Revista Móbile #10 | A Paisagem da Cidade

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#10 Revista do CAU/SP

Setembro Outubro 2017 n

ISSN 2448-3885

A PAISAGEM DA CIDADE O protagonismo dos arquitetos na melhoria da qualidade urbana

Em Debate

A terceirização ou não das áreas verdes de SP

Ponto de Vista

Arquitetura e arte, por Ricardo Ohtake

Entrevista

Siegbert Zanettini, muito além do uso do aço


Arquitetura Paulista:

Edifício Cacique

Construído em 1956, o prédio situado à Rua Paraíso, em São Paulo, é um projeto do Engenheiro-Arquiteto Miguel Badra Jr. (Escola Politécnica SP/1945). Implantado em terreno triangular com três fachadas, sendo uma delas voltada para a Avenida Paulista, é um prédio de uso misto, com térreo e sobrelojas destinados a serviços e demais andares destinados à residência. Todo terreno foi ocupado com pilotis até o 2º andar da sobreloja com vidros e blocos de vidro. Texto e imagem: Luci Antonascio


palavra do presidente

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A contribuição do CAU à nossa profissão

A área de atuação em Projeto congrega 53% de nossas atividades e a área de Execução 32%, demonstrando uma grande atuação nesses dois campos

Recentemente, o CAU/BR lançou o Anuário de Arquitetura e Urbanismo – documento que traz um levantamento de toda a produção dos arquitetos e urbanistas no ano de 2016. Nesse material, é possível identificar todos os trabalhos desenvolvidos por nossos profissionais, desde a localidade até o tipo de serviço realizado. É uma grande fonte de pesquisa, que pode ser mapeada no sentido de identificar nossos campos de atuação e nossas atividades. Nessa linha, podemos identificar que a área de atuação em Projeto congrega 53% de nossas atividades e a área de Execução, 32%, demonstrando uma grande atuação nesses dois campos. Na área de Projeto, a atuação em Arquitetura de Edificações gira em torno de 41,5% e em Instalações e Equipamentos de Arquitetura são 30,88%. Na área de Arquitetura de Interiores temos 5,35%, entre outros. Na área de Execução de obras, houve uma atuação de 40,35% em relação à Arquitetura de Edificações, 35,22% de Instalações e Equipamentos de Arquitetura, e 15,8% na área de Sistemas Construtivos e Estruturais, apontando as maiores áreas de atuação do arquiteto. É um trabalho muito importante, que vem contribuir significativamente para conhecermos cada vez mais a atuação do arquiteto em nosso país. A íntegra do material pode ser acessada e consultada no site do CAU/SP e do CAU/BR. Essa produção vem se somar a várias outras que o CAU/SP e o CAU/BR têm produzido no sentido de conhecer e valorizar ainda mais nossa profissão. Além disso, os inúmeros Seminários que temos feito mensalmente sobre campos de nossa atuação levam aos profissionais e à sociedade a importante contribuição que o arquiteto e urbanista pode dar à população.

Gilberto Belleza Presidente

Setembro Outubro 2017 n


editorial cecom

DIRETORIA

A paisagem do CAU/SP A arquitetura paisagística assume a cada dia um papel mais relevante na forma da sociedade pensar o espaço urbano, seja pelas implicações ambientais que as intervenções podem ter, seja pela busca de soluções abrangentes que tragam benefícios para além da ação imediata, mas, sobretudo, que perdurem no tempo. Nessa linha, a paisagem é o tema da matéria de capa desta edição, com base no Seminário do GT sobre o tema realizado pelo CAU/SP em agosto. A entrevista com Siegbert Zanettini é uma excelente oportunidade para conhecer um pouco da obra e da atuação de um dos maiores arquitetos brasileiros. O eterno professor, cuja postura ética e a didática buscam sempre a qualidade espacial e os seus benefícios às pessoas, revisita seu vasto repertório profissional para a Revista Móbile. Na seção Em Debate, muito em voga nos últimos meses, o tema da privatização dos espaços livres urbanos vem sendo amplamente debatido por linhas de arquitetos favoráveis ou contrários a esta ideia. Afinal, a quem cabe a gestão de parques, praças e outros espaços públicos nas cidades? Confira ainda os resultados das discussões de alguns dos especialistas que compõem os Grupos de Trabalho do CAU/SP. Nesta edição estão destacados os GTs de Mobilidade Urbana, BIM, Arquitetura de Interiores e Iluminação, além da Comissão Especial de Repercussão Pública. Além disso, Ricardo Ohtake traz um interessante olhar para o que chamou de uma experiência de Arte e Arquitetura na seção Ponto de Vista. Entre tantos desafios, a Revista Móbile procura ampliar os temas debatidos nos GTs e nas Comissões do Conselho de maneira a internalizar tais assuntos em seu corpo institucional, atendendo às demandas dos arquitetos paulistas, cuja atuação implica em um sem número de atividades profissionais. Em última instância, afinal, o objeto de trabalho do arquiteto é o espaço, em que concorrem a paisagem, a sociedade e seus inerentes aspectos culturais. Por isso, para que a Revista Móbile esteja sempre alinhada com as suas necessidades e interesses, não deixe de nos encaminhar suas críticas, sugestões e opiniões. Lembre-se, quem faz o CAU são os arquitetos. Comissão Especial de Comunicação do CAU/SP * cecom@causp.gov.br Antonio Celso Marcondes Pinheiro Coordenador Andre Tostes Graziano Coordenador Adjunto Anita Affonso Ferreira Silveira membro titular Eduardo Caldeira Brandt Almeida membro titular

Claudete Aparecida Lopes membro substituto Vera Santana Luz membro substituto Diretoria de Relações Institucionais e Diretoria de Ensino e Formação

As ideias ou opiniões expostas nos artigos ou textos dos colaboradores são de responsabilidade dos próprios autores, não refletindo, necessariamente, a opinião ou posicionamento do CAU/SP.

Revista do CAU/SP

Gilberto Silva Domingues de Oliveira Belleza Presidente Valdir Bergamini Vice-presidente Luiz Fisberg Diretor Administrativo Violeta Saldanha Kubrusly Diretora Administrativa Adjunta José Borelli Neto Diretor Financeiro Roberto dos Santos Moreno Diretor Financeiro Adjunto

CONSELHEIROS FEDERAIS Renato Luiz Martins Nunes Conselheiro Federal Titular

Altamir Clodoaldo Rodrigues da Fonseca Diretor Técnico Reginaldo Peronti Diretor Técnico Adjunto Carlos Alberto Silveira Pupo Diretor de Relações Institucionais Pietro Mignozzetti Diretor de Relações Institucionais Adjunto Debora Pinheiro Frazatto Diretora de Ensino e Formação Paulo Canguçu Fraga Burgo Diretor de Ensino e Formação Adjunto Luiz Augusto Contier Conselheiro Federal Suplente

CONSELHEIROS TITULARES Afonso Celso Bueno Monteiro Altamir Clodoaldo Rodrigues da Fonseca Ana Maria de Biazzi Dias de Oliveira Andre Tostes Graziano Anita Affonso Ferreira Anne Marie Sumner Antonio Celso Marcondes Pinheiro Berthelina Alves Costa Bruno Ghizellini Neto Carlos Alberto Silveira Pupo Claudete Aparecida Lopes Cláudio Barbosa Ferreira Claudio Zardo Búrigo Debora Pinheiro Frazatto Dilene Zaparoli Éder Roberto da Silva Éderson da Silva Edmilson Queiroz Dias Edson Jorge Elito Eduardo Caldeira Brandt Almeida Eduardo Habu Flavio Marcondes

Gerson Geraldo Mendes Faria Gilberto Silva Domingues de Oliveira Belleza Gustavo Ramos Melo Jacobina Albu Vaisman José Antonio Lanchoti José Borelli Neto José Renato Soibelmann Melhem João Carlos Correia João Carlos Monte Claro Vasconcellos João Sette Whitaker Ferreira Luciana de Oliveira Royer Luciana Rando de Macedo Bento Lucio Gomes Machado Luiz Antonio Cortez Ferreira Luiz Antonio Raizzaro Luiz Fisberg Marcelo Martins Barrachi Marcia Mallet Machado de Moura Márcia Regina de Moraes Dino de Almeida

CONSELHEIROS SUPLENTES

Daniela Morelli de Lima Denis Roberto Castro Perez Denise Carvalho Schneider Alan Silva Cury Alexandre Carlos Penha Delijaicov Douglas Ellwanger Eduardo Sampaio Nardelli Ana Cristina Gieron Fonseca Eduardo Trani Anderson Kazuo Nakano Elisete Akemi Kida André Luis Avezum Eurico Pizão Neto André Takiya Antonio Castelo Branco Teixeira Junior Fábio de Almeida Muzetti Antônio Claudio Pinto da Fonseca Fernando Zambeli João Antonio Danielson Garcia Antonio João Malicia Filho João Marcos de Almeida Lopes Augusto França Neto José Alfredo Queiroz dos Santos Barbara Di Monaco José Xaides de Sampaio Alves Caio Santo Amore de Carvalho Ludimila de Fátima Biussi Afonso Carlos Alberto Palladini Filho Luis Felipe Xavier Carlos Stechhahn Luzia Regina Scarpin De Marchi Célio José Giovanni Margareth Matiko Uemura Cristiano Antonio Morales Jorge Maurilio Ribeiro Chiaretti Daniel Ferreira da Silva Comissão Permanente de Legislação e Normas Marcelo Martins Barrachi – coordenador João Carlos Monte Claro Vasconcellos – coord. adjunto Berthelina Alves Costa – membro titular Gerson Geraldo Mendes Faria – membro titular José Renato Soibelmann Melhem – membro titular Maria Rita Silveira de Paula Amoroso – membro titular Ronald Tanimoto – membro titular Comissão Permanente de Ética e Disciplina Rosana Ferrari – coordenadora Anita Affonso Ferreira – coordenadora adjunta Éderson da Silva – membro titular Nilson Ghirardello – membro titular Ana Maria de Biazzi Dias de Oliveira – membro titular Éder Roberto da Silva – membro titular Eduardo Habu – membro titular Claudete Aparecida Lopes – membro titular Ruy dos Santos Pinto Junior – membro titular Comissão Permanente de Ensino e Formação Flavio Marcondes – coordenador Vera Santana Luz – coordenadora adjunta José Antonio Lanchoti – membro titular Nelson Gonçalves de Lima Junior – membro titular Paulo André Cunha Ribeiro – membro titular Anne Marie Sumner – membro titular João Carlos Correia – membro titular

EXPEDIENTE

CECOM Conselho e coordenação editorial Daniele Moraes Coordenadora de Comunicação Epaminondas Neto Técnico de Comunicação

Maria Rita Silveira de Paula Amoroso Mario Yoshinaga Nancy Laranjeira Tavares de Camargo Nelson Gonçalves de Lima Junior Nilson Ghirardello Paulo André Cunha Ribeiro Paulo Canguçu Fraga Burgo Pedro Fiori Arantes Pietro Mignozzetti Reginaldo Peronti Roberto dos Santos Moreno Rogerio Batagliesi Ronald Tanimoto Celestino Rosana Ferrari Ruy dos Santos Pinto Junior Silvana Serafino Cambiaghi Silvio Antonio Dias Silvio John Heilbut Valdir Bergamini Vera Santana Luz Victor Chinaglia Junior Violeta Saldanha Kubrusly

Minoru Takatori Mirtes Maria Luciani Paula Valéria Coiado Chamma Paulo Brazil Esteves Sant´Anna Paulo Renato Mesquita Pellegrino Rafael Patrick Schimidt Roberto Nery Junior Rosa Grena Kliass Sami Bussab Sandra Regina da Silva Duarte Sergio Baldi Sergio Maizel Soriedem Rodrigues Tatiane Roselli Ribeiro Valter Luis Caldana Junior Vasco de Mello Vera Victoria Shiroky Schubert Victor da Costa Vinicius Faria Queiroz Dias

Comissão Permanente de Fiscalização do CAU/SP Afonso Celso Bueno Monteiro – Coordenador Márcia Regina de Moraes Dino de Almeida – Coordenadora Adjunta Eduardo Caldeira Brandt – membro titular Lucio Gomes Machado – membro titular Mario Yoshinaga – membro titular Silvio Antonio Dias – membro titular Victor Chinaglia – membro titular Comissão Permanente de Orçamento e Contas Silvio John Heilbut – coordenador Edson Jorge Elito – coordenador adjunto Bruno Ghizellini Neto – membro titular Luiz Antonio Raizzaro – membro titular Nancy Laranjeira Tavares de Camargo – membro titular Antonio Celso Marcondes Pinheiro – membro titular Andre Tostes Graziano – membro titular Comissão Permanente de Exercício Profissional Edmilson Queiroz Dias – coordenador Claudio Barbosa Ferreira – coordenador adjunto Dilene Zaparoli – membro titular Luciana Rando de Macedo Bento – membro titular Marcia Mallet Machado de Moura – membro titular Luiz Antonio Cortez Ferreira – membro titular Claudio Zardo Búrigo – membro titular

Editado por Ex Libris Comunicação Integrada Jornalista: Jayme Brener (Mtb 19.289) Editor: Cláudio Camargo Textos: Marco Paulo Ferreira, Epaminondas Neto, Daniele Moraes, Laleska Diniz e Carolina Gonçalves Projeto gráfico e diagramação: Regina G. Beer Impressão: Windgraf Gráfica e Editora Tiragem: 50 mil exemplares

revista@causp.gov.br


índice

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10

Presidência

12

Administrativo

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Ensino e Formação

16

Técnica

18

Financeiro

20

Relações Institucionais

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Em debate

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Entrevista

Fórum de presidentes alinha esforços para desenvolvimento integrado dos CAUs

Implantado há quatro anos, IGEO é importante ferramenta de estudos no mercado de Arquitetura e Urbanismo

Coordenador de cursos de Arquitetura e Urbanismo também deve ser cadastrado no CAU

Diretoria divulga balanço do trabalho de fiscalização do CAU/SP de janeiro a setembro de 2017

“Seminário ATHIS: caminhos do CAU” acontece dias 23 e 24 de novembro

Projeto “Capacita Arquiteto e Urbanista” oferece atualização profissional a centenas

As opiniões de Fabio Mariz Gonçalves e Rafael Birmann sobre conceder a gestão de áreas públicas à iniciativa privada

Com 60 anos de vida dedicados à carreira, Siegbert Zanettini é uma referência muito além do uso do aço

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Capa

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Regionais

A importância do paisagismo para a construção das cidades e o papel dos arquitetos e urbanistas

Sedes Regionais do CAU/SP ganham espaços próprios

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Concurso

6 Curtas do CAU 9 CEAU 42 gt Arquitetura de Interiores 44 gt Iluminação 46 GT BIM

Os projetos de arquitetura e paisagismo vencedores para

48 gt Mobilidade Urbana

os Parques Central e Sul de Águas Claras (DF)

50 Comissão de Repercussão Pública

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Ouvidoria

Os desafios do CAU para aperfeiçoar o atendimento a arquitetos e urbanistas

60 Ponto de Vista 62 Fique atento 66 Olhar do arquiteto

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curtas do cau Acervo CAU/SP

Nível de satisfação atinge 94% dos profissionais que acionam atendimento do CAU/SP

Projeto “BATE PAPO COM O CAU” percorre o Estado Mais de dez cidades do Estado de São Paulo receberam o projeto “BATE PAPO COM O CAU” nos últimos meses, como Bauru, Limeira, Jundiaí, Campinas e Sorocaba. O objetivo é estabelecer um canal direto entre o Conselho e os arquitetos e urbanistas, esclarecendo aos profissionais sobre as suas atribuições e responsabilidades. O Projeto propõe palestras seguidas de debates. O evento é sempre aberto ao público e gratuito. Acompanhe o calendário de atividades no site do CAU/SP.

Em agosto, CAU/SP participou de colações de grau e semanas acadêmicas das IES Os conselheiros do CAU/SP participaram das sessões de colações de grau do curso de Arquitetura e Urbanismo e de Semanas Acadêmicas em Instituições de Ensino Superior no mês de agosto. Durante as cerimônias, os representantes tiveram a oportunidade de falar sobre o papel do Conselho no exercício profissional dos egressos. É importante constatar que esses eventos aproximam a autarquia dos novos profissionais, que estão ingressando no mercado de trabalho.

Revista do CAU/SP

Conforme o mais recente relatório da Rede de Atendimento Integrada (RIA) do CAU, 94% declararam “satisfeito”, 4% “regular” e somente 2% se disseram insatisfeitos. A pesquisa aponta que, entre os quase mil profissionais que preencheram a pesquisa pós-serviço do CAU/SP, o nível de satisfação dos profissionais com o atendimento prestado pelo Conselho continua alto. Os maiores motivos pelo qual os profissionais acionam o setor de atendimento são dúvidas a respeito de Registros de Responsabilidade Técnica (RRT) e o Registro Profissional. Dúvidas sobre o preenchimento dos RRTs da modalidade “Simples”, retificações e a emissão de boletos para o pagamento da taxa são algumas das razões para solicitarem o atendimento.

Solicitado pelo CAU/SP, edital é alterado pela empresa Serpro A empresa pública de tecnologia de informação Serpro atendeu a uma demanda do Conselho, garantindo a participação de arquitetos e urbanistas em um processo de licitação pública. No início de setembro, a Diretoria Técnica do CAU/SP deu entrada em pedido de impugnação de pregão eletrônico que previa a execução de atividade técnica na área de Engenharia e Arquitetura, mais precisamente a impermeabilização da laje principal do escritório regional da empresa na capital paulista. No dia 8 de setembro, o Serpro enviou ofício ao CAU/SP reconhecendo a capacidade técnica do arquiteto e urbanista e modificando itens fundamentais do referido Edital e também as subcláusulas 10.4 e 10.5 da Minuta do Contrato.


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Projeto “Rios+Cidades” já passou por mais de sete cidades

Acervo CAU/SP

Ouvidoria do CAU/SP busca melhorar serviços

O projeto “Rios+Cidades” tem como objetivo colocar em debate a importância e a necessidade da recuperação dos rios para o meio ambiente e mostrar que a sua integração com a cidade pode resultar em benefícios para toda a sociedade. Mais de sete cidades de São Paulo já foram sede de palestras e debates com especialistas, entre elas Bauru, Santos, Campinas, Ribeirão Preto e Mogi das Cruzes. A iniciativa do CAU/SP trabalha com o conhecimento e os esforços para a recuperação dos rios para as cidades, de maneira que também seja pensada uma forma de prepará-las para o convívio saudável com os rios. Assim, o projeto procura demonstrar a potencialidade de São Paulo diante dos recursos hídricos naturais que estão disponíveis e que na maioria das vezes é prejudicada devido ao crescimento urbano.

A Ouvidoria do CAU/SP foi criada no final de 2014, mas entrou em funcionamento efetivo a partir de 2015, e desde então até agosto de 2017 recebeu e atendeu 2.230 demandas. Entre elas, reclamações, denúncias e dúvidas da sociedade e dos profissionais da área. Na busca por melhorar os serviços, a Ouvidoria atua como porta-voz dos cidadãos e dos profissionais. Atende todas as demandas via e-mail, telefone, visita à sede do CAU na capital paulista e pelo Canal da Ouvidoria (internet). É seu papel analisar e encaminhar as manifestações recebidas para os departamentos responsáveis, monitorando o atendimento dos chamados e, assim, aperfeiçoando a atuação do Conselho.

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curtas do cau Acervo CAU/SP

Registro de empresas no CAU/SP supera 8 mil Já são mais de 8 mil empresas registradas no CAU/SP desde a sua criação. E para facilitar esse procedimento, o Conselho investiu na capacitação dos colaboradores e na difusão de conhecimento. Em sua criação, o Conselho recebeu mais de 5 mil cadastros de pessoas jurídicas, além de outras 5 mil empresas migradas pelo antigo Conselho, havendo um crescimento de novos cadastros. O registro favorece a contratação de mais profissionais arquitetos e urbanistas.

Parceria de fomento: lançados livros apoiados pelo CAU/SP Em agosto, aconteceu o lançamento de dois livros apoiados pelo CAU/SP: “Arquitetura Mackenzie 100 Anos – FAU – Mackenzie 70 Anos – Pioneirismo E Atualidade”, de produção da Faculdade juntamente com a Editora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, e o exemplar: “Abrahão Sanovicz, arquiteto”, da arquiteta e professora Helena Ayoub Silva. O primeiro livro conta as origens do curso de Arquitetura da referida Universidade, que foi criado em 1917 na Escola de Engenharia Mackenzie. E também celebra o pioneirismo da FAU-Mackenzie – primeira faculdade de Arquitetura do estado de São Paulo. O segundo faz o registro histórico da produção arquitetônica de Sanovicz por meio de fotos de época e atuais, desenhos técnicos e artísticos, com ensaios fotográficos de Nelson Kon.

Emitida primeira Certificação Digital na Carteira de Identidade Profissional Representantes da Imprensa Oficial do Estado estiveram na sede do CAU/SP na capital paulista no dia 5 de setembro para a realização da emissão da primeira certificação digital na Carteira de Identidade Profissional de Arquitetos e Urbanistas. Simbolicamente, o processo foi efetivado no documento do Presidente do Conselho, Gilberto Belleza. Fruto de um convênio tecnológico inédito, firmado entre o CAU/SP e o órgão, agora os profissionais registrados podem adquirir certificado digital – a preços especiais – e emiti-lo em sua carteira profissional. O certificado digital é um documento eletrônico e identifica, com segurança, uma pessoa ou empresa. Ele desburocratiza e facilita a rotina profissional na emissão eletrônica de notas fiscais, recolhimento de tributos, assinatura de contratos, realização de transações bancárias, entre outras facilidades. Para mais informações acesse: www.imprensaoficial. com.br/Certificacao/Sobre/CAUSP.aspx

Descumprimento de contrato leva a sanções contra arquiteto e urbanista O abandono de obra sem apresentação de justificativas causou a um mesmo profissional a condenação em três processos éticos, julgados pelo Plenário, em 31 de agosto. Os conselheiros verificaram infrações que culminaram em sanções de advertência – pública e reservada – e de suspensão do exercício da atividade de Arquitetura e Urbanismo. Cabem recursos ao Plenário do CAU/BR. Revista do CAU/SP


ceau

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A 11ª Bienal de Arquitetura de São Paulo: em projeto

Nova diretoria da AsBEA toma posse

Para aproximar a arquitetura de outras formas de coprodução urbana, repensando as formas de atuação do arquiteto, a 11ª Bienal de Arquitetura de São Paulo realiza um evento na cidade. A exposição vai circular pelas unidades Sesc Parque Dom Pedro II, Sesc Campo Limpo, Sesc Itaquera e Sesc Osasco. Inclui ainda espaços como Vila Itororó, Biblioteca Mário de Andrade, Praça das Artes, Casa do Povo e Ocupação 9 de Julho. Mais de 40 atividades de diversos tipos e formatos e trabalhos de referência integram a agenda da Bienal até o final de dezembro, em São Paulo. No Sesc Dom Pedro II, a exposição seguirá até o fim de janeiro de 2018.

Em 12 de setembro de 2017 aconteceu em São Paulo a posse da nova diretoria da AsBEA para o biênio 2017-2019. A cerimônia em si foi um endosso da relevância da AsBEA e contou com a presença dos presidentes do CAU/BR e CAU/SP, os arquitetos Haroldo Pinheiro e Gilberto Belleza, de autoridades governamentais, representantes de entidades como Fernando Túlio, presidente do IAB/SP, Maria Luiza Passerini, presidente da ABRASIP, e Carlos Roberto Mingione, presidente do Sinaenco/SP, da imprensa e alguns dos maiores arquitetos do país, expondo novamente o prestígio e importância da AsBEA no exercício da Arquitetura no Brasil. No discurso do novo presidente da AsBEA, o arquiteto Edison Lopes, teve destaque a importância do trabalho conjunto e coesão entre os arquitetos, bem como a situação político-econômica do país, que vem apenas reforçar a necessidade de união e busca incessante de eficiência e ética nas atividades de projeto e construção. A nova gestão da AsBEA é pautada também em renovação – novos arquitetos de novos escritórios estão gradualmente assumindo as atribuições de gestão da entidade, rejuvenescendo e renovando as relações, estabelecendo novos elos, mas mantendo os atuais, somando e oferecendo ainda mais força à experiência dos Conselheiros, sem jamais esquecer o que nos trouxe até aqui: a Arquitetura e a busca de um ambiente profissional cada vez melhor!

Módulos Satélites sobre rodas vão circular por unidades do Sesc, permitindo que a Bienal percorra a cidade

ABAP: I Prêmio Rosa Kliass será entregue em novembro A ABAP – Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas fará a entrega do I Prêmio Rosa Kliass – Concurso Universitário Nacional de Paisagismo, no dia 21 de novembro. Será premiado um trabalho de graduação de cada uma das cinco regionais do país e serão certificados os respectivos orientadores e as escolas. Além de homenagear uma das mais proeminentes arquitetas paisagistas brasileiras, o prêmio valoriza este campo de atuação e torna conhecida a entidade nas escolas de Arquitetura. Em São Paulo, a ABAP também promoveu três sessões técnicas para discussão de temas como a concessão de Áreas Públicas na Cidade de São Paulo, com foco nos parques; as administrações municipais e a trajetória do profissional Luiz Henrique Zanetta e a vegetação na Infraestrutura Verde, a partir das pesquisas recentes de Maitê Pinheiro.

SASP fecha parceria com Sindicato dos Condomínios O Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo (SASP) fechou uma parceria com o Sindicato dos Condomínios do Estado de São Paulo, visando abrir novos campos de atuação profissional para os arquitetos e urbanistas. Com a NBR 16.280, de 2014, que trata de reformas em unidades condominiais e também nas áreas comuns de edificações brasileiras, abre-se um amplo campo para a atuação da categoria (em realização de projetos e obras e para fiscalização, por exemplo) nos quase 50 mil condomínios associados ao SINDCOND. Em breve, o SASP fará um chamamento geral para arquitetos que queiram prestar serviços nesse ramo e construirá um cadastro para a contratação dos profissionais. Setembro Outubro 2017 n


presidência

Fórum de presidentes

alinha esforços para desenvolvimento integrado dos CAUs

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eriodicamente, os presidentes dos 27 CAU/UFs se reúnem em um Estado diferente a cada vez para trocar experiências e debater o panorama da Arquitetura e Urbanismo brasileiros. Sendo um dos conselhos profissionais mais novos do país, o CAU está empenhado em discutir o aperfeiçoamento da gestão da autarquia para seu pleno funcionamento.

Revista do CAU/SP

Embora a distribuição de profissionais seja bastante desigual pelo país (55% no Sudeste, e somente 3,6% na região Norte), muitas questões são comuns a quase todos os Estados: a melhoria do atendimento prestado aos profissionais, a participação dos arquitetos e urbanistas no planejamento urbano do país e a preocupação com o desenvolvimento sustentável das cidades.


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presidentes têm mantido grande consistência temática. Em 2013, os presidentes reunidos no Rio Grande do Sul assinaram a “Carta de Gramado”, em que apontavam a necessidade de “projetos integrados e integradores” para as cidades brasileiras. Em dezembro do ano passado, na capital paulista, o fórum avançou na defesa do Projeto arquitetônico quando divulgou um posicionamento público a respeito do projeto de lei 559/2013, em debate no Senado Federal, que instituía normas para licitações

e contratos da Administração Pública. O Forum de Presidentes do CAU sintetiza os esforços para uma evolução compartilhada dos 27 Conselhos, alinhados na mesma missão – orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da Arquitetura e Urbanismo, zelar pelos princípios de ética e disciplina e pugnar pelo aperfeiçoamento do exercício da profissão. n

Superando disparidades regionais e a alternância de gestões, os fóruns de presidentes têm mantido grande consistência temática

Imagens: Acervo CAU/SP

No ano passado, quando São Paulo sediou a 22ª Reunião do Fórum de Presidentes do CAU, um dos principais temas em debate foi a adesão dos CAU/UFs ao Gespública, programa do Ministério do Planejamento para desburocratização do serviço público. O CAU/BR já obteve o reconhecimento pela adoção de critérios de exigência deste programa do Ministério, e outros Conselhos, a exemplo do CAU/SP, estão seguindo por esse caminho. Superando disparidades regionais e a alternância de gestões, os fóruns de

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administrativo

Você conhece o

Sistema de Inteligência Geográfica do CAU? Acervo CAU/SP

Implantado há quatro anos, é uma importante ferramenta de estudo para pesquisadores, governos, entidades e demais interessados no mercado de Arquitetura e Urbanismo

Revista do CAU/SP

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IGEO – Sistema de Inteligência Geográfica do CAU foi implantado em 2013 com o objetivo de trabalhar os dados e as informações armazenados no Sistema de Comunicação e Informação do CAU – SICCAU em mapas georreferenciados. Desde então, vem sendo constantemente aperfeiçoado. Por meio do IGEO é possível visualizar dados de diferentes formatos e fontes e obter suas coordenadas geográficas para uso dos profissionais, do público em geral e para trabalhos de fiscalização. Para o CAU, o IGEO se tornou importante instrumento para a gestão estratégica e suporte aos profissionais. Via internet, ele permite integrar informações cadastrais com dados geográficos e análises comparativas por meio de gráficos dinâmicos, associados a mapas temáticos que auxiliarão o acompanhamento, a visibilidade e o planejamento estratégico, bem como a relação de dependência entre os diversos dados da instituição.


Acervo CAU/SP

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A geotecnologia é utilizada de forma estratégica para mapear e criar diversas aplicações, como por exemplo o perfil e a produção profissional dos arquitetos urbanistas, o ensino em Arquitetura e Urbanismo e sua distribuição espacial, a criação de indicadores socioeconômicos, a publicação de fatos e dados, entre outras. Dados do SICCAU e do Poder Público, como do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são integrados, cruzados e espacializados para apoiar o planejamento, a fiscalização e a tomada de decisão do CAU. Em 2016, o Conselho lançou o IGEODATA: a interface pública do sistema, que facilitou o acesso dos profissionais e de toda a sociedade à ferramenta. Agora os usuários conseguem acessar as principais informações sobre o exercício da Arquitetura e Urbanismo no Brasil, tais como estatísticas de emissão de Registro de Responsabilidade Técnica – RRT, número de profissionais e empresas ativos, instituições de ensino superior, entre muitas outras, por meio de mapas, gráficos, tabelas e textos. É possível acessar o IGEODATA pelo link: https://igeo.caubr.gov.br/igeo Nessa perspectiva, o CAU reforça seu compromisso com a inovação em gestão e a transparência. E, assim como já ocorre com o Portal da Transparência e o SICCAU, o IGEO é uma relevante ferramenta de estudo

para pesquisadores, governos, entidades e demais interessados no mercado de Arquitetura e Urbanismo. Nesse sentido, acaba de ser lançado pelo CAU/BR o “Anuário de Arquitetura e Urbanismo Brasil 2016” – uma publicação rica em dados sobre o cenário da Arquitetura e Urbanismo no Brasil e totalmente referenciada em dados extraídos do IGEO. A publicação está disponível para consulta nos sites do CAU/SP e CAU/BR. Para potencializar o uso do IGEO, o CAU/SP tem promovido periodicamente a capacitação gerencial dos profissionais que atuam no Conselho em seus mais diversos setores. Está nos planos do CAU/SP ampliar essa capacitação para que seja disponibilizada a todos os interessados, via streaming. n

Serviços do IGEO que podem ser acessados por todos os profissionais e cidadãos:

Pesquisa CAU/BR – Datafolha Considerada o maior diagnóstico sobre Arquitetura e Urbanismo já feito no país, envolveu mais de 2.400 entrevistas em 177 municípios. Estão disponíveis 60 mapas com os resultados da pesquisa, vídeos e link para o hotsite.

Censo dos Arquitetos e Urbanistas O Censo realizado pelo CAU/BR em 2012 traçou o perfil do profissional arquiteto e urbanista no Brasil. O levantamento foi realizado com 99 mil profissionais de todas as regiões do país. O IGEO disponibiliza para consulta diversos mapas com os resultados da pesquisa. Quantitativos: Nacional, Estaduais e Municipais Mapas, gráficos e indicadores com os quantitativos nacional, por estado e município de profissionais, empresas e Instituições de Ensino.

Análise Temporal de RRT Permite analisar a evolução na emissão de RRTs anualmente, desde a criação do Conselho, por meio de mapas, gráficos e indicadores.

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ensino e formação

A importância do cadastramento do coordenador dos cursos de AU no CAU

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CAU/SP está trabalhando para auxiliar as 151 Instituições de Ensino Superior (IES) que oferecem a graduação em Arquitetura e Urbanismo no Estado de São Paulo durante o processo de cadastramento dos coordenadores dos cursos junto ao Conselho. A atividade docente de arquitetos e urbanistas tem sua importância reconhecida na própria Lei de criação do CAU (Nº12.378), o que reforça a necessidade do cadastramento dos coordenadores e das IES no Sistema de Informação e Comunicação do Conselho

Revista do CAU/SP

de Arquitetura e Urbanismo (SICCAU). Previsto em Deliberação Plenária nº 06/2011, o registro no Sistema tem como objetivo possibilitar o acompanhamento do currículo dos cursos oferecidos, projetos pedagógicos e agilizar o registro dos futuros profissionais. Quando a Instituição indica ao CAU/SP a nomeação de um profissional para co-

ordenador de curso, ele se torna responsável pelo cadastro e gerenciamento do curso no SICCAU, colabora com a aproximação entre o Conselho, egressos e IES, fica encarregado pela veracidade das informações sobre o curso e egressos (pré-cadastrados logo após colação de grau), contribuindo para evitar os casos de exercício ilegal da profissão.


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Como fazer o registro no CAU

A atividade docente de arquitetos e urbanistas tem sua importância reconhecida na própria Lei de criação do CAU (Nº12.378)

Para o Diretor adjunto de Ensino e Formação do CAU/SP, em exercício da titularidade, Paulo Canguçu Fraga Burgo, “o cadastramento dos Coordenadores de curso junto ao Conselho é fundamental, pois além de estabelecer um contato direto entre a Instituição e o CAU, ele se torna um elemento facilitador no trâmite de informações, agilizando os processos internos e o registro profissional dos egressos”. O procedimento tem recebido apoio da Diretoria de Ensino e Formação (DEF) do CAU/SP, responsável pelo auxílio à Comissão de Ensino e Formação (CEF) do CAU/BR, no acompanhamento e orientação às Instituições, a fim de identificar as principais dificuldades de cadastro. n

O registro do coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo obedece aos seguintes passos: 1. A IES envia os dados do curso e indicação do coordenador ao CAU/SP; 2. O coordenador recebe e-mail com orientações do Conselho; 3. O Coordenador elabora o Registro de Responsabilidade Técnica – RRT Simples no SICCAU (selecionando o Grupo de Atividades “Gestão” e Atividade “3.7. Desempenho de Cargo ou Função Técnica”); 4. A Comissão de Ensino e Formação (CEF) do CAU/BR libera “aba” de coordenador em página profissional; 5. O Coordenador preenche detalhes do curso e insere: projeto pedagógico e atos autorizativos para funcionamento do curso em AU; 6. Após colação de grau, se as etapas acima mencionadas estiverem completas, o coordenador poderá inserir lista de egressos para pré-cadastramento no SICCAU.

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Acervo CAU/SP

tĂŠcnica

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Zelando pela atividade

Fiscalização do Conselho preza pela orientação, mas multa profissionais e empresas infratoras quando necessário

B

alanço realizado pelo CAU/SP aponta que o trabalho de fiscalização do Conselho, do dia 1º de janeiro a 30 de setembro de 2017, já gerou 2.591 processos – entre Relatórios de Fiscalização, Notificações e Autos de Infração. As Notificações e os Autos de Infração juntos representam 28,5% de todo esse montante. Uma parte considerável deste trabalho tem como origem as denúncias que são feitas ao Conselho, principalmente por meio do Sistema de Informação e Comunicação do CAU (SICCAU). Além das 731 denúncias registradas desde o início do ano, havia um saldo de 105 outras queixas ainda de 2016. Do total, 85% delas foram atendidas pela fiscalização. Entre as principais denúncias recebidas pelo CAU/SP estão problemas relacionados ao exercício profissional, empreendimento ou serviço sem responsável técnico, empresas que desrespeitam a legislação (por exemplo, sem registro no CAU, sem profissional responsável ou por não pagar o salário mínimo profissional aos arquitetos e urbanistas contratados) e sites que desrespeitam a legislação, por concorrência desleal ou por venda irregular de projetos, por exemplo. Com isso, durante o período analisado, 122 sites foram alvos do trabalho de fiscalização do Conselho. E mais de 500 empresas também foram notificadas ou autuadas pelo CAU/SP. A maioria delas por ausência de registro junto ao Conselho ou por não contar com um responsável técnico em seu quadro de funcionários ou colaboradores.

A orientação da Diretoria Técnica – responsável pela área de fiscalização do Conselho – é aconselhar antes de multar. Dados anteriores indicam que em 2016 foram gerados 2.703 processos e, em 2015, 1.758. Em campo, os fiscais levam informação a condomínios, lojas, feiras de negócios, e canteiros de obras sobre a legislação aplicada ao exercício profissional em Arquitetura e Urbanismo: as atribuições privativas dos arquitetos, a necessidade de identificação do responsável técnico, e a exigência de um especialista (arquiteto ou engenheiro) em obras ou reformas que possam comprometer uma edificação. Para executar este trabalho, o Conselho conta com uma equipe de fiscais lotada na sede na capital, além de um agente em cada um dos dez escritórios regionais distribuídos pelo Estado. O planejamento das ações é feito por meio de programa de inteligência geográfica, o atendimento a denúncias e informações sobre incidentes públicos. n Setembro Outubro 2017 n


financeiro

Seminário ATHIS: caminhos do CAU 2% das receitas dos Conselhos devem ser destinadas para ações e parcerias relacionadas a Habitações de Interesse Social

Revista do CAU/SP

E

ntre os dias 23 e 24 de novembro, especialistas vão estar reunidos no “Seminário ATHIS: caminhos do CAU”, promovido pelo Conselho, para discutir sobre a aplicação dos recursos destinados a Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (ATHIS). Conforme prevê a Resolução nº 94 do CAU/BR e a diretriz dos Planos de Ação dos CAU/UF, pelo menos 2% das receitas dos Conselhos devem ser destinadas para ações e parcerias relacionadas à ATHIS. O Seminário apresentará palestras e debates sobre as origens da Assistência Técnica; a implementação da Lei Nº 11.888; as experiências da área no Brasil e as pesquisas relacionadas ao tema. Devem participar do evento conselheiros do CAU/SP, membros de Comissões dos CAU/UF que tratam de Assistência Técnica para a Habitação de Interesse Social, professores de Instituições de Ensino Superior, representantes das entidades do CEAU do CAU/BR e do CAU/SP, arquitetos e urbanistas e demais interessados. De acordo com discussões realizadas no âmbito do CAU/SP para a construção da política de fomento à ATHIS, é impor

tante considerar que o processo de urbanização das cidades brasileiras se caracterizou durante muitos anos pela exclusão da população de baixa renda ao direito ao solo urbano, seus equipamentos e infraestruturas. Diante disso, a atividade deve debater ainda a demanda de adequações de novas moradias e das já existentes frentes ao quadro de crise do equilíbrio urbano, do déficit habitacional e da irreversibilidade das comunidades que se organizaram sem a presença do Estado. Em 24 de dezembro de 2008, foi sancionada a Lei nº 11.888, que garante às famílias que tenham renda mensal de até três salários mínimos, residentes em áreas urbanas ou rurais, o direito à assistência técnica pública e gratuita para o projeto e para a construção da própria moradia.


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Confira a programação do Seminário: 23 de novembro de 2017 9h

Credenciamento

9h30

Mesa de abertura

10h

Palestra: Origens e evolução da Lei de ATHIS

11h

Intervalo

11h15

Palestra: O CAU/BR e os editais de Parcerias em Assistência Técnica à Habitação de Interesse Social

12h15

Almoço

14h

Palestra: Assistência Técnica na urbanização de favelas

15h

Palestra: Programa Vivenda – A ATHIS e o empreendedorismo na Arquitetura e Urbanismo

16h

Intervalo

16h15

Palestra: A CODHAB e os Postos de Assistência Técnica e a SEGETH

17h15

Debate com os palestrantes

24 de novembro de 2017 9h

Palestra: Projeto CANHEMA II (parceria com CAU/BR) – A ATHIS e a sociedade organizada

10h

Palestra: A Assistência Técnica na academia

11h

Intervalo

11h15

Palestra: Ministério das Cidades – Cartão Reforma na Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social

12h15

Almoço

14h

Palestra: CAU/SC – Projeto de Consultoria ao Plano Estratégico de ATHIS dos CAU/UF

15h

Palestra: O Grupo de Trabalho de Assistência Técnica do CAU/SP e a proposta de Edital de Parceria em Assistência Técnica à Habitação de Interesse Social

16h

Intervalo

16h15

Palestra: A visão das entidades integrantes do Colegiado de Entidades de Arquitetos e Urbanistas – CEAU-SP

17h15

Debate com os palestrantes

18h

Encerramento

Setembro Outubro 2017 n


relações institucionais

Arquiteto e Urbanista

Revista do CAU/SP


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Projeto “Capacita Arquiteto e Urbanista” oferece atualização profissional a centenas

U

ma das missões fundamentais do CAU/SP é promover o aprimoramento da Arquitetura e Urbanismo paulista. Neste ano, o Conselho idealizou e executou um projeto para levar capacitação e atualização – gratuitas – a centenas de profissionais do interior com a semana “Capacita Arquiteto e Urbanista”. O projeto da Diretoria de Relações Institucionais foi concebido a partir das parcerias não onerosas do Conselho com entidades e organizações sociais que promovem estudos e conceitos para desenvolvimento de produtos e suas aplicações no segmento da Arquitetura e Urbanismo. Juntando esforços com diversas associações dos setores da construção civil e da tecnologia da informação, o CAU/SP conseguiu oferecer treinamento gratuito nas áreas de estruturas metáli-

cas, vidro, uso do cimento e do concreto na construção, mobilidade urbana, BIM, fachadas ventiladas e revestimentos cerâmicos. A partir do evento piloto em Salto (05 a 09 de junho), já receberam o evento, Santos (10 a 14/07), Guarulhos (07 a 11/08), São José dos Campos (21 a 25/08), Suzano (02 a 06/10) e São Caetano (23 a 27/10), sempre com a presença de arquitetos e urbanistas da própria cidade e dos municípios vizinhos.

Em Salto, até mesmo profissionais de Paraguaçu Paulista (a quatro horas de viagem) registraram presença. A Diretoria de Relações Institucionais planeja organizar pelo menos mais dois eventos “Capacita” no interior até o final do ano. O Conselho vai avisar com antecedência os profissionais interessados através do site oficial, de seus perfis nas redes sociais e pelo boletim semanal os locais e as datas confirmados. n

Inscrições nos eventos Capacita Arquiteto e Urbanista Salto

Santos

Guarulhos

São José dos Campos

Arquitetos e Urbanistas

327

300

737

256

Estudantes

540

271

788

341

Total

867

571

1525

597

% arquitetos

38%

53%

48%

43%

% estudantes

62%

47%

52%

57%

Setembro Outubro 2017 n


em debate

Gestão Pública x Privada C

onceder a gestão de parques públicos à iniciativa privada é uma das principais bandeiras do atual governo da prefeitura paulista. A medida, no entanto, não é bem vista por alguns, mas é para outros. Os arquitetos e urbanistas Fabio Mariz Gonçalves e Rafael Birmann avaliam as vantagens e os benefícios, ou não, de parques como o Ibirapuera serem administrados por empresas.

Zelar pelo uso democrático das áreas de lazer deve ser a principal preocupação

Preocupações acerca da gestão privada dos parques públicos Por Fabio Mariz Gonçalves, arquiteto e urbanista, professor da FAUUSP – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo)

A proposta de privatizar a gestão dos parques do município de São Paulo deve gerar algumas preocupações. Dificilmente a gestão destes espaços poderá gerar lucros significativos para os concessionários. Mesmo os parques mais bem localizados e com frequentadores de maior poder aquisitivo, os gestores não conseguirão ter lucros significativos sem poder cobrar ingressos ou promover eventos de grande porte. Pois os frequentadores e a vizinhança dos parques mais bem localizados tendem a limitar e vigiar estas iniciativas. Portanto, se não é o lucro, o que deve motivar a iniciativa privada a assumir a gestão destes espaços? Revista do CAU/SP


23 Na história das cidades ocidentais, os espaços públicos quase sempre surgiram ligados ao poder e aos interesses dos grupos hegemônicos. Desde as primeiras praças abertas diante dos palácios e das igrejas, aos bosques e jardins da nobreza, até as praças que foram construídas para valorizar empreendimentos em Paris, os jardins e espaços livres sempre foram implementados quando atendiam aos interesses de grupos hegemônicos. As praças que hoje são mantidas por grupos privados em São Paulo não são diferentes neste aspecto. O Parque Burle Marx já foi inaugurado com gramados e banheiros muito bem cuidados por estar ligado aos empreendimentos do Panamby, concebido e gerido para valorizar os empreendimentos ao seu redor. O Parque do Povo, inaugurado em 2008, valorizou os empreendimentos de alto padrão que o circundam. Contudo, foi a partir da inauguração do Shopping JK, em 2012, que ele ganhou a tutela e a gestão que lhe garante a condição de um dos parques mais bem cuidados e frequentados da cidade. A gestão de lugares privados com grande acesso de público pela iniciativa privada não é novidade. Os shopping centers de São Paulo não são espaços para o convívio das diferentes classes. Existem mais de 50 shoppings na cidade hoje, e eles são bastante diferentes entre si. Temos os mais sofisticados (como Iguatemi, Cidade Jardim ou JK), os das classes médias (Ibirapuera, Tatuapé e Morumbi) e também os mais populares (União de Osasco, Interlagos ou Campo Limpo). Hoje, temos

Propiciar espaços de convívio entre as diferentes classes é o desafio da cidade brasileira

um shopping para cada região da cidade, para cada classe social e para cada grupo. Cada gestor faz a opção de qual o tipo de público e de compradores pretende atender, estabelecendo uma série de estratégias de gestão que garantem a seleção adequada dos seus frequentadores. Não interessa aos lojistas e, aparentemente, nem mesmo aos frequentadores a mistura e a diversidade. As estratégias são variadas, desde o modo com que se organiza e tarifam os estacionamentos, às regras de acesso, à decoração, ao mix de lojas e a atitude dos seguranças, tudo contribui para definir o público alvo. Quanto mais sofisticado e elitizado o público alvo, mais eficientes as estratégias. A exclusividade e o privilégio têm seus preços, mas parece que os frequentadores apreciam estas condições e estão dispostos a apoiar o que for necessário para garanti-las. Reflexo destas condições e características foram os “rolezinhos” que ocorreram nos shoppings brasilei-

ros principalmente no fim de 2013 e início de 2014. Grupos de jovens que eram tradicionalmente proibidos de ingressar ou expulsos dos shoppings resolveram organizar “invasões” destes espaços para contestar e expor a segregação e exclusão de que eram alvos. Estas ações eram abominadas pelos gestores e especialmente pelos frequentadores tradicionais destes shoppings, para quem estes jovens só podiam estar lá como trabalhadores uniformizados e não a passeio. A exclusão social, a segregação das classes é uma tradição da nossa sociedade desigual. Propiciar espaços de convívio entre as diferentes classes é o desafio da cidade brasileira. Setembro Outubro 2017 n


em debate Parques como o Ibirapuera são a prova de que este convívio é possível e desejável. O Ibirapuera em um domingo de sol recebe 100.000 pessoas, das mais variadas classes sociais e de todo o município, até mesmo de outros municípios da região metropolitana. Os contrastes, conflitos e problemas são enormes, mas os gestores têm conseguido que os variados grupos que o frequentam sejam acolhidos e os conflitos pacificados e geridos com habilidade para que ninguém seja excluído ou impedido de usá-lo. Será que os parques geridos pela iniciativa privada resistirão às pressões de vizinhos e usuários por estratégias de restrições de usos e de públicos? Parque do Ibirapuera

Muito além do jardim Por Rafael Birmann, arquiteto e urbanista, presidente do Conselho da Fundação Aron Birmann

Desde 1995, quando assinou um convênio com a Prefeitura Municipal de São Paulo, a Fundação Aron Birmann (FAB) gere e mantém o Parque Burle Marx e, nos 21 anos completados em 2016, aplicou (e a prefeitura economizou) R$ 22 milhões, a valores corrigidos pelo IPCA, dos quais R$ 8,5 milhões foram obtidos por meio de rendas geradas no próprio parque, R$ 3,5 milhões com doações e R$ 10 milhões aportados pela FAB. Essa experiência única, de gestão privada de um parque público, foi rica em lições, e a primeira delas é: a gestão é privada, mas Revista do CAU/SP

o parque é público! Não se fala de gestão de shopping center! O parque é um espaço público com tudo que isso quer dizer, é gestão definida por valores da urbanidade, da acessibilidade, do uso social dos parques, pela preservação ambiental. Outra reflexão necessária é sobre inclusão e democracia nos parques. Uma forma de enfocar isso seria pelo ângulo republicano, ou seja, instituir nos parques um claro regulamento para os usuários e, como contraponto, uma bem definida lista de princípios para os gestores. Um espaço para todos é

um espaço em que todos respeitam o espaço dos outros. Esta é a verdadeira inclusão democrática, sem privilegiados, sem bullies e sem atropelamentos. O mais inaceitável dos privilégios é a apropriação privada do espaço público. Por isso, defendemos que todos que utilizam o espaço para seus interesses particulares devem recompensar o parque. Assim é no Burle Marx: estacionamentos, Food Trucks, venda de coco, eventos e outras atividades contribuem com 75% dos recursos necessários para manutenção do parque. Isso é sustentabilidade econômica, é justo e é fiscalmente correto, pois, eficiência e parcimônia no uso dos recursos públicos é “boa prática” imprescindível na gestão pública. Chamamos de “Senhoriagem” o princípio da primazia dos


Um espaço para todos é um espaço em que todos respeitam o espaço dos outros

interesses do parque sobre quaisquer outros, o que nos leva a outra questão – a demanda ilimitada por melhorias no espaço público, um trabalho sem fim, mas fundamental para o sentimento de pertencimento dos usuários. Somente uma gestão sem fins lucrativos e alinhada com objetivos de longo alcance do parque poderá direcionar e aglutinar recursos para tanto. As dimensões de um parque vão além da definição básica da

Rosa Kliass - “os parques urbanos são espaços públicos com dimensões significativas e predominância de elementos naturais destinado à recreação”. Além disso e das já mencionadas gestão, sustentabilidade e cidadania, existem outras dimensões: a urbana (espaços públicos), a ambiental (preservação, drenagem, etc...), política (as formas de gestão), social (função dos espaços), cultural e educativa (vetores de educação e cultura), além das dimensões de saúde, de resíduos sólidos, etc.... Mas todas essas dimensões se perdem no capim alto, nos banheiros sujos e no playground malcuidado. O que fica evidente é que uma gestão “básica” eficiente é a porta de entrada para uma discussão mais ampla, que somente após superado esse limiar mínimo poderemos perseguir todo potencial urbano e social dos parques. Ou seja, para irmos “além do jardim”, precisamos ir além da “boa gestão dos parques”, sem, obviamente, prescindir dela. O cerne da questão hoje não é gestão privada. É a natureza e o

caráter de nossos parques, sobre como expandi-los em suas múltiplas dimensões, como permitir que toda energia criativa de nossos espaços públicos, hoje reprimida e apenas potencial, se liberte e irrigue toda a sociedade. A grande questão não é gestão, privada ou não, dos parques urbanos, mas ela, a questão, passa por aí. Por isso, e como fruto de uma experiência de 22 anos e das muitas lições aprendidas, a FAB se propõe a gerir um conjunto de parques de São Paulo (Ibirapuera, Carmo, Chácara do Jockey, Chuvisco, Cidade de Toronto e Buenos Aires), com opção “sem fins lucrativos”, mas sem deixar de ser profissional, empresarial, eficiente e com altíssimas ambições. Ambições de uma gestão baseada na busca da sustentabilidade econômica, na primazia dos interesses do parque, na ação participativa da sociedade e, principalmente, numa ação fundada em comprometimento ético e com a missão de promover a ativação das múltiplas dimensões dos nossos parques urbanos. n

Acervo CAU/SP

Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas

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Parque Burle Marx Setembro Outubro 2017 n


Acervo CAU/SP

entrevista

Revista do CAU/SP


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SIEGBERT Zanettini

À frente do tempo Aos 82 anos de vida, 60 dedicados à carreira, o arquiteto e urbanista é uma referência muito além do uso do aço em seus projetos, mas com diversas obras premiadas também por outra forte marca em seus trabalhos, a de construções sustentáveis POR Marco Berringer

D

iplomado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em 1957, onde passaria a dar aula a partir de 1960, Siegbert Zanettini se transformou em referência no uso do aço em projetos de Arquitetura e Urbanismo, com obras icônicas como a Escola Panamericana de Arte, na capital paulista. Mas, com mais de 1.200 projetos em seu currículo, o reconhecimento por seu trabalho e contribuição à Arquitetura vai além, e seu escritório é considerado um dos mais especializados em sustentabilidade, ecoeficiência e green buildings. Defensor do uso racional do espaço atrelado à sensibilidade, Zanettini continua na ativa e, atualmente, se dedica a algumas dezenas de projetos de hospitais e escolas, entre outros.

Pioneiro, o senhor começou a trabalhar com estruturas metálicas ainda na década de 1970, época em que países como Estados Unidos, Japão e Inglaterra já utilizavam o aço em boa parte de suas construções. Como foi a evolução do uso desse material na Arquitetura brasileira? Sou muito conhecido pelo aço porque fiz obras fantásticas, mesmo não tendo para isso indústria, professor, ciência, escola, não tendo ninguém. Fiz sozinho uma série de coisas durante 40 anos. Demorou aproximadamente uns 40 anos no Brasil para essa área (Arquitetura do aço) se despertar. Muito por influência das condições que o BNH (Banco Nacional de Habitação) colocou em 1964, em que a construção teria que usar mão de obra desqualificada. Isso levou a fazer Setembro Outubro 2017 n


entrevista

“ uma construção de baixa qualidade e isso reproduziu uma construção de baixa qualidade em todos os níveis. Baixa qualidade, não tanto no sentido de se deteriorar, mas na maneira evolutiva de se pensar a construção. Ainda se faz construção de maneira artesanal, completamente artesanal, mesmo sendo moderna. Eu não faço Arquitetura moderna, eu faço Arquitetura contemporânea, como alguns arquitetos e engenheiros de todo o mundo. Na opinião do senhor, o que diferencia a Arquitetura moderna da Arquitetura contemporânea? Há uma diferença muito grande entre a Arquitetura moderna e a Arquitetura contemporânea. A Arquitetura moderna teve como base principal a estética da forma. Era a referência principal dela. Teve uma certa produção profissionalizada, sem dúvida alguma, da década de 1920 a década de 1950, mas na década de 1960 ela começou a perder essa visão de causa para se transformar em efeito. Aí se transformou num estilo. Principalmente a Arquitetura paulista, que era dita como brutalista, com concreto aparente, formas cúbicas, presente até hoje na maioria dos arquitetos. Outra coiRevista do CAU/SP

A Arquitetura não termina na obra, ela se completa com o ambiente. Se ela não tiver essa relação dentro e fora, muito lógica num país tropical como o nosso, com as condições climáticas excelentes que temos, nós estamos fazendo a coisa errada

sa que também me incomodava demais é que essa Arquitetura era extremamente fechada para si. Todas as obras dessa época eram fotografadas como uma obra, como se não existisse mais nada em volta. Era uma obra em si. E eu comecei a ver que não. Que num contexto brasileiro, em um país de melhor clima do mundo, de mais água do mundo, de melhor solo do mundo, não tinha sentido eu ficar importando modelos de fora. Eu tinha que começar a pensar em alguma coisa que fosse muito ligada à nossa realidade, à nossa condição. Fiz, então, a primeira casa sustentável. O senhor, inclusive, já ganhou diversos prêmios por conta de seus projetos que prezam por esse aspecto da sustentabilidade. Não tem nenhuma obra minha que não está aberta para o exte

rior. Tem uma coisa que é fundamental: a Arquitetura não termina na obra, ela se completa com o ambiente. Se ela não tiver essa relação dentro e fora, muito lógica num país tropical como o nosso, com as condições climáticas excelentes que temos, nós estamos fazendo a coisa errada. Fecha-se os edifícios em vidro, coloca-se ar-


Acervo CAU/SP

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-condicionado, se faz tudo errado. É um processo todo ignorante, no sentido científico. Isso me incomodou muito, a vida toda. Comecei, então, a fazer uma série de casas em madeira, madeira composta de pinho reciclado. Fiz uma bateria de obras na década de 1970 usando madeira, com materiais que eu pudesse reaproveitar

com a condição que eles tinham, usando a inteligência. O senhor é também um grande defensor e adepto do uso da tecnologia na Arquitetura. Qual a sua importância? A tecnologia é fundamental. Não faço Arquitetura sem tecnologia há 60 anos. Aí vem o aço, a madei-

ra, tudo aquilo que inventei. Acho que não era um problema de inventar, mas de ver que realmente os limites que eram colocados tanto pelo modernismo internacional, que rebatia no Brasil de uma certa forma equivocada. Precisava de uma evolução. E fiquei uns 40 anos sozinho nisso. Dei o primeiro curso sobre aço em 1994. Depois Setembro Outubro 2017 n


Acervo CAU/SP

entrevista

de quase 30 anos trabalhando com aço que as pessoas começaram a dizer que precisavam ver o que era esse material. Hoje, todo mundo está louco para trabalhar com aço, mas estão todos atrasados. O aço, quando produzido corretamente, tem uma qualidade de leveza, de pouco material, muito menos material que o concreto. Acabei de fazer dois ou três hospitais que foram montados inteiramente em 18 meses. Não Revista do CAU/SP

teve nada feito na obra, veio tudo montado, tudo preparado com a qualidade industrial. Sem precisar de canteiro. Voltando à questão da Arquitetura contemporânea, a partir de quando e como ela passou a ser desenvolvida no Brasil? Para mim, a Arquitetura contemporânea nasceu aqui no Brasil comigo. Fora do Brasil, com alguns arquitetos que eram contempo

râneos também, mas para mim ficou muito claro na proposta de 1970, quando o Richard Rogers (arquiteto britânico) e o Renzo Piano (arquiteto italiano) fizeram o Centro Georges Pompidou (Paris, França). Ali começou, para mim, a Arquitetura contemporânea. O Centro Georges Pompidou é uma mudança conceitual da Arquitetura toda. Quando fui à inauguração, em 1977, fiquei admirado. Falei: “realmente não estou


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A Arquitetura ela surge do encontro, equilibrado e harmônico, entre o mundo científico e o mundo racional. Não há construção que não tenha isso, se ela é evolutiva

fazendo as coisas sozinho”. Tem arquitetos que estão entendendo que a Arquitetura precisa da engenharia, da cultura, da ciência e da sensibilidade também. Dez anos atrás, o senhor fez uma declaração de que naquela época, de maneira geral, se “vendiam cenários, e não Arquitetura, que conferem um ilusório status”. Ainda pensa assim? Para mim existe um outro mundo da Arquitetura. É um mundo onde a visão não é basicamente estética. Para mim, a obra não pode se apartar do mundo científico. A Arquitetura ela surge do encontro, equilibrado e harmônico, entre o mundo científico e o mundo racional. Não há construção que

não tenha isso, se ela é evolutiva. E não há construção sem sensibilidade. Mas a construção brasileira ainda está nessa clave de construir como um mercado, como material de consumo. Vale mais a condição urbana de consumismo, portanto está muito ligado a essa questão de Arquitetura de mercado. Muita obra é feita para você, que não serve para você, que não está nas suas dimensões, na sua capacidade de pagamento, e é repetida à exaustão. O espaço é para o homem, mas quase sempre se esquece do homem. É feito para as necessidades do mercado. É o mercado que determina o que deve ser feito e não há preocupação em mudar isso. É uma reprodução burra, de um mesmo modelo. Não estou dizendo que a Arquitetura deve ser feia. Ela deve continuar bela. Mas, só bela, não resolve. O senhor tem também uma longa carreira como professor. O que acha dos cursos de graduação de Arquitetura e Urbanismo, atualmente? A maioria das escolas que foram criadas dentro desse contexto, que tem que ter lucro com o ensino (a grande maioria são particulares; as escolas públicas estão numa situação muito difícil), está muito preocupada mesmo com a visão de mercado. Aí tem aquele

professor meia boca que vai lá, fala um pouquinho do que ele sabe, do que aprendeu, e transmite. Não se vê nenhum estudioso profundo, um sujeito que se dedicou à vida toda estudando, se transformando num cientista, num pesquisador. Na sua avaliação, qual a sua grande contribuição para a Arquitetura brasileira? O que eu fiz de muito importante é colocar a posição do arquiteto não como a do homem que resolve tudo, mas do homem que precisa ter uma equipe multidisciplinar de todas as áreas. E, dependendo do caso que você estuda, precisa de áreas bem distantes da nossa, que a gente não alcança, para juntos definirmos os conceitos. Acho que falta uma visão holística da vida. Na vida não existe mais nada separado. Tudo é holístico e sistêmico. Tudo tem relações com tudo, e se você não entende o mundo como ele é... Ele representa pedaços sempre de coisas superadas. Ou de coisas que são avançadas, mas estão presas a coisas superadas. Não existe mais começo e fim, mas um conjunto de coisas que precisa ser resolvido no seu todo. n

Setembro Outubro 2017 n




Acervo CAU/SP

capa

Parque do Ibirapuera, em São Paulo

Revista do CAU/SP


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Pensar, semear e

transformar

A Arquitetura paisagística começou a nascer quando a humanidade descobriu a agricultura, confundiu-se com outras atividades, ganhou feições próprias e hoje se sobressai como instrumento fundamental à transformação das cidades Por silvia kochen

Setembro Outubro 2017 n


Acervo CAU/SP

capa

Região do Jardins, em São Paulo

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ê um zoom na cidade de São Paulo por meio de um aplicativo como o Google Maps. Você perceberá que bairros nobres, como o Jardins, são parcialmente verticalizados, mas também ricos em áreas verdes. Já nas periferias, o cinza do concreto predomina; parques, praças e jardins públicos são escassos nessas áreas tantas vezes negligenciadas pelos gestores municipais. Cenários semelhantes podem ser percebidos em inúmeras outras metrópoles, tais como Mumbai, na Índia, ou Baku, no Azerbaijão. Todas elas polos econômicos importantes, porém incapazes de ofertar uma boa qualidade de vida aos seus habitantes. Em 2013, um grupo de pesquisadores do Centro Europeu para o Desenvolvimento e Saúde Humana da Universidade de Exeter, no Reino Unido, divulgou as conclusões de um estudo que mostra como as áreas

Revista do CAU/SP

verdes podem gerar um efeito positivo duradouro sobre a saúde das pessoas. O trabalho, que foi publicado pela revista britânica Environmental Science and Technology, mostrou menores incidências de doenças cardiovasculares e respiratórias, bem como de transtornos de comportamento, ansiedade e estresse, entre os moradores de áreas urbanas arborizadas. Tais dados, cientificamente comprovados, revelam algo muito importante: o jardim, o parque, a ciclovia ladeada de verde são mais do que recursos de embelezamento, pois estão intimamente ligados ao bem-estar e à saúde da população.


Acervo CAU/SP

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Mumbai, na Índia

Logo, o gestor público que efetivamente quiser deixar uma cidade melhor e mais bonita não poderá prescindir do paisagismo.

ENteNDeNDo o PaIsaGIsmo

“O paisagismo é a arte e a ciência de promover o projeto, o planejamento, a gestão e a preservação dos espaços livres urbanos e rurais, nas micro e macro paisagens, objetivando o atendimento das questões funcionais, ambientais, políticas, estéticas e culturais.” A definição é de Raul Pereira, arquiteto paisagista e Doutor em Estruturas Ambientais Urbanas pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/USP).

Ele explica que o paisagismo está intimamente relacionado ao urbanismo e à infraestrutura, e não pode prescindir das questões sociais, culturais, econômicas e ambientais. “Observo uma ampliação significativa de projetos que procuram uma redução dos impactos no ambiente, estabelecendo relações de intercâmbio de energia a partir dos recursos disponíveis nos ecossistemas locais, valorizando a biodiversidade e os fluxos naturais. Essa concepção traz também como consequência uma nova concepção estética, uma linguagem mais livre, menos formalista e menos amarrada a modelos preestabelecidos.” Luciana Schenk, Vice-Presidente da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP) e professora do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP-São Carlos), defende que o ideal não é falar em paisagismo, mas em “Arquitetura da Paisagem”. E explica: “Esse termo nos difere, com maior precisão, dos demais profissionais que tratam da paisagem, tais

como geógrafos, biólogos, ecólogos, engenheiros agrônomos, ambientais e florestais”. Raul Pereira faz questão de salientar que a Arquitetura paisagística difere do “jardinismo”, que é a atividade de projetar jardins. “Além das áreas vegetadas, o arquiteto paisagista lida com outros elementos construtivos, tais como as áreas de convívio, lazer, circulação etc.”, afirma. “Estamos falando, portanto, da necessidade de lidar com cálculos estruturais, luminotécnica, hidráulica, conforto térmico e acústico, filosofia, história da arte, teoria da Arquitetura, antropologia, dentre outras disciplinas.”

Uma LoNGa HIstÓrIa

Subjugar a natureza, ocupar espaços, acumular bens, gerar e consumir riquezas – e, simultaneamente, criar, desenvolver e enaltecer o belo. Esses anseios, tantas vezes divergentes entre si, marcam a trajetória da humanidade. “Praticamente todas as primeiras sociedades humanas estruturaram-se a partir das atividades agrícolas”, comenta o arquiteto paisagista Setembro Outubro 2017 n


capa Fábio Mariz Gonçalves, professor da FAU-USP e ex-Secretário de Desenvolvimento Urbano do Município de São Paulo. “Nas sociedades antigas, havia o entendimento de que o domínio dos processos de reprodução, cultura, seleção e hibridização de espécies vegetais eram os mais importantes avanços tecnológicos. Deste modo, tanto as espécies que permitiam alimentar as populações, as utilizadas para a produção de madeira, quanto as ornamentais, medicinais, cosméticas e aromáticas eram campo de investigação. Os jardins podiam oferecer experiências sensíveis e estéticas sem deixarem de ser lugares de pesquisa tecnológica, como os campos plantados”, ele relata. Tais condições não mudaram significativamente até que as sociedades deixassem de ter sua base econômica na agricultura. Com a revolução industrial, as cidades cresceram tremendamente. A partir desse momento, os espaços livres urbanos passaram a assumir outras funções e desafios. Atravessando os tempos e chegando aos dias de hoje, as intervenções humanas na natureza geraram toda sorte de impactos. Nas últimas décadas, mais do que nunca, tem se imposto a necessidade de conciliar sustentavelmente esses aparentes paradoxos. “Na cidade de São Paulo, nossas áreas verdes foram destruídas”, observa Raul Pereira. “Os rios, córregos, nascentes e banhados ficaram poluídos, aterrados e ocultados, dentro de um modelo rodoviarista e funcionalista. Para reverter em parte essa condição, poderíamos começar pela despoluição dos corpos d’água e por uma radical operação de quebradeira Revista do CAU/SP

e regularização de nosso maior e mais longo espaço público que recobre e articula toda a cidade, que são as calçadas. Hoje, precisamos ser verdadeiros alpinistas para conseguir caminhar pelas calçadas acidentadas e cheias de obstáculos. Mas esses espaços poderiam se transformar em lugares de encontro e fruição e não somente em meras passagens de circulação”, ressalta o arquiteto. André Graziano, arquiteto e urbanista formado pela FAU-USP, com mestrado em Paisagem e Ambiente pela mesma faculdade, e doutorado pela Unicamp, em Paisagem Educativa, ensina que são muitas as teorias sobre o surgimento do paisagismo. “A que mais me toca, porém, está relacionada à observação das paisagens por viajantes, que passaram a representar o território como protagonista e não somente como fundos em suas representações pictóricas”, comenta. “São marcantes, neste sentido, as contribuições dos movimentos de Grand Tour nos séculos 18 e 19, em que jovens ricos das sociedades europeias ‘completavam’ sua formação viajando até as bases da cultura ocidental, então representadas por Itália e Grécia.” Ele acrescenta que “esses movimentos acabaram por influenciar a sociedade de tal forma que engendraram a ‘adequação’ da paisagem nas nações de origem dos viajantes, buscando representar em suas próprias terras as imagens e paisagens percebidas em suas viagens”. Mariz explica que, quando as cidades urbanizaram extensas porções do território de forma contínua, os espaços livres as

sumiram papéis ambientais que não podem ser entendidos sem a compreensão das condicionantes e demandas urbanísticas. “O fato é que as ruas, as praças e os parques, e até mesmo os espaços livres privados, têm que ser entendidos e projetados como partes da cidade.”

PaIsaGIsmo VerDeamareLo

No Brasil, ainda não existe graduação específica em arquitetura paisagística. Segundo Ciça Gorski, arquiteta paisagista e ex-presidente da ABAP, “a prática profissional do arquiteto paisagista foi se tornando mais abran-


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Canteiro e ciclovia na Av. Prof. Fonseca Rodrigues, próxima ao Parque Villa Lobos, em São Paulo

As ruas, as praças e os parques, e até mesmo os espaços livres privados, têm que ser entendidos e projetados como partes da cidade

gente a partir da década de 1970, quando passou a abarcar projetos para proteção e recuperação de áreas naturais, a requalificação de espaços livres em áreas urbanas, extensas áreas de condomínios horizontais, condomínios verticais residenciais e comerciais, além do cardápio mais frequente de pequenos pátios e quintais residenciais”. Na visão do arquiteto paisagista Benedito Abud, os cursos de graduação em Arquitetura negligenciam a abrangência do paisagismo na medida em que não estabelecem, de forma clara, sua íntima vinculação à Arquitetura e Urbanismo. “Comparada a essas especialidades, a Arquitetura paisagística muitas vezes é entendida como uma atividade complementar, menor e associada exclusivamente à utilização da vegetação, quando deveria ser pensada desde o processo inicial de sua implantação e do posicionamento da edificação no terreno”, ele pondera. “Uma construção não existe solta no ar

mas está pousada sobre uma superfície, que, juntamente com todo o espaço externo, forma um corpo único”, esclarece. Como exemplo, ele cita um projeto de arborização viária: “Como é possível pensar no simples ato de plantar uma árvore sem considerar a largura da calçada, o fluxo de veículos, as interferências da rede elétrica, de telefonia, drenagem de águas pluviais, compactação do solo, ciclovias e sinalização viária?”, questiona. “Aqui, paisagismo, urbanismo e infraestrutura estão misturados e não podem ser pensados separadamente. Mas, infelizmente, a maioria das universidades e dos órgãos públicos não trabalha de forma interdisciplinar, ocasionando um ônus social e econômico considerável”. Abud também lamenta que, em muitas faculdades, a disciplina seja ministrada durante um único semestre. Mariz, por sua vez, defende que as graduações deixem de ser meramente teóricas e privilegiem uma vivência arquitetônica e urbanística. “Temos que fazer nossos estudantes pensarem criticamente, e essa consciência vem com o contato, com a experimentação. Não se forma um cirurgião mostrando a ele somente livros e vídeos”, arremata. Historicamente, o paisagismo brasileiro resulta de duas correntes muito fortes, que Abud denomina “os dois Robertos”. De um lado, Roberto Burle Marx. Muito ligado às artes, foi o grande revelador de nossas riquezas botânicas, utilizando-se delas para estabelecer o referencial dos projetos paisagísticos no Brasil”. De outro, situa-se Roberto Coelho Cardozo, Setembro Outubro 2017 n


capa

que trouxe para o nosso país o repertório do paisagismo modernista californiano e introduziu a disciplina de projeto paisagístico no currículo da FAU-USP, nas décadas de 1950-1960. Além dos “dois Robertos”, os arquitetos paisagistas brasileiros mais influentes e pioneiros no exercício da profissão foram, no Rio de Janeiro, Fernando Magalhães Chacel e José Tabacow, discípulos de Burle Marx, e, em São Paulo, Rosa Grena Kliass e Miranda Martinelli Magnoli, discípulas de Coelho Cardozo.

dem a prejudicar uma visão orgânica da cidade, que incluiria sua ressignificação paisagística. “Há uma grande demanda da população, particularmente das periferias, por áreas de lazer, além de um aumento da percepção da importância das áreas verdes, e um imenso mercado de trabalho potencial para os arquitetos paisagistas”, observa Paulo Pellegrino, Professor de Paisagismo da FAU-USP. Benedito Abud acrescenta: “Nas periferias, o uso social justifica a superocupação do solo, resultando em terrenos impermeáveis e sem áreas livres. Nesses lugares, uma calçada de cinco metros deveria ser exigida por lei, como forma de garantir um mínimo de dignidade, de espaço de convívio para as pessoas”. Ele prossegue: “Nesses pontos, são importantes as acupunturas urbanas. Assim como, no corpo humano, você põe a agulha num ponto para aliviar outro, a intervenção benfeita no corpo urbano, por meio de parklets, por exemplo, pode contribuir para restaurar seu equilíbrio.” Dentro dessa visão de uma cidade mais sã, os parques lineares BrunaMoreschi

A missão social do paisagista compreende, sem sombra de dúvida, um aspecto pedagógico. Cumpre-lhe fazer compreender e amar o que a natureza representa, com a ajuda de seus jardins e de seus parques. No Brasil, onde reina o desamor característico pelo que é plantado, a experiência ensinou-me a sempre insistir sobre a transformação das mentalidades. Podemos contribuir para isso, agindo. (Roberto Burle Marx)

agendas políticas e da imprensa. Transporte, mobilidade, acessibilidade, segurança de pedestres e ciclistas, segurança pública, drenagem, ilhas de calor, turismo e tantos outros temas estão diretamente relacionados à qualidade dos espaços públicos urbanos. “Há muito o que caminhar neste sentido”, confirma Ciça Gorski. “É fundamental publicar e divulgar projetos de qualidade, no sentido de elucidar a importância da requalificação democrática dos espaços urbanos e da recuperação e proteção do nosso patrimônio ambiental, visando à humanização de nossas cidades”, esclarece. “O paisagismo e o desenho urbano têm potencial de promover cidades mais equilibradas, mas esta atuação depende de projetos mais amplos, como os planos diretores, e de decisões político-econômicas que efetuamente atuem no desenho das nossas cidades.” Na prática, os orçamentos reservados às Secretarias do Verde, Meio Ambiente e de Planejamento são geralmente irrisórios. Além disso, políticas de curto prazo ten-

CIDaDes maIs DemocrÁtIcas

Terá o arquiteto paisagista um papel importante na concepção de cidades mais verdes, salutares e democráticas? A resposta é sim. Cada vez mais, a qualidade dos espaços públicos ocupa as Revista do CAU/SP

Entrada do Clube Náutico, em Araraquara


assumem importância fundamenta, explica Pellegrino. “Parques lineares, ou greenways, são intervenções urbanísticas construídas ao longo de cursos d’água”, ele esclarece. Em geral, esses parques são maiores em comprimento do que em largura, pois acompanham o trajeto de rios e córregos e estão associados à rede hídrica. “Os parques lineares contribuem para conectar áreas verdes, proteger e recuperar o ecossistema, abrigar práticas de lazer, esporte e cultura”, enumera. Além disso, podem estimular o uso de alternativas não motorizadas de mobilidade urbana. “O próprio termo greenway – ‘caminho verde’, em português –, diz respeito aos cinturões de vegetação associados ao tráfego não motorizado, indicando movimento de água, pessoas, animais, sementes etc.”, destaca o arquiteto. Uma das principais contribuições dos parques lineares para as cidades, na visão de Pellegrino, seria a contenção de enchentes. “Os projetos de grandes obras em infraestrutura desenvolvidos para a cidade de São Paulo sempre se basearam no pressuposto de que se poderia alterar totalmente a relação da cidade com as águas”, lembra. Desse modo, os projetos de canalização acabaram por deixar todos os rios e córregos ao redor das principais vias. “Além de ocupadas, as margens de cheia se transformaram em áreas de solo impermeável – o que impede a absorção das águas e colabora para que elas invadam as ocupações urbanas ao redor”, diz ele. Segundo Pellegrino, uma ação urgente “seria a implantação de biovaletas, dispositivos que, dife-

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Praça na região central de São Paulo

rentemente das valetas comuns, permitem que a água seja tratada e filtrada enquanto é conduzida até os córregos. Outras soluções, como a recuperação de mata ciliar e a instalação de tetos e paredes verdes, também colaboram para a absorção da água da chuva. Na prática, essas medidas resultam em menos água sem destino na superfície”, esclarece.

PerspectIVas

As cidades brasileiras estão, em sua imensa maioria, carentes de projetos que as reequilibrem em todos os sentidos. Se, por um lado, tal quadro é desolador, por outro ele descortina um número infinito de possibilidades. “É instigante ver tudo o que precisa ser planejado, projetado, realizado”, entusiasma-se Pellegrino. Nesse sentido, os profissionais da área enxergam possibilidades positivas: “Há perspectivas muito estimulantes no debate internacio-

nal acerca de por que precisamos projetar com a paisagem”, comenta Luciana Schenk. “Questões de ordem ambiental, social, econômica e política se acumulam, articuladas em paisagens que têm, nos espaços livres públicos, a peça fundamental de promoção da vida citadina. A economia de custos e a viabilização de infraestrutura verde são pautas cada vez mais relevantes”, arremata. “Não tenho dúvida de que o campo do paisagismo vem ganhando importância e seguirá como uma das pautas mais importantes para as cidades no século XXI”, reforça Fábio Mariz. “Nosso papel será, cada vez mais, o de contribuir para que as cidades sejam efetivamente democráticas, permitindo o encontro e o convívio de toda a sociedade.” n

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gt arquitetura de interiores

Sobre Arquitetura de Interiores

e responsabilidades O

campo da Arquitetura de Interiores é muito abrangente, mas talvez a atividade mais comum seja a reforma. Quando pensamos em responsabilidades envolvidas nesse tipo de trabalho, nos lembramos de casos como o desabamento, em 2012, do Edifício Liberdade,

Revista do CAU/SP

no Rio de Janeiro, onde morreram 17 pessoas. Dois anos depois da tragédia, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) editou a norma NBR 16.280 e estabeleceu procedimentos sobre planejamento, projeto e análises técnicas relativas às reformas. A norma corrobora o já previsto na


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Lei 12.378/2010, que define atividades e atribuições do arquiteto e urbanista. A partir de um contrato bem redigido, com definição de direitos e obrigações entre as partes, e da assunção de responsabilidade técnica pelo Registro de Responsabilidade Técnica (RRT), se estabelecem relações administrativas e suas consequências jurídicas. A relação entre o arquiteto, prestador de serviços, e o cliente, consumidor dos serviços, é prevista no Código do Consumidor e, portanto, o profissional responde pela reparação de eventuais danos quando comprovada sua culpa por imprudência, imperícia ou negligência na elaboração do projeto ou execução da obra. Imprudência é quando se causa dano por inobservância aos projetos ou conjunto de informações existentes. Por exemplo, quando o profissional não considera aspectos relacionados à estrutura existente e o projeto prejudica a estabilidade da mesma. De acordo com o Código Civil Brasileiro, o profissional responde pela solidez e segurança da obra. Se a reforma proposta não levar em consideração o projeto e os cálculos anteriores, ele pode ser responsável pelos eventuais erros. Imperícia é quando o profissional acredita estar apto a executar determinada tarefa, mas, por falta de conhecimento ou competência,

causa danos ao cliente. Por exemplo, uma reforma que insira equipamentos que demandem carga elétrica superior à capacidade do sistema existente pode gerar sérios prejuízos aos equipamentos, instalações ou edificação. Negligência é quando o profissional não especifica ou não acompanha o serviço com a devida atenção. Cabe ao profissional elaborar o projeto e especificar adequadamente os materiais, responsabilizando-se pelos erros e eventuais danos que a obra venha a gerar, pois é seu dever orientar e acompanhar a execução do projeto quando contratado para isso. É responsabilidade do profissional preservar a segurança, saúde e sossego de terceiros, assim como reparar danos que surjam em imóveis vizinhos, horizontais ou verticais, inclusive pela queda de materiais e equipamentos em áreas públicas, coletivas ou vizinhas. Mesmo que esse dano tenha sido causado por subempreiteiro ou trabalhador da obra, ou quando o profissional for vinculado à construtora ou empreiteira, a responsabilidade é solidária. Se o projeto for do arquiteto, mas existe um contrato de execução com outro agente, a responsabilidade do profissional fica restrita a eventuais erros de projeto. Caso o arquiteto seja apenas o autor do projeto e não exista profissional responsável pela execução,

há o exercício ilegal da profissão e cabe ao arquiteto, do ponto de vista ético, alertar seu cliente para os riscos que ele está assumindo nessa condição. Portanto, exige-se que o profissional fique atento às responsabilidades que lhe são impostas pela profissão do ponto de vista administrativo, penal e ético. A Arquitetura pode trazer benefícios inestimáveis à qualidade de vida das pessoas, mas erros de projeto ou serviços mal conduzidos podem causar danos irreparáveis. n

Titulares: Denise Guarezzi Nancy Laranjeira Camargo Luis Antonio de Paula Nunes Roberto Carlos Spina Antonio Castelo Branco Teixeira Jr. Substitutos: Daniele Mothra Padovani Guardini Stancati Monica Madalena Frias Louzada

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Acervo CAU/SP

gt iluminação

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LED: uma ruptura tecnológica E

stamos diante de uma verdadeira revolução tecnológica no campo da iluminação. Foi-se o tempo em que resolver a iluminação de um projeto envolvia um conhecimento básico de algumas tipologias de lâmpadas e luminárias disponíveis no mercado. Bastava escolher no catálogo de produtos das lojas de iluminação conhecidas o modelo de luminária que mais se encaixava no projeto. E, se o “budget” apertasse, era fácil encontrar um modelo similar em outro fornecedor sem alteração dos resultados esperados. A evolução das tecnologias somada às políticas relacionadas a questões ambientais tem levado a uma rápida substituição das fontes luminosas, das antigas famílias de lâmpadas e luminárias convencionais por equipamentos eletrônicos com tecnologia LED. Com a promessa de entregar mais luz com menor consumo de energia, ocupar menor espaço físico, reduzir a emissão de calor no ambiente e aumentar significativamente a vida útil dos produtos, diminuindo a necessidade de manutenção, os produtos em LED se tornaram uma opção quase hegemônica nas soluções de iluminação. Parâmetros técnicos que eram relativamente estáveis na avaliação das fontes agora estão

em rápida evolução, fazendo com que o especificador precise estar em constante atualização. O profissional da iluminação precisa adotar uma postura investigativa e crítica na escolha de soluções. Alguns desses parâmetros a serem reavaliados são: temperatura e reprodução de cor; fluxo luminoso; índice de ofuscamento; óptica entre outros. Sem a padronização dos produtos, as análises detalhadas dos diversos parâmetros se tornam obrigatórias para cada decisão de projeto, aumentando consideravelmente a complexidade dos projetos de iluminação. Durante esse processo de mudança, os arquitetos perderam as referências baseadas na experiência adquirida sobre o comportamento luminoso das tecnologias com as quais estavam familiarizados. A indústria da iluminação LED vem tentando minimizar essa estranheza, lançando produtos para substituir as lâmpadas convencionais como se fossem equivalentes, porém com menor consumo energético e maior pacote de luz e durabilidade. Tais produtos oferecem estas vantagens, porém alguns parâmetros são omitidos em sua descrição, principalmente aqueles relacionados à qualidade da luz e à sua composição e descarte. Também é importante ressaltar que a tecnologia LED possui

inúmeras potencialidades que merecem ser exploradas dentro de sua própria lógica, livre de servir a um formato anterior. Como a evolução tecnológica é grande, com tantas novas variáveis técnicas, difíceis de serem apreendidas até mesmo para um especialista, não surpreende que projetos que não contem com um arquiteto de Iluminação em sua equipe apresentem resultados frustrantes, tanto para os clientes, quanto para os arquitetos, o que fortalece cada vez mais a tendência a equipes multidisciplinares de projeto no campo da Arquitetura e Urbanismo. n

Titulares: Claudia Borges Shimabukuro Daniel de Riggi Fernanda Carvalho Ferreira Villares Gilberto Franco Maiquel Alexandre Alves Substitutos: Ronaldo Takeshi Suzuki Alexandre Giovannetti

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Acervo CAU/SP

gt BIM

BIM como oportunidade

para os arquitetos e urbanistas

A

contratação de obras públicas, seja através da Contratação Integrada ou pelo RDC (Regime Diferenciado de Contratação) com base apenas em anteprojetos, tem sido uma verdadeira catástrofe para a produção do espaço arquitetônico e urbano no Brasil. Entregar às empreiteiras a responsabilidade do pensar o espaço, projetar e construir é um grave erro, pois existe um óbvio conflito de interesses. Revista do CAU/SP

Uma das formas de se garantir ao Estado brasileiro boas contratações de obras, eliminando os aditivos e os erros, é a possibilidade de se construir digitalmente, verificar e corrigir conflitos no meio digital, antes do início das obras. Isso é exatamente o que é feito quando se projeta em BIM (Building Infor-


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Na era da informação farta, da comunicação instantânea, da transparência dos gastos, da participação popular no planejamento da coisa pública, nossa profissão precisa acompanhar o momento, mantendo seu protagonismo nas soluções espaciais. Quanto mais detalhado um projeto, melhor será sua execução, e mais adequada será sua utilização. Ganha com o BIM a sociedade, ganha o arquiteto. n

Titulares: Alan Cury Ana Maria Lazzari Cristiano Antonio Morales Jorge Miguel Gustavo Fabregues Miriam Castanho Substitutos: Ricardo dos Santos Ferreira Luiz Alberto Fresl Backheuser

Acervo CAU/SP

mation Modeling – Modelagem da Informação da Construção). Essa prática elimina a improvisação, o erro e o desperdício das soluções tomadas durante a obra por projetos incompletos. Reduz as intervenções pós-obra, e proporciona o controle mais preciso dos custos, dos quantitativos e dos prazos, diminuindo os desvios lícitos e ilícitos. Reduz o retrabalho. Quando um projeto executivo é desenvolvido desta forma, ágil e meticulosa, além dos documentos típicos de um projeto executivo, outras possibilidades surgem, como planejamento, experimentação, atualização pós-execução e controle de manutenção. O Brasil está buscando um caminho na tendência internacional de se exigir BIM na contratação de obras públicas. Assim, é desejável que todos nós, arquitetos e urbanistas, nos unamos em busca de qualificação técnica e força política para que possamos fazer valer nossa capacidade técnica de resolver o projeto em sua totalidade. Esse é o momento de nos requalificarmos e nos apresentarmos à sociedade como profissionais engajados na melhoria dos contratos públicos e no melhor desempenho das obras. Assim, o profissional arquiteto e urbanista passa a ser mais valorizado, aumentando sua importância na cadeia produtiva e com isso, talvez, ampliando sensivelmente seus honorários.

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gt mobilidade urbana

Mobilidade Urbana para o

planejamento das cidades P

ara qual direção vai o Brasil? Será que podemos colocá-lo nos trilhos? Cento e sessenta e dois anos se passaram desde a inauguração da primeira malha férrea brasileira. No século XX, o país tomou uma grande decisão e caminho para o desenvolvimento das grandes ferrovias, com cerca de cinco mil quilômetros, o que proporcionou o desenvolvimento urbano, social e econômico para muitos municípios do interior. O trem foi o principal meio de circulação de mercadorias, pessoas e capital, antes de ser substituído pelo desenvolvimento rodoviarista e automobilístico.

Revista do CAU/SP

As cidades, que tinham pouca população e pequena área urbana, passam a receber grande contingente populacional com a concentração do emprego industrial, especialmente na região sudeste. Com o desenvolvimento alavancado pela indústria automobilística, caminhões e motocicletas exigiram aberturas de vias, e o empreendimento imobiliário en-


controu nos subúrbios um grande nicho de mercado, enquanto a gentrificação ocorria por falta de políticas públicas e de moradias no centro para a população de baixa renda, espraiando as cidades. Na medida em que as cidades cresciam, aumentava-se proporcionalmente o tempo de deslocamento de pessoas e mercadorias, gerando o caos em muitas metrópoles brasileiras que ainda não conseguem resolver o melhor uso do seu espaço, nem mesmo consolidar os planos urbanísticos previstos. Face aos problemas do espraiamento do território, os arquitetos e urbanistas têm discutido as alternativas do espaço condensado, da pluralidade de usos e do adensamento populacional, criando centros e subcentros diversificados, em busca da diminuição de deslocamentos no território. Estas discussões apontam a exigência de mudanças a médio e longo prazos, criando meios alternativos ao automóvel, quer seja na promoção do transporte público coletivo ou criação de vias cicláveis nas cidades, quer na retomada das vias férreas intermunicipais, tal como o projeto “Trem de alta velocidade”, proposto pelo governo federal em 2008, como um dos legados da realização da Copa do Mundo no Brasil, colocando o país novamente nos trilhos. De acordo com a Lei federal nº 12.587, de 2012, a Política Nacional de Mobilidade Urbana é um importante instrumento para o desenvolvimento das cidades, sobretudo com a integração dos

diversos modais de transporte, incluindo a escala do pedestre. A Lei tem como diretriz a prioridade de projeto de transporte público coletivo como estruturadores do território e indutores do desenvolvimento urbano integrado. Isto é, os corredores exclusivos de ônibus devem integrar aqueles edifícios que atraem muitas pessoas, tais como escolas, universidades, distritos industriais, estádios, shoppings, centros comerciais, hospitais, parques e áreas de lazer. Esta forma de planejar a cidade contribui para desafogar o trânsito da área central e promove o comércio e os serviços dos bairros, fazendo com que os deslocamentos até o centro sejam alternados. Todos os modais – trem, ônibus, automóveis, bicicletas e deslocamento a pé – devem ser contemplados nas cidades, independentemente de seu tamanho populacional, para que os cidadãos possam eleger os meios de locomoção convenientes, evitando que o automóvel perpetue a lenta mobilidade que se agrava nos centros urbanos e os seus elevados custos decorrentes. A realização de grandes eventos, tal como os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016, pode trazer grande legado urbanístico com a ampliação da infraestrutura de diferentes modais de transporte: metrô, BRT, VLT, ciclovias e ampliação da caminhabilidade. As cidades devem planejar, independente dos grandes eventos, planos de mobilidade associados aos planos diretores que possibilitem a qualidade de vida urbana. n

Imagens: Acervo CAU/SP

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Titulares: Delcimar Marques Teodózio Eduardo Habu Fabio Lopes Pires Tiago Perez Savio Vinicius Faria Queiroz Dias Substitutos: Lucia Noemia Simoni Fabio Gouveia

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comissão de repercussão pública

O projeto de Arquitetura e a proteção contra incêndios Acervo CAU/SP

segurança em primeiro lugar

A

contecimentos desastrosos causados por incêndios ao longo da história propiciaram a criação de mecanismos legais, impulsionados pela necessidade de construir ambientes seguros. De forma ideal, o projeto arquitetônico deve ser revisto nos primeiros estágios do desenvolvimento conceitual, de modo a garantir que as medidas de segurança contra incêndio e o projeto arquitetônico sejam desenvolvidos de forma harmônica. Revista do CAU/SP

A principal finalidade da segurança contra incêndio em edificações é minimizar o risco à vida das pessoas expostas ao sinistro. A segurança à vida depende prioritariamente da boa concepção do projeto, a fim de permitir a rápida desocupação dos ambientes atingidos e ameaçados pelas chamas. O arquiteto e urbanista tem como obrigação definir no projeto as medidas de proteção passiva, e também ter noções básicas dos princípios de proteção ativa para garantir que os sistemas prediais

de proteção contra incêndios e catástrofes sejam instalados de forma adequada. Toda a atenção deve ser dada à prevenção, principalmente por meio das denominadas medidas de proteção passiva contra incêndio, representadas pela incorporação à construção de materiais incombustíveis com os menores índices possíveis de propagação de chamas, geração de fumaça, produção de gases tóxicos e outros. Os materiais de construção devem ainda apre-


sentar resistência ao fogo e resistência mecânica. O sistema de proteção passiva é um conjunto de medidas incorporado ao sistema construtivo do edifício e não depende de acionamento em caso de emergência, a exemplo de rotas de fuga, saídas de emergência, compartimentação dos ambientes, proteção da estrutura, materiais de acabamento, entre outros. O sistema de proteção ativa é acionado a partir do início do incêndio. O projeto deve atender às exigências legais com soluções técnicas eficientes: detecção e alarme, hidrantes e mangueiras, sprinklers, extintores, sistemas e adequações aos edifícios, correto dimensionamento das rotas de fuga horizontais e verticais, condições seguras de abandono de uma edificação, dispositivos para controle do movimento da fumaça no interior do edifício, reservatórios que garantam volume e pressão de água nos hidrantes, sistema de alarme e sinalização para abandono de local, inclusive aos portadores de mobilidade reduzida. Um projeto arquitetônico deve também contemplar a instalação e manutenção devida das fontes de energia, distanciamento adequado entre o material combustível e as eventuais fontes de calor, escolha do material para acabamento da edificação, conhecimento dos riscos que envolvem as atividades exercidas, correta utilização dos equipamentos, compartimentação adequada dos riscos envolvidos, proteção das aberturas entre ambientes e entre pisos, entre outros. Há cinco

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anos, a Comissão Especial para Análise de Assuntos de Repercussão Pública e um grupo do Corpo de Bombeiros de São Paulo iniciaram a discussão com a sociedade em palestras pelo Estado sobre a importância de o projeto atender aos padrões normativos brasileiros, considerando que cada tipo de edificação tem uma classificação específica que determina o grau de risco de incêndio e os equipamentos necessários para a proteção dos prédios e de seus usuários. “Há uma lacuna na formação dos profissionais, claramente notada na apreciação dos projetos arquitetônicos em que pode-se perceber, com raras exceções, que conceitos importantes de segurança das pessoas foram deixados de lado, quer seja na hipótese de um incêndio, quer seja numa situação de pânico que promova a saída imediata de todos os ocupantes da edificação”, afirma Silmar da Silva Sendin, capitão do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo.

A partir da Lei Federal 13.425 de 30 de março de 2017, determinando “que os cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo incluirão nas disciplinas ministradas conteúdo relativo à prevenção e ao combate a incêndio e a desastres, e ainda prevê responsabilidades ao CAU na fiscalização do exercício profissional”, espera-se que as medidas de segurança sejam conceituadas com o projeto arquitetônico. O edifício deve possuir equipamentos que permitam combate imediato ao princípio de incêndio pelos próprios ocupantes da edificação, com rotas de fuga, sistemas de orientação e alarme que possibilitem a evacuação das pessoas em tempo hábil, sem pânico ou atropelos que, frequentemente, causam mais vítimas que o próprio fogo. O conceito de criar segurança contra incêndio baseia-se na filosofia de que o edifício, por si só, deve ser projetado para permitir a extinção do fogo e estar auto protegido para impedir sua propagação. n Setembro Outubro 2017 n


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regionais

Revista do CAU/SP


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Sedes regionais ganham espaço próprio para

crescer e aprimorar serviços O

CAU/SP deve concluir até o final deste ano a mudança de endereço de quase todas as suas dez sedes regionais. A transferência procurou conciliar uma localização mais acessível com um aprimoramento da infraestrutura oferecida aos profissionais. Mogi das Cruzes encerrará a fase de mudanças: o processo licitatório para definição do novo endereço está na etapa final. São José dos Campos (julho/16) foi o primeiro escritório regional a ser transferido, seguido por Santos (agosto/16), ABC (janeiro/17), Campinas (janeiro), Ribeirão Preto (janeiro), São José do Rio Preto (outubro) e Bauru (outubro). Presidente Prudente manteve o endereço antigo (a rua Tenente Nicolau Maffei, na Vila Santa Helena), mas agora a sede regional está instalada em duas salas no mesmo edifício, tornando o local mais espaçoso e adequado para receber os arquitetos e urbanistas. Dos dez escritórios regionais do Conselho, somente Sorocaba vai manter o endereço atual, por já operar em um espaço próprio.

Até então, diversas sedes funcionavam em escritórios compartilhados, a exemplo de Bauru. Agora, comenta o gerente regional Paulo André Zuwicker Yamamuro, “estamos em uma avenida movimentada da cidade, com um estacionamento que facilita o acesso para os profissionais. Também ganhamos uma sala de reunião, que pode ser usada para minicursos sobre o SICCAU, por exemplo”. Em Santos, “mudamos para uma sede com localização privilegiada, com mobilidade completa, em um prédio projetado por um arquiteto, e com o dobro da área original (de 30 para 60 metros quadrados)”, descreve o gerente Edson Eloy de Souza. A criação das sedes regionais foi aprovada durante plenária extraordinária em 2013 na cidade de São José dos Campos. A escolha das cidades foi feita a partir de um estudo sobre o Estado e fundamentado em dados do Sistema de Informações e Comunicação do CAU (SICCAU), Sistema de Inteligência Geográfica do CAU/BR (IGEO) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O próximo passo deve ser a mudança da sede na capital paulista para uma sede própria. Atualmente o Conselho está instalado no Vale do Anhangabaú (centro da capital) em local alugado.n

Dos dez escritórios regionais do Conselho, somente Sorocaba vai manter o endereço atual, por já operar em um espaço próprio

Setembro Outubro 2017 n


concurso

Parques de Brasília

1º Lugar Lucia Toffolo de Macedo Porto e equipe (SP)

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55 Projetos que contemplassem propostas arquitetônicas, urbanísticas, ambientais e paisagísticas, propiciando a interação social, atividades e eventos culturais e esportivos, além de garantir uma infraestrutura para comércio de pequeno porte, foi o desafio lançado pelo Concurso Público Nacional de Projetos de Arquitetura e Paisagismo para os Parques Central e Sul de Águas Claras, no Distrito Federal. Por unanimidade dos jurados, três se destacaram.

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concurso

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2ยบ Lugar Roberto Zocchio Torresan e equipe (SP)

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concurso

3ยบ Lugar Joรฃo Gabriel de Moura Cordeiro e equipe (PR)

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Setembro Outubro 2017 n


ponto de vista

Uma experiência de Arte e Arquitetura

Arquivo pessoal

Q

Um episódio que aconteceu há quase meio século que repercute até hoje, como uma das mais interessantes experiências havidas no ensino de Arquitetura.

Ricardo Ohtake, Arquiteto e Urbanista

Revista do CAU/SP

uando em 1970 o Ministério da Educação abriu a possibilidade de se abrir faculdades em todo o país, aconteceu uma grande avalanche de novas escolas de Arquitetura. Em São Paulo, havia somente a FAU da USP e a FAU do Mackenzie e se abriram em poucos anos uma faculdade em Santos, duas em Moji das Cruzes, uma em Taubaté, Guarulhos, outra em Franca, Bauru e, dentre estas todas, uma em São José dos Campos, onde fui dar aula juntamente com o arquiteto Paulo de Mello Bastos, o cineasta Maurice Capovilla, o crítico de cinema Jean Claude Bernardet, o músico Damiano Cozzella, o arquiteto e músico Dalton de Luca, os jovens cineastas Plácido de Campos, Walter Luiz Rogerio e Guilherme Lisboa; a fotógrafa Ruth Toledo, o historiador Anselmo Pecci, os arquitetos Vicente Bicudo, Milton Pellicciotta, e outros que formavam o IPC - Instituto de Projeto e Comunicação dentro da recém aberta Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Este novo organismo seguiu uma proposição que a Universidade de Brasília fizera anos antes, idealizada por Darcy Ribeiro e que foi muito modificada pela Ditadura que se implantava, mas não destruída. São José dos Campos estava dentro de uma área de influência da Aeronáutica, pois lá havia o Centro Técnico da Aeronáutica, o ITA, escola de engenharia e logo em seguida a Embraer, fábrica de aviões. Abrir uma escola de Arquitetura, nova e original, foi uma façanha e, com uma característica multidisciplinar foi maior ainda. E qual multidisciplinaridade?


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Hoje diríamos que seria a transversalidade entre a Arquitetura e o Urbanismo, as razões da faculdade, a arte, vista como as artes aplicadas e a comunicação, vista como imagem (foto e cine) e som (música). Bastante ambiciosa esta proposição, mas que dava uma visão extremamente ampla para a faculdade e todos os professores e estudantes, compreenderam o fenômeno que se estudaria – conhecer e propor – que era a cidade. Foi assim que 100 alunos e uma dúzia de professores começaram a montar este organismo, propondo um audiovisual (slides e som) para cada equipe de 10 alunos escolherem um tema sobre São José dos Campos, para que a cidade fosse conhecida, pois a maioria de professores e alunos era de outras localidades. A metodologia foi estabelecida para o conhecimento ser adquirido no processo de pensar o audiovisual e a teoria seria aprofundada nos outros anos do curso: história urbana, sua estrutura e população; as construções, os seus processos e os componentes; as linguagens artísticas que envolviam a criação do audiovisual. Nesta operação que envolvia temas e linguagens, era onde

Arquitetura e Urbanismo lidavam com a arte, mas a análise e síntese que caracterizam o fazer arquitetônico e urbanístico é muito semelhante ao fazer artístico, imagético, musical, pictórico, fotográfico, principalmente na metodologia. Este é um episódio que aconteceu há quase meio século que repercute até hoje, como uma das mais interessantes experiências havidas no ensino de Arquitetura. Um dos fatores que até agora se fala é a extraordinária e rica relação entre arte e Arquitetura, assunto que a editoria da revista escolheu para ser abordado. n

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fique atento Leia

ManUAL DO ARQUITETO

EDIFíCIOS DE SAúDE

Trata de aspectos específicos do projeto, como materiais, acústica e iluminação, de dados gerais de projeto sobre as dimensões humanas (ergonomia e ergometria) e de necessidades espaciais. Fornece ainda as exigências básicas para projetos considerando as mudanças de comportamento, climáticas e necessidades da sociedade, como projetar para áreas sujeitas a enchentes.

O livro apresenta quarenta e cinco escritórios incluindo hospitais públicos e privados, laboratórios, escolas de formação de profissionais, clínicas médicas e de reabilitação projetados pelos mais destacados escritórios de Arquitetura e Engenharia que atuam no Brasil.

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ABRAHãO SANOVICZ: ARQUITETO Apoiado pelo CAU/SP, o livro que faz parte da série “Arquitetura Paulista” destaca toda a obra arquitetônica de Abrahão Sanovicz, escrito pela arquiteta e urbanista Helena Ayoub Silva. O Teatro Municipal de Santos, os edifícios Abaeté e Modular Delta I e II são alguns exemplos que levam a assinatura do arquiteto.


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Assista THE MAKING OF AN AVANT-GARDE O documentário “The Making of an Avant-Garde: The Institute for Architecture and Urban Studies 1967–1984” conta a história do instituto fundado em Nova York onde tais profissionais, até então ainda jovens e pouco conhecidos, fizeram da cidade um centro global de debate arquitetônico. Entre eles, que depois se tornariam arquitetos mundialmente conhecidos, estão Rem Koolhas, Frank Gehry, Bernard Tschumi, Richard Meier e Peter Eisenman. https://www.makingofanavantgarde.com/

Visite ABIMAD 2018 A edição 2018 da Feira Brasileira de Móveis e Acessórios de Alta Decoração acontecerá na capital paulista de 30 de janeiro a 2 de fevereiro de 2018, na São Paulo Expo. Com entrada gratuita, é limitada a lojistas, decoradores, designers e arquitetos. Mais informações no site www.abimad.com.br.

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ouvidoria

Os desafios do CAU para aperfeiçoar o atendimento a arquitetos e urbanistas Por Affonso Risi, ouvidor do CAU/SP

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osso Conselho entrará em 2018 no sétimo ano de existência plena, depois da realização em outubro do terceiro processo eleitoral de sua ainda curta história. Tem sido, é inegável, um período de grandes conquistas que incluíram, entre muitas outras

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coisas, a aposta na construção de uma organização predominantemente informatizada, com o importante desenvolvimento do Sistema de Informação e Comunicação do CAU (SICCAU), ambiente digital no qual se dá, praticamente, toda a interlocução entre os arquitetos e urbanistas e seu órgão maior.

Nossa própria eleição, assim como já as anteriores, é um exemplo eloquente da eficiência possível do sistema. A plataforma tem, aos poucos, conseguido superar debilidades e inconsistências e, apesar de ainda sujeita às chamadas falhas sistêmicas, causadoras de transtornos


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Acervo CAU/SP

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que ainda nos incomodam, e bastante, parece indicar uma opção acertada e vitoriosa para o CAU. A Ouvidoria, na condição de porta-voz privilegiada dos profissionais junto ao Conselho, tem recebido e buscado equacionar as muitas reclamações, sugestões e críticas recebidas, sempre no sentido de ajudar a corrigir rumos e multiplicar acertos, e aí não podemos deixar de mencionar que muitos colegas ainda se sentem “abandonados” pelo Conselho, já que, ainda pouco familiarizados com a cultura digital, não são atingidos pelas informações praticamente quotidianas e no entanto absolutamente necessárias à boa prática profissional.

A inexistência de boletos de pagamento enviados por via postal, a que o CREA nos tinha acostumado, assim como de cartas alertando para eventuais inadimplências, foi com certeza a principal causa da “aluvião” de protestos recebidos em 2016 e 2017 quando do início do obrigatório processo de cobrança de atrasados, com a ameaça decorrente de inclusão em Dívida Ativa Pública. Boa parte do transtorno poderia ter sido evitada se tivéssemos, em tempo, enviado comunicação direta aos colegas, alertando para a iminência de cobrança e necessidade de cumprimento de suas obrigações. Essa possibilidade continua em aberto já que, em 2018 e nos próximos anos, o problema certamente se repetirá. É claro que, como qualquer cidadão, arquitetos estão obrigados a estar atentos ao cumprimento das leis e obrigações, mas a mencionada comunicação poderá ajudar a criar o bom hábito e firmar procedimentos. Esta revista cumpre boa parte do papel de contato direto com os profissionais, mas deveríamos nos habituar também a uma ação frequente de acesso a eles por via postal e, até, telefônico, o que, diga-se de passagem, nosso eficiente Atendimento já faz muitas vezes e sempre com ótimo resultado. Outras iniciativas bem sucedidas de contato direto com os profissionais (Bate-papo com o CAU, Café com Arquitetos, CapacitaCAU, Rios + Cidades, Seminários de Acessibilidade e muitos outros mais) devem ser mantidas, incentivadas e sempre incrementadas pois cumprem papel impor-

tante no esclarecimento e na formação continuada. Uma ação permanente de informação à sociedade e aos colegas a respeito de nossas atividades, divulgando e “traduzindo” Resoluções e tornando-as claras e efetivamente presentes sobretudo no dia a dia da atividade dos profissionais, ajudará a criar o ambiente harmonioso de que todos estamos necessitados. O CAU tem entre suas obrigações maiores o exercício da fiscalização das atividades e também aí, se quiséssemos, poderíamos ter a colaboração e parceria de um forte engajamento de profissionais, estudantes e de toda a sociedade. Não parece difícil promover ações nesse sentido e o ganho, inegável, será de todos, Outra questão que merecerá com certeza a especial atenção dos novos responsáveis pela condução do Conselho é a da formação universitária dos arquitetos, área, hoje, inexplicavelmente fora da direta competência do CAU. Não é possível seguir tolerando a leviandade com que o assunto vem sendo tratado no país, com os maus resultados que saltam aos olhos na paisagem de nossas cidades. Ainda temos uma longa estrada pela frente e é importante que os novos dirigentes possam absorver a experiência já alcançada para, com o apoio de toda a classe, corrigir rumos onde necessário e garantir a real importância do conselho profissional por que tanto sonhamos. n

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Laís Abud Lopes

Ana Lúcia Cavalleri

olhar do arquiteto

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