Móbile #17 | Projeto bem estudado

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#17

Abril l Maio l Junho 2019 ISSN 2448-3885

Revista do CAU/SP

Projeto bem estudado Instituições de ensino com bons projetos de Arquitetura possibilitam melhor relação do espaço com o aprendizado

Bate-Papo

Trabalho de Ruy Ohtake é marcado por curvas, cores, ousadia e coragem

Em Debate

Os desafios da atuação em ATHIS

Escola Estadual Jornalista Roberto Marinho (Campinas, SP)


LÁPIS

NA PONTA DO

LUIS FERNANDO CAMPANELLA ROCHA

Projeto de um CoLabs, espaço colaborativo situado na cidade de São Paulo, a proposta é reunir vários designers em um único local. Um café fará a recepção e, no interior, uma galeria abrigará produtos de parceria entre o curador do espaço e amigos convidados. Uma caixa de metal com uma coleção de formas antigas de madeira compõe a fachada. A ideia do projeto é trazer de volta tudo que um dia já teve seu ápice mas, com o tempo, assumiu outro valor. O tijolo aparente e os pisos em madeira autoclave garantem ao espaço esta atmosfera.


EDITORIAL CCOM

ÍNDICE

30 I Reportagem especial

Arquitetura Escolar

22 I Bate-papo Ruy Ohtake

54 I Arquitetura no Mundo

Europa e América Latina (além do Brasil) experimentam as ciclofaixas

18 I Em Debate

Os desafios da assistência técnica para habitação social

38 I Concurso

Centro Administrativo de Ribeirão Preto

58 I Inovação e empreendedorismo Governo e iniciativa privada lançam bibliotecas de BIM

E MAIS: 06 10 12 14 44 48 50 62 64 66

I I I I I I I I I I

CAU/SP em Ação Regionais Curtas do CEAU Institucional Seminário Internacional Parcerias Especial UIA 2020 Ouvidoria Fique Atento Ponto de Vista

T

odo arquiteto até a formação completa passa no mínimo 17 anos dentro de uma sala de aula, sem contar os anos de mestrado, doutorado e pós-doutorado. A escola, o colégio, a universidade e todo o complexo que colabora com a formação do indivíduo fazem parte desse crescimento. Com este olhar, nesta edição, trazemos como matéria de capa da Móbile #17 a Arquitetura Escolar, ressaltando a importante tarefa dos arquitetos e urbanistas que projetam ambientes escolares, com o desafio de criar espaços que estimulem a aprendizagem dos alunos. Na seção Em Debate duas profissionais discorrem sobre suas experiências em habitação de interesse social, setor para o qual o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de cada Estado destina 2% de seu orçamento para apoio a ações estratégicas, que possam colaborar na diminuição do problema cada vez maior da falta de moradia. Com mais de 300 projetos espalhados pelo mundo e obras icônicas no Brasil, marcadas pelas curvas e cores, o arquiteto e urbanista Ruy Ohtake concede entrevista para a revista. Graduado pela FAU-USP em 1960, tendo como influenciadores Oscar Niemeyer e Vilanova Artigas, conta sobre sua forma de projetar, a convivência e influência de sua mãe, a artista Tomie Ohtake, e sobre sua carreira de arquiteto e designer de objetos. Na seção Concurso, destacamos os projetos ganhadores do concurso público para elaboração do anteprojeto arquitetônico para o Centro Administrativo de Ribeirão Preto. Vale a pena conferir! Com o tema “Qualidade de Ensino e Mobilidade Profissional em Debate”, a Comissão de Ensino e Formação do CAU/SP, em parceria com o CAU/BR, promoveu no mês de maio um seminário internacional que reuniu profissionais da área tanto do Brasil como de diversos países. As experiências trazidas ao debate alargam as fronteiras e trazem novos desafios aos arquitetos e urbanistas. A seção Arquitetura no Mundo traz um tema de política de mobilidade urbana que em todo o mundo se mostra cada vez mais atual: a bicicleta e seu espaço. Confira também a entrevista com o arquiteto e urbanista Roberto Simon sobre a 27ª. edição do Congresso Mundial da UIA Rio 2020. Boa leitura!! Nancy Laranjeira Tavares de Camargo Coordenadora da CCom. Comissão Especial de Comunicação do CAU/SP * revista@causp.gov.br Nancy Laranjeira Tavares de Camargo Coordenadora Maria Alice Gaiotto Coordenadora Adjunta

Claudio Zardo Búrigo Marcia Helena Souza da Silva Martin Corullon

As ideias ou opiniões expostas nos artigos ou textos dos colaboradores são de responsabilidade dos próprios autores, não refletindo, necessariamente, a opinião ou posicionamento do CAU/SP.

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EXPEDIENTE

CONSELHO DIRETOR José Roberto Geraldine Junior Presidente Valdir Bergamini Vice-presidente José Antonio Lanchoti (Coordenador) Comissão de Ensino e Formação (CEF – CAU/SP) Anita Affonso Ferreira (Coordenadora) Comissão de Ética e Disciplina (CED – CAU/SP) Alex Marques Rosa (Coordenador) Comissão de Exercício Profissional (CEP – CAU/SP) CONSELHEIRAS FEDERAIS Nadia Somekh Titular

Helena Aparecida Ayoub Silva Suplente

CONSELHEIROS ESTADUAIS - TITULARES Adriana Blay Levisky Guilherme Carpintero de Carvalho Alan Silva Cury José Antonio Lanchoti Alex Marques Rosa Jose Marques Carrico André Luis Queiroz Blanco José Roberto Geraldine Junior Angela de Arruda Camargo Amaral Luiz Antonio Cortez Ferreira Angela Golin Luiz Antonio de Paula Nunes Anita Affonso Ferreira Marcelo Martins Barrachi Carlos Alberto Palladini Filho Marcia Helena Souza da Silva Carlos Alberto Silveira Pupo Marco Antonio Teixeira da Silva Cassia Regina Carvalho de Magaldi Marcos Cartum Catherine Otondo Maria Alice Gaiotto Claudio de Campos Maria Fernanda Avila de Sousa Claudio Zardo Búrigo da Silveira Delcimar Marques Teodoro Maria Rita Silveira de Paula Amoroso Denise Antonucci Mario Wilson Pedreira Reali Dilene Zaparoli Marta Maria Lagreca de Sales Edson Jorge Elito Martin Gonzalo Corullon Fernanda Menegari Querido Mauro Claro Fernando de Mello Franco Mel Gatti de Godoy Pereira Flavio Marcondes

Miguel Antonio Buzzar Miriam Roux Azevedo Addor Nabil Georges Bonduki Nancy Laranjeira Tavares de Camargo Nelson Gonçalves de Lima Junior Paulo Marcio Filomeno Mantovani Poliana Risso Silva Ueda Rafael Paulo Ambrosio Rossella Rossetto Ruy dos Santos Pinto Junior Salua Kairuz Manoel Silvana Serafino Cambiaghi Tercia Almeida de Oliveira Valdir Bergamini Vanessa Gayego Bello Figueiredo Vera Santana Luz Vinicius Hernandes de Andrade Violeta Saldanha Kubrusly

CONSELHEIROS ESTADUAIS - SUPLENTES Adalberto da Silva Retto Junior Fabiano Puglia Moreno Marin Ailton Pessoa de Siqueira Fabio de Almeida Muzetti Ana Cristina Gieron Fonseca Fábio Mariz Gonçalves Ana Lucia Ceravolo Flavia Regina de Lacerda Abreu André Gonçalves dos Ramos Gianfranco Vannucchi Andre Luis Avezum Jeane Aparecida Rombi de Godoy Rosin Andressa Rodriguez Hernandez Katia Piclum Versosa Breno Berezovsky Laura Lucia Vieira Ceneviva Carlos Antonio Spinhardi Leda Maria Lamanna Ferraz Rosa Van Carolina Margarido Moreira Bodegraven Cícero Pedro Petrica Leila Regina Diegoli Consuelo Aparecida Gonçalves Gallego Liana Paula Perez de Oliveira Daniela da Camara Sutti Lizete Maria Rubano Daniela Perez Nader Andréo Lua Nitsche Danusa Teodoro Sampaio Luiz Eduardo Siena Medeiros Eduardo Trani Marcelo Consiglio Barbosa Eleusina Lavor Holanda de Freitas Marise Cespedes Tavolaro Enio Moro Junior Mauro Ferreira Eurico Pizao Neto Milton Liebentritt de Almeida Braga

Natália Costa Martins Patricia Robalo Groke Paulo de Falco Epifani Paulo Machado Lisbôa Filho Raquel Rolnik Raquel Vieira Feitoza Renata Alves Sunega Renato Matti Malki Ricardo Aguillar da Silva Roberto Claudio dos Santos Aflalo Filho Roberto Loeb Sami Bussab Sarah Feldman Sergio Baldi Sergio de Paula Leite Sampaio Silvana Dudonis Vitorelo Iizuka Sofia Puppin Rontani Weber Sutti

EXPEDIENTE CCOM Conselho e coordenação editorial Daniele Moraes Coordenadora de Comunicação Epaminondas Neto Técnico de Comunicação

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Carlos Alberto Silveira Pupo (Coordenador) Comissão de Fiscalização (CF – CAU/SP) Tercia Almeida de Oliveira (Coordenadora) Comissão de Organização e Administração (COA – CAU/SP) Marco Antonio Teixeira da Silva (Coordenador) Comissão de Planejamento e Finanças (CPFi – CAU/SP)

Editado por Ex Libris Comunicação Integrada Jornalista: Jayme Brener (Mtb 19.289) Editor: Renato Vaisbih Textos: Marco Paulo Ferreira, Silvia Lakatos, Daniele Moraes, Epaminondas Neto, Catarine Figueiredo e Marcela Roldão. Projeto gráfico e diagramação: Regina G. Beer Impressão: Coan Industria Grafica Ltda. Tiragem: 57 mil exemplares revista@causp.gov.br

COMISSÕES ORDINÁRIAS Comissão de Ensino e Formação do CAU/SP José Antonio Lanchoti (Coordenador), Flavio Marcondes (Coordenador Adjunto), Nelson Gonçalves de Lima Junior, Delcimar Marques Teodozio, José Marques Carriço, Miguel Buzzar, Mauro Claro, Vera Santana Luz, Vinicius Hernandes de Andrade, Fernando de Melo Franco, Vanessa Bello Figueiredo Comissão de Ética e Disciplina do CAU/SP Anita Affonso Ferreira (Coordenadora), Marcos Cartum (Coordenador Adjunto), Luiz Antonio de Paula Nunes, Denise Antonucci, Cassia Regina Magaldi, Marcia Helena Souza da Silva, Claudio Zardo Búrigo, Poliana Risso Silva Ueda, Rafael Paulo Ambrosio Comissão de Exercício Profissional do CAU/SP Alex Marques Rosa (Coordenador), Dilene Zaparoli (Coordenadora Adjunta), Alan Silva Cury, Luiz Antonio Cortez Ferreira, Claudio de Campos, Maria Fernanda A. de S. da Silveira, Catherine Otondo, Martin Gonzalo Corullon, Carlos Alberto Palladini Filho Comissão de Fiscalização do CAU/SP Carlos Alberto Silveira Pupo (Coordenador), Paulo Marcio Filomeno Mantovani (Coordenador Adjunto), Marcelo Martins Barrachi, Silvana Serafino Cambiaghi, Mel Gatti de Godoy Pereira, Angela Golin, Guilherme Carpintero, Salua Kairuz Manoel Comissão de Organização e Administração do CAU/SP Tercia Almeida de Oliveira (Coordenadora), Adriana Blay Levisky (Coordenadora Adjunta), André Luis Queiroz Blanco, Ruy dos Santos Pinto Junior, Violêta Saldanha Kubrusly, Marta Maria Lagreca de Sales, Nabil Georges Bonduki, Rossella Rossetto Comissão de Planejamento e Finanças do CAU/SP Marco Antonio Teixeira da Silva (Coordenador), Miriam Roux Azevedo Addor (Coordenadora Adjunta), Edson Jorge Elito, Nancy Laranjeira Tavares de Camargo, Maria Rita Silveira de Paula Amoroso, Maria Alice Gaiotto, Angela de Arruda Camargo Amaral, Fernanda Menegari Querido, Mario Wilson Pedreira Reali COMISSÕES ESPECIAIS Comissão de Desenvolvimento Profissional do CAU/SP André Luis Queiroz Blanco (Coordenador), Fernanda Menegari Querido (Coordenadora adjunta), Maria Fernanda Avila de Sousa da Silveira, Luiz Antonio de Paula Nunes, Claudio de Campos Marta Comissão de Política Urbana, Ambiental e Territorial do CAU/SP Nabil Georges Bonduki (Coordenador), Adriana Blay Levisky (Coordenadora adjunta), Paulo Marcio Filomeno Mantovani, Miguel Antonio Buzzar, Maria Lagreca de Sales Comissão de Comunicação do CAU/SP Nancy Laranjeira Tavares de Camargo (Coordenadora), Maria Alice Gaiotto (Coordenadora adjunta), Claudio Zardo Búrigo, Marcia Helena Souza da Silva, Martin Gonzalo Corullon Comissão de Relações Institucionais do CAU/SP Marcelo Martins Barrachi (Coordenador), Edson Jorge Elito (Coordenador adjunto), Ruy dos Santos Pinto Junior, Poliana Risso Silva Ueda, Nelson Goncalves de Lima Junior Comissão de Patrimônio Cultural do CAU/SP Maria Rita Silveira de Paula Amoroso (Coordenador), Vanessa Gayego Bello Figueiredo (Coordenadora adjunta), Cassia Regina Carvalho de Magaldi, Carlos Alberto Palladini Filho, Dilene Zaparoli


PALAVRA DO PRESIDENTE

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Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/ SP) teve uma série de eventos e realizações importantes nos últimos meses. Entre eles, deve-se ressaltar o prestigiado seminário internacional "Qualidade de Ensino e Mobilidade Profissional", cuja cobertura completa pode ser acessada nesta edição e também no site do CAU/SP (www.causp.gov.br). Realizado em São Paulo, esse evento contou com a presença de representantes de instituições de ensino e organizações internacionais ligadas à educação superior e, mais especificamente, à área de Arquitetura e Urbanismo, reunindo mais de 300 participantes. Troca de informações e experiências, debates sobre o panorama internacional de ações, diretrizes curriculares, acreditação de cursos e mercado de trabalho foram alguns dos destaques do Seminário, que reuniu as principais entidades do setor no país. O curso de Arquitetura e Urbanismo é oferecido em mais de 180 instituições de ensino superior somente no Estado de São Paulo. Milhares de novos profissionais entram no mercado de trabalho anualmente, após o devido registro emitido pelo CAU. Assim, entre 2012 e 2018, o número de profissionais ativos em São Paulo saltou de 38 para 55 mil. O aumento contínuo do contingente de arquitetos e urbanistas registrados exige do Conselho a permanente qualificação de sua gestão administrativa. E foi com esse objetivo e a fim de ampliar a capacidade de fiscalização profissional que o plenário do CAU/SP aprovou, no mês de maio, uma reformulação organizacional. Um concurso público deverá ser realizado para que o efetivo de fiscais seja dobrado. Outras medidas devem ser implementadas gradualmente e contingenciadas ao planejamento orçamentário da autarquia. Outra novidade recente foi a aprovação pelo plenário do CAU/BR, de uma nova modalidade de Registro de Responsabilidade Técnica, o chamado RRT Social, que deve atender os programas e projetos de Assistência Técnica de Habitação de Interesse Social (Athis). O documento permite registrar em um único RRT mais de uma atividade de Projeto, Execução e Atividades Especiais – simplificando a documentação do trabalho.

Daia oliver

Seminário, ensino, estrutura e ATHIS em destaque

José Roberto Geraldine Junior Presidente

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CAU/SP EM AÇÃO

Manifestação de apoio à Emplasa

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Plenário do Conselho lançou no final de março um manifesto pela manutenção da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano SA (Emplasa), após notícias sobre a possível privatização da estatal. “O CAU/SP reconhece na Emplasa, que sempre tem apoiado o trabalho dos arquitetos e urbanistas e o planejamento urbano no Estado do São Paulo, um papel fundamental no cumprimento do Estatuto

da Metrópole e Estatuto da Cidade, que são conquistas da nossa sociedade e temas muito caros aos profissionais da Arquitetura e Urbanismo”, apontam os conselheiros no manifesto. A íntegra pode ser lida neste link: http://bit.do/eSpbp

Acervo CAU/SP

Justiça reconhece direito dos arquitetos e urbanistas em projetos de baixa tensão

N Aprovada renovação do convênio com Defensoria Pública

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m abril, o Plenário do CAU/SP aprovou a renovação do convênio da autarquia com a Defensoria Pública do Estado de São Paulo. Pelo convênio, o CAU/SP recebe as inscrições dos profissionais interessados em prestar serviços de assistência técnica — de acordo com as atribuições profissionais determinadas pela Lei Federal Nº 12.378/10 e Resoluções do CAU/BR. Dessa forma, o arquiteto e urbanista inscrito fica disponível para atuar como Assistente Técnico de Perícia nas ações patrocinadas pela Defensoria Pública. Um edital para chamar os profissionais já foi lançado em junho.

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os últimos anos, algumas concessionárias de energia se negaram a aceitar projetos de energia elétrica de baixa tensão executados por profissionais arquitetos e urbanistas. Regularmente, o Conselho tem recorrido à Justiça para garantir o direito dos profissionais. Dessa vez, a ação coletiva foi impetrada contra a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL). No final de março, a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região deu provimento ao recurso interposto pelo Conselho, entendendo que “a restrição ao exercício de atribuições profissionais aos arquitetos e urbanistas configura-se inadmissível, ferindo o direito constitucional de livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, determinado no artigo 5º, inciso XIII, da Constituição Federal”, conforme transcrito no acórdão.


Acervo CAU/SP

Seminário discute acessibilidade de calçadas na capital

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s percalços enfrentados pelas pessoas com mobilidade reduzida foram o grande tema do seminário promovido pela Comissão Temporária de Acessibilidade do CAU/SP, em parceria com a Secretaria Municipal da Pessoa

com Deficiência de São Paulo, no final de março. Autoridades, especialistas do setor público e da iniciativa privada e cidadãos com diversos graus de deficiência ou mobilidade reduzida abordaram os desafios e as possíveis

soluções no prédio do Centro Cultural São Paulo, no bairro paulistano do Paraíso. O Plenário do Conselho, em sua reunião de abril, aprovou a renovação do convênio com a Secretaria Municipal e já está em planejamento um novo encontro sobre o tema para o segundo semestre.

CAU/UFs debatem implementação de sistema de gestão integrada

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Acervo CAU/RS

m maio, o CAU/SP participou de reunião na capital gaúcha com o CAU/BR e outros Conselhos para discutir os detalhes da implementação de um Sistema de Gestão Integrada (SGI). SGIs permitem o planejamento estratégico das atividades de uma corporação, integrando diversos ramos de atividade, tais como as áreas de RH, os setores financeiro e administrativo. O sistema também permite o cadastramento de planos de ação, o que gera controle e acompanhamento do gasto do dinheiro público. Abril l Maio l Junho 2019

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CAU/SP EM AÇÃO

Acervo CAU/SP

Em defesa do ensino presencial

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pós a deliberação do Plenário do CAU/BR, vetando a concessão de registro profissional a egressos de cursos na modalidade ensino a distância, os CAU/UFs lançaram uma série de iniciativas para informar a sociedade e os profissionais arquitetos e urbanistas sobre as razões deste veto. Em abril, o CAU/SP lançou uma série de vídeos, já disponíveis em seu canal no YouTube (www.youtube. com/user/comunicacaocausp), com depoimentos de colegas profissionais sobre a importância do ensino presencial para a formação dos futuros arquitetos. Ainda naquele mês, o Fórum de Presidentes dos CAU/UF também discutiu a preparação de uma campanha pública e nacional para esclarecer a posição dos Conselhos sobre o ensino a distância. E, no início do maio, o jornal Folha de S.Paulo publicou artigo de opinião assinado pelo presidente do CAU/BR, Luciano Guimarães, e pelo coordenador-adjunto da Comissão de Ensino e Formação (CEF-CAU/BR), Juliano Ximenes Ponte. No artigo, Guimarães e Pontes ressaltam o risco da expansão da modalidade a distância, sem o devido acompanhamento de qualidade, em profissões que envolvem a saúde, a segurança e o bem-estar da população.

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Capacitação gratuita para RRT e acervo técnico

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ara ajudar os profissionais a utilizar os amplos recursos do Sistema de Informação e Comunicação do CAU (Siccau), desde março o Conselho tem oferecido cursos gratuitos sobre a emissão do Registro de Responsabilidade Técnica (RRT), da Certidão de Acervo Técnico e sobre as resoluções que tratam do exercício profissional, além do uso da Tabela de Honorários do CAU/BR. Uma iniciativa da Comissão de Exercício Profissional, os cursos são realizados na sede do CAU/SP, em São Paulo, mas começam a se espalhar pelo interior: Indaiatuba e Cotia receberam os primeiros treinamentos fora da capital.

Orientações sobre legislação e valorização profissional

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residente Prudente sediou em maio a mais nova edição do projeto “Profissão Arquiteto”, realizado pela Comissão de Fiscalização do CAU/SP, dirigido tanto a profissionais quanto a estudantes de Arquitetura e Urbanismo. Além de informar a respeito do combate ao exercício ilegal da profissão, a proposta desta palestra foi esclarecer dúvidas a respeito da legislação vigente, entre outros temas.


Agencia Brasil

Comissões de Ética abordam legislação profissional

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Comissão de Ética e Disciplina (CED) do CAU/BR realizou, entre os dias 16 e 17, na capital paulista, o seu 18º Seminário Regional, com apoio e organização do CAU/SP. Os representantes das CEDs dos CAU/UFs discutiram a atuação das Comissões de Ética e a legislação. Também foi colocada em pauta uma revisão da Resolução Nº 143 do CAU/BR, que trata das normas para a condução dos processos éticodisciplinares. Durante o seminário, os participantes fizeram visitas técnicas a dois marcos arquitetônicos da capital: o Theatro Municipal de São Paulo e o complexo cultural Praça das Artes (foto).

Sobre a tragédia de Muzema, no Rio de Janeiro

Acervo CAU/SP

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o dia 12/04, dois prédios desabaram em Muzema, comunidade da Zona Oeste da capital fluminense. Pelo menos duas dezenas de pessoas morreram na ocasião. As construções eram irregulares. Sob o impacto deste acidente, o CAU/ BR, CAU/RJ e CAU/SP divulgaram um manifesto sobre o ocorrido, solidarizandose com as vítimas e apontando o conjunto de problemas que permitiu o acidente: “Infelizmente, essas tragédias vêm ocorrendo com frequência espantosa e de modo generalizado pelo país. (...) No entanto, insistimos em relegar prioridade para uma agenda urbana que se impõe e demanda uma radical mudança de ação do Poder Público e sua relação com a sociedade”. A íntegra do manifesto pode ser lida aqui: http://bit.do/ manifesto-muzema

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REGIONAIS

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Bauru

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escritório descentralizado de Bauru focou seu trabalho na realização de coletas biométricas. Foram cadastrados mais de 50 arquitetos e urbanistas ao longo deste primeiro trimestre, distribuídos pelas cidades de Bauru, Botucatu, Marília, Jaú e Ourinhos, conforme o subgerente Wagner Domingos. Além do registro de profissionais, foram verificadas oito denúncias na região, feitas 16 notificações de empresas sem registro no CAU e fiscalizadas 14 obras. O subgerente também representou o Conselho na colação de grau da Unesp Bauru e Unilins, em Lins. Em fevereiro, formou-se a 4ª Turma do Projeto Arquiteto Empreendedor do Sebrae.

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Mogi das Cruzes

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o mês de março, a sede de Mogi das Cruzes recebeu a semana de coleta biométrica para emissão da carteira de Identidade Profissional. Ocorreram as colações de grau da Universidade Braz Cubas, da Universidade Mogi das Cruzes e da Universidade de Guarulhos, e o CAU/ SP, representado pela subgerente Jane Marta, foi convidado a compor a mesa para dar as boas-vindas aos novos profissionais e entregar kits de destaque acadêmico. A subgerente também esteve presente nas audiências públicas de apresentação do Plano Diretor em Mogi das Cruzes e do Plano de Mobilidade, em Suzano.

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Campinas

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m Campinas, o escritório descentralizado tem acompanhado grandes projetos, como o Plano Diretor Metropolitano e Lei REURB (regularização fundiária urbana), que busca atender diretamente os arquitetos na aprovação de projetos de forma rápida. A regional também se aproxima cada vez mais das coordenações de curso da região para ampliar as atividades educacionais e promover não somente palestras sobre a importância do CAU na sociedade, como também atividades que agreguem conteúdo à bagagem cultural dos profissionais, informou o subgerente Victor Chinaglia Jr.

Presidente Prudente

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m Presidente Prudente, mais de 40 profissionais foram cadastrados por meio da coleta biométrica. Na região, formou-se a 2ª Turma do Projeto Arquiteto Empreendedor, promovido pelo Sebrae e divulgado pelo CAU/SP. O subgerente Wagner Domingos esteve presente na colação de grau no campus de Assis da Universidade Paulista (Unip), no mês de fevereiro. A regional promoveu reuniões de aproximação com os alunos da Unesp e da Unoeste, com o intuito de apresentar e divulgar o Conselho.

Ribeirão Preto

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o longo dos primeiros cinco meses do ano, o escritório descentralizado de Ribeirão Preto realizou mais de 1.500 atendimentos pessoalmente, por telefone ou por e-mail. A coleta biométrica foi outra atividade realizada pela regional, registrando 73 arquitetos e urbanistas. O CAU/SP foi convidado a compor a mesa e usar a palavra nas solenidades de colação de grau do Centro Universitário Barão de Mauá, da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp) e do Centro Universitário Moura Lacerda. O subgerente Éder Silva também informou que as bibliotecas dessas instituições receberam doações de publicações fomentadas pelo CAU/SP.

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São José do Rio Preto

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o mês de abril, foram feitas as coletas biométricas em São José do Rio Preto, Araçatuba e Votuporanga, totalizando 103 cadastros. O evento ARQ DESIGN recebeu o apoio do escritório descentralizado, que disponibilizou palestras para os participantes. O setor de Fiscalização, por sua vez, realizou diversas visitas técnicas para orientar profissionais e órgãos públicos. Representantes do Conselho compareceram às colações de grau de todas as faculdades de Arquitetura da região, acompanhados pelo subgerente Kedson Barbero.

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ABC

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escritório do ABC “vem consolidando cada vez mais sua aproximação com os arquitetos e urbanistas da região, defendendo a boa prática da Arquitetura”, relatou o subgerente Felipe Ramos de Oliveira. Em São Caetano do Sul e Ribeirão Pires, o CAU/SP recebeu o apoio logístico das associações de engenheiros e arquitetos para realizar a coleta de dados biométricos dos recém-formados. O escritório descentralizado se aproximou das instituições de ensino realizando palestras sobre as funções do CAU para os estudantes.

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Sorocaba

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CAU/SP esteve presente em colações de grau nas cidades de Sorocaba e Itatiba. Na solenidade, os formandos receberam kits com as publicações do Conselho das mãos do subgerente Carlos Eduardo Gomes Gatti, que também entregou menções honrosas aos alunos que se destacaram academicamente. Mais de 300 profissionais da região foram atendidos para tirar dúvidas sobre registro de pessoa física e pessoa jurídica, preenchimento de RRT e outros assuntos referentes ao exercício da profissão. Em Sorocaba, Itu, Salto, Itapetininga e São Roque tem sido feita, desde o início do ano, a coleta de dados biométricos, e cerca de 75 arquitetos já tiveram seus dados registrados.

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Santos

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o litoral Sul, um comitê técnico do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) delibera sobre a possibilidade de transformar a fortaleza de Santos em um patrimônio histórico da humanidade. Já houve uma audiência pública sobre o tema, à qual compareceu o subgerente Daniel Proença. Com o apoio de todas as associações de engenheiros e arquitetos da Baixada Santista, foram realizadas as coletas biométricas de novos profissionais na região.

São José dos Campos

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o primeiro trimestre do ano, foram realizados atendimentos aos profissionais dos 39 municípios abrangidos pelo escritório descentralizado de São José dos Campos. Os arquitetos e urbanistas da região puderam participar de treinamentos e capacitações sobre as resoluções do CAU/ BR, o funcionamento do SICCAU, Tabela de Honorários e outros assuntos pertinentes ao exercício profissional, relatou o subgerente Paulo André Cunha Ribeiro. A equipe de fiscalização realizou 25 vistorias entre as cidades de São José dos Campos, Taubaté e Pindamonhangaba.

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CURTAS DO CEAU

I AsBEA

Aniversário sem festa

O Paisagem e artes

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om parceria de fomento do CAU/SP, foi realizado pela Abap o “5º CIAP PAISAGEM E ARTE - Congresso Internacional de Arquitetura Paisagística”, entre os dias 28 e 30 de abril. De acordo com a presidente da Abap, Luciana Schenk, a temática do evento surgiu de uma questão fundamental: “projetar a paisagem é projetar uma experiência de espectro cultural, social, artístico, político”. A Abap também organizou, entre os dias 27 de abril e 1º de maio, o evento “Jornadas da Paisagem”, que possibilitou a associados e interessados realizar visitas técnicas à Fazenda Vargem Grande, com paisagismo de Roberto Burle Marx, e ao Jardim Botânico Plantarum, idealizado por Harri Lorenzi.

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Henrique Mélega Re, vice-presidente da AsBEA Shutterstock

I ABAP

incêndio e desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, no centro de São Paulo, completaram um ano no dia 1º de maio. De propriedade da União, mas abandonado e ocupado irregularmente sem as menores condições de segurança, o prédio estava em tal estado de deterioração que anunciava o desastre. Qual é a relação entre o fato de edifícios dessa importância ficarem desocupados com o déficit habitacional; a desolação do centro da cidade; as operações urbanas; os planos de intervenções urbanas; as outorgas onerosas e os Cepacs? Absolutamente nenhuma! O problema é exatamente este, pois assuntos que deveriam estar interligados, entrelaçados para a obtenção de soluções inteligentes para a cidade não são coordenados! Se temos um terreno e dinheiro oriundo do ônus para obtenção de potencial construtivo e/ou cota de solidariedade, o que falta para investirmos corretamente no desenvolvimento urbano?


AB-SP

I IAB-SP

Hora do cafezinho

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IAB-SP ganhou um novo espaço de convivência em seu edifício-sede, o Café Bento 43. A novidade, possível após o restauro que recuperou o uso do mezanino, vem contribuir para tornar a sede paulista do Instituto um centro de discussões da cultura arquitetônica. Um lugar de encontro para cursos, palestras, exibições de filmes, agora com espaço próprio para um bate-papo informal sobre os rumos da cidade. Tudo acompanhado de café, salgados e bolos que podem ser saboreados nas mesas do mezanino e nas espreguiçadeiras da varanda. (R. Bento Freitas, 306, República, região central. De segunda a sábado, das 9h às 19h).

I SASP

O combinado não sai caro

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uitos problemas nas relações de trabalho e de prestação de serviços em Arquitetura e Urbanismo podem ser evitados com um bom contrato. Os contratos repetem uma série de itens amparados nas legislações vigentes, porém são específicos para cada trabalho a ser desenvolvido. Eles devem deixar clara a relação entre as partes e prever situações que geralmente ocorrem entre profissionais e clientes, empregados e patrões. Além de um bom contrato, a definição da melhor forma de emissão de recibos de pagamentos ajuda arquitetos e urbanistas a não perderem recursos com taxas desnecessárias; multas e ações de danos ou trabalhistas, ocasionadas por falta de orientação correta. Caso haja alguma dúvida jurídica ou contábil no exercício da Arquitetura e Urbanismo, os arquitetos, urbanistas e estudantes podem entrar em contato direto com o SASP pelo e-mail: atendimento@sasp.arq.br ou telefone (11) 3229 7989. Além disso, o SASP oferece convênios de descontos em planos de saúde, odonto, universidades e softwares da área. Saiba mais em www.sasp.arq.br .

I ABEA

Novos conhecimentos, novas propostas

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Abea vem se dedicando a sistematizar as contribuições à construção de novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Arquitetura e Urbanismo oriundas das reuniões que estão acontecendo em diversos formatos e em todas as regiões do Brasil. Este trabalho vem sendo realizado em conjunto com a Comissão de Ensino e Formação do CAU/BR, a partir do documento preparado pela Abea, baseado na Lei Federal no 12378/2010; na Resolução CNE/CES 02/2010 – que define a DCN atual do nosso curso –, na Carta para a Educação dos Arquitetos da Unesco/UIA e em outras DCNs de diversos cursos, com a finalidade de verificar novos procedimentos e entendimentos sobre metodologias de aprendizagem.

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INSTITUCIONAL

Nova estrutura organizacional acompanha crescimento do CAU/SP

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edidas aprovadas durante a 5ª reunião plenária ordinária do CAU/SP preveem a reestruturação organizacional do Conselho a fim de ampliar a capacidade de fiscalização do exercício profissional e o atendimento aos arquitetos e urbanistas No final de maio, o Plenário do CAU/SP aprovou a proposta de reestruturação organizacional da autarquia com foco na amplia-

ção do quadro de funcionários dedicado às atividades de fiscalização e demais áreas relacionadas diretamente às funções precípuas do Conselho. A reorganização administrativa possibilitará o aprimoramento do trabalho desenvolvido pelas equipes de fiscalização e demais setores ligados ao exercício profissional, ampliando a realização simultânea de atividades de campo (visitas, diligências etc.) e internas, relacionadas às questões processuais e administrativas em todo o Estado de São Paulo. Haverá ainda, gradativamente, o incremento de funcionários efetivos e comissionados e a reestruturação organizacional das áreas, em atendimento às alterações administrativas oriundas da recente alteração regimental pela qual passou o Conselho, em dezembro de 2017. Além de potencializar as ações de fiscalização, as medidas aprovadas devem proporcionar economia de recursos, uma vez que haverá redução na tabela salarial para futuras contratações de cargos comissionados. O Estado de São Paulo tem o maior número de arquitetos e urbanistas inscritos do país. E, em seis anos (2012 a 2018), o contingente de profissionais ativos passou de 36 mil para 55 mil. A reestruturação organizacional deve equacionar os gargalos administrativos do órgão frente ao crescimento contínuo de arquitetos e urbanistas registrados.

“Trata-se de uma reestruturação organizacional que pretende aprimorar a nossa gestão de forma gradual e com toda a responsabilidade e a seriedade que o orçamento nos coloca”

“Trata-se de uma reestruturação organizacional que pretende aprimorar a nossa gestão de forma gradual e com toda a responsabilidade e a seriedade que o orçamento nos coloca”, afirma o presidente do CAU/SP, José Roberto Geraldine Junior. A implementação completa das medidas aprovadas dependerá, entre outras ações, do planejamento e realização de novo concurso público para contratação de funcionários efetivos, condicionados ao acompanhamento orçamentário do Conselho. O CAU/SP é uma autarquia dotada de personalidade jurídica de direito público, com autonomia administrativa e financeira e estrutura federativa, cujas atividades são custeadas exclusivamente pelas próprias rendas, sob controle do Tribunal de Contas da União (TCU).

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Gerhard Waller, USP/ESALQ

ARQUITETURA PAULISTA

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Esalq

Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

P

rojetado em estilo neoclássico pelo arquiteto inglês Alfred Brandford Hutching, o prédio da Esalq , em Piracicaba (SP), preserva sua arquitetura original e se mantém como símbolo maior da escola até os dias de hoje. Inaugurado oficialmente no dia 14 de maio de 1907, passou a integrar a Universidade de São Paulo a partir de 1934. Mas antes, logo após o seu surgimento, foi criado o Parque da Esalq, formulado pelo arquiteto paisagista belga Arsenio Puttemans, em estilo inglês de paisagismo. De acordo com a própria escola, é o único parque em estilo inglês existente no Brasil, cujas características foram parcialmente preservadas. Assim, considerado um importante espaço educacional e de pesquisas, o campus também funciona como uma área de lazer para a população. E, em 2006, o conjunto arquitetônico e ambiental do campus Luiz de Queiroz foi tombado pelo Patrimônio Público Estadual por meio do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turística (Condephat) do Estado de São Paulo. Errata: A Galeria do Rock (SP) foi projetada pelo escritório de Arquitetura Siffredi e Bardelli. O engenheiro arquiteto Alfredo Mathias, apontado na 16ª edição como autor do projeto, era o dono da construtora responsável pelo empreendimento.

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Arquivo pessoal

EM DEBATE

Articulir

Arquivo pessoal

O

déficit habitacional no Brasil teve um aumento de 7% entre 2007 e 2017 e o país sofre com a falta de aproximadamente 7,8 milhões de moradias, segundo um levantamento realizado pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Para ajudar a combater este problema, os Conselhos de Arquitetura e Urbanismo de todos os estados do país já destinam 2% de seu orçamento ao apoio às ações estratégicas de Assistência Técnica Habitacional de Interesse Social – Athis.

Arquivo pessoal

Habitação de interesse social

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Projeto para o

Loteamento Canhema II, patrocinado pelo CAU/BR. Projeto de Habitar Arquitetas Associadas. COMVIVA Arquitetura e Urbanismo


Por Fabricia Zulin*

N

o ano de 2015, o CAU/BR contratou uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, que apontou que menos de 15% da população que já construiu ou reformou buscou os serviços de um arquiteto ou engenheiro. Um primeiro ponto a questionar: não contratou pois não conhece os benefícios ou porque não pode pagar pelos serviços? Atingir esta demanda implica, portanto, disponibilizar recursos para famílias de baixa renda por meio de programas e políticas públicas focadas em Assistência Técnica Habitacional de Interesse Social – Athis e, por outro lado, tornar conhecida para a sociedade a nossa profissão, para a sociedade, que ainda parece carregar o estigma de atender a elite privilegiada e minoritária. Podemos partir de duas modalidades principais ao pensar sobre os desafios da atuação dos arquitetos e urbanistas em Athis: conceber novas moradias e melhorar o que já foi autoconstruído. Partindo da concepção de novas moradias, tomo como base a experiência do projeto CANHEMA II, iniciado em 2013 no município de Diadema. Noventa e oito famílias pertencentes a uma associação de moradores de baixa renda contrataram um escritório de Arquitetura para realizar o projeto de suas casas em lotes individuais, diferente, portanto, da realização de um

projeto convencional de um conjunto habitacional. Este poderia ser mais um caso de moradias autoconstruídas em loteamentos sem auxílio profissional. Mas, diferentemente, contou com apoio de profissionais de Arquitetura e Engenharia para a realização dos projetos e acompanhamento das obras, indicando assim uma atuação possível dentro do nicho dos 85% da pesquisa do CAU/BR. É possível destacar alguns desafios de atuação em Athis a partir desta experiência. PROJETO ADAPTÁVEL PARA ATENDIMENTO À DIVERSIDADE O processo de desenvolvimento deste projeto proporcionou maior oportunidade de contato com os clientes e, consequentemente, maior entendimento das especificidades e desejos individuais. Desse contato foi possível perceber que o programa é mutante, ou seja, nem o próprio usuário consegue prever todas as funções possíveis para o espaço e o próprio usuário não é permanente. Desse modo, é preciso desenvolver estratégias de desenhos dirigidas à produção de habitação diversificada, com flexibilidade suficiente para aceitar mudanças e incorporar o usuário no processo. No projeto CANHEMA II foram realizadas variações de uma

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Os desafios da atuação dos arquitetos e urbanistas em ATHIS

O predomínio de obras irregulares distancia ainda mais os profissionais da demanda por Athis"

mesma tipologia habitacional, partindo de uma mesma lógica estrutural; afinal, enxerga-se a flexibilidade enquanto garantia de adaptações dos espaços ou como uma maneira de conciliar a padronização com a diversidade. LEGISLAÇÃO FORA DA LÓGICA DA AUTOCONSTRUÇÃO POPULAR Como explicar aos usuários a legislação e as possibilidades de projeto quando o que se vê na cidade são construções irregulares que não seguem as normas? Existe, hoje, um predomínio de obras irregulares que distancia ainda mais os profissionais desta possível demanda em Athis e, Abril l Maio l Junho 2019

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EM DEBATE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL

pior, que resulta em tragédias. Para uma atuação profissional de qualidade é fundamental a conciliação do trabalho das assessorias técnicas, dos agentes de aprovação e a fiscalização das prefeituras. E, quando necessário, devem ocorrer adequações nos parâmetros previstos nos códigos de obra e edificações mais condizentes com a realidade de cada assentamento, sem perder o foco na qualidade das habitações. No caso do CANHEMA II, ao aplicar o Código de Obras e Edificações (Lei no 59/1996), nota-se que o agenciamento do programa é bastante complicado, em lotes de 42m², visto a necessidade de reservar 18m² no terceiro e quarto pavimentos. Essa incompatibilidade de legislação leva a situações de fragilidade na sustentabilidade da volumetria proposta e prejuízos à condição urbana imediata.

PROJETOS EXECUTIVOS E SUPERVISÃO DE OBRAS INDIVIDUAIS No CANHEMA II, a participação da equipe técnica se estendeu ao trabalho de supervisão das obras, situação possível devido ao apoio do CAU/BR em 2015 e 2016. Trata-se de um serviço técnico especializado que normalmente não se viabiliza em casos individuais e sem programas governamentais. Em outros casos de atuação em que a participação fica limitada à elaboração do projeto, a Athis não ocorre de modo completo, havendo riscos e comprometimento na qualidade e segurança da obra. No caso da modalidade de melhorias habitacionais, existe o desafio de saber atuar na realidade da autoconstrução, jamais superada pela provisão de novas moradias pelo Poder Público. Nesta modalidade, é importante estabelecer metodologias

de trabalho para saber enfrentar, por exemplo, os problemas decorrentes da precariedade das moradias e seus impactos na vida dos usuários, entendendo quais são os mecanismos de identificação das patologias das construções, a definição de soluções técnicas no que diz respeito à especificação de materiais, processos construtivos, mão de obra etc. E, ao mesmo tempo, a conjugação da solução proposta com um diálogo adequado com as famílias assistidas. Nesta modalidade, a obra “autoral” é ainda menos relevante, tendo prioridade os desafios concretos e do dia-a-dia. * Arquiteta e urbanista, é professora do curso de AU da FIAM-FAAM Centro Universitário e ministra curso de extensão “Estratégias e Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social”, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie

A ATHIS como meio de transformar o contexto da inadequação habitacional no país Por Mariana Estevão*

Q

uando se aborda a questão habitacional, em geral discutem-se os números e as soluções para a redução do déficit habitacional, que representa a demanda por novas unidades. Outra vertente da questão quantifica os domicílios urbanos inadequados com base nos critérios: inadequação fundiária, de infraestrutura,

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ausência de banheiro exclusivo, cobertura inadequada e adensamento excessivo em domicílios próprios. Os três últimos aspectos são relativos à unidade habitacional e juntos revelam, teoricamente, a demanda por reformas e ampliações. A Fundação João Pinheiro, com base nos dados do IBGE pela Pnad de 2015, relatou

em 2018 os seguintes números: 213.732 domicílios sem banheiro, 834.722 domicílios com cobertura inadequada e 1.025.717 domicílios com adensamento excessivo. Entretanto, a experiência na atuação com melhorias habitacionais em favelas revela uma outra dimensão dessa demanda. O fato de um domicílio possuir


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banheiro não garante que este se encontre em condições sanitárias adequadas, sequer que tenha suas funções básicas atendidas. São comuns, mesmo em domicílios de favelas dotadas de infraestrutura e passíveis de regularização nos grandes centros urbanos, banheiros sem revestimentos, o que impede a correta higienização, tornando-os insalubres. E banheiros sem as instalações hidro-sanitárias que permitam a sua ligação à rede de abastecimento e de esgotamento sanitário. Da mesma forma, em relação às coberturas inadequadas, o que as caracteriza é o tipo do material adotado nos telhados: zinco ou palha. Não são considerados inadequações o pé direito com menos de 2,50m: telhados precários que não impedem a entrada de água da chuva ou roedores, lajes com infiltrações e ferragens expostas. Na mesma publicação da Fundação João Pinheiro, esses dois critérios são tratados como os de menor peso entre os que caracterizam as inadequações, mas a exclusão dos domicílios com as demais características mencionadas leva a uma análise que não traduz a realidade do problema nas favelas brasileiras e as conclusões sobre a demanda por investimento se tornam subdimensionadas. São recorrentes ainda inadequações como instalações elétricas improvisadas, intensa presença de umidade, ausência de elementos de segurança contra quedas nas escadas e lajes, riscos estruturais, cômodos de permanência prolongada sem janelas, que junto com o adensa-

mento excessivo, comprometem a salubridade, a segurança, o conforto térmico e a adequação aos usos de cada uma das moradias autoconstruídas sem assistência técnica no país. São situações que impactam a saúde física e emocional dos indivíduos e da família, o que não pode ter a sua gravidade minimizada a partir de uma leitura superficial sobre o padrão construtivo e o estado de conservação dos ambientes erguidos na informalidade. Por outro lado, as construções informais não podem ser criminalizadas sem que sejam oferecidas opções de acesso aos recursos humanos e financeiros para que se possa construir e reformar dentro das normas e leis. Se para combater o déficit habitacional é necessário que o Estado se responsabilize por prover novas unidades, ao se investir na regularização urbanística e fundiária das áreas informais, as condições para se prover melhorias habitacionais têm que ser disponibilizadas. Essa estrutura deve ser composta pelos profissionais que promovam a Assistência Técnica e o acesso aos recursos

As construções informais não podem ser criminalizadas sem que sejam oferecidas opções de acesso aos recursos humanos e financeiros"

financeiros subsidiados para a execução das obras a fundo perdido e por meio de produtos de crédito adequados. É nesse contexto que o conhecimento do arquiteto toma a dimensão de um serviço essencial e a Lei de Assistência Técnica se torna mais urgente e efetiva. Para que arquitetos passem a fazer parte do dia a dia das áreas que compreendem de 30% a 50% da ocupação do território das grandes cidades brasileiras, exercendo a sua função social como meio de garantir a qualidade do espaço habitado para todos. * Arquiteta e urbanista formada pela Universidade Federal Fluminense, com especialização em Engenharia de Saúde Pública e Gestão de Infraestrutura Física em Saúde, pela ENSP/Fiocruz, é fundadora da ONG Soluções Urbanas e idealizadora do Projeto Arquiteto de Família

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BATE-PAPO

Ruy Ohtake, polêmico e vanguardista POR MARCO PAULO FERREIRA

Arquivo pessoal

G Em mais de 300 projetos espalhados pelo mundo, com algumas obras icônicas na capital paulista, como o Instituto Tomie Ohtake (ao lado), o arquiteto tem o seu trabalho marcado pelas curvas e cores, além de muita ousadia e coragem

raduado pela Universidade de São Paulo no ano de 1960, o arquiteto Ruy Ohtake trabalhou no Centro de Pesquisas e Estudos de Urbanismo da instituição e abriu seu próprio escritório, na Rua 24 de Maio, na capital paulista. Hoje, é de um edifício na Faria Lima que ele continua a criar novos projetos de Arquitetura e também peças de design, como a cuba que este ano recebeu o prêmio internacional Red Dot Award. Sem abrir mão do uso do papel para desenhar seus projetos, o filho da artista plástica Tomie Ohtake (1913-2015) e admirador dos arquitetos Oscar Niemeyer e Vilanova Artigas deixou os princípios brutalistas de lado desde o início de sua carreira e passou a empregar cores e curvas no seu trabalho. “Quem tem medo de polêmica nunca vai ser de vanguarda”, prega na entrevista a seguir, entre muitos outros pontos que ele considera relevantes para o desenvolvimento da criatividade na Arquitetura. Como foi a sua relação com os arquitetos Oscar Niemeyer e Vilanova Artigas? Brasília ainda estava em construção quando eu era estudante.

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Então, tinha o Oscar Niemeyer lá e o Vilanova Artigas aqui em São Paulo. Acabei sendo aluno do Artigas quando ingressei na Faculdade de Urbanismo de São Paulo. Foi um grande professor não só de Arquitetura, da construção de obras, mas também da vida. Ele foi uma pessoa que teve uma experiência muito árdua da vida, foi muito perseguido politicamente. Já com o Oscar Niemeyer eu cheguei a fazer quatro trabalhos. Pela liberdade criativa, a ousadia que ele tinha, foi muito importante ter tido esse contato. Estudei muito os dois. O fato de o senhor ser filho da artista Tomie Ohtake influenciou de alguma maneira sua escolha profissional? Como ela sempre quis ter o ateliê onde morava, desde criança eu entrava e saía de casa passando pelo ateliê. Não foi uma influência direta e ela nunca me falou, por exemplo: é bom você fazer um curso de Arquitetura. Mas o convívio com aquela reunião de pintores, com certeza criou um ambiente para isso. Tanto que o meu irmão mais novo também é arquiteto. E com a minha mãe eu aprendi


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BATE-PAPO RUY OHTAKE

uma coisa, que ela nunca me disse, mas eu fui percebendo: intuição. Não sei se a gente nasce com mais ou menos poder intuitivo, mas eu sei que a intuição pode ser desenvolvida e é o que eu procuro fazer até hoje. No começo eu não saquei, mas depois que eu comecei a perceber que a intuição é importante. O Oscar Niemeyer foi um dos caras mais intuitivos que eu conheci. Além de fazer projetos de Arquitetura, o senhor também

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gosta de desenhar peças de mobiliário. Eu falo que faço Arquitetura e, nas horas vagas, desenho. Desde os primeiros trabalhos, 40 anos atrás, eu fazia o projeto de uma casa e com as paredes eu desenhava junto estantes, sofás de concreto, mesa de centro. Era uma proposta de ocupar da melhor forma possível um projeto que eu estava fazendo, e foi assim desde o começo. Então, tenho feito isso sempre junto com a

Condomínio Edifício Santa Catarina, São Paulo

Cuba desenhada pelo arquiteto,

vencedora do prêmio internacional Red Dot


Arquitetura, até que há uns 20 anos me disseram para fazer uma exposição só dessas peças, que teve o nome de "Arquiteturas Móveis”. Foi assim a minha primeira exposição. E este ano, em São Paulo, ocorreram mais duas exposições de obras suas: “O design da forma”, no Instituto Tomie Ohtake, e “A produção do espaço”, no Museu da Casa Brasileira. Como elas nasceram? Há um ano surgiu essa ideia de fazer uma exposição com as minhas obras, tanto de Arquitetura quanto de design, e, depois de algumas discussões, essa ideia foi se desenvolvendo. Até que veio a ideia de separar as duas exposições, mas mostrá-las simultaneamente. Muito importante foi a participação dos cura-

dores: o Agnaldo Farias, curador da exposição no Museu da Casa Brasileira; o Fabio Magalhães, a Marili Brandão e a Priscila Gomes, os curadores da exposição de design, no Instituto Tomie Ohtake. Para escolher as peças ou as obras fiz algumas discussões muito boas com eles. O Agnaldo achou que seria importante colocar desde as primeiras peças até as atuais. Foi uma discussão muito interessante porque, vendo desde os primeiros projetos, foi possível perceber o que era importante para aquela época, como é que começaram a nascer as curvas e as cores. Esses dois itens, curvas e cores, não existiam em São Paulo. Achei importante porque o Brasil é um país de muita cor. Se você vai a cidades que estão mais ou menos preservadas, como Pa-

rati, Olinda, Ouro Preto ou pelo interior do Nordeste, vê que são cidades com cores fortes. E São Paulo não tinha Arquitetura com cor. Não era uma falha, mas um buraco que se abriu. Então, desde as minhas primeiras obras, eu venho colocando cor. Então, foi uma inovação para a Arquitetura da época? Sou uma pessoa que tem muita curiosidade, misturada com uma dose de ousadia, o que acho essencial. As nossas cidades e a nossa Arquitetura vão se desenvolvendo com o tempo e nesse desenvolvimento a participação da ousadia é fundamental. Tem que ousar e fazer a vanguarda. Para ser de vanguarda, é necessário dar um passo à frente. Se o pessoal se acostuma, está na hora de dar um outro passo à frente. Vanguarda é isso, mas incomoda um pouco as pessoas, principalmente o establishment. Isso provoca uma certa discussão, uma certa polêmica. E quem tem medo de polêmica nunca vai ser de vanguarda.

Arquivo pessoal

Os arquitetos e urbanistas têm mais medo de ousar nos dias de hoje? Algum jovem profissional mais ousado ainda não apareceu. A Arquitetura de São Paulo,

Não sei se a gente nasce com mais ou menos poder intuitivo, mas eu sei que a intuição pode ser desenvolvida e é o que eu procuro fazer até hoje." Abril l Maio l Junho 2019

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BATE-PAPO RUY OHTAKE

da década de 70 até agora, olhou muito para o retrovisor, para o modernismo. Eu gosto do avanço, de não ficar só em discussões muito teóricas. Na Arquitetura e na arte em geral, o fazer é que é importante.

Faltam estímulos para mais trabalhos de Arquitetura na área social? Falta, tanto do lado do governo como também das comunidades e dos arquitetos. É necessário divulgar e ter conhecimento

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Conte um pouco sobre sua experiência do projeto Redondinhos, para a comunidade de Heliópolis, em São Paulo. Foi uma experiência muito importante e maravilhosa. Um dia me telefonaram, queriam conversar um pouco comigo para saber se era possível tornar Heliópolis um pouco mais bonita. Eu nunca tinha entrado lá e fiquei impressionado com a solidariedade que existe entre eles. Antes da reunião, pedi para andar lá por dentro porque o arquiteto, ao fazer um projeto chamado social, não atinge o social se fizer só o desenho e entregar. Metade do trabalho social é o contato com a comunidade. É preciso sentir, conversar com a comunidade. A Arquitetura tem que ter o seu lado democrático, aberto e, para as comunidades mais carentes, isso significa dignidade de moradia. Em qualquer circunstância, pode ser o hotel Unique ou uma casa redondinha lá em Heliópolis; tem que haver uma condição: a obra de Arquitetura tem que ser bonita e carregar o conceito de mais igualdade, abertura, dignidade.

Instituto Tomie Ohtake Hotel Unique, São Paulo Conjunto habitacional dos “Redondinhos”, em Heliópolis, São Paulo

A Arquitetura de São Paulo, da década de 70 até agora, olhou muito para o retrovisor, para o modernismo. Eu gosto do avanço, de não ficar só em discussões muito teóricas."

das boas coisas que já foram feitas, além de trazer para essa discussão as lideranças comunitárias, os sociólogos que estudam esses problemas e desafios. Por que todos os conjuntos sociais foram se deteriorando nos últimos três anos? Em primeiro lugar, faltou diálogo do arquiteto com a comunidade. Em segundo, faltou imaginar uma solução mais digna. Recentemente o senhor recebeu o prêmio internacional Red Dot Award por uma peça de design, uma cuba. Como surgiu a ideia e qual a importância dessa premiação?


Edson Lopes Jr.

histórica da Arquitetura é a contemporaneidade, e a missão social é a dignidade que ela tem que ter para todo mundo.

A ideia veio do ovo. Quando eu fiz um risco no meio de um ovo, um risco meio ondulado, pensei que isso (o desenho) poderia ser uma cuba excelente e comecei a desenvolver essa ideia. E a Roca, fabricante espanhola que consegue fazer porcelana de um milímetro e meio, achou que seria interessante participar desse concurso. Participei e ganhei, vencendo 1.600 concorrentes. Bacana foi o laudo: “uma peça brasileiríssima, com a sinuosidade e as curvas presentes”. A entrega do prêmio será em Barcelona. Mas, mais do que o dinheiro, o que vale é a satisfação de com pouca tecnologia se fazer design e conseguir ganhar um prêmio internacional. Isso quer dizer que a criatividade pode fazer frente à tecnologia. O Brasil sediará, no próximo ano, o Congresso Mundial de Arquitetos. Qual sua expectativa em relação ao evento e, especialmente para os profissionais daqui, a importância de o país sediá-lo? Será um encontro muito in-

teressante com todos esses arquitetos que vêm ao Brasil. Nós, arquitetos brasileiros, vamos ganhar muito com essas discussões. O Brasil está numa estagnação complicada e as discussões de Arquitetura estão cada vez mais minguadas. Elas precisam se abrir mais, ser discussões mais corajosas. Uma coragem necessária para que as nossas desigualdades sejam resolvidas, porque essa desigualdade é uma vergonha para o país. Temos coisas ótimas, nossos recursos naturais, paisagens ricas, desde a orla marítima às chapadas, a Amazônia, o Pantanal. Tudo isso é o Brasil de hoje. Então, eu não quero ficar falando do Brasil do futuro, quero falar do Brasil do dia a dia e lutar pela solução das desigualdades. Em cada setor, cabe enfrentar esse desafio e dar soluções mais abertas e não totalmente individualistas. A academia é importante desde que ajude a Arquitetura a se desenvolver e construir cada vez com mais coragem e de uma forma bem contemporânea. A missão

Como o senhor avalia a formação dos novos profissionais, os cursos de formação em Arquitetura e Urbanismo? Nos cursos de Arquitetura, se não na maioria, mas na quase totalidade das escolas, entrou o computador. Ele é importante, é uma peça que ajuda, mas não é uma peça que cria. E, infelizmente, uma porcentagem muito grande de estudantes fica encostada no computador e com isso não desenvolve a criatividade, a curiosidade. Acho que isso está fazendo falta. Então, é preciso também que os professores das escolas de Arquitetura estimulem os estudantes a fazer trabalho manual, e o computador pode entrar depois. É pela mão e no papel, com toda a liberdade, que nasce a Arquitetura. Para encerrar, o senhor acompanha a atuação do Conselho? O que acha? O Conselho é uma instituição muito importante e muito difícil. Mas foi uma grande vitória dos arquitetos, depois de muita luta árdua para se separar e criar um Conselho independente do CREA. Isso deu uma liberdade maior e melhores condições de trabalho para os arquitetos Além disso, por ser um órgão nacional, garantiu uma representatividade muito boa para a categoria. Fisicamente, eu tenho participado pouco do CAU, mas quando se torna importante algum tipo de participação, eu não tenho dúvida em aceitar.¥ Abril l Maio l Junho 2019

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REPORTAGEM ESPECIAL

GRADED SCHOOL

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Divulgação

Eles constroem a Educação Arquitetura escolar: o desafio de criar projetos que transformem o espaço em aliado da aprendizagem POR SILVIA LAKATOS

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Divulgação

REPORTAGEM ESPECIAL

Beacon School, São Paulo

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erá mesmo essencial que o ambiente físico onde os alunos assistem às aula atenda a uma série de requisitos quanto à iluminação, ventilação, conforto térmico e ergonomia? “Sim, isso é inquestionável”, afirma a arquiteta e urbanista Doris Catharine Cornelie Knatz Kowaltowski, autora do livro Arquitetura Escolar: o projeto do ambiente de ensino. “Existem evidências de que um ambiente escolar bem projetado, bem cuidado, confortável e funcional estimula a aprendizagem dos alunos. Alguns estudos apontam uma melhoria de 25% no desempenho em matemática e linguagem”, explica a especialista. Professora titular pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Doris é formada em Arquitetura pela Universidade de Melbourne (Austrália), além de Meste e Doutora (PhD) em Arquitetura pela Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA). “Como docente, eu sempre me dediquei ao tema “projeto arquitetônico”, especialmente nas áreas de habitação social e Arquitetura escolar”, informa. De acordo com Doris, quando os professores têm um ambiente preparado para a realização de

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diversas atividades, eles podem atuar mais livremente e adicionar novos estímulos às aulas que ministram. “De modo geral, um ambiente adequado é enriquecedor”, ela ressalta. “Também é fato que, para os alunos, é gratificante sentir que são respeitados e que seu bem-estar é considerado importante”, ressalta a arquiteta.

“O ambiente é também educador” Sua visão é compartilhada por outros profissionais com experiência em Arquitetura escolar. Um deles, o arquiteto Vinícius Andrade, que, dentre outras atividades, é professor da “Escola do Futuro”, em São Paulo. Ele observa que os modelos educativos italianos consideram o


espaço físico como um terceiro educador. “Nesse processo educativo dinâmico, o ambiente é também um educador, e por isso ele deve favorecer a comunicação, os encontros, a abordagem ativa e participativa”, discorre. “Sob essa ótica, que se torna cada vez mais importante e reconhecida ao redor do mundo, a educação deixa de ser exclusiva da sala de aula e outros espaços ganham protagonismo importante. A didática vai para os espaços abertos, para os jardins e recantos acolhedores. Pequenos grupos podem se encontrar fora da hora da aula, ter uma interação mais ampla. Tudo passa a ser parte do projeto de Arquitetura, e o edifício torna-se um instrumento da didática”, esclarece Andrade. Para exemplificar como ocorre essa interação do espaço com a aprendizagem, Vinicius Andrade cita um dos projetos realizados pelo seu escritório: a “Beacon School”, uma escola particular de ensino infantil, fundamental e médio, construída em um antigo bairro industrial de São Paulo. “O projeto trazia o desafio de construir, a partir de antigos galpões industriais, um estabelecimento para mil alunos, abrangendo do ensino infantil ao médio”, relata o arquiteto, que fez questão de aproveitar os galpões industriais remanescentes das antigas instalações. “Embora fossem rústicos e agigantados para a escala das crianças, eles representam um patrimônio construído generoso e bastante sólido. Ao aproveitá-los, deixamos um legado importante de preservação histórica, e ao mes-

Neste processo educativo dinâmico, o ambiente também é um educador"

Francisco Spadoni, professor do Departamento de Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), resume: “o foco deve ser a funcionalidade da Arquitetura para a aprendizagem, para a integração”.

Marco civilizatório mo tempo introduzimos novos elementos, capazes de acomodar as atividades específicas da escola e, simultaneamente, introduzir a escala apropriada e os materiais de acabamento condizentes, de forma a domesticar o espaço”, descreve. Todos os novos elementos foram construídos com componentes industriais leves, nitidamente opostos aos galpões existentes, estabelecendo assim um franco diálogo entre o preexistente e o novo. “Um recurso do qual nos valemos foi o de deixar os elementos construtivos visíveis. Por exemplo: se o conduíte está à mostra, o estudante pode literalmente enxergar o que acontece entre o momento em que alguém aciona o interruptor e o instante em que a luz se acende. Desse modo, ele começa a perceber e a aprender as coisas de uma maneira diferente”, comenta. “A ideia de que o ambiente também pode ensinar está cada vez mais presente nos projetos”, concorda Doris. “O prédio pode ‘ensinar’ Física, História, Matemática... Por exemplo: o corrimão pode ser um ábaco, ou trazer uma linha de tempo de vários temas; os ângulos de abertura das portas podem ser pintados no chão etc”.

“Ao longo do tempo, surgiram hospitais para a cura, igrejas para a oração e, por volta do Século XII, as escolas para a aprendizagem”, discorre Spadoni, responsável por projetos como o da Escola Técnica Estadual do Centro Paula Souza, localizada no Centro de São Paulo. “Eu posso transmitir um conhecimento para você na rua ou em uma praça, mas a civilização criou espaços específicos para essa troca, e os chamou de escolas. Qualquer projeto deve levar em conta esse simbolismo primordial”, afirma. Além de ofertar condições mínimas de conforto e salubridade, a escola deve ser “um espaço de integração”, lembra Spadoni. “Cada escola trabalha com um tipo de programa, de linha pedagógica. A grande função do arquiteto é saber articular a obra com o programa existente”. “Recomenda-se um processo participativo que discuta as principais questões de uma escola, a sua pedagogia, o seu público-alvo, as suas metas etc”, prossegue Doris. “Também é preciso aprofundar-se em questões mais detalhadas. Por exemplo: fazer uma entrada convidativa, prever boas condições de conforto nas salas de aula e demais dependências, planejar áreas de socializaAbril l Maio l Junho 2019

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REPORTAGEM ESPECIAL

ção e de alimentação, lidar com conceitos de sustentabilidade, humanização, acessibilidade e segurança”, enumera a arquiteta. “Questões de bullying também são discutidas quando se pensa em um novo prédio, evitando-se lugares propícios para esta prática violenta”, alerta.

Múltiplas necessidades e soluções

Espaços mais abertos Siegbert Zanettini, um dos mais premiados arquitetos brasileiros, professor aposentado da FAU/USP e autor do livro Arquitetura Razão Sensibilidade, é um entusiasta dos espaços

abertos: “Uma escola não se faz só na sala de aula”, ressalta. “Um dos projetos do meu escritório é a ‘Graded School’, uma instituição de ensino norte-americana com sede em São Paulo. Nela, nós estamos reservando espaços externos para o aluno estudar lá fora. Ele vai aprender sobre o meio ambiente debaixo de árvore, e assim ele vai entender o que é uma proteção arbórea e vai perceber como é importante você considerar as questões ambientais”. Zanettini considera que um dos principais aprendizados de sua carreira foi a de usar o meio ambiente em favor da obra. “Com o clima que temos no Brasil, é um desperdício você fazer uma obra com grossas paredes de concreto e ficar dependente de ar condicionado”, observa. Adepto do máximo aproveitamento da ventilação e da luz naturais nas edificações, ele faz um alerta: “É indispensável conhecer as características geográficas da região onde a escola Centro Paula Souza

Arquivo pessoal

Além de ser adequado à linha pedagógica que aquela escola irá praticar, o projeto arquitetônico deve se adequar ao público que irá fazer uso das instalações. No ensino infantil, por exemplo, Doris aponta a importância de incorporar normas importantes para a alimentação e amamentação de bebês e crianças pequenas, para os cuidados com a higiene e para a segurança e a saúde da criança. “É preciso pensar na escala da criança em relação à escala humana adulta, para criar proporções agradáveis nos espaços”, sugere a arquiteta. Na faixa dos 6 aos 14 anos, as

crianças e os adolescentes devem receber estímulos que mantenham vivas a sua curiosidade e a vontade de estudar e aprender. “É justamente para essa faixa etária que o conceito da Arquitetura como o terceiro professor deve ser explorado ao máximo”, salienta a especialista. Já o ensino médio, campeão da evasão escolar no Brasil, é um capítulo à parte. “A contribuição da Arquitetura para o enfrentamento desse problema diz respeito, principalmente, à valorização dos jovens”, acredita Doris. Eles precisam sentir que são importantes, e a Arquitetura pode contribuir para criar esse ambiente ao mesmo tempo dinâmico e acolhedor”, ela destaca.

Edifício Mackenzie Colégio Caetano de Campos

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KRAUCHANKA HENADZ/Shutterstock

Arquivo pessoal

será construída. Uma sala mal orientada poderá canalizar o vento frio e afetar o bem-estar dos usuários”.

Escolas públicas: qualidade a baixo custo Vinícius Andrade diz que tem percebido uma demanda cada vez maior pela Arquitetura inovadora por parte das escolas particulares. Mas, e as escolas públicas? Elas têm um quinhão nesse modelo inovador de construir? A resposta é sim. Projetada por Vinícius, a Escola Estadual Jornalista Roberto Marinho, na periferia de Campinas/SP, é um exemplo de Arquitetura Escolar focada na integração entre os seus diversos frequentadores e na agregação de valores à comunidade do entorno. “Nessa obra, procuramos combinar o ambiente escolar com o repertório industrial, porque nosso ponto de partida foi uma grande área anteriormente ocupada pelos galpões de uma fábrica”, explica. “Inserida em uma área de ocupação, com favelas e conjuntos habitacionais, ela

é um condensador social local”. Condensador social e verdadeiro “farol do bairro”: ampla e muito bem iluminada – “um caixote translúcido”, na definição simplificada de Vinícius Andrade –, a escola desempenha papéis adicionais para a comunidade, servindo como ponto de encontro e contribuindo para a iluminação pública, que é deficitária no entorno. No Jardim Limoeiro, em São Paulo, outra Escola Estadual sobressai pelo colorido e pelo aproveitamento de espaços amplos, com ventilação natural e incidência de luz solar – marcas registradas de Siegbert Zanettini. Projetado para abrigar 18 salas de aulas, que foram construídas em duas etapas, esta instituição tem algo em comum com a ”Roberto Marinho”, concebida por Vinícius Andrade, em Campinas: são projetos que respondem demandas da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), responsável por viabilizar a execução das políticas educacionais definidas pela Secretaria da Educação do

Estado de São Paulo. Uma das principais atribuições da FDE é justamente construir escolas, além de reformar, adequar e manter os prédios, salas de aulas e outras instalações, buscando sempre condições ideais para a prática de ensino e aprendizagem. Segundo Andrade, “os projetos da FDE são muito interessantes e têm, em seu cerne, esse compromisso de integração com o meio”. Interessantes, mas limitados por questões orçamentárias. Em sua obra FDE - Estruturas pré-fabricadas: Arquitetura Escolar Paulista, a gerente de desenvolvimento de edificações da FDE, Avany Francisco de Ferreira, e a chefe do departamento de Projetos da FDE, Mirela Geiger de Melo, informam que, no tocante à construção de escolas, o desafio atual do Poder Público consiste em construir escolas com eficiência, melhoria construtiva e projetos arquitetônicos de qualidade – porém, a um custo equivalente ao de uma obra convencional: “(...) para construir mais salas de aula no ritmo imposto por essa nova realidade urbana, em cujos passos vêm a violência e o vandalismo, a construção escolar precisa ser ágil e racionalizada, utilizando telhas, esAbril l Maio l Junho 2019

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Foto: Vieira Andrade

REPORTAGEM ESPECIAL Escola Estadual Vila Andrade

quadrias, portas, louças e todos os equipamentos padronizados”, afirmam as autoras. Para atingir esses objetivos, a FDE desenvolveu pré-requisitos que devem ser seguidos na construção das novas escolas inseridas no programa. Por exemplo: todos os projetos devem conter salas de informática e as quadras de esportes devem ser cobertas e ligadas aos ambientes de vivência, como a cantina e o pátio destinado à recreação, e também à cozinha e aos sanitários. A ideia é que, dessa forma, a quadra possa se converter também em um espaço adequado para a realização de festas e atividades comunitárias. O uso de estruturas pré-fabricadas permite construir uma nova escola em tempo até 50% menor do que o previsto em uma obra convencional, e também a menores custos. Responsável pelo projeto da Escola Estadual Jardim Santa Maria III, em Osasco (SP), o arquiteto Marcelo Barbosa observa que a realização de uma obra para a FDE requer muita negociação. “O gestor público é pressionado para atender a uma demanda por vagas, mas o arqui-

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teto pode e deve negociar para entregar a melhor obra possível à realidade do terreno oferecido e com os materiais disponíveis”, explica. “Um bom projeto FDE requer criatividade. Por exemplo: já que existe um manual a ser seguido, e como serão usadas estruturas pré-fabricadas, vamos trabalhar com cores intensas e lúdicas para compensar a impossibilidade de variar com as formas e os materiais”, sugere. “Nesse projeto de Osasco, optei por cobogós para fechar o ambiente, atendendo assim a uma exigência de segurança, e ao mesmo tempo possibilitar a entrada de ar e iluminação natural”.

Das escolas-parques aos CEUs Em 1932, um grupo de intelectuais lançou o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Dentre outros pleitos, eles reivindicavam a universalização da escola pública, laica e gratuita. Um dos signatários desse documento foi o baiano Anísio Teixeira (1900-1971), figura central na educação pública brasileira do século XX. Graduado em Direito, Teixeira atuava como Inspetor-Geral do

Ensino na Bahia. Em viagens à Europa e aos Estados Unidos, ele começou a repensar nosso modelo educacional. Como ocorreu a vários pensadores de sua época, enfrentou problemas durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945). Mas, com o fim da Era Vargas e a chegada do progressista Octávio Mangabeira ao governo estadual da Bahia, Teixeira assumiu a Secretaria da Educação baiana e elaborou o Plano Estadual de Educação Escolar, que criou o conceito da “escola-parque”. Inspirado nas escolas comunitárias norte-americanas, o modelo proposto por Anisio Teixeira consistia em dois eixos. Um deles seria o das “escolas-classe", que ofereceriam os conteúdos obrigatórios (Matemática, Língua Portuguesa, História etc.). No segundo eixo estariam as "escolas-parque", construídas no entorno das “escolas-classes”. Nelas, os estudantes desenvolveriam atividades complementares, tais como educação física, estudos sociais, artes e aprendizagem industrial. O arquiteto Diógenes Rebouças projetou a escola-parque Centro Educacional Carneiro Ribeiro (primeira etapa 1947/segunda etapa 1956) seguindo a concepção de um espaço completo de formação, num período em que se mesclavam princípios modernos na arquitetura e idealismo social nos programas arquitetônicos. O modelo pensado por Anisio Teixeira não vingou, mas deixou algumas sementes no ideário de arquitetos e educadores. Cinco décadas depois do trabalho


desenvolvido por ele na Bahia, a Prefeitura paulistana lançou a proposta dos Centros Educacionais Unificados (CEUs). Instalados nas áreas periféricas da Grande São Paulo, os CEUs têm como principais propostas proporcionar o desenvolvimento integral das crianças e dos jovens; funcionar como um polo de desenvolvimento da comunidade; e desempenhar o papel de polo de inovação de experiências educacionais. Para tanto, os CEUs dispõem de quadra poliesportiva, teatro (utilizado também como cinema), playground, piscinas, biblioteca, telecentro e espaços para oficinas, ateliês e reuniões. Nos finais de semana, as unidades ficam abertas para a comunidade, que podem usar os equipamentos de lazer, tais como piscinas e quadras de skate, e participar de atividades culturais. Cada CEU conta com um Centro de Educação Infantil (CEI) para crianças de zero a três anos; uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) para alunos de quatro a seis anos; e uma Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF), que também oferece Educação de Jovens e Adultos (EJA). Criadora e, por vezes, coautora de diversos projetos de escolas da FDE e de CEUs, a arquiteta Helena Ayoub, mestre e doutora pela FAU-USP, onde leciona, explica que o projeto dos CEUs começou a ser estruturado pela Prefeitura de São Paulo em 2001, a partir das consultas populares por meio do orçamento participativo.

O projeto arquitetônico foi desenvolvido inicialmente pela equipe coordenada pelos arquitetos Alexandre Delijaicov, André Takyia e Wanderley Ariza, e realizado pela equipe do Departamento de Edificações (EDIF), da Secretaria de Serviços e Obras (SSO). Tal como ocorre com as escolas da FDE, o EDIF optou por utilizar estruturas pré-fabricadas, devido à conveniência do custo e da agilidade na finalização das obras. Entre 2001 e 2004, foram entregues 21 CEUs. Entre 2007 e 2011, mais 24. A partir de 2012, a então gestão municipal propôs uma inovação: os Territórios CEU. Estes previam que os CEUs

fossem instalados de tal forma que se integrassem aos equipamentos públicos existentes no entorno, tais como parques e praças. “Daí o termo ‘Territórios CEU’”, explica Helena Ayoub. Os novos projetos ampliam o conceito original de integração, estendendo a interação da escola para com a cidade que a rodeia. Assim, não é apenas a comunidade que se apropria do CEU, mas este se conecta ao entorno. “Os princípios alinham-se à concepção de Cidade Educadora (veja box), e preveem que o Território CEU se realizará enquanto território vivo, múltiplo e vibrante, a partir do reconhecimento das forças e fluxos culturais locais”, resume Helena. ¥

Cidade Educadora A concepção de Cidade Educadora remete ao entendimento da cidade como território educativo. Nele, seus diferentes espaços, tempos e atores são compreendidos como agentes pedagógicos que podem, ao assumirem uma intencionalidade educativa, garantir a perenidade do processo de formação dos indivíduos para além da escola, em diálogo com as diversas oportunidades de ensinar e aprender que a comunidade oferece. Este conceito ganhou força e notoriedade com o movimento das Cidades Educadoras, que teve início em 1990 com o I Congresso Internacional de Cidades Educadoras, realizado em Barcelona, na Espanha. Neste encontro, um grupo de cidades pactuou um conjunto de princípios centrados no desenvolvimento dos seus habitantes que orientariam a administração pública a partir de então e que estavam organizados na Carta das Cidades Educadoras, cuja versão final foi elaborada e aprovada no III Congresso Internacional, em Bolonha, na Itália, em 1994. A carta é ainda hoje o referencial mais importante da Associação Internacional de Cidades Educadoras, que reúne mais de 450 cidades em 40 países do globo. Fonte: https://educacaointegral.org.br/glossario/cidade-educadora/

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CONCURSO

Centro Administrativo de Ribeirão Preto O

arquiteto Estevan Barin Moreira foi o grande vencedor do concurso público para elaboração de anteprojeto arquitetônico do Centro Administrativo Municipal de Ribeirão Preto, promovido pela prefeitura da cidade. Em um terreno

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de 106 mil metros quadrados, o espaço deve abrigar a sede de todos os órgãos e entidades municipais da cidade, como as secretarias da Administração, Negócios Jurídicos, Saúde, Educação, Meio Ambiente e Cultura, entre outros.


1o LUGAR Estevan Barin Moreira

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CONCURSO CENTRO ADMINISTRATIVO DE RIBEIRÃO PRETO

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2o LUGAR André Augusto Prevedello, com a colaboração de Alexandre Martins Alves e Gustavo Beccari

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CONCURSO CENTRO ADMINISTRATIVO DE RIBEIRÃO PRETO

3o LUGAR Roger da Silva Peicho e Hugo dos Santos, com a colaboração de Igor Gonçalves, João Peixoto

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MENÇÃO HONROSA

Luciano Suski, Fábio Batista, Igor Spanger, Moacir Zancopé Júnior, Suzanna De Geus, Rodolfo Scuiciato e Aline Train, com a colaboração de Janaína Nichele

Paulo Henrique Paranhos e Gabriel Jardim com a colaboração de Manoel da Fonseca Netto, Ian Silva, Ana Nasser, Dante Uwai, Larissa Sad, Rodrigo Sales e Thaynah Oliveira

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Acervo CAU/SP

SEMINÁRIO INTERNACIONAL

Qualidade de ensino e mobilidade profissional em debate Seminário internacional promovido pelo CAU/SP, com a presença de arquitetos e urbanistas brasileiros e de diversos países, foi marcado principalmente pela enorme troca de experiências entre os participantes

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P

rojeto da Comissão de Ensino e Formação do CAU/SP, organizado em parceria com as comissões de Ensino e Formação e de Relações Internacionais do CAU/BR, o Seminário Internacional “Qualidade de Ensino e Mobilidade Profissional” levantou os principais desafios desse panorama, que foram debatidos ao longo do evento por profissionais de diversos lugares do Brasil e também por estrangeiros, entre os dias 27 e 29 de maio, no Centro Universitário Belas Artes, na capital paulista.

Na noite de abertura, o presidente do CAU/SP, José Roberto Geraldine Junior, lembrou que o Brasil passa por um momento conturbado na área de Educação, com contingenciamento de recursos do setor, e também chamou a atenção para a expansão dos cursos de Arquitetura e Urbanismo como outro ponto que merece um debate criterioso diante dos desafios mundiais impostos para o trabalhador. “A contribuição do CAU/SP é para que possamos melhorar, a cada dia, a formação do profissional


Fotos: Acervo CAU/SP

Tokunbo Omisore (AUA, Nigéria); Barbara Sestak (NAAB, EUA); Thomas Vonier (UIA); da esquerda para direita Han Young Keun (Coreia), Luciano Guimarães e Livio Sacchi (Itália);

que chega ao mercado de trabalho”, pontuou Geraldine. Além do presidente do CAU/SP, também participaram da cerimônia de abertura do evento os arquitetos e urbanistas: Luciano Guimarães, presidente do CAU/BR; José Antonio Lanchoti, coordenador da Comissão de Ensino e Formação do CAU/SP; Thomas Vonier, presidente da União Internacional de Arquitetos; Roberto Simon, vice-presidente da União Internacional de Arquitetos da Região III; Fernando Márcio de Oliveira, coordenador da Comissão de Relações Internacionais do CAU/BR; Andrea Arruda Vilella, conselheira federal representante das Instituições de Ensino Superior do CAU/BR; e João Carlos Correia, presidente da Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (ABEA), que representou o Colegiado de Entidades Estaduais de arquitetos e urbanistas (CEAU-SP).

Mobilidade Profissional e Acreditação A busca por oportunidades de trabalho no mercado internacional tem sido cada vez maior, tanto de brasileiros em outros paí-

Susan Njeri Kibue (JKUAT, Quênia).

ses como também de arquitetos e urbanistas estrangeiros aqui no Brasil. “A internacionalização da Arquitetura é uma realidade”, ressaltou Fernando Márcio de Oliveira, coordenador da Comissão de Relações Internacionais do CAU/BR. Tanto é que, realizada pelo CAU/BR, uma pesquisa mostra que 8% dos arquitetos e urbanistas entrevistados já desenvolveram alguma atividade no exterior e que 80% dos profissionais têm a intenção de atuar em outro país. Nos Estados Unidos, por exemplo, de acordo com uma declaração de Thomas Vonier, presidente da União Internacional de Arquitetos, 50% dos prédios são construídos por arquitetos que vêm de outros países. Ou seja, existe um vasto mercado a ser explorado além de nossas fronteiras. Por isso, para Roberto Simon, vice-presidente da União Internacional de Arquitetos da Região III, esse é o momento de se discutir com outros países formas de buscar reduzir as diferenças na formação e atuação profissional. “Nós temos que aprender mais e discutir mais e ver até onde podemos chegar”, disse o arquiteto e urbanista ao

elogiar a iniciativa do CAU/SP em promover o seminário. Atento a essa demanda, o Conselho tem buscado fortalecer o relacionamento com as instituições estrangeiras. “A acreditação é um projeto desde 2015 e que nós estamos continuando com todos os esAbril l Maio l Junho 2019

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Acervo CAU/SP

SEMINÁRIO INTERNACIONAL

forços para efetivá-la”, afirmou Luciano Guimarães, presidente do CAU/BR. Projeto que o CAU/SP está apoiando tecnicamente, conforme lembrou o Coordenador da Comissão de Ensino e Formação do Conselho paulista, José Lanchoti, durante um fórum que antecipou as atividades do seminário que reuniu coordenadores de cursos de Arquitetura e Urbanismo das quatro regiões do país. “O que nós queremos com a acreditação é abrir a discussão de como os cursos estão trabalhando em relação à qualidade”, disse o coordenador do CAU/SP. De olho nas oportunidades para os profissionais brasileiros,

o programa Built by Brazil, coordenado pela AsBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura) também tem procurado incrementar a atuação dos profissionais brasileiros no exterior, construindo um ambiente favorável ao desenvolvimento de uma cultura exportadora para os escritórios de Arquitetura e Urbanismo. “O que temos feito é desenvolver estratégias por segmentos. Estima-se uma média de um ano e meio para alcançar os resultados, depois

UIA 2020 Rio No terceiro e último dia do seminário internacional, José Roberto Simon, vice-presidente da União Internacional de Arquitetos da Região III, fez uma apresentação oficial de lançamento do Congresso Mundial da UIA Rio 2020. Para ele, o seminário internacional promovido pelo CAU/SP, com a participação de tantos arquitetos e urbanistas estrangeiros, vindos de praticamente todos os continentes, já foi uma prévia do que se espera de resultado do evento que será realizado aqui no Brasil, entre os dias 19 e 26 julho do ano que vem. Com o tema “Todos os Mundos. Um só Mundo. Arquitetura do Século 21”, a expectativa é de que o Congresso Mundial receba mais de 20 mil arquitetos e urbanistas de diversos países.

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do primeiro contato”, explicou Pedro Coelho, gerente do programa Builty by Brazil. Das experiências de fora que foram apresentadas durante o seminário, a Arquitetura italiana, principalmente a área de design, tem conquistado novos mercados por ter se tornado referência mundial. Segundo Livio Sacchi, coordenador do departamento de Relações Exteriores Italiano, “é mais fácil vender o arquiteto italiano e mais difícil trabalhar com o arquiteto europeu”. “Por isso, decidimos começar um grupo de trabalho para fazer com que os arquitetos italianos se tornem internacionais”, revelou Sacchi. Ao apoiar a questão da mobilidade profissional, o coordenador do Departamento Científico e do Conselho de Registro da Ordem dos Arquitetos de Angola, Vity Claude Nsalmbi, defende principalmente que as pessoas precisam ser envolvidas no projeto, trazendo ganhos para ambos os lados. “A mobilidade profissional tem inúmeras possibilidades, mas não deve ser vista apenas para


Fotos: Acervo CAU/SP

a exportação de projetos, mas também de relação com o parceiro local”, pontuou Nsalmbi.

de jovens”, completou a arquiteta e urbanista. Por outro lado, ampliando o debate sobre o assunto, arquiteQualidade de Ensino tos e urbanistas de outros países A expansão vertiginosa dos demonstraram que não há um cursos de Arquitetura e Urbanis- modelo definitivo para melhorar mo nos últimos anos no Brasil o nível dos cursos de graduatambém foi uma das principais ção, mas formas em constantes preocupações apontadas pelos transformações. Nos Estados participantes brasileiros (veja no Unidos, por exemplo, o NAAB box). “Nós temos que nos unir (National Architectural Accredipara ter profissionais dignos para tation Board), órgão similar ao o exercício da profissão”, ressal- CAU no Brasil, tem estabelecido tou João Carlos Correia, presiden- novos parâmetros de avaliação te da ABEA (Associação Brasileira das instituições por meio de disde Ensino de Arquitetura e Urba- cussões com os representantes nismo). Para Ana Góes Monteiro, que compõem o seu colegiado. vice-presidente da mesma enti- “Acreditamos que o ensino de dade, muitas instituições não têm Arquitetura, no futuro, tem que sequer seguido recomendações deixar os alunos prontos para a mínimas para a formação profis- prática”, disse Barbara Sestak, sional. “Estamos desqualificando presidente do NAAB. a profissão e ludibriando milhares A experiência chinesa demonstra também que estamos em um período de muitas Laura Novo mudanças no ensino. Para Li de Azevedo Zhenyu, decano da Faculdade de (OBU, Reino Arquitetura e Urbanismo da UniUnido); versidade de Tongji, as ferramen Gogliardo tas tecnológicas têm contribuído Maragno para a formação dos alunos, de (UFSC, Brasil); maneira que, muitas vezes, as pessoas têm chances de apren Vladimir Šlapeta (Brno der por elas mesmas, com o surUniversity of Technology, República Tcheca)

Parceria ítalo-brasileira Um memorando de entendimento para o fomento de trabalhos de profissionais entre o Brasil e a Itália foi assinado durante o seminário internacional promovido pelo CAU/SP. Na ocasião, tratativas a respeito também já foram iniciadas com a Coreia do Sul.

gimento de novos paradigmas: “Precisamos preparar os alunos, mas eles próprios também podem nos ensinar. O aluno tem que ser bom hoje e também para o futuro”, concluiu o chinês. Sobre o uso de novas tecnologias, Miriam Roux Azevedo Addor, vice-presidente da AsBEA (Associação Brasileira de Escritório de Arquitetura) e conselheira do CAU/SP, falou sobre a inserção do BIM nas universidades brasileiras, que começou em 2003. “Esse ensino assume um ritmo mais acelerado à medida em que o mercado e os alunos imprimem um nível superior de demanda”, analisou a arquiteta e urbanista. ¥

Cursos em expansão Os dados mais atualizados do MEC apontam 763 cursos de Arquitetura e Urbanismo autorizados a funcionar no país em maio deste ano, compreendendo mais de 119,5 mil vagas. Na modalidade ensino a distância, são 35 cursos autorizados (9 já em funcionamento), com potencial de 93.564 matrículas. O CAU/BR trabalha com a estimativa de que os primeiros graduados em Arquitetura e Urbanismo nesta modalidade colem grau ainda entre 2020 e 2021.

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Divulgação

PARCERIAS

Parcerias para melhorar o país

Todos os anos, o Conselho seleciona organizações sem fins lucrativos que tenham propostas originais e relevantes para o desenvolvimento da Arquitetura e Urbanismo

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nários, oficinas, fóruns, manuais técnicos, documentários, cartilhas ou livros, e até mesmo sessões de filmes. No primeiro trimestre de 2019, por exemplo, o Conselho ajudou a viabilizar o festival internacional Move Cine Arch com uma programação diversificada de documentários sobre Arquitetura. Antes, no final de 2018,

contribuiu para concretizar a exposição O Pavilhão do Brasil na Expo 70 Osaka, sobre o projeto histórico de Paulo Mendes da Rocha, e o seminário O MASP de Lina: 50 anos do Edifício na Avenida Paulista, marcando a efeméride do marco arquitetônico da avenida Paulista. O CAU/SP, por meio de uma comissão técnica de seleção, também considera importante apoiar a publicação de obras sobre o legado arquitetônico do país ou boas iniciativas no campo profissional. Reprodução.

N

o início deste ano, o arquiteto e urbanista poderia frequentar um festival de cinema, participar de uma oficina sobre viveiros urbanos, ir ao lançamento de um livro sobre um mestre artesão do século XVIII e, em todos estes eventos, aproveitar uma iniciativa patrocinada pelo CAU/SP. O Conselho reserva uma parcela de seu orçamento a cada ano para apoiar iniciativas que promovam a difusão de conhecimento técnico, cultural e científico, convidando as entidades por meio de edital e firmando as chamadas parcerias de fomento, após aprovação dos conselheiros em plenária. Estas parcerias se materializam na forma de cursos, semi-

Lançamento do livro "Infinito Vão - 90 Anos de Arquitetura Brasileira" --publicado com apoio do CAU/SP --no IMS Paulista, na capital, que contou com um ciclo de debates e a presença do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, em março deste ano

O livro que aborda trajetória do mestre artesão Joaquim Pinto de Oliveira (1721-1811), foi publicado por meio de parceria de fomento firmado com o Conselho


Assim, nos editais anteriores, o Conselho já contribuiu para a edição de livros sobre a obra de Vilanova Artigas (1915-1985), Franz Heep (1902-1978) e muitos outros. Também ajudou a tornar realidade os documentários Arquitetura Proibida, sobre a obra do construtor Artacho Jurado (1907-1983), e Régua e Compasso, que aborda o processo criativo do arquiteto e artista plástico Gilberto Salvador. Neste ano, a autarquia está apoiando a veiculação de um trabalho sobre a obra-prima de Lina Bo Bardi (o MASP), o relato de experiências educacionais com mockups, e uma compilação de estudos de caso em assistência técnica para habitação social. Um destes destaques é a publicação da obra Infinito Vão, que cobre um arco de 90 anos da produção arquitetônica brasileira, e que foi lançado durante evento no Instituto Moreira Salles, na capital paulista, com a presença de Paulo Mendes da Rocha, entre outros profissionais de relevo da Arquitetura e Urbanismo nacional. Em 2018, foi lançado o primeiro edital específico para propostas no campo da assistência técnica. Até maio, já foram realizados um seminário em Mogi das Cruzes, um fórum com eventos na capital e em vários municípios da região metropolitana, um curso prático em Bauru, e uma oficina com foco na urbanização da comunidade carente mais antiga de São José dos Campos. Todos estes seminários, cursos e eventos são gratuitos e abertos ao público. Alguns dos livros suportados pelo CAU/SP também são distribuídos gratuitamente. ¥

As parcerias do CAU/SP Parcerias para ATHIS Projeto

Proponente

Dimensões do Intervir em Favelas: Desafios e Perspectivas

Peabiru

Fórum de Assistência Técnica e Extensão Universitária em Habitação de Interesse Social

Centro Gaspar Garcia

Capacitação e Sensibilização de profissionais e comunidades voltada aos Programas Cartão Reforma e Crédito Solidário e Elaboração de uma Proposta de Fomento de um Fundo de Assistência Técnica à Habitação de Interesse Social

Banco do Povo – Crédito Solidário

Formação em ATHIS com Autogestão e Sistema de proteção ambiental

MDM

Capacitação e Sensibilização e Defesa dos Direitos com ATHIS – Interior do Estado de São Paulo

MDM

Parcerias para a promoção da Arquitetura e Urbanismo Projeto

Proponente

Tebas: O Negro Arquiteto do século 18

Idea

Seminário Masp 50 anos

MASP

Oficina de Planejamento Alternativo

Pólis

Curso sobre conceitos de Planejamento Urbano

AEASCS

90 anos Paulo Mendes da Rocha

Escola da Cidade

Move Cine Arch

IBEFEST

Seminário de Melhorias Habitacionais em Autoconstrução

Vivacidade

6º Seminário Docomomo São Paulo

Ânima

Mock-Up de Habitação Experimental

Ânima

Oficinas de estudo, formação e prática profissional em assistência técnica em Habitação de Interesse Social: Plano popular de regularização fundiária e urbanização do Jardim Nova Esperança

Associação Veracidade

Programa Capacita Idea

Idea

Conexão Idea

Idea

Livro Masp 50 anos

MASP

Infinito Vão – Brasil

Casa Azul

Seminário Internacional de Paisagismo “Paisagem e Arte”

ABAP

Seminário Arquitetura para autonomia: Ativando Territórios Educadores

A Cidade Precisa de Você Abril l Maio l Junho 2019

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ESPECIAL UIA 2020

Nexos e fluxos, construindo significados

O

Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo-CAU/ SP, por meio da integração de pautas e ações de suas várias comissões de trabalho, pretende realizar ações preparatórias para o Congresso Mundial UIA2020RIO, a ser realizado ainda em 2019, ano que antecede o congresso. Evento desta importância e escala possibilitará trocas de

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experiências pessoais, profissionais e de conteúdo social, por meio de projetos, debates, discussões, trabalhos e exposições, que trazem para o campo da Arquitetura e Urbanismo antigos e novos significados a serem desenvolvidos e aprimorados, ou os “nexos e fluxos”, como abordagem inovadora. O objetivo dos eventos preparatórios é refletir sobre os nexos e fluxos nas relações entre os


arquitetos e urbanistas e os demais transformadores do espaço físico e cognitivo. Desta maneira, confere-se mais qualidade aos processos, planejamento, projetos e, por consequência, nas intervenções nos lugares, desencadeando a responsabilidade, interdependência e significados nas ações. Possibilita-se, assim, a construção de redes e plataformas de integração de ideias e boas práticas profissionais nas empresas, órgãos públicos e sociedade. O Congresso UIA2020RIO estrutura-se em 4 eixos temáticos: “Diversidade e Mistura”, “Mudanças e Emergências”, “Fragilidades e Desigualdades”, “Transitoriedades e Fluxos”, os quais se relacionam, direta ou indiretamente, aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU-ODS, com forte conexão às pertinências da Arquitetura e Urbanismo. As comissões do CAU/SP envolvidas pretendem ampliar o debate sobre estes temas, apro-

O Congresso UIA2020RIO estrutura-se em 4 eixos temáticos: •

Diversidade e Mistura

Mudanças e Emergências

Fragilidades e Desigualdades

Transitoriedades e Fluxos

fundando o entendimento para melhor compreensão dos eixos do UIA2020RIO, relacionando-os diretamente com nexos e fluxos da atuação dos arquitetos e urbanistas. Exatamente como preconiza o parágrafo 1º, do artigo 24, da Lei Federal 12.378/2010, que ressalta que o CAU/BR e os CAUs devem promover, fortemente, o aperfeiçoamento do exercício da Arquitetura e Urbanismo. O desafio que se enfrenta hoje, no que se refere à questão de sobrevivência da sociedade

contemporânea, é de superar modelos tradicionais, reproduzidos tanto pelos grupos sociais, empresas, órgãos públicos, instituições de ensino e de classe em geral. Nesse sentido é necessário buscar novos olhares, enfoques e metodologias que desvelem a realidade contraditória e geradora de desigualdades na qual estamos imersos e que transcendam a mera aplicação de conhecimentos específicos e tecnológicos disponíveis. Nos nexos e fluxos da ação ética dos arquitetos e urbanistas, surgem novas perspectivas e humanização das cidades. Violêta Kubrusly, André Blanco e Luiz Nunes, conselheiros e integrantes da Comissão de acompanhamento e proposições para o congresso UIA do CAU/SP

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU-ODS Abril l Maio l Junho 2019

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ESPECIAL UIA 2020 - PING-PONG

Arquitetura social e cidades para pessoas O arquiteto Roberto Simon fala sobre a 27ª edição do Congresso Mundial da UIA, que acontecerá de 19 a 26 de julho de 2020, no Rio de Janeiro Vice-presidente da União Internacional dos Arquitetos (UIA), o arquiteto e urbanista Roberto Simon tem uma longa trajetória de participação ativa em entidades ligadas à profissão. Em Santa Catarina, presidiu o Departamento local do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB). Foi, também, um dos primeiros conselheiros federais do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/BR) e integrou o Conselho da UIA. Nesta entrevista, ele comenta a importância da 27ª edição do Congresso Mundial da UIA. O evento será realizado no Rio de Janeiro em 2020 e terá o tema Todos os Mundos. Um só mundo. Arquitetura do Século 21. Segundo Simon, o objetivo dos organizadores foi colocar as Américas do Sul e Central e a região do Caribe no centro das discussões, focalizando principalmente suas realidades urbanas. Em linhas gerais, qual a importância da realização do 27º Congresso Mundial do UIA no Rio de Janeiro? RS: É importante entender que esse Congresso acontece a cada

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três anos, mas fazia 45 anos que ele não acontecia em um país da América Latina. É muito tempo, principalmente quando levamos em conta que as coisas estão acontecendo com rapidez cada vez maior. Então, estamos trazendo o maior Fórum da Arquitetura mundial para o Rio de Janeiro. O evento será um laboratório vivo, a céu aberto, onde a riqueza, a pobreza e todas as diferenças que poderíamos discutir com os colegas de todas as partes estarão presentes. E, apesar das nossas dificuldades, o Brasil encontra-se hoje em uma posição mais favorável para aco-

lher e receber um evento dessa dimensão. Teremos em torno de 20 mil pessoas envolvidas nessa operação. Todos os mundos. Um só mundo. Arquitetura do século 21. Qual o significado desse tema, escolhido para o evento? RS: A globalização conectou e aproximou, derrubou fronteiras e barreiras. As divisas, como dizia o escritor Milan Kundera, se desmancharam no ar. Todos os mundos conectados formam um mundo só. Mas existem as diferenças sociais, as dificuldade maiores ou menores – e, assim,


congressistas.

É necessário buscar novos olhares, enfoques e metodologias que desvelem a realidade contraditória e geradora de desigualdades na qual estamos imersos temos todos os mundos e um só mundo ao mesmo tempo. E a “Arquitetura do século 21” tem de ser a resposta deste século ao desafio da união de todos os mundos em um só, respeitadas as culturas. O evento terá atividades simultâneas em diversos lugares, nas ruas etc. Como isso vai funcionar? RS: Nós tivemos exemplos semelhantes, embora não exatamente iguais, em Istambul e Barcelona. Foram congressos bem-sucedidos porque conseguiam integrar a população às cidades. O objetivo principal não é levar todo mundo para dentro de um centro de convenções, mas realizar um evento que se estenda para a rua por meio de todas as entidades que conseguirmos congregar na região central do Rio. E são inúmeras as entidades culturais, artísticas etc. Os universos do Rio são muito conectados. As favelas são quase dentro da área urbana. O aterro do Flamengo e o píer, Mauá, são espaços readequados, recondicionados, com transporte sobre trilhos (VLT). Tudo isso facilita a integração e a mobilidade dos

A realização dos últimos eventos esportivos dá uma certa tranquilidade? RS: Sim. Nós fomos afortunados com a realização das Olimpíadas e da Copa do Mundo. Apesar de alguns erros, nós nos saímos bem aos olhos do mundo. E, graças a esses eventos, tivemos melhorias na infraestrutura urbana, principalmente na parte de mobilidade. Mas, o que dizer de problemas como o da ciclovia Tim Maia, que sofreu mais de um desabamento? RS: Sim, essa questão, e também o aspecto da segurança pública, geram questionamentos. Mas toda cidade grande tem problemas. No mundo todo é assim. Com relação à segurança, percebo que essas épocas de grande concentração de pessoas tendem a ser mais pacíficas. Acredito que o Rio de Janeiro será um espaço de alegria, mais ou menos como acontece durante as Feiras de Milão. O Congresso será uma oportunidade para a sociedade conhecer melhor o trabalho do arquiteto e urbanista e a importância dele para a construção das cidades? RS: Sim, e vou além: o Congresso poderá ajudar a expandir o olhar para um outro aspecto fundamental para a Arquitetura – seja brasileira ou de qualquer país –, que é a pauta social. Nós precisamos trabalhar, porque o arquiteto sempre foi considerado um objeto de luxo, mas não é,

nem deveria ser. Temos muito a realizar neste sentido, no Brasil, na América Latina, na África... Enfim, em todas as grandes regiões que enfrentem questões sociais complexas. O que falta para estimular esse aspecto da Arquitetura? RS: Os governos talvez não estejam prestando atenção numa área que é muito sensível, muito necessitada. Eles deveriam ser os pais disso. Hoje, o CAU tem feito muito nesse sentido. Nós criamos a oportunidade de gastar 2% do nosso orçamento no estímulo a esse tipo de trabalho, para podermos voltar os olhos dos colegas para essa outra área. E temos conquistado prêmios, porque Arquitetura social não significa Arquitetura ruim: significa uma Arquitetura possível, mas com qualidade. A Arquitetura social será o grande tema desse Congresso? Quais suas apostas? RS: É muito difícil você poder adivinhar com essa antecedência o que será, mas acredito que sim. As questões de tecnologia, as mudanças rápidas que estão ocorrendo nas áreas de realidade virtual e realidade aumentada e tudo o que tem impactado fortemente a profissão deverá ganhar relevância. A palavra “inovação” já está um pouco desgastada pelo uso, mas, chavões à parte, ela estará em evidência. E, principalmente, espero que saiamos de lá com um resultado bem positivo: a constatação de que as cidades devem ser planejadas para as pessoas, e não para os automóveis. ¥ Abril l Maio l Junho 2019

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ARQUITETURA NO MUNDO

O triunfo das bicicletas

MarinaD_37/Shutterstock

Vistas apenas como instrumento de lazer ao longo de décadas, elas estão conquistando espaço crescente nas políticas de mobilidade urbana em todas as partes do mundo

Bicicletas sobre o canal, com vista para o rio Amstel, Amsterdã

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ano é 1880, e a cidade, Amsterdã. Ou Paris, Londres, Nova York. Os veículos de tração animal dividem o cenário com os bondes e, cada vez mais, com as bicicletas. Outubro de 1908. O industrial Henry Ford lança, nos Estados Unidos, o modelo Ford T. Fabricado em esquema de linha de montagem, que barateia o produto, rapidamente o veículo se torna sucesso absoluto de vendas. Mais de 250 mil unidades são adquiridas em um período de cinco anos. A novidade modifica a cena urbana para sempre. A popularização dos carros e a consequente perda de espaço por parte das bicicletas ocorreram em poucas décadas. As pessoas e as cidades tiveram que se adaptar rapidamente aos novos ventos.

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“Conforme os carros foram ocupando as ruas de maneiras cada vez mais onipresente, aumentou o número de acidentes graves. As principais vítimas eram pedestres e ciclistas. Já início do século 20, um movimento em prol da segurança no trânsito foi formado por mães holandesas”, comenta a arquiteta e urbanista Hannah Arcuschin Machado, coordenadora de Desenho Urbano e Mobilidade da Iniciativa Bloomberg para a Segurança Global no Trânsito, entidade internacional dedicada a transformar a mobili-


Vladimir Mucibabic/Shutterstock

dade urbana de centros urbanos latino-americanos. Desde o começo, portanto, estava clara a necessidade de se estabelecer um convívio saudável entre os carros e os demais meios de transporte – bicicletas inclusas. “Mas as metrópoles já estavam fortemente planejadas em torno dos automóveis. Apenas na década de 1990, planos cicloviários mais consistentes começaram a se disseminar pelo mundo”, informa Hannah. Ciclovia, ciclofaixa ou ciclorrota? Denomina-se ciclovia o espaço segregado para fluxo de bicicletas. Ou seja: nela, existe uma separação física que isola os ciclistas dos demais veículos. Quando há apenas uma faixa pintada no chão, sem separação física de qualquer tipo, o nome utilizado é ciclofaixa. Sua vantagem é o baixo custo de implantação. Mas, em geral, só é recomendada para regiões com baixo fluxo de veículos. Finalmente, a ciclorrota é um caminho, sinalizado ou não, que representa a rota recomendada para o ciclista, seja para chegar a um destino, seja para fazer um circuito turístico ou esportivo. Representa efetivamente um trajeto, não uma faixa da via, um trecho segregado ou uma zona de segurança (embora uma ciclorrota possa se utilizar parcial ou totalmente desses recursos, ou até mesmo de ciclovias). Dinamarca e Holanda Na América Latina, menos de 10% da população adulta utilizam a bicicleta como meio de trans-

Vista da moderna ponte de círculo (Cirkelbroen) em Copenhaguen, na Dinamarca

porte. Na Dinamarca e na Holanda, essa média salta para 25%. Em Copenhagen, estima-se que 62% da população optem pelas bicicletas para chegar ao centro da cidade, contra apenas 9% que preferem carros. E o Poder Público não para de investir nesse modal. Desde o início da década, 16 novas pontes foram construídas na capital dinamarquesa, exclusivamente para o deslocamento de ciclistas e pedestres. Uma dessas pontes é a Cirkelbroen, projetada pelo artista islandês-dinamarquês Olafur Eliasson. Baseada em cinco plataformas circulares, a ponte oferece uma vista privilegiada da cidade e é cruzada, diariamente, por mais de cinco mil pessoas. Seu desenho ondulante convida a uma diminuição no ritmo de quem caminha ou pedala por ali. Nada menos que 400 km de ciclovias cortam Amsterdã, onde cerca de 50% dos deslocamentos são feitos de bicicleta. A cidade é uma das mais seguras do mundo para quem gosta de pedalar, e também a que abri-

ga o maior número de ciclistas. Curiosamente, até um passado recente, as faixas reservadas para o trânsito de bicicletas eram estreitas e mal conectadas. “Na década de 1970, a crise do petróleo fez o preço da gasolina disparar e alternativas de transporte começaram a ganhar destaque”, afirma Hannah. “Surgiram políticas de incentivo ao uso da bicicleta e foi proibida a circulação de carros aos domingos”, prossegue a arquiteta. O resultado foi o crescimento de 40% no uso desse modal em pouco mais de 20 anos. Hoje, a cidade tem um ótimo padrão de ciclovias – largas, bem sinalizadas e integradas às demais opções de transporte, especialmente às estações de metrô –, mas enfrenta alguns problemas, como a falta de vagas para estacionar as bikes. Na busca por soluções, a Prefeitura implantou um Plano Cicloviário de Longo Prazo, que propõe a construção de 40 mil estacionamentos até 2040 e 15 km de novas conexões entre ciclovias nos cruzamentos Abril l Maio l Junho 2019

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mais perigosos. Também foi aprovada uma medida que exige a implantação de vagas para bicicletas acessíveis ao público em qualquer nova edificação, seja ela pública ou privada. Por falar em vagas para estacionar bicicletas, a cidade de Utrecht, também na Holanda, pretende entregar 30 mil novas vagas até o ano que vem. A cidade tem 6 km de ruas exclusivas para ciclistas e pedestres e, em 2017, implantou um sistema chamado “Flo”, que detecta a velocidade do ciclista e o instrui a acelerar ou diminuir para aproveitar, ao máximo, todos os semáforos verdes. Vizinha a Amsterdã, sobressai Groningen, cidade situada ao Norte da Holanda e habitada principalmente por estudantes universitários. No centro de Groningen, onde os carros são proibidos de circular, 60% de todos os deslocamentos são percorridos de bicicleta. A situação era bem diferente até 1977, quando a Prefeitura local implantou um meticuloso plano de redesenho urbano. Na época, as “medidas anticarros” geraram fortes reações, especialmente em meio aos comerciantes, que temiam perder clientes. Hoje, é evidente que o resultado foi positivo para todos: um percurso que demora 12 minutos para ser percorrido de carro pode ser feito em apenas dois minutos de bicicleta. Há ciclovias a poucos metros de qualquer casa, estacionamento para 11 mil bicicletas na estação central de Groningen, sinalização adequada e incentivo ao uso de bicicletas elétricas por parte da população mais velha.

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Yasonya/Shutterstock

ARQUITETURA NO MUNDO

França Desde 2015, Paris encampa o projeto de se tornar a “capital do ciclismo urbano”. Pressionada por altos níveis de poluição, a cidade passou a investir no setor de transporte coletivo e a incentivar o uso de bicicletas compartilhadas. Denominado “Plan Vélo 2015-2020”, o projeto aposta na disseminação das “redes expressas para bicicletas”. A primeira via do gênero foi aberta no final de 2017, a oeste de Paris. O trecho da avenida George Pompidou, que liga Quay d’Issy até a Torre Eiffel, tem agora uma única faixa destinada ao transporte motorizado, enquanto os ciclistas ganharam uma via separada e protegida. A Rue de Rivoli, uma das principais avenidas da capital francesa, ganhou uma ciclovia que liga a Place de la Concorde até a Bastilha. Até o ano que vem, a Prefeitura terminará de implementar 1.300 quilômetros de rede cicloviária, praticamente o dobro do que havia em 2015, quando o projeto teve início. Além da transformação viária, a administração municipal criou

10 mil vagas de estacionamento para bikes. Mas a cidade francesa mais adequada aos adeptos das bikes é Estrasburgo. São 560 km de ciclovias que interligam praticamente todos os bairros, e o sistema Velhop facilita o compartilhamento de bicicletas tanto para os moradores da região quanto para os turistas. Na pátria do automóvel O mundo tem hoje cerca de 1,3 bilhão de veículos. Desse total, 263 milhões estão nos Estados Unidos. Mas, até no país natal do automóvel, as bicicletas ganharam espaço nos últimos anos: surgido na década passada, o movimento People for Bikes, que busca melhorias para o ciclismo urbano no mundo todo, lançou o Green Lane Project, com o objetivo de ver as cidades norte-americanas ganharem ciclovias cada vez melhores e mais seguras. Em um ranking elaborado por essa organização, sobressaem exemplos como o da Rua Deaborn, em Chicago, onde uma ciclovia perfeitamente sinalizada fez


Shutterstock

Paris, França Ciclofaixa na

cidade de São Paulo

Ciclistas

pedalando em Bogotá, Colômbia

Fotos593/Shutterstock

com que o número de pessoas dispostas a ir trabalhar de bike em vez de usar o carro dobrasse nos últimos três anos, e a Trilha Cultural de Indianápolis, que conecta seis distritos culturais da cidade e gerou uma grande valorização dos imóveis no seu entorno. Também merecem destaque a ciclovia que vai da Rua 72 até a Rua 125, em Nova York, e as melhorias empreendidas nas Ruas Fell e Oak, em San Francisco. Nestas, os espaços voltados ao estacionamento de carros foram erradicados e a sinalização sofreu readequações para melhorar a coexistência de automóveis e bicicletas. Bogotá, Buenos Aires e São Paulo Na América Latina, as três metrópoles que mais investiram em ciclovias foram Bogotá, Buenos Aires e São Paulo.

Em Bogotá, o destaque dado às ciclovias deveu-se muito ao trabalho de Enrique Peñalosa Londoño, prefeito da cidade de 1998 a 2001, reeleito em 2015 para o mandato de 2016 a 2019. Ex-jornalista e consultor em política urbana e de transporte, o administrador público adotou uma postura fortemente comprometida com a melhoria da mobilidade. Em seu primeiro mandato como prefeito da maior cidade da Colômbia, Peñalosa implantou mais de 350 km de ciclovias protegidas. Estas foram integradas aos modais de transporte coletivo: o chamado “sistema de ciclorrutas” oferece acesso ao TransMilenio, operado por BRT (Bus Rapid Transit), ônibus que circulam pelas principais vias da malha viária de Bogotá. Hoje, em boa parte da cidade, o tráfego motorizado é proibido aos domingos e feriados.

Em Buenos Aires, a rede de ciclovias seguras começou a ser construída em julho de 2009 e hoje chega a 230 km de extensão. Nela, o ciclista pode circular em pistas exclusivas, que ficam protegidas do resto do tráfego veicular por meio de um separador físico. A rede foi planejada para integrar diferentes pontos estratégicos da cidade, principalmente escolas, hospitais, universidades e centros de lazer. O traçado também procurou privilegiar a conexão com diferentes modais de transporte coletivo. Em São Paulo, a Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET) mantém um mapa com a estrutura cicloviária permanente da capital paulista. Nele, constam apenas as pistas já finalizadas, não havendo pontos pendentes no traçado ou sinalização. “Entre 2012 e 2016, foram implantados 400 km de ciclovias. Nem tudo foi tão planejado e discutido como seria o ideal, mas havia uma necessidade urgente de fazer as ideias saírem do papel”, avalia Hannah. Hoje, de acordo com a própria CET, São Paulo conta com 503,6 km de vias com tratamento cicloviário permanente. Deste total, 473,3 km são ciclovias e ciclofaixas. Apenas 30,3 km enquadram-se na categoria de ciclorrotas. O ciclista paulistano dispõe também de 6.544 vagas em 75 bicicletários públicos e 208 vagas em 13 locais com paraciclos públicos, instalados em terminais de ônibus e estações de trem e metrô. ¥ Abril l Maio l Junho 2019

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INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO

Governo e iniciativa privada lançam bibliotecas públicas para BIM Customizar plantas e formar bibliotecas da cadeia produtiva são possibilidades trazidas pela tecnologia BIM

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Building Information Modelling (BIM) ou, em português, Modelagem da Informação da Construção, é uma tecnologia que permite integrar todas as informações pertinentes a uma obra. Por meio do BIM, que oferece a representação digital das características físicas e funcionais de uma obra, pode-se prever cada etapa construtiva – do pré-projeto à execução – e até ir além da obra pronta, chegando à manutenção pós-entrega. A tecnologia atualmente incorporada ao BIM permite criar, em formato digital, um ou mais modelos virtuais de uma mesma obra com elevado grau de precisão. Graças à padronização de informações e de sua disponibilização integrada, arquitetos, en-

genheiros e demais agentes da obra podem trabalhar em conjunto, detectar erros nas fases iniciais de projeto e aprimorar todas as estimativas – do material necessário à construção ao prazo previsto para seu término.

Formação de Bibliotecas BIM Nos últimos anos, entidades representativas da indústria da construção civil nacional têm se organizado para criar uma biblioteca virtual genérica de elementos construtivos. Ou seja, agrupar a maior diversidade possível de elementos construtivos dissociados das marcas dos fabricantes. O objetivo é ajudar a suprir necessidades de construtores e projetistas que trabalham com o BIM.


A iniciativa é capitaneada pela Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (ABRAMAT), Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo (SindusCon-SP), Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e organismos públicos. Todas as entidades empenhadas na criação de uma ampla biblioteca compartilham a opinião de que a plataforma é essencial para tornar o setor mais competitivo no país. Além disso, acreditam que o BIM só conseguirá se popularizar se houver uma ferramenta pública que estimule sua disseminação. No caminho desse esforço, o Governo Federal lançou, em maio de 2018, a “estratégia nacional para disseminação do BIM”.A ideia seria implantar programas-pilotos em que os executores utilizassem o BIM, e a expectativa é que a produtividade seja até 10% maior nas obras públicas, e que seu custo total diminua em cerca de 20%. “As bibliotecas digitais servirão para que União, governos estaduais e prefeituras possam reduzir despesas e trabalho, além de prestar contas de forma mais transparente à população. É uma tecnologia que deve ser adotada como prioridade”, garante Guto Ferreira, presidente da ABDI. “Ao permitir o acesso à ferramenta, as bibliotecas poderão concentrar um cadastro de produtos e serviços apropriados à tecnologia”, ele diz. Dados da própria ABDI mostram que somente 5% da cadeia produtiva da construção civil usam o BIM no Brasil.

Plataforma BIM BR Em novembro de 2018, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), em parceria com a ABDI, lançou a Plataforma Building Information Modelling no Brasil (BIM BR), que abrigará a Biblioteca Nacional BIM (BNBIM), que contará com um vasto acervo de objetos BIM no Brasil. Desse modo, toda a cadeia produtiva da construção civil - que engloba mais de 250 setores - poderá consultar, pesquisar e fazer o upload ou download de objetos BIM na Plataforma. A ABDI é responsável pelo processo de alimentação, manutenção e suporte da Plataforma, que pode ser acessada pelo link https://plataformabimbr.abdi.com. br/bimbr/#inicio.

Potencial no campo da customização A arquiteta Gabriela Celani, mestre pela FAU-USP, PhD pelo MIT, livre-docente pela Unicamp e pós-doutora pela Universidade Técnica de Lisboa, atua desde 2004 como pesquisadora e docente do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, onde criou o Laboratório de Automação e Prototipagem para Arquitetura e Construção (LAPAC) e o grupo de pesquisas Teorias e Tecnologias Contemporâneas Aplicadas ao Projeto. Em um artigo apresentado no Congresso SIGraDi de 2018 em coautoria com seu aluno Verley Côco Jr., a pesquisadora descreve um sistema algorítmico para projetos de banheiros modulares pré-fabricados, que vai da geração automatizada do layout ao modelo completo em BIM. Sem esse recurso, as indústrias, em geral, só aceitam encomendas de, no mí-

nimo, 30 módulos idênticos, para diluir o custo do projeto. Em outro artigo, também de 2018, publicado na revista Automation in Construction em coautoria com os pesquisadores Pedro Veloso e Rodrigo Sheeren, Gabriela descreve um sistema de personalização de projetos que integraria dois aspectos do Projeto Arquitetônico Assistido por Computador (CAAD). “Geralmente, a geração algorítmica do layout e o projeto executivo do edifício são desenvolvidos em fluxos separados de trabalho. Nossa pesquisa mostrou a possibilidade de os futuros proprietários poderem projetar a planta de seus apartamentos de forma interativa, e de estas plantas serem automaticamente convertidas em modelos detalhados de informações de construção por meio do BIM”, explica Gabriela. Nesse caso, os layouts foram gerados por meio de uma gramática da forma. “Por meio do BIM, é possível ao arquiteto adicionar acabamentos personalizados, estimar custos e gerar automaticamente desenhos de construção. Concluímos que o nosso fluxo de trabalho poderia contribuir para a real personalização de casas e de outros programas arquitetônicos simples, garantindo a qualidade dos resultados e, ao mesmo tempo, reduzindo o custo dos desenhos de produção através da automação”, informa a arquiteta. “Se a gente automatizar a passagem do layout para o sistema executivo, torna a customização economicamente viável. Estamos, portanto, trabalhando em uma etapa fundamental, que antecede o desenvolvimento das bibliotecas”, conclui.

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OLHAR DE ARQUITETO

JoĂŁo Cardoso Walt Disney Concert Hall, Los Angeles, Estados Unidos

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André Gomes da Silva Avenida São João, São Paulo

Graduandos de Arquitetura e Urbanismo e profissionais registrados no CAU: compartilhem sua foto no Instagram ou no Facebook usando a hashtag #minhafotonamobile. As fotos devem ser tiradas em alta resolução e publicadas em modo "público".

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OUVIDORIA

Sob a orientação dos mestres: a importância do ensino presencial POR AFFONSO RISI, OUVIDOR DO CAU/SP

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ue arquitetos e urbanistas queremos formar? Como preparar os profissionais adequados à tarefa mais do que urgente de organização e construção do território desse país?

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A orientação e o acompanhamento da formação nos cursos universitários não estão – infelizmente – entre as competências e atribuições diretas do CAU. Talvez devessem estar e esse parece ser o entendimento de um número expressivo de colegas e futuros colegas, que apelam à Ouvidoria do Conselho para pedir providências quanto a alegadas mazelas e inadequações nos cursos ou, quando são ainda estudantes, para também queixar-se da dificuldade encontrada para o exercício dos estágios obrigatórios. As escolas de Arquitetu-

ra e Urbanismo contam-se hoje às centenas e é fácil imaginar a enorme dificuldade para encontrar locais de estágio, sobretudo nas pequenas cidades. Procuramos responder aos demandantes indicando, sempre que possível, as instâncias a que podem ou devem recorrer, além de encaminharmos as questões para conhecimento dos membros do Conselho. A propósito, vale ressaltar a recente iniciativa da Comissão de Ensino e Formação (CEF) do CAU/SP, em parceria com a CEF/BR e a CRI/BR, Comissão


de Relações Internacionais, na promoção e realização, de 27 a 29 de maio deste ano em São Paulo, do excelente Seminário sobre Qualidade de Ensino e Mobilidade Profissional, com grande participação de interessados de quase todos os estados brasileiros, além de palestrantes de 11 países estrangeiros, vindos de quatro continentes. Entre eles honrou-nos com a presença o Presidente da União Internacional de Arquitetos, Thomas Vonier. Foi um momento rico de troca de experiências e de engajamento do CAU em relação à formação dos arquitetos. Nosso ofício, diferentemente de em outros países, assumiu no Brasil um caráter francamente generalista, que busca a plena realização do tríduo vitruviano – utilitas (programa/relação com as ciências humanas), firmitas (técnica/ciências exatas) e venustas (território da arte) – projeto ambicioso, de realização cada vez mais difícil, que presume o exercício quase simultâneo da análise e da síntese. Há toda uma imensa carga teórica a ser assimilada, mas o ofício ainda não prescinde da praxis, a realização física do que se projeta, com o domínio ou, pelo menos, a familiaridade com as ciências da natureza e com a física aplicada. É preciso conhecer as técnicas construtivas, interpretar a geomorfologia, assim como as demandas sociais, políticas e econômicas. Nosso trabalho aspira, ainda, à difícil condição de obra de arte, o que exige cultura e intenso

treinamento na compreensão e manejo da forma e de seus significados. Um dos maiores (talvez o maior) problema desse País é o escandaloso déficit habitacional, de que decorrem as calamitosas situações urbanas e sanitárias de nossas cidades. É preciso treinar os futuros arquitetos no conhecimento desses problemas e familiarizá-los na aplicação das boas práticas de projeto, cujo acervo está disponível e deve integrar nossa cultura profissional. Os escritórios (inclusive os organizados dentro das instituições de ensino) e os canteiros de obra são os espaços adequados a essa formação e treinamento, complementando o conhecimento teórico aprendido nas salas de aula. Tentando, ainda, responder às questões propostas no princípio do texto, é preciso formar arquitetos e urbanistas aptos a projetar e atuar nas cidades, atentos à realidade multifacetada que as caracteriza. Tudo isso pede um currículo rico e intenso, com a prática permanente do trabalho em equipe, uma constante necessariamente presente em nossa ação. O estudo sob a orientação de mestres experientes deve preparar profissionais aptos a exercer as tarefas solicitadas pela sociedade e a ajuda dos recursos hoje disponíveis de modelagem (3D), ferramentas que potencializam o trabalho, transformam a sala de aula em laboratório privilegiado e imprescindível, proporcionando um extraordinário instrumento de aprendizado.

O CAU/BR, em artigo publicado em 4 de maio passado na Folha de S.Paulo e transcrito no portal do CAU/SP, assinado pelo Presidente Luciano Guimarães e pelo coordenador-adjunto da Comissão de Ensino e Formação (CEF-CAU/BR), Juliano Ximenes Ponte, manifestou-se claramente contrário à pretendida expansão do ensino a distância (EAD) em Arquitetura e Urbanismo, proposto em recentes normativas do Ministério da Educação. A medida, de óbvio interesse econômico por parte de instituições de ensino, põe ainda mais em risco a formação dos futuros arquitetos e urbanistas, agravando ainda mais o quadro precário em que nos encontramos. As tecnologias de EAD podem ser excelentes aliadas no processo de formação e, certamente, serão ainda mais eficientes na sequência do processo de educação continuada, que hoje se faz obrigatória. Parece acertada, no entanto, a decisão tomada pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo de exigir o cumprimento das atuais Diretrizes Curriculares Nacionais, que preconizam o ensino presencial, “a dinâmica em grupos e a presença em ateliês de projeto e canteiros de obra”. Para isso, o CAU decidiu exercer a prerrogativa de não aceitar registros de egressos de cursos cuja maior carga horária se dê à distância. O tema ainda terá, com certeza, desdobramentos jurídicos, mas é alentadora a firme posição do Conselho na defesa da qualidade da formação profissional. ¥ Abril l Maio l Junho 2019

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FIQUE ATENTO

Expo Paisagismo

A feira, que chega à sua segunda edição, foca especialmente o mercado de paisagismo, jardinagem e Arquitetura sustentável. De 6 a 9 de agosto, no Expo Center Norte, em São Paulo, pode ser visitada das 13h às 21h e será realizada simultaneamente com a Expolazer.

Habitação Social – Projetos de um Brasil O documentário produzido pela Pique-Bandeira Filmes desenha um panorama histórico da habitação de interesse social no Brasil, abordando as questões sociais, econômicas, políticas e arquitetônicas que influenciaram as políticas públicas do setor ao longo do século XX. Utilizando entrevistas, grafismos, materiais de arquivo, plantas e croquis, os 13 episódios abordam a diversidade de possibilidades de ocupação humana desses espaços de moradia.

Infinito Vão – 90 anos de arquitetura brasileira Último lançamento da Monolito, o livro apresenta um conjunto de obras de arquitetos brasileiros ou radicados no país, desde 1924 até os dias atuais. Trata-se de uma seleção feita a partir Coleção Brasil, composta por 103 projetos e milhares de peças físicas e digitais, constituída pela Casa da Arquitectura — Centro Português de Arquitectura.A obra é ricamente ilustrada com desenhos e fotos, além de textos de vários autores, como Ana Luiza Nobre, Daniele Pisanni, Fernando Serapião, Guilherme Wisnik e Jean-Louis Cohen, entre outros.

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II Fórum Mundial Niemeyer Com debates sobre o rumo e futuro da importância da Arquitetura como interventor no desenvolvimento das cidades de modo a torná-las mais inclusivas e humanas, o II Fórum Mundial Niemeyer será realizado em São Paulo, de 26 a 30 de agosto, no Memorial da América Latina. Artes e Humanidades, Sustentabilidade, Cidade e Planejamento Urbano e Inclusão e Arquitetura estão entre os assuntos que serão abordados por grandes profissionais do setor em suas apresentações. Durante o evento, também será lançado o Prêmio

DICA

Global Niemeyer. De âmbito internacional, o prêmio visa a reconhecer as melhores ações e projetos de políticas urbanas, culturais e científicas, em sete diferentes categorias: Arquitetura e Humanismo; Soluções Urbanas e Responsabilidade Social Artes

de Cunho Social; Ciência e Tecnologia à Serviço da Sociedade; Esporte Solidário; Acessibilidade; Personalidade do Ano; e Sustentabilidade. Mais informações: www.institutoniemeyer.

de Janaína Rueda

Catedral da Sé A chef de cozinha do restaurante que funciona há 11 anos no Edifício Copan recomenda a visita guiada à igreja mais famosa da cidade de São Paulo, que tem em seu interior uma cripta, desconhecida até por muitos paulistanos. “O passeio monitorado é superinteressante de se fazer. Com algumas intervenções de restauro, pode se transformar em um dos lugares mais lindos do mundo”.

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Espaços de uso coletivo e o conflito público-privado

Arquivo pessoal

PONTO DE VISTA WILSON EDSON JORGE

O

s espaços de uso coletivo são, na estrutura urbana, aqueles nos quais as pessoas cruzam, se encontram e interagem e onde podem identificar-se como participantes da coletividade urbana. Esses espaços favorecem o encontro e a percepção do indivíduo do coletivo a que pertence; eles podem ser tanto públicos (ruas, avenidas, praças, parques) como privados (shopping centers, mercados, lojas). No caso da cidade formal, os espaços públicos se apresentam sempre aquém das necessidades geradas pela condição histórica da formação e rápido crescimento das cidades. Além de sua exiguidade face às demandas e necessidades da população, os espaços públicos de uso coletivo ainda sofrem uma pressão permanente do setor imobiliário privado. Pois, por um lado, esses espaços valorizam as áreas próximas, tornando positiva sua permanência ou mesmo criação. Por outro, pelo valor que possuem, dada sua localização e áreas livres, tornaram-se objeto de interesse do setor privado. A perda de espaços públicos de uso coletivo pode se dar também por uma autofagia do setor público, suprimindo áreas ainda não utilizadas (margens de cursos d’água urbanos), destinando-as para outros usos, como para ampliação do sistema viário. É o caso de avenidas de fundo de vale cuja implantação provoca problemas como inundações, perda de cobertura vegetal, além da perda da área para outros usos coletivos. Na condição atual da deficiência de espaços de uso coletivo, é possível utilizar-se de recursos como a conversão, provisória ou permanente, de áreas públicas para outros usos coletivos. É disso o exemplo de áreas viárias revertidas parcial ou permanentemente para o uso de pedestres, facilitando os contatos e o usufruto da paisagem urbana. A Avenida Paulista é um exemplo de reversões provisórias para o espaço de uso coletivo: sua centralidade, importância para a circulação viária e o fato de dispor de um amplo espaço físico fazem com que convirjam para ela manifestações públicas de caráter político e cultural. Seu fechamento

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aos domingos, para uso exclusivo de pedestres (e bicicletas), trouxe à convivência representantes de toda a população e uma enorme variedade de apresentações e experiências culturais. O oposto na condição de integração urbana, com a criação de espaços de uso coletivo privados, é a solução de condomínios fechados. Esses enclaves que limitam a integração dos moradores na vida urbana criam interrupções críticas na fluidez e na continuidade da trama urbana, com perímetros murados e contínuos. Tensões entre o setor público e privado, face ao planejamento e apropriação do espaço urbano, ocorrem dentro do próprio setor público, com participações de grupos políticos com interesses próprios, dos quais o setor imobiliário é dos mais representativos. O conflito entre os interesses deste, e mesmo de outros setores privados, e interesses mais amplos da população, faz do setor público uma arena política com tensões permanentes entre os diversos grupos de interesse. É nesse processo que se formarão as políticas públicas, inclusive aquelas dos espaços públicos de uso coletivo e que dependerão inclusive da ação de uma sociedade civil organizada que extrapole os interesses estritamente privados. É o caso das organizações não-governamentais voltadas ao interesse público. Essas organizações têm todo um potencial para promover, junto ao Estado, propostas de ações no urbano de forma a garantir uma regulação do espaço privado, minimizando a dicotomia público- privado que vem prevalecendo nas relações espaciais da cidade. Nessa perspectiva, o planejamento e o projeto urbano são instrumentos essenciais, devendo ser usados permanentemente como cultura da política pública. Wilson Edson Jorge Arquiteto Urbanista, Professor Titular em Projeto, pela FAUUSP




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