TFG - PERTENCER: corpo, cultura e Estado.

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PERTENCER CAT E R I N A I S I S N V E N D R A M E

corpo, cultura e estado



Universidade Presbiteriana Mackenzie Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Caterina Isis Napolitano Vendrame

PERTENCER corpo, cultura e Estado

SĂŁo Paulo 2020



PERTENCER corpo, cultura e Estado

Caterina Isis Napolitano Vendrame Trabalho de final de graduação apresentado a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção do grau de bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Prof. Ricardo Carvalho Lima Ramos

São Paulo 2020



PA R A M I N H A M Ã E , I RM ÃO E I A N . Em memória ao meu nonno Francesco Napolitano e sua determinação, e a minha avó Lybia Ongaro Vendrame pelo o seu doce encanto. Em homenagem a minha nonna Pasqualina Serio Napolitano por ser a pessoa mais forte que conheço, e ao meu avô Faustino Vendrame.

L A S C I AT E M I C A N TA R E C O N L A C H I TA R R A I N M A N O L A S C I AT E M I C A N TA R E UNA CANZONE PIANO PIANO L A S C I AT E M I C A N TA R E PERCHE‘ NE SONO FIERO S O N O U N I TA L I A N O U N I TA L I A N O V E R O Musica: L‘Italiano compositor: Toto Cutgno



AGRADECIMENTOS

À minha mãe e irmão: Anunciata e Enrico, a quem eu sempre vou agradecer por cada conquista da minha vida e por estarmos sempre juntos. Vocês são meu exemplo de vida. Ao meu namorado e melhor amigo: Ian, agradeço pelo companheirismo e em cada segundo que dedicou para me ajudar ao longo desses cinco anos de graduação. Aos meus amigos, em especial: Daniela Medina, Karine Furusawa, Natalia Centeno, Nathalia Prado, Lucas Reis. Agradeço por todo o apoio, ajuda e amizade ao longo desses anos, por cada conversa e áudios de minutos e também pelas risadas. Enfim nos tornamos arquitetos! Não posso deixar de citar minha amiga de infancia Martha Assumpção, que sempre esteve presente na minha vida e compreendeu a minha ausencia. E a Lea Gutsch que é mais do que minha cunhada, mas sim uma amiga e agradeço por toda a ajuda. Aos professores que se dedicaram para nos ensinar sobre a arquitetura e também sobre a vida. Meus guias acadêmicos e exemplo de profissionais, atuais colegas o qual tive a honra de ser aluna. Em especial ao professor Silvio Sant‘Anna, pelas orientações e encorajamento. Obrigada! Ao meu orientador Caco agradeço por esse ano de orientação, mesmo com encontros virtuais, me permitiu mostrar minhas raízes e fazer dela uma questão importante. Por fim, agradeço a todos que fizeram parte de alguma etapa da minha vida e puderam contribuir ao meu crescimento.



[...]Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força – eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa.[...] LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. p.110 – 478.



P R E FÁC I O INTRODUÇÃO DO CORPO ACOLHIMENTO MEMÓRIA D A C U LT U R A EXPRESSÃO D O E S TA D O

14 18 20 21 24 28 29 34

IMIGRANTE E REFUGIADO

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DIREITOS

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O PROJETO

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CONTEXTO

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E S PAÇ O

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

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SUMÁRIO

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P R E FÁC I O Sou neta de imigrantes italianos, cresci com macarrão e vinho – somente para adultos – aos domingos e com conversas em português misturado com italiano e notas de dialeto napolitano. Minha inspiração para trabalhar com tema da imigração e refugio vem das histórias que meus avôs me contavam sobre sua juventude e percebi através disso as dificuldades de adaptação cultural, entendimento da língua portuguesa e questões financeiras e burocráticas as quais o estrangeiro enfrenta ao chegar no país. Minha avó e sua família chegaram no Brasil de navio em 1954 no porto de Santos, meu avô veio oito meses depois para se casar com ela. Sem saber falar português, ela e sua família foram conduzidos para uma comunidade italiana localizada em uma chácara na cidade de Guarulhos- SP. Eles não tinham muito dinheiro e suas economias já estavam se esgotando, então meu avô começou a trabalhar como ajudante de obra e a minha avó em fabrica, pois eram os únicos trabalhos disponíveis que não demandavam o domínio da língua portuguesa. Felizmente, esta oportunidade de emprego possibilitou a eles comprarem a sua própria casa, próxima ao bairro da Penha (Zona Leste - SP) tempos depois.Por viverem muito tempo nesta comunidade italiana, não praticaram o português, demonstrando dificuldade em se comunicar. Um dia minha avó precisou comprar arroz e foi na mercearia e acabou voltando com sabão em pó devido a similaridade do nome da marca Rinso com riso (arroz em italiano). Atualmente ela conta Fotografa: Tim Mossholder

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Pensando nessa jornada, a cidade é hostil e resistente ao estrangeiro, seja pelo fato do idioma, cultura, costumes, religião, o imigrante e o refugiado encontram dificuldades ao se estabelecer em um país. Para muitos, assim como para meus avós, se mudar para outro país é um recomeço, encontram dificuldades para se sentirem integrados a cidade. Existem dois cenários: o estrangeiro consegue se inserir rapidamente na sociedade; o outro o qual fica marginalizado e luta para um espaço na cidade. Foi a partir disso que me questionei como a arquitetura e urbanismo poderiam contribuir a todos os imigrantes e refugiados, ou melhor, estrangeiro, a terem o sentimento de pertencimento na cidade, e assim pensei na importância de um centro que pudesse os acolher e lhes proporcionarem todo o suporte necessário com língua, assistência jurídica e também um local para manifestar a cultura da terra natal – como o orgulho que perdura vivo nos meus avós até os dias de hoje. Outra consideração que faço é quanto tempo meus avós demoraram para sentir que o Brasil, em particular a cidade de São Paulo, era a sua casa? Por mais simples que pareça ter uma casa, uma cama e comida na mesa não significam pertencer. Meus avós hoje sentem muito apreço pela vida que construíram no Brasil, meu nonno (avô em italiano) muitas vezes brincava que gostava do brasil mais do que da sua cidade natal, por não suportar o frio da região. Mas todo este

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essa história com tom de humor, mas na época ela me disse que chegou em casa sem saber o que dizer e constrangida. Após 66 anos, eles ainda possuem sotaque italiano e orgulho pela sua terra natal.

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desfecho poderia ser diferente se eles não tivessem conseguido passar por todos estas dificuldades com o suporte, infraestrutura e oportunidades que tiveram na época. Mas e todos os outros refugiados e imigrantes que não tiveram e não possuem as mesmas oportunidades? Vejo neles a imagem de minha avó tentando comprar os sacos de arroz e voltando para a sua casa envergonhada e sem alternativa.

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O intuito do meu projeto é exatamente fazer com que estes imigrantes e refugiados tenham o mesmo sentimento de meus avós, de terem condições de construir a sua casa, mesmo longe de casa.


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Da esquerda para direita: Zia maria e Zio Pasquale, Fotografa: Acervo Pessoal

Annunziata,

Zia Nonno

Geraldina, Francesco

Bisnonna e

Nonna

Pasqualina. Minha nonna e famĂ­lia no porto de Napoles prestes a embarcar no nĂĄvio com destino para o Brasil.


Fotografa: Don Ross JuKbao

INTRODUÇÃO

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Segundo dados da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), atualmente, estamos vivenciando um dos maiores níveis de deslocamento de migrantes e refugiados já registrados em toda a história. Segundo a instituição, entre os anos de 2018 e 2019, mais de 70,8 milhões de pessoas ao redor do o mundo foram forçadas deixar suas casas para procurar outro local para instalar-se. A ACNUR ainda afirma que destes 70,8 milhões, 41,3 milhões (58,3%) consistem em indivíduos deslocados internamente em seus respectivos países, 25,9 milhões (36,6%) consistem em indivíduos refugiados em outros países e 3,5 Milhões (5,1%) indivíduos em solicitação de refúgio. Fazendo uma análise mais aprofundada dos casos de refugiados verifica-se que 80% destes indivíduos acabam se abrigando em países vizinhos aos seus países de origem, movimento semelhante aos movimentos migratórios realizados pela população da Venezuela onde foram registrados mais de 341,8 mil casos de solicitações de refúgio em 2018, o maior aumento de solicitações por país (ACNUR, 2019). Apesar deste fluxo crescente na Venezuela, a ACNUR afirma que cerca de 57% dos refugiados do órgão são provenientes dos países Síria, Afeganistão e Sudão do Sul com 6,7 Milhões, 2,7 milhões e 2,3 milhões de refugiados, respectivamente. A partir das informações apresentadas acima e considerando que devido a globalização acelerada os fluxos imigratórios ao redor do mundo tem se intensificado, principalmente em países emergentes – como no caso do Brasil –


Além disso os conflitos políticos, sociais e econômicos, e desastres naturais, também contribuem para o aumento desses fluxos. Portanto, existe hoje um grande número de indivíduos ao redor do mundo que vivem uma realidade difícil em suas terras natais e estão buscando um novo lugar para morar e ter condições dignas. No entanto, além de toda a burocracia envolvida no processo para obtenção da cidadania no país de destino, existe um desafio enfrentado por estes estrangeiros em adaptar-se a sua nova realidade e sentir o sentimento de pertencimento em seu novo lar. Dessa forma, trabalho tem como objetivo mostrar a maneira como a arquitetura e o urbanismo podem trazer este sentimento de pertencimento e acolhimento ao imigrante e refugiado para que este possa ser incluído de maneira correta e digna em uma nova sociedade, fazendo deste novo país sua casa. Esta pesquisa estabelece uma relação do Pertencer corpo, da cultura, do Estado e por fim o projeto de um centro multicultural e de acolhimento. Sendo assim, o pertencer do corpo no qual articula-se a questão do acolhimento e a importância da memória, a etapa do pertencimento da cultura que ressalta a importância da sua expressão e por fim a inserção do estrangeiro como cidadão dentro do país de acolhida.

em quatro partes: do 1 Conferência de Genebra 1951: convenção da ONU sediada na cidade de Genebra onde foi discutido e estabelecido o conceito de refugiado e os seus respectivos direitos, visando garantir segurança e proteção a estes indivíduos.

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que desde a conferencia de Genebra 19511 vem adotando politicas mais flexíveis para atender e receber estes estrangeiros.

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Fotografa: Clem Onojeghuo

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Ao falar sobre acolhimento se deve começar sobre a etimologia da palavra “Acolher”, do latim acolligere que significa recolher, receber e retirar. Se adentrar mais em detalhe existem três classes gramaticais: 1. Verbo transitivo - hospedar; 2. Verbo pronominal – aceitar algo; e 3. Verbo transitivo direto – abrigar-se. Dependendo de qual classe for usada para interpretar poderá agregar um diferente significado ao uso da palavra acolher, só que na perspectiva do estrangeiro ao se perguntar em qual verbo seria o mais apropriado a usar, já se pode perceber que o uso predominante é o tipo 2 – verbo pronominal. Ao questionar sobre o que seria “apropriado”, percebe-se uma conotação de imposição, colocando o estrangeiro como um estranho em seu terreno, os habitantes desse local podem escolher se o aceitam, se o hospedam e se o abrigam, como querendo que o estrangeiro saiba se encaixar na nova sociedade e depositando uma condição subentendida (DERRIDA e DUFOURMANTELLE, 2003) de que somente será cidadão e usufruir dos recursos provido pelo Estado se concordar em submeter a todas as leis, pagar os impostos e contribuir à cidade (CACCIARI, 2010). A esta condição pode-se citar como exemplo a civitas romana, segundo Cacciari (2010), o cidadão era aquele que independente de sua etnia e religião se submetia as leis romanas, sendo assim paradoxal a visão deles sobre os estrangeiros que, fora de suas fronteiras – em particular os germânicos – eram denominados como bárbaros.

DO CORPO

ACOLHIMENTO

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Nas cidades do século XXI, ainda é possível constatar a pluralidade das cives romano presente se tratando do relacionamento com o estrangeiro. [...] não se oferece hospitalidade ao que chega anônimo e a qualquer um que não tenha nome próprio, nem patronímico, nem família, nem estatuto social alguém que logo seria tratado não como estrangeiro, mas como mais um bárbaro. (DERRIDA e DUFOURMANTELLE, 2003, p. 23)

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Espera-se uma identidade, conforme a citação, junto a justificativa para a pessoa querer residir na cidade, mesmo que a ela essa situação não tenha sido opcional, como no caso do os refugiados. Logo, impõe-se o desejo pelo conhecimento prévio da língua do local e legislação, que são as hostilidades que a hospitalidade traz consigo no ato do acolher. Não há empatia ao se dizer receptivo, pois se no próprio ato de receber há uma condicionante. Embora o Brasil como um país, que dado sua história, é marcado por inúmeras vindas de estrangeiro de diversas nacionalidades, sendo encontrado fragmentos dessa diversidade na cidade, deveria considerar-se um país que entende sobre hospitalidade, de um lugar que é descrito através de uma imagem sedutora de um país acolhedor conhecido por suas riquezas naturais, culturais, narrada como terra de maravilhas – e até mesmo como fez Pero Vaz de Caminha2: “aqui nessa terra tudo que se planta nasce, cresce e floresce” – sendo antagônico por possuir tamanha desigualdade social e de privilégios. 2 Trecho da música Tropicália do compositor Caetano Veloso que faz menção ao trecho “Dar-se-á tudo nela” da carta redigida em 1500 por Pero Vaz de Caminha descrevendo a terra nova, futuramente conhecida como Brasil, para o Rei Dom Manuel de Portugal.


Não é só habitar um espaço, mas sim na apropriação do lugar de fato. Segundo Schulz (1999), lugares que induzem a um movimento que, por sua vez é associado a não personalização do espaço e do indivíduo assumem características de um não-lugar, transmitindo o sentimento de solidão e semelhança pela falta de identidade e singularidade do lugar. Para este pensamento, Schulz afirma que o não-lugar, consiste em um atributo negativo, caracterizado pela ausência do lugar próprio em si. Portanto, pode-se considerar que o ato de acolher vai muito além do verbo pronominal “aceitar”, mas sim uma junção entre o estado físico e psicológico do próprio individuo que, no caso do estrangeiro, refletem quesitos básicos como a cultura e o seu idioma. Além disso, é possível associar o acolhimento com o conceito de Schulz sobre o lugar, mostrando que a ausência da personificação transmite a falta do sentimento de pertencimento para o individuo “acolhido”.

DO CORPO

Esta condicionante se encontra na barreira que a burocracia constrói, através do idioma não traduzido e da falta de infraestrutura dos órgãos públicos para atender a quem vem de fora. A tradução dos costumes, culturais e psíquicos não é feita da maneira correta, só que ao mesmo tempo, questiona-se qual seria a maneira apropriada.

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MEMÓRIA

A cidade é um conjunto de memórias coletivas das pessoas que nela habitaram, assim como ela esta ligada ao locus dessa memória em conjunto (ROSSI, 1966). Como citado anteriormente, o Brasil, sobretudo na cidade de São Paulo, apresenta fragmentos dessa memória estrangeira, seja nas tipologias construtivas das vilas operárias que remetem as vilas inglesas, na festa italiana no bairro do Bixiga que celebra o dia da Santa Achiropita e na celebração do ano novo chinês no bairro na Liberdade.

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Fotografa: Brunno Tozzo

Contudo, esses acontecimentos são manifestações da apropriação do espaço, que deixam de criar espaços sem cultura, sem função e transformam em espaços com memória, história e identidade (SCOFFIER, 2006). É importante ressaltar como esses costumes estão difundidos nos hábitos brasileiros e deles surgiram novas variações de estilos que chamam de raízes, a cultura é como uma raiz que une de uma ponta outra, fixando na terra, dela se nutrindo fazendo com que a planta cresça e se fixe. O sentimento de pertencimento ao lugar provém do tempo vivido nele em conjunto com as memórias coletivas que tecem a malha urbana (TUAN, 1983). No entanto, o homem pós-moderno se encontra em um estado de mudança acelerada devido a velocidade da globalização ocasionando na fragmentação da sua identidade que representa os sistemas culturais que o rodeiam. Segundo Hall (2006) esta instabilidade da identidade cultural é impulsionada pela crise migratória, devido ao colapso de politicas publicas locais em conjunto com o sentimento de ameaça da população pelos estranhos


Sobre os estranhos, porém, sabemos muito pouco para sermos capazes de interpretar seus artifícios e compor nossas respostas adequadas – adivinhar quais possam ser suas intenções e o que farão em seguida. E a ignorância quanto a como proceder, como enfrentar uma situação que não produzimos nem controlamos, é uma importante causa de ansiedade e medo.

Por conta destes sentimentos, ainda segundo o autor, percebe-se que os estrangeiros constantemente se deparam com os estereótipos preestabelecidos por aqueles que já residem no lugar, reprimindo a manifestação cultural de sua origem. Existe um anseio dos cidadãos ao receber os estrangeiros e isso gera uma dificuldade na aceitação deste individuo, como cita Baumam (2017, p.04): Refugiados da bestialidade das guerras, dos despotismos e da brutalidade de uma existência vazia e sem perspectivas têm batido à porta de outras pessoas desde o início dos tempos modernos. Para quem está por trás dessas portas, eles sempre foram – como o são agora – estranhos. Estranhos tendem a causar ansiedade por serem “diferentes” – e, assim, assustadoramente imprevisíveis, ao contrário das pessoas com as quais interagimos todos os dias e das quais acreditamos saber o que esperar. Pelo que conhecemos, o influxo maciço de estranhos pode ser o responsável pela destruição das coisas que apreciávamos, e sua intenção é desfigurar ou abolir nosso modo de vida confortavelmente convencional.

DO CORPO

(estrangeiros) que chegam em sua terra. Esse sentimento ameaçador reflete o medo e a ansiedade ao se deparar com aquilo que não compreendem tornando-se incapazes de lidar com esta nova realidade, tornando-os assim resistentes ao estrangeiro (BAUMAN, 2017, p.04):

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Essa ansiedade intensifica os discursos de que vieram para roubar empregos, recursos públicos e depredar a cidade. De acordo com Baumam (2017), a maioria da população é assombrada pela ideia de aumento na competição de trabalho com uma incerteza mais profunda e mentalizam uma tendência a piorar suas condições econômicas e sociais. Em contrapartida para os grandes empresários, estes refugiados são vistos como uma oportunidade do aumento de lucratividade pois são vistos como mão de obra barata.

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Dessa forma, para que um individuo seja aceito pela sociedade é necessário que ele se submeta as suas expectativas, ou seja, assim como o acolhimento tem uma condicionante, esta aceitação se da no momento em que o individuo demonstre algo que atenda a normalidade da sociedade, como o entendimento do idioma, o conhecimento da cultura local ou ainda que reflita os estereótipos atrelados ao seu país de origem (BAUMAN, 2017) como por exemplo: “todos os italianos sabem fazer qualquer tipo de massa”. Portanto, a memória que o estrangeiro tenta construir não é a mesma que os habitantes deixam refletir, como cita Certeau (1995, p. 172): É normal que, segundo a lei de seu pensamento, „intelectuais“ atualmente, reduzam a novidade a uma mera repetição de seu passado cultural, mas desvalorizado por sua vulgarização[...]. É normal que eles classifiquem assim, segundo hábitos mentais inerentes à sua „posição“.


Fotografa: Instituto Confucio


Fotografa:Jackson David

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A partir do capítulo “Do Corpo”, é possível verificar toda a dificuldade do estrangeiro em adequar-se fisicamente e mentalmente nos seu novo país de residência. Conforme visto anteriormente, o grau de aceitação dessa cultura “estranha“está diretamente ligado a diversos fatores, dentre eles fatores sociais, econômicos e políticos ideológicos que estão acontecendo no país acolhido (CERTEAU, 1995) Dessa forma, a situação do estrangeiro se torna cada vez mais complexa quando se existe a imposição de uma cultura através dos movimentos geopolíticos de uma minoria sobre uma população, aproveitando-se de possíveis conflitos internos e rixas (HOBSBAWM, 1988), e por fim como Certeau (1995) aponta na citação abaixo sobre a linha tênue entre uma apropriação física com a mental, tendo assim uma dualidade entre uma dominação cultural ou puramente política: Os registros graças aos quais um movimento minoritário pode tomar forma são o cultural e político. O perigo que convém assinalar é que se corra sempre o risco de se perder em um ou em outro, o unicamente cultural ou o unicamente político. (CERTEAU, 1995, p. 145)

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O neocolonialismo foi um processo de dominação política e econômica indireta dos países do continente africano e da Ásia pelas potências econômicas mundiais da época, como por exemplo: Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália, Bélgica, EUA e Japão.

DA CULTURA

EXPRESSÃO

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Como exemplo dessas movimentos e imposições políticas pode-se exemplificar com o período do neocolonialismo3 no século XX, potencias econômicas capitalistas impuseram a sua cultura e domínio econômico com um discurso no qual Eric Hobsbawm (1988) afirma em seu livro A Era dos Impérios: “ (p. 56), no qual a aquisição por território estratégicos para obtenção de matéria prima e fluxos comerciais, sendo assim uma denominação de status (HOBSBAWM, 1988) vide citação de Mr. Dooley’s Philosophy (1900)4 : „Quando estiverdes entre os chineses“... diz [o Imperador da Alemanha], „lembrai que sois a vanguarda da Cristandade“, diz ele, „e atravessai com vossas baionetas todo odioso infiel de marfim que virdes“, diz ele. „Fazei-os compreender o que significa a nossa civilização ocidental... E se, por um acaso, tomardes uma pequena extensão de terra enquanto isso, não deixeis nunca que um francês ou um russo a tomem de vós“. Mr. Dooley ‚s Philosophy, 1900 (aspas do autor)

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E por assim Certeau (1995) ressalta como a dominação cultural é um artificio que facilita o controle de uma nação com o viés político e econômico:

Trecho retirado vide fonte: Hobsbawm, Eric J., 1917- A era dos impérios, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. (P. 56).

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5 Movimento de independência da Índia teve como objetivo de acabar com o domínio da autoridade imperial britânica sobre a nação, lutando pelos direitos da minoria indiana e conhecido por adotar a política de não violência liderado por Mahatma Gandhi, a partir de 1920. 6 Colônia do império britânico do final do século XIX e até metade do século XX. Devido ao boom da economia da extrativista de diamante e ouro, houve uma migração em massa de indianos.


Pode se ter como um parâmetro a trajetória do movimento nacionalista da Índia5 , o qual o famoso líder Mahatma Gandhi, liderou o movimento por independência. Estudou Direito em uma universidade na Inglaterra, adotou costumes ocidentais – como por exemplo o modo de se vestir, vocabulário e escritas redigidas em inglês. Fora advogar em um caso na África do Sul6 – também colônia do império britânico – lá vivenciou preconceito e discriminação racial junto a comunidade hindu e mulçumana indiana e assim começou a lutar pelos direitos civis – conhecida pela não violência – Gandhi abandona os costumes ocidentais e começa a usar dhoti7 , xale indiano tradicional e incorporar o vocabulário indiano em seus discursos. Popularizado por este movimento, seguiu de volta para a Índia e fortificando o sentimento nacionalista pela sua terra até a expulsão do domínio britânico (HOBSBWAM, 1988). Esse movimento exemplifica a saturação de uma imposição cultural e o desenvolvimento de um forte sentimento nacionalista, reforçando assim a fala de Certeau (1995) sobre a linha tênue entre cultura e política, pois a motivação de Gandhi – mesmo ele que tenha se adequado aos costumes britânicos – sofreu preconceito por não “pertencer” a uma elite inglesa e vivenciou a violação dos 7 Tipo de vestimenta que consiste em um pedaço de pano retangular comprido enlaçada ao redor da cintura e das pernas. 8 Diferente da Índia, a Nigéria teve uma transição de colônia para governo federal próprio realizada pela Inglaterra, sendo concedida a independência total em 1960.

DAPROJECT CULTURA

Há uma real ligação entre a etnologia e a vontade de centralização e/ ou de colonização. Os países colonizadores foram sempre verdadeiros negadores de cultura. (CERTEAU, 1995, p. 156)

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direitos civis do seu povo, sendo isso um catalisador para o começo de um processo independência da Índia e de forte sentimento nacionalista. Outra situação ocorreu com a Nigéria8 , ex-colônia britânica no continente africano que obteve sua independência em 1960 após crescimento do sentimento nacionalista. Porém a sua divisão territorial – feita pelos ingleses em 1914 – desconsiderou as tribos e sua divisão original (HOBSBAWM, 1988), no qual ao se tornar independente começou a ter constantes batalhas pelo poder, ocasionando em diversas guerras civis, abusos graves aos direitos humanos e aumentando a procura da população por refúgio (ONU, 2019). Devido as consequências destas guerras civis, houve um desgaste da economia local e também resultou em processos migratórios forçados por violação dos direitos humanos (ONU, 2019). As manifestações culturais são importantes para não haja opressão de uma população, como exemplificado com a época do neocolonialismo. O foco deste capítulo não é cometer anacronismo e - 32 julgar os fatos ocorridos no passado, mas sim mostrar como o processo dessas apropriações culturais influencia o espaço e também a mentalidade de uma população (BAUMAN, 2017).


Fotografa: Zainab Mlongo

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Fotografa: Markus Spiske

IMIGRANTE E REFUGIADO

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Após o entendimento conceitos apresentados nos capítulos “Do Corpo” e “Da Cultura”, será introduzido nesta terceira parte a desmembração desses termos com o viés jurídico “Do Estado” no que diz respeito ao individuo definido como Imigrante e como refugiado. Apesar de ambos os termos estarem se referindo ao estrangeiro, não são sinônimos e nem se encontram nas mesmas condições. Existe uma diferença legal entre os dois e acarreta questões burocráticas distintas no país de chegada, que de acordo com a Agência das Nações Unidas (ACNUR) e a Organização das Nações Unidas (ONU): • Refugiados são pessoas que se encontram fora do seu país por medo de perseguições por motivos étnicos, religiosos, políticos, conflitos armados e grave violação dos direitos humanos. • Migrantes regulares são indivíduos que entraram e permanecem em outro país por meios legais, reconhecida pelo governo local e com conformidade nas leis e regulamentos. • Migrantes irregulares são pessoas que se estabelecem em outro país e não possuem aos documentos necessários para a permanência reconhecida. Se caso a estadia for prolongada e a situação não for regularizada, o individuo poderá recorrer para providenciar a documentação ou deportados para o país de origem. Ao longo da história da humanidade ocorreram constantes fluxo de


Para estabelecer parâmetros jurídicos e documentação para obter uma “definição” de quem seria considerado refugiado, foi estabelecida uma Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 - ou Convenção de Genebra - que criava um sistema baseado em populações com problemas de conflitos armado e perseguições políticas, no qual o Brasil ingressou em 1952. Entretanto, os fluxos migratórios tiveram um crescimento significativo após 60 anos da criação do regime de proteção e evidencia uma base desatualizada com referencia dos acontecimentos da década de 50, dificultando no avanço da regulamentação para proteger todos os solicitantes de refúgio. Com isso, em 2016 reuniu os países ingressantes da Convenção de Genebra para adotar diversas formas de compromisso do Estado para aprimorar a proteção do refugiado que ficou conhecido como Declaração de Nova York e em 2018 o Pacto Global que abrange o tema para imigrantes e refugiados.

DO ESTADO

migração (BAUMAN, 2017), porém só em 1920 o refúgio acabou sendo discutido em termos jurídicos pela Liga das Nações, que futuramente em 1949 será conhecida como Organizações das Nações Unidas (ONU). Somente em 1950 a partir da Resolução n˚ 428 da Assembleia das Nações Unidas foi criado um órgão chamado Alto Comissariado das Nações Unidas (ACNUR) responsável para dar apoio e proteção a refugiados, garantindo também os direitos humanos e soluções para reassentamento em um outro país.

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Artigo 14˚: 1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e se beneficiar de asilo em outros países. Declaração dos direitos universal do homem


DIREITOS

Falando especificamente sobre o Brasil, o país é considerado uma referência no que diz respeito a receptividade e reinserção de refugiados em sua sociedade. Segundo o ACNUR, o Brasil possui uma legislação de refúgio relativamente moderna em comparação aos demais países da América Latina desde a sua primeira versão (Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997).

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Sobre sua legislação, o Brasil apresenta um conceito bastante ampliado para o reconhecimento de refugiados que vai além do estabelecido pela Convenção de Genebra de 1951, ao também reconhecer como refugiado todos os indivíduos que alegam estar em busca de segurança frente a uma situação de grave e generalizada violação de direitos humanos em seu país de origem. Posteriormente, em 2017, houve a aprovação da nova Lei de Migração (nº 13.445/2017) pelo Ex-Presidente Michel Temer, que estabeleceu o movimento migratório como um direito humano e garantiu ao migrante a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade em condição de igualdade com os cidadãos do país. Dentre outros pontos, a nova legislação também implementou a criação do visto temporário para acolhida humanitária, que consiste em um visto concedido ao apátrida ou ao indivíduo que se encontre em situação de grave e generalizada violação de direitos humanos - conforme estabelecido na Lei anterior. Contudo, além de todos estes direitos estritamente necessários para o acolhimento do refugiado no país, qualquer individuo que venha a residir em


DO ESTADO - 37 -

Fotografa: Rostylav Savchyn

uma cidade pode-se gozar do direito de habitar esse espaço de maneira mais democrática, com acesso a todas as infraestruturas, como diz no ornamento jurídico nacional do Brasil. Faz-se necessário atribuir a estes estrangeiros o direto de manifestar a sua cultura, seu cotidiano e sem nenhum receio de ser repreendido por suas individualidades e diferenças culturais no qual é um direito do cidadão de não ser excluído da sociedade e de todos os aparatos urbanos (LEFEBVRE, 1996). Ao pensar no tipo da cidade que se deseja, faz-se necessário entender a sua associação com as pessoas que a habitam e suas respectivas relações com a cidade, articulando estas discussões com o Direito a cidade discutido por Lefebvre (1996) e na lei federal do Brasil no Estatuto da Cidade.


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O bairro se encontra próximo aos antigos polos fabris da cidade de São Paulo, devido a proximidade com a estrada de ferro que ligava Santos-Jundiaí, o Glicério teve as chácaras loteadas e no seu lugar foram construídas as vilas para os operários, estabelecendo uma relação da função industrial em detrimento do habitacional. Com o crescimento da atividade de produção e exportação de café, São Paulo começou a ter alta demanda de mão de obra e muitas delas vieram dos imigrantes italianos, japoneses, alemães, portugueses e com isso nos loteamentos novos foram construídos vilas habitacionais para os trabalhadores e nisso já começa a se observar uma concentração de imigrantes na zona central da cidade. A seguir, nos Mapas 19 e 210 é apresentado o loteamento da região do Centro nos anos de 1930 e 1954. Observa-se pelos mapas que o parcelamento da região não sofreu mudanças significativas até o ano de 1954, uma vez que, conforme explicado anteriormente, o bairro do Glicério estabelecia uma função industrial ao longo do eixo ferroviário instalado nas várzeas dos rios, assim como das outras áreas, por exemplo do bairro do Brás e demandava por mão de obra. Contudo, com o passar dos anos, a região do Glicério apresentou algumas mudanças significativas em sua paisagem, principalmente com a retificação 9 S.A.R.A Brasil foi uma cartografia realizada com uma técnica chamada de aerofotogrametria, no qual é realizada o mapeamento da cidade através de fotos aeras. Seu nome é um acrónimo da empresa contratada para fazer o mapa: Societá Anônima de Rilevamenti Aerofotogrammetrici.

Levantamento aerofotogramétrico impresso em cores realizado pelas empresas VASP s/a e Cruzeiro do Sul s/a em um consórcio realizado.

10

PROJETO

CONTEXTO

- 39 -


do Rio Tamanduateí para conter as enchentes devido as ocupações das suas várzeas e, posteriormente com a construção o viaduto do Glicério que causaram algumas desapropriações e a criação de novos loteamentos na região. Estas mudanças refletem as novas funções atribuídas ao bairro que deixou de ser uma área voltada para a atividade industrial e tornou-se um lugar com um maior número de habitações e áreas de comércio e serviços, conforme representado no Mapa 3.

- 40 -

Este mapa evidencia as mudanças que ocorreram na região, onde observa-se a predominância de equipamentos públicos, residências com uso misto e ao se aproximar das estações de metro a concentração de comércio e serviço. Nas quadras em branco estão localizadas as antigas vilas operárias que atualmente estão em más condições de preservação e com alguns cortiços. Conclui-se, portanto, que a região do Glicério teve sua funcionalidade alterada e isso refletiu significativamente tanto na parte econômica e social em relação ao uso do solo. No que diz respeito ao seu fluxo de imigração, atualmente, a região ainda é habitada e frequentada por um grande número de imigrantes, principalmente venezuelanos, haitianos, bolivianos, angolanos e sírios. No Mapa 4 apresentado a seguir é possível verificar a concentração de imigrantes nesta região Central e a sua evolução decorrente das mudanças citadas anteriormente. A partir dessas análises e considerando a localização dos principais pontos de mobilidade da região central da cidade de São Paulo, foi definido o 11 A Igreja Nossa Senhora da Paz é um patrimônio tombado, pois foi construída em 1937 para dar refúgio e abrigo físico e espiritual aos imigrantes italianos e tornou-se posteriormente sede da Missão Paz, no qual atua com o público imigrante e refugiado de diversas nacionalidades.


O terreno escolhido está localizado entre as ruas: Rua Helena Zerrener, Rua do Estudantes, Rua do Glicério e Rua Dr. Lund, próximo a três estações de metrô (Sé, Liberdade e Dom Pedro II) e terminais de ônibus, no intuito de priorizar a mobilidade. Além disso, o terreno possui localização próxima de Igreja da Nossa Senhora da Paz11, onde está também localizada uma unidade da Missão Paz . Complementar a estas análises para a escolha do terreno, foi também realizado o estudo sobre a legislação do centro, com um foco específico na região do Glicério, conforme apresentado no Mapa 6. De acordo com a análise foi possível observar as seguintes diretrizes: • Área de estudo está inserida no PIU Setor Central. • PDE prevê mais unidades de habitação, já que existem dois tipos de Zeis (3 e 5) prevendo mais unidades habitacionais de interesse social e equipamentos sociais, atendendo a população mais vulnerável. • Zeis 3 corresponde a imóveis ociosos, deteriorados, cortiços em locais que possuem boa oferta de infraestrutura. • Zeis 5 corresponde a imóveis subutilizados para construção de HMP. • A ZC é Zona de centralidade que é destinado a atividades de uso não residenciais, com densidade construtiva e demográfica médias e promover espaços públicos com paisagismo adequados. Portanto, partindo desta última análise da legislação conforme o PDE, observa-se que a área escolhida já possui políticas voltadas tanto para equipamentos sociais, quanto para habitação de interesse social (HIS).

PROJETO

terreno para execução do projeto, conforme destacado no Mapa 5.

- 41 -


M A PA 1 : S A R A BR A S I L 1 9 3 0 Legenda: Localização do projeto

- 42 M A PA 2 : VA S P C R U Z E I RO 1 9 5 4 Legenda: Localização do projeto


M A PA 3 : U S O P RE D OM I N A N T E D O SOLO Legenda: Localização do projeto Residencial horizontal Residencial vertical comércios e serviços Industriais e armazens Resdi + comécios e serviços Equipamento público Escola Sem predominancia

- 43 Brás Republica

M A PA 4 : DI AGR A M A DE M I GR AÇ ÕE S P R E VA L EC E N T E S Legenda: Localização do projeto Imigrações século XX

Higienopolis

Bela Vista

Imigrações século XXI

Cambuci


M A PA 5 : V I A S DE M OBI L I DA DE Legenda: Localização do projeto Rio Tamanduateí Avenida do Estado Viaduto do Glicério - Ligação Leste/Oeste Rua da Liberdade Avenida 23 de Maio

- 44 -

M A PA 6 : ZON E A M E N TO Legenda: Localização do projeto ZEIS 3 ZEIS 5 ZC ZEU Praças e Canteiros ZM


- 45 -

Isométrica com a localização do projeto



Nossas casas fazem parte do mundo globalizado, mas expressam características impressas pelas construções materiais e imateriais da tradição histórica local (SANTOS, 2008), articula-se a ideia do espaço como uma associação da historicidade, relações sociais e econômicas de cada região destacando as relações humanas como um meio de atrelar uma noção do espaço geográfico, isto é, um espaço no qual os aspectos físicos não são relevantes para a sua definição. Contudo com o aceleramento da globalização, a velocidade da disseminação da informação e desenvolvimentos de novas tecnologias, a configuração do espaço acaba sendo constantemente impactada não somente na escala local, mas sim global. Vendo como as relações humanas vão constituindo uma nova dinâmica do geográfico, Santos (2008) afirma que uma consequência disso está na formação de espaços do mandar e no de obedecer. Ao considerar a inserção de um novo objeto arquitetônico no centro da cidade, historicamente marcado por fluxos migratórios de diversas regiões do país e do mundo, com a malha urbana já bastante consolidada, deve-se levar em consideração o impacto das horizontalidades e verticalidades (SANTOS, 2008). Segundo o autor, a horizontalidade consiste na relação entre lugares fisicamente vizinhos, ligados por uma continuidade territorial e a verticalidade consiste na relação de territórios ligados por formas e processos sociais, impactando na sua funcionalidade.

PROJETO

E S PAÇ O

- 47 -


Pensando nessas novas relações de espaço, para garantir que o estrangeiro tenha o sentimento de pertencimento, além de prover condições físicas e psicológicas para que eles possam integrar-se plenamente a cidade, foi elaborado o projeto de um centro multicultural e de acolhimento. Inserido no bairro do Glicério, estrategicamente localizado entre os bairros Sé, Liberdade, Cambuci e Brás, lugares cujo o histórico de migrações e imigrações sempre estiveram presentes.

- 48 Bom Retiro

Pari

Sta. Cecília

Belém

Republica

Consolação

Brás Mooca

Bela Vista Liberdade Cambuci

Na concepção deste projeto, visando atender a este sentimento do estrangeiro na cidade de São Paulo, iniciou-se por avaliar a termodinâmica da cidade, buscando identificar os pontos nos quais os estrangeiros se encontram em sua chegada e estabelecendo-se nele, ressaltando que no século XX o ponto “quente” estava localizado na região central, contudo, atualmente estes pontos estão difusos e principalmente localizados em regiões no qual o m2 é mais acessível. Com isso o centro teve o resfriamento da concentração dos estrangeiros, porém não deixou de ser o espaço no qual converge os acontecimentos, infraestruturas e empregos. Afim de estabelecer as relações da termodinâmica com as horizontalidades (SANTOS, 2008) no macro escala, a localização do projeto é um ponto de convergência entre os bairros que possuem a predominância de imigrantes e


PROJETO

refugiados, junto com as infraestruturas tais como transportes públicos, órgãos institucionais e empregabilidade. Tratando na microescala, a rua do Glicério é um importante eixo das relações dos imigrantes e refugiados do bairro, devido a proximidade da Igreja Nossa Senhora da Paz, pelo o histórico de permanência dos imigrantes. Devido a este principal eixo, para complementar a conexão da malha urbana ao projeto se da através da rampa de acesso a uma praça elevada cuja função é aumentar os espaços de acontecimentos e interações sociais através do território e também do centro da quadra como um local expositivo e completar ao projeto.

RUA DOS ESTUDANTES

10

11

12

- 49 B

C

RUA DOS ESTUDANTES

10

11

12

RU A

A

DR .L D UN

01

02

03 04

05

06

07

08

09

12 2

49 D 2-

E

F 10

3

RUA DO GLICÉRIO

10 -

RUA CONDE DE SARZEDAS

09

RUA CONDE DE SARZEDAS

A

B

C


- 50 -

Ao tratar de um espaço público como uma relação territorial e também social, a rampa caracteriza um novo espaço para acontecimentos, sendo como fundamento estruturador para o partido arquitetônico de caráter social voltado para o homem, denominado de Ordem (KHAN, 2010). Pensando na abordagem do partido arquitetônico, nos volumes compostos e na materialidade – tratado por Louis Khan como Design – a concepção e relevância da praça só é possível através da criação de um plano livre com o edifício sustentado por pilotis. O jogo volumétrico da fachada do centro de acolhimento remete a dinâmica dos movimentos migratórios, no qual os volumes destacados são revestidos com madeira e venezianas camarão complementando a alusão a estes movimentos e preservando a privacidade dos dormitórios. Já o centro cultural conta com o auditório destacado com a inclinação da plateia para convergir o individuo para o acesso ao lugar. Além disso, há a diferenciação da materialidade da estrutura dos dois edifícios, pois o centro de acolhimento é com concreto protendido e o cultural com estrutura metálica. O Design e a Ordem se apropriam da necessidade que a edificação tem de acolher e proporcionar o sentimento de pertencimento do local: “no espaço há o espírito e a vontade de ser de uma certa maneira” (KHAN, 2010, pag. 10). No âmbito geral, é importante ressaltar a existência de uma tela de chapa de metal perfurado que se estende por toda a fachada sul do edifício de acolhida, onde estão localizadas as lavanderias comunitárias dos pavimentos dormitórios, tendo por finalidade preservar a vista interna do edifício para o viaduto do Glicério. Complementar a esta chapa, na fachada sudeste, foi utilizado o elemento vazado do cobogó para garantir a ventilação.


- 51 -


NO VENDRAME

01

02 6,00

03 6,00

04 3,00

05 6,00

06 6,00

07 6,00

08 12,58

09 10,00

10

11

10,00

10,00

12 10,00

31,00

10 pavimento

28,00

9 pavimento

25,00

8 pavimento

22,00

7 pavimento

19,00

6 pavimento

16,00

Pavimento tipo 5, 7, 9

13,00

Pavimento tipo 4, 6, 8

10,00

3 pavimento

7,00

2 pavimento

3,00

1 pavimento

0,00

Térreo

CORTE A esc. 1:200

CORTE AA

- 52 F

E 8,00

D

C

8,00

31,00

10 pavimento

28,00

9 pavimento

25,00

8 pavimento

22,00

7 pavimento

19,00

6 pavimento

16,00

A

Pavimento tipo 5, 7, 9

B 8,00

C 8,00

D 7,93

E 8,00

F 8,00

13,00

13,00

Pavimento tipo 4, 6, 8

Pavimento tipo 4, 6, 8

10,00

10,00

3 pavimento

3 pavimento

7,00

7,00

2 pavimento

2 pavimento

3,00

1 pavimento

0,00

0,00

Térreo

Térreo

CORTE BB

CORTE CC

CORTE B esc. 1:200

TIA

TURMA / PERÍODO

3160555-9

CORTE C esc. 1:200

ORIENTADOR ATIVIDADE 2

10 N121 / NOTURNO

CENTRO MULTICULTURAL E DE ACOLHIMENTO SILVIO SANT'ANNA

ESCALA

FOLHA Nº

1 : 200


31,00

10 pavimento

28,00

9 pavimento

25,00

8 pavimento

22,00

7 pavimento

19,00

6 pavimento

16,00

Pavimento tipo 5, 7, 9

13,00

Pavimento tipo 4, 6, 8

10,00

3 pavimento

7,00

2 pavimento

3,00

1 pavimento

0,00

Térreo

ELEVACAO LESTE esc. 1:200

E L E VAÇÃO L E S T E

- 53 -

31,00

10 pavimento

31,00

10 pavimento

28,00

9 pavimento

28,00

9 pavimento

25,00

8 pavimento

25,00

8 pavimento

22,00

7 pavimento

22,00

7 pavimento

19,00

6 pavimento

19,00

6 pavimento

16,00

Pavimento tipo 5, 7, 9

16,00

Pavimento tipo 5, 7, 9

13,00

Pavimento tipo 4, 6, 8

13,00

Pavimento tipo 4, 6, 8

10,00

3 pavimento

10,00

3 pavimento

7,00

2 pavimento

7,00

2 pavimento

3,00

1 pavimento

3,00

1 pavimento

0,00

Térreo

ISIS NAPOLITANO VENDRAME

0,00

Térreo

E L E VAÇÃO S U L

E L E VAÇÃO N O R T E

ELEVACAO SUL esc. 1:200

TIA

TURMA / PERÍODO

3160555-9

ORIENTADOR ATIVIDADE 2

10 N121 / NOTURNO

SILVIO SANT'ANNA

ELEVACAO NORTE esc. 1:200

CENTRO MULTICULTURAL E DE ACOLHIMENTO AO IMIGRANTE E REFUGIADO

ESCALA

FOLHA Nº

1 : 200

10


As verticalidades (SANTOS, 2008) se dá a partir da separação dos dois edifícios: o de acolhimento e o cultural; elas estão ligadas através de uma passarela, no qual simboliza a ligação entre o acolher e a cultura, na caracterização do edifício cultural como o local da memória, da identidade e história (SCOFFIER, 2006), mostrando que ambos são independentes, porém complementares. É um lugar de manifestação cultural e de conhecimento sem estar atrelado aos clichês (CERTEAU, 2005), de maneira que assim se criem espaços de experimentos (PALLASMAA, 2008). A criação de uma nova experiência é algo significativamente relevante para a arquitetura, Pallasmaa (2008, pag. 481): [...]A experiência espacial da arquitetura, ao contrário, é sintética, opera em vários níveis simultaneamente: mental/físico, cultural/biológico, coletivo/individual etc. [...] formula uma teoria acerca do apoio da experiência na memória, na imaginação e no inconsciente.

- 54 -

LAVANDERIA

Conforme citação a cima a questão de “criar uma experiência única” como algo de extrema importância para a arquitetura por proporcionar a criação de vínculos com o usuário, possibilitando a alteração de experiências anteriormente vividas.

REFEITÓRIO

DESCOMP R E S S Ã O ACESSO ASSITENCIAS

AUDI

MIDIATÉCA TÓRIO FOYER

EXPOSIÇÃO CAFÉ

RESTAU RANTE SALAS

Todavia, nos espaços destinados ao uso coletivo afim de proporcionar a interação entre o interno do projeto com a cidade, optou-se por usar a transparência do vidro e consequentemente o uso de materiais opacos vem da privacidade proveniente da necessidade humana.


- 55 -


- 56 -

Nas plantas a seguir, da esquerda para direita, no pavimento térreo começando pelo edifício de acolhimento, o programa é composto: por uma administração dos edifícios com copa, sanitários e salas de reunião interna; área técnica com depósito e reservatório; departamento para assistência em traduções de documentos e também para outras documentações necessárias para a obtenção do visto; e por fim as salas de atendimento psicológicos e jurídicos. A ideia desse pavimento é que o estrangeiro possa contar com suporte jurídico e também psicológicos – principalmente para pessoas solicitantes de refugio – assim como também no auxilio para as burocracias e traduções de documentos, pois muitas vezes por falta de carteira de trabalho e/ou não poder exercer a sua profissão aqui no Brasil, o estrangeiro acaba submetendo-se a trabalhos informais e muitas vezes abusivos. Já no edifico cultural: dois espaços para exposições interligadas por um café; recepção; e salas multiusos para diversas atividades tais como oficinas ou cursos de línguas. Conta com duas circulações verticais, sendo a primeira que dá o acesso ao foyer e auditório, e a segunda conecta ao restaurante e terraço. Sendo assim, para ressaltar importância do conhecimento de outras culturas para que não haja o sentimento de que o estrangeiro é um “estranho” – como afirma Bauman (2017) – e também para que possa sentir que sua cultura está presente em sua nova realidade, por fim conta com um café próximo a entrada com o intuito de convidar a população da cidade com o edifício.


10

10,00

11

12

10,00

8 6,00

02

6,00

03 04 3,00

6,00

05

226,00 12

06

6,00

07

12,58

08

10,00

09

8

B

10,00 8,00

01

8

8,00

A

2 1

+0,05 m

+0,05 m

C

2

4

3

UP

6

7

+0,05 m

- 57 18 -10 23

D 8,00

5 wc wc pne wc

7,93

UP

E +0,05 m

1

8,00

5 UP

10 23 18

F

+0,05 m

1

Administração

7

Café

2

Área técnica

8

Sala multiuso

3

Assistência

4

Atendimento psico/juridico

5

Área expositiva

6

Recepção

PAV I M E N TO T É R R EO


Partindo para o primeiro pavimento na página seguinte, o prédio do acolhimento está elevado por pilotis e consequentemente gerando um plano livre para a praça seca no qual seu acesso é feito por uma rampa, como analisado em visitas a campo, o centro da cidade carece de áreas públicas e de permanência prolongada e sua a finalidade é de trazer os acontecimentos da cidade para o edifício.

- 58 -

A parte cultural conta com uma bilheteria, foyer e auditório de usos diversificados – como cinema, palestras, pequenas apresentações – com capacidade para 120 pessoas, sendo pensado como parte das manifestações culturais. No outro lado, o restaurante que além de ser mais um atrativo para o edifício, também pode uma conexão com a culinária típica de uma região, pois a gastronomia é uma parte importante de uma cultura e por fim o terraço que é a interação do projeto com a cidade.


10

11

10,00

10,00

12

8,00

A +4,00 m

02

6,00

03 04 3,00

6,00

05

126,00 22

06

6,00

07

12,58

08

10,00

09

B

10,00

13

2 1

8,00

6,00

C

UP

+4,00 m

7,93

01

D 23

11 +4,00 m

9

10

UP

UP

12

+3,00 m

10 F 18

UP

3 2

F

DN

9

Praรงa elevada

10 Foyer 11 Auditรณrio 12 Restaurante 13 Terraรงo

E 8,00

E

UP

10 18 -

8,00

D

PAV I M E N TO 1 ห


No segundo pavimento, a parte voltada para o acolhimento tem um andar para a sociabilização, descompressão e área de lazer, tendo o seu acesso horizontal direto ao edifício cultural através de uma passarela e outro vertical para os demais pavimentos.

- 60 -

Seguindo adiante neste pavimento que corresponde ao ultimo da parte cultural, encontra-se a midiateca, com acervos voltados para a literatura, música, acesso internet. Este andar é o que limita o acesso para o edifício de acolhimento para que haja privacidade para quem está hospedado nele, mas por outro lado, há conexão direta pelos acolhidos, portanto, sendo assim o ponto de encontro entre o pertencimento físico e com o mental. O próximo é o terceiro pavimento e nele está situado o refeitório exclusivo para os acolhidos, contém uma cozinha e a área de apoio com armazenamento e depósito, e mesas compartilhadas para refeição.


IEN

10

10,00

11

10,00

12

8,00

A

02 6,00

03 04 6,00

3,00

05 6,00

06

126,00 22 2 1

07 6,00

09

08 12,58

10,00

B 10,00

8,00

01

7,93

C

UP

14

E

+7,00 m

15

+7,00 m

+7,00 m

0,15

UP

UP

E

16 10 F 18

UP

3 2

14 Espaรงo de descompressรฃo 15 Acesso horizontal 16 Midiateca

10 18 -

8,00

D 23

+7,00 m

8,00

D

F

PAV I M E N TO 2


- 62 -


10

10,00

11

10,00

12

8,00

A

02 6,00

03 04 6,00

3,00

05 6,00

06

126,00 22 2 1

07 6,00

09

08 12,58

10,00

B 10,00

8,00

01

7,93

C

UP

D +10,00 m

23

17

10 18 -

8,00

D

18

E 8,00

E

10 F 18

3 2

17 Refeitรณrio 18 Cozinha

PAV I M E N TO 3


Do quarto ao nono pavimento começam os andares respectivos aos dormitórios, sendo todos eles com lavanderia compartilhada, três banheiros com cabines e chuveiros – um deles com acessibilidade para PNE. Os pavimentos dormitórios por sua vez estão divididos em duas tipologias: os andares pares possuem seis dormitórios no total sendo quatro com capacidade para quatro pessoas e dois com capacidade para três pessoas; já os andares impares contem dez dormitórios no total distribuídos em quatro quartos para uma pessoa, quatro quartos para duas pessoas e por ultimo dois para três pessoas.

- 64 -

O processo de definição destas tipologias reflete nos conceitos apresentados anteriormente, uma vez que leva em consideração o bem-estar físico e mental do estrangeiro (PALLASMAA, 2008), ao propor dormitórios que vão desde o individual (uma pessoa) ao coletivo/familiar. Dessa forma, a ideia principal do edifício não é alocar o máximo de pessoas possíveis, mas sim garantir que os indivíduos se sintam plenamente acolhidos e tenham a suas privacidades e individualidades respeitadas, criando assim um ambiente que provenha o sentimento de pertencer.


01

02

03

04

05

06

07

12

01

6,00

02

6,00

03

3,00

04

6,00

2

4 11

6,00

05

06

6,00

07

12 2

6,00

6,00

3,00

6,00

6,00

6,00

UP

UP

Lavanderia

Circulação PNE

Lavanderia 2 11

Circulação PNE

2 11

PAV I M E N TO T I P O 4 , 8 , 6


01

02

03

04

05

06

07

12 2

6,00

6,00

3,00

6,00

6,00

6,00

49

UP

- 66 -

Lavanderia

PNE

2 11

PAV I M E N TO T I P O 4 , 8 , 6


08

12,58

10,00

10,00

A respeito do detalhamento dos pavimentos dos dormitórios, foram consideradas paredes internas de DryWall com camara de ar, garantindo o isolamento acústico desejado com 52 dB. Para as paredes externas com 16cm de espessura, foi proposta um fechamento de blocos de concreto barrando os ruídos externos da Rua do Glicério ao alcançar 38dB. Estes estudos de detalhamento apresentados acima foram determinados através de experimentos realizados na plataforma Acústico 3.0, onde foram testados diversos materiais, afim de trazer o conforto acústico para as áreas dos dormitórios devido ao grande fluxo e ruído existente na região. Assim, foram verificados os níveis sonoros do entorno, cuja calçada possui 66 dB. Dessa forma, considerando a parede em DryWall com lã de rocha, a parede externa com fechamento em concreto e a laje de concreto protendido de 14cm foi alcançado o isolamento acústico no interior dos dormitórios em 37 dB, sendo classificado pela plataforma como uma 09 performance satisfatória.

- 67 P L A N TA D O R M A M P L I A D O

10

11

12


CORTE AMPLIADO

Térreo

0,00

1 pavimento

3,00

2 pavimento

7,00

3 pavimento

10,00

Pavimento tipo 4, 6, 8

13,00

9 pavimento

28,00

10 pavimento

31,00

- 68 Caixilio metálico com painéis de vidro Piso de concreto revestido com porcelanato

Guarda corpo com perfil tubular metálico e painéis de vidro Laje de concreto protendido

Viga de borda em concreto armado 0,15 x 0,6 m Painel de chapa metálica perfurada circular fixada na laje Coluna estrutural de concreto armado 0,15 x 0,3 m

Caixilio metálico com painéis de vidro

Viga em concreto protendido 0,15 x 0,6 m

Painél tubular metálico vazado com fixacao na laje Caixilio metálico com 2 folhas de vidro 1,6 x 1,4/0,8m (LxA/P) Parede com bloco de concreto 0,14m com acabamento em pintura Viga em concreto protendido 0,3 x 0,6 m Caixilio metálico com painéis de vidro Laje de concreto protendido com piso de assoalho de madeira

Veneziana camarao com estrutura metálica e aleta em madeira com fixacao na laje

Cobertura laje plana de concreto protendido i= 2%


- 69 -

FAC H A DA A M P L I A DA


Fotografa: Sydney Rae


Por fim, através da pesquisa apresentada neste trabalho, é evidenciada uma perspectiva da situação dos imigrantes e refugiados, onde é possível verificar a necessidade e a importância de transmitir o sentimento de Pertencimento para estes estrangeiros em seu novo país. Conforme visto anteriormente, para que o individuo possa pertencer a sua nova realidade, faz-se necessário que este seja acolhido e reconhecido: em seu âmbito físico e psicológico (Corpo), pelo reconhecimento e aceitação da sua cultura (Cultura) e legalmente como um cidadão digno inserido em sua nova sociedade (Estado). O sentimento de pertencimento é de extrema importância para estes indivíduos, pois muitos deles, inclusive, não puderam exercer o seu direito de escolha para esta nova realidade, sendo alocados em países estrangeiros para sobreviver a condições que ferem os direitos humanos. Juntando a minha vivencia pessoal sendo neta de imigrantes italianos cujos neles o seu amor pela terra natal é muito forte e mesmo depois de tantos anos aqui no Brasil, nunca deixaram de nos mostrar a sua essência. Cresci escutando tarantela, comendo macarrão e também arroz e feijão, ensinei palavras novas e também aprendi o mesmo em italiano, o qual toda essa miscelânea cultural fez de mim o que sou hoje. Portanto, concluo o meu trabalho final após estes cinco anos estudando arquitetura e urbanismo me fizeram refletir como eu poderia contribuir com a cidade e com o mundo, e como utilizar meus conhecimentos na graduação para que possamos refletir uma resposta para a situação atual das migrações.

PERTENCER

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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PALLASMAA, Juhani. “A geometria do sentimento: um olhar sobre a fenomenologia da arquitetura”. In: NESBITT, Kate (Org). Uma Nova Agenda para a arquitetura: Antologia Teórica 1965-1995. São Paulo, Cosac Naify, 2008 SANTOS, M. O Retorno do Território. OSAL: Observatório Social de América Latina. Buenos Aires: CLACSO, 2005 ZYGMUNTZ, B. Estranhos à nossa porta. [Digite o Local da Editora]: Zahar, 2017. 9788537816141. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/ books/9788537816141/>. Acesso em: 12 novembro de 2020 HOBSBAWM, Eric J., 1917- Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991 — São Paulo: Companhia das Letras, 1995 HOBSBAWM, Eric J., 1917- A era dos impérios. — Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

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