Móbile #21 | Desafios na Pandemia

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Maio l Junho l Julho 2020

ISSN 2448-3885

Revista do CAU/SP

Especial

As iniciativas inovadoras do CAU/SP durante a pandemia

Arquitetura no Mundo

Os diferentes estilos dos prédios de ensino superior de AU

Desafios na Pandemia As contribuições da Arquitetura e Urbanismo no enfrentamento à Covid-19


LÁPIS

na ponta do

Acervo CAU/SP

Paulo Bruna

Projeto paisagístico para a SABESP. O croqui se refere ao jardim frontal de um novo edifício de laboratórios de controle de qualidade da água e esgoto no estado de São Paulo, que o arquiteto e urbanista Paulo Bruna imagina acabar numa pequena praça, com um caramanchão e bancos para descanso. Serão plantadas primaveras (bouganvillea glabra), que dão sombra e flores belíssimas.


Editorial CCOM

Índice

Arquitetura e Urbanismo em tempos de Covid 30 I Capa

Arquitetura e Urbanismo contra os impactos provocados pelo novo coronavírus

22 I Bate-papo

Cid Torquato e os trabalhos da Secretaria da Pessoa com Deficiência da cidade de São Paulo

54 I Arquitetura no Mundo

A combinação de tradição e modernidade das Universidades de Arquitetura e Urbanismo

18 I Em Debate

Os hospitais na pandemia sob o olhar de um arquiteto e de um médcio da linha de frente

38 I Concurso

Um brasileiro entre os finalistas do internacional "Coronavirus Design Competition"

50 I Especial

As ações do CAU/SP de apoio e orientação aos profissionais durante a pandemia

e mais: 06 12 14 60 62 64 66

I I I I I I I

CAU/SP em Ação Regionais Arquitetura Paulista Olhar do Arquiteto Ouvidoria Fique Atento Ponto de Vista

A

matéria de capa que a Comissão de Comunicação do CAU/SP escolheu para este trimestre não poderia ter outro assunto: Pandemia. Mais do que falar sobre esse problema mundial que assolou todos os países com muitas mortes, a intenção é mostrar como os arquitetos e urbanistas estão contribuindo neste período de isolamento social e como poderão contribuir no pós-pandemia, para minimizar os efeitos avassaladores da Covid-19. Na Ponta do Lápis, sessão que me identifico muito, trazemos um “croqui” do Professor Paulo Bruna, um detalhe do projeto de paisagismo do jardim frontal para a SABESP. Em Arquitetura Paulista viajamos até a cidade de Campinas para trazer a vocês a fachada neoclássica da Vera Cruz Casa de Saúde. Em 1881, um grupo de italianos visionários fundou uma escola e casa de caridade. O projeto é do arquiteto Ramos de Azevedo e do engenheiro Samuel Malfatti (pai de Anita Malfatti). A história deste hospital escola está ligada a diversas pandemias, ocorridas entre 1889 e 1904. A sessão Em Debate traz a visão de dois lados de atuação dentro da pandemia: a do arquiteto Esio Glasy sobre a Arquitetura de hospitais pós-pandemia, e a visão do médico do Hospital de Campanha Ibirapuera, Dr. José Davantel. Vale conferir! Estendemos nossas congratulações ao arquiteto brasileiro Leonardo Dias, que foi um dos finalistas no concurso Internacional “Coronavirus Design Competition”, promovido pela plataforma Go Architect, para projeto de equipamentos urbanos de prevenção. O CAU/SP desenvolveu iniciativas inovadoras através da Comissão Temporária de Ações Emergenciais para o enfrentamento da crise, promovendo boas práticas profissionais e lançando um Edital que irá beneficiar os arquitetos, abrindo novas frentes de trabalho. Na sessão Arquitetura no Mundo trazemos um histórico do início das Universidades e “colleges” na Europa, iniciado pela Oxford, até a formação dos Campus Universitários das Universidades Harvard University, Yale University, Columbia, entre outras. O modernismo deixou seus traços pelas mãos de Walter Gropius na Harvard Graduate Center, e Mies van der Rohe no Campus do Instituto Illinois. Vale a leitura! Por fim, na sessão Ponto de Vista temos o depoimento do arquiteto Felipe Torelli, que passou pela dura experiência de diagnóstico positivo de Covid-19 e sobreviveu ao vírus! Boa leitura!

Nancy Laranjeira Tavares de Camargo Coordenadora da CCom. Comissão Especial de Comunicação do CAU/SP * revista@causp.gov.br Nancy Laranjeira Tavares de Camargo Coordenadora Maria Alice Gaiotto Coordenadora Adjunta

Claudio Zardo Búrigo Marcia Helena Souza da Silva Martin Corullon

As ideias ou opiniões expostas nos artigos ou textos dos colaboradores são de responsabilidade dos próprios autores, não refletindo, Maio l Junho l Julho 2020 necessariamente, a opinião ou posicionamento do CAU/SP.

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Expediente

Conselho Diretor José Roberto Geraldine Junior Presidente Valdir Bergamini Vice-presidente José Antonio Lanchoti (Coordenador) Comissão de Ensino e Formação (CEF – CAU/SP) Anita Affonso Ferreira (Coordenadora) Comissão de Ética e Disciplina (CED – CAU/SP) Alex Marques Rosa (Coordenador) Comissão de Exercício Profissional (CEP – CAU/SP) CONSELHEIRAS FEDERAIS Nadia Somekh Titular

Helena Aparecida Ayoub Silva Suplente

Conselheiros Estaduais - Titulares Adriana Blay Levisky Guilherme Carpintero de Carvalho Alan Silva Cury José Antonio Lanchoti Alex Marques Rosa Jose Marques Carrico André Luis Queiroz Blanco José Roberto Geraldine Junior Angela de Arruda Camargo Amaral Luiz Antonio Cortez Ferreira Angela Golin Luiz Antonio de Paula Nunes Anita Affonso Ferreira Marcelo Martins Barrachi Carlos Alberto Palladini Filho Marcia Helena Souza da Silva Carlos Alberto Silveira Pupo Marco Antonio Teixeira da Silva Cassia Regina Carvalho de Magaldi Marcos Cartum Catherine Otondo Maria Alice Gaiotto Claudio de Campos Maria Fernanda Avila de Sousa Claudio Zardo Búrigo da Silveira Delcimar Marques Teodoro Maria Rita Silveira de Paula Amoroso Denise Antonucci Mario Wilson Pedreira Reali Dilene Zaparoli Marta Maria Lagreca de Sales Edson Jorge Elito Martin Gonzalo Corullon Fernanda Menegari Querido Mauro Claro Fernando de Mello Franco Mel Gatti de Godoy Pereira Flavio Marcondes

Miguel Antonio Buzzar Miriam Roux Azevedo Addor Nabil Georges Bonduki Nancy Laranjeira Tavares de Camargo Nelson Gonçalves de Lima Junior Paulo Marcio Filomeno Mantovani Poliana Risso Silva Ueda Rafael Paulo Ambrosio Rossella Rossetto Ruy dos Santos Pinto Junior Salua Kairuz Manoel Silvana Serafino Cambiaghi Tercia Almeida de Oliveira Valdir Bergamini Vanessa Gayego Bello Figueiredo Vera Santana Luz Vinicius Hernandes de Andrade Violeta Saldanha Kubrusly

Conselheiros Estaduais - Suplentes Adalberto da Silva Retto Junior Fabiano Puglia Moreno Marin Ailton Pessoa de Siqueira Fabio de Almeida Muzetti Ana Cristina Gieron Fonseca Fábio Mariz Gonçalves Ana Lucia Ceravolo Flavia Regina de Lacerda Abreu André Gonçalves dos Ramos Gianfranco Vannucchi Andre Luis Avezum Jeane Aparecida Rombi de Godoy Rosin Andressa Rodriguez Hernandez Katia Piclum Versosa Breno Berezovsky Laura Lucia Vieira Ceneviva Carlos Antonio Spinhardi Leda Maria Lamanna Ferraz Rosa Van Carolina Margarido Moreira Bodegraven Cícero Pedro Petrica Leila Regina Diegoli Consuelo Aparecida Gonçalves Gallego Liana Paula Perez de Oliveira Daniela da Camara Sutti Lizete Maria Rubano Daniela Perez Nader Andréo Lua Nitsche Danusa Teodoro Sampaio Luiz Eduardo Siena Medeiros Eduardo Trani Marcelo Consiglio Barbosa Eleusina Lavor Holanda de Freitas Marise Cespedes Tavolaro Enio Moro Junior Mauro Ferreira Eurico Pizao Neto Milton Liebentritt de Almeida Braga

Natália Costa Martins Patricia Robalo Groke Paulo de Falco Epifani Paulo Machado Lisbôa Filho Raquel Rolnik Raquel Vieira Feitoza Renata Alves Sunega Renato Matti Malki Ricardo Aguillar da Silva Roberto Claudio dos Santos Aflalo Filho Roberto Loeb Sami Bussab Sarah Feldman Sergio Baldi Sergio de Paula Leite Sampaio Silvana Dudonis Vitorelo Iizuka Sofia Puppin Rontani Weber Sutti

EXPEDIENTE CCOM Conselho e coordenação editorial Daniele Moraes Coordenadora de Comunicação Epaminondas Neto Técnico de Comunicação

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Carlos Alberto Silveira Pupo (Coordenador) Comissão de Fiscalização (CF – CAU/SP) Tercia Almeida de Oliveira (Coordenadora) Comissão de Organização e Administração (COA – CAU/SP) Marco Antonio Teixeira da Silva (Coordenador) Comissão de Planejamento e Finanças (CPFi – CAU/SP)

Editado por Ex Libris Comunicação Integrada Jornalista: Jayme Brener (Mtb 19.289) Editor: Silvia Lakatos Textos: Marco Paulo Ferreira, Silvia Lakatos, Cláudio Camargo, Daniele Moraes, Epaminondas Neto e Catarine Figueiredo. Projeto gráfico e diagramação: Regina G. Beer Impressão: Coan Industria Grafica Ltda. Tiragem: 58,5 mil exemplares revista@causp.gov.br

Comissões Ordinárias Comissão de Ensino e Formação do CAU/SP José Antonio Lanchoti (Coordenador), Flavio Marcondes (Coordenador Adjunto), Carolina Margarido Moreira (suplente), Sérgio de Paula Leite Sampaio (suplente), Nelson Gonçalves de Lima Junior, Delcimar Marques Teodozio, José Marques Carriço, Miguel Buzzar, Vera Santana Luz, Vinicius Hernandes de Andrade (licenciado), Fernando de Melo Franco (licenciado), Vanessa Gayego Bello Figueiredo Comissão de Ética e Disciplina do CAU/SP Anita Affonso Ferreira (Coordenadora), Marcos Cartum (Coordenador Adjunto), Luiz Antonio de Paula Nunes, Denise Antonucci, Cassia Regina Magaldi, Marcia Helena Souza da Silva, Claudio Zardo Búrigo, Poliana Risso Silva Ueda, Rafael Paulo Ambrosio Comissão de Exercício Profissional do CAU/SP Alex Marques Rosa (Coordenador), Dilene Zaparoli (Coordenadora Adjunta), Alan Silva Cury, Luiz Antonio Cortez Ferreira, Claudio de Campos, Maria Fernanda Avila de Sousa da Silveira, Catherine Otondo, Martin Gonzalo Corullon, Carlos Alberto Palladini Filho Comissão de Fiscalização do CAU/SP Carlos Alberto Silveira Pupo (Coordenador), Paulo Marcio Filomeno Mantovani (Coordenador Adjunto), Marcelo Martins Barrachi, Silvana Serafino Cambiaghi, Mel Gatti de Godoy Pereira, Angela Golin, Guilherme Carpintero, Salua Kairuz Manoel Comissão de Organização e Administração do CAU/SP Tercia Almeida de Oliveira (Coordenadora), Adriana Blay Levisky (Coordenadora Adjunta), Ana Cristina Gieron Fonseca (suplente), André Luis Queiroz Blanco, Ruy dos Santos Pinto Junior (licenciado), Violêta Saldanha Kubrusly, Marta Maria Lagreca de Sales, Nabil Georges Bonduki, Rossella Rossetto, Valdir Bergamini Comissão de Planejamento e Finanças do CAU/SP Marco Antonio Teixeira da Silva (Coordenador), Miriam Roux Azevedo Addor (Coordenadora Adjunta), Edson Jorge Elito, Nancy Laranjeira Tavares de Camargo, Maria Rita Silveira de Paula Amoroso, Maria Alice Gaiotto, Angela de Arruda Camargo Amaral, Fernanda Menegari Querido, Mario Wilson Pedreira Reali Comissões Especiais Comissão de Desenvolvimento Profissional do CAU/SP André Luis Queiroz Blanco (Coordenador), Fernanda Menegari Querido (Coordenadora adjunta), Maria Fernanda Avila de Sousa da Silveira, Luiz Antonio de Paula Nunes, Claudio de Campos Comissão de Política Urbana, Ambiental e Territorial do CAU/SP Nabil Georges Bonduki (Coordenador), Adriana Blay Levisky (Coordenadora adjunta), Paulo Marcio Filomeno Mantovani, Miguel Antonio Buzzar, Marta Maria Lagreca de Sales Comissão de Comunicação do CAU/SP Nancy Laranjeira Tavares de Camargo (Coordenadora), Maria Alice Gaiotto (Coordenadora adjunta), Claudio Zardo Búrigo, Marcia Helena Souza da Silva, Martin Gonzalo Corullon Comissão de Relações Institucionais do CAU/SP Marcelo Martins Barrachi (Coordenador), Edson Jorge Elito (Coordenador adjunto), Ruy dos Santos Pinto Junior, Poliana Risso Silva Ueda, Nelson Goncalves de Lima Junior Comissão de Patrimônio Cultural do CAU/SP Maria Rita Silveira de Paula Amoroso (Coordenador), Vanessa Gayego Bello Figueiredo (Coordenadora adjunta), Ana Cristina Gieron Fonseca (suplente), Cassia Regina Carvalho de Magaldi, Carlos Alberto Palladini Filho, Dilene Zaparoli


Palavra do presidente

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que torna nossa caminhada possível? Não há de ser a ausência de desafios, mas, sim, a possibilidade de fazer boas escolhas diante deles. Inspirados nisso, temos trabalhado diuturnamente para que o CAU/SP possa contribuir, dentro de suas atribuições, da melhor e mais eficiente forma para o enfrentamento das perdas – físicas e materiais – advindas da pandemia do novo coronavírus. Infelizmente, não é possível recuperar grande parte dessa tragédia – em especial no que tange às vidas humanas –, mas certamente temos um papel a cumprir para que evitemos que outras aconteçam. Nesse sentido, sabemos do potencial colaborativo e do caráter social e humanitário da Arquitetura e Urbanismo para as cidades e a suas populações. Ações e projetos voltados à Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social são, por exemplo, um campo rico para o desenvolvimento de iniciativas que podem e devem impactar positivamente na qualidade de vida de todos e todas. Acessibilidade é outra área de fundamental importância, que também pertence ao nosso campo de atuação profissional. Assim como o planejamento urbano, a mobilidade e a preservação do patrimônio histórico e cultural. Capacitações em diversas áreas, promovidas por todo o Estado de São Paulo, além de um Edital de Fomento no valor total de mais de R$ 6 milhões, são parte das boas escolhas feitas pelo CAU/SP em 2020 – a fim de cumprir sua missão institucional de orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício profissional, zelar pela fiel observância dos princípios de ética e disciplina da classe e pugnar pelo aperfeiçoamento da Arquitetura e Urbanismo. Seguimos trabalhando, como aqui registrado nas páginas da nossa Revista Móbile #21, certos de que temos promovido ações de relevância e compromisso social, juntamente com os arquitetos e urbanistas paulistas. Boa leitura!

Daia oliver

Nossas boas escolhas

José Roberto Geraldine Junior Presidente

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CAU/SP em ação

Série de vídeos destaca o trabalho de arquitetos para acessibilidade

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Acervo CAU/SP

CAU/SP lançou em maio uma série de vídeos educativos para mostrar a importância da acessibilidade e como o trabalho dos arquitetos e urbanistas é fundamental para o bem estar e a inclusão de todos. Os vídeos demonstram, através de exemplos, como a "mão de um arquiteto" pode ser essencial para garantir a acessibilidade em ambientes diferentes. Os materiais foram desenvolvidos a pedido e com orientações da Comissão Temporária de Acessibilidade do CAU/SP e estão disponíveis no canal da autarquia no YouTube (https://www.youtube.com/ user/comunicacaocausp).

RRT mínimo simplifica procedimentos e reduz custos

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riado pela Resolução nº 177/2019, o RRT mínimo surge para simplificar a vida dos profissionais. Também promove uma redução de custos – de até três vezes o valor a ser recolhido –, possibilitando o pagamento da taxa de apenas um (01) RRT, dentro das normas estabelecidas no RRT mínimo.

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Para serviços que envolvam intervenções até 70 m2, seja para uso residencial ou comercial, será possível a emissão de um único RRT, contendo atividades técnicas dos grupos de projeto, execução e atividades especiais, conjuntamente.


Novas regras para a emissão do RRT Extemporâneo sem multa

D Acervo CAU/SP

esde o dia 30/04, vale o dispositivo da Resolução Nº 184 do CAU/BR, que alterou regras e prazos para emissão de RRT, com destaque para as mudanças nas

taxas devidas para emissão de RRT Extemporâneo. Pela nova resolução, estão isentos de pagamento de multa os RRTs Extemporâneos desde que solicitados pelo profissional de forma espontânea. Para os RRTs solicitados após autuação da fiscalização do CAU, ainda vale a multa de 300% sobre o valor do RRT, além das demais taxas.

CAU/SP discute ações emergenciais frente à crise do coronavírus

ST.art/Shutterstock

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o final de abril, o Conselho realizou sua primeira reunião plenária ordinária por teleconferência, respeitando o decreto de distanciamento social para contenção da pandemia. Nesta reunião, foram deliberadas ações emergenciais de cunho administrativo. Também foi criada a Comissão Temporária para Ações Emergenciais de enfrentamento à Covid-19, composta por 14 conselheiros.

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CAU/SP em ação

Eleições CAU 2020 acontecem em outubro

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o dia 15 de outubro de 2020, acontecem as eleições do CAU. Realizado exclusivamente pela internet, por meio de usuário e senha do SICCAU, o processo definirá os conselheiros e conselheiras titulares e suplentes que vão compor os plenários do CAU/BR e dos 27 CAU/UF, durante o mandato que começa em 2021 e vai até 2023. As informações completas sobre o pleito estão disponíveis no site institucional do Conselho e no Portal da Transparência. É possível acessar o Edital de Convocação que contém todas as regras das Eleições, entre outros documentos e o calendário eleitoral. O voto é obrigatório para todos os arquitetos e urbanistas listados no Colégio Eleitoral Qualificado. A lista também está disponível para consulta pela internet.

Plenário aprova Relatório de Gestão e Prestação de Contas de 2019

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provado por unanimidade na reunião plenária extraordinária do dia 11/06, o relatório traz detalhes da execução orçamentária, com as despesas ligadas aos trabalhos realizados pelos conselheiros e funcionários para atingir os objetivos estratégicos estabelecidos no início do ano e está à disposição no Portal da Transparência do CAU/SP.

Recomendações para os cursos de Arquitetura e Urbanismo

Aleksandar Karanov/Shutterstock

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Comissão de Ensino e Formação do CAU/SP lançou em junho uma manifestação dirigida às Instituições de Ensino Superior do Estado. Considerando que as aulas presenciais estão suspensas devido à adoção de medidas para conter o contágio do novo coronavírus, a Comissão apresenta sugestões para garantir a formação adequada dos futuros profissionais. Confira a íntegra deste manifesto no site do CAU/SP (https://bit.ly/3iD0MR8).


Anuidades em atraso podem ser parceladas em até 25 vezes

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Atstock Productions/Shutterstock

O Plenário do CAU/BR estendeu o prazo para arquitetos e urbanistas refinanciarem anuidades em débito dos exercícios anteriores. Pelo REFIS do CAU, os profissionais e empresas com duas ou mais anuidades em débito são contemplados com condições especiais: isenção da multa de mora de 20%, além de poderem negociar os débitos em mais parcelas. Para aderir ao REFIS e regularizar a sua atividade profissional, basta acessar o ambiente profissional no SICCAU com CPF e senha, e localizar a opção “Refinanciar Parcelas” em sua página principal. O prazo para fazer a negociação no SICCAU se encerra no dia 31 de dezembro.

Cursos de capacitação devem ocorrer em formato híbrido

Shutterstock

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s cursos gratuitos de capacitação profissional, originalmente programados para o primeiro semestre e postergados devido à pandemia, serão realizados em formato híbrido. Parte da carga horária será ministrada virtualmente e, num segundo momento, quando houver a autorização dos órgãos competentes, aulas presenciais. As capacitações, oferecidas por meio das parcerias concretizadas entre o CAU/SP e as organizações da sociedade civil (OSC) – selecionadas nos Editais de Chamamento Público Nº 003 e Nº 005/2019 –, abordam questões sobre acessibilidade, BIM e normas técnicas, entre outras. Mais informações no site do CAU/SP.

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CAU/SP em ação

Concurso vai selecionar projeto de Arquitetura de interiores para adequação da sede do CAU/SP

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ch123/Shutterstock

ma Comissão Temporária, criada pelo plenário do Conselho, em 30/07, é a responsável pela elaboração de minuta de edital que selecionará projeto arquitetônico de interiores e modernização da sede própria da autarquia. O edifício, adquirido em dezembro de 2019, receberá o mobiliário com um layout temporário, desenvolvido por um Grupo de Trabalho formado por funcionários arquitetos, de forma a reduzir os custos com locação. E, futuramente, o espaço será reformado e modernizado, de acordo com o projeto selecionado pelo concurso público. Acompanhe pelo site do CAU/SP

Conselho envia carteiras de identidade profissional pelos Correios ais de 360 carteiras foram postadas

Acervo CAU/SP

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no final de junho. Os documentos de profissionais - que concluíram o processo de solicitação até o dia 18/03 - foram produzidos neste período de quarentena pela empresa responsável para impressão, porém estavam com a postagem suspensa por medida de segurança. Em breve, o Conselho vai divulgar os meios para agendamento da coleta biométrica, necessária para a produção da Identidade Profissional. Os arquitetos e urbanistas que necessitarem de atendimento ou tiverem dúvidas podem entrar em contato com o CAU/SP por telefone, e-mail ou chat.


Acervo CAU/SP

Acervo CAU/SP

Unidades móveis farão coleta biométrica de dados em domicílio

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ois veículos – vans – adaptados para atendimento itinerante e coleta biométrica de dados em domicílio, adquiridos recentemente pelo CAU/SP, foram entregues ao Conselho em julho. A aquisição dos veículos possibilitará a circulação de equipes do CAU/SP nas cidades do interior do Estado em que a autarquia não possui escritórios descentralizados, estreitando a relação do Conselho com os profissionais das diversas cidades de São Paulo.

“Além disso, os veículos vão possibilitar o atendimento itinerante e a coleta biométrica de dados em domicílio, o que será fundamental para a segurança e a saúde da população nesse momento em que enfrentamos a pandemia do novo coronavírus, evitando deslocamentos desnecessários e reduzindo o risco de contágio”, informou o Presidente do CAU/SP, José Roberto Geraldine Junior.

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Regionais

I BAURU

I PRESIDENTE PRUDENTE

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esse período de restrições e teletrabalho decorrentes da pandemia, o Escritório Descentralizado de Bauru realizou 532 atendimentos até o final de junho. De acordo com o Coordenador Regional Wagner Domingues, que acompanha o trabalho junto com os profissionais da cidade, todas as discussões sobre a revisão do Plano Diretor de Bauru foram suspensas. No entanto, houve aumentou pela busca dos pedidos de coleta de dados biométricos.

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I CAMPINAS

I RIBEIRÃO PRETO

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E

Coordenador Regional do Escritório Descentralizado de Campinas, Victor Chinaglia, participou de atividades virtuais com a Faculdade de Jaguariúna para informações com alunos e professores que foi aberta publico em geral no dia 22/06, bem como de debates e reuniões virtuais priorizando temas sobre o papel da arquitetura e urbanismo nesse período com profissionais, órgãos públicos, entidades profissionais e da sociedade civil organizada. O atendimento de Campinas registrou cerca de 50 pessoas mensais no período de abril e maio. Após a prorrogação do isolamento, a média aumentou para 200.

escritório descentralizado de Presidente Prudente teve uma queda no número de atendimentos, contabilizando uma diminuição de 70% no atendimento telefônico no primeiro mês de pandemia, e nos meses seguintes estabilizou em 50%. No entanto, o Coordenador Regional Eduardo Franke observou o aumento nos atendimentos via e-mail e WhatsApp, onde foi criado um grupo dos profissionais da região para dar mais agilidade na troca de informações.

m Ribeirão Preto, o atendimento por telefone e WhatsApp triplicou nesse período de teletrabalho. O sistema SICCAU e o processo de aprovação on-line implantado recentemente na prefeitura de Ribeirão Preto foram fundamentais para garantir o apoio às atividades permanentes dos profissionais. Os municípios da região que ainda estão sem as plataformas digitais adaptaram o atendimento através do agendamento prévio com hora marcada. O Coordenador Regional, Éder Silva, manteve contato com os técnicos dessas várias prefeituras, auxiliando nessas reestruturações, tendo em vista a continuidade do trabalho dos arquitetos e urbanistas.

I MOGI DAS CRUZES

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Escritório Descentralizado de Mogi das Cruzes registrou 590 atendimentos entre e-mails, telefonemas e WhatsApp, nestes pouco mais de 100 dias. A Coordenadora Regional Jane Marta da Silva participou de lives em conjunto com a AEAMC - Associação de Engenheiros e Arquitetos de Mogi das Cruzes, com um papo tecnológico nos temas “O futuro da Arquitetura e Engenharia Pós confinamento”, “Bim” e “A responsabilidade técnica do Arquiteto e do Engenheiro”, buscando discutir e levar informação sobre os temas.

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I SANTOS

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região de Santos foi uma das mais afetadas do estado desde o início da pandemia. Diversas prefeituras litorâneas tomaram medidas buscando controlar o impacto e expansão da pandemia, já que durante todo período a região teve muitos turistas, com uma alta rotatividade de pessoas de diferentes lugares em um curto período de tempo. Esta situação provocou forte redução nas solicitações de atendimento do CAU/SP. A maior procura foi para a coleta de dados biométricos, para a confecção da carteirinha do CAU, especialmente de profissionais recém-formados.

I SANTO ANDRÉ (ABC)

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m Santo André, devido às adaptações de teletrabalho, a prioridade foi manter o atendimento aos arquitetos e urbanistas através do WhatsApp. Mesmo com as atividades presenciais suspensas, registrou-se a procura de cursos de capacitação por parte dos profissionais e coleta de dados biométricos para confecção da carteira de identidade profissional. O Coordenador Regional Felipe Oliveira também participou de atividades institucionais através de reuniões virtuais do Conselho Municipal de Meio Ambiente, em Ribeirão Pires, e nas discussões sobre o Plano de Mobilidade Urbana, em Santo André.

I SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

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Escritório Descentralizado de São José do Rio Preto registrou 370 atendimentos até o final do mês de junho. As maiores demandas de atendimento nesse período foram de Informações sobre preenchimento de RRT, anuidades e coleta de dados biométricos. O coordenador regional Kedson Barbero observou um aumento nos números de abertura e atualização de PJ. Pouco antes do decreto de pandemia no estado, o escritório também ofereceu cursos de capacitação na área de Acessibilidade e Normatização.

I SOROCABA

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Escritório Descentralizado de Sorocaba, por meio do Coordenador Regional Eduardo Gatti, entrou em contato com prefeituras da região para mitigar os efeitos de medidas que impactaram diretamente a vida do profissional de Arquitetura e Urbanismo. Uma das conquistas foi a adoção do sistema on-line de aprovação de projeto. Assim, os profissionais puderam retomar suas atividades. Eles conseguiram entrar com seus projetos na prefeitura e atender às exigências para dar andamento nos processos.

I SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

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Escritório Descentralizado de São José dos Campos acompanhou os órgãos licenciadores, como as prefeituras, que se adaptaram para esta situação emergencial, mas dando continuidade às atividades, incluindo as que implicam com o exercício profissional do arquiteto e urbanista. De acordo com o Coordenador Regional, Paulo André Cunha Ribeiro, as soluções por meio de sistema eletrônico para aprovação de projetos, como o PrefBook, da Prefeitura de São José dos Campos, e o sistema de teletrabalho adotado pelo CAU para os atendimentos técnicos-administrativos e para denúncias, permitiram o andamento das atividades sem interrupção.

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CURTAS DO CEAU

fizkes/Shutterstock

I ABAP

4°Prêmio Rosa Kliass

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ABAP lançou o “4° Prêmio Rosa Kliass - Concurso Universitário de Arquitetura da Paisagem”, dirigido a formandos que tenham desenvolvido seu trabalho final de graduação no ano letivo de 2019 em cursos brasileiros de Arquitetura e Urbanismo. O objetivo é reunir trabalhos de Arquitetura da paisagem produzidos, de modo a investigar iniciativas de projeto que relacionem a produção do homem junto à paisagem. Em sua 4ª edição, a premiação se consolida como um importante meio de reconhecimento e divulgação não apenas do campo disciplinar, mas da crescente visibilidade e importância dessa atribuição profissional para a sociedade brasileira. Mais informações no site https://premiorosakliass.abap.org.br/.

I ABEA

Manifesto pela educação

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or ser a entidade nacional que trata especificamente da formação dos futuros arquitetos e urbanistas do Brasil, a ABEA divulgou, em março, um manifesto público sobre a transição abrupta do ensino presencial para as aulas remotas em instituições de ensino superior particulares e a interrupção do período letivo nas universidades públicas. Iniciou uma série de debates sobre aspectos pedagógicos, trabalhistas, de gestão e relacionamento dessa mudança. No fim do semestre, professores têm recebido notícias de demissão ou suspensão temporária de contratos.

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I IABsp

Aprimoramento profissional

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IABsp reativa sua plataforma de ensino! Procuramos garantir um modelo comprometido com a produção de uma cultura arquitetônica e urbanística crítica e relevante, capaz de dialogar com áreas afins, e de estimular pesquisas e frentes de debate sobre o ensino de forma ampla. Além disso, queremos contribuir para o aprimoramento profissional, considerando os impactos no mundo do trabalho pós pandemia e a contínua reciclagem de arquitetos e urbanistas. De forma a contemplar as diversas expressões de nosso fazer, estruturamos os cursos a partir de cinco categorias: 1. Arte, produção gráfica e representação; 2. Políticas públicas e cidade; 3. História, teoria e crítica da arquitetura; 4. Construção e tecnologia; 5. Projeto e prática profissional. Confira os cursos remotos disponíveis em nosso site!


I SASP

Eleições municipais e a profissão do arquiteto e urbanista

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stamos vivenciando há tempos um período de descrédito de nossas instituições, e, somando-se a isso, no início deste ano fomos todos surpreendidos pela pandemia do novo coronavírus, que já carrega cerca de 100 mil mortes no país. De acordo com as orientações para evitar a propagação do vírus, alguns profissionais puderam desenvolver seus trabalhos remotamente em suas casas, outros não tiveram a chance de se recolher, encarando as ruas. Ainda nesse tempo, tivemos colegas que perderam seus empregos ou passaram por redução de salário. Os que já se encontravam desempregados, se esbarraram em uma situação muito difícil para se projetar no mercado. São muitas as angústias enfrentadas em cada uma dessas situações, somadas a fraturas

sociais e desigualdades agora escancaradas, e notícias pouco animadoras em relação às políticas públicas. Visto que as eleições municipais se aproximam, acreditamos que este é um momento singular para refletir sobre nossas instituições com olhos renovados. Dentro desse escopo, o SASP – Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo – inicialmente pensou em elaborar uma carta aos futuros prefeitos da região. Para isso, entendemos como fundamental ouvir você, arquiteto e arquiteta. Como você tem passado na crise pandêmica? O que espera de um futuro prefeito em sua cidade? Elaboramos este questionário para construirmos juntos esses cenários; e quiçá, alternativas. Contamos com a sua participação.

I AsBEA

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AsBEA-SP realizou no último trimestre quatro eventos com transmissões online e ao vivo - Webinars interativos nomeados como Day by Day e com temas ligados à gestão de escritórios de Arquitetura e Urbanismo, sendo eles: Estruturação jurídica (07 de maio), Era da comunicação 360 (04 de junho), Branding (01 de julho) e Liderança (06 de agosto). Além disso, foram realizadas diversas lives com associados AsBEA-SP e empresas sócio-colaboradoras pelo Instagram. Todos os eventos estão disponíveis no canal AsBEA-SP no Youtube.

Acervo CAU/SP

Eventos online

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gurezende/Shutterstock

Arquitetura Paulista

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Com sotaque italiano

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fachada neoclássica da Vera Cruz Casa de Saúde – nome oficial da Casa de Saúde de Campinas – é um dos marcos arquitetônicos da cidade paulista. Sua história remonta ao ano de 1881, quando um grupo de imigrantes italianos decidiu fundar uma escola e uma casa de caridade voltada a seus conterrâneos. Nascia assim o Circolo Italiani Uniti, construído em uma área cedida pela Prefeitura, na antiga Praça Riachuelo (atual Praça Dr. Toffoli). Com projeto do engenheiro Samuele Malfatti, pai da pintora Anita Malfatti, e do arquiteto Ramos de Azevedo, a sede oficial do Circolo Italiani Uniti logo foi ressignificada como espaço de atendimento à saúde da população. Duas epidemias consecutivas de febre amarela – uma em 1889 e outra 1896 – impeliram a comunidade a transformar aquele espaço em hospital. Em 1904, a cidade de Campinas viu-se oficialmente livre da febre amarela, e o suntuoso edifício voltou a funcionar como escola. Mas, em outubro de 1918, a epidemia de gripe espanhola assolou a cidade – e, mais uma vez, aquele que seria um centro de estudos, recreação e acolhimento viu suas instalações convertidas em hospital. A transformação do local em Casa de Saúde foi oficializada em 1920, e hoje a Casa de Saúde Campinas é um hospital de oito mil metros quadrados, com 150 leitos ativos, oito salas de cirurgia e cerca de 600 médicos atuando em seu corpo clínico.

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Robert Kneschke/Shutterstock

Em debate

Hospitais na pandemia

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inda que a o primeiro registro de Covid-19 tenha sido em dezembro, na cidade de Wuhan, na China, e que o primeiro caso no Brasil tenha sido oficialmente notificado em fevereiro, em São Paulo, foi necessário uma verdadeira corrida contra o tempo para que hospitais se adequassem para receber os contaminados pelo novo coronavírus ou até mesmo para que novas estruturas fossem montadas especialmente para receber esses pacientes. Os chamados "hospitais de campanha", como os do Anhembi e do Ibirapuera, na capital paulista -- que, juntos, somavam 3.000 leitos --, foram aliados fundamentais da Medicina.

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windwalk/Shutterstock

Um dos grandes desafios na luta contra o novo coronavírus foi a adequação ou construção de hospitais dentro das exigências impostas pela circunstância

A necessidade imposta pela pandemia, ao exigir cuidados especiais na forma como esses espaços foram adequados ou construídos, trouxe ainda mais luz à importância dos projetos de Arquitetura hospitalar - tanto para esse momento como também para as necessidades futuras, dentro do que agora se chama "novo normal".


Arquitetura de hospitais pós-coronavírus Arquivo pessoal

Por Ésio Glacy*

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instituição hospitalar em sua configuração moderna vem sendo aprimorada há quase 150 anos, quando o hospital deixa de ser um local de confinamento e segregação de doentes para se tornar um espaço de cura e recuperação da saúde das pessoas. De fato, foi no final do século 19 que a enfermeira Florence Nightingale propôs a construção da “Enfermaria Nightingale” em um edifício de configuração pavilhonar, no qual os espaços livres permeavam os pavilhões do hospital e possibilitavam a iluminação direta do sol e a ventilação cruzada nos ambientes. Desde então, a instituição hospitalar enfrentou várias epidemias e pandemias que não geraram alterações significativas em sua estrutura. Contudo, deverá ser diferente com a pandemia do coronavírus. A mídia vem mostrando quão desprotegidos se encontram os agentes da saúde que atuam nos hospitais, pelo grande número de médicos e enfermeiros infectados. Áreas de paramentação e de descontaminação deverão ser instaladas em locais estratégicos dos hospitais, para salvaguardar a saúde não somente da equipe médica, mas também dos pacientes. A Covid-19 deixará ainda uma lição para o planejamento dos novos hospitais e para a reformulação dos existentes, especialmente os de médio e grande portes que, em sua maioria, apresentam-se na configuração de monoblocos. A migração do edifício pavilhonar para a configuração monobloco foi menos uma questão funcional e mais uma consequência do fenômeno da urbanização, que elevou o custo da terra nos centros urbanos. Dado o alto custo da terra, o edifício hospitalar que necessita de grandes áreas de terreno para sua implantação foi compactado em áreas muito restritas, com a consequente diminuição ou até a eliminação dos espaços livres. Essa compactação é consequência da necessidade funcional do hospital, que não recomenda a verticalização de vários setores de atividades e sim sua localização em um

A Covid-19 deixará ainda uma lição para o planejamento dos novos hospitais e para a reformulação dos existentes, especialmente os de médio e grande portes"

mesmo nível, para evitar o uso de escadas, rampas e elevadores. A configuração monobloco foi admitida pelos arquitetos devido à crença de que os sistemas de climatização poderiam tornar habitáveis e protegidos de contaminações os espaços confinados resultantes, e possivelmente também pela desconsideração da importância do contato do paMaio l Junho l Julho 2020

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Em debate mudanças climáticas

ciente com a natureza e da visão do exterior, para diminuição do estresse e, indiretamente, para a aceleração da cura. Na configuração monobloco com torre vertical, facilitada pelo aperfeiçoamento do elevador e pelo avanço das tecnologias construtivas, poucos setores – tais como a internação, o administrativo e alguns serviços de diagnóstico e tratamento – podem ser verticalizados para se beneficiarem da iluminação e ventilação naturais. Hoje, em consequência do coronavírus, estabelecimentos comerciais, como lojas e shopping centers, além de edifícios

públicos, espaços culturais, edifícios empresariais e até indústrias precisam manter suas portas e janelas abertas para garantir a ventilação natural e diminuir a concentração de vírus e bactérias nos ambientes, procedimento este que também contribui para a ação bactericida da luz solar. Embora reconheçamos que a tecnologia da climatização dos ambientes seja uma importante conquista da sociedade moderna, especialmente para os hospitais, o coronavírus nos lembra que, além de maiores cuidados com a contaminação, devemos projetar edifícios menos depen-

dentes dos sistemas mecânicos de climatização e exaustão e mais abertos para o exterior. E, assim, deixá-los mais preparados para o enfrentamento de novas pandemias. Para isso, não precisaremos reinventar o hospital, mas apenas voltar um pouco no tempo e recuperar os espaços livres, a visão do exterior, o contato com a natureza, o verde, a ventilação e a iluminação naturais, que são importantes conquistas da Arquitetura moderna. * Arquiteto e urbanista

A visão de um médico sobre a Arquitetura de um hospital de campanha

Arquivo pessoal

Por Dr. José Davantel*

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zero de jogo, deixo claro que compreendo perfeitamente a urgência e a excepcionalidade das condições em que esses hospitais foram construídos e que a escassez de tempo e necessidade de execução célere não deixaram muito espaço para o capricho e a beleza arquitetônicas; por outro lado, entendo que a Arquitetura hospitalar não seja de forma alguma uma novidade. Portanto, o capricho em planejar qualquer obra jamais será um “item” supérfluo. Minha visão é

mais crítica e funcional, mas há espaço para alguns elogios. Os espaços comuns do hospital são largos; corredores, áreas comuns entre as alas e vestiários são pontos positivos; a cor clara do piso metálico, das divisórias e do teto da tenda produzem uma atmosfera limpa e asséptica. Isso me parece bom. Há uma dezena de vasos com folhagens simples, dispostos pelo corredor principal - de verde, só isso. Não há maçanetas ou puxadores em nenhum lugar e as superfícies


Pederneiras/Shutterstock

Entendo que a Arquitetura hospitalar não seja de forma alguma uma novidade. Portanto, o capricho em planejar qualquer obra jamais será um “item” supérfluo"

Hospital de Campanha Ibirapuera (SP)

dos móveis são de fórmica ou PVC lisos. Também considero acertado que sejam assim. Há, entretanto, aspectos do planejamento (ou da falta dele) muito negativos que, na modesta opinião deste médico, poderiam ser muito melhores. Vamos lá: a iluminação é constante, sem nuances, branca, fria e, pior, 24 horas ligada - os pacientes simplesmente perdem a noção do tempo, dormem e acordam no “claro”. O ar condicionado é gelado praticamente o tempo todo, obrigando os doentes a se protegerem do frio com vários cobertores. Não há um fluxo laminar com pressão negativa que impeça a dispersão do vírus. Não sei avaliar o custo de implementação desse tipo de dispositivo, mas, na minha visão, faria todo sentido. Não há uma área destinada para funcionar como solário. Se houvesse, seria perfeito para os pacientes deixarem o confinamento e se aquecerem um pouco, além de ser eficaz para aumentar naturalmente a síntese de vitamina D (tão importante para a imunidade). Não há desculpa de falta de espaço. O

hospital foi construído dentro do complexo olímpico do Ibirapuera, espaço é o que não falta. Os boxes onde ficam os leitos são separados por divisórias de PVC, apenas lateralmente, e não há nenhum anteparo entre o pé da cama dos doentes e o corredor. Logo à frente desses leitos, outra fileira de boxes com a mesma disposição (espelhada) faz com que os pacientes não vejam quem está do seu lado, mas olhem sempre para quem estiver à sua frente, seja um doente do mesmo sexo ou não. Definitivamente, quem planejou o hospital de campanha não levou em conta que os colaboradores da enfermagem precisam descansar alguns minutos nas madrugadas. Não há áreas com camas ou sofás para esse repouso, e os médicos têm um quartinho em cada ala, com duas camas e uma claraboia no teto, que também deixa esse minúsculo quarto no “claro” o tempo todo. A área de conforto comum para todos os profissionais do hospital existe: com duas mesas, quatro sofás e duas televisões que não têm controle remoto. Ou seja: a

programação fica por conta dos gestores. A forma como as divisórias são fixadas no piso faz com que chacoalhem e ranjam todas as vezes em que acionamos os dispensadores de álcool em gel (em todas, há um deles colado). Imaginem a sinfonia interminável que temos, na claridade e no frio intermináveis (nem Dante teria ido tão longe). Tudo bem, ainda que para um médico o resultado que importa seja salvar vidas – e é isso que estamos conseguindo de forma espetacular (1374 internações, 1000 altas, 300 transferências e 6 óbitos) –, se o ambiente produzisse mais aconchego e conforto, certamente todos ganhariam.

* Médico do Hospital de Campanha Ibirapuera (SP)

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Bate-Papo

Cid Torquato

Contra o preconceito velado, ele lidera o trabalho da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência por uma cidade mais inclusiva Por Marco Paulo Ferreira

Arquivo pessoal

A Antes de assumir a SPEMD, o Secretário já militava pelos direitos das pessoas com deficiência

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ntes de se tornar Secretário Municipal da Pessoa com Deficiência, em 2017, Cid Torquato foi executivo da Lowe & Partners América Latina e da StarMedia Networks, além de ter participado do governo de FHC como assessor do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Também fundou a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico e foi Secretário Adjunto da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo e conselheiro do CONADE – Conselho Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Autor de livros sobre economia digital e comercio eletrônico, uma de suas obras é “Empreendedorismo sem Fronteiras – Um Excelente Caminho para Pessoas com Deficiência”, após ficar tetraplégico, em 2007. Foi a partir daí,

ao enfrentar diretamente as barreiras impostas às pessoas com deficiência, que se tornou um militante da causa. Além do trabalho que desempenha frente à SMPED, Torquato integra ainda o World Summit Award, principal premiação global de conteúdo digital, e coordena o MAIS+ Movimento Acessibilidade Digital e Internet Segura, da Camara-e.net. Na entrevista a seguir, entre outros temas, o Secretário fala sobre o os desafios que a pandemia da Covid-19 trouxe especialmente para as pessoas com deficiência, os avanços nas questões relacionadas à acessibilidade, a importância dos arquitetos e urbanistas para essas conquistas e sua relação com o CAU/SP. Quais novos desafios a pandemia trouxe para a população


Acervo CAU/SP

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Minerva Studio/Shutterstock

Bate-Papo Cid Torquato

da cidade de São Paulo nas questões relacionadas à acessibilidade? Creio que o principal desafio atual frente à acelerada transformação digital que presenciamos e que se intensificará é promover a inclusão digital de toda a população, não apenas dos munícipes com deficiência. O poder público, em suas várias instâncias, deve buscar caminhos para prover conectividade e hardware compatíveis com as tecnologias de ponta do momento, incluindo digitalmente o maior número de pessoas possível, sob pena de ver ampliado o abismo digital (digital gap) que já separa os que dispõem de recursos dos menos favorecidos. No caso específico das pessoas com deficiência, é fundamental promover acessibilidade e mobilidade digitais como indu-

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tores da inclusão digital, para que possam desfrutar de forma equânime dos produtos e serviços disponíveis no mercado e na sociedade. Infelizmente, apenas cerca de 1% dos sites em operação no Brasil são plenamente acessíveis, o que é uma vergonha eticamente, além de ser ilegal. Mas, felizmente, na cidade de São Paulo, todos os sites públicos municipais (mais de 60!) são certificados e possuem o Selo de Acessibilidade Digital emitido pela Comissão Permanente de Acessibilidade Digital (CPA Digital). Para o novo normal, para as mudanças que a pandemia deve provocar nas cidades, quais devem ser os principais avanços para torná-las mais inclusivas?

A grande questão é se as pessoas com deficiência, em parte pertencentes ao grupo de risco, devem ou não voltar às atividades junto com as pessoas sem deficiência. Vale a preocupação, tendo em vista as barreiras físicas, comunicacionais e atitudinais que os munícipes com deficiência enfrentam para usufruir de seus direitos. Para tornar a cidade mais inclusiva, temos que, antes, torná-la mais acessível em todos os sentidos. Nesse sentido, importante destacar a Nota Técnica da COVISA, que estabelece protocolos que contemplam as pessoas com deficiência no processo de flexibilização do isolamento. Trata-se de uma medida pioneira no Brasil. Em locais fechados, tanto em prédios públicos quanto privados, quais as recomen-


dações de adequação para melhorar a acessibilidade e ao mesmo tempo diminuir os riscos de infecção pelo novo coronavírus? Temos uma das melhores legislações do mundo em relação aos direitos das pessoas com deficiência. Nosso desafio é aplicá-la efetivamente. Ou seja, ambientes acessíveis são locais muito mais seguros, em todos os aspectos, para as pessoas em geral. Vamos respeitar a NBR 9050, norma técnica da ABNT que estabelece os padrões de acessibilidade exigidos no Brasil. Paralelamente, na SMPED, além de instruir a NT acima mencionada, criamos protocolo abrangente de volta ao trabalho presencial, que vem sendo referência em medidas de prevenção e sanitização para todo o mercado. No âmbito da Prefeitura, evitaremos eventos presenciais por um bom tempo. Inclusive, nossa maior realização do ano, Sem Barreiras – Festival de Acessibilidade e Artistas com Deficiência, de 21 a 27 de setembro, será totalmente online/virtual. Além da qualidade artística e do protagonismo do artista com deficiência, queremos mostrar a todos como produzir eventos totalmente acessíveis e inclusivos, para que, em breve, todos os eventos respeitem o direito de participação das pessoas com deficiência. No final do ano passado, o senhor participou de um se-

Para tornar a cidade mais inclusiva, temos que, antes, torná-la mais acessível em todos os sentidos"

minário internacional promovido pelo CAU/SP sobre bons exemplos de políticas públicas de acessibilidade. Seria possível elencar exemplos positivos, que caminhem nessa direção e foram adotados nos países que enfrentaram a pandemia antes de nós? São Paulo tem dado exemplo ao mundo pelas medidas tomadas no plano geral e, também, com foco na proteção de minorias, como indígenas, quilombolas, ciganos, LGBT+, população de rua e outros. Temos participado de vários webinários internacionais para apresentar as ações do Município. Este ano, a Lei Brasileira de Inclusão completou cinco anos. Quais as principais conquistas até aqui? Como disse, temos uma excelente legislação, com destaque para a LBI, que, infelizmente, é desconhecida e ignorada. Falta divulgação e as pessoas com deficiência acabam por não conhe-

cer seus direitos mais básicos. Também continua desconhecida pela grande maioria de juízes, promotores e advogados. A LBI é uma lei que ainda não "pegou"! Temos que nos mobilizar, ativar o movimento político das pessoas com deficiência no Brasil, para que a agenda de demandas das pessoas com deficiência seja conhecida e respeitada. A LBI é uma grande conquista em si. Agora, falta que ela produza conquistas reais para os cidadãos com deficiência. Em julho, a SMPED lançou o Observatório Municipal da Pessoa com Deficiência. Quais medidas já estão sendo adotadas ou planejadas, a partir dos resultados obtidos nesse levantamento? O objetivo do Observatório é produzir, reunir, analisar e divulgar dados estatísticos e analíticos relativos às pessoas com deficiência residentes na cidade de São Paulo, bem como avaliar os serviços e as políticas públicas que tenham como foco sua efetiva inclusão. A ideia é, com esses dados e índices, subsidiar o planejamento estratégico de políticas transversais e monitorar a realização progressiva dos direitos da pessoa com deficiência. Hoje, temos as principais bases de dados de serviços públicos municipais oferecidos às pessoas com deficiência. Estamos cruzando e georreferenciando essas informações de forma inédita. Recomendo visita ao site do Observatório para conhecer, Maio l Junho l Julho 2020

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Bate-Papo Cid Torquato

via gráficos e estatísticas, quem é a população com deficiência de nossa cidade.

Jenny Sturm/Shutterstock

Precisamos incluir a pessoa com deficiência e vê-la como um sujeito de plenos direitos, como contribuinte e consumidor"

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Além de políticas públicas, quais seriam os outros fatores que contribuiriam para melhorar a questão da acessibilidade? Temos que aumentar a conscientização e as práticas inclusivas pelo setor privado. As empresas têm que ser mais inclusivas na contratação de talentos, mais acessíveis em termos arquitetônicos, comunicacionais e, principalmente, atitudinais.

Precisamos incluir a pessoa com deficiência e vê-la como um sujeito de plenos direitos, como contribuinte e consumidor. Chega de preconceito velado. Por que ele ainda existe? Quais as justificativas para toda essa discriminação? Falta acelerarmos o processo civilizatório em respeito à diversidade humana. Basta de elitismo e capacitismo! Qual o papel dos arquitetos e urbanistas para os avanços necessários? O conhecimento desses profissionais sobre o tema é fundamental! Eles exercem papel chave na implementação do desenho universal nas edificações e intervenções urbanas. Contudo, poucos são os arquitetos que realmente conhecem acessibilidade e a contemplam desde o início dos projetos. Precisamos promover o óbvio, ampliar o ensino sobre acessibilidade e desenho universal nas faculdades de arquitetura. O CAU tem papel fundamental nesse processo. Um CAU acessível e inclusivo obrigatoriamente ensejará profissionais mais informados e preparados para atender as demandas de uma sociedade cada vez mais diversa. Nessa linha, é emblemática a atuação da Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA), órgão colegiado deliberativo vinculado à Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPED). Desde 1996, a CPA tem atuado para difundir preceitos de acessibilidade, por meio de cursos e treinamentos, da análise de projetos arquitetônicos públicos


agsaz/Shutterstock

sua presidente, Silvana Cambiaghi, referência em acessibilidade arquitetônica no Brasil. Estamos com muita expectativa quanto à nova sede do Conselho em São Paulo. Esta é uma vitória da atual gestão do CAU e merece ser celebrada. ¥

Acervo CAU/SP

e privados, do respaldo ao Ministério Público Estadual na fiscalização e pela emissão do Selo de Acessibilidade Arquitetônica, que certifica edificações. Fechando o círculo virtuoso, vamos lançar uma linda série de publicações com informações, serviços, direitos e curiosidades relacionadas às pessoas com deficiência. Uma delas é sobre Desenho Universal e Acessibilidade na Cidade de São Paulo, já disponíveis em nosso site. Como a relação institucional da SMPED com o CAU/SP tem colaborado com a causa? Vemos grande compromisso com acessibilidade e inclusão da pessoa com deficiência na atual gestão do CAU. O presidente Geraldine, que tem grande experiência prática, é um entusiasta do tema. O intercâmbio com o CAU tem envolvido toda a equipe da CPA, com destaque para

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Novas Cidades 2021 CARTA AOS CANDIDATOS

Mais do que nunca o futuro de nossas cidades constitui hoje uma das principais preocupações de boa parte dos brasileiros. A epidemia do Covid-19 escancarou as deficiências estruturais, sociais e ambientais dos centros urbanos, exigindo respostas novas e urgentes. Um desafio enorme para os atuais e os próximos gestores a serem escolhidos nas eleições do final do ano. O CAU/BR e seis entidades representativas dos profissionais e estudantes de Arquitetura e Urbanismo promoveram um ciclo de seis “lives”, denominado “Novas Cidades 2021”, com o objetivo de elaborar a “Carta aos Candidatos nas Eleições Municipais de 2020”, As entidades são o IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil), a FNA (Federação Nacional dos A Arquitetos e Urbanistas), a ABEA (Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo), a AsBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura), a ABAP (Associação Brasileira de Arquitetos Paisagístas) e a FeNEA (Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo), componentes do CEAU (Colegiado das Entidades Nacionais de Arquitetos e Urbanistas). A iniciativa contou com o apoio do UOL, maior portal da internet brasileira. Você pode acompanhar a íntegra dos debates no canal do CAU/BR no Youtube, com a participação de arquitetos e urbanistas, deputados federais e estaduais, líderes comunitários e pesquisadores renomados; sempre com apresentação da jornalista Cristina Serra.

APOIO:

INSTITUTO DE ARQUITETOS DOBRASIL


A "Carta aos Candidatos" tem como objetivo encaminhar propostas concretas aos candidatos aos poderes Executivo e Legislativo municipais. Saiba mais em www.caubr.gov.br

Confira os temas das lives: Arquitetura e Saúde Cidades Sustentáveis

O papel dos arquitetos e urbanistas como promotores da saúde pública nas cidades) Urbanismo e meio ambiente: como reinventar as cidades no pós-pandemia?

Governança e Financiamento

Cidades não se fazem de improviso. Como torná-las menos desiguais?

Paisagem e Patrimônio

Qualidade de vida nas cidades: paisagens e história

Mobilidade e Inclusão

Circulando pela cidade: novas dimensões da mobilidade urbana

Novas Cidades 2021

Propostas do CEAU-CAU/BR para a Carta aos Candidatos

Assista íntegra dos debates

.com/oficialcaubr


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reportagem especial

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O papel do arquiteto no mundo pós-pandemia Os espaços públicos e privados e sua relação com a saúde pública Por Silvia Lakatos

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reportagem especial

O

s profissionais de saúde são os grandes protagonistas de 2020. Desde a gripe espanhola, que há exatos cem anos matou pelo menos 50 milhões de pessoas, não se via uma pandemia com o potencial danoso da Covid-19. Mas não foram só os médicos, enfermeiros, técnicos laboratoriais e demais guerreiros que atuam na linha de frente do combate à pandemia que tiveram suas vidas profissionais “viradas de cabeça pra baixo”. Professores, por exemplo, precisaram refazer planejamentos. O fato é que, em maior ou menor medida, todas as categorias tiveram que se adaptar a um mundo repleto de restrições. E os arquitetos e urbanistas? Quais são seus papéis e principais desafios neste contexto tão peculiar, marcado pela necessidade de manter o distanciamento social e de nos resguardar, preferencialmente dentro de nossas próprias residências?

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Quarentena & infraestrutura urbana Na segunda quinzena de março, em diversas partes do Brasil, incluindo o estado de São Paulo, tivemos a suspensão das aulas e do expediente

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em uma ampla gama de negócios e serviços. O objetivo era assegurar que as pessoas ficassem em casa, evitando assim um pico de contaminação pelo novo coronavírus antes que o sistema de saúde estivesse suficientemente preparado para lidar com o aumento de demanda. Ficar em casa parece bom, certo? Mas não para as pessoas que residem em locais inadequados, tais como cortiços e favelas não urbanizadas. A pandemia de Covid-19 trouxe uma necessária reflexão sobre a urgência de se prover moradia digna para as camadas menos favorecidas. É inaceitável que oito, às vezes 10 pessoas, dividam o teto de um barraco de um quarto. Se algo de bom poderá ser extraído da tragédia que se abateu sobre o mundo desde dezembro de 2019, quando surgiram na imprensa as primeiras notícias sobre uma devastadora epidemia na província de Wuhan, é que a dignidade não pode ser um “privilégio” – e que, portanto, a Habitação de Interesse Social, bem como as infraestruturas de saneamento e de saúde pública, precisam ser colocadas no topo das prioridades. Mas engana-se quem considera que só as parcelas mais pobres enfrentaram dificuldades quando o isolamento social se impôs como a melhor e mais eficaz das armas no controle da Covid-19.


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Quem não se lembra, por exemplo, do advento de tendências como a dos microapartamentos? Parecia até fazer sentido: se uma pessoa está sempre trabalhando, estudando e interagindo socialmente em ambientes externos, por que não racionalizar o uso do espaço e propiciar uma opção residencial de baixo custo, de preferência em uma região nobre, bem servida de infraestrutura pública? Agora imagine, caro leitor, o que deve ser passar a quarentena em um imóvel no qual você mal consegue se mover... Ambiente de trabalho Se a quarentena é um desafio imenso, voltar à rotina não é uma missão menos árdua. Quantas bancadas de trabalho garantem que um colega esteja a pelo menos um metro de distância do outro? Não será o caso de as

empresas também começarem a rever suas plantas e acomodações, de modo a não transformar o retorno aos escritórios em risco para o bem-estar coletivo? Foi pensando nisso que a arquiteta e urbanista Juliana Schreurs, que nos últimos quatro anos tem se dedicado à Arquitetura corporativa, percebeu a necessidade de providenciar a adequação dos projetos de espaços de trabalho que estava desenvolvendo para alguns clientes. “Com o trabalho remoto, as empresas perceberam que algumas áreas não precisam ficar alocadas dentro dos escritórios. Essa migração parcial para o home office trouxe a possibilidade de adotar um novo layout, com um espaçamento bem planejado”, ela conta. Juliana ressalta que, nas grandes cidades, o valor do metro quadrado é muito alto, o que

encarece os aluguéis comerciais e induz as empresas a adensarem ao máximo os espaços de trabalho. “Fazer com que as pessoas conseguissem ter um bom patamar de conforto mesmo estando extremamente próximas era a nossa prioridade na maioria dos projetos”, explica. “Agora, estamos sendo procurados para remodelar muitos desses espaços, com o objetivo de aumentar a distância entre as áreas de trabalho, ampliar as áreas de circulação de pessoas, favorecer a ventilação e valorizar ainda mais a biofilia”, relata a arquiteta. Quando aplicado à Arquitetura, o conceito de biofilia deve ser entendido como a busca por conectar os seres humanos com a natureza de modo a garantir bem-estar. Não se trata apenas de colocar plantas no ambiente, mas de incorporar as características do mundo natural aos Maio l Junho l Julho 2020

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reportagem especial

Indah Prameswari/Shutterstock

espaços construídos: luz natural, fontes de água e elementos de decoração feitos em pedra e madeira são exemplos de recursos que um projeto arquitetônico baseado em biofilia pode abarcar. “Acredito que viveremos um período de transição”, prossegue Juliana. “É possível que estes espaços generosos de trabalho não se tornem definitivos. Minha percepção é a de que tenderemos a optar por um meio-termo entre o que existe hoje e o novo padrão ditado pelos efeitos da pandemia – os quais ninguém sabe se serão duradouros”, observa. “Mas eu acredito que nós, arquitetos, teremos cada

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vez mais que nos abrir para novas ideias e desapegar dos velhos padrões, mas sem a ilusão de que será possível reinventar grande parte do que já é feito. Será necessário encontrar um caminho intermediário e criativo”, resume. Lições que vêm da Ásia Depois de quatro anos de se formar em Arquitetura e Urbanismo, Mauro Resnitzky deixou o Brasil para fazer pós-graduação na Architecture Association School of Architecture, em Londres. Em 2002, mudou-se para Hong Kong, onde ajudou a instalar o primeiro escritório da

Benoy na Asia. Vale dizer que a Benoy é uma empresa global de Arquitetura, planejamento e design, com escritórios no Reino Unido, Emirados Árabes, Singapura, China (nas cidades de Xangai e Pequim) e em Hong Kong, que é um território autônomo, a sudoeste da China. “Na época, vivíamos os primeiros anos de abertura e crescimento da China, com grandes reflexos também em boa parte dos países asiáticos. Hong Kong, assim como Singapura, já havia consolidado seu papel como centro financeiro e profissional da região, e foi se transformando de colônia em metrópole internacional, atraindo muitos estrangeiros em busca de oportunidades”, ele relata. “Foi nesse contexto que tive a oportunidade de contribuir em grandes projetos e de participar desse movimento de desenho e planejamento de uma nova forma de fazer a cidade: grandes empreendimentos imobiliários multiuso, localizados em terrenos bem servidos de transporte e infraestrutura urbana. Os projetos incluem toda sorte de usos, como escritórios, hotéis, complexos residenciais, e têm como foco a integração dos espaços comerciais e de lazer, sejam eles públicos ou privados”, informa. Em 2009, depois de realizar projetos em ambientes tão distintos como China, Japão, Tailândia, Vietnã, Índia e até mesmo Mongólia, Resnitzky decidiu abrir escritório próprio, para se dedicar a projetos de planejamento, arquitetura e interiores, e também a palestras sobre temas urbanos diversos. Foi assim que


Novos hábitos e comportamentos Além da questão do espaço e seu planejamento, Resnitzky assinala que algumas mudanças de hábitos e comportamentos podem ser determinantes para a contenção da pandemia de coronavírus. “Deixar os sapatos fora do ambiente doméstico, guardados junto à porta de entrada ou nos corredores do andar, evita trazer contaminações pra dentro de casa. Isso impacta a concepção arquitetônica de vestíbulos e

entradas, porque seus desenhos devem ser elaborados com essa necessidade em mente”, exemplifica. “A desinfecção frequente de maçanetas, painéis e botões de elevador nos edifícios ajuda a minimizar contágios, e isso deve evoluir na direção do emprego de tecnologias touchless”, acrescenta Resnitzky. Na opinião do arquiteto, o desenvolvimento tecnológico vem transformando nossa maneira de viver e criando novas demandas num ritmo acelerado. “O que funciona hoje pode não ser desejável amanhã. O evento da pandemia nos força mais uma vez a repensar e adaptar conceitos que tomaram o mundo rapidamente e ainda estão se consolidando. É o caso da sharing economy, ou economia colaborativa, baseado na qual vimos surgir Uber, Airbnb e tantos iniciativas de co-working e co-living. Essa nova economia pressupõe o rompimento de amarras sociais e a exposição do indivíduo ao outro, ao estranho e desconhecido. Desde o compartilhamento de uma mesa de trabalho ao uso de um carro ou de uma casa, vimos que a sociedade embarcou nessa ideia. Ainda é cedo pra concluir sobre os efeitos da pandemia nessa

Awesome_art_Creation/Shutterstock

o arquiteto brasileiro se estabeleceu em uma região fortemente impactada não apenas pelo advento da Covid-19, mas também pelo surgimento de epidemias anteriores, como a SARS e a H1N1. “Vejo que a Arquitetura, o planejamento e o desenho são instrumentos importantes para formular, criar e adaptar a nossa maneira de viver frente aos desafios que se impõem”, analisa. Segundo Resnitzky, a pandemia estimulou o surgimento de iniciativas de desenho nas mais diversas escalas, desde formas de separação e barreiras físicas para ambientes em que as pessoas tendam a ficar próximas umas das outras (mobiliários urbano, mesas de restaurante, assentos em aviões) até dispositivos de controle de temperatura no acesso a edifícios e ambientes fechados. “A arquitetura terá que se adaptar a novas formas de comportamento social e às novas possibilidades de espaços que surgem em decorrência disso. Por exemplo, o uso da casa como espaço de estudo, trabalho e até lazer”, comenta.

nova forma de ver e fazer o mundo, mas certamente ela não é facilmente conciliável com a necessidade de isolamento social”, destaca. Como autor de projetos de grande escala e acostumado a projetar hoje edifícios e espaços que podem demorar anos para serem efetivamente construídos, Resnitzky se diz “acostumado” a lidar com a flexibilização dos espaços e a sua possível adaptação para usos futuros. “A arquitetura deve ser pensada e preparada não só para eventuais adaptações emergenciais de demandas médicas, como vimos ocorrer com estádios e centros de convenção que passaram a acomodar hospitais de campanha, ou com os hotéis convertidos em centros de isolamento, mas também para a capacidade de conversão em outras funcionalidades geradas a partir da escassez de demanda do seu uso atual”, avalia o arquiteto. “A tecnologia, a Arquitetura e o planejamento, por sua vez, desempenham papel fundamental em preparar as cidades e os edifícios para o enfrentamento de um lockdown, e para se manterem coMaio l Junho l Julho 2020

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reportagem especial

Acervo CAU/SP

Totem na Av. Paulista Totem

Acervo CAU/SP

nectados por meio de avançadas People's Choice (voto do públiferramentas de comunicação”, co), além de ser eleito um dos adiciona. cinco finalistas do Grand Prize (voto do júri) – único brasileiro na Projeto premiado cobiçada lista final. No início de 2020, a plataO projeto que rendeu o recoforma Go Architect promoveu o nhecimento ao brasileiro chamaconcurso internacional Coronavi- -se R.I.P (Requiescat In Pace – To rus Design Competition. A ideia Remember. To Inform. To Proera estimular arquitetos e urba- tect.), e consiste em um totem nistas do mundo todo a apresen- modulável que agrega três funtarem projetos que, direta ou in- ções e conceitos: a higienização diretamente, contribuísse para o das mãos (pia com água e sacombate à Covid-19. bão); a humanização dos dados O certamente obteve a ade- (memorial com fotos das vítimas são de 115 participantes. Um do coronavírus); e a disponibilideles, o paulistano Leonardo zação de informações úteis aos Dias, de apenas 28 anos, ven- cidadãos (painel com medidas ceu a competição na categoria preventivas).

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A base do totem é um módulo único, que foi projetado para ser de fácil instalação em locais mais estreitos ou de alto tráfego de pessoas, tais como calçadas, em frente a estações de metrô e terminais de ônibus. Há também uma versão em quatro módulos, ideal para espaços abertos, como praças, parques e possíveis eventos pós-pandemia. O projeto prevê ainda a instalação de placas solares no topo de cada módulo, para armazenar e suprir o consumo de energia total ou parcial do sistema, além de um reservatório de água na parte interna do totem. “Eu parti da ideia de disponibilizar nas ruas um equipamento para os pedestres lavarem as mãos por meio de um sistema de acionamento automático”, explica Dias. “Ao mesmo tempo, eu queria aproveitar a oportunidade para alertar a população para medidas preventivas e outras informações de relevância pública, projetadas por meio de grandes painéis de LED. Para finalizar, como forma de humanizar a si-


Anna Kraynova/Shutterstock

tuação e manter a memória dos que morreram por causa da Covid-19, o equipamento também é um espaço oferecido às famílias que desejem prestar suas homenagens com fotos ou trechos da história de vida dessas pessoas”, descreve o arquiteto. Vitória conquistada, chegou a hora de fazer o totem chegar ao público. “A proposta vem sendo desenvolvida e discutida junto à Rede de Apoio Nacional de combate ao coronavírus”, confirma Dias. “O próximo passo é buscar parcerias para aprimorar e viabilizar o projeto nos municípios, para as empresas e organizações sanitárias”, relata. Qualidade de vida Ciente de que alguns elementos presentes no projeto podem encarece-lo – é o caso, por exemplo, dos painéis de LED –, Dias mostra-se receptivo à ideia de fazer adaptações que possam diminuir os custos. “Em vez de painéis de LED, podemos utili-

zar cartazes com iluminação; no lugar da placa solar e do reservatório, é possível providenciar a conexão direta com as redes de energia e água; estas e outras mudanças podem reduzir os investimentos a 10% do valor necessário à concretização do projeto original. “A ideia é que o projeto se torne um equipamento público tão comum como bancos e lixeiras e que, mesmo após o abrandamento da situação de pandemia, permaneça servindo à população e estimulando hábitos de higiene”, resume Dias. O inverso também é possível: empresas, aeroportos e hotéis, por exemplo, poderiam incorporar sensores de temperatura corporal, higienização por meio de raios ultravioleta, câmeras de segurança e chamada de emergência. “Acho que nunca havia ficado tão evidente o quanto a Arquitetura impacta as nossas vidas”, avalia Dias. “Nossas residências

precisam ser espaços nos quais a gente se sinta bem; todo mundo consegue ver claramente que o nosso lar impacta no nosso humor, na qualidade do sono, do trabalho. Por isso, acredito que os arquitetos serão convidados a requalificar os espaços das pessoas”, reflete. E conclui: “o Brasil enfrenta um grande déficit de moradia. Nos grandes centros, as pessoas encaram horas de trânsito ou dentro de trens e metrôs para poderem chegar ao trabalho. A pandemia nos impõe a necessidade de repensar tudo isso. Acredito que caminhamos para uma descentralização dos polos comerciais e industriais, para a integração de trabalho e moradia. Precisamos revalorizar a vitalidade urbana e colocar as pessoas no centro dos nossos projetos.”¥

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Concurso

Coronavirus Design Competition O

arquiteto e urbanista brasileiro Leonardo Dias foi um dos finalistas do concurso internacional promovido pela plataforma Go Architect para

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projetos de equipamentos urbanos de prevenção ao novo coronavírus. Entre estudantes e profissionais do mundo inteiro, foram mais de 100 inscritos.


1o lugar Atharva Gune Bhakti Loonawat Namrata Tidke e Huzefa Rangwala Jasem Pirani (Ă?ndia)

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Concurso Coronavirus Design Competition

finalistas Leonardo Fernandes Dias (Brasil)

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finalistas Yana Bas, Mykyta Lytvynenko (Ucrânia)

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Concurso Coronavirus Design Competition

finalistas Justin Paul Ware Evie Cheung (Estados Unidos)

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finalistas Xi Chen Xiangyu Wang (Estados Unidos)

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archideaphoto/Shutterstock

Ensino

As recomendações aos cursos de Arquitetura e Urbanismo na pandemia Comissão de Ensino e Formação (CEF) do CAU/SP considera restrições de mobilidade e reunião, mas alerta para necessidade de capacitar os professores

C

om o objetivo de assegurar uma formação adequada a todos os estudantes, o CAU/SP, por meio de sua Comissão de Ensino e Formação (CEF), apresentou recomendações sobre o ensino de Arquitetura e Urbanismo no período da pandemia da Covid-19. As orientações para professores, estudantes e coordenadores de curso estão relacionadas ao período em que as aulas presenciais foram suspensas devido às medidas de isolamento social impostas. O CAU/SP já vinha demonstrando, antes da pandemia, preocupação com o aumento da car-

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ga horária à distância nos cursos de graduação. O CAU/BR, inclusive, defende a impossibilidade de se aceitar a modalidade de ensino 100% à distância, considerando que o contato presencial é fundamental no ensino de diversos conteúdos da área. Mas, ainda que o CAU/BR e o CAU/SP se coloquem contra a oferta de cursos em modalidade 100% à distância, é preciso ressaltar que a tecnologia é uma aliada importante na formação de profissionais, possibilitando o desenvolvimento de novas ferramentas que contribuem para a educação.


Confira algumas das recomendações da CEF: Entretanto, a emergência de saúde e a imposição do isolamento social, sem tempo para o devido planejamento, levaram à adoção de práticas simplistas de contato virtual entre alunos e professores, com o objetivo de “salvar” o semestre já iniciado. As aulas realizadas por meio digital, no entanto, não podem se resumir ao envio de informações e à correção de exercícios. A CEF também considerou que a promoção de programas de aprimoramento para os professores é imperativa para que as aulas de diversas disciplinas, sobretudo as projetuais, sejam realizadas da melhor forma enquanto as atividades presenciais ainda estiverem restritas. Reconhece-se que, neste momento crítico, o mais importante é garantir a saúde das pessoas, respeitando as regras de isolamento social. Concomitantemente, porém, faz-se necessário planejar a continuidade da formação de novos profissionais. As diretrizes para os novos processos deverão ser definidas por meio de um amplo diálogo entre professores, alunos, instituições de ensino e entidades de representação da categoria. ¥

Governo Por meio do Ministério da Educação, o Governo Federal publicou as Portarias nº 343/2020 e nº 345/2020, que tratam da substituição das aulas presenciais pelo formato digital enquanto houver necessidade de promover o distanciamento social em razão da pandemia. O conjunto de normas não inclui orientações detalhadas, deixando o ensino e a formação dos jovens brasileiros à sorte de iniciativas individuais de cada IES. O documento autoriza a substituição das disciplinas presenciais por aulas que utilizem tecnologias da informação e de comunicação, delegando às IES a responsabilidade de definir como isto será colocado em prática.

1. Envolver na discussão professores,

funcionários administrativos, diretores, dirigentes e representantes discentes de diversos períodos do curso;

2. Que os coordenadores de cursos

mantenham diálogo com representantes acadêmicos durante o período em que as aulas presenciais estiverem suspensas, para acompanhamento das dinâmicas utilizadas, de forma a construir uma síntese da qualidade dos conteúdos trabalhados;

3. Comprometimento da instituição de

ensino superior (IES) na construção de metodologias de aproveitamento do período remoto de ensino, visando sua avaliação, de forma presencial, após o fim do isolamento, para medição dos conteúdos transmitidos e recepcionados durante esse período, revisando os pontos identificados como frágeis na formação à distância;

4. Comprometimento da IES especificamente

quanto à avaliação do aproveitamento das atividades de final do curso, incluindo a elaboração dos trabalhos finais de graduação (TFG) e das suas bancas;

5. Que a reposição de conteúdos e reforços

dos pontos identificados como frágeis na formação não penalizem os professores e funcionários em termos de suas condições de trabalho e de remuneração;

6. Criar ambientes de trabalho seguros quando

as atividades voltarem ao formato presencial para proteger a comunidade acadêmica e suas famílias, tais como: triagem das equipes de trabalho; campanhas educativas para promover hábitos saudáveis e seguros; distanciamento social com a redução da capacidade de lotação dos espaços; oferecimento de copos (canecas) pessoais; protocolos para limpeza rotineira de superfícies de tráfego intenso e manuseio direto; equipamentos de proteção individual (EPIs); uso correto de máscaras; e redefinições das normas de trabalho, minimizando grandes reuniões. Maio l Junho l Julho 2020

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Anderson Reis/Shutterstock

Edital

Fomento do CAU/SP apoia ações de ATHIS no enfrentamento da Covid-19

A

fim de contribuir para a superação dos desafios trazidos pela pandemia do novo coronavírus, que atinge sobremaneira as camadas mais vulneráveis da sociedade brasileira, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP) disponibilizou parte de seus recursos de reserva de capital para o fomento a iniciativas que contribuam com o enfrentamento à Covid-19. Em sua 3ª Reunião Plenária Extraordinária de 2020, ocorrida virtualmente em 7 de agosto, o Conselho decidiu a destinar aproximadamente R$6 milhões a iniciativas de Organizações da Socie-

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dade Civil (OSC), que desejam firmar parceria com o CAU/SP, voltadas ao desenvolvimento e à execução de projetos de apoio e ações de capacitação direcionadas à Assistência Técnica de Habitação de Interesse Social (ATHIS). A necessidade de isolamento social expôs de maneira ainda mais explícita as mazelas e desafios provocados pela desigualdade no País. O convívio em


confinamento nas residências, muitas vezes sem habitabilidade – carentes de serviços básicos à sobrevivência e estrutura mínima de conforto físico e ambiental –, bem como a inexistência da habitação, configurada pelos moradores de rua, tornou evidentes e fundamentais as intervenções físicas de melhorias para estas famílias. Tais intervenções, naturalmente, carecem da atuação de um profissional que detenha o conhecimento técnico para adequações espaciais na edificação e na escala urbana. O CAU/SP entende que arquitetos e urbanistas são os profissionais qualificados para esta demanda – uma vez que sua formação pressupõe o compromisso e a responsabilidade social, ambiental, funcional, construtiva e legal.

Por isso, o Edital, que foi analisado em maio pelo plenário e passou por ajustes necessários em razão das regras da administração pública, busca mecanismos para o efetivo desempenho do papel institucional do Conselho no aperfeiçoamento do exercício profissional, além de contribuir para o cumprimento da Lei n.º 11.888/2008, que estabeleceu que as famílias de baixa renda têm direito à assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social, como parte integrante do direito social à moradia previsto no art. 6º da Constituição Federal. As informações sobre como participar e enviar propostas, bem como o acompanhamento completo de todas as etapas de seleção e execução dos projetos

podem ser conferidas no Portal da Transparência do CAU/SP e em nossos veículos institucionais de comunicação – site, newsletter e redes sociais. Seria bom dizer também que esse tema foi objeto de primeira análise na plenária de maio /2020 e depois passou por ajustes (necessários em razão das regras da administração pública), sendo aprovado na plenária de agosto ¥

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comunicação

Aproximar em tempos de distanciamento

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fizkes/Shutterstock

trabalho de comunicação desenvolvido pelo CAU/SP tem o compromisso de aproximar o Conselho, suas ações e atividades – precípuas e de orientação e promoção da Arquitetura e Urbanismo –, dos arquitetos e urbanistas do Estado de São Paulo. Em 2020, isso se tornou ainda mais importante, afinal o planejamento de atuação do Conselho, assim como os planos traçados por quase todas as pessoas, foi impactado pela chegada da pandemia do novo coronavírus, potencializando a necessidade de agilidade na troca de informações, transparência das iniciativas e apoio ao exercício profissional.

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Comunicar é estar perto. Assim, colaboradores, conselheiros e profissionais contratados pelo CAU/SP têm atuado para garantir o pleno funcionamento do órgão e o atendimento aos profissionais, dando suporte aos arquitetos e urbanistas nesse momento desafiador. Logo nos primeiros dias da quarentena, o trabalho de comunicação foi intenso, no esforço contínuo de divulgar os canais de atendimento, horários e formas de contato com o Conselho. O site e as redes sociais do CAU/SP foram os meios escolhidos para os esclarecimentos imediatos. Era essencial preservar a saúde e a segurança de todos e ao mesmo tempo trabalhar para manter o suporte aos profissionais – levando informação rápida e qualificada. Desta forma, o CAU/SP não deixou de atender ou trabalhar um único dia, e o fez garantindo condições seguras para a comunidade que está diretamente envolvida na atuação da autarquia. A atualização do site institucional seguiu sendo realizada diariamente, somada à produção de conteúdo informativo e de interesse da categoria nas redes sociais – com destaque para Facebook e Instagram. A realização das reuniões plenárias virtuais foi outra ação implementada no período. A atividade passou a ser transmitida ao vivo pelo Canal do Conselho no Youtube, agora com suporte da equipe de comunicação do CAU/SP. A produção da revista Móbile, que teve a distribuição impactada pela suspensão de serviços terceirizados num primeiro momento, foi retomada e acompanhada de perto pela Comissão Especial de Comunicação, incorporando e ajustando conteúdos para a inclusão de temas afins ao momento. Como não poderia deixar de ser, o setor de comunicação do CAU/SP também dedicou uma atenção especial à comunicação interna da instituição. O ponto central deste trabalho foi manter os colaboradores integrados, motivados e bem informados sobre cada uma das ações em andamento, tanto do ponto de vista institucional como administrativo. Em parceria com o setor de Recursos Humanos do Conselho, campanhas internas buscaram dar apoio aos funcionários em regime de teletrabalho – com informações sobre saúde, ergonomia,

organização e bem-estar digital, entre outras. A atuação conjunta com o CAU/BR e os demais CAU/UF também pode ser destacada como de grande relevância para garantir uniformidade nas comunicações. A circulação e troca de estratégias entre as assessorias de comunicação em nível nacional pode proporcionar a distribuição horizontal de informações aos arquitetos e urbanistas de todo o país. As atualizações do Portal da Transparência, tendo sido publicados mais de 460 documentos no período, bem como o envio semanal da nossa Newsletter reforça a relação de transparência do Conselho com os profissionais paulistas e a sociedade em tempos de pandemia. O CAU/SP segue trabalhando convicto de que as distâncias se encurtam, mesmo virtualmente, quando há dedicação e compromisso por trás das telas. ¥ Maio l Junho l Julho 2020

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especial

CAU/SP desenvolve iniciativas inovadoras em meio à pandemia Comissão Temporária de Ações Emergenciais promove boas práticas profissionais e abre novas frentes de trabalho

Kate Kultsevych/Shutterstock

Por IAN pellegrini

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om o objetivo de expandir os impactos das ações institucionais e promover as boas práticas profissionais frente à crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, o CAU/SP criou a Comissão Temporária de Ações Emergenciais (CTAE-CAU/SP). O grupo dedicou-se a discutir medidas que possam repercutir em todo o estado, apoiar os profissionais que buscam referências e ampliar o alcance de iniciativas que possam ser replicadas. O trabalho da comissão, formada após deliberação da primeira Reunião


Acervo CAU/SP

Plenária realizada virtualmente no início de abril, consistiu em reunir e sistematizar dados e propostas sobre o enfrentamento ao novo coronavírus, na perspectiva de difundir o conhecimento técnico dos arquitetos e urbanistas, uma vez que este é muito valoroso neste momento e pode trazer inúmeros benefícios à população.

Hotsite Uma das propostas da CTAE foi a criação de um hotsite para reunir informações úteis para a categoria neste período de emergência de saúde. Dentre elas, medidas de prevenção no ambiente de trabalho e oportunidades de recolocação profissional. Além de mostrar, por exemplo, como os arquitetos e urbanistas estão atuando na readequação de espaços e no aprimoramento de construções residenciais e corporativa, tendo em vista que o distanciamento social e a observância de normas mais rígidas de higiene e cuidados pessoais e ambientais são imprescindíveis ao enfrentamento da doença. Em conjunto com outras comissões, a CTAE também elaborou um material explicativo sobre segurança e proteção em atividades essenciais da Arquitetura e Urbanismo. Outra atribuição da comissão foi fazer a curadoria de documentos publicados por entidades do setor da construção e demais órgãos da área, que podem auxiliar o exercício profissional para Maio l Junho l Julho 2020

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É importante ressaltar que os canais de atendimento com os profissionais permaneceram ativos desde o início da pandemia"

divulgação nas mídias digitais. A página especial também lista as principais ações institucionais desenvolvidas pelo CAU/ SP em meio à pandemia, como o novo prazo de pagamento da Anuidade e a atualização das parcerias com organizações da sociedade civil para oferecimento de cursos de capacitação, que a partir do segundo semestre serão ministrados em formato híbrido (presencial e virtual).

Edital A CTAE também esteve voltada à elaboração de um edital, via Parceria de Fomento, de apoio a projetos e capacitações na área de Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social. (Leia mais na página 46). Por fim, para ampliar a capacidade de atuação do Conselho, a CTAE solicitou ao CAU/BR a alteração nas regras sobre utilização de recursos para projetos especiais, permitindo um maior aporte de recursos por parte do CAU/SP.

Diálogo aberto com os profissionais É importante ressaltar que os canais de atendimento com os profissionais permaneceram ativos desde o início da pandemia. Todas as solicitações recebem o devido encaminhamento, com as adaptações necessárias ao novo contexto. Além disso, os colaboradores da autarquia estão em regime de teletrabalho, em consideração às medidas de isolamento social. Outro serviço concluído em meio à crise sanitária foi

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Acervo CAU/SP

especial

o envio das carteiras de identidade profissional. Seguindo todos os protocolos de higiene e segurança, a equipe do CAU postou, no final de junho, cerca de 360 documentos para os arquitetos e urbanistas que concluíram o processo de registro profissional até 18 de março deste ano, quando a quarentena foi decretada no Estado de São Paulo.

Enquete A Comissão de Ações Emergenciais lançou uma enquete virtual para mapear o cenário que a categoria está enfrentando no estado de São Paulo. O levantamento é fundamental para manter o diálogo com os profissionais. Foram avaliados dados sobre condições de trabalho e também as expectativas dos profissionais em relação às ações do CAU/SP. Dessa forma, as iniciativas do Conselho puderam ser desenvolvidas com um direcionamento ainda mais preciso. Apresentado em meados de junho, o resultado parcial desse levantamento mostrou que a maioria dos profissionais (94%) têm redobrado os cuidados de higiene, adotando o uso de máscaras e o respeito ao distanciamento de pelo menos um metro ao sair de casa. Cerca de 43% dos profissionais afirmam ter adotado medidas pessoais de segurança com relação ao trabalho, estendendo- -as aos demais colaboradores sob sua responsabilidade. Os dados preliminares mostram a participação de arquitetos e urbanistas de diferentes regiões do estado (28,7% de São Paulo, 11,6% de Ribeirão Preto e 9% de Bauru). Dentre eles, 43,5% têm idades entre 40 a 59 anos, e 42,1% têm entre 20 e 39 anos (42,1%). As ações do CAU/SP apontadas


Relatório Sob a coordenação do arquiteto e urbanista Luiz Antonio de Paula Nunes, os conselheiros da CTAE prepararam um extenso relatório com todas as ações

desenvolvidas, as demandas analisadas e o encaminhamento de cada proposta que chegou ao conhecimento do CAU/SP neste período de crise sanitária. O material traz uma fotografia das iniciativas realizadas e o planejamento para os próximos meses, com os devidos prazos de execução. O relatório está disponível para consulta no portal da Transparência ¥

Acervo CAU/SP

como mais relevantes pelos respondentes foram o edital de parcerias e a articulação de oferta de crédito com taxas mais vantajosas.

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Arquitetura no mundo

A edificação dos espaços do saber POR Cláudio Camargo

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ada mais errôneo do que o conceito tradicional que reduz a Idade Média a um período de trevas e de obscurantismo. Pelo menos a partir do século XIII, já na chamada Baixa Idade Média, a Europa viveu uma época de grande renovação cultural e artística, impulsionada pelos ex-

cedentes agrícolas que fizeram renascer o comércio e as cidades. No processo desse renascimento, surgem na Itália, França, e na Grã-Bretanha as primeiras universidades do Ocidente. Mas é a partir do século XV que começam a ser construídos locais específicos para se ministrar o ensino superior.

Alexey Fedorenko/Shutterstock

Surgidas ainda na Idade Média, as universidades têm estilos arquitetônicos os mais diversos, combinando tradição e modernidade

Universidade de Cambridge (Grã-Bretanha)

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posztos/Shutterstock

O desenvolvimento do artesanato e do comércio dá origem às corporações de ofício, entre elas as de mestres dedicados a ensinar técnicas de escrita e cálculo e a formar estudantes em práticas jurídicas, comerciais e médicas. Essas corporações garantem a mestres e alunos uma relativa autonomia em relação à Igreja Católica, que então monopolizava o ensino e o saber. Na época, os professores ensinavam em pequenas casas e para poucos alunos. O primeiro estágio do ensino superior era a Faculdade das Artes, na qual se estudavam as “sete artes liberais”, o trivium – retórica, dialética e filosofia; e o quadrivium – geometria, aritmética, música e astronomia. Depois disso, poder-se-ia optar pelas disciplinas de Medicina, Direito ou Teologia. Ainda no século XII, com o aumento da demanda pelos cursos, os alunos que não provinham da aristocracia passam a se hospedar em dormitórios coletivos nas cidades. Com o crescimento desordenado destas, aumenta a distância entre os diversos núcleos urbanos, como o comércio, os serviços e as moradias. Por essa razão, torna-se mais conveniente para os mestres ministrar suas aulas nas próprias hospedarias, onde os alunos já estavam todos reunidos. Essas hospedarias são o embrião das grandes universidades europeias; com a expansão dos cursos e necessidade de se abrigar mais alunos e, principalmente, bibliotecas, elas darão lugar a prédios próprios. Mas essa transformação foi obra de séculos. “No século XV,

Universidade de Bolonha (Itália)

as universidades almejavam possuir prédios próprios para aulas e reuniões. Assim é que, afirma Verger, em Oxford, por volta de 1470, foram construídas as magníficas salas góticas da Divinity School para os teólogos. Em Bolonha, construíram-se as salas de aula, embora o Arquiginásio, prédio que durante séculos abrigou a universidade, date do século XVI. Em 1470, a Faculdade de Medicina de Paris adquiriu um prédio para nele se instalar”. (PINTO, Gelson de Almeida; e BUFFA, Ester. Arquitetura e educação: campus universitários brasileiros. São Carlos: Edufscar, 2009). As primeiras universidades europeias foram as de Bolonha (Itália, 1088), a Universidade de Paris (Sorbonne, 1150), Oxford (Inglaterra, 1167), Cambridge (Inglaterra, 1209), Salamanca (Espanha, 1218), Pádua (Itália, 1222), Coimbra (Portugal, 1290) e o Trinity College (Irlanda, 1592). A maior parte dos edifícios que hoje as abrigam seria construída em épocas posteriores, principalmente na Idade Moderna (a partir do

século XV). As construções dessas universidades geralmente se inspiram no estilo gótico das catedrais, como se observa em Oxford e no Trinity College. Baseando-se no historiador Paul Turner, os autores citados explicam que no século XV surgem os colleges, estabelecimentos permanentes, muitos dos quais destinados a abrigar estudantes pobres. “O primeiro destes colleges foi provavelmente o Merton College, de Oxford, fundado em 1264, destinado a estudantes já graduados (masters). Em 1379, foi fundado o New College, de Oxford, que oferecia alojamento e educação a estudantes ainda não graduados. No século XVI, esse sistema universitário de educação formado pelos colleges atingiu seu pleno desenvolvimento. Por sua vez, as universidades de Oxford e Cambridge (esta fundada por dissidentes de Oxford), no início do século XVII, atingiram o ponto alto do desenvolvimento”. Em decorrência da Reforma Protestante, Maio l Junho l Julho 2020

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Shaun in Japan/Shutterstock

Arquitetura no mundo

essas universidades rompem com suas tradições medievais, reformando o currículo. “Importa relembrar tudo isso porque Oxford e Cambridge, bem como algumas universidades escocesas, foram significativas para a criação dos colleges da América colonial, inclusive em termos de arquitetura”. A planta dos colleges era inspirada nos claustros medievais, nos quais o quadrângulo era o espaço articulador do edifício. “Era um retângulo cercado por arcadas sob as quais a circulação era livre, abertas nas laterais e cobertas. Nos colleges, o quadrândulo é um espaço cercado de edifícios, usualmente com dois andares, com um gramado simples ao centro e circulação aberta ao seu redor. Na maioria das escolas, esse espaço de circulação e lazer era destinados aos alunos mais adiantados (seniors) e permitia acesso interno

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a todos os edifícios” (PINTO e BOFFA, op. cit.). Como ressaltam os autores mencionados, havia uma clara distinção entre os colleges franceses e os ingleses. Na França, os colleges integravam o ensino secundário, clássico e humanista. Na Grã-Bretanha, eles faziam parte do ensino superior, preparando os alunos para a obtenção de títulos conferidos pelas universidades, embora eles mesmos não concedessem tais títulos. Já nos EUA, que adaptaram a herança britânica, os colleges eram instituições superiores independentes e que concedem títulos. O primeiro college dos EUA foi o de Harvard, em 1636. Surgem o campus Embora as universidades europeias se desenvolvessem como espaços especializados, de certa maneira afastados da comunidade em que estavam

inseridas, é nos Estados Unidos, a partir do século XVIII, que a noção de campus universitário surge como modelo peculiar de estabelecimento. Pinto e Buffa afirmam tratar-se de uma visão que é ao mesmo tempo aristocrática e utópica, esta última impregnada pela filosofia anti-urbana de Ralph Waldo Emerson e de Henry David Thoreau, segundo a qual o campus seria um local segregado, distante da turbulência da urbe, de modo a permitir o desenvolvimento livre do conhecimento científico. “O traço fundamental da educação superior norte-americana desde o período colonial é a concepção dos colleges e universities como comunidades nelas mesmas, isto é, como cidades microscópicas [...]. Os colleges e universities americanos construíram não apenas salas de aula e outros espaços acadêmicos, mas também dormitórios, refei-


Cornell (1865) e Dartmouth College (1769). Essas oito universidades integram a chamada Ivy League (liga das heras, plantas que cobriam seus edifícios antigos), que designa as universidades com maior excelência acadêmica e prestígio social dos EUA. Outro traço específico do college norte-americano é sua abertura para o mundo. “Desde o início, em Harvard, no século XVII, o college americano rejeitou a estrutura europeia de claustros em favor de edifícios separados, implantados em um espaço verde aberto. Esse ideal é tão forte nos EUA que mesmo as escolas localizadas em cidades, onde a terra é mais escassa, procuram áreas que simulem, de alguma forma, com muito verde, um rio ou um lago, uma espacialidade rural”, dizem Pinto e Buffa. O modelo do campus, segundo os autores, foi a Universidade

de Virgínia, fundada por Thomas Jefferson em 1819. Sendo uma universidade pública e não confessional, ela organizou o projeto do campus em torno da biblioteca, não da igreja. Esse modelo se consolidou em todos os Estados dos EUA e se espalhou pelos países da América Latina, inclusive o Brasil. Do ponto de vista arquitetônico, o impacto foi notável. “Adotando traçados variados, do pinturesco ao geométrico, com a presença em muitos planos do ideário formal do city beautiful e seus traçados à maneira do beau-arts, os campi dos EUA passaram ao longo do século XX a receber forte influência do urbanismo modernista, sobretudo depois da ida de inúmeros arquitetos europeus nos anos 1930 para o país. É assim que o Harvard Graduate Center é projeto de Walter Gropius (o pai da Shaun in Japan/Shutterstock

tórios e espaços recreativos. O trabalho do arquiteto não se resumia em projetar edifícios isolados, e sim uma comunidade inteira”. (PINTO e BUFFA, op. cit.). Para os autores, a romântica ideia de uma escola “na natureza”, apartada das “forças corruptoras” da cidade, tornou-se um ideal acadêmico norte-americano por excelência. “Nesse processo, o college transformou-se numa espécie de cidade em miniatura e seu desenho constitui um experimento de urbanismo” (Idem, op. cit.). Durante a época da colonização dos Estados Unidos (séculos XVII a XVIII), foram fundadas oito instituições que depois se tornariam grandes universidades: Harvard University (1636), Yale University (1701), Pennsylvania University (1740), Princeton University (1746) Columbia University (1754) Brown (1764), Universidade

de Oxford (Grã-Bretanha)

Universidade de Harvard (EUA)

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Noppasin Wongchum/Shutterstock

Arquitetura no mundo

Universidade

Estatal de Moscou (Universidade Lomonosov de Moscou)

Universidade de Tsinghua (Pequim)

Bauhaus, n.r.), enquanto que o campus do Instituto Illinois de Tecnologia é projeto de Mies van der Rohe, sendo que mais recentemente Rem Koolhas projetou sua área central, e o plano da Universidade de Harvard tem Le Corbusier entre seus autores”, (Carlos Roberto M. de Andrade, prefácio da op. cit.). A seguir, falemos um pouco sobre aspectos arquitetônicos das faculdades de arquitetura de algumas universidades europeias e americanas. Universidade de Bolonha (Itália) Fundada em 1088, a Universidade de Bolonha é considerada a universidade mais antiga da Europa Ocidental (Alma Mater Studiorum). Hoje, ela continua

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sendo uma das instituições mais importantes do ensino superior europeu. Além de Bolonha, a universidade tem campi em Cesena, Forlì, Ravenna, Rimini, e Buenos Aires. A Escola de Engenharia e Arquitetura de Bolonha consiste em dois complexos: o antigo, na Viale del Risorgimento, e o mais recente, na Via Terracini. O complexo mais antigo é um bom exemplo da arquitetura do século XX, projetada pelo arquiteto Giuseppe Vaccaro e inaugurado em 1935. Um grande edifício que atende a requisitos de estudo e pesquisa, sua principal característica arquitetônica é uma torre de tijolos vermelhos que abriga uma coleção de livros antigos. Inaugurado em 5 de maio de 2007, o complexo

Via Terracini é um edifício moderno e funcional. Universidade de Oxford (Grã-Bretanha) A arquitetura da cidade de Oxford é fortemente influenciada pelos edifícios da universidade de mesmo nome. É uma mescla dos estilos gótico e barroco. A Oxford School of Architecture foi fundada em 1927 por um pequeno grupo de arquitetos. Desde 2012 ela está abrigada no Abercombie Building, no campus de Headington, em Oxford. O edifício dispõe de um grande átrio que é parte essencial do sistema de ventilação natural. No verão, o ar fresco é obtido por meio das janelas no térreo; no inverno, a massa térmica do concreto exposto suaviza o calor.


Michalakis Ppalis/Shutterstock

Universidade de Cambridge (Grã-Bretanha) A Faculdade de Arquitetura e História da Arte de Cambridge foi criada depois da I Guerra Mundial (1914-1918), com a divisão em dois departamentos – Arquitetura e História da Arte – ocorrendo nos anos 1970. A Faculdade está localizada no Scroop Terrace, que são edifícios vitorianos construídos em duas etapas, em 1839 e 1864. Em 1958 foi construída uma extensão, projetada de acordo com os princípios do Sistema Modular de Le Corbusier, e inaugurada pelo próprio. Até o ano 2000, o jardim da faculdade continha uma cúpula geodésica do tipo das idealizadas pelo visionário arquiteto Richard Buckminister Fuller, erguida em 1964. Universidade de Harvard (EUA) A Harvard Graduate School of design da Universidade de Harvard foi estabelecida em 1936, localizada na cidade de Cambrid-

ge (EUA). Um de seus professores foi Walter Gropius. O edifício Gund Hall, que hoje abriga a escola, foi projetado em 1972 pelo arquiteto australiano John Andrews. A estrutura tem cinco níveis acima do solo e dois abaixo. Cinco terraços em degraus são cobertos por um único telhado de aço. Atrás de cada terraço, há escritórios, salas de seminários e salões. O edifício reúne as quatro divisões da Escola de Design – arquitetura, arquitetura paisagística, design urbano e planejamento urbano e regional. O fácil acesso a todas as partes do edifício permite a comunicação entre vários departamentos. Universidade Estatal de Moscou (Universidade Lomonosov de Moscou) Fundada em 1755, a Universidade Estatal de Moscou recebeu em 1940 o nome do polímata russo Mikhail Lomonosov. Já o edifício, construído em 1953,

faz parte da arquitetura stalinista, ou classicismo soviético, e integra um conjunto de edifícios semelhantes, chamados pejorativamente de “as sete irmãs”. Esse estilo arquitetônico característico é uma mistura de art nouveau com neoclassicismo e tem estruturas maciças e imponentes. O edifício da Universidade Estatal de Moscou tem 36 andares e uma altura de 240 metros. Acima do seu telhado há um pináculo de 57 metros que termina com uma estrela de cinco pontas de 12 toneladas. As torres laterais são mais baixas do que as centrais. Edifícios arquitetonicamente semelhantes – o equivalente soviético dos arranha-céus americanos – ainda estão espalhados em países do ex-bloco soviético, como Polônia e Letônia. Universidade de Tsinghua (Pequim) O campus da Universidade de Tsinghua está situado a noroeste de Pequim, onde ficam os jardins imperiais da dinastia Qing. A universidade Tsinghua foi fundada em 1911, ano em que a China se tornou uma república, com o objetivo inicial de preparar estudantes chineses para estudar nos EUA. Considerada a mais importante escola de arquitetura da China, a Tsinghua School of Architecture vem figurando nos principais rankings internacionais, há vários anos, dentre as dez melhores escolas de arquitetura do mundo. Em 2016, ocupou a 8ª posição no ranking global.¥

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Olhar do Arquiteto

Cristiane Zanella MetrĂ´ Bethesda, na cidade de Bethesda (Maryland/Estados Unidos)

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Rosimara Leite Ponte de ferro sobre o Rio Paraíba

Participe do Olhar do Arquiteto. Para isso, compartilhe sua foto no Instagram ou no Facebook usando a hashtag #minhafotonamobile. Mas ela precisa ser tirada em alta resolução e publicada em modo "público". Maio l Junho l Julho 2020

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Ouvidoria

Arquitetura e Urbanismo no pós-pandemia Por Affonso Risi, ouvidor do CAU/SP

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ada no mundinho dos Jetsons dos anos 60/80 nos preparava para o brave new world que estamos vivenciando nesse “admirável” século XXI, com uma “comemoração” desajeitada e indesejada do quase centenário da Gripe Espanhola, que matou mais gente do que a 1ª Grande Guerra. Miseravelmente derrotados por uma pandemia de agente invisível que, entretanto, nos mantém há meses confinados em quarentena, estamos em todo o mundo revendo, reavaliando, refazendo planos, enquanto esperamos por uma hipotética vacina, ainda na incerteza de quando efetivamente as coisas poderão voltar à antiga e conhecida normalidade. A questão que agora se coloca é se poderá ou será desejável o retorno a uma condição de que temos legítimas saudades, mas que também sabemos repleta dos problemas que se agravaram com a Covid-19 e hoje saltam aos olhos com clareza. Não aprendemos nada de essencialmente novo nos últimos meses, mas como ficaram evidentes, entre outras coisas, a insustentável desigualdade da sociedade e a inadequação de nossas cidades! Ganha urgência a superação de toda uma série de carências que foram se acumulando em décadas e são agora, como aliás sempre foram, inaceitáveis. O caráter injusto da sociedade brasileira não pode seguir invisível e nós, arquitetos, temos muito a

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colaborar nesse processo revelador e de transformação. Há uma enorme coleção de ideias, análises, propostas em nosso acervo cultural que, se puderem ser postas em prática, ajudarão a fazer cidades mais funcionais e menos problemáticas. No momento em que muitos estão temendo pelos empregos, como se fôssemos supérfluos e pudéssemos ser eliminados, não é possível dispensar arquitetos e urbanistas e seguir tolerando e convivendo com a condição miserável de habitação de milhões de pessoas. Juntamente com colegas de outras profissões também essenciais, temos o saber e os instrumentos técnicos capazes de transformar essa condição. É claro que a luta é sobretudo política e não está inteiramente em nossas mãos, mas é mais do que hora de treinarmos arquitetos e estudantes de Arquitetura e Urbanismo para o processo árduo de intervenção colaborativa


iluistrator/Shutterstock

nos assentamentos que deverão ser redesenhados para alcançar urbanidade. Anuncia-se um provável esvaziamento de boa parte dos edifícios de escritório, já que o trabalho à distância, que existia de forma incipiente, mas se tornou imperativo com a pandemia, parece ter vindo para ficar. Trancados em casa, os que podemos fazer isso, “descobrimos” algumas vantagens no trabalho aí desenvolvido e é bem possível, nos ansiados tempos da pós-pandemia, que esta passe a ser condição permanente, e certamente com economia considerável, em parte do funcionamento de muitas empresas. Apesar da angústia da quarentena (e da sensação inquietante de aceleração da passagem do tempo que muitos estamos sentindo), é frequente o testemunho dos que reconhecem a vantagem de estar mais horas ao lado da família. Os mecanismos que facilitam as reu-

niões virtuais de trabalho, que estão sendo rapidamente aprimorados, devem produzir economia, reduzindo deslocamentos urbanos e viagens, e o sucesso do procedimento dependerá do aprimoramento das ações de gerenciamento e comunicação. Disso tudo resultará, com certeza, uma nova cultura que não poderá, entretanto, prescindir da convivência presencial, como aprendemos a dizer agora, um dos tesouros maiores da vida e da vida na cidade. Passamos anos aprendendo a reciclar habitação em lugar de trabalho - casas e edifícios de apartamento que se transformaram em escritório, lojas, clínicas. Teremos de aprender o processo inverso, sobretudo nas áreas centrais: fazer habitação em edifícios de escritório, que serão total ou parcialmente esvaziados e onde, juntando

moradia, trabalho e serviços num mesmo endereço, poderá ser incentivado o desejável caráter multifuncional, tão favorável à boa vida da cidade. Isso, de certa forma, já vem acontecendo em edifícios centrais vazios que, depois de ocupações por movimentos sociais, são reciclados e transformados em habitação. Há muito a aprender com essas experiências. Conseguimos escapar dos horizontes sombrios delineados no 1984, de Orwell, e no Admirável Mundo Novo, de Huxley, e parece que, na verdade, só agora é que damos início ao século XXI. Depende de nossas cabeças e está em nossas mãos, portanto, fazermos com que não se concretize uma distopia para os que virão depois.¥

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Divulgação/Casa.com.br

fique atento

Desenhando à mão

Alexandre Oliveira - Jafo Fotografia

De autoria do arquiteto e urbanista Eduardo Bajzek, o livro “Técnicas de Ilustração à Mão Livre” apresenta todas as informações necessárias sobre a arte de desenhar à mão. Por meio de técnicas que vão da linha à perspectiva, do grafite à aquarela, o autor apresenta tais fundamentos de maneira prática, com exemplos de desenhos e sketches.

Divulgação

Conexão com a natureza

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Escrito e dirigido por Jean Bergerot, o documentário “Biofilia – Em busca da conexão” faz uma reflexão sobre a necessidade de trazer o natural para o dia a dia das pessoas, seja para os locais de trabalho ou para as residências. O filme, que também mostra a diferença entre Biofilia e Arquitetura sustentável, pode ser conferido no canal da produtora LabDesign.


Divulgação

Reconhecimento às mulheres O coletivo feminista Rebel Architette criou um mapa mundial de arquitetas. O objetivo é dar mais visibilidade às mulheres, ampliar o espaço para a participação feminina em palestras e eventos e fomentar oportunidades de trabalho. A ferramenta, que pode ser acessada no site do coletivo, permite o contato com todas as arquitetas listadas. E já tem brasileira no mapa!

Chema Llanos

Dica

de Graça Cunha, cantora

O Museu da Casa Brasileira – único do país especializado em Arquitetura e design – está comemorando 50 anos de existência. A celebração do aniversário deste importante espaço, que se situa na capital paulista, está sendo feita virtualmente, no site e nas redes sociais da instituição. Estão previstas diversas ações até o fim do ano.

Amo viajar e uma das grandes viagens que fiz foi para Cartagena das Índias. As praias são maravilhosas! Mas o que realmente chamou a minha atenção foi a Arquitetura colonial do lugar. Os prédios são belíssimos e lembram muita coisa do Brasil. Em alguns momentos, pareceu que eu estava em Paraty. Há monumentos lindos e a cidade é viva, colorida. Vale muito a pena conhecer!

Inspired By Maps/Shutterstock

Cinquentenário

Arquivo pessoal

Cartagena das Índias, na Colômbia

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Arquivo pessoal

Ponto de vista Felipe Torelli

Eu venci a Covid-19

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o dia 10 de fevereiro, eu e toda a minha equipe do meu escritório de Arquitetura fomos a São Paulo conferir as novidades apresentadas na Expo Revestir, no Transamérica Expo Center – os eventos ainda não tinham começado a ser cancelados no Brasil e pouco se falava sobre o coronavírus nos noticiários. Dias depois, caminhando por entre os canais da cidade, em Santos, encontrei com uma amiga de longa data, que havia ficado um bom tempo nos Estados Unidos. O abraço de despedida após 40 minutos de conversa pode ter sido o canal por meio do qual eu contraí o vírus. Pensei que fosse morrer! Foi essa a sensação que tive ao receber o diagnóstico positivo para a Covid-19. Estava começando a sentir os primeiros sintomas. Como pratico atividades físicas, imaginei que as dores fossem fruto de um mau jeito e me automediquei. Não surtiu efeito. Dias depois, liguei para o médico para saber se deveria ou não ir para o hospital. O médico me aconselhou a continuar em casa, pois naquele momento os hospitais já estavam cheios e tinha bastante gente infectada. A chegada da tosse e da falta de ar fez o conselho do médico mudar: era para eu ir ao hospital imediatamente. Assim que cheguei, fui submetido a uma tomografia, a exames clínicos e ao teste do coronavírus. Estava com 25% do pulmão comprometido e deveria ficar em isolamento total até o resultado do teste de Covid-19 chegar. Os dias de espera foram de puro sufoco, e receber o resultado não aliviou a tensão. Não cheguei a ser internado. Fiquei somente em observação e fiz todo o tratamento em casa. O mais importante era beber muita água e manter uma alimentação balanceada. Mesmo depois da alta, segui totalmente isolado e continuei em casa até a situação se normalizar.

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A rotina profissional mudou muito. E o fato de estar com os funcionários trabalhando cada um em sua casa tem atrapalhado todo o processo criativo"

Os dias em que fiquei em total recolhimento, cumprindo a quarentena, foram complicados. Estava muito debilitado e com dificuldade para trabalhar. A rotina profissional mudou muito. E o fato de estar com os funcionários trabalhando cada um em sua casa tem atrapalhado todo o processo criativo. Ao mesmo tempo, penso muito no bem-estar dos meus funcionários e sei da importância de zelar por eles. Adotamos rotinas diferentes e estamos, até hoje, fazendo revezamento dentro do espaço, com dias e horas diferentes para uso. Em relação às obras, algumas seguiram. Outras, por se tratarem de reformas residenciais, foram paralisadas e estão retornando agora, depois de algumas normativas do governo serem adotadas. Para as obras de rua, no caso de uma edificação em que estamos trabalhando, seguimos da mesma forma. Os atendimentos estão sendo feitos via internet, no formato de videoconferência, tanto com clientes quanto com fornecedores em geral. Este é um momento difícil para todos, mas vai passar. Um conselho: tomem os cuidados devidos! Pois os momentos que enfrentei não foram agradáveis.

Felipe Torelli Arquiteto e urbanista




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