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TEORIA E HISTÓRIA DO DESIGN

20 ARTIGOS SOBRE THD A não perder!

PLUS ANO LECTIVO 20015/2016 2º SEMESTRE

Trabalhos elaborados pelos alunos do 3º ano do curso de AVT na UC de Teoria e História do Design na ESELx.


Editorial Este projecto tem como objectivo a reflexão crítica sobre momentos chave do desenvolvimento do design em termos sincrónicos e diacrónicos.

Pretende-se que os alunos desenvolvam a capacidade de definir os conceitos fundamentais que presidem e fundamentam as práticas do design, refletindo sobre os fatores económicos, históricos, técnicos, estéticos, artísticos e políticos e/ou ideológicos que presidiram ao desenvolvimento seu desenvolvimento. Através de um reflexão critica, os alunos devem reconhecer e observar as relações entre arte, artesanato, arquitetura e design, analisando os diferentes objetos de design atendendo à época em que foram concebidos, produzidos e consumidos. Examinar e interpretar objetos de design atendendo às questões, técnicas, funcionais, estéticas, conceptuais e/ou criticas que lhes estão subjacentes são requesitos considerados obrigatórios. Bom trabalho!

CÁTIA RIJO Coordenadora e docente da UC

THD | 2015/16

A realização de trabalhos práticos que se debruçam sobre momentos chave do desenvolvimento do design em termos sincrónicos e diacrónicos possibilitam o desenvolvimento de processos de análise e interpretação de várias obras, atendendo não só às suas dimensões técnicas, funcionais, estéticas, conceptuais ou simbólicas mas permitindo igualmente articular a sua produção, consumo e circulação com os grandes paradigmas teóricos, sociais e económicos da contemporaneidade, possibilitando a aquisição e extensão de uma cultura visual, indispensável como princípio de enquadramento e fundamentação teórica das práticas desenvolvidas pelos alunos no âmbito das artes visuais ou do design.

designlab4you.wordpress.com


PAUL RAND

DESIGN CAN BE ART. DESIGN CAN BE AESTHETICS. DESIGN IS SO SIMPLE, THAT'S WHY IT IS SO COMPLICATED.


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Março 2016

O INÍCIO DO SÉCULO XIX ATÉ BIEDERMEIER AUTORES: SARA ABREU

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SOLANGE GOMES

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este artigo, o tema abordado trata a expansão da Indústria no século XIX, que veio revolucionar a forma como se produzia, deixando de ser feita a produção manufacturada em pequenas oficinas. Assim, devido à industrialização foi possível descobrir novos processos e materiais, máquinas e realizar inovações. O descaroçador de algodão foi uma das mais importantes invenções desta época, esta tarefa passou a ser elaborada mais depressa através de uma máquina, que consequentemente aumentou bastante a produção de algodão e possibilitou o crescimento dos mercados. Deste modo, originou a expansão da moda feminina e do pronto-a-vestir. Outro momento importante do início do Séc. XIX foi o crescimento da impressão, tanto no papel como nos tecidos, levando até à execução do papel de parede. Passando por diversas invenções, como a galvanização e utilização do alumínio na área da metalurgia, o ferro fundido e a madeira arqueada utilizada em cadeiras e bancos, chegamos até a uma das inovações mais influentes nesta época na área do mobiliário, o estilo Biedermeier. Este expressa valores de conforto e lazer sem nunca prescindir da sua função. Sendo que apresenta referências do estilo Neoclássico, contemplando formas simples e robustas. Ainda hoje é procurado por amantes da Arte. PALAVRAS-CHAVE: INVENÇÕES, INDUSTRIALIZAÇÃO, MANUFACTURA, MOBILIÁRIA, BIEDERMEIER


A EXPANSÃO DA INDÚSTRIA NO ÍNICIO DO SÉC. XIX

O INÍCIO DO SÉCULO XIX ATÉ BIEDERMEIER PALAVRAS-CHAVE: INVENÇÕES, INDUSTRIALIZAÇÃO, MANUFACTURA, MOBILIÁRIO, BIEDERMEIER Após o fim da guerra de 1812 entre a Grã-Bretanha e os Estados Unidos e o congresso de Viena surgiu um novo período de aprazibilidade na Europa. Desta forma, o comércio teve uma grande evolução, sendo que houve um crescimento nos mercados e uma procura maior de produtos manufacturados. Eli Whitney, estudante e e inventor americano, inventou um novo sistema (descaroçador de algodão) para solucionar a limpeza do algodão, que anteriormente era um trabalho manual que demorava diversas horas para ser elaborado. Assim, esta tarefa começou a ser realizada mais depressa, aumentando a produção de algodão nos Estados do Sul. Tendo em conta, a adição do vapor neste mesmo sistema, todo o processo de fiação passou a ser mais fácil de elaborar e levando a uma produção em massa, que reduziu os preços e alargou a área comercial para a classe média. Desta forma, esta invenção foi bastante importante, conduzindo plenitude ao Sul e lucros milionários à produção de algodão. Esta invenção foi um ponto de partida para que posteriormente se desenvolvessem novos processos, tal como a expansão da moda feminina e do pronto-a-vestir.

A indústria da impressão também teve um crescimento sem limites que proporcionou à classe média maior informação através de jornais e revistas ilustradas. É possível analisar que cada processo que vem a seguir na história é porque anteriormente teve alguma base num desenvolvimento anterior existente, exemplo disto é, a impressão, que inicialmente começa no papel, passando ao tecido e levando á execução de papéis de parede. Também cartazes, anúncios impressos e todo o tipo de publicidade resultaram com que na primeira metade do século XIX houvesse uma amplitude imensa no fabrico de novos produtos e processos. Em 1840, Elkington de Birmingham concebeu um novo processo, a galvanização, que posteriormente foi bastante utilizado nas casas da classe média, sendo aplicado em serviços de chá e talheres. Logo de seguida, em 1855, com as primeiras aplicações de alumínio em jóias, surgiu uma inovação na metalurgia que nos anos seguintes foi expandida para a arquitectura. Outros exemplos de expansão incluem o ferro fundido e a madeira arqueada utilizada em cadeiras e bancos.


A EXPANSÃO DA INDÚSTRIA NO ÍNICIO DO SÉC. XIX

Uma das invencões mais significativas na área do mobiliário foi demonstrada através do período Biedermeier (derivante do pseudónimo Gottlieb Biedermeier criado por Ludwig Eichrodt e por Adolf Kußmaul ao publicarem poemas na revista Fliegende Blätter). Este, expressa os valores de conforto e lazer para a classe-média, na Alemanha e Áustria. Este mobiliário normalmente continha muitos ornamentos esculpidos e o embutimento bastante elaborado, que de certa forma estava influenciado pelas formas neoclássicas e românticas. Além do aspeto decorativo das peças, a questão funcional também estava sempre presente e com grande importância. O piano tornou-se um elemento significativo nas representações dos interiores domésticos, sendo que estava presente não só como decoração mas também como entretenimento na classe média. Desta forma, era possível adquirir pianos com variedade extensão de estilos, tamanho, forma e de ornamentos. Por exemplo, “Square” Piano fabricado por Nunns e Clark com características próprias como as pernas fortemente esculpidas associado a uma decoração rica e a formas rubustas, tal como o mobiliário de Luis XIV. “In this era of expanding middle-class consumption, the division and specialization of labor-effectively initiated in the later seventeenth and eighteenth centuries and made more efficient through new tools, processes, and techniques of production- were increasingly employed and adapted to meet and exploit the prevailing taste for variety of ecletic period sytles.” (RAIZMAN, 2003, p.37) O mobiliário de Bierdemeier também apresentava uma sensação de grandeza em termos de escala e

decoração pela possível aplicação em exposição pública, o seu principal objetivo era atrair a atenção do público. Com uma maior adesão a exposições, os designers e artesãos tornaram-se mais competitivos e com vontade de mostrar as suas habilidades. Em suma, é possível analisar que esta época foi propícia a diversos desenvolvimentos em áeras distintas, tanto em invenções como em inovações de ideias ou conceitos. Em termos de produção, a industrualização trouxe aspetos bastante positivos a considerar, no entanto o trabalho artesanal perdeu a sua ênfase, pois o que um trabalhador utilizando o método mais antigo, à mão, produz num dia, uma máquina consegue fazer numa escala muito superior de rapidez e resultado. Assim, produzindo em maior escala e possibilitando preços mais baixos. No entanto, o trabalho artesanal continua a ter destaque como por exemplo na área do mobiliário. Isto, porque a decoração e a exatidão das formas, por vezes é apenas possível com o trabalho manual. O Mobiliário de Bierdemeier é um exemplo disso, ao apresentar referências do estilo Neoclássico, contempla formas simples e robustas. No entanto, não prescinde do conforto e da função, o que é bastante importante. Normalmente, as madeiras eram de cor clara, tal como o pinho, sendo que madeiras caras eram evitadas. Deste modo, o mobiliário deste estilo mostra ser intemporal, porque na atualidade ainda existe muita procura tanto para colecionar, como para decoração de interior. Referências Bibliográficas: RAIZMAN, D. (2003). "History of modern design", Laurence King Publishin, London, 2003, p.34-40.


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Março 2016

A ÉPOCA DA FORÇA

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omo acontece nos nossos dias, uma simples inovação num sector pode levar a novas descobertas noutro qualquer e, consequentemente, a novos usos dessa mesma inovação. Quando criaram a primeira locomotiva a vapor utilizando o carvão como combustível, não pensaram que estariam também a influenciar a imprensa. O conhecido The Times foi então o primeiro jornal a utilizar estas inovações radicais, como o uso do vapor para criar uma impressão automatizada dos seus jornais ou uma mudança, que pode parecer pouco significativa, que foi imprimir num rolo contínuo de papel ao invés da antiga impressão de folhas fraccionadas, melhorando a produção em massa. Neste artigo vamos ter a oportunidade de ver como é que essa influência vai alterar todo o mundo da tipografia. Vamos também falar de um dos autores mais emblemáticos e representativos deste contexto, Vincent Figgins. Verá que Figgins resolveu um problema da altura, muito semelhante á de agora, que é conseguir desviar o olhar do consumidor atordoado com excesso de estímulo, ao criar uma fonte que sobressaía no meio de tanta informação, captando um pouco no muito.

PALAVRAS-CHAVE: TIPOGRAFIA, IMPRENSA, PUBLICIDADE, EGÍPCIAS, VINCENT FIGGINS


A EXPANSÃO DA INDÚSTRIA NO ÍNICIO DO SÉC. XIX

A ÉPOCA DA FORÇA PALAVRAS-CHAVE: TIPOGRAFIA, IMPRENSA, PUBLICIDADE, EGÍPCIAS, VINCENT FIGGINS No início do século dezanove, a imprensa e a publicidade alteraram-se completamente. Outrora estava concentrada num número finito de livros, porém com o vapor e a litografia renovou-se e multiplicou-se a produção (Macmillan, 2006, p. 82), foram ganhos leitores diários de jornais com olhares curiosos para anúncios. Esta competição aguerrida pelo olhar do consumidor levou ao investimento na tipografia, que consequentemente se desenvolvia nos locais comerciais mais activos, nomeadamente o centro de Londres. (RAIZMAN, 2003, p. 40) Esta curiosidade era cativada em cada milímetro das paredes permitidas, como é ilustrado na aguarela de um pintor da altura, Jonh Parry, (RAIZMAN, 2003, p. 41) em que os cartazes se sobrepõem num mar de tipografia, não muito diferente do século XXI. A publicidade e a imprensa acabam por se tornar motores de renovação, utilizando as maiores novidades da época, provindas da revolução industrial. Começando pela indústria do jornal, houveram várias inovações. Os caracteres antes utilizados na impressa, eram de madeira visto serem mais fáceis de cravar, mas também mais danificáveis. Isto não era um problema quando a impressa estava focada na impressão de poucos livros, mas com jornais

diários e semanais, a necessidade era de um processo eficiente, eficaz e com caracteres duradouros. O primeiro jornal a investir na mudança foi o britânico The Times, que começou por utilizar os caracteres metálicos conjugados com uma máquina a vapor, imprimindo horizontalmente. Esta inovação data de 1814 e foi graças ao engenheiro alemão Friedrich Koening, que se junta a Gutenberg na história da impressa alemã. Cedo as máquinas do The Times evoluíram, começando a imprimir frente e verso e com maior rapidez, aumentando o número de jornais em circulação. Outra inovação, que se provou radical, foi o uso de rolos contínuos de papel, uma clara vantagem às mais lentas folhas individuais também adotado em outros locais do mundo, como os Estados Unidos (RAIZMAN, 2003, p. 42). A proliferação de cartazes, quase comparável ao nosso século, deveu-se á invenção da litografia. Este processo consiste na cravagem na pedra de ilustrações, títulos ou outros elementos correspondentes a um cartaz, que é posteriormente tratada com químicos. Estes vão somente agarrar o pigmento e transferir-lho para o papel, criando um modo de reprodução em massa de cartazes,


A EXPANSÃO DA INDÚSTRIA NO ÍNICIO DO SÉC. XIX impossíveis anteriormente com trabalho manual. (RAIZMAN, 2003, p. 42) Assim, tivemos o prazer de ver artistas como Mucha a adornar anúncios de tabaco. Contudo, como referido anteriormente, os cartazes de Mucha teriam vários vizinhos e essa exacerbação de estímulos levará á necessidade de criar fontes chamativas e que se distinguissem na confusão. As fontes que nascem e acabam por ser mais comumente utilizadas são as fontes, ditas, gordas- com linhas principais grossas em contraste com linhas finas. (RAIZMAN, 2003, p. 40). Estas, que ganharam o nome de egípcias, originaram do desenho da fonte Antique conhecida agora como Egiziano e criada em 1817 por Vincent Figgins. Figgins acaba por ser um dos autores mais representativos desta época, não só por ter criado a primeira fonte egípcia, que lhe fez perdurar o seu nome juntamente com a fonte Monotype Ionic muito utilizada nos jornais da época mas também porque fez parte da revolução tipográfica. Figgins foi obrigado a estabelecer-se após a morte do seu mestre Joseph Jackson em 1792, com o qual trabalhou desde os 16 anos. Determinado que a sua carreira não terminaria desta forma, pois não tinha tido a capacidade monetária para se tornar proprietário do negócio do mestre, abriu o seu. Ironicamente, foi só ao trabalhar nos tipos antigos do mestre para a Bíblia de Macklin feita pela prensa de Bensley, que Figgins ganhou reconhecimento suficiente para trabalhar em trabalhos subsequentes. Estes foram maioritariamente fontes romanas, para jornais ingleses e escoceses, mas trabalhos que lhe levaram muita fama na altura, mesmo que a que perdure seja graças as suas outras fontes (MACMILLAN, 2006, p. 82). Contudo, estipulamos que o que o levou a passar de um simples tipográfico da sua época ao tipográfico representativo da revolução industrial foi a sua vontade de sair da sombra do seu mestre e o espirito de renovação intoxicante da época.

Por seu lado, a fonte Engiziano e as outras fontes egípcias, são conhecidas pelo seu impacto causado pela sua horizontalidade e pelo espaço curto entre caracteres evidenciando cada palavra em detrimento da frase. É claro que houveram outras fontes desenvolvidas na época, fontes tridimensionais e fontes profusamente decoradas eram, também, escolhidas no mundo da publicidade. (RAIZAM, 2003, p. 41) Estas últimas, acabam por ser o total oposto das egípcias, pois preferiam a decoração a enaltecer as palavras. Naturalmente eram claramente influenciadas pelo movimento Arts and Crafts, até porque William Morris, um dos autores mais representativos deste movimento, aquando a criação da sua marca, decidiu, também, adornar a sua tipografia com símbolos vegetalistas, profusamente decorados, mesmo que estes roubassem a leitura final. Em suma, Figgins e a sua fonte Antique são espelhos da sua época. O primeiro, porque não desistiu até vingar na área em que aprendeu, acabando por se tornar um dos primeiros designers tipográficos. Claramente evidente por ter arranjado uma solução, a sua fonte, ao problema mais comum da época- como cativar o olhar do consumidor fazendo ressoar cada palavra do produto anunciado. E esta, não só por ter influenciado muitas outras fontes que utilizavam o mesmo princípio e acabavam por ser as mais utilizadas, mas sim porque a sua relação forma-função (fonte compacta = a menos espaço para dizer tudo) e linha estética estoica que remete á linha das máquina, demonstram a relação ainda contemporânea entre a lógica e a criatividade comuns ao Design. Referências Bibliográficas: RAIZMAN, D. (2003). "History of modern design", Laurence King Publishin, London, 2003, p.40-42. MACMILLAN, N. (2006). "An A-Z of Type Designers". Yale University Press, p. 82-83 .


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