Refúgio encerra meus cinco anos de produção da webcomic
O Diário de Virgínia. Neste período aprendi muito sobre mim mesma e fico feliz por ter, de alguma forma, ajudado outras pessoas com minhas reflexões. Incluí nesta edição uma história curta chamada Herança. Ela foi produzida em 2013 para a seleção de material da revista Inverna (que ainda não foi publicada). Creio que ela poderá explicar algumas das imagens que aparecem no decorrer do Refúgio. Obrigada à Alice e Thaís Barra pela ajuda com os deslizes gramaticais. E minha eterna gratidão à todos que acompanharam e torceram por mim, pela Virgínia, Mike, Sabrina e Tobias. Abraços ilustrados!
Goiânia, 2016
_ Esta é uma história sobre despedidas, mas não é uma história triste.*
_ Dar adeus nem sempre é fácil, nós sabemos.
_ Mas às vezes é a única forma de coisas novas aparecerem.
* Textos traduzidos do borboletês
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_ Pois bem, a história começa assim... _ Era uma vez uma casinha. E uma menina pequena e assustada que morava nela.
_ Por se sentir sozinha, ela decidiu, numa tarde melancólica construir um abrigo, um refúgio.
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_ E este lugar (que era lá no quintal e também dentro dela) ficou tão bom, mas tão bom ...
... que lá decidiu ficar para sempre.
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_ Pois, mesmo sendo uma belezinha, o abrigo foi aos poucos engaiolando a menina.
_ Só que esse “para sempre” durou até um certo tempo.
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a olet b r bo . ma vidro u e omo copo d c Tal num
_Aqui está o dilema, pois era muito bom viver lá.
_ Tudo era colorido, não importando quão cinza estivesse aqui fora.
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_ E a imaginação da menina era amável e cheirava a bolo com café e colo de vó.
_Mas enfim o tempo passou ...
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rcebeu que ... e um dia pe (ou seja, tudo em volta nha crescido. ti ) la e d o tr n e d
_ E que ainda estava ali mais por hábito do que por necessidade.
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_ Só havia vestígios da presença daquela criança pela casa, ela já tinha virado outra coisa.
_ Ela jรก era uma mullher.
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_ A mulher comeรงou a sentir culpa por ter estado ali durante tanto tempo.
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u uma i d i c e ĂŁo d om _ Ent vez falar c Ăşltima menina. a
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ue r q m ... e z i e is d aria b u _ Q o fic tud
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... mas uma menina de lembranças e papel não tem ouvidos.
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_ E tudo o que pode fazer foi relembrar, com seu coração amadurecido de mulher.
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_ Daqueles dois mundos que ela tentava conciliar: o de fora e o dentro.
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_ E de uma dor, que ela quase sempre sentia.
_ Pois veja bem, a menina era assustada e medrosa porque tinha fome ...
... tambĂŠm de afeto.
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_ E, com seu coraçãozinho de criança, não percebia que aquela dor não era só dela.
_ Aquela era uma casinha de gente faminta e assustada.
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_ Pois é assim que os humanos nascem. Limitados. Pequenos. Amedontrados.
_ E é lidando com sua pequenez que eles vão crescendo.
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_ Tentando ajudar aqui e acolá, e só até onde pode.
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_ EntĂŁo a mulher fez as pazes consigo mesma.
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_ E se sentiu menos triste pelo passado ...
... mais preparada para a despedida. 21
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_ E assim se foi...
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... sem mรกgoas...
... livre.
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...grata.
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CÁTIA ANA, neste momento, está vivendo sua terceira década de
vida. É Programadora Visual na Universidade Federal de Goiás e quadrinhista por vocação.
Publicou de 2010 a 2015 a webcomic O Diário de Virgínia, onde começou a explorar as possibilidades narrativas dos quadrinhos na internet. O Diário foi indicado duas vezes ao troféu Hqmix na categoria webquadrinhos, em 2011 e 2015. Em 2014, independentemente, lançou impresso o pequeno álbum When a man loves a woman e em 2015 um capítulo de sua webcomic foi lançada pela editora Marca de Fantasia. Participou, juntamente com outros quadrinhistas do Centro-oeste, das revistas QICO e Pequi com quadrinhos, esta última a primeira publicação do coletivo de quadrinhos de mesmo nome. Em 2015 participou da coletânea SPAM, lançada pela Zarabatana Books e que reúne histórias de várias autoras nacionais sobre um mesmo tema. Contato: santanarev@gmail.com www.odiariodevirginia.com www.quadrinhosinfinitos.com
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