PLANO MATRIZ

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Caderno #1 NATUREZA/HUMANO

COVID-19 ANTES / DURANTE / DEPOIS (AGORA)

Caderno 1


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“Como conter no âmbito de uma obra de arte a representação de algo que, na sua própria essência, recusa ser contido” Alberto Manguel, Ler imagens.

Caderno 1


Cultura O QUE NOS TRANSMITIU UM V Í RU S PA R A A L ÉM D E S I PRÓP RI O?

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C APE COD MORNIN G, EDWARD HOPPER, MASSAC HUSSETS, 1950.

E

sta pintura de Edward Hopper pintada numa casa de férias em Cape Cod, Massachusetts, retrata a esposa do artista à janela da casa, observando o exterior enquadrado nas molduras das janelas. Esta foi a imagem escolhida para a cultura pela capacidade da pintura de transmitir o enquadramento relativamente recente, como consequência do confinamento através do qual consumimos imagens do mundo exterior: através de molduras pessoais. Como explica John Berger em modos de ver o enquadramento de uma imagem, seja ela artística, jornalística, ou até mesmo da realidade em si, tem a capacidade de mudar drasticamente o significado, tom, e interpretação da mesma. Através da tecnologia de reprodução e partilha de imagens e posterior facilitação de acesso às mesmas, as imagens, não requerem que nos desloquemos aos locais onde estão expostas para que sejam consumidas pelo público, chegando até nós através de jornais e revistas e posteriormente ecrãs. A pandemia, e consequentemente o confinamento levou a personalização de contexto de visualização da arte e até de todo o mundo exterior a um nível nunca antes visto. A arte é modificada por chegar até nós fragmentada, enquadrada nos layouts das nossas redes sociais e os nossos ecrãs, por seguir e ser seguida de conteúdos diferentes em cada ecrã, e até mesmo por ser acompanhada de sons e de músicas diferentes. Durante a pandemia este fenómeno não foi fruto da evolução da tecnologia, tanto quanto foi por necessidade. A arte permite-nos sobreviver na sociedade atual, e é essencial à nossa sociedade no que toca à sobrevivência da cultura de cada país, de cada continente, na verdade, do mundo. Necessariamente o mundo adaptou-se e criou maneira de sobreviver e reinventar-se culturalmente de uma forma nunca vista a tal escala. Da forma da arte personalizável por contextos individuais. Tal como a esposa de Hopper enquadra o mundo exterior na moldura da janela, a população confinada enquadra a arte nas molduras de cada um. O vírus transmite-se a si mesmo através de nós. Mas claramente não nos transmite só uma patologia. Transmite à nossa geração e ás gerações futuras uma maneira diferente de ver.


Caderno 1


Política

S ELVA DE BETÃO

O

que antes era um terreno político em constante divisão viu a sua polarização a culpa pode ser da evolução da nossa

socialmente e logisticamente para esta última sem a estávamos num estado tal de evolução na qual

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M ON KE Y C IT Y, RUI PE DROSO,LOPBURI, 2 02 0.

Caderno 1


Sociedade

A PAN DEMI A COM O C AIX A D E PAND O RA

A

foto vencedora dos prémios do evento Sony Awards de 2014 foi captada no Vietnam pelo fotógrafo Minh Ngo Thanh, representa artesãos no processo de produção de fornos de lata. O espaço onde se encontra um dos artesãos tem a sua abertura principal no topo. A abertura fornece a luz que entra no espaço, formando um enorme contraste entre a luz do exterior e a escuridão do interior. Ademais, os artesãos de fora do espaço projetam a sua sombra para o interior do mesmo. Embora esta imagem tenha sido capturada no Vietnam, em 2014, num contexto completamente diferente do qual se desenvolve face à pandemia, esta imagem está mais próxima de nós do que se dá a entender à primeira vista. O trabalhador encontra-se sozinho no espaço mais escuro. À semelhança do trabalhador também a maioria da população mundial passou a ver-se presa no interior, cessando contacto presencial. O sujeito fotografado vê-se a si mesmo e ás pessoas do exterior através das projeções criadas pela luz vinda de fora. Por um lado representando o mundo exterior que passou também por nós a ser observado através de meras representações, por outro, o contraste realidade atual /memória, sendo que no espaço fechado a realidade é fria, sem toque humano e escura. Lá fora há a imagem da memória do que era a realidade antes, calorosa e energética e em contacto com o mundo exterior. Mas, muito mais do que isolamento e nostalgia, a luz vinda lá de fora representa das únicas e a mais importante razão pela qual a humanidade sempre sobreviverá a tempestades obscuras como esta pandemia. A razão pela qual sobrevivemos e sobreviveremos, e mais importante a razão pela qual vivemos. A esperança de melhor. O constante vislumbre do que seria uma realidade próspera. Esta pandemia não é muito diferente da caixa que a Pandora abriu, entre o erro humano da ganância do consumismo e o esgotamento de recursos, o desrespeito pela natureza, e até por vezes a falta de humanidade e empatia que as pessoas demonstram em não seguir regras de confinamento e de preservação da vida humana, acabámos de alguma maneira por potencializar este fenómeno da natureza que é a propagação de um vírus. No entanto a esperança intrínseca na condição humana preservar-se-á, e irá permanecer a razão pela qual atravessaremos o vazio e o obscuro e voltaremos irreverentemente, para contar a história.

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TIN OV EN BUILDER S, MINH N GO TH ANH, VIETN AM, 2014.

Caderno 1


#1


Caderno #2 NATUREZA/HUMANO

COVID-19 ANTES / DURANTE / DEPOIS (AGORA)

Caderno 2


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“E, no entanto, sabemos que o que lemos numa obra de arte depende de quem somos e do que aprendemos� A imagem como testemunho, Ler imagens, Alberto Manguel

Caderno 2


Livro AP R EN D ER A VOA R

W

o tira das ruas com a promessa de

o que a nossa memรณria do tempo passado nos

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WOL F GA N G WI S E N , A L E M A N H A , 2 0 2 0 S O N Y WOR L D P H OTOG R A P H Y AWA R D S .

Caderno 2


Filme

O Q U E T E R ÃO O CO M E TA D O COHEREN CE E O COVID-19 EM COMUM?

C casa a ver o seu tempo alongar se e o seu espaço

daram constantemente com a dor e até a morte

enquanto que os relógios não parecem pertencer à paisagem deser

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L A P E R S I S T Ê N C I A D E L A M E M Ó R I A , SA LVA D OR DA L Í ,19 31.

Caderno 2


Objeto de natureza artística O Q UA RTO D E QUA R E N T E N A UNI VERSA L

N

de grandes recursos por um número limitado de

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B E DROOM IN ARL E S, VIN CENT VAN GOGH, 188 8.

Caderno 2


#2 20


Caderno #3 NATUREZA/HUMANO

COVID-19 ANTES / DURANTE / DEPOIS (AGORA)


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“A tentativa de não comunicar é, pelo menos, tão complexa quanto a tentativa de comunicar, e, sem dúvida, tão antiga.” A imagem como ausência, Ler imagens, Alberto Manguel

Caderno 3


Excesso de espaço

S E UM A Á RVOR E C A I NU MA F LORE S TA , E N I N GU ÉM A OUV E , S ERÁ QU E FEZ A LGUM SOM?

G eorge Be r keley

N

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Caderno 3


Excesso de indivíduo

A GRAN DE CI DADE FANTASM A

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FILE #2


A CO L I S I O N B E T W E E N A S T R E A M O F L I G H T A N D A N O B S TAC L E

I N I NV IC E M , M AR IA ANT U NE S , 2 020. -

-

-

IN INVICEM, Maria Antunes, 2020.


“RE S TA AO D ES IGN OC UPAR A F IC Ç ÃO”

tureza





Caderno 3


Excesso de tempo

I N F OR MAÇÃO A MAI S, TE MPO A ME N O S

C

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Caderno 3


#3 36


Caderno #4 NATUREZA/HUMANO

COVID-19 ANTES / DURANTE / DEPOIS (AGORA)

Caderno 4


“Ela perder-se-ía a si mesma, o mais ruidosamente possível. Foi um ato de violência, mas o oposto de suicídio” A imagem como violência, Ler imagens, Alberto Manguel

Caderno 4


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Imagens do tríptico

“I will tell you no more. Let the dead lie. However it fared after with the huns, my tale is ended. This is the fall of the nibelungs.” The Nibelungenlied


Guião

SO NHO

RAI VA

T RAG É D I A

desnecessária e retirada da

V I N GAN Ç A como o elemento a romper mostrado

pela

previsão causando destruição

e

elementos antes presentes no cenário são agora

desordem

elemento representante das aves recorrentes nos

encontrava

o

elemento

O elemento representante

DOR

reaparece e voa em igual àquele no qual se direção oposta à ação e encontrava o elemento dentro

de

um

espaço a concretização da ação


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#4 Caderno 4


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