portanto, para que ligação entre as duas áreas possa ocorrer de maneira produtiva e benéfica para ambas, faz-se necessário um planejamento que inclua direitos de educação e entretenimento para as comunidades locais e visitantes e que ao mesmo tempo, procure conscientizá-los sobre a importância de se preservar o patrimônio, para que este se perpetue. No próximo capítulo, será feito um estudo sobre a Fundação Casa de Jorge Amado. Um memorial que habita uma das principais áreas turísticas da região, e como conseqüência recebe visitantes do mundo inteiro.
4
FUNDAÇÃO
CASA
DE
JORGE
AMADO:
O
SEU
PAPEL
COMO
MANTENEDORA DO ACERVO DE JORGE AMADO
Este capítulo apresentará a Fundação Casa de Jorge Amado (FCJA), que é objeto de estudo do trabalho em questão. Para redimensionar a criação da instituição, primeiramente será apresentada uma breve biografia sobre o escritor Jorge Amado. Em seguida, a trajetória histórica da instituição será retratada, enfatizando-se os momentos mais marcantes. Por fim, o capítulo irá descrever a estrutura física e organizacional, as atividades desempenhadas, o acervo e a sustentabilidade econômica da Casa.
4.1 BIOGRAFIA DE JORGE AMADO
Jorge Amado nasceu em 10 de agosto de 1912, em uma fazenda de cacau chamada Auricídia, no distrito de Ferradas, em Itabuna. Nesta época, o Sul da Bahia era marcado pelas plantações de cacau e pela conquista das terras, através de lutas entre coronéis, jagunços e fazendeiros. Como conta o próprio Jorge Amado (1982), devido a uma enchente do rio Cachoeira − próximo à fazenda onde morava −, as plantações de cacau de sua família foram destruídas e eles se viram obrigados a se mudar para Ilhéus. Nesta cidade, seus pais − Dona Eulália Leal e o coronel João Amado de Faria − passam a trabalhar com o artesanato de tamancos, enquanto ele cresce em meio à liberdade, brincando nas ruas do bairro do Pontal. Aos seis anos, Jorge Amado começa a freqüentar a sua primeira escola: a de Dona Guilhermina – nesta época, já sabia ler, tendo sido alfabetizado por sua mãe
−. Porém, é logo retirado desta escola, após receber castigos da professora. Neste período, Jorge Amado cria seu primeiro jornalzinho: A Luneta. A pedido do pai, aos nove anos, Jorge Amado vai estudar em Salvador. É matriculado no Colégio Antônio Vieira, na época um internato. Este colégio irá marcar para sempre a sua vida, por ter lhe apresentado o Padre Cabral − o professor que lhe anunciará futuro escritor e lhe ensinará a ter amor pela leitura, apresentando-lhe grandes clássicos da literatura, como Charles Dickens e Walter Scott −. (FCJA, 2008). Porém, apesar da afinidade com o professor, Jorge, acostumado com a liberdade do campo e do bairro do Pontal, sente-se preso no colégio interno e acaba fugindo, aos 12 anos, para o sertão de Sergipe (Itaporanga), onde moravam seus avôs paternos. Durante o trajeto, o menino vai conviver com gente de todos os tipos, desde grandes fazendeiros a pessoas mais humildes, que vão lhe acolher. (FCJA, 2008). Ao retornar a Salvador, Jorge passa a produzir seus escritos. Publica um poema modernista na revista A Luva, trabalha como redator no Diário da Bahia, em O Imparcial e em O Jornal. Em 1928, buscando ir além do modernismo, através da criação de uma literatura mais popular, Jorge Amado ajuda a fundar a Academia dos Rebeldes, juntamente com outros jovens intelectuais, a exemplo de Mirabeau Sampaio. Neste período, Jorge vive intensamente a vida boêmia da Bahia, passa a conviver com pescadores, artistas, prostitutas, mercadores, enfim, com todas as vertentes do povo da Bahia. Este convívio irá nortear toda a sua produção literária. (A VIDA..., 1997). Em 1930, por determinação de seu pai, Jorge vai morar no Rio de Janeiro para terminar os estudos e ingressar em uma faculdade. Então, em 1931 passa em uma das primeiras posições, no curso de direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Apesar de concluir o curso, Jorge Amado nunca exerce a profissão e nem mesmo, receberia o seu diploma. Segundo Goldstein (2003), a vocação de Jorge Amado era indiscutivelmente a escrita. Aos 19 anos, o seu primeiro romance é publicado: O País do Carnaval. Jorge Amado é considerado um escritor precoce e promissor, sendo seu livro bem aceito pela crítica e eleito o melhor do ano. Na época em que Jorge iniciou sua vida literária, o Brasil estava marcado pela revolução de 30. O início da Era Vargas, marcava uma nova forma de se pensar o
país. Neste contexto, Jorge Amado passa a integrar a geração de 30, que usava a literatura como uma arma de denúncia contra as injustiças sociais. Como Jorge retrata: “Minha geração, surgida na onda de um movimento armado e popular, tinha sua palavra a dizer, feita de realidade áspera e de densa esperança (...)”. (AMADO, 1961, pg. 10). Engajado na luta do povo, Jorge passa a ter relações com esquerdistas, dentre eles, a escritora Raquel de Queiroz, que possui papel decisivo na participação de Jorge Amado no Partido Comunista Brasileiro. Assim, a partir de 1932 passa a escrever livros com grande engajamento político. O quarto romance do autor, Jubiabá, irá consagrá-lo no mundo literário. Como afirma Ferreira (2007), neste livro, afirmando a sua característica vanguardista, Jorge Amado traz, pela primeira vez na literatura, a figura do negro como herói. Em 1936, Jorge Amado inaugura outro feito inédito. Desta vez, torna-se o primeiro escritor brasileiro a sobreviver somente com a renda dos seus livros. Jorge é autor de vinte e sete romances, dentre eles: Mar Morto; Tereza Batista Cansada de Guerra; Tieta do Agreste, Gabriela Cravo e Canela; Dona Flor e seus Dois Maridos; Capitães da Areia; Farda, Fardão Camisola de dormir e Tocaia Grande. Ainda escreveu um conto: O Milagre dos pássaros; uma novela: A morte e a morte de Quincas Berro D’Água; dois livros infantis: A Bola e o Goleiro e O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá e um livro de memórias: Navegação de Cabotagem. As obras literárias do escritor baiano tiveram uma grande repercussão nos diferentes meios de comunicação. Muitos dos seus romances foram adaptados para novelas, minisséries, filmes nacionais e estrangeiros, histórias em quadrinhos e cordéis. No cinema destaca-se o filme Dona Flor e seus dois maridos (1976), que segundo Dias (2008), era a produção brasileira mais assistida no país, até este ano (2011), em que passou a ocupar o segundo lugar na lista dos recordes. Jorge Amado foi um dos escritores mais lidos e traduzidos do mundo inteiro. Seus romances, segundo Myriam Fraga, a Diretora Executiva da FCJA (2011), foram adaptados para 49 línguas e mais de 60 países. A sua forma de escrever, exaltando as qualidades do povo brasileiro, principalmente o baiano, chamou a atenção de diversos tradutores no mundo inteiro. Por outro lado, o seu apelo contra as injustiças sociais, a violência, o abandono e o descaso das autoridades, contrariou diversos políticos ao longo da história. Diversos exemplares dos seus livros foram queimados em praça pública, na
época da ditadura de Getúlio Vargas e Militar. Como militante da esquerda, Jorge Amado também foi preso diversas vezes, além de ter sido obrigado a se exilar, em países, como a Argentina, França, Tchecoslováquia e Uruguai. Apesar de ter sofrido com a repressão política, Jorge Amado teve seu talento reconhecido e recebeu diversas homenagens e condecorações ao longo de sua vida. Destas, destacam-se: o prêmio Camões de literatura (1995) – considerado o Nobel da língua Portuguesa; a medalha Lênin (1951) – antigo prêmio Stalin da Paz; a medalha Pablo Neruda (1989) – do poeta chileno, que foi padrinho de Paloma e João Jorge, ambos os filhos de Jorge Amado; e o troféu Jabuti (1959; 1962; 1995) – o mais importante da literatura no Brasil.(FCJA, 2008).
Fotografia 1: Prêmio Internacional Lênin.
Fotografia 2: Prêmio Pablo Neruda.
Fonte: FCJA, 2007.
Fonte: FCJA, 2007.
Além disso, Jorge Amado também foi considerado cidadão do mundo. Devido às diversas cidades que o acolheram e lhe concederam o título de cidadão honorário, como Saint Malo (França), Pádua (Portugal) e Salvador (Brasil).
Fotografia 3 – Vitrine expositiva de medalhas de cidadão honorário da FCJA. Fonte: Santos, 2011.
No entanto, apesar de ter recebido diversas condecorações, os títulos que o deixavam mais orgulhoso eram os do candomblé. Jorge era obá de Xangô e babalorixá do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá – terreiro mais famoso de Salvador, comandado por mãe Stella. (AMADO, 2001). Segundo Goldstein (2003), outro feito que o deixou extremamente realizado foi a criação de um projeto de lei, em 1946 – na época, como deputado federal de São Paulo, pelo Partido Comunista Brasileiro − que dava liberdade religiosa e de culto. Avesso a todos os tipos de preconceito, Jorge Amado defendia os praticantes do candomblé e exaltava o sincretismo religioso existente na Bahia, resultado da sua origem mestiça. O romancista do povo teve seu talento reconhecido, também, na Academia Brasileira de Letras (ABL). Segundo a FCJA (2008), o autor foi eleito em 1961, para a cadeira 23, cujo patrono foi José de Alencar e o fundador, Machado de Assis.
Fotografia 4: Fardão da ABL, de Jorge Amado. Fonte: Santos, 2011.
Após uma longa vida de realizações, viagens, trabalho e laços de amizade. Jorge Amado repousa para sempre, em seis de agosto de 2001. As suas cinzas são enterradas na mangueira da casa do Rio Vermelho, residência do autor e de sua família desde 1961. Modesto, simples e talentoso, toda a sua história de vida e produção literária é digna de preservação e divulgação. Na instituição que leva seu nome, Fundação Casa de Jorge Amado, o autor vive e reina para sempre, levando ao mundo à vida da Bahia. Como ele mesmo disse: “(...) de tudo quanto escrevi, milhares de páginas, só prevalecerá, só perdurará aquilo onde exista um sopro de vida vivida, o hálito do povo da Bahia. Dele tirei os materiais de minha humanidade, para ele criei e construí”. (AMADO, 2003, p. 87).
4.2 A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA FUNDAÇÃO CASA DE JORGE AMADO
Diante da relevância do escritor Jorge Amado, um dos escritores brasileiros mais lidos e traduzidos no mundo, tornava-se imperativo a criação de uma instituição que abrigasse o seu acervo. O próprio Jorge Amado desejava doar seus documentos literários para um centro cultural que se propusesse a disponibilizá-lo para pesquisadores e estudiosos da sua obra. A Casa do Rio Vermelho – então residência do autor e de sua esposa, Zélia Gattai – tornava-se, cada vez mais, inapropriada para guarda e conservação de seus documentos. Estes, correspondentes aos anos posteriores a 1950 – já que os materiais de origem mais antiga haviam sido destruídos pela perseguição política e/ou perderam-se durante os exílios − eram dotados de imenso valor simbólico constituindo-se em verdadeiros testemunhos da história brasileira, principalmente da baiana. Segundo Fraga (1997), a partir de 1980, devido a uma mostra expositiva em comemoração aos 50 anos de carreira literária e aos 70 anos de idade do autor, intensifica-se o desejo de instituições brasileiras e estrangeiras em possuir o acervo de Jorge Amado. Apesar de se tratarem de organizações conceituadas, como a Universidade de Boston (EUA), Zélia Gattai se posicionava totalmente contra,
alegando que a Casa detentora do acervo de Jorge deveria ser constituída na Bahia, onde pudesse ser contemplada por seu povo conterrâneo, inspiração maior do autor. A poeta Myriam Fraga, buscando despertar o interesse de autoridades baianas quanto a importância da criação de uma Casa de cultura que abrigasse o acervo de Jorge Amado, escreve, em 1984, uma nota no jornal A Tarde, que dizia assim: (...) Onde será então que encontra-se a famosa “pedra no caminho”? Afinal não é todo dia que se tem um acervo como este à disposição de uma coletividade. Não se trata de nenhum favor a quem levou o nome da Bahia aos quatro cantos do mundo, mas de uma justa homenagem que no fim das contas só trará dividendos para os baianos. (FRAGA, 1997, pg. 22).
Germano Tabacof – o então reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) ao ler tal proposição, desperta interesse pelo projeto e começa a trabalhar para torná-lo realidade. Assim, dotada de pessoal qualificado e interessado em participar do planejamento e execução da Casa, a UFBA disponibiliza seus funcionários para catalogar e arquivar a documentação de Jorge Amado. Com a iniciação dos trabalhos, torna-se pertinente à escolha dos prédios que iriam preservar e divulgar a memória do escritor. Após analisar alguns locais, termina-se por optar pelos casarões de número 49 e 51 do Largo do Pelourinho, Salvador, Bahia. Abaixo, segue uma foto da instituição:
Fotografia 5: Fundação Casa de Jorge Amado. Fonte: FCJA, 2011.
Segundo Fraga (1992), o Pelourinho, sítio histórico tombado pela UNESCO como patrimônio cultural da Humanidade, apresenta em seu território casarões do século XIX que integram o conjunto urbanístico-arquitetônico mais importante da história colonial nas Américas. Além de sua importância cultural, o Pelourinho foi residência de Jorge Amado na adolescência. A vida no casarão de número 68 originou o romance Suor, e propiciou ao escritor o convívio com pessoas simples que marcaram profundamente suas histórias. A aceitação do Pelourinho como sede da instituição preservadora da memória do autor é ressaltada na seguinte proposição: A escolha não poderia ser melhor. (...) Cenário de vários episódios de romances de Jorge Amado, o Pelourinho já corria mundo com as estórias de Dona Flor, Pedro Arcanjo, de Tereza Batista, de Quincas e de mais uma dezena de personagens (...). (FRAGA, 1997, pg. 22).
O próprio Jorge Amado enfatiza a sua paixão pelo Pelourinho, em um trecho do livro Bahia de Todos os Santos: guia de ruas e mistérios: “Essa praça do Pelourinho é ilustre e grandiosa: sua beleza é feita de pedra e de sofrimento. Por aqui passa a vida inteira da Bahia, sua humanidade, a melhor e a mais sofrida” (AMADO, 2002, p. 73). Após a escolha dos prédios, foram tomadas iniciativas quanto aos aspectos legais. A parte correspondente ao Banco do Estado da Bahia (BANEB) foi doada, mediante a aprovação da Assembléia Geral dos Acionistas e a do Governo da Bahia foi concedida através de uma cessão de uso de 10 anos – transformada, em 1987 em doação, através da aprovação da Assembléia legislativa. Segundo Fraga (1997), o ano de 1985 e parte de 1986 foram consumidos por muito trabalho. Tanto pela restauração física dos edifícios, quanto pelo tratamento técnico do acervo. A Fundação Casa de Jorge Amado foi instituída em dois de julho de 1986, no Palácio do Planalto, em Brasília. A data, escolhida por Jorge Amado, não poderia ser mais significativa. Além de ser o dia do aniversário da sua eterna companheira, Zélia Gattai, a célebre data representa o fim da subordinação do povo baiano à colonização portuguesa, ou seja, simboliza a independência do Brasil, na Bahia. A cerimônia de criação da instituição contou com a presença do seu então presidente Germano Tabacof, do escritor René Depestre – representante da UNESCO− e do presidente da república José Sarney. Além, é claro, dos familiares, amigos e de diversas personalidades admiradoras de Jorge Amado. Após a
assinatura da escritura que constitui formalmente a Fundação, tornava-se pertinente o término das restaurações e das devidas instalações para que a organização começasse a funcionar. Assim, a data da inauguração foi marcada para o dia 7 de março de 1987. Na ocasião foram realizadas cerimônias religiosas do catolicismo e do candomblé, representando o sincretismo religioso da Bahia, tão enaltecido por Jorge Amado. A partir desta data, a Fundação vem trabalhando para cumprir a sua missão, que é definida pela seguinte afirmação, feita por Jorge Amado: [...] o que desejo é que nesta Casa o sentido da vida da Bahia esteja presente e que isto seja o sentimento de sua existência. Que ao lado da pesquisa e do estudo, seja um local de encontro, entre a Bahia e outros lugares [...]. (FRAGA, 1997, p 15).
Segundo a FCJA (1986), além de manter viva a memória do escritor baiano, apoiar estudos e pesquisas relacionados à sua vida e obra, a FCJA, ainda, tem como objetivos: fomentar estudos sobre a literatura e cultura baianas; lutar contra qualquer tipo de discriminação, transformando a Casa em um local de troca de experiências, idéias e informações; e participar ativamente no processo de valorização e reabilitação do Centro Antigo. Ao longo de 25 anos de funcionamento, a Fundação Casa de Jorge Amado promoveu diversos eventos e ações visando valorizar a cultura baiana e difundir a obra amadiana. No ano de inauguração da Casa,em 1987, no dia 19 de dezembro, ocorreu o lançamento da Revista Exu. Esta publicação que leva o nome do orixá, guardião da Fundação, possui como temática a cultura brasileira, mais especificamente, a baiana. Em suas edições podem ser encontradas entrevistas com grandes artistas plásticos, ilustradores e escritores, cuja produção artística possui ligação direta com a Bahia e seu povo. Além disso, as revistas contêm contos, ensaios e documentos de autores brasileiros. Apesar de ter atingido bastante sucesso – sendo veiculada em outros países e chegando a ter uma tiragem de cinco mil exemplares −, a revista Exu saiu de circulação em 1997, devido à ausência de patrocínios. No entanto, ainda hoje, é possível ter acesso às 36 edições publicadas, no Departamento de Pesquisa e Documentação (DPDOC) da Fundação Casa de Jorge Amado. Outro acontecimento que merece ser relembrado é o aniversário de 80 anos de Jorge Amado, em 1992. Segundo Fraga (1997), na ocasião é realizado um show
comemorativo no Largo do Pelourinho, que conta com a participação de vários artistas baianos, dentre eles, o músico Dorival Caymmi – grande amigo do escritor−. O evento recebe ainda o escritor João Ubaldo Ribeiro, a mãe de santo Stella e os filhos de Gandhy, que fazem uma apresentação em homenagem ao escritor. Fraga (1997) destaca também a parceria da instituição com a Bahiatursa na promoção do 1º festival de Folclore e Música Latino-Americana – Folkmusicalatino −, em Turim, na Itália, no dia 11 de dezembro de 1994. Ainda neste ano, destaca-se a criação do Com a Palavra o Escritor. Iniciado no dia 07 de outubro, o evento visa à aproximação entre escritores e o público, através da troca de informações e assimilações de conteúdo literário. Tendo conseguido grande aceitação de público, o encontro destaca-se pela qualidade e regularidade das apresentações – são realizadas diversas edições anualmente − constituindo-se em um projeto garantido no calendário da instituição. Em 1996, Zélia Gattai comemora 80 anos. Em sua homenagem é inaugurada na FCJA, a exposição Zélia, uma Biografia contendo fotos, frases e informações sobre a vida da escritora. Além disso, também ocorreu o lançamento do livro: Literatura na Bahia – Volume I, de sua autoria. De acordo com Fraga (1999), o ano de 1998 foi muito importante pela inauguração do Café teatro Zélia Gattai. Visto que, a criação deste espaço criou a possibilidade da realização de diversos eventos de cunho literário e artístico, além de agregar valor aos serviços oferecidos pela instituição, atraindo outros “nichos” de público e passando a contribuir com a sustentabilidade da Casa. Além disso, a partir deste ano, o primeiro andar da Casa passou a conter uma exposição sobre as obras de Jorge Amado; foi implantada a exposição permanente “A Biografia de Jorge Amado”, baseada em fotos tiradas por Zélia Gattai e criou-se uma galeria para exposições temporárias. No dia 10 de agosto de 2002, visando homenagear o escritor Jorge Amado – que se estivesse vivo, completaria 90 anos − a FCJA organizou um show no Largo do Pelourinho, com apresentações musicais e encenações das obras do autor. Por sua vez, em 2003, na semana do aniversário de Jorge, a instituição realizou um Festival de Arte e Gastronomia, no Hotel Pestana. De acordo com Fraga (2004), ocorreu, ainda, neste ano, um encontro com os escritores que receberam o Prêmio Braskem de Cultura e Arte. Este prêmio foi criado pela FCJA, juntamente com a empresa Braskem, em 1997, e tem como
finalidade incentivar a produção literária baiana, em diversos gêneros, como romance, ficção e poesia. Em 2004, ano que marca as comemorações do centenário do poeta Pablo Neruda – grande amigo de Jorge Amado −, a Fundação integra-se ao ciclo de homenagens, montando uma exposição chamada “Jorge Amado e Zélia Gattai contam Pablo Neruda”, composta por banners com fotografias e textos representativos da amizade do poeta chileno com o casal. Segundo Fraga (2006), outra exposição criada pela instituição objetivando homenagear o centenário de um grande literato amigo de Jorge Amado, foi a de Jean-Paul Sartre. Em 2005, a instituição organizou fotos de Zélia Gattai, tiradas na visita de Sartre ao Brasil, textos da escritora, de Simone de Beauvoir, de Jorge Amado e do próprio Sartre, onde o francês revela as suas impressões sobre a cultura brasileira. Em 2009, a FCJA inaugurou os “espaços Jorge Amado” nos hotéis Pestana (do Carmo e do Rio Vermelho) visando disseminar a obra de Jorge Amado e o trabalho da Fundação, através da venda de produtos relacionados ao escritor e à Casa. No ano de 2010 foi realizado o Seminário Acadêmico Internacional Jorge Amado. O encontro contou com a participação de diversos estudiosos literários nacionais e internacionais que abordaram temas como a política e a religiosidade na obra amadiana. Este ano (2011), a Casa passa por um momento importante, pois, este período, antecede o centenário do escritor Jorge Amado. A ocasião célebre impera a necessidade de a Fundação desenvolver ações para tornar a memória do autor cada vez mais viva. Para cumprir tal propósito, a instituição irá realizar uma extensa programação, que inclui a realização de cursos, lançamentos de livros, feiras gastronômicas e exposição fotográfica pela cidade.
4.3 A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA FCJA
A Fundação Casa de Jorge Amado foi instituída como entidade privada sem fins lucrativos. Este modelo organizacional foi escolhido para tornar as decisões administrativas da Casa mais independente do governo do Estado. No entanto, este sempre esteve vinculado à instituição, por meio das doações e promoção de eventos. Em termos jurídicos, a instituição foi criada na forma de Fundação, que é definida por Fiuza (2008, p. 158) como: “[...] patrimônio dotado de personalidade jurídica e constituído para realizar certo fim lícito”. Especificamente no caso da Fundação Casa de Jorge Amado, os fins a que se destinam, são fins culturais. Pensada, desde o início, como uma oficina de palavras, a Casa sempre teve como princípios norteadores: o desejo de se estimular a produção literária, os diversos modos de manifestações artísticas, e a luta contra o preconceito e a discriminação, nas suas mais variadas formas. Na Fundação Casa de Jorge Amado a sua classificação veio ser definida pela sua função. A Casa é um local de preservação de uma memória específica – a do autor Jorge Amado –, com um acervo composto por todo material produzido pelo escritor e/ ou que mantém relação com a sua história, obra e idéias. Assim, de acordo com Barcellos (1999), a instituição é um memorial que presta homenagem a um escritor de extrema importância para a literatura universal. Além de atuar como um centro cultural, na medida em que promove a cultura baiana. Segundo o estatuto da Fundação (1986) a administração da Casa é formada pelos seguintes órgãos: Presidência; Conselho curador — formado por membros vitalícios, ou seja, familiares do escritor; representantes do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia; da Academia de Letras da Bahia; do Conselho Estadual de Cultura; da Universidade Federal da Bahia; das classes empresarias e de mais dez pessoas proeminentes da comunidade, indicadas pela Assembléia Geral de instituidores e mantenedores —; Conselho Fiscal e Coordenação executiva. O ambiente de trabalho da instituição permite a interação entre os diferentes setores como uma maneira de agregar valor aos serviços oferecidos pela Casa. Por meio da troca de informações, a organização pode cumprir melhor a sua missão. Quanto aos departamentos existentes na Fundação, têm-se os seguintes setores: a Comunicação, que agrega a área educacional, de eventos e de promoção cultural; o DPDOC; a Administração, que engloba o setor financeiro e comercial e a
Diretoria Executiva. Além disso, a Fundação conta também com o Projeto Editorial Casa de Palavras. À Comunicação cabem as atividades relacionadas à divulgação da Casa nas diferentes mídias sociais, a realização de palestras, lançamentos de livros e seminários, a aplicação de pesquisas internas e externas para avaliar o público alvo, além do atendimento aos turistas e às escolas de ensino Médio e Fundamental. Para as escolas, a instituição oferece visitas guiadas com explanações sobre a própria instituição, sobre Zélia Gattai e Jorge Amado, além de realizar a exibição de um documentário sobre a vida do autor. Outro auxílio pedagógico que a Casa promove é o incentivo à leitura, através da doação de livros. O DPDOC é considerado o “coração” da instituição, visto que é o setor responsável pela preservação e controle do acervo. Atualmente estão sendo executadas as seguintes atividades: digitalização e controle de qualidade de manuscritos/datiloscritos; higienização de correspondências; elaboração do catálogo do arquivo fotográfico da Casa do Rio Vermelho; levantamento iconográfico dos livros de Zélia Gattai e levantamento de estudos do Fundo Jorge Amado. Ao setor administrativo financeiro competem às atividades relacionadas ao controle dos recursos econômicos e da parte comercial, além da supervisão dos demais setores e do controle dos recursos humanos. A Diretoria Executiva é encarregada de coordenar todas as atividades da Fundação, organizar o calendário dos eventos, além de ser totalmente responsável pela Organização. Por fim, a Casa conta com o projeto editorial Casa de Palavras, que foi criado para divulgar os trabalhos realizados na FCJA e estimular a produção literária baiana. Objetivos presentes no estatuto da Casa e que norteiam todo o trabalho da instituição. De acordo com Fraga (2011), a coleção Casa de Palavras, iniciada em 1987, já realizou a publicação de 145 trabalhos e atualmente, conta com dez linhas editoriais: Acervo Jorge Amado, Memória, Poesia, Arte, Ficção, Ensaio, Desenhos, Recôncavo, Bahianos e Teatro. Além das publicações exclusivas da Casa de Palavras, que contam com o patrocínio de outras organizações, como a empresa Braskem e a Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), a FCJA ainda publica alguns livros em co-edições, com editoras como a Editora da Universidade Federal da Bahia (EDUFBA) e a Quarteto.
No que tange à estrutura física da Casa, esta se encontra formada por quatro andares,
todos devidamente
ocupados. O
térreo
contém uma exposição
permanente, que se encontra acessível ao grande público. Neste, são encontrados quadros, estátuas de orixás e a exposição fotográfica de Zélia Gattai, além de textos que contam a história do autor e reproduções das capas das traduções de seus romances — estas últimas encontram-se no Café Teatro Zélia Gattai. No 1º andar, a exposição continua: Neste, pode-se contemplar alguns dos prêmios e medalhas que Jorge Amado recebeu; resumos dos romances em português, inglês e francês; painéis com as ilustrações das obras; objetos pessoais, como o fardão da Academia Brasileira de Letras e a máquina de escrever de Jorge Amado. Ainda no 1º andar, há computadores touchscreen − que dão acesso ao site da Fundação −, a Copa e a sala de comunicação e pesquisa. A Diretoria, as salas da Administração, a Secretaria, o DPDOC e o acervo encontram-se no 2º andar. Já o Mirante das Letras − onde são ministrados cursos e exibidos filmes − e a reserva técnica do acervo, ficam no 3º e último andar.
4.4 ACERVO E SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA
Como uma instituição que trabalha com a memória do escritor Jorge Amado, a Fundação realiza a produção racional e organizada do acervo deste. Segundo Filho, L. (2000), para captar a riqueza cultural deste material, a organização cria conjuntos documentais que representam simbolicamente o autor e resgatam a sua história e obra, ao invés de simplesmente armazenar documentos isolados. Ainda segundo Filho, só através deste processo, associado a um bom trabalho de divulgação do acervo, torna-se possível o cumprimento do papel de guardiã da memória. Atualmente, o acervo da Casa é formado pela existência de três fundos: O fundo Jorge Amado – que originou a instituição, o fundo Zélia Gattai e o da própria instituição. De acordo com o folheto do DPDOC da instituição, o Fundo Jorge Amado é formado por aproximadamente 104.400 documentos, constituindo-se de todo
material elaborado pelo autor, além dos confeccionados por terceiros que estabelecem relação com sua vida e obra. Os documentos que compõem o acervo datam de 1884 – com fotos da família do escritor – aos dias atuais. São testemunhos dos 70 anos de carreira literária do autor, em grande parte, reunido por ele próprio. A coleção é bastante variada, o que implica numa divisão por categorias para facilitar a sua preservação e acesso. A produção ativa corresponde aos livros escritos por Jorge em edições brasileiras e portuguesas, em braile, traduções dos romances, contos, artigos, músicas, publicações em co-autoria e aos trabalhos realizados pelo autor como organizador e tradutor. A produção passiva, por sua vez, é composta por biografia, teses, estudos, citações, adaptações e entrevistas sobre o escritor e a sua produção literária. Além disso, pode-se encontrar neste fundo: cartazes, periódicos, recortes, correspondências – ativas e passivas –, livros de arte, quadros, caricaturas, livros de cordel, fotografias e fitas de vídeo. Na parte expositiva da Fundação, podem ser vistas algumas premiações, que Jorge Amado recebeu ao longo de sua vida, como a medalha Lênin (1951) e o troféu Jabuti (1959; 1962 e 1995). Além, de alguns objetos pessoais do autor, como camisas e a máquina de datilografar que ele usava.
Fotografia 6 – Máquina de escrever de Jorge Amado Fonte: Santos, 2011
Como principal referência do escritor Jorge Amado, além da família, a Fundação abriga peças raras do acervo do escritor. Estas são constituídas pelas primeiras edições, pelos manuscritos e por documentos pessoais de Jorge Amado.
Fotografia 7– Armário com as primeiras edições dos livros de Jorge Amado Fonte: Santos, 2011
O Fundo Zélia Gattai contém a coleção dos livros da autora, suas traduções, recortes de jornais, fitas de áudio e vídeo, diplomas e premiações, além do precioso arquivo fotográfico, que segundo Fraga (1997, p.78), “retrata meio século de história cultural e política, destacando personalidades que marcaram uma época, no Brasil e no mundo”. Composta por aproximadamente 41.600 documentos, a coleção faz referência ao período de 1910 até a atualidade. Por fim, a instituição conta com o Fundo Fundação Casa de Jorge Amado. Criado como uma extensão da obra amadiana, este é constituído por recortes, periódicos, fitas de vídeo e áudio, publicações da Casa, documentos administrativos e históricos. São aproximadamente 46.600 documentos que fazem referência à memória dos 25 anos de funcionamento da instituição. No DPDOC do memorial, ainda podem ser encontradas obras relacionadas à cultura da Bahia, as religiões afro, ao folclore e a outros temas que possuam relação com as obras de Jorge Amado. De acordo com Amaral e Ferreira (2005), para facilitar o acesso e a difusão de seu acervo, a Fundação Casa de Jorge Amado adotou uma política de organização que está baseada nas seguintes etapas: seleção, aquisição de novos materiais, o tombamento que registra os documentos em ordem cronológica, a catalogação, a classificação do material de acordo com os assuntos abordados e a
indexação, que consiste na criação de um banco de dados, que permite resgatar informações específicas.
Fotografia 8 – Pastas de recortes de periódicos
Fotografia 9 – Estantes de livros
Fonte: Santos, 2011
Fonte: Santos, 2011
Tendo em vista a relevância do acervo que possui, e a sensibilidade do mesmo, a instituição adotou algumas regras, quanto ao manuseio dos documentos: a consulta ao material da Fundação só pode ser feita no local, não havendo serviço de empréstimo; toda vez que o pesquisador utilizar o material pertencente ao acervo, deve fazer referência à instituição, e ao término da pesquisa, o estudioso deve se comprometer a doar uma cópia do seu trabalho, para complementação do acervo da FCJA. Para a manutenção desse acervo e das demais instalações da Casa, bem como para efetuar a realização de eventos culturais ligados à cultura baiana, torna-se necessário uma série de financiamentos e incentivos econômicos. Por se tratar de uma organização não-governamental sem fins lucrativos, a FCJA é mantida através de doações, subvenções, auxílios, convênios e patrocínios de entidades públicas e/ou privadas, que se comprometam a conceder recursos para o funcionamento da Casa. De acordo com Fraga, A. (2011) atualmente, a instituição conta com o apoio do Nacional Iguatemi Empreendimentos – que desde a criação da Fundação, se compromete a doar uma verba fixa, correspondente a 10 salários mínimos por mês −; da Secretaria de Cultura da Bahia, que concede à Casa, anualmente o valor de R$ 550.000,00 – por meio do programa Fundo de Cultura; do Banco do Nordeste; de empresas que, esporadicamente, se conveniam à Fundação por repasse direto
ou por projetos via leis de incentivos fiscais do Ministério da cultura (MINC) e do “Faz Cultura” — programa criado pelo Estado da Bahia, que concede recursos para o desenvolvimento da cultura na região, mediante a aprovação de projetos. Com o intuito de complementar a quantia destinada a honrar seus compromissos, e a prosseguir com suas atividades, a Fundação realiza algumas atividades comerciais nas suas instalações. A loja Tenda dos Milagres, existente no térreo da instituição, realiza a venda de livros de Jorge Amado, Zélia Gattai e da própria instituição, além de comercializar diversos produtos que fazem referência a memória do escritor e/ ou da Casa, como camisas, xícaras, imãs, estojos, sandálias, almofadas, tapetes, e outros. Outro estabelecimento que angaria capital para a manutenção da Casa é o Café teatro Zélia Gattai, que realiza a venda de diversos quitutes regionais, integrantes do universo amadiano. Visando obter mais uma alternativa para a aquisição de recursos, a partir do mês de abril deste ano (2011), a FCJA iniciou a cobrança de um valor simbólico, de R$ 3,00, para a visitação de suas instalações. Se por um lado, a cobrança da entrada ocasiona a diminuição dos visitantes, por
outro,
possibilita
um
aumento
na
qualidade
do
atendimento
e
na
modernização/manutenção dos equipamentos para o público que realmente se interesse em conhecer, ou mesmo aprofundar-se na história da vida e obra de Jorge Amado e Zélia Gattai. Assim, durante as quartas feiras, a entrada permanecerá gratuita, para garantir que a população de Salvador e/ou as pessoas mais carentes, tenham acesso ao memorial. Essas formas de angariar recursos próprios da Fundação, de acordo com Fraga A. (2011), representam aproximadamente 40% do total mínimo necessário para a manutenção da instituição. Ou seja, apesar da significativa relevância, tal origem de recursos não é suficiente para a auto-sustentabilidade da Casa. Portanto, fazem-se necessárias ações contínuas para garantir os recursos que possibilitem a realização das atividades e o cumprimento das responsabilidades sociais da mesma.
5 A REPRESENTAÇÃO SIMBÓLICA DA FCJA PARA A CULTURA BAIANA E OS SEUS IMPACTOS NA ATIVIDADE TURÍSTICA DA REGIÃO
Neste capítulo será discutido o papel da Fundação Casa de Jorge Amado como símbolo da cultura baiana. Para tanto, serão apresentadas as informações obtidas durante a realização das entrevistas que abordam a instituição de três maneiras: como mantenedora do acervo do escritor Jorge Amado, como atrativo turístico, que contribui para a expansão da atividade e para o desenvolvimento de um turismo cultural efetivo na região e como participante ativa do processo de reabilitação do Centro Antigo de Salvador.
5.1 O PAPEL DA INSTITUIÇÃO NA PRESERVAÇÃO DO ACERVO DE JORGE AMADO
Em todas as formas de produção cultural, Jorge Amado elege o povo como fonte de inspiração. Para ele, só através da vivência dos costumes populares é possível se construir grandes obras. Nas relações entre o romancista e o povo, este é, “(...) fundamentalmente, seu personagem, seu tema, a farinha e o fermento de sua verdade, de sua criação.” (AMADO, 2003, p. 3-6). Dessa forma, por acreditar ser a cultura popular da Bahia a “viga mestra” que alimenta a criação artística e literária, Jorge Amado converteu diversas personalidades à natureza baiana. Por intermédio de seus textos e de sua amizade, o sergipano Jenner Augusto, o lusitano Antônio Celestino e os já citados, Carybé e Pierre Verger receberam o título de cidadão honorário da cidade de Salvador. Segundo Goldstein (2003), o escritor baiano é agente ativo no processo de construção identitária da cultura brasileira, em particular da baiana. Jorge Amado é um dos precursores da chamada “baianidade” – modo de viver particular do povo baiano. De acordo com o autor, ser baiano “é um estado de espírito, uma filosofia, uma forma de humanismo” (FCJA, 1980, p.02). Jorge Amado atribui a autenticidade e a riqueza da cultura baiana à questão da miscigenação, da mistura de raças. Em
sua opinião, dentro do processo de construção da identidade baiana, cada raça foi responsável pela concessão de determinadas características. Os negros africanos deixaram como legado, a alegria e a sensualidade; os brancos portugueses contribuíram com a cordialidade e a tradição familiar e os índios com a sua força e seus costumes supersticiosos, resultando em uma raça única, marcada pela pluralidade. Sendo assim, todas as manifestações culturais baianas seriam provenientes da mestiçagem. A gastronomia, os ritmos musicais, as relações sociais, o folclore e as religiões são constituídos, a partir da junção de elementos das três raças. Para Jorge Amado, a identidade baiana é sensitiva, ou seja, se constrói a partir dos cinco sentidos, através dos cheiros, sabores, cores, texturas, ritmos e da forma como são percebidos. Uma característica singular da cultura baiana bastante apreciada por Jorge Amado é o sincretismo religioso. A associação de santos católicos com orixás do candomblé rendeu ao autor diversas histórias para os seus livros. Dentre eles, destacam-se o romance O Sumiço da Santa e O Compadre de Ogum. Neste último, o autor exemplifica essa fusão, narrando um episódio, em que um padre recebe Ogum, durante uma cerimônia de batismo. Segundo Goldstein (2003), o apreço de Jorge Amado por essa tradição cultural, justifica-se pela convivência harmônica entre os praticantes das duas religiões. Para o escritor, através da união dos credos ocorre uma valorização do patrimônio do povo baiano. Ativista das causas populares, Jorge Amado foi responsável por preservar uma das manifestações culturais mais tradicionais da Bahia: A Irmandade da Boa Morte. A relevância da celebração é exaltada pelo escritor, no seguinte trecho:
(...) Fundada pelos escravos, a devoção da Virgem da Boa Morte nasceu (em 1820, segundo Odorico Tavares) nas mesmas senzalas do Recôncavo Baiano, onde nasceu a capoeira de Angola (...). Velhas senhoras, trabalham dia e noite, ganham vinténs contados: elas são o alicerce africano da cultura brasileira, de nossa nação mestiça, quem sabe a pedra fundamental (...). (AMADO, 1995 apud COSTA, 2008, p.180).
O escritor escreveu uma carta à Folha de São Paulo, intitulada Tomo da cuia de esmoler, no dia 27 de janeiro de 1995, intimando grandes personalidades, dentre elas, o então ministro da cultura, Francisco Weffort, a restaurar a nova sede da
Irmandade, que se encontrava em estado decadente. No trecho descrito abaixo, pode-se perceber a dedicação e persistência na intervenção do autor. (...) De cuia em punho, irei em frente, pedinte obstinado: a sede nova da Irmandade deve ficar pronta a 14 de agosto, dia em que a Festa terá início, a procissão deste ano de 1995 deverá sair das casas reconstruídas. Para que assim seja recebo a cuia de esmoler, parto em missão (...). Não peço, exijo. Exijo ajuda e urgência na ajuda. (COSTA, 2008, pg. 182 apud AMADO, 1995).
De acordo com Costa (2008), o grande prestígio de Jorge Amado com as personalidades da cultura brasileira, resultou em resposta positiva, no dia seguinte a publicação da carta. O ministro da Cultura e o presidente da república, Fernando Henrique Cardoso, comprometeram-se a concretizar as obras. No entanto, foi o Governo da Bahia, na figura de Paulo Souto, que viabilizou a restauração dos casarões. Dessa forma, pode-se afirmar que somente o fato da Fundação Casa de Jorge Amado abrigar um acervo de tal valia para o povo brasileiro, principalmente para o povo baiano a tornaria um símbolo de referência da memória no país. No entanto, à sua inerente vocação preservacionista da cultura brasileira são agregadas funções educativas; sociais e humanitárias, acabando por constituí-la em um grande instrumento da valorização e difusão dos costumes da região. Como afirma Fraga (1992, p. 05): “A Casa (...) mantém vínculos amáveis e orgânicos com a comunidade envolvente e a vida baiana. O fruto não renega a árvore. Casa de Jorge Amado — casa do povo da Bahia”. Fraga (2011) evidencia a sua opinião, afirmando que através do trabalho da instituição, muitas pessoas tomam conhecimento da importância da obra de Jorge Amado, e conseqüentemente da cultura da Bahia. Beatriz Lima (2011), Coordenadora Geral do Escritório de Referência do Centro Antigo, diz que a organização é uma prova concreta do papel do escritor Jorge Amado na criação de uma identidade particular do povo baiano. De acordo com Manuel Passos, Historiador e Superintendente da SUSET (2011), Jorge Amado retratou o povo e os costumes da Bahia, de uma maneira crítica e profunda. Graças a sua literatura foi possível desconstruir alguns preconceitos, como a questão racial. Para o historiador, as instituições são maiores do que os homens, já que estas permanecem quando estes se vão, sendo assim, a FCJA permite que o autor continue ativo.
Carlos Paiva, Superintendente da SUPROCULT (2011) considera a FCJA uma das organizações que mais trabalham para manter acesa a “chama” cultural da região. Segundo ele, a constante preocupação da Casa em se atualizar e promover eventos ligados à cultura reflete como contribuição na valorização cultural da região.
5.2 A FACE TURÍSTICA DA INSTITUIÇÃO
A Fundação Casa de Jorge Amado como instituição responsável pela preservação e divulgação da memória do escritor baiano Jorge Amado, além de exercer seu papel social atuando na promoção da literatura e cultura baianas, constitui-se em um atrativo turístico da região. Esta característica lhe é assegurada pelos seguintes fatores: a singularidade dos bens que possui; o bom estado de conservação da Casa e a capacidade de atrair inúmeros visitantes das mais variadas localidades do globo. O memorial está sediado em um edifício arquitetônico do século XIX, cujas características remontam o período colonial e retratam o barroco português. Assim como, os demais prédios pertencentes ao sítio histórico do Pelourinho, as construções que resguardam o acervo de Jorge Amado são tombadas pela UNESCO como patrimônio cultural da humanidade. Além dos bens culturais de caráter material, a Fundação possui como legado todo o cabedal literário do escritor Jorge Amado, cujo valor simbólico transpõe a objetividade das paredes dos edifícios, rompendo fronteiras e atingindo os mais variados tipos de público. No que tange às necessidades dos turistas, a Fundação demonstra iniciativas quanto à adaptação de suas instalações a esse tipo diferenciado de público, ainda que incipientes – devido às dificuldades financeiras existentes. Aliás, fato comum entre instituições que dependam de políticas públicas no país – mudanças na gestão do memorial vêm sendo realizadas. A exposição, no início deste ano (2011), passou a agregar mais informações. Aos painéis com resumos das obras de Jorge foram anexadas traduções para o inglês e o francês. Nos computadores touchscreen – que dão acesso ao novo site da
FCJA – também existe a opção de se acessar textos nessas duas línguas estrangeiras.
Fotografia 10 – Computadores touchscreen da FCJA Fonte: Santos, 2011
Além disso, a Casa conta com funcionários que falam fluentemente outros idiomas. Todas essas ações foram realizadas visando minimizar os entraves surgidos pela inacessibilidade dos turistas estrangeiros. A FCJA vem estabelecendo parcerias com agentes do trade turístico, como guias, objetivando interligar a atividade cultural com o turismo, estreitando os laços que distanciam tais setores. Outra iniciativa implantada recentemente foi o sistema de câmeras, que permite uma maior segurança ao turista e proporciona aos dirigentes um melhor monitoramento do trabalho executado por seus funcionários. Os estabelecimentos comerciais existentes na instituição, também cumprem um importante papel na satisfação dos turistas. A loja de souvernirs “Tenda dos Milagres” e o café teatro Zélia Gattai constituem-se em referências positivas da região, pela qualidade de seus produtos e serviços. Contudo, a principal razão que impulsiona à visita de milhares de pessoas a instituição é justamente o sentido da sua existência: o acervo de Jorge Amado. Este escritor que nasceu em Itabuna e ganhou o mundo, teve seus romances traduzidos para mais de 49 línguas e 60 países, tornando-se um dos escritores mais lidos e traduzidos do mundo. Uma citação do próprio autor em Navegação de Cabotagem
ressalta a difusão das suas obras: “[...] Tenho livros em línguas estranhas, do coreano ao turcomênio, do tailandês ao macedônio, do albanês ao persa e ao mongol. [...]” (AMADO, 2001, p. 12). Enfatizando, ainda mais, o caráter universal da obra de Jorge Amado, Goldstein (2003), afirma que o escritor é uma das maiores referências do Brasil no exterior, estando ao lado de símbolos nacionais, como o futebol e o samba. O despertar do interesse destes estrangeiros pelas histórias de Jorge Amado, se justifica pelo conteúdo essencialmente brasileiro que estas possuem. O próprio autor associa a grande repercussão da sua obra, ao povo brasileiro, principalmente baiano. No discurso de inauguração da Fundação Casa de Jorge Amado, ele afirma: “Esta homenagem que hoje aqui se presta, no Palácio do Planalto, não é prestada a mim, homenageia-se o povo da Bahia a quem o escritor que eu sou deve tudo quanto sabe e tudo quanto fez. Toda a minha criação nasce do que aprendi com o povo”. (FRAGA, 1997, p. 36). Os personagens dos seus romances são formados por mulatas, jagunços, bêbados, prostitutas, coronéis, beatas, enfim, pessoas do povo que foram (re) criadas a partir da experiência de vida do autor e da sua imaginação criativa. Um destes inúmeros personagens encantou personalidades ilustres. Jubiabá – pai de santo do livro de mesmo nome – foi o responsável por trazer à Bahia, o fotógrafo e etnógrafo francês, Pierre Verger e o argentino ilustrador, Carybé. Ambos conheceram a Bahia e se apaixonaram perdidamente por ela, através da obra amadiana. Desde então, fixaram residência na região, deixando contribuições valorosas à cultura baiana. Para ilustrar tal feito, uma citação do autor em Navegação de Cabotagem. Dei à Bahia o sábio e o artista, acha pouco? Tenho ou não motivo para vaidade? Não foi você, diz-me o bom senso, quem os trouxe na barra do mistério, foi o pai Jubiabá para quem Gilberto Gil compôs uma canção e Nelson Pereira dos Santos rodou um filme. Recolhome à minha modesta condição, intérprete menor do povo da Bahia, com o que me basta e sobra. (AMADO, 2001, p. 98 – 99).
Essa geração de 30 − como era conhecida− foi responsável pelas grandes produções culturais brasileiras. Segundo Guerreiro (2005), no final da década de 1960, esta produção torna-se o principal instrumento de atração de turistas provenientes das regiões Sul e Sudeste. As manifestações artísticas vão ajudar na
constituição da imagem da Bahia, a ser veiculada na mídia, e transmitida como slogan na promoção deste destino turístico. De acordo com Passos (2011), o boom turístico que ocorreu a partir dos anos 1970/1980, na cidade de Salvador é decorrente da difusão das obras amadianas. A diretora executiva da Fundação, Myriam Fraga, ressalta a importância de Jorge Amado na divulgação do Brasil, principalmente da Bahia, no trecho descrito abaixo: (...) Hoje, por todo o canto do mundo, traduzido em línguas sem conta, a beleza desta cidade atrai visitantes, seduzidos pela imagem, pelas estórias, pelos mistérios que sussurram entre as páginas de seus livros com a promessa de um mundo que, recriado pela fantasia, transcende os limites do espaço geográfico para inserir-se no mapa-múndi das criações utópicas, este país das maravilhas com que sonhamos nós todos (...). (FRAGA, 2000, p.12).
Apaixonado por sua terra e por seu povo, Jorge Amado escreveu um guia que descreve as belezas naturais da região, narra fatos históricos, enumera as manifestações e expressões culturais e, primordialmente, apresenta ao mundo o povo baiano, a sua força, dor, alegria e fé. “Bahia de todos os Santos: guias de ruas e mistérios” é considerado por Guerreiro (2005), o melhor guia turístico da região. Desde o prefácio, intitulado como “Convite”, pode-se sentir a natureza apetecível do livro. Além de promover a Bahia, Jorge Amado demonstra a sua preocupação com o tipo de turista que iria atrair. Na afirmação abaixo, pode-se constatar o desejo do autor em levar para a região, pessoas ávidas por conteúdo, por se aprofundar na realidade baiana e vivenciá-la, não apenas consumi-la superficialmente. Se és apenas uma turista ávida de novas paisagens, de novidades para virilizar um coração gasto de emoções, viajante de pobre aventura rica, então não queiras esse guia. Mas se queres ver tudo, na ânsia de aprender e melhorar, se queres realmente conhecer a Bahia, então, vem comigo e te mostrarei as ruas e os mistérios da cidade do Salvador, e sairás daqui certa de que este mundo está errado e que é preciso refazê-lo para melhor (...) Vem, a Bahia te espera. (AMADO, 2002, p.13).
A Fundação, como detentora das “riquezas” de Jorge Amado é inerentemente turística. Martins (2011) elucida a natureza atrativa da Casa, através de dados estatísticos: nos últimos dois anos, a média anual de visitantes da Fundação foi de aproximadamente 100 mil pessoas. Deste montante, a grande maioria — cerca de 80% — correspondeu a turistas, tendo como meses de maior incidência: janeiro,
fevereiro e março — período considerado alta estação em toda a região —, julho e agosto — período de férias nas regiões Sul e Sudeste do país. Quanto aos destinos emissores de turistas, estes circulam tanto na esfera nacional como na internacional. Dentro do país, destacaram-se o interior da Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro. Já no ambiente externo, a FCJA recebeu um maior número de visitantes, provenientes da Argentina, França e Espanha. O que poderia se justificar, em parte, pela grande quantidade de traduções dos romances de Jorge Amado nestes países. Segundo Passos (2011), a própria localização da instituição demonstra o seu caráter turístico. Situada no coração do Centro Histórico, a Organização pode ser considerada um marco, que dialoga com o ambiente em que está inserida. Para o historiador, a proximidade com grandes instituições, como a Faculdade de Medicina, os Museus da Cidade e Afro-Brasileiro e as igrejas centenárias contribui na atração de turistas e gera a possibilidade do aumento da estada destes, que porventura se sintam satisfeitos com a qualidade dos serviços prestados. Paiva (2011) acrescenta à lista de fatores que garantem a atratividade turística da Casa, as relações internacionais que esta possui e as exposições itinerantes que promove, possibilitando assim a expansão do seu trabalho para diversas regiões do país e fora dele. Fraga (2011) atribui a natureza atrativa da Casa ao seu conteúdo formado pela vida e obra de Jorge Amado e pela localidade em que está sediada a instituição. Segundo a poeta, há alguns anos atrás ocorreu uma pesquisa, feita pela imprensa, a fim de descobrir quais os locais de Salvador, considerados mais carismáticos e, por conseguinte, mais visitados. O Largo do Pelourinho e o casarão azul da Fundação Casa de Jorge Amado ocuparam o primeiro lugar da lista, superando, inclusive, pontos turísticos conceituados da região, como o Elevador Lacerda e o Farol da Barra, demonstrando o caráter atrativo da área mais histórica e mestiça da cidade.
5.3 A FCJA COMO INSTRUMENTO SOCIAL NO PROCESSO DE REABILITAÇÃO DO CENTRO ANTIGO
Além de cumprir seu papel como mantenedora do acervo do escritor Jorge Amado e ajudar a valorizar e difundir a cultura baiana, a FCJA ainda atua como instrumento social, na medida em que contribui para a reabilitação do Centro Histórico e, conseqüentemente, para a preservação do patrimônio cultural da região. Desde quando ainda era um projeto, a instituição tem como meta o desenvolvimento do Pelourinho, e seu entorno. Tendo sido implantada em uma época de decadência, a Casa, cujo valor simbólico é imensurável, chamou à atenção das autoridades para o local. Goldstein (2003, p. 53), ressalta a importância desse processo, afirmando que a criação da instituição contribuiu para a realização “(...) da reforma a que foi submetido o Pelourinho, nos anos seguintes, visando a embelezá-lo e oferecer mais conforto e segurança aos turistas.” Outra evidência de que a Fundação Casa de Jorge Amado sempre se preocupou em atrair a atenção dos governantes, para a necessidade de se preservar as tradições culturais e os bens arquitetônicos do Centro Histórico foi à promoção de uma exposição, intitulada Pelourinho Território de todos nós: Projeto Museu de Rua. Este evento, realizado em nove de outubro de 1990, consistiu na implantação de painéis, contendo textos da história do bairro. Segundo Fraga (1992), os próprios moradores do Pelourinho ajudaram a montar os 42 painéis que compuseram a exposição e a recolher o material na própria comunidade. Esta ação conjunta foi impulsionada pelo desejo de se evitar o desgaste da área. Após a realização desta exposição, ainda na década de 1990, criou-se um plano de revitalização do Pelourinho, que consistia na restauração e mudança de uso dos imóveis. Este tipo de intervenção ocasionou a proliferação de estabelecimentos comerciais, a melhoria na qualidade dos serviços e o aumento da atratividade turística (BAHIA, 2010). Em contrapartida, para atingir tal nível de desenvolvimento paisagístico foram realizadas a desocupação dos casarões e a transferência dos moradores da área para bairros periféricos, como uma espécie de “purificação” do local.
De acordo com Passos (2011), o modo como a revitalização do Pelourinho foi planejada tornou a área suscetível a aparição de problemas, como o tráfico de drogas, a violência e a miséria existentes atualmente. Segundo ele, para solucionar, ou pelo menos, minimizar estes impactos negativos, deve ser feita uma intervenção profunda na área e no seu entorno. Só pela ação conjunta, entre os diferentes órgãos, como a Secretaria da Educação, da Cultura, do Turismo, juntamente com o trabalho do governo do estado será possível reverter parcial ou totalmente esse quadro. Visando corrigir essa distorção, ampliou-se a área de abordagem para o entorno do Pelourinho, considerando que a origem dos problemas está nos bairros próximos, e criou-se em 2007, o escritório de referência do Centro Antigo. Surgido a partir de um acordo firmado entre os três entes federativos — União, Estado e Município — esta unidade gerencial da Secretária de Cultura do Estado da Bahia tem como objetivo coordenar a elaboração de um plano participativo de reabilitação do Centro Antigo de Salvador (CAS) (BAHIA, 2010). De acordo com Lima (2011), este plano, de uma forma geral, visa tornar o CAS uma área sustentável, nas vertentes, econômica, cultural, social, turística e ambiental.
Para tanto, a sua confecção contou com a participação de diversos
representantes locais, através de câmaras temáticas. A coordenadora afirma que esse modelo participativo, que contou com a presença do diretor administrativo e financeiro da Fundação Casa de Jorge Amado, foi decisivo para a escolha das 14 proposições que norteiam o plano. Dentre estas propostas, estão inclusas: o incentivo ao uso habitacional e institucional; a requalificação da infra-estrutura; a redução da insegurança e a estruturação do turismo cultural. Esta última, de grande relevância para o trabalho em questão, prevê a criação de roteiros culturais específicos, a exemplo de um roteiro do barroco, que consistirá em um “mergulho” na história da cidade, através da visitação às casas coloniais, as igrejas centenárias e aos museus da região. Lima (2011), afirma que a participação da Fundação nas Câmaras temáticas foi de fundamental importância para a delimitação das propostas. Ressalta ainda que, na parte que lhe cabe, como instituição social, a FCJA vem cumprindo seu papel como catalisadora de atenções para a valorização do Centro Antigo. Para enfatizar essa questão, a poeta Myriam Fraga afirma que:
Assentando-se no Pelourinho, a Casa de Jorge Amado, além de apontar em direção a um enraizamento na vida da Bahia, integravase, em termos mais imediatos e pragmáticos, ao esforço contemporâneo de vitalização deste que é o espaço por excelência de nossa história e nossa cultura. (FRAGA, 1992, p. 05).
A Fundação Casa de Jorge Amado, desde a sua implantação, preocupou-se em resgatar a vitalidade do povo da Bahia. A sua importância simbólica foi evidenciada por meio das três facetas que a instituição apresenta: como local de preservação e divulgação do acervo do escritor Jorge Amado e, por conseguinte, da cultura baiana; como atrativo turístico, que movimenta receitas e consolida o destino “Bahia” e como ferramenta social que visa à reabilitação do CAS e que auxilia no processo de construção da identidade cultural da região.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A preservação da memória permite a manutenção de registros de uma época e de seu povo. Os testemunhos desses antepassados proporcionam às gerações atuais o sentimento de cidadania e pertencimento a um grupo social. As instituições que trabalham com a memória são dotadas de bens simbólicos e culturais pertencentes a toda uma coletividade. Logo, o incentivo ao trabalho destas instituições gera dividendos para a sociedade como um todo. Daí a relevância de trabalhos dessa natureza. A presente pesquisa orientada pela necessidade de investigar a importância simbólica e turística da Fundação Casa de Jorge Amado visa ser mais um instrumento de reconhecimento do valor da instituição. A hipótese que norteou a pesquisa associava a importância simbólica e turística da Fundação Casa de Jorge Amado ao valor do acervo que esta preserva e divulga. Utilizando a pesquisa bibliográfica e realizando as entrevistas pôde-se confirmar tal afirmação da hipótese e a ela agregar alguns fatores. Além de ser responsável por estudar, guardar e divulgar a produção literária do escritor baiano Jorge Amado — cujo valor simbólico e cultural é imensurável — a instituição ainda movimenta ações para a valorização da cultura baiana, através da promoção de eventos e cursos que estimulam a criação literária e artística da região, e luta em favor da reabilitação do Centro Antigo. A natureza turística da instituição, por sua vez, é evidenciada pela repercussão do acervo de seu patrono — cujas obras foram traduzidas para 49 línguas e mais de 60 países — pela localidade em que está inserida e pelas constantes atualizações da Casa, visando atender às necessidades deste públicoalvo, como a inclusão de textos em outras línguas, a qualificação dos profissionais do atendimento e o estabelecimento de parcerias com agentes do trade turístico. Com base no presente estudo, pode-se afirmar que a Fundação Casa de Jorge Amado se constitui em um ponto de referência cultural e turística da região, que trabalha para a valorização das manifestações culturais expressivas do povo baiano e para manter viva a memória do escritor Jorge Amado. Portanto, a FCJA contribui no processo de construção e afirmação de uma identidade cultural baiana.
No entanto, apesar da importância da instituição, pôde-se perceber que o apoio das instâncias governamentais nem sempre é suficiente. Dessa forma, tornase imperativo a criação de alguns mecanismos de atração de visitantes e de patrocínios para garantir a continuidade de seus trabalhos. Estes podem ser a realização de eventos ligados às diversas áreas de expressões artísticas e a criação de exposições itinerantes. Há que se trabalhar também na estruturação de um turismo voltado para a vivência das questões culturais. Apesar do imenso potencial existente na região, nota-se um subaproveitamento no desenvolvimento deste segmento. A criação de um roteiro turístico que inclua a Fundação Casa de Jorge Amado e que contenha explicações sobre as tradições culturais da Bahia, ou ainda, que insira a visitação a própria residência do escritor no Rio Vermelho — um memorial, que até hoje só existe no papel — pode contribuir para extinção do período turístico considerado como baixa estação. Outro benefício decorrente na delineação deste segmento seria a mudança na concepção dos espaços culturais, como os museus. Estes, que muitas vezes são considerados locais monótonos, devem ser vistos como espaços de lazer e obtenção de conhecimentos. Dessa maneira, espera-se que este estudo contribua para a valorização cultural da região, e que sirva de referência para outros trabalhos que visem investigar o potencial simbólico e turístico de instituições. Assim, possibilitando a criação de planejamentos estratégicos baseados na produção de um turismo fundamentado na sustentabilidade econômica, cultural e social.
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Entrevistas realizadas
Myriam Fraga, Diretora Executiva da Fundação Casa de Jorge Amado, em 20/07/2011 das 13h às 13h30.
Carlos Paiva, Superintendente da SUPROCULT, em 08/08/2011, das 16h às 16h20.
Manuel Passos, Superintendente da SUSET, em 24/08/2011, das 10h às 10h20.
Beatriz Lima, Coordenadora Geral do Escritório de Referência do Centro Antigo, em 31/08/2011, das 10h10 às 10h35.
APÊNDICE A - ROTEIRO PARA ENTREVISTAS
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS I TURISMO E HOTELARIA
1) A Fundação Casa de Jorge Amado (FCJA) tem como objetivos primordiais: a preservação e divulgação do acervo do escritor baiano Jorge Amado. Quais as medidas realizadas pela Casa e pelo Governo para que a instituição possa cumprir efetivamente a sua missão?
2) O que a FCJA representa para o turismo na cidade de Salvador? A instituição se constitui (ou pode se constituir) em um atrativo turístico?
3) Qual o papel da FCJA no processo de reabilitação do Centro Antigo de Salvador?