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BELOS CAMINHOS PERCORRIDOS
BELOS CAMINHOS PERCORRIDOS
Foram muitos os caminhos por onde andei e que conheci, mas nenhum deles supera os percorridos na extraordinária viagem ao Chile e à Argentina, em setembro e outubro de 1985. Éramos 36 participantes de uma excursão via terrestre, e partimos da capital gaúcha para um percurso de oito mil quilômetros programados.
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Lá, em terrenos de ambos os países, naqueles solos gelados, ante aquelas montanhas altíssimas cobertas pela neve compacta e de um branco tão forte que magnetizava nossos olhos fascinados, eu, particularmente, sentime como um grão de areia no deserto.
Essa bela visão da Cordilheira dos Andes, cuja magnitude seja a ser tão agressiva como assustadora, foi a causa de um impacto muito forte para quem conhecia somente as tranquilas paisagens de praia, mar e serra. Maior que o susto desta visão, foi o da descida no “Caracol”, como é cognominado o local.
Trata-se de uma estrada ao redor das montanhas. Essa estrada ultrapassa quatorze túneis e possui vinte e duas curvas em declive, como um imenso cone. Foram momentos de angústia e medo, admiração e prazer.
Conhecer a região dos lagos andinos foi bem mais repousante. Nesta região chove durante duzentos e setenta dias por ano e o degelo é abundante, formando do alto dos morros da cordilheira inúmeras quedas d’água. Há cachoeiras e riachos, além de verdejantes ilhas e lagos de águas azuladas. A cada novo local, espanto e deslumbramento.
Ao chegarmos na pitoresca e turística Bariloche, uma grata surpresa: nevava fortemente! Foi uma festa! E maior festa, foram os diversos passeios na Estação de Esqui, num dos quais, vestindo roupas especiais fomos transportados até o topo da montanha pelos teleféricos. Uma sensação de temor e um voto de coragem! Lá em cima, num mirante todo envidraçado funciona um bar muito acolhedor, onde saboreamos chocolate quente, admirando o céu, as nuvens e as montanhas, os quais, naquela altitude, parecem perto demais.
Da alegre Bariloche seguimos para Buenos Aires, através do deserto argentino. Este é uma atração estranha e curiosa: sem qualquer vegetação, é
composto de areia grossa e pedras. Possui formação natural em suas rochas e em diversos formatos, que lembram as figuras de tigre, padre, leão...
Neste mesmo lugar ocorre um estranho fenômeno: os fortes ventos que sopram, quebram o profundo silêncio e impulsionam as águas da superfície do rio Limay em direção contrária ao seu percurso natural. Pelas características que cercam o local e o desolamento, torna-se uma beleza tétrica.
Essa impressão, tão pouco alegre, dissipou-se ao chegarmos à capital portenha, uma metrópole de vida comercial e artística ininterrupta e agitadíssima!! Contagiados, permanecemos dois dias e duas noites (o tempo disponível), conhecendo-a e divertindo-nos o máximo, esquecendo o sono e cansaço.
Ao visitarmos o descontraído bairro La Boca, ouvimos um gaiteiro que recepcionava grupos de turistas, com a música regional de seus países. Antecipei-me, solicitando um tango a fim de homenagearmos sua nação tão acolhedora.
O gaiteiro, surpreso mas orgulhoso, tocou a sagrada “ La Cumparsita”. Não resisti, enlacei meu marido e ali mesmo, na rua, dançamos aquele tango bem marcado, no capricho, à moda castelhana!!! Após, o gaiteiro feliz, mostrou que sabia muito bem tocar nosso samba e o baile generalizou-se.
Em todo o trajeto da viagem, parando aqui e ali, pernoitamos em cidades grandiosas como Córdoba, Mendonza, Santiago, Buenos Aires e pudemos assimilar os costumes, a história, a cultura e as tradições comuns destes povos. O mais impressionante, tornando-se uma atração singular para mim, foi observar em todo território chileno, fortes vestígios da civilização inca, entre os quais, seus esconderijos nas rochas, lembrandonos o aniquilamento daquele império. Ainda no Chile, senti muita emoção ao visitar Viña del Mar e conhecer o estádio Sauscleto, pisando no gramado onde a seleção “canarinho” consagrou-se bicampeã de futebol.
Naquele estádio encontra-se fixada uma placa de bronze da “CBD”, agradecendo o carinho do povo chileno dispensado à Delegação do Brasil. Ao lê-la, fui invadida por uma saudade imensa do meu país, da minha família, dos meus amigos, enfim, do meu “habitat”.
Assim, por tudo que conheci, aprendi e admirei, por toda emoção sentida, agradeço a Deus pelos momentos felizes e inesquecíveis vivenciados.