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NA VELHA ESTAÇÃO DO TREM

NA VELHA ESTAÇÃO DO TREM

José Inácio e Marina começaram a namorar num baile de carnaval lá pela metade do século passado na cidade de Pedro Osório, onde ambos residiam. Já se conheciam de vista, mas até então, nunca haviam se aproximado. Ele, filho de um importante comerciante e dono de terras da região. Ela de família humilde, filha de uma senhora viúva, que trabalhava sem descanso, debruçada sobre a máquina de costura para ajudar no sustento dos filhos, pois a pensão que o falecido marido lhe deixara não dava para suprir todas as despesas.

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Marina sentiu o seu o seu coração bater de forma diferente, como se quisesse saltar-lhe do peito quando aquele jovem alto, moreno, de cabelos encaracolados, com um sorriso alvo, dirigiu-se a ela, convidando-a para dançar ao som da velha marchinha “A Jardineira”.

Desse dia em diante, os dois formaram um par feliz passando pelas ruas, pelas praças, pelas festas que aconteciam na cidade. Trocavam juras de amor eterno, faziam planos de um futuro juntos com as bençãos de Deus. Mas o romance não agradava a família do moço devido às diferenças econômicas e sociais, tanto que resolveram interromper o namoro afastando-o dela com a desculpa que ele deveria ir para a Capital com a finalidade de estudar “Direito”.

Na hora da partida, lá estava Marina na estação, com um olhar triste e o coração aos pedaços para se despedir do seu grande amor que lhe prometeu escrever todos os dias, que a visitaria sempre que possível; e, que assim que se formasse, viria buscá-la para viverem juntos, para toda vida, aquela história de amor.

No começo, trocaram cartas cheias de saudades, que foram diminuindo, até que não mais chegaram. Os familiares dele também se transferiram para Porto Alegre, fazendo com que ela não recebesse mais nenhuma notícia sobre ele. O tempo foi passando, o brilho da juventude aos poucos foi se apagando e Marina com vontade de partir a procura de José Inácio, ao mesmo tempo cheia de temores de deixar a família e do que encontraria num mundo desconhecido. Teve alguns bons pretendentes, até pedidos de casamento, mas rejeitou a todos, foi ficando cada vez mais triste, mais sozinha.

De mãos dadas com as lembranças, usando seu o vestido mais bonito e uma rosa vermelha no cabelo, toda perfumada, a cada entardecer, dirigiase para a estação com o coração agitado, se perguntando se aquele dia seria “o grande dia da volta”. Surgiu o comentário que José Inácio havia se casado com a filha de um comerciante sócio de seu pai, mas ninguém teve coragem de contar para ela, preferiram deixá-la na ilusão e na constante espera.

Marina passou a se dedicar a todos ao seu redor. Cuidou da mãe até a morte, dos irmãos, das cunhadas, dos sobrinhos, até da vizinhança, que quando nos momentos de precisão, apelavam para o seu coração generoso. Muitos anos transcorreram, os cabelos se transformaram num branco véu envolvendo seu rosto, leito de muitos riachos, onde passaram correntezas de lágrimas que só o sol escaldante do tempo foi capaz de secar.

Mas ela, vivendo entre a razão e o imaginário, não perdeu o costume: todos os dias quando a tarde cai, é vista em seu local preferido, amparada pela bengala, rosa vermelha nos cabelos, olhar ansioso, fitando a estrada de ferro, onde o trem há muito não passa, esperando que seu amado desembarque na Velha Estação.

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