SÉRIE DE CÂMARA 2014
No final do reinado de Luís XIV, as mudanças do estilo de vida aristocrático e o desenvolvimento dos salões fez com que a alta sociedade migrasse de Versalhes para Paris. Foi o começo de uma nova era social e cultural que, na música, desencadeou uma revolução de ambição e formato. Embora as grandes formas, especialmente a tragédie lyrique (a ópera francesa da época), tenham permanecido os modelos mais avançados de entretenimento de corte, desenvolveu-se uma arte mais intimista, favorecendo formas mais modestas, como a sonata. No domínio da música vocal, a air de cour (ária de corte) tornou-se bem popular a partir do século XVI, juntando-se a ela, no começo do século XVIII, um novo gênero: a cantata. Ela se expandiu pelos círculos musicais franceses, coexistindo com a cantata italiana — mais antiga, e bastante difundida.
Les Arts Florissants
A cantata francesa se diferenciava da italiana pelo estilo, herdado da tragédie lyrique, e pela atenção especial conferida ao texto. Essas obras eram a quintessência do “bom gosto francês”, combinando as rimas delicadas de poesia eloquente e melodias graciosas. Essas árias à la française (à francesa) eram cantadas por um um dois vocalistas, acompanhados pelo cravo e, eventualmente, outros instrumentos: flauta, violino ou viola soprano, por exemplo. Na corte e nos salões de Paris era possível ouvir essa música, menos grandiloquente do que a que era escrita para o palco, e com o objetivo primordial de agradar o ouvido e tocar as emoções, criando uma nova e mais íntima relação entre os músicos e o público. O grupo vocal e instrumental Les Arts Florissants é um dos mais célebres e respeitados conjuntos de música antiga do mundo. Dedicado à interpretação de música barroca em instrumentos de época, o grupo foi criado em 1979 pelo regente e cravista franco-americano William Christie, seu diretor atual, devendo seu nome a uma ópera curta de Marc-Antoine Charpentier. Nascido em Buffalo, William Christie estudou nas universidades de Harvard e Yale, vivendo na França desde 1971. Sua discografia tem mais de cem itens, e ele recebe convites regulares para reger em festivais como o de Glydenbourne, em teatros como o Metropolitan de Nova York, a Ópera de Zurique e a Ópera de Lyon, tendo aparecido também à frente da Filarmônica de Berlim. William Christie e Les Arts Florissants tiveram um papel pioneiro no ressurgimento do interesse, no mundo musical francês, por um repertório até então negligenciado (em especial, ao trazer à luz muitos tesouros das coleções da Biblioteca Nacional da França), mas que agora é amplamente executado e admirado: não apenas o repertório francês do século XVII, como também música europeia em geral dos séculos XVII e XVIII. Ex-membros do Jardin des Voix, a academia do Les Arts Florissants para jovens cantores, Elodie Fonnard e Marc Mauillon apresentam uma seleção de árias escritas por diversas gerações de compositores, de Jean-Baptiste Lully a François Couperin, passando por Michel Pignolet de Montéclair, Louis-Nicolas Clérambault e André Campra.
PROGRAMA SÉRIE DE CÂMARA 2014
Grande Auditório do MASP, 14 e 15 de outubro, terça e quarta-feira, às 21h Les Arts Florissants William Christie DIRETOR MUSICAL Élodie Fonnard SOPRANO Marc Mauillon BAIXO Músicos Florence Malgoire, Catherine Girard VIOLINOS Myriam Rignol VIOLA DE GAMBA Thomas Dunford ALAÚDE William Christie CRAVO ANDRÉ CAMPRA (1660-1744) “Volez, hymen, volez quand l’amour vous appelle”
c. 4’
Duo da cantata Énée et Didon (Livro II)
FRANÇOIS COUPERIN (1668-1733) “Jean s’en alla” — Épitaphe d’un paresseux
c. 2’ c. 3’
Ária séria da coletânea Recueil d’airs sérieux et à boire — Paris, 1701
“Qu’on ne me dise plus que c’est la seule absence” c. 2’ Ária séria da coletânea Recueil d’airs sérieux et à boire — Paris, 1697
Les Pellerines: La Marche, La Caristade, Le Remerciement
c. 3’
Árias sérias da coletânea Recueil d’airs sérieux et à boire — Paris, 1712
GASPARD LE ROUX (1660-1707) Suíte em ré : Allemande La Vauvert, Courante, Sarabande grave, Menuet, Passepied
c. 9’
c. 8’
c. 2’
Ária da cantata Le sommeil d’Ulisse das Cantates françaises (Livro III)
NICOLAS BERNIER (1664-1734) “O nuit, c’est à tes voiles sombres”
c. 2’
Duo da cantata Diane et Endymion, das Cantates françaises (Livro II)
MARIN MARAIS (1656-1728) La Rêveuse
c. 5’
Peça das Pièces de viole (Livro IV)
c. 3’
Ária da cantata L’Isle de Délos, das Cantates françoises (Livro III)
ANDRÉ CAMPRA (1660-1744) “Que vois-je! Quel objet!”
Cantata das Cantates françoises (Livro IV)
MARIN MARAIS (1656-1728) Les voix humaines
ELISABETH JACQUET DE LA GUERRE (1665-1729) “Dormez, dormez, ne vous défendez pas d’un sommeil si rempli de charmes”
LOUIS-NICOLAS CLÉRAMBAULT (1676-1749) “Régnez, brillante Flore”
Suíte das Pièces pour clavecin, 1705
NICOLAS BERNIER (1664-1734) Jupiter et Europe
c. 14’
Cantata das Cantates françoises (Livro I)
Ária de brinde da coletânea Recueil d’airs sérieux et à boire — Paris, 1706
“Doux liens de mon cœur”
ANDRÉ CAMPRA (1660-1744) Les Femmes
c. 2’
Duo do Triomphe de la Folie, quinta Entrée acrescentada posteriormente das Fêtes vénitiennes (cena 6)
c. 6’
Transcrição para alaúde solo das Pièces de viole (Livro II) A turnê do Les Arts Florissants na América Latina tem o apoio do Institut Français. O conteúdo editorial dos programas da Série de Câmara 2014 encontra-se disponível em nosso site uma semana antes dos respectivos concertos. Programação sujeita a alterações.
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