Revista Móbile #22

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#22

Agosto l Setembro l Outubro 2020

ISSN 2448-3885

Revista do CAU/SP

Bate-papo

Pablo Hereñú e o desafio de reformar o Museu do Ipiranga

Em Debate

O uso de vidro nas fachadas vai além da questão estética

Fiscalização

E-book inédito traz orientações para síndicos e administradores de condomínios

Arquitetura dos espaços de saúde: humanização, tecnologia e versatilidade


LÁPIS

na ponta do

arquiteto EduaRdo Freua

Projeto para um edifício de escritórios em São Paulo, com 2 conjuntos por andar em 7 pavimentos abertos para o hall de entrada, com pé-direito de 25 metros. As formas triangulares ou cilíndricas são decorrências simples da circulação horizontal e vertical em composição com a intenção plástica.


Editorial CCOM

Índice

30 I Capa

A Arquitetura dos espaços de saúde

22 I Bate-papo

Pablo Hereñú e o desafio de reformar o Museu do Ipiranga

52 I Arquitetura no Mundo

Diversidade de estilos e inovações arquitetônicas nos teatros de ópera

18 I Em Debate

Vantagens e desvantagens no uso de fachadas de vidro para edifícios

38 I Concurso Museu da Água

46 I Eleições

Arquitetos e urbanistas escolhem o novo plenário para 2021

e mais: 06 12 14 16 60 62 64 66

I I I I I I I I

CAU/SP em Ação Regionais Curtas do CEAU Arquitetura Paulista Olhar do Arquiteto Ouvidoria Fique Atento Ponto de Vista

A

brimos a Móbile #22 com uma linda foto na seção Arquitetura Paulista do edifício histórico Jacques Pilon Residence no centro de São Paulo. Foi projetado na década de 1940 pelo arquiteto francês que deu nome ao edifício. Um ‘retrofit’ transformou o prédio comercial em residencial sem perder suas características originais. Na Ponta do Lápis exibe uma perspectiva artística do arquiteto Eduardo Freua, relativa a um projeto para edifício de escritórios. Na seção Em Debate, Roberto Aflalo Filho e Lídia Guimaraes discutem o uso de fachadas com panos de vidro, as vantagens e desvantagens. Em Bate-Papo temos uma entrevista com o arquiteto Pablo Hereñú, do escritório H+F. Este escritório ganhou o concurso para o projeto de reforma do Museu do Ipiranga na capital paulista. Nossos jornalistas estiveram ‘in loco’ para verificar as obras que estão a todo vapor. A matéria de capa é dedicada a um tema importante neste momento: a Arquitetura nos espaços de saúde. Tratase de um tema complexo em que os espaços precisam ser pensados como um negócio, e a eficiência deve ser atingida levando sempre em conta a experiência do usuário. Reunimos as opiniões de vários especialistas. A AESabesp lançou um concurso para o projeto de restauro e ampliação do edifício da antiga Repartição de Águas e Esgotos de São Paulo (RAE) para criar o “Museu Água” na cidade de São Paulo. Trazemos o resultado deste certame. Uma das ações da Comissão de Fiscalização e do setor de Comunicação do CAU/SP foi a confecção do e-book para síndicos, administradores, presidentes de associações e a comunidade sobre os procedimentos necessários para a realização de obras nos condomínios. Na seção queridinha de todos – Arquitetura no Mundo – abordamos a Arquitetura dos teatros de ópera. São espaços que nasceram no século 17 e continuam até hoje encantando com formas arquitetônicas das mais variadas e inovadoras. Em Ponto de Vista, publicamos um texto especial de Carlos Augusto Manço, o “Sr. Juventude”, um exemplo de entusiasmo e boa vontade quando se deseja fazer algo. A idade não o desanimou em correr atrás do sonho de ser arquiteto, uma história incrível! Boa leitura!

Nancy Laranjeira Tavares de Camargo Coordenadora da CCom. Comissão Especial de Comunicação do CAU/SP * revista@causp.gov.br Nancy Laranjeira Tavares de Camargo Coordenadora Maria Alice Gaiotto Coordenadora Adjunta

Claudio Zardo Búrigo Marcia Helena Souza da Silva Martin Corullon

As ideias ou opiniões expostas nos artigos ou textos dos colaboradores são de responsabilidade dos próprios autores, não refletindo, Agosto l Setembro l Outubro 2020 necessariamente, a opinião ou posicionamento do CAU/SP.

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Expediente

Conselho Diretor José Roberto Geraldine Junior Presidente Valdir Bergamini Vice-presidente José Antonio Lanchoti (Coordenador) Comissão de Ensino e Formação (CEF – CAU/SP) Anita Affonso Ferreira (Coordenadora) Comissão de Ética e Disciplina (CED – CAU/SP) Alex Marques Rosa (Coordenador) Comissão de Exercício Profissional (CEP – CAU/SP) CONSELHEIRAS FEDERAIS Nadia Somekh Titular

Helena Aparecida Ayoub Silva Suplente

Conselheiros Estaduais - Titulares Adriana Blay Levisky Guilherme Carpintero de Carvalho Alan Silva Cury José Antonio Lanchoti Alex Marques Rosa Jose Marques Carrico André Luis Queiroz Blanco José Roberto Geraldine Junior Angela de Arruda Camargo Amaral Luiz Antonio Cortez Ferreira Angela Golin Luiz Antonio de Paula Nunes Anita Affonso Ferreira Marcelo Martins Barrachi Carlos Alberto Palladini Filho Marcia Helena Souza da Silva Carlos Alberto Silveira Pupo Marco Antonio Teixeira da Silva Cassia Regina Carvalho de Magaldi Marcos Cartum Catherine Otondo Maria Alice Gaiotto Claudio de Campos Maria Fernanda Avila de Sousa Claudio Zardo Búrigo da Silveira Delcimar Marques Teodoro Maria Rita Silveira de Paula Amoroso Denise Antonucci Mario Wilson Pedreira Reali Dilene Zaparoli Marta Maria Lagreca de Sales Edson Jorge Elito Martin Gonzalo Corullon Fernanda Menegari Querido Mauro Claro Fernando de Mello Franco Mel Gatti de Godoy Pereira Flavio Marcondes

Miguel Antonio Buzzar Miriam Roux Azevedo Addor Nabil Georges Bonduki Nancy Laranjeira Tavares de Camargo Nelson Gonçalves de Lima Junior Paulo Marcio Filomeno Mantovani Poliana Risso Silva Ueda Rafael Paulo Ambrosio Rossella Rossetto Ruy dos Santos Pinto Junior Salua Kairuz Manoel Silvana Serafino Cambiaghi Tercia Almeida de Oliveira Valdir Bergamini Vanessa Gayego Bello Figueiredo Vera Santana Luz Vinicius Hernandes de Andrade Violeta Saldanha Kubrusly

Conselheiros Estaduais - Suplentes Adalberto da Silva Retto Junior Fabiano Puglia Moreno Marin Ailton Pessoa de Siqueira Fabio de Almeida Muzetti Ana Cristina Gieron Fonseca Fábio Mariz Gonçalves Ana Lucia Ceravolo Flavia Regina de Lacerda Abreu André Gonçalves dos Ramos Gianfranco Vannucchi Andre Luis Avezum Jeane Aparecida Rombi de Godoy Rosin Andressa Rodriguez Hernandez Katia Piclum Versosa Breno Berezovsky Laura Lucia Vieira Ceneviva Carlos Antonio Spinhardi Leda Maria Lamanna Ferraz Rosa Van Carolina Margarido Moreira Bodegraven Cícero Pedro Petrica Leila Regina Diegoli Consuelo Aparecida Gonçalves Gallego Liana Paula Perez de Oliveira Daniela da Camara Sutti Lizete Maria Rubano Daniela Perez Nader Andréo Lua Nitsche Danusa Teodoro Sampaio Luiz Eduardo Siena Medeiros Eduardo Trani Marcelo Consiglio Barbosa Eleusina Lavor Holanda de Freitas Marise Cespedes Tavolaro Enio Moro Junior Mauro Ferreira Eurico Pizao Neto Milton Liebentritt de Almeida Braga

Natália Costa Martins Patricia Robalo Groke Paulo de Falco Epifani Paulo Machado Lisbôa Filho Raquel Rolnik Raquel Vieira Feitoza Renata Alves Sunega Renato Matti Malki Ricardo Aguillar da Silva Roberto Claudio dos Santos Aflalo Filho Roberto Loeb Sami Bussab Sarah Feldman Sergio Baldi Sergio de Paula Leite Sampaio Silvana Dudonis Vitorelo Iizuka Sofia Puppin Rontani Weber Sutti

EXPEDIENTE CCOM Conselho e coordenação editorial Daniele Moraes Coordenadora de Comunicação Epaminondas Neto Técnico de Comunicação

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Carlos Alberto Silveira Pupo (Coordenador) Comissão de Fiscalização (CF – CAU/SP) Tercia Almeida de Oliveira (Coordenadora) Comissão de Organização e Administração (COA – CAU/SP) Marco Antonio Teixeira da Silva (Coordenador) Comissão de Planejamento e Finanças (CPFi – CAU/SP)

Editado por Ex Libris Comunicação Integrada Jornalista: Jayme Brener (Mtb 19.289) Editor: Silvia Lakatos Textos: Marco Paulo Ferreira, Silvia Lakatos, Cláudio Camargo, Daniele Moraes, Epaminondas Neto e Catarine Figueiredo. Projeto gráfico e diagramação: Regina G. Beer Impressão: Coan Industria Grafica Ltda. Tiragem: 58,5 mil exemplares revista@causp.gov.br

Comissões Ordinárias Comissão de Ensino e Formação do CAU/SP José Antonio Lanchoti (Coordenador), Flavio Marcondes (Coordenador Adjunto), Carolina Margarido Moreira (suplente), Sérgio de Paula Leite Sampaio (suplente), Nelson Gonçalves de Lima Junior, Delcimar Marques Teodozio, José Marques Carriço, Miguel Buzzar, Vera Santana Luz, Vinicius Hernandes de Andrade (licenciado), Fernando de Melo Franco (licenciado), Vanessa Gayego Bello Figueiredo Comissão de Ética e Disciplina do CAU/SP Anita Affonso Ferreira (Coordenadora), Marcos Cartum (Coordenador Adjunto), Luiz Antonio de Paula Nunes, Denise Antonucci, Cassia Regina Magaldi, Marcia Helena Souza da Silva, Claudio Zardo Búrigo, Poliana Risso Silva Ueda, Rafael Paulo Ambrosio Comissão de Exercício Profissional do CAU/SP Alex Marques Rosa (Coordenador), Dilene Zaparoli (Coordenadora Adjunta), Alan Silva Cury, Luiz Antonio Cortez Ferreira, Claudio de Campos, Maria Fernanda Avila de Sousa da Silveira, Catherine Otondo, Martin Gonzalo Corullon, Carlos Alberto Palladini Filho Comissão de Fiscalização do CAU/SP Carlos Alberto Silveira Pupo (Coordenador), Paulo Marcio Filomeno Mantovani (Coordenador Adjunto), Marcelo Martins Barrachi, Silvana Serafino Cambiaghi, Mel Gatti de Godoy Pereira, Angela Golin, Guilherme Carpintero, Salua Kairuz Manoel Comissão de Organização e Administração do CAU/SP Tercia Almeida de Oliveira (Coordenadora), Adriana Blay Levisky (Coordenadora Adjunta), Ana Cristina Gieron Fonseca (suplente), André Luis Queiroz Blanco, Ruy dos Santos Pinto Junior (licenciado), Violêta Saldanha Kubrusly, Marta Maria Lagreca de Sales, Nabil Georges Bonduki, Rossella Rossetto, Valdir Bergamini Comissão de Planejamento e Finanças do CAU/SP Marco Antonio Teixeira da Silva (Coordenador), Miriam Roux Azevedo Addor (Coordenadora Adjunta), Edson Jorge Elito, Nancy Laranjeira Tavares de Camargo, Maria Rita Silveira de Paula Amoroso, Maria Alice Gaiotto, Angela de Arruda Camargo Amaral, Fernanda Menegari Querido, Mario Wilson Pedreira Reali Comissões Especiais Comissão de Desenvolvimento Profissional do CAU/SP André Luis Queiroz Blanco (Coordenador), Fernanda Menegari Querido (Coordenadora adjunta), Maria Fernanda Avila de Sousa da Silveira, Luiz Antonio de Paula Nunes, Claudio de Campos Comissão de Política Urbana, Ambiental e Territorial do CAU/SP Nabil Georges Bonduki (Coordenador), Adriana Blay Levisky (Coordenadora adjunta), Paulo Marcio Filomeno Mantovani, Miguel Antonio Buzzar, Marta Maria Lagreca de Sales Comissão de Comunicação do CAU/SP Nancy Laranjeira Tavares de Camargo (Coordenadora), Maria Alice Gaiotto (Coordenadora adjunta), Claudio Zardo Búrigo, Marcia Helena Souza da Silva, Martin Gonzalo Corullon Comissão de Relações Institucionais do CAU/SP Marcelo Martins Barrachi (Coordenador), Edson Jorge Elito (Coordenador adjunto), Ruy dos Santos Pinto Junior, Poliana Risso Silva Ueda, Nelson Goncalves de Lima Junior Comissão de Patrimônio Cultural do CAU/SP Maria Rita Silveira de Paula Amoroso (Coordenador), Vanessa Gayego Bello Figueiredo (Coordenadora adjunta), Ana Cristina Gieron Fonseca (suplente), Cassia Regina Carvalho de Magaldi, Carlos Alberto Palladini Filho, Dilene Zaparoli


Palavra do presidente

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os próximos meses, o CAU/SP deve retomar os procedimentos do concurso público para a contratação de funcionários, uma ampliação muito necessária de seu quadro de colaboradores para acompanhar o crescimento da população de arquitetos e urbanistas no Estado. A realização deste concurso mostra que o nosso Conselho se antecipa ao reinício do funcionamento regular de suas atividades, sempre considerando e seguindo as recomendações das autoridades de saúde. Desde março, nossos funcionários trabalham em regime de ‘home-office’. O atendimento presencial foi reduzido ao nível mínimo, e somente por meio de agendamento prévio. Esta medida, embora muito necessária, em algum momento vai ser revista para permitir o retorno do atendimento presencial. A sede da autarquia na capital e os escritórios distribuídos pelo interior já foram equipados adequadamente para receber com segurança funcionários, conselheiros e profissionais. Em paralelo, continuam os trabalhos de adequação da nova sede no chamado “Triângulo Histórico” do centro paulistano que, esperamos, estará em pleno funcionamento em 2021, tornando-se uma referência para arquitetos e urbanistas na cidade. Realizamos também uma nova eleição para o Plenário. Mais de 30 mil profissionais exerceram seu direito de voto e elegeram os novos conselheiros para o triênio de 2021-2023. Todos estes preparativos e realizações são parte do legado desta gestão, que se somam aos esforços dos colegas que nos antecederam, para construir, dia a dia, mês a mês, ano a ano, um Conselho cada vez mais moderno, eficiente e fundamental para o exercício da Arquitetura e Urbanismo.

Daia oliver

Ações e preparativos para retomada

José Roberto Geraldine Junior Presidente

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Acervo CAU/SP

CAU/SP em ação

“Arquitetura e Urbanismo – mais do que nunca, um compromisso com a vida”

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Acervo CAU/SP

ova campanha do CAU/BR e CAU/UFs fala sobre a importância da Arquitetura e Urbanismo na crise do coronavírus. A campanha mostra que a dramática crise sanitária das cidades brasileiras, em especial nos bairros mais carentes, ressaltou a importância do trabalho dos arquitetos e urbanistas na construção de moradias dignas e cidades saudáveis. A iniciativa também reforça as propostas da “Carta-Aberta à Sociedade e aos (às) Candidatos (as) nas Eleições Municipais de 2020 – Um projeto de cidade pós-pandemia”, visando a transformar nossas cidades em territórios saudáveis, inclusivos, seguros e resilientes para todos. Acesse o site do CAU/ SP para conferir.

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Unidades móveis levam coleta e atendimento aos profissionais do Estado

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os últimos meses, as Unidades estiveram em diversas cidades do interior do Estado de São Paulo e em pontos da capital paulista realizando coleta de dados biométricos para a confecção da carteira de identificação profissional, bem como prestando esclarecimento de dúvidas e demandas dos arquitetos e urbanistas paulistas. A aquisição dos veículos manteve o atendimento e prestação de serviços aos profissionais, diante dos grandes desafios impostos pelas restrições de contato e isolamento social, advindos da pandemia. E possibilitou ainda um estreitamento na relação do Conselho com os arquitetos e urbanistas que residem em cidades em que não há escritórios descentralizados do CAU.


Anuidade 2021: descontos adicionais para pagamento à vista

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plenário do CAU/BR aprovou no dia 24 de setembro a Resolução Nº 193 que define que a partir de 1º. de janeiro de 2021, as pessoas jurídicas com um único sócio, caso seja arquiteto e urbanista, terão 90% de desconto adicional na anuidade do CAU, se optarem pelo pagamento integral à vista. A Resolução também define a ampliação de cinco para seis do número de parcelas das anuidades, tanto para o registro de profissionais quanto de empresas; separação

Parcerias: cursos de capacitação passam a ser exclusivamente online

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tendendo às recomendações das autoridades sanitárias, os cursos gratuitos de capacitação profissional oferecidos na capital e no interior passaram a ser ministrados exclusivamente na modalidade online. Estes cursos são oferecidos por meio das parcerias concretizadas entre o CAU/SP e as organizações da sociedade civil (OSC) selecionadas no Edital de Chamamento Público Nº 003 e 005/2019. Consulte o calendário no site do CAU/SP.

dos vencimentos das anuidades de pessoa física e jurídica; demais descontos adicionais e maiores percentuais de multa de mora nos casos de débitos. Para mais detalhes, acesse a Resolução CAU/BR Nº 193 no site do CAU/BR.

Mudanças deixam solicitação do RRT mais fácil e econômica

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partir de setembro, começou o processo de adequação do SICCAU para oferecer novas funcionalidades para solicitação de Registro de Responsabilidade Técnica (RRT). As mudanças abragem facilidades como agrupamento de atividades, economia para registro e isenções de multas. Estas alterações marcam a segunda etapa de implementação da nova plataforma do SICCAU. Com nova interface, o ambiente de registro de RRT passou a ser mais interativo. As novas funcionalidades foram estabelecidas pela Resolução CAU/BR nº 184/2019, que dispõe sobre novas regras para o RRT e para a emissão de CAT-A.

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CAU/SP em ação

Acervo CAU/SP

Fiscalização do CAU/SP atua em desabamentos de Diadema e Mauá

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ois desabamentos ocorridos no mês de agosto, um de uma caixa d’água e outro um sobrado, nas cidades de Diadema e Mauá, na Grande São Paulo, foram alvo de ações das equipes de fiscalização do CAU/SP. Nestas ações, a equipe de fiscais vai ao local e realiza o registro fotográfico e a coleta de informações iniciais. Nas vistorias ‘in loco’, a equipe de fiscais do Conselho averígua a presença de responsável técnico habilitado nas atividades de projeto e execução. Caso seja identificada alguma irregularidade referente ao exercício profissional, é emitida ‘Notificação Preventiva’, que pode levar a sanções.

CAU/SP promove LIVEs sobre Acessibilidade e Mobilidade Urbana

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o dia 06/08, aconteceu a Live “O que é esse tal de Desenho Universal na Arquitetura?”, organizada pela Comissão de Acessibilidade do CAU/SP com o apoio da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência de São Paulo. Nos dias 13/08 e 22/10 ocorreram a lives “Mobilidade em Foco: Normalização sobre infraestruturas inteligentes em cidades e comunidades” e "Cidades, pandemia e mobilidade" organizadas pela Comissão de Mobilidade Urbana do CAU/SP.

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Os eventos foram transmitidos ao vivo pelo canal do Youtube do Conselho e estão disponíveis para acesso. A live de acessibilidade contou com tradução em libras.


Acervo CAU/SP

Fórum de Presidentes notifica CAU/BR para restabelecimento do SICCAU

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Fórum de Presidentes dos CAU/UF enviou no dia 14/09 uma notificação extrajudicial ao CAU/BR, cobrando medidas “para o reestabelecimento e pleno funcionamento do Sistema SICCAU”. No texto, o colegiado de presidentes lembra que o SICCAU apresentou problemas técnicos ao longo de dois meses impossibilitando que os profissionais arquitetos e urbanistas emitam, entre outros documentos, o RRT (Registro de Responsabilidade Técnica) “um dos requisitos indispensáveis para o regular exercício da profissão”. Confira a íntegra da notificação extrajudicial do Fórum de Presidentes.

Fiscalização: confira os tutoriais sobre denúncias e outros assuntos

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Conselho colocou à disposição dos profissionais arquitetos e urbanistas materiais completos e didáticos sobre as atividades de fiscalização do exercício profissional, a exemplo a recepção e encaminhamento de denúncias, importância da Norma de Desempenho (NBR 15.575) entre outros temas. Este material está permanentemente fixado na home-page do site oficial para consulta. Confira o site do CAU/SP.

Dia Mundial da Arquitetura: eventos especiais para a data

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o dia 05 de outubro foi comemorado o Dia Mundial da Arquitetura. As associações que representam 3,2 milhões de arquitetos em todo o mundo promoveram eventos para mostrar como o planejamento urbano e a arquitetura podem tornar nossas comunidades fortes, seguras, equitativas e acessíveis. Para 2020, o tema escolhido pela União Internacional de Arquitetos (UIA) foi “Rumo a um futuro urbano melhor”, que também foi um dos eixos do webinar promovido pela própria UIA. O webinar contou com uma mesa redonda virtual e seis painéis de especialistas globais que discutiram como arquitetos e profissionais em áreas relacionadas podem enfrentar os desafios que enfrentam as cidades de hoje.

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CAU/SP em ação

Retomada gradual do atendimento presencial na capital e no interior

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CAU/SP estabeleceu um plano para a retomada gradual das atividades presenciais da sede e de seus escritórios descentralizados, definindo uma série de protocolos de prevenção da Covid-19, entre eles, o uso obrigatório de máscaras, aferição de temperatura corporal entre outros. O atendimento presencial ao público somente será realizado quando forem

esgotadas as possibilidades de resolução pelos canais digitais, e mediante agendamento de data e horário. Na Sede no centro da capital, o atendimento telefônico, via WhatsApp e via e-mail, é realizado diariamente, das 10h às

16h, conforme números de telefone e endereços de e-mail divulgados no sítio eletrônico do CAU/SP. Nos Escritórios Descentralizados, o atendimento telefônico, via WhatsApp e via e-mail é realizado diariamente, das 10h às 12h e das 14h às 17h.

Ferramenta de videoconferência manteve atividades do Plenário

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esde abril o CAU/SP vem realizando suas reuniões plenárias por meio de ferramentas de videoconferência, de modo a não interromper as atividades do colegiado de conselheiros. As sessões são transmitidas mensalmente pelo site oficial, pelo portal YouTube e pelas redes sociais. Dentre as várias pautas discutidas nesses seis meses estão o programa de ações emergenciais frente ao Covid-19, prestação

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de contas, plano orçamentário, relatório de gestão, bem como julgamentos de processos éticos-disciplinares. Esta prática manteve o compromisso de transparência do Conselho, ao permitir o acompanhamento na íntegra das sessões --salvo quando há pedido de sigilo durante os julgamentos. As atividades virtuais também foram ampliadas para as Comissões Especiais e Comissões Temporárias.


CAU/BR presta esclarecimentos sobre mudanças no SICCAU

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CAU/BR está reforçando sua estrutura de tecnologia da informação para implementar as novas funcionalidades do RRT de forma segura e sem interrupções, conforme relatou representante do Centro de Serviços Compartilhados, durante a 9ª Reunião Plenária Ordinária do CAU/SP em outubro. As ações coincidiram com a implementação de uma nova plataforma para que o Sistema de Informação e Comunicação do CAU (SICCAU) fosse capaz de oferecer as novas funcionalidades do RRT (Registro de Responsabilidade Técnica), estabelecidas pela Resolução CAU/BR nº 184/2019. O representante do CSC do CAU também indicou que as equipes técnicas dos CAU/UF têm contribuído com esse processo, de modo a aproveitar o relacionamento direto das autarquias com os profissionais de seus estados.

Consulta pública sobre as novas regras para Engenharia de Segurança do Trabalho

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CAU/BR propôs a inclusão de novas atividades de Engenharia de Segurança do Trabalho para fins de Registro de Responsabilidade Técnica. Arquitetos e urbanistas puderam manifestar suas opiniões e sugestões por meio da Consulta Pública Nº 32, que ficou aberta até o dia 02 de outubro. Foram listadas seis novas atividades para arquitetos e engenheiros com especialização de Engenheiro de Segurança do Trabalho. Hoje as regras que arquitetos e urbanistas devem observar para o registro do título complementar e o exercício das atividades de Engenharia de Segurança do Trabalho estão dispostas na Resolução CAU/BR Nº 162.

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Regionais

I BAURU

I PRESIDENTE PRUDENTE

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Escritório Descentralizado de Bauru, coordenado por Wagner Domingos, segue em regime de home office devido à pandemia e já realizou cerca de 400 atendimentos telefônicos. Em setembro, devido à implantação do Projeto Van nas Cidades, houve atendimentos presenciais nas microrregiões de Bauru, Marília e Ourinhos, com finalidades técnicas e coleta de dados biométricos para emissão de carteiras profissionais. Também merecem destaque os cursos online de capacitação oferecidos para turmas dessas mesmas microrregiões, viabilizados pelo termo de fomento firmado pelo CAU/SP com Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs).

I CAMPINAS

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Escritório Descentralizado de Campinas participou, no dia 6 de agosto, da Audiência Pública On Line promovida pela Câmara Municipal de Americana com o objetivo de debater o regulamento da Área de Proteção Ambiental (Apama), também conhecida como Pós-Represa. Nos dias 14 e 21 de setembro, foram realizadas mais de cem coletas de dados biométricos em cidades atendidas pela regional – dentre elas, Americana, Piracicaba, Rio Claro, Mogi Mirim, Bragança Paulista, Indaiatuba, Vinhedo e Jundiaí.

Coordenador Regional Eduardo Franke destaca que a demanda por atendimentos tem crescido muito nos últimos meses, sobretudo em comparação ao início da pandemia. A criação de um grupo específico com os profissionais da região, para atendimento via WhatsApp, agilizou o intercâmbio de informações, e o termo de fomento entre o CAU/SP e as OSCIPs permitiu a realização de cursos de capacitação online, atendendo turmas de Presidente Prudente, Assis e Tupã. No mês de outubro, as três cidades mencionadas receberam as vans itinerantes do CAU/SP para a operação de coleta biométrica.

I RIBEIRÃO PRETO

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Escritório Descentralizado de Ribeirão Preto implantou o atendimento via WhatsApp e obteve avaliação positiva dos profissionais no sistema de atendimento não presencial. O Coordenador Regional Éder Silva notou que, apesar dos números ainda bastante altos de infectados pela Covid-19 na região, houve aumento considerável dos atendimentos nos meses de julho e agosto, indicando que os arquitetos e urbanistas estão trabalhando intensamente apesar do regime de home office. Além disso, o sistema de aprovação online implantado pela Prefeitura de Ribeirão Preto antes da pandemia acabou colaborando positivamente para a viabilização de atividades não presenciais. O convívio e a reorganização do trabalho mediante a pandemia são temas recorrentes nos atendimentos prestados pela regional.

I MOGI DAS CRUZES

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Coordenadora Regional do Escritório Descentralizado de Mogi das Cruzes, Jane Marta, informa que a regional continua trabalhando intensamente. Além da realização de mais 700 atendimentos (inclusive, uma nova linha de telefonia celular foi adquirida), merecem destaque as lives em conjunto com a Associação de Engenheiros e Arquitetos de Mogi das Cruzes (AEAMC), que abordam temas atuais e importantes, como “a responsabilidade técnica do arquiteto e do engenheiro” e o “plantão tira-dúvidas online”, as reuniões com a União das Associações da Bacia do Alto Tietê (UNABAT) e a realização de cursos online, viabilizados pela parceria de fomento do CAU/SP com diversas OSCIPs.

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I SANTOS

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Escritório Descentralizado de Santos sofreu forte queda na procura por atendimento no segundo trimestre e manteve baixa procura entre julho e agosto. Uma das razões para esse ritmo vagaroso pode ser a alta incidência de Covid-19 na região: o portal da Prefeitura de Santos informa que, em 15 de abril, a incidência proporcional da doença naquele município era cinco vezes maior que em todo o País e quase três vezes maior que no Estado de São Paulo. Por se tratar de destino turístico, a região retomou as atividades normais mais rapidamente do que outras localidades, mas os casos de reinfecção e o fato de ainda ocorrerem óbitos diários lançam dúvidas sobre o controle da epidemia, o que afeta o planejamento e a atuação dos profissionais.

I SANTO ANDRÉ (ABC)

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Escritório Descentralizado do ABC, coordenado por Felipe Oliveira, inaugurou a Unidade Móvel para atendimentos e coleta de dados biométricos na cidade de São Caetano do Sul no dia 22 de julho, seguindo para a cidade de Ribeirão Pires em 24 de agosto e para Diadema no dia 28 de agosto. Além dos profissionais aptos ao procedimento para emissão da carteira de identidade profissional, também prestamos atendimento a profissionais que desejavam elucidar dúvidas técnicas e de acesso ao SICCAU e respondemos aos questionamentos de munícipes que desejavam compreender melhor a atuação dos arquitetos e urbanistas.

I SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

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Escritório Descentralizado de São José do Rio Preto, coordenado por Kedson Barbero, promoveu atendimentos a 352 profissionais nos últimos três meses em regime de teletrabalho. Ocorreram capacitações online dos Editais do CAU/SP voltados para as cidades de São José do Rio Preto, Votuporanga e Araçatuba, que são os principais municípios da região. Os temas abordados nas capacitações foram: “Normas de Desempenho”, “Acessibilidade”, “BIM” e “Como montar um escritório de arquitetura”, além do Debate: “Vidas abundantes, mas solitárias. O papel da Arquitetura e Urbanismo nas relações humanas.” Houve também uma capacitação presencial, com o tema: “Como montar um escritório de Arquitetura”. Atendendo à solicitação de profissionais com deficiência auditiva, o curso contou com a presença de um tradutor em Braile.

I SOROCABA O Escritório Descentralizado de Sorocaba intensificou os atendimentos via WhatsApp. Além disso, as cidades de Sorocaba e Itu receberam a Unidade Móvel do CAU/SP, para a realização de coletas biométricas e atendimento técnico, o que facilitou o deslocamento dos profissionais. Nessas ocasiões, todos os protocolos de proteção à saúde foram obedecidos. O coordenador Regional Eduardo Gatti participou das reuniões online dos Conselhos Municipais COMUPLAN e COMHABIS.

I SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

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oram realizados atendimento técnico e coleta de dados biométricos com a Unidade Móvel do CAU/SP em diversas cidades do vale do Paraíba e litoral norte, tais como: Jacareí, Caçapava, Pindamonhangaba, Cruzeiros, Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião, São Jose dos Campos e cidades lindeiras a essas. Coordenada por Paulo André Cunha Ribeiro, a regional tem oferecido cursos de capacitação profissional viabilizados pelo fomento 2019 do CAU/SP e OSCIPs parceiras. São capacitações que priorizam o aperfeiçoamento da atividade profissional e abordam mudanças tanto na área tecnológica quanto na relação profissional/cliente dessa nova era da Arquitetura e Urbanismo. Agosto l Setembro l Outubro 2020

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CURTAS DO CEAU

I AsBEA

Carta aberta

E I IABsp

Um convite à reconstrução

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IAB-SP lançou o concurso para o processo seletivo de co-curadoria da 13ª Bienal de Arquitetura de São Paulo (BIA), que acontecerá em 2022, e recebe as propostas até dezembro de 2020. Diante dos desafios impostos pela Covid-19, a 13ª BIA traz como provocação a Reconstrução, um convite a reflexões que apontem possibilidades transformadoras de áreas urbanas e rurais. Para desdobrar esse conceito central, sugere cinco eixos norteadores: Democracia, Corpos, Memória, Informação e Ecologia. O evento deve, ainda, priorizar uma rede de equipamentos públicos e comunitários com projetos participativos de transformação urbana e ambiental, e equipamentos culturais e espaços públicos no eixo da Avenida Paulista. Está previsto também a realização de chamamento de projetos. Mais informações no site www.bienaldearquitetura.org.br

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m carta aberta publicada no dia 16 de setembro de 2020, o presidente daAssociação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA-SP), Henrique Mélega Re, sustentou a posição da AsBEA em defesa da Lei Cidade Limpa frente ao Projeto de Lei que visa sua flexibilização. No contexto de criação da Lei Cidade Limpa, a AsBEA organizou apresentações, oficinas e a mostra "EXpoluição Visual", que reuniu imagens impactantes do antes e depois da eliminação de placas, faixas, outdoors, luminosos, totens, letreiros e etc., que obstruíam jardins, recuos, fachadas, janelas, acessos e topos de prédios por toda a cidade. Com a regulamentação da Lei e a criação da Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU), formaramse as condições adequadas para fiscalização, gestão dos espaços e concessão de mobiliário urbano, como suporte para propaganda.


I ABEA

I ABAP

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Projeto Novos Olhares e que maneiras professores e estudantes de Arquitetura e Urbanismo estão discutindo e repensando as cidades em diferentes partes do País? Em busca dessas respostas, a Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo lançou o projeto Novos Olhares (www.abea.org.br). A participação é aberta a todas as instituições de ensino superior que ofereçam curso de Arquitetura e Urbanismo presencial, regularizado perante o MEC. Cada uma delas poderá enviar, por meio do seu coordenador, até três trabalhos. Estes deverão ter sido aprovados nos períodos letivos de 2018 a 2020, podendo ser individuais ou coletivos e terem sido desenvolvidos em qualquer ano da graduação. A divulgação dos trabalhos selecionados será semanal no site e nas redes sociais da ABEA e do UIA2021RIO.

Tempos Modernos uciana Schenk, presidente da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP), e Francine Sakata, membro da Comissão Organizadora do Prêmio Rosa Kliass, participaram, no dia 16 de setembro, de uma live com a organização do Encontro Nacional de Ensino de Paisagismo em Escolas de Arquitetura e Urbanismo no Brasil (Enepea). Na ocasião, elas falaram sobre a ABAP e a respeito da quarta edição da premiação. No dia 22, a ABAP e a Comissão Organizadora do 4º Prêmio Rosa Kliass realizaram uma nova live com a participação de três vencedores das edições anteriores. As discussões abordaram os trabalhos desenvolvidos, bem como os desafios encontrados e a importância da premiação. A ABAP aproveitou para divulgar que os catálogos das edições anteriores do Prêmio se encontram disponíveis na plataforma online Issu (Prêmio Rosa Kliass) e que, por conta do distanciamento, a premiação deste ano acontecerá durante o XV ENEPEA 2020, no mês de novembro, virtualmente.

I SASP

Memorial dos Aflitos

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Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo participa ativamente das tratativas para a criação do Memorial dos Aflitos, em terreno adjacente à Capela dos Aflitos, no bairro da Liberdade, em conjunto com diversas entidades e ativistas do movimento negro. A área envolve o antigo Cemitério dos Aflitos, onde foram encontradas ossadas de negros e negras que viveram na região

em período anterior à abolição da escravatura. No início deste ano, a implantação do memorial foi viabilizada pela Lei 17.310/20, quando a área passou a ser reconhecida como de "utilidade pública". Além da criação do Memorial dos Aflitos, outras ações, como tratativas para a execução do restauro da Capela dos Aflitos, estão em andamento com o objetivo de resgatar

este importante documento histórico de São Paulo e celebrar a cultura da nossa população negra. Agosto l Setembro l Outubro 2020

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Arquitetura Paulista

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Jacques Pilon Residence

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mportante marco na esquina da avenida Senador Queirós com a rua Brigadeiro Tobias, no centro da capital paulista, o edifício histórico Jacques Pilon Residence foi projetado na década de 1940. Batizado com o nome do arquiteto francês radicado em São Paulo que o projetou, por todos esses anos funcionou como um prédio comercial. Recentemente, um projeto de retrofit assinado pelo arquiteto Marcos Ferreira Galvão converteu o empreendimento em um prédio residencial, sem, no entanto, comprometer suas características originais. A exuberância de sua fachada foi mantida e a torre foi totalmente remodelada por dentro, abrigando agora 161 estúdios de 20 a 42 m², com serviços pay per use. O retrotif proporcionou a modernização das instalações elétricas e hidráulicas, revisão e reforma das estruturas internas, construção de áreas comuns e adequação do edifício ao século 21. Mais do que uma mudança de finalidade, o resgate desse edifício histórico contribui de forma significativa para o movimento de recuperação do centro da cidade de São Paulo. O arquiteto Pilon (1905 - 1962) é responsável também por outro prédios icônicos da capital paulista, como o Edifício São Luís, na esquina da Praça da República com a avenida Ipiranga, e a Biblioteca Mario de Andrade, na rua da Consolação.

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Ana Mello

Em debate

Fachadas com panos de vidro O uso de vidro nas fachadas vai além da questão estética

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difícios com fachada de vidro, como o Segrams, projetado pelo arquiteto Mies Van der Rohe em Nova York, nos Estados Unidos, surgiram antes dos anos 1950. Assim como o edifício Palácio Gustavo Capanema, construído em 1945, considerado marco do modernismo brasileiro. No entanto, foi a partir da década de 1990 que eles se tornaram cada vez mais presentes na paisagem urbana, sobretudo em cidades grandes, como São Paulo. Suas vantagens e desvantagens são objetos constantes de debates.


Arquivo pessoal

Vidro e os Edifícios Por Roberto Aflalo Filho*

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vidro é um material que surgiu há milhares de anos e vem sendo aperfeiçoado desde então. Apesar do surgimento de outros materiais com características similares, nenhum reúne tantas qualidades por um valor acessível em grande escala. Podemos entender o vidro como uma fina película que separa o ambiente interno das edificações, do ambiente externo, com transparência e segurança. Permite visualizar o exterior, iluminar naturalmente o interior e forma uma fina barreira contra variações drásticas de temperatura, e manifestações climáticas como ventos, chuva ou neve. Os vidros modernos, além de transparência, podem possuir inúmeras características tecnológicas que a eles conferem atributos ímpares. Os principais são o controle da iluminação natural e a quantidade de calor que penetra no ambiente. Quando projetamos um edifício de escritórios, dependendo da sua localização, buscamos sempre maximizar as vistas dos pavimentos e a iluminação natural, e minimizar a entrada de calor. Estes dois fatores, iluminação e principalmente o ar-condicionado, são responsáveis pelo maior consumo de energia destes edifícios. E, em geral, lidamos com este conflito: quanto maior for a iluminação e exposição da fachada, maior será a

quantidade de calor que penetrará no ambiente. A tecnologia do vidro moderno produziu vidros com alto grau de luminosidade e baixíssimo grau de absorção de calor. Mas são vidros caros para a grande parte do nosso mercado da construção, sendo aplicados ainda em poucos edifícios. Outro fator possível de redução de calor com o menor custo é a refletividade. Vidros com alto grau de reflexão tendem a minimizar o ganho de calor, mas comprometem a luminosidade e podem gerar reflexão interna nos ambientes à noite, quando o exterior está mais escuro do que o interior. Encontrar um equilíbrio entre estes três fatores (luminosidade, absorção de calor e refletividade) tem sido um exercício constante na nossa prática, pois interferem diretamente na viabilidade econômica do edifício. De uma maneira geral, buscamos maximizar a luminosidade e reduzir o ganho de calor e refletividade. Buscamos sempre que possível projetar edifícios mais transparentes, que revelem o seu interior, mostrando a atividade humana nos pavimentos e uma melhor percepção da escala humana do mesmo. Infelizmente nem sempre atingirmos este objetivo. O fator custo tende a ser o maior empecilho. Outra grande característica do vidro é a sua durabilidade. É um mate-

A Arquitetura tende a reproduzir o momento tecnológico do seu tempo" rial que tende repelir partículas da sua superfície se mantendo limpo por longos períodos e não produz alterações significativas na sua superfície e coloração. Há 15 anos, quando projetamos um edifício Eldorado Business Tower, junto à Marginal do Rio Pinheiros, tínhamos como meta que fosse um edifício predominantemente branco. Mas a localização junto a uma via de tráfego pesado e poluição do ar decorrente poderia comprometer a durabilidade da fachada clara. No final da pesquisa que fizemos, optamos por especificar o vidro com pintura cerâmica de cor branca na sua parte posterior, como elemento opaco do edifício, e os vidros de coloração verde para as partes transparentes. A Arquitetura tende a reproduzir o momento tecnológico do seu tempo. A concepção de um Agosto l Setembro l Outubro 2020

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Em debate mudanças climáticas

edifício de escritórios hoje é bem traduzido pela expressão em inglês “core and shell“, ou seja, um núcleo rígido de circulações verticais com escadas e elevadores, o “core”, é um envoltório de fechamento dos pavimentos, o “shell”, predominantemente de vidro. Estas obras são erguidas muitas vezes adotando uma estrutura mista, onde o núcleo rígido é moldado em concreto, os pavimentos são em estrutura metálica do tipo “steel deck”, preenchidos depois com concreto formando as lajes; os pilares também metálicos inicialmente conferindo velocidade à obra e posteriormente recobertos com concreto para o aumento de rigidez e proteção contra incêndio. O “shell“ ou fechamento, envoltório , é feito em painéis/molduras de aço/alumínio, em geral em dimensões de um pavimento em altura, compostos com os elementos transparentes e opacos da fachada. Estes pedaços de fachada são então erguidos prontos, acabados, e justapostos

um ao lado do outro formando a fachada do edifício. Este processo construtivo chama-se sistema unitizado. Nesta tecnologia, o vidro é sempre o material que melhor se ajusta ao contexto, pelo seu peso e pelas inúmeras qualidades que já citamos anteriormente. Da mesma forma que utilizamos a cor branca no edifício Eldorado, qualquer cor pode ser aplicada ao vidro e as fachadas nas partes opacas. Já nas áreas transparentes podemos usar recursos de serigrafia com diversos graus de densidades, que podem formar um filtro para áreas de insolação extremas, mas mantendo alto grau de transparência. Não podemos deixar de citar o quesito segurança como uma das qualidades importantes do vidro. Dos temperados aos laminados, além de resistentes, pode-se fabricá-los em grandes formatos, com mais de 6 m de comprimento. Alguns vidros de segurança resistem ao fogo e temperaturas altíssimas por várias horas. Laminados com

inúmeras camadas, após exposição ao calor extremo, perdem a transparência e apresentam rachaduras, mas se mantêm íntegros na proteção dos ambientes. Quanto ao futuro, imagino que mais qualidades serão incorporadas ao vidro. Esta tal membrana que nos separa do ambiente externo já pode escurecer e clarear conforme a luminosidade desejada e coletar energia solar através de pequenas células foto elétricas embutidas na sua composição. Afinal, de forma geral todos os edifícios apresentam fachadas expostas à luz solar e não deixam de ser grandes coletores solares. Acredito que todos os edifícios no futuro próximo, com o barateamento da tecnologia, gerarão energia a partir das suas fachadas. Mais adiante, talvez o vidro possa também respirar como a nossa pele, sensível às mudanças climáticas. * Roberto Aflalo Filho, arquiteto e urbanista

Edifícios com fachadas de vidro Por Lídia Guimarães*

Arquivo pessoal

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s edifícios verticais começaram a surgir a partir da segunda revolução industrial graças aos avanços tecnológicos na área de engenharia de estruturas e de materiais (uso de ferro, aço e concreto), além do desenvolvimento de elevadores. Quase cem anos depois, a partir dos anos 1930, foi disseminado um estilo arquitetô-

nico que possuía as seguintes diretrizes segundo o arquiteto Philip Johnson: Arquitetura como um espaço fechado, um esqueleto de concreto e aço, sendo o invólucro exterior apenas uma proteção climática, cujo material ideal era o vidro e possuindo como processo construtivo a padronização dos componentes do edifício.


Tomáz Silva/Agência Brasil

Escolher um vidro que filtre a radiação e deixe passar a luz natural é tão importante quanto dimensionar o tamanho correto das esquadrias" A esse estilo se convencionou chamar de Estilo Internacional, aplicado à edifícios de tipologia comercial e corporativa. O Estilo Internacional foi rapidamente adotado em vários países pelo seu caráter moderno e arrojado. No Brasil, o primeiro edifício com aberturas envidraçadas (o Edifício Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro) foi concebido com proteções solares (brises), iluminação e ventilação natural, adaptado para a Arquitetura dos trópicos pelos arquitetos modernistas. Mas por que um projeto adaptado para o clima, como o do Edifício Palácio Gustavo Capanema, não é o padrão projetual atual? Com o avanço da tecnologia e o desenvolvimento de vidros com melhor controle solar e condicionamento interno do ar, os projetos contemporâneos de fachadas com aberturas envidraçadas abandonaram as proteções solares e a preocupação com a ventilação natural, se tornando um símbolo de construção tecnológica e globalizada independentemente do local de implantação. Sabendo-se que é na envoltória dos edifícios que ocorrem as trocas térmicas entre o exterior e o interior da edificação, é possí-

vel observar elementos relevantes na manutenção do conforto térmico do usuário e no gasto energético do edifício. Dentre estes elementos estão as características técnicas dos materiais construtivos e as soluções de projeto adotadas pelo arquiteto. Escolher um vidro que filtre a radiação e deixe passar a luz natural é tão importante quanto dimensionar o tamanho correto das esquadrias e suas formas de aberturas, sendo também relevante a utilização de proteção solar (brise, marquise, cobogó, etc) que impeça ou filtre a radiação nas horas do dia e na época do ano onde esta é mais prejudicial. A relação entre esses elementos das fachadas vai depender fundamentalmente da forma e local de implantação do edifício (clima, orientação solar, sombreamento ocasionados por edifícios vizinhos), das características técnicas dos materiais utilizados, quantidade de esquadrias, carga térmica produzida pelo edifício, relação do usuário com as vistas para o exterior, iluminação natural e a ventilação natural, agora em épocas de pandemia, relembrada de sua importância. Tais considerações devem ser tra-

balhadas durante o processo de concepção do edifício, buscando equacioná-las com as exigências técnicas do projeto e seu programa de necessidades. Na busca do equilíbrio entre esses elementos, a fim de alcançar um maior conforto térmico e eficiência energética, o Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edificações Comerciais, de Serviços e Públicas (RTQ-C) auxilia o arquiteto no projeto de edifícios mais eficientes. Para cada zona bioclimática brasileira é possível analisar a relação existente entre os materiais utilizados na fachada e as proteções solares, equacionando a área de abertura envidraçada para maior economia de energia. As fachadas com grande área envidraçada, em sua maioria, ignoram essas relações e apostam em materiais altamente tecnológicos em detrimento da economia de energia, não aproveitando as vantagens que um projeto adaptado à um local pode oferecer a seus usuários. Ao pensar no conforto ambiental junto com o desenvolvimento do projeto arquitetônico, fornecemos ao edifício, além de uma alta qualidade técnica, o desenvolvimento de um projeto autoral, com uma volumetria e fachada desenvolvida para uma área específica, contribuindo para uma identidade arquitetônica local. * Lídia Guimarães, Arquiteta e urbanista, formada pela UFRJ, mestre em conforto ambiental pelo IAU/USP e professora de conforto ambiental do Centro Universitário Moura Lacerda Agosto l Setembro l Outubro 2020

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Bate-Papo

Pablo Hereñú

Da escolha certa pela Arquitetura e Urbanismo aos desafios e conquistas na profissão Imagens: https://concursosdeprojeto.org/ - sede do IAB/DF e CAU/BR - projeto do escritório São Paulo Arquitetos

Arquivo pessoal

Por Marco Paulo Ferreira

Sócio do escritório H+F Arquitetos, é um dos responsáveis pelo projeto de reforma do Museu Paulista da USP, o Museu do Ipiranga

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ascido na Argentina, Pablo Hereñú chegou ao Brasil com apenas três meses de vida. Passou por Florianópolis e pelo Rio de Janeiro até se firmar de vez em São Paulo. Sem ter muita certeza do que queria profissionalmente, acabou optando pelo vestibular de Arquitetura e Urbanismo. “Por sorte, gostei”, revela nessa entrevista. Nos primeiros anos de graduação, conheceu Eduardo Ferroni, com quem firmou sociedade em 2002 para abrir o escritório Hereñú+Ferroni Arquitetos. Graduou-se, obteve o Mestrado (2007) e tornou-se Doutor (2016) pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), além de tornar-se professor de projeto na Escola da Cidade. ”O fato de ter essa vida dupla, acadêmica e profissional, é muito bom para as duas”, defende. Licitações e concursos sempre foram a principal fonte de trabalho para o escritório, que venceu o certame para a reforma do Museu Paulista da USP, mais conhecido como Mu-

seu do Ipiranga na zona sul da capital paulista. Nesta entrevista, Hereñú fala um pouco mais sobre esse projeto, além do início de carreira, trabalho colaborativo e o lado puxado da profissão. O que despertou seu interesse pela profissão? Na época de pensar sobre o que prestar no vestibular, eu não sabia muito bem o que era Arquitetura. Não tenho arquitetos na família, nem tinha nenhuma abertura prévia para o mundo da Arquitetura, só algumas conversas promovidas por algumas escolas. Achei que podia ser legal e prestei. Foi na faculdade que eu realmente entendi o que era a Arquitetura. Por sorte, gostei. Foi na faculdade que o senhor conheceu o arquiteto e urbanista Eduardo Ferroni. Como decidiram tornar-se sócios? A partir de 2002, começou a haver uma expansão do mercado imobiliário, impulsionado pelo momento econômico favorável.


Acima, imagem do projeto da reforma do Museu do Ipiranga. E, ao lado, foto recente da fachada, jĂĄ com os tapumes em frente. Fechado para o pĂşblico desde 2013, deve reabrir em 2022.

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Bate-Papo Pablo Hereñú

O mais interessante desse projeto (Museu do Ipiranga) é que no fundo tem uma transformação muito grande da experiência"

Alguns anos depois tornou-se comum que os recém-formados fossem trabalhar em escritórios porque a ampliação do mercado trouxe essa possibilidade. Mas, quando nos formamos, isso não era muito fácil, os escritórios eram menores e muito instáveis. Eram poucas as oportunidades de se trabalhar em um escritório de Arquitetura, não era uma perspectiva muito clara. Quase todo mundo da nossa geração optou por abrir o seu próprio escritório. O escritório tem uma forte presença em processos de licitações e concursos. Há uma preferência por esse mercado? Por quê? Por razões pessoais, a gente não tinha uma rede de contatos

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privados que garantisse trabalho, que pudesse nos servir como fonte de trabalho. Por isso, licitações e concursos sempre foram uma maneira de acessar trabalhos na nossa vida profissional. E até hoje é a nossa principal fonte de trabalho. No começo, fazíamos tudo o que aparecia. Depois fomos vendo que alguns concursos têm mais seriedade, que outros parecem não ter – de qualquer forma, nunca se sabe e podemos nos surpreender. Mas, hoje em dia, olhamos bem as minutas do contrato, algo que não faziamos no começo. Só líamos o contrato se ganhássemos (risos). Depois, com as experiências, você vai vendo que precisa olhar a remuneração porque, infelizmente, até hoje há concursos que não conseguem entender como são calculados os honorários. Sobre o concurso para o Museu do Ipiranga, como se deu a decisão pela participação? Havia restrições burocráticas, uma série de pré-requisitos de habilitação e não foi fácil viabilizar a nossa participação. Mas depois teve a restrição de que ninguém vinculado a USP poderia participar. Isso já excluía, por exemplo, todos os professores da graduação e pós-graduação da USP, reduzindo muito o número de participantes. Tanto que, ao final, apenas 13 equipes participaram do certame – muito pouco para a importância do projeto. Sabendo que havia essa restrição, que o número de participantes seria menor, e que por


isso teríamos mais chance de ganhar, nos esforçamos para viabilizar e deu certo. Trata-se de uma oportunidade incrível. Mas logo de cara tivemos que encarar essa burocracia. E como foi o processo de criação e desenvolvimento do projeto? Não só o edifício, mas o Conjunto Monumental todo foi muito determinante para o nosso projeto. Ele está totalmente ligado a elementos pré-existentes. Esse aspecto é totalmente novo para nós. No Museu da Diversidade, por exemplo, fizemos a ampliação e o restauro do casarão, mas este não estava tão ligado aos demais elementos da obra. O Edifício-Monumento é uma obra de Arquitetura muito potente, de grande arrojo técnico e estrutural. Na época em que foi construído, teve um fôlego totalmente inédito para São Paulo. Identificar os valores presentes na construção original foi muito importante para elaborarmos um projeto vencedor. Por exemplo: é preciso valorizar os espaços abertos, que proporcionam um grande conforto ambiental.

mesmas, mas a visita será completamente outra. Estamos criando uma experiência da caixa cênica, revelando os bastidores da Arquitetura original. As pessoas vão poder entender melhor o que é aquele prédio e suas virtudes vendo os dois lados: como ele foi pensado para ser visto pelo projeto original, e depois vendo o verso dele. Vai ser uma experiência muito legal. E com a obra andando, mais coisas estão surgindo e estamos ajustando o projeto para que essa experiência seja bem interessante. Em espaços que já existiam, estamos conseguindo mostrar muito mais do que se mostrava antes. Há uma dimensão arqueológica, revelando as fundações, as estruturas, coisas que não foram pensadas originalmente para serem vistas. Para desenvolver um projeto desse tamanho, quantos profissionais participaram da sua criação? O projeto teve uma equipe imensa. Tinha a equipe de Arquitetura que integrou um time de especialistas em restauro.

Os coordenadores do restauro eram arquitetos especialistas, mas que estavam trabalhando de forma muito integrada com os outros profissionais. Restauro e Arquitetura tiveram que andar juntos, trabalhando no mesmo espaço, inclusive. E teve os complementares de: climatização, conforto ambiental, instalações, circulação vertical, sinalização, paisagismo, ilumino-técnica. Enfim, teve uma equipe imensa que trabalhou no projeto e que agora vai sendo acionada conforme vão surgindo questões específicas na obra. Uma das principais intervenções desse projeto está sendo realizada no telhado. Por quê? A primeira versão era de telha de barro. Já no começo do século 20, o telhado original foi substituído por telha de cobre, mas sempre teve problema de infiltração. Justamente pelo fato de o edifício ser aberto, ter as varandas no andar de cima, a água sempre foi um problema para o museu. Tem relatórios de fiscalização de obra de 110 anos atrás falando dos problemas de

Na sua opinião, quais características do projeto merecem destaque? Seu principal impacto será na experiência do visitante. A vivência do visitante vai ser completamente diferente. Mas é um projeto sem expressão visual externa, focado em espacialidades, de situações que você tem que viver. A forma de experimentar os espaços será outra. As fotos que as pessoas vão tirar serão as Agosto l Setembro l Outubro 2020

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Bate-Papo Pablo Hereñú

infiltração. Vamos tentar resolver, mas não vamos trocar todo o telhado porque muitas das telhas que estão lá são reaproveitáveis. De qualquer forma, como o telhado já foi substituído e reformado muitas vezes, nada tem de original. A última intervenção data dos anos 1990 e foi bem grande, tanto na cobertura quanto no restauro das fachadas, mas nem se compara ao que estamos fazendo atualmente. Agora estamos mexendo em tudo, é um check-up total. Em quais partes do projeto se optou pela técnica de demolição interna? Nos trechos em que precisamos inserir escada ou elevador, por exemplo. Mas todas as estruturas de madeira estão sendo removidas com cuidado. Ou seja, é mais uma desmontagem do que uma demolição, para que tudo seja reaproveitado em outras partes do edifício. Estamos tentando reciclar os materiais dentro da própria obra, na medida do possível. Do ponto de vista urbanístico, qual a relevância desse projeto para a região? Tem uma importância em duas escalas. O edifício faz parte de um conjunto urbanístico, um trecho de quilômetros que é um único projeto, mas isso não é muito fácil de identificar. É algo que aparece quando se vê uma foto aérea, mas a experiência disso não é tão nítida assim. Agora, com a possibilidade de subir no mirante, o assunto da exposição vai ser também o parque, a relação do prédio com a paisagem, a geografia da cidade, a vista da Colina do Ipiranga, a Serra da Cantareira ao fundo. Tudo isso vai ser muito interessante. A reforma do edifício induz também ao melhoramento do entorno, que vai ser muito importante. O próprio parque agora está

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Arquitetura é um campo disciplinar muito sedutor, fascinante, mas a profissão é muito complicada. O dia a dia não tem nada de glamoroso"

se mobilizando para restaurar o jardim, melhorar a acessibilidade de uma forma geral. Como consequência, varias alterações no entorno estão sendo planejadas e serão executadas, como a despoluição do córrego do Ipiranga. Há riscos de atraso na obra, de o museu não reabrir dentro do prazo previsto? Essa garantia o arquiteto não pode dar. Mas, por enquanto, a obra está indo bem, a pandemia não criou muitos problemas, não houve a ordem de parar as obras. Como a construtora paralisou outras de suas obras, acabou mobilizando mais equipes para essa. Por enquanto está indo dentro do previsto, sem problemas importantes. E nesse acompanhamento estamos conseguindo melhorar


o projeto durante a obra. Acreditamos muito que o projeto é uma etapa que tem que ser desenvolvida até o ponto máximo de detalhamento, mas a obra é o momento em que se detectam modificações e adequações necessárias -- e estas devem ser feitas por quem concebeu o projeto. Nas nossas experiências de obras públicas, muitas vezes não estivemos presentes nessa etapa e sabemos das perdas que isso pode acarretar ao resultado final. Nesse caso, que não é um edifício novo, mas a reforma de um edifício imenso, há muitas surpresas, coisas que não poderíamos ter previsto e que é fundamental estar lá para resolver dentro de uma mesma linha de raciocínio. Uma das características do escritório H+F Arquitetos é o trabalho colaborativo. No caso do projeto do museu isso também aconteceu? Quais as vantagens que essa prática oferece? Quando começamos com o escritório, dividíamos com dez colegas uma sala, onde estamos até hoje. E em todos os concursos participava quem podia, quem queria. Então, eram equipes que se misturavam muito. Não era um escritório propriamente, por mais que a inscrição fosse feita no nome de um. Na prática, misturava todo mundo. A gente gosta de se juntar com outras pessoas para trocar olhares. Quanto mais olhares melhor. Uma das habilidades que a Arquitetura precisa ter é essa capacidade de articulação e de cooperação, de conseguir fazer coisas junto.

Pablo Hereñú (esq.) e Eduardo Ferroni (dir.) em visita à obra de reforma do Museu do Ipiranga (SP)

Nesse caso, a equipe de Arquitetura está mais centralizada no nosso escritório, mas quem realmente está fazendo o projeto é uma equipe imensa de técnicos, de gestores. Então, saber dialogar, criar formas de fazer as costuras entre os diversos pontos de vista é fundamental. A gente vai aprendendo a misturar, a costurar coisas que nem sempre são convergentes. Para a nossa geração, essa ideia da figura protagonista, de um grande arquiteto, não é a nossa referência. Não queremos que um projeto tenha "a nossa cara", mas que ele seja o que tinha que ser em função de tudo que estava envolvido naquele momento. Nesse sentido, esses trabalhos colaborativos são mais interessantes. Há também um incentivo grande por pesquisas de mestrado e doutorado. Tivemos a sorte de começar a dar aula muito cedo e ter essa

mescla de atividades é extremamente positivo. Trabalhar em um escritório é bom para dar aula, da mesma forma que a vida acadêmica alimenta e enriquece os processos de discussão no escritório. Arquitetura é um campo disciplinar muito sedutor, fascinante, mas a profissão é muito complicada. O dia a dia não tem nada de glamoroso. É cansativo, puxado, mal remunerado, cheio de problemas. E as pesquisas são muito importantes para conseguir tirar um tempo, ficar pensando com calma sobre um assunto. Isso nos dá vontade de tentar modificar um pouco a nossa prática, para não ser só essa correria. Há projetos que poderiam ser ainda melhores se tivéssemos prazo suficiente para pesquisar e aprimorar, mas isso nem sempre é possível. Mesmo assim, trabalhar com essa perspectiva permite ter clareza de até onde você conseguiu ir. ¥

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Carolina Lacaz

reportagem especial

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Arquitetura nos espaços de saúde


Conceber espaços adequados para os cuidados com a saúde exige mais do que habilidade técnica: é um trabalho que também envolve empatia, conhecimento das leis e sensibilidade para captar necessidades específicas

Alice Saúde, obra do arquiteto e urbanista Antonio Carlos Rodrigues, zona Sul de São Paulo Agosto l Setembro l Outubro 2020

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Carolina Lacaz

reportagem especial

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influência da Arquitetura sobre o bom funcionamento dos espaços dedicados aos cuidados com a saúde é bastante significativa. Seja em um laboratório, em um hospital, em uma clínica ou em qualquer outra estrutura do gênero, o espaço físico exerce impacto direto sobre a agilidade dos atendimentos e sobre o bem-estar de médicos, colaboradores, clientes e visitantes, além de afetar a integração entre os processos de consultas, exames e demais procedimentos. Mas quais são as tendências por os ambientes de saúde nos dias de hoje? Que erros devem ser evitados e quais são os principais desafios enfrentados pelos profissionais que lidam com esse tipo de edificação? Para responder a essas questões, a Revista Móbile ouviu cinco especialistas: Antonio Carlos Rodrigues, que comanda um escritório de projetos com expertise na área de saúde; Cristiane N. Silva, arquiteta que atua na Assessoria de Engenharia e Obras da Secretaria de Saúde do Município do Rio

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Alice Saúde - sala de atendimento

de Janeiro; Jerônimo de Moraes, arquiteto na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); Regina Leonardi Rodrigues Roland Lino, arquiteta e urbanista com experiência no desenvolvimento e gerenciamento de projetos arquitetônicos e complementares, acompanhamento e fiscalização de obras; e Rafael Nazareno, arquiteto que desenvolveu projetos de hospitais de campanha para o enfrentamento da Covid-19. Características da arquitetura focada em ambientes de saúde “São muitas as especificidades de uma construção dessa natureza”, enfatiza Jerônimo de Moraes. “As características do empreendimento vão depender


à área da Saúde, é necessário atentar para a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) específica”, alerta Rodrigues, fazendo alusão às normas regulamentares que têm o objetivo de orientar empresas e profissionais para que estes atuem de forma harmoniosa com os padrões de qualidade dos produtos e serviços destinados à saúde da população. “Em nossos escritórios, fizemos 15 clínicas de reprodução humana, que pertencem a um nicho bem específico. Para isso, tivemos de seguir as diretrizes estabelecidas na RDC que aborda a questão dos tecidos germinativos”, exemplifica. Regina Lino, que já participou de projetos de prontos-socorros adulto e infantil, bem como de áreas de oncologia, exames de imagens e administrativas em diferentes hospitais, pondera que é interessante envolver todos os interessados nas discussões. E salienta: “Deve-se elaborar o projeto com foco no atendimen-

to das demandas, considerando as Normas Reguladoras Brasileiras e toda a legislação da Vigilância Sanitária.” Cristiane Silva concorda que “para elaborar projetos arquitetônicos para ambientes de atenção à saúde é fundamental, além do conhecimento normativo específico, conhecer os processos de trabalho e as atividades que ocorrem em cada ambiente”, diz. “Esses conhecimentos são a base de partida para as decisões de projeto, que englobam aspectos como sustentabilidade, ambiência, aspectos sanitários, infraestrutura necessária e, por fim, o uso e a manutenção das edificações”, destaca a arquiteta. Em geral, a fiscalização desses empreendimentos fica sob a responsabilidade dos órgãos de vigilância sanitária de estados e municípios. “Hospitais costumam ser de responsabilidade do estado, e clínicas menos complexas são fiscalizadas no âmbito municipal”, elucida Rodrigues. Carolina Lacaz

da especialidade das clínicas, da presença ou não de centros cirúrgicos e dos serviços de assistência à saúde que serão desenvolvidos naquele espaço”, ele explica. “Suas funcionalidades dependem ainda da tipologia e da tecnologia aplicada na edificação, de sua localização, da relação com o entorno urbano e do seu dimensionamento”, diz. “Conhecer os processos de trabalho e as atividades que ocorrem em cada ambiente é a base de partida para as decisões de projeto, que englobam aspectos como sustentabilidade, ambiência, aspectos sanitários, infraestrutura necessária e, por fim, o uso e a manutenção das edificações”, complementa Cristiane Silva. Antonio Carlos Rodrigues, por sua vez, ressalta que, sobretudo em hospitais, mas também em outros projetos focados nesse tipo de serviço, é preciso ter em perspectiva que esse espaço pode englobar diversas áreas que funcionam como se fossem empresas pequenas dentro de uma organização mais ampla: “um hospital tem áreas de nutrição, lavanderia, centro administrativo, geração de energia, pronto-socorro, centro cirúrgico e centros de diagnósticos”, exemplifica. “Além disso, a medicina é cada vez mais tecnológica, o que traz a necessidade de criar instalações que comportem maquinários cada vez maiores e mais complexos”, assinala. A questão legal é outra que precisa ser levada em conta na hora de conceber um projeto: “para cada edificação ligada

Alice Saúde - recepção Agosto l Setembro l Outubro 2020

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reportagem especial

Ele ressalta que, para o cliente, a contratação de escritórios experientes nesse tipo de obra é importante porque, além de haver normas numerosas e complexas, é importante ter a “sutileza de conhecer o modo de pensar dos analistas.”

que funciona bem”, prossegue. Outro ponto fundamental é otimizar o espaço locado, com o máximo possível de aproveitamento: “neste sentido, utilizamos algoritmos para otimizar os espaços, medindo-os para bem explorá-los”, informa. “Usamos uma tabela para o bom dimensionamento da proporção entre consultórios, counters (balcões de atendimentos) e assentos na espera. Por exemplo: quanto mais counters, menos assentos serão necessários. O desafio está em buscar o equilíbrio ideal. Afinal, esperar em pé é péssimo; mas ter espaço ocioso é ruim para o negócio”, resume Rodrigues. Planejamento é fundamental “O planejamento é essencial para o melhor desempenho do hospital, tanto na fase de construção quanto de manutenção”, afirma Moraes. “Os instrumentos de planejamento devem ser aplicados desde o início até o final da operação do hospital. Planos diretores, planos setoriais, estudos preliminares e de viabilidade, programa de necessidades, anteprojeto, projeto executivo completo, incluindo orFotos: Divulgação/Hospital Oceanico

Complexidade e eficiência “Para se ter a ideia de como é complexo um hospital, coloque-se no lugar de familiares que estejam esperando o nascimento de um bebê no mesmo ambiente de uma família que esteja com um de seus entes queridos acidentado, sendo atendido na emergência. Um grupo estará em clima de festa, e o outro, de tristeza, de tensão. É importante ter a sensibilidade de perceber que esse tipo de acontecimento pode ocorrer na realidade e conceber espaços que preservem não apenas os pacientes e as equipes, mas também as famílias e demais envolvidos nessa dinâmica”, reflete Rodrigues. Outro ponto para o qual ele chama atenção é a acessibilidade: “Não me refiro a colocar uma rampa de acesso, mas de pensar o espaço considerando que exis-

tem vários tipos de deficiências, e que a pessoa com deficiência nem sempre é cliente”, declara. “Pode ser que ali venha a trabalhar um médico, um outro funcionário qualquer, que precise de espaço adequado, adaptado. Devemos pensar nesses desdobramentos ainda na fase de elaboração do projeto.” O arquiteto enfatiza que também é preciso ter em perspectiva que o atendimento à saúde é um negócio – e, como tal, deve ser pensado sob o prisma da eficiência. “Um conceito em alta é o da experiência do usuário final”, diz Rodrigues. “Se eu vou conceber uma clínica voltada ao atendimento da população de baixa renda, devo trabalhar com vistas a proporcionar conforto e eficiência, tomando cuidado para não intimidar o potencial cliente”, esclarece. “Em projetos assim, procuramos, por exemplo, trabalhar com vitrines de vidro amplas, que possibilitem ao eventual usuário olhar para dentro e avaliar se deseja entrar naquele local. Outra estratégia é a comunicação: priorizamos letras grandes e cores simples, criando uma comunicação visual

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Divulgação/HFB

çamento e cronograma de obras, e até o manual de manutenção, tudo isso é indispensável”, comenta o arquiteto da Fiocruz. Moraes, por sua vez, lembra que o custo de manutenção de um hospital é muito alto: “Em alguns casos, equivale ao custo da construção”, ressalta. “Os sistemas de ar-condicionado e ventilação mecânica estão entre os fatores de maior custo na manutenção. Por isso, o projeto deve considerar esses fatores de manutenção e conservação, buscando soluções que tragam menor custo”, sugere. Cristiane Silva enfatiza que a utilização de equipamentos que economizem energia, tais como lâmpadas led e captação de

energia solar, bem como a adoção de sistemas de reúso de água e a boa manutenção predial e de equipamentos são ações que minimizam gastos desnecessários e auxiliam em orçamentos limitados.

Fachada do Hospital Oceanico/RJ Sala de Internação do Hospital Oceanico/RJ Pediatria do Hospital Federal de Bonsucesso/RJ

Um pouco de história... Os primeiros hospitais foram construídos no antigo Ceilão (atual Sri Lanka), há cerca de 2.500 anos. No Ocidente, foram os romanos, que, por volta de 100 a.C., ergueram os primeiros locais destinados a abrigar os soldados feridos em batalha. Mas foi só a partir do século IV, com o crescimento do cristianismo, que os hospitais começaram a se espalhar por toda a Europa. Dirigidos por sacerdotes e religiosos, contavam com um infirmitorium (que deu origem às enfermarias), onde os doentes podiam repousar e receber cuidados, além de uma farmácia e um jardim com plantas medicinais. Na Grécia Antiga (de 1.200 a 400 a.C.), as “clínicas” de Esculápio (de Asclépio, em grego), prestavam atendimento individual com ervas, banhos e outros cuidados. Já os Iatriões (lugar dos médicos, "latros") tinham camas para doentes e já contavam com algumas características arquitetônicas que, sabemos hoje, são essenciais a uma construção destinada aos cui-

dados com a saúde. Dentre elas, boa ventilação e espaços amplos. Vale lembrar que o grego Hipócrates (460377 a.C.) foi o responsável pela elaboração dos princípios de racionalidade médica e ética que até hoje mantêm sua relevância. No Brasil, o primeiro hospital foi fundado em Pernambuco, no ano de 1540. Tratava-se do Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Olinda, que funcionou até 1630, quando foi incendiado durante uma das muitas lutas entre invasores holandeses e colonos fiéis à Coroa portuguesa. Mas o Brasil ainda tem um dos seus primeiros hospitais funcionando a todo vapor. Trata-se da Santa Casa de Misericórdia de Santos, em São Paulo, erguida em 1543.

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reportagem especial

Avanços na Arquitetura hospitalar Regina Lino chama atenção para as mudanças de visão e concepção da própria medicina, que se refletem na concepção dos espaços físicos de hospitais, clínicos, centros de diagnósticos etc. “Hoje, é dado maior valor aos espaços humanizados, à ventilação natural, ou pelo menos cruzada, sempre que possível, obviamente em sintonia com o sistema climatizado descrito pelas normas técnicas vigentes”, ela afirma. De acordo com Rodrigues, a Arquitetura sempre visou projetar espaços para abrigar o homem da natureza. “Mas o conceito do que é acolhedor muda com o tempo”, ele observa. “Os hospitais já foram muito austeros e hoje tentam ser mais acolhedores, mas é comum cometer o erro de fazer ambientes muito frios”, reconhece. “Quando você projeta um espaço gigantesco, que precisa garantir isolamento contra contaminações, ambientes muito assépticos voltados mais às máquinas do que para as pessoas, pode acontecer de desenhar algo muito frio. Porém, uma coisa é certa: se você não fez um espaço para o ser humano, certamente cometeu algum erro”, diz. Além da concepção de espaços mais humanizados, também existem avanços importantes em relação aos materiais utilizados nesse tipo de obra: “Hoje priorizamos o uso de materiais lisos, laváveis e impermeáveis, como o alumínio, o vidro, o aço-inox, o granito, o porcelanato antiderrapante, os revestimentos

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Proposta do hospital de campanha para a cidade de Patos de Minas/MG

de paredes e o piso em resina epóxi”, enumera Regina. Rodrigues acrescenta que, como é comum ocorrerem reformas, manutenções e atualizações nesse tipo de empreendimento e a preferência deve sempre recair sobre o uso de materiais duráveis, porém flexíveis. “Um piso de mármore é durável, idem o vinílico; mas só o segundo é maleável. Por isso, deve ter a nossa preferência”, exemplifica. “Do mesmo modo, usar drywall em vez de uma parede de alvenaria vai facilitar a reacomodação dos espaços conforme essa necessidade sur-

gir”, explica o arquiteto. “A expansibilidade e a modulação são muito importantes”, acrescenta. Uma experiência com hospitais de campanha Rafael Nazareno trabalha com arquitetura promocional, efêmera. “Sempre fiz projetos modulares. Nunca pensei em projetar hospitais”, afirma. No entanto, com o advento da pandemia de Covid-19 e a abertura de licitações para a construção de hospitais de campanha, o arquiteto foi convidado a participar, com outros escritórios de Arquitetura, da elabora-


ção de projetos dessa natureza. “Minha experiência com o octanorm, material utilizado tanto na Arquitetura promocional quanto nos hospitais de campanha, foi determinante para o bom resultado desse trabalho”, explica. Segundo Nazareno, os primeiros projetos não foram bem-sucedidos porque os briefings apresentados nos chamados para as licitações eram pouco claros. “Depois que o próprio poder público pareceu ter mais clareza do que queria, ficou mais fácil elaborar projetos que correspondessem às expectativas”, ele conta. Uma das características mais importantes dos hospitais de campanha era a setorização: “as áreas reservadas ao isolamento dos pacientes com Covid-19 que necessitavam de respiradores tinham de ser bem separadas daquelas reservadas aos pacientes com sintomas mais brandos. Também precisamos pensar em espaço adequado para os profissionais, que enfrentavam plantões muito puxados e careciam de descanso, e conceber salas de desinfecção tanto para entrar quanto para sair”, recorda o arquiteto. “Outro aspecto interessante é que a maioria dos hospitais tem uma cozinha, uma área destinada ao preparo de alimentos. Nestes, não: as refeições vinham de fora”, comenta. “Quanto ao sistema de ventilação, as UTIs eram climatizadas, mas optamos por espaços mais abertos nos outros ambientes, priorizando a ventilação natural. Adotamos também o pé direito alto e o uso de material claro, de modo que a incidência de luz fosse otimizada”, descreve. Em geral, um hospital de campanha deveria dispor de: • Área de recepção e triagem; • Administração; • Posto de enfermagem; • Consultório médico; • Banheiros; • Área de desinfecção para os profissionais de saúde; • Sistema de oxigênio em todos os leitos; • Refrigeração; • Climatização; • Rede de oxigênio; • Sistema de água, esgoto, energia e gerador.¥

Erros construtivos Segundo Cristiane Silva, os principais problemas em obras de ambientes de saúde devem-se à falta de conhecimento sobre as normas legais que regem esse tipo de construção. Além disso, a Arquitetura e a Engenharia para a saúde demandam conhecimentos específicos em relação aos usos que serão dados a cada espaço e aos sistemas de infraestrutura que dão suporte às diferentes áreas de atendimento e diagnóstico. “É necessário um cuidadoso processo de escuta ao usuário dos serviços”, afirma a arquiteta. “Em alguns casos, justifica-se fazer uma pesquisa mais extensa sobre seu funcionamento. Os principais erros costumam surgir em projetos que não respeitam determinações normativas e que não levam em conta a experiência do usuário, gerando mudanças logo após sua finalização para viabilizar sua efetiva utilização”, esclarece. Outro motivo usual de obras que não conseguem ser finalizadas é a desconsideração da infraestrutura (água, energia elétrica, gases medicinais etc.) necessária aos serviços, inviabilizando seu uso e demandando alterações, em geral bastante custosas. “Grande parte destes problemas são resolvidos com processos de projeto que considerem, além das RDCs, a experiência de utilização de espaços semelhantes”, aconselha Cristiane. “Também é importante pensar que instalações de saúde funcionam de forma encadeada, sendo fundamental observar de que forma cada espaço interage, interfere, necessita ou atrapalha os espaços vizinhos a ele. Projetar ‘dentro da caixinha’, em ambientes de saúde, é certeza de problemas na execução e no sucesso do empreendimento”, conclui a arquiteta.

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Concurso

Museu da Água P

ara ocupar um espaço de aproximadamente 2.400 m2, a AESabesp lançou um concurso para buscar as melhores ideias e alternativas arquitetônicas para um projeto de restauro e ampliação

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do edifício da antiga repartição de águas e esgoto (atual Centro de Reservação França Pinto) e criar o Museu da Água, na capital paulista.


1o lugar SIAA Arquitetos

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Concurso Museu da Ă gua

1o lugar 40


2o lugar Dal Pian Arquitetos

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Concurso Museu da Ă gua

3o lugar Yuri Vital Arquiteto

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4o lugar Mariana Alves

5o lugar AC Arquitetura

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Fiscalização

E-book do CAU/SP orienta síndicos na gestão de obras em condomínios Material informativo destinado aos administradores e à comunidade visa preservar a segurança das pessoas e edificações Por Ian Pellegrini

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Comissão de Fiscalização do CAU/SP lançou um e-book para orientar síndicos, administradores, presidentes de associações e a comunidade sobre os procedimentos necessários para a realização de obras nos condomínios. A iniciativa busca fomentar as boas práticas de Arquitetura e Urbanismo, conscientizando a população sobre as diversas normas legais que disciplinam as intervenções com o objetivo de preservar a segurança dos moradores e das edificações. O aumento de carga estrutural ou elétrica, alterações hidráulicas e outros ajustes, se realizados de forma incorreta, podem acarretar grandes riscos para o prédio e também para as construções vizinhas. O documento elenca regulamentações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que disciplinam o setor construtivo e devem receber atenção

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especial dos síndicos. A NBR 5.674:2011, que considera a vida útil das edificações e normatiza medidas para manutenção da integridade do imóvel, demanda a realização de vistorias regulares. Cabe ao síndico contratar um profissional habilitado para verificar a necessidade de reparos e, assim, garantir a segurança do edifício. Já a NBR 16.280 apresenta os procedimentos que devem ser adotados para a realização de obras ou reformas. Segundo esta norma, alterações que afetem a estrutura, a vedação ou quaisquer outros sistemas das áreas privativa ou comum da edificação, ou que ofereçam riscos potenciais à segurança, devem ser realizadas por profissional habilitado com o respectivo RRT.

O e-book aponta também os principais exemplos de serviços que exigem contratação de responsável técnico habilitado e emissão e apresentação do respectivo RRT, entre eles obras e reformas, alterações estruturais, instalação de equipamentos como ar-condicionado ou aquecedor, alterações no sistema de combate e prevenção à incêndios. A execução dessas atividades sem a documentação adequa-


Vanessa Belfiore/Shutterstock

da do responsável técnico gera riscos, de forma que o síndico pode ser responsabilizado juridicamente.

Síndico Consciente, moradores informados e seguros A preocupação com a ocorrência de obras sem um responsável técnico ou com documentação irregular em condomínios horizontais e verticais no estado de São Paulo levou a Comissão de Fiscalização do CAU/SP a criar o Projeto Síndico Consciente. A iniciativa tem quatro frentes de atuação: a primeira delas tem o objetivo de firmar parceria com entidades de síndicos e administradores de condomínios para a divulgação do projeto e a distribuição de material;a segunda é voltada à realização de palestras institucionais de orientação para os síndicos; a terceira terá como foco a participação em eventos ligados ao setor de condomínios, distribuindo material gráfico e convidando o público a se cadastrar como parceiro do projeto; e e a quarta frente empreenderá ações orientativas de fiscalização junto aos condomínios. A Comissão criou também um canal exclusivo de contato com os síndicos e demais gestores privados de condomínios horizontais e verticais. A ideia é que os síndicos possam tirar dúvidas sobre documentação recebida em seus condomínios de forma gratuita, bem como fazer denúncias sobre irregularidades com mais facilidade. Portanto, o trabalho de conscientização do CAU/SP visa a complementar a ação da equipe de fiscalização, tendo nos

síndicos cadastrados verdadeiros parceiros que ajudarão a divulgar o projeto, ampliando seu alcance.

Fiscalização nos condomínios A fiscalização de obras em condomínios pode ser motivada por denúncia, diligência ou rotina. As denúncias, em geral, são feitas pelos próprios condôminos, normalmente motivados pelos inconvenientes gerados pela obra ou pela preocupação em saber se há profissional habilitado contratado como responsável técnico pelos serviços ou por haver indícios de erros técnicos. No entanto, é importante ressaltar que a fiscalização do CAU/SP tem como princípio coibir o exercício ilegal e irregular da Arquitetura e Urbanismo. As ações são de natureza preventiva e educativa, mas podem resultar em ações punitivas de modo a refrear o ato infracional quando necessário. Durante a vistoria in loco, o agente de fiscalização do

Pesquisa realizada pelo CAU/BR e Instituto Datafolha em 2015 aponta que 78% dos entrevistados concordam que os arquitetos e urbanistas são indispensáveis nas obras e construções. Entretanto, menos de 15% dos entrevistados utilizaram os serviços de um responsável técnico em obras e reformas realizadas.

CAU/SP solicita a documentação de obra para verificação de sua regularidade perante o CAU. Caso a documentação de obra possua irregularidades ou não seja apresentada, o fiscal entrega a “comunicação de visita” tendo como interessado o condômino (obra em área privativa) ou síndico (obra em área comum) com prazo para regularização de 10 dias. ¥ Agosto l Setembro l Outubro 2020

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eleições

Um novo Plenário para o CAU de 2021

Mais de 30 mil profissionais elegeram em outubro os novos conselheiros que vão compor a instância máxima da autarquia ao longo do triênio 2021-2023

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a quarta eleição do CAU/SP, pouco mais de metade dos profissionais aptos a votar exerceram seu direito e optaram por uma das cinco chapas inscritas no estado. O resultado não destoou do panorama nacional, em que 109 mil arquitetos e urbanistas de um total de 200 mil votaram. Os profissionais que se abstiveram deverão justificar a ausên-

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cia de voto até o final deste ano (leia mais abaixo). Como de praxe, a votação foi realizada integralmente pela Internet, no horário da meia noite até 23h59 do dia 15 de outubro. Cada profissional pode votar em somente uma das chapas disponíveis, que apresentaram uma lista de candidatos a conselheiros estaduais, e à vaga de conselheiro federal pelo Estado de São Paulo.


Desde o início da campanha eleitoral, no dia 24 de agosto, o profissional arquiteto e urbanista pôde conferir – nos sites do CAU/SP e CAU/BR-- as listas dos candidatos, bem como as propostas das chapas inscritas, incluindo links para as respectivas páginas de cada uma nas redes sociais. A composição do novo colegiado de conselheiros –composto por 77 titulares e seus suplentes-- vai obedecer aos critérios de vagas disponíveis e votos recebidos. Proporcionalmente, a chapa que recebeu mais votos terá mais representantes no Plenário da gestão 2021-2023. A Comissão Eleitoral do CAU/SP acompanhou todo o processo, desde a convocação dos profissionais, o registro das chapas e a votação, averiguando e julgando todas as denúncias recebidas ao longo da campanha eleitoral. Antes de seu encerramento, deve avaliar os pedidos de impugnação ao resultado do dia 15. Conforme o calendário eleitoral, a diplomação dos novos conselheiros está prevista para dezembro. Na primeira reunião plenária de 2021, o colegiado deve eleger e dar posse ao novo presidente do CAU/SP. O cargo de conselheiro é honorífico, sem remuneração. O Plenário se reúne mensalmente, e tem a função de votar os planos de ação e orçamento do Conselho, julgar os processos ético-disciplinares, apreciar e deliberar sobre atos administrativos da Presidência entre muitos outros deveres.

Justificativa para abstenção é obrigatória Nas eleições do CAU, o voto é obrigatório para todo profissional arquiteto e urbanista registrado e com idade abaixo de 70 anos. Também é obrigatório registrar uma justificativa no caso de uma eventual abstenção. Não é neces-

sário apresentar atestados, declarações ou qualquer documento, bastando acessar o ambiente do Sistema de Informação e Comunicação do CAU (SICCAU). O profissional que deixar de fazer a justificativa até 31 de dezembro de 2020 está sujeito a multa no valor de 5% (cinco por cento) da anuidade. ¥

Veja o passo a passo para justificar a ausência:

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especial

Parcerias na construção do conhecimento Normas técnicas, acessibilidade, ferramentas necessárias à atualização profissional, o papel da Arquitetura e do Urbanismo nas relações humanas: os mais diversos temas têm sido abordados nas iniciativas de capacitação que o CAU/SP oferece gratuitamente aos profissionais

U

ma das frentes de atuação do CAU/SP consiste na oferta de capacitação e atualização para arquitetos e urbanistas, por meio de cursos, debates e seminários gratuitos. Estes são realizados em parceria com entidades de reconhecida excelência nos temas abordados, que respondem a Editais (chamamentos públicos) emitidos pelo Conselho. A seguir, mostraremos algumas dessas iniciativas, realizadas em parceria com a Agência Nacional de Desenvolvimento Eco-Sustentável (ANDES), com o Instituto de Ciências, Tecnolo-

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gia e Inovação para o Desenho Avançado (IDEA) e com a organização social de interesse público (Oscip) Bit Social.

ANDES e CAU/SP Dessa parceria, resultaram os cursos “Norma de Desempenho”, “Acessibilidade”, “Como montar um escritório de Arquitetura e Urbanismo”, “Protagonismo profissional & faça você mesmo” e “Iniciação às práticas do BIM”. O curso “Norma de Desempenho” foi ministrado pela arquiteta e urbanista Ruth Montanheiro Paolino em duas ocasiões ao longo de 2019: na

primeira, foram atendidas turmas da cidade de São Paulo e de uma dezena de municípios que abrigam sedes regionais do CAU/SP; na segunda, foram atendidos outros 22 municípios paulistas. No total, houve 1.079 participantes. Em cada localidade, o curso teve duração de 12 horas/aulas e abordou os temas desempenho térmico, desempenho lumínico e desempenho acústico de forma técnica e objetiva, em três módulos: • Módulo I - Desempenho térmico: análise da NBR 15220 • Módulo II - Desempenho acústico: interpretação das normas 10151 e 1015 • Módulo III - Desempenho lumínico (iluminação natural): interpretação das tabelas quantitativas propostas pela NBR 15575 e interpretação da NBR 15215


"A iniciativa do CAU/SP em promover capacitações de atualização em diversos temas para os profissionais veio ao encontro da necessidade de se repensar a produção da Arquitetura e do Urbanismo para o século 21, no sentido de refletir sobre quais são os reais parâmetros que estabelecem a qualidade dos ambientes construídos, sobre a segurança, a habitabilidade e o conforto físico e psicológico dos usuários”, afirma Ruth Paolino. Os arquitetos urbanistas Silvio Antônio Dias, Victoriano Pedrassa Neto e Flavio Marquezzoni atuaram como ministrantes auxiliares.

Acessibilidade e como montar um escritório Já o curso “Acessibilidade” teve oito horas/aula de duração e atendeu turmas da capital paulista e das 10 cidades sedes regionais do CAU/SP. Ministrada pelo arquiteto e urbanista Filipe Quinto, a capacitação atendeu a 522 participantes e teve como tema central a Norma Técnica da ABNT, que aborda as

questões de acessibilidade às construções, espaços e objetos (NBR9050). A obrigatoriedade de atendimento à essa Norma está definida em diversas legislações federais, estaduais e municipais. Seu descumprimento pode acarretar consequências administrativas, legais e até criminais. “A troca de conhecimentos com profissionais arquitetos e urbanistas por todo o Estado de São Paulo tem sido de grande valor”, constata Filipe Quinto. “A educação profissional continuada é importantíssima.” “Como montar um escritório de Arquitetura e Urbanismo” foi o tema do curso ministrado por Vanessa Paiva, arquiteta e urbanista. Oferecido nas 10 sedes regionais do CAU/SP e também na capital, atingiu 537 participantes. Foram 10 horas/ aula em cada localidade, com informações relativas à montagem e constituição de uma empresa de Arquitetura, com dicas de boas práticas de gestão e comercialização de projetos. Segundo Vanessa Paiva, “participar das capacitações tem sido

O BIM é um caminho certo para o futuro da Arquitetura e fiquei muito grata com o incentivo que o CAU/SP nos deu. Com certeza, pretendo me inscrever para as próximas capacitações.” Mia Kamimura, participante do curso “Iniciação às práticas do BIM”, parceria ANDES e CAU/SP – (São Paulo, SP)

uma experiência riquíssima. É uma oportunidade de trocar experiências, podendo conhecer a realidade profissional em mais de 30 cidades no Estado e de contribuir para o crescimento e fortalecimento da nossa categoria profissional.”

Faça você mesmo e o BIM O curso intitulado “Protagonismo profissional & faça você mesmo”, realizado a partir de 27 de outubro de 2020, aborda as ferramentas de inovação capazes de auxiliar o profissional

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especial

a se diferenciar no mercado de Arquitetura e Urbanismo. Com duração de quatro horas/aula, a capacitação foi oferecida em 22 cidades do Estado de São Paulo e abordou, dentre outros temas, o desenvolvimento de soft skills (habilidades comportamentais), com o objetivo de aumentar o autoconhecimento e contribuir para o aprimoramento da performance profissional e pessoal de cada participante. Até o fechamento desta edição, eram contabilizados 375 inscritos. Oferecido em 10 cidades paulistas, sempre em duas edições – Turma A e Turma B –, o curso de “Iniciação às práticas do BIM” tem carga horária de 20 horas/aula e capacita os participantes a lidarem com o Building Information Modeling (BIM), definido como uma “construção virtual que contém informações geométricas e não-geométricas, simulando o comportamento real da construção.” “Após algumas semanas mi-

Pude perceber o cuidado que os palestrantes tiveram para tornar o curso instrutivo, agradável e, ao mesmo tempo, nos passar um conteúdo motivador. Foi tão bom que pensei: ‘poderia durar a semana toda’. Eu me senti aluno novamente.” Antônio Reis Nascimento, participante do curso “Norma de Desempenho”, parceria ANDES e CAU/SP - (Mogi das Cruzes, SP)

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nistrando aulas sobre o assunto, percebo que parte dos profissionais possuem uma visão ampla para esta implementação em suas rotinas, porém ainda há uma maioria que identifica BIM como sinônima de software”, comenta Meire Garcia, arquiteta e urbanista que ministra essa capacitação. Até o momento, o ANDES contabiliza 484 participantes.

Parceria com o IDEA “Em parceria com o CAU/SP, capacitamos mais de 600 arquitetos e urbanistas no período de 2016 a 2019, por meio de seminários técnicos e cursos de capacitação, com instrutores especializados em cada uma das disciplinas exigidas”, informa Marcos Pagliuso, diretor presidente do IDEA. • 2016: Seminário internacional “Águas - projetos e tecnologias para o território sustentável” • 2017: Curso de capacitação “Gestão de escritórios de Arquitetura e Engenharia” • 2019: Seminário internacional “Especificação consciente para projetos sustentáveis”

Meu intuito era me aprimorar no tema e aplicar os novos conhecimentos ao meu projeto: um site voltado para Arquitetura e construção. Fiquei positivamente surpresa com o excelente conteúdo, aplicabilidade e, principalmente, a clareza com que todos os recursos foram apresentados. Finalizei com a sensação de poder gerenciar a minha empresa e pude ver os caminhos para fazê-la crescer.” Andréa Madeo, participante do curso “Empreendedorismo & Gestão para Arquitetos”, parceria IDEA e CAU/SP – (Guarulhos, SP)

Atualmente, o Instituto IDEA, também com o fomento do CAU/SP (chamamento público Nº 003/2019), está promovendo o “Curso de Iniciação às práticas do BIM”, para 11 cidades paulistas: Bauru, Campinas, Mogi das Cruzes, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, Santo André, Santos, São José dos Campos, São José do Rio Preto, São Paulo e Sorocaba.


A experiência foi rica, pois eu tive uma melhor ideia do que é o BIM, de que forma ele se aplica e de como o mercado verá essa ferramenta. Também foi possível interagir com profissionais de outras localidades, ou seja, abriu-se o diálogo.” Ana Maria Abreu Sandim, participante do curso “Iniciação às práticas do BIM”, parceria ANDES e CAU/SP – (Mogi das Cruzes, SP)

Essa ferramenta de trabalho é super importante. Temos o dever de agregar e fazer uma boa arquitetura e cidade a todos!''

• Acessibilidade & Normati- José do Rio Preto, Sorocaba,

Edson Vieira, participante do curso “Acessibilidade e Normatização”, parceria Bit Social e CAU/SP – (Taubaté, SP)

Com duração de 12 horas, divididas em seis módulos online, essa capacitação aborda temas como a elaboração de propostas comerciais, orçamentos, softwares utilizados, normas ABNT, bibliotecas de mercado, tabelas, parametrização e níveis de documentação, entre outros.

Bit Social

Em razão da pandemia, que obrigou à migração dos cursos presenciais para o formato online, o CAU/SP e a Bit Social optaram por oferecer quatro novas turmas extras, abrindo as capacitações para todas as cidades contempladas nos editais 005 e 003 (Presidente Prudente, Mogi das Cruzes, Bauru, Santos, São

A parceria com o CAU/SP prevê a realização de 116 capacitações, das quais seis serão realizadas em novembro de 2020 como “edições extras”, para cada um dos cursos já oferecidos ou em andamento: • Acessibilidade & Normatização (Parte 1): 23 capacitações

zação (Parte 2): 23 capacitações Como montar um escritório de arquitetura e urbanismo (Parte 1): 23 capacitações Como montar um escritório de arquitetura e urbanismo (Parte 2): 23 capacitações Debate: Vidas abundantes, mas solitárias - o papel da Arquitetura e Urbanismo nas relações humanas: 12 capacitações Reinvenção do seu modelo de negócio: do que profissionais e negócios do futuro são feitos?: 12 capacitações

São José dos Campos, Santo André, Ribeirão Preto, Campinas e São Paulo). Total parcial (quatro capacitações) • 1660 inscritos até o momento • 561 presentes até o momento

Obrigada CAU pela oportunidade, e por todas excelentes capacitações que vem sendo oferecidas. E parabéns a todos os profissionais envolvidos, extremamente enriquecedor!'' Franciele Américo, participante do debate “Vidas abundantes, mas solitárias – o papel da Arquitetura e Urbanismo nas relações humanas”, parceria Bit Social e CAU/SP – (Sorocaba, SP) Agosto l Setembro l Outubro 2020

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Arquitetura no mundo

Teatro di San Carlo, Nápoles (Itália)

Arquitetura dos teatros de ópera Estilos variados dominam a construção desses espaços que nasceram no século 17 e perduram até hoje, com inovações arquitetônicas cada vez mais arrojadas POR Cláudio Camargo

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uando se trata de ópera, os nomes de Monteverdi, Lully, Gluck, Haydn, Salieri, Mozart, Rossini, Berlioz, Bizet, Puccini, Verdi e Wagner se destacam. Como gênero musical, a ópera (do latim opera, plural de opus, obra, trabalho) nasceu na Itália no final do século 16. Daphne, uma peça hoje perdida, de autoria de Jacobo Peri, é considerada a primeira delas, e foi apresentada em 1598 na Florença dos

Médicis, família que dominava a cidade-Estado e que praticava o mecenato. No início, os concertos eram um entretenimento restrito aos integrantes da Corte. Veneza abriu o primeiro espaço público para a execução de óperas, o Teatro San Cassiano, em 1637. Outras cidades, como Hamburgo, Hanover e Leipzig, todas em território alemão, logo seguiram o exemplo veneziano. Além da Itália e Alemanha, a ópera se populari-


zou também na França. No século XVII, o gênero caiu no gosto do público e, nos séculos seguintes, se tornaria a grande moda na Europa, com espetáculos cada vez mais portentosos, que demandavam a construção de vários espaços para executá-las. Vamos conhecer um pouco do esplendor de alguns dos principais teatros de ópera ou de teatros que abrigam óperas no mundo. Teatro di San Carlo, Nápoles (Itália, 1737) O Real Teatro di San Carlo foi inaugurado em 4 de novembro de 1737 pelo rei das Duas Sicílias, Charles de Bourbon, e serviu de modelo para a construção de outras casas de ópera. Hoje, o Teatro di San Carlo é o mais antigo em atividade na Europa. De estilo neoclássico, seu projeto arquitetônico foi concebido por Giovanni Antonio Medrano e Angelo Carasale. Em 1816, o edifício foi destruído por um incêndio. Responsável pela reconstrução, o arquiteto Anto-

Teatro Alla Scala, Milão (Itália)

nio Niccolini manteve as características originais básicas, mas reduziu o número de assentos de cerca de três mil para pouco mais de 1.300. O escritor francês Stendhal, que esteve presente na reabertura de San Carlo, teria dito que não havia nada, em toda a Europa, que se aproximasse a este teatro, nem que parecesse com ele. As temporadas do San Carlo foram ininterruptas até a II Guerra Mundial, quando a estrutura do teatro foi destruída por bombardeios dos aliados em 1943. O edifício foi reconstruído rapidamente, tendo sido reaberto em 1949. Teatro Alla Scala, Milão (Itália, 1778) O que talvez seja o teatro de ópera mais famoso do mundo, foi construído por ordem da imperatriz austríaca Maria Teresa I (na época em que a Áustria dominava a Lombardia, região onde fica Milão) depois que um incêndio destruiu o Teatro Ducale, em fevereiro de 1776. Giuseppe Piermarini foi o responsável pelo

projeto. O teatro foi erguido no local onde ficava a igreja de Santa Maria Alla Scala, daí o nome. Construído em estilo neoclássico, o edifício foi inaugurado em 3 de agosto de 1778 como Novo Teatro Regio Ducale alla Scala, com a ópera L’Europa Riconosciuta, de Antônio Salieri. A estrutura original foi refeita em 1907 com caraterísticas arquitetônicas perduram até hoje. Em 1943, os bombardeios dos aliados danificaram gravemente o edifício, que precisou ser reconstruído. O Alla Scala foi reinaugurado em 11 de maio de 1946 com um concerto regido pelo maestro Arturo Toscanini. A restauração comandada pelo arquiteto suíço Mario Botta em 2004 resgatou pinturas e afrescos do século 18 que tinham sido apagados pelas reformas anteriores. Esta última reforma deu ao Alla Scalla um equipamento cênico tecnológico capaz de esconder vários cenários em uma profundidade de cerca de 20 metros. Construído em forma de ferradura, o Alla Scala tem uma plateia, quatro níveis de camarotes e dois níveis de galerias com capacidade para mais de duas mil pessoas. O edifício onde fica o teatro abriga também um museu com uma grande coleção de pinturas, esboços, estátuas e outros documentos relacionados à ópera. Wien Staatsoper, Viena (Áustria, 1869) Marco da moderna arquitetura vienense, localizada na famosa Ringstrasse, a hoje denominada Ópera Estatal de Viena Agosto l Setembro l Outubro 2020

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Arquitetura no mundo

começou a ser construída em 1861 e foi concluída em 1869. De estilo neorrenascentista, seu projeto original foi assinado por August Sicard von Sicardsburg e Edward van der Nüll, com afrescos de Moritz von Schwind. Com as mortes dos dois primeiros, a obra foi concluída pelo arquiteto tcheco Josef Hlávka. Compositores como Gustav Mahler, Richard Strauss e maestros como Herbert von Karajan e Seiji Ozawa figuram entre os diretores da Wien Staatsoper. Na época dos Habsburgos, o teatro se chamava Wiener Hofoper (Ópera da Corte de Viena); em 1920, com o fim da monarquia, foi renomeado como Ópera Estatal de Viena. A Ópera de Viena sofreu os efeitos de um bombardeio americano em 12 e março de 1945, que destruiu o auditório e o palco, mas não atingiu a fachada principal e as escadarias. O arquiteto Erich Boltenstern elaborou um projeto semelhante ao original, com alguma modernização. A Ópera Estatal de Viena foi reaber-

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ta ao público em 5 de novembro de 1955. Ópera Garnier, Paris (França, 1875) A Ópera Garnier foi concebida durante o reinado do imperador Napoleão III (1851-1870). Surgiu a partir de um concurso de Arquitetura, algo inédito no século XIX. Entre mais de 170 propostas, o júri escolheu o projeto de Charles Garnier, então um desconhecido arquiteto de 35 anos. O Ópera Garnier ou Palais Garnier é o principal representante da Arquitetura do II Império, também conhecido como Beaux-Arts, caracterizada por seu ecletismo, combinando os estilos clássico, neoclássico, renascentista e barroco. A construção da Ópera Garnier teve início em 1860, sob a batuta do barão Georges-Eugène Haussmann, o famoso prefeito que reformulou toda a Arquitetura de Paris dando-lhe a feição atual. Os trabalhos foram interrompidos durante a guerra franco-prussiana (1870-1871), quando o prédio ina-

cabado se transformou em uma loja. Garnier retomou os trabalhos, que foram concluídos em 1875, 15 anos após o seu início. Com 100 metros de largura e 60 de altura, a fachada tem sete arcadas ornadas com esculturas alegóricas como “A Música” e a “Dança de Jean-Baptiste Carpeaux”. No interior, há uma grande escadaria e 30 colunas em mármore. A sala de espetáculos em vermelho e dourado pode acolher mais de 2.100 espectadores. O teto foi decorado em 1965 pelo pintor Marc Chagall, a pedido do então ministro da Cultura da França, o escritor André Malraux. A partir dos anos 1990, as óperas encenadas em Paris passaram a ser montadas no Ópera-Bastille, e o Palais Garnier virou Palácio da Dança. Ópera Estatal Húngara, Budapeste (Hungria, 1884) Projetado pelo arquiteto húngaro Miklós Ybl em estilo neorrenascentista, o teatro da Ópera Estatal da Hungria (Magyar Állami Operaház) era chamado anteriormente Real Teatro de Ópera da Hungria. Foi construído entre 1875 e 1884 com autorização do imperador austro-húngaro Fran-


cisco José I, que impôs a condição de que o teatro não poderia ser maior que a Ópera de Viena. O teatro tem capacidade para mais de 1.200 pessoas e é um edifício ricamente decorado. A ornamentação inclui pinturas e esculturas de grandes figuras da arte húngara, como Bertalan Székely, Mór Than, Károly Lotz, Gyula Aggházy e Roz Scholtz. A fachada tem cinco arcadas, e em cada lado há uma escultura em um pilar de parede. As balaustradas acima do portão principal também são decoradas com estátuas. O auditório foi construído em forma de ferradura e tem a terceira melhor acústica na Europa, depois do La Scala de Milão e do Palais Garnier de Paris. Em 1980 teve início um grande restauro e a reabertura do teatro ocorreu exatos 100 anos após a inauguração, em 27 de setembro de 1984. Muitos artistas importantes marcaram presença no local, inclusive o compositor Gustav Mahler, que foi diretor entre 1888 e 1891, e o compositor e maestro alemão Otto Klemperer, que foi diretor musical entre 1947 e 1950.

Teatro Amazonas, Manaus (Brasil, 1896) Um dos principais símbolos do esplendor do ciclo da borracha no Brasil, no final do século XIX, o Teatro Amazonas foi inaugurado em 31 de dezembro de 1896 em Manaus, considerada na época a “Paris dos trópicos”. Projetado em estilo renascentista e com detalhes ecléticos, seus interiores são decorados nos estilos Luís XV e art nouveau. Seu projeto foi coordenado pelo arquiteto italiano Celestial Sacardim. O teatro tem na área externa uma cúpula composta por 36 mil peças nas cores da bandeira nacional. As peças foram importadas da Alsácia, região da França que na época pertencia à Alemanha. Aliás, a maior parte do material usado na construção do teatro foi importada da Europa: as paredes de aço vieram de Glasgow, Escócia; os 198 lustres e o mármore de Carrara das escadas, estátuas e colunas, são da Itália. O salão de espetáculos tem capacidade para 700 pessoas. No teto estão quatro telas pintadas em Paris pela tradicional Casa Carpezot. As telas representam a música, a dança, a tragédia e a ópera, sendo esta última uma homenagem ao compositor de óperas brasileiro Antônio Carlos Gomes. Ao centro, um lustre de bronze francês. No Salão Nobre, onde aconteciam os grandes eventos sociais da era da borracha, destaca-se a pintura do teto feita por Domenico de Angelis, em 1899, e que foi batizada de “A glorificação das Bellas Artes da Amazônia”.

Wien

Staatsoper, Viena (Áustria)

Ópera Garnier, Paris (França)

Teatro

Amazonas, Manaus (Brasil)

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Arquitetura no mundo

Palau de la Música Català, Barcelona (Espanha, 1908) Construído entre 1905 e 1908, o Palau de la Música Català (Palácio da Música Catalã) é um projeto do arquiteto Lluís Domènech i Montaner. A obra é uma referência arquitetônica do modernismo catalão, em que as curvas predominam sobre as retas. O projeto também utiliza materiais como estruturas metálicas. Segundo o site ARQFACE, os financiadores do edifício pediram ao arquiteto que utilizasse materiais e técnicas que simbolizassem o caráter regional da obra. Assim, Lluís Domènech i Montaner convocou artesãos locais, que produziram a ornamentação, esculturas, e elementos estruturais decorativos do edifício. De acordo com o ARQFACE, “a rica decoração da fachada do Palau incorpora elementos de várias fontes, incluindo a arquitetura tradicional espanhola e

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árabe. Os tijolos vermelhos, a estrutura, os mosaicos e vitrais foram escolhidos e situados para dar uma sensação de abertura e transparência. Com capacidade para cerca de 2.200 pessoas, o Palau é o único auditório na Europa iluminado inteiramente por luz natural. [...] A enorme claraboia de vidro colorido foi projetada por Antoni Rigalt, cuja peça central é uma cúpula invertida em tons de ouro cercado por azul, em alusão ao sol e ao céu. [...] Um busto de Anselm Clavé, de um lado, representa a música popular catalã; e um de Beethoven, no outro, homenageia a música clássica”. Entre 1982 e 1989, o edifício sofreu uma grande restauração, sob a direção de arquitetos Oscar Tusquets e Carles Díaz. Teatro Colón, Buenos Aires (Argentina, 1908) Antes de se instalar no edifício atual, o Teatro Colón funcio-

nou em dois prédios diferentes. O projeto original do atual teatro foi do italiano Francesco Tamburini, que morreu em 1891. A partir de então, assumiu a obra seu sócio Vittorio Meano, autor do projeto do edifício do Congresso Nacional argentino. Em 1904, com a morte de Meano, o belga Jules Dormal foi encarregado de terminar o projeto, tendo sido o responsável pelo estilo francês da decoração do teatro. Com muitos atrasos, o Teatro Colón foi inaugurado em 25 de maio de 1908. O edifício, em um estilo eclético do início do século XX, tinha uma área total coberta de 37.884 m². Com a ampliação realizada no fim da década de 1960, a cargo do arquiteto Mario Roberto Álvarez, a área do teatro aumentou para 58 mil m². Em forma de ferradura, a sala principal do teatro tem capacidade para mais de 2.400 assentos. A cúpula originalmente exibia pin-


Teatro Colón, Buenos Aires (Argentina)

Palacio de

Bellas Artes, Cidade de México (México)

Metropolitan

Opera House, Nova York (EUA)

turas de Marcel Jambon, que se deterioraram e em 1960 foram substituídas por obras do argentino Raúl Soldi. Palacio de Bellas Artes, Cidade de México (México, 1934) O Palacio de Bellas Artes foi projetado nos últimos anos do “porfiriato”, o regime do ditador Porfirio Díaz (1876-1910), como parte das comemorações do centenário da independência do México, em 1908. Problemas técnicos adiaram a inauguração e, com a eclosão da Revolução Mexicana, em 1910, as obras foram interrompidas. Foi apenas na década de 1930, com a estabilização do novo regime, que os trabalhos foram retomados sob o comando do arquiteto mexicano Federico Mariscal.

O Palacio de Bellas Artes foi, enfim, inaugurado em 1934. Seu estilo arquitetônico é uma mistura de art nouveau e art déco, com a fachada revestida de mármore carrara branco e o interior em mármore multicolorido. A sala de espetáculos, com capacidade para cerca de 1.700 pessoas, ostenta um lustre de cristal desenhado pelo húngaro Geza Marotti; uma cúpula com detalhes em bronze; pinturas e vitrais retratando o deus grego Apolo e as nove musas. O Palacio abriga ainda um museu com obras dos mais famosos muralistas mexicanos: Diego de Rivera, David Siqueros e José Clemente Orozco, entre outros. Metropolitan Opera House, Nova York (EUA, 1966) O Metropolitan Opera House, conhecido como The Met, foi fundado em 1866, com sua primeira casa de ópera construída na Broadway na 39th Street, em Nova York, por um grupo de ricos empresários que desejavam ter seu próprio teatro. Logo ficou claro que a casa não tinha instalações de palco adequadas. Mas somente cem anos após a fundação, quando o Met se juntou a outras instituições de Nova York para formar o Lincoln Center for the Performing Arts, que um novo local se tornou possível. A nova Metropolitan Opera House foi inaugurada em setembro de 1966. O teatro foi projetado por Wallace K. Harrison. Com 3.850 assentos, o Met é a maior casa de ópera de repertório do mundo. No verão, a instalação tamAgosto l Setembro l Outubro 2020

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Arquitetura no mundo

bém hospeda o American Ballet Theatre. O Metropolitan Opera House apresenta uma fachada com cinco grandes arcos. No átrio há dois murais com mais de 100 m² criados por Marc Chagall: um retrata o triunfo da música; o outro as fontes da música. No foyer, 11 lustres de cristal representam as constelações. O proscênio tem 16 metros de largura e a mesma altura. Ópera de la Bastille, Paris (1989) Em 1968, Pierre Boulez, Maurice Béjart e Jean Villar tiveram a ideia de erguer uma nova casa de espetáculos em Paris para abrigar a Ópera Nacional, que ficava no Palais Garnier. Mas o sonho só se tornou realidade quase duas décadas depois, no governo do presidente François Mitterrand (1981-1994). Foi organizado um concurso para definir o novo teatro, com 756 candidatos. O vencedor foi Carlos Ott, um arquiteto uruguaio até então pouco famoso.

O projeto de Ott incluia 2.723 assentos e um acabamento exterior em vidro. A construção teve início em 1984 com a demolição da Gare de La Bastille, que já estava fechada desde 1969. A nova construção foi inaugurada em 1989, durante as comemorações do 200º aniversário da Revolução Francesa. A Arquitetura do Ópera-Bastille contém uma fachada de mármore geométrica que domina o cenário da praça Bastille. Sua acústica é uma das melhores do mundo. Sydney Opera House, Sydney (Austrália, 1973) Há poucos prédios tão famosos como o da Ópera de Sydney. E também poucos que tiveram tantos percalços durante a construção. Sua história começa em 1956, quando o governo australiano lançou um concurso para o projeto de uma sala para ópera e outra para concertos sinfônicos. Em 1957, o vencedor foi o arquiteto dinamarquês Jørn Utzon,

desconhecido até então. A construção da Ópera de Sydney começou em março de 1959. O projeto do edifício, comparado por Utzon a “fatias de laranja”, apresentou problemas de engenharia que provocaram atraso nos trabalhos e um grande aumento dos custos. Utzon acabou abandonando o projeto e nem foi à inauguração, em 1973. Segundo o site ARQFACE, “é possível perceber em seu projeto grande influência do organicismo de Alvar Aalto [...]. Urtzon alimentou o desejo de criar uma forma escultural, visível de todos os lados e que se relacionasse tão naturalmente com o porto como as velas dos iates. Formas orgânicas ou naturais eram princípios importantes em seu projeto”. Opera House, Copenhague (Dinamarca, 2005) A Copenhagen Opera House nasceu a partir de uma doação feita pela Fundação A.P. Møller e Chastine Mc-Kinney Møller. O projeto é assinado pelo arquiteto

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Sydney Opera

House, Sydney (Austrália)

Opera House, Copenhague (Dinamarca)

Grande Teatro

Nacional, Pequim (China)

Henning Larsen e por designers renomados como Per Kirkeby e Olafur Eliasso. A construção levou quatro anos. No auge das obras, o projeto empregou mais de 40 arquitetos trabalhando sob a batuta de Larsen. A fim de obter as melhores condições possíveis para a construção, acústica e tecnologia de palco, o arquiteto não se furtou em trabalhar em estreita colaboração com vários consultores e especialistas internacionais. A Opera House de Copenhague foi inaugurada em 2005. O edifício tem dois auditórios: o grande auditório, construído em forma de ferradura e com capacidade para 1.800 lugares; e o

Takkelloftet, o palco para teatro experimental, com 200 lugares. Grande Teatro Nacional, Pequim (China, 2007) Localizado a 500 metros da Praça da Paz Celestial, em Pequim, o Grande Teatro Nacional é um dos mais modernos do mundo. Projetado pelo arquiteto francês Paul Andreu, é um edifício curvo, com uma área de 149.500 m², que surge como uma grande ilha no centro de um lago. A curva elíptica de titânio é sobreposta por vidro. Tem vão máximo de 213 metros, mínimo de 144 metros e altura de 46 metros. É dividido em dois por uma cobertura de vidro cur-

va, com 100 metros de largura na base. A estrutura da concha é formada por 148 vigas de aço embutidas na parte inferior num anel de concreto, e fixadas na parte superior a um anel de aço de 1.460mm de diâmetro. Durante o dia, a luz flui através do telhado de vidro para o edifício. À noite, o que se passa dentro pode ser visto de fora. O prédio abriga três auditórios de espetáculos – uma ópera com 2.416 lugares, uma sala de concertos com 2.017 lugares e um teatro com 1.040, num total de 5.473 lugares – além de espaços de arte e exposições.¥

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Olhar do Arquiteto

Suellen de Arruda Goncalves Balneรกrio Camboriu, em Santa Catarina

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Camila Spielmann Rua do Comércio, em Santos (SP)

Participe do Olhar do Arquiteto. Para isso, compartilhe sua foto no Instagram ou no Facebook usando a hashtag #minhafotonamobile. Mas ela precisa ser tirada em alta resolução e publicada em modo "público". Agosto l Setembro l Outubro 2020

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Ouvidoria

O CAU no limiar da segunda década Por Affonso Risi, ouvidor do CAU/SP

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o próximo 31 de dezembro, despedindo-nos de um ano que foi especialmente difícil e renovando os votos sempre esperançosos para 2021, também estaremos comemorando os 10 anos da Lei 12.378/2010, que criou o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU). Assinada nas últimas horas que encerraram o primeiro decênio deste surpreendente século XXI, a lei foi o resultado de décadas de lutas protagonizadas pelas várias entidades que acompanham a história dos arquitetos em nosso país: o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), a Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), a Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA), a Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (ABEA) e a Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP). Nesses 10 anos, foi possível dar início à construção de nosso novo conselho profissional, com a pretensão, nem sempre

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bem sucedida, de inovar e evitar os equívocos do conselho onde estávamos associados aos engenheiros, o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), com seus departamentos estaduais, os Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia (CREAs). Quanta coisa, no entanto, ainda precisamos fazer para impedir que a burocracia improdutiva, sempre uma ameaça, emperre e destrua o dinamismo necessário a um conselho ao qual cabem a regulamentação e a fiscalização do exercício profissional, mas que também reúne profissionais da imaginação que devem trabalhar, sobretudo, com os desenhos que transformam desígnios

em concretização de sonhos? Somos hoje, no Brasil, quase 200.000 arquitetos e urbanistas e formamos, no gênero, um dos maiores contingentes profissionais no mundo. Apesar disso, ou talvez por isso mesmo, vivemos sob a ameaça de projetos legislativos de desregulamentação da profissão ou de confisco orçamentário para cobrir o déficit do Tesouro... Mais do que nunca, portanto, são necessárias união e atenção de nossa parte e um dos instrumentos para isso está na transformação e no reforço da


atuação do Colegiado das Entidades Nacionais de Arquitetos e Urbanistas(CEAU), órgão estabelecido na Lei 12.378 e que poderia, dentro do CAU, agilizar e permitir uma ação cultural mais abrangente do Conselho. A condição de autarquia federal impõe restrições e enormes dificuldades, gerando situações que quase impossibilitam a ação mais ágil e direta na sociedade, o que não acontece com as entidades. É claro e sabido que há obstáculos jurídicos e econômicos a serem superados, que exigirão novos pontos de vista e capacidade criativa de encontrar soluções. Pudemos acompanhar o grande desapontamento provocado pelo anúncio da doação do acervo de Paulo Mendes da Rocha à Casa da Arquitectura, de Matosinhos, Portugal, instituição exemplar onde esse precioso material foi, sem dúvida, muito bem acolhido e onde terá a conservação e divulgação interna-

cional que merece. Nada a objetar à legítima opção de nosso colega maior, que só nos envaidece, mas como é triste pensar que com o volume de recursos de que podemos dispor - o orçamento do CAU é mais ou menos equiparável ao do American Institute of Architects (AIA), equivalente norte-americano ao nosso IAB, não temos uma instituição como essa entre nós. O Royal Institute of British Architects (RIBA) possui arquivo semelhante ao de Matosinhos, o que proporciona a guarda de acervos preciosos e fomenta publicações e exposições. Arquitetos espanhóis também dispõem de instituições como essas e os exemplos devem se multiplicar mundo afora. Uma outra abordagem da ação do Conselho junto ao CEAU, e, portanto, com as entidades, poderia nos permitir um enriquecimento como esse. Também o ensino em nossas centenas de cursos de Arquitetura e Urbanismo poderia rece-

ber uma maior atenção e mais ação do Conselho em parceria com o CEAU. Lembro-me que há alguns anos, logo depois do lançamento de um dos notáveis volumes publicados em parceria do CAU/SP com uma editora (prática que, felizmente, já ocorre com certa frequência), nossa Ouvidoria recebeu mensagem irritada de um colega inconformado com o fato: "O CAU agora é editor de livros?!", ele questionava. Pois é - não é, mas poderia e deveria ser. Como seria bom se, a exemplo de organizações semelhantes à nossa em outros países, pudéssemos lançar mensalmente e vender a preços acessíveis publicações que cobrissem o leque de assuntos que nos são pertinentes. Que biblioteca magnífica poderia ser publicada exclusivamente pelo CAU! Estamos prestes a dar início a um novo triênio, com a eleição em outubro dos conselheiros estaduais e federais que levarão em frente o processo de construção da entidade maior de arquitetos e urbanistas no Brasil. Muita coisa já foi feita e o momento é propício à união CAU/entidades, ao exercício da imaginação e à concretização de nossos desenhos e desígnios, como já escrevia mestre Artigas! Que a década que está para iniciar seja transformadora e fecunda para essa melhora! ¥

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Luiz Giope/Shutterstock

fique atento

O arquiteto e a luz Lançado em 2015 em comemoração ao centenário do arquiteto, o documentário “Vilanova Artigas: o arquiteto e a luz” agora está disponível online para ser assistido pelo YouTube ou pelo serviço de streaming da Amazon Prime. Escrito por Laura Artigas, que dividiu a direção com Pedro Gorski, a obra traz imagens de arquivo pessoal, lembranças de familiares, amigos e alunos, além de relatos inéditos do próprio Artigas.

Edifício Itália Projetado pelo arquiteto Franz Heep, o Edifício Itália agora tem sua própria biografia. Lançado pela KPMO Cultura e Arte, a edição ilustrada com mais de 190 fotografias, imagens e ilustrações conta a história de um dos primeiros arranha-céus da cidade, que se transformou em um dos ícones da Arquitetura paulista.

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Vamos caminhar pela São Paulo imaginária, pela praça suspensa do Minhocão, chegando no Bixiga de teatros e restaurantes cheios. Depois, sentar no banco da passarela de Lina Bo Bardi, entre o Masp e o Trianon, só pra ver quem passa. Daí pro Frevinho comer um beirute e um Capricho - que sorvete com esse nome é sonho e realidade. É a Arquitetura perfeita.

Arquivo pessoal

Estão novamente liberadas as visitas à réplica da Torre de Miroku (Patrimônio Mundial da Unesco), em Ribeirão Pires, na Grande São Paulo. Com 32 metros de altura, a obra foi projetada pela milenar técnica japonesa de construção em madeira, capaz de levantar monumentos sem um único prego ou parafuso. Para erguer a torre foram utilizadas, aproximadamente, 400 toneladas de madeira, com suas vigas encaixadas uma a uma e intercaladas com concreto. Agendamento prévio e obrigatório pelo site www.tamatur.com.br.

de Dan Stulbach, ator

Divulgação

Torre de Miroku

Dica

Inscrições prorrogadas O prazo para se inscrever ao premio do “WAF - World Architecture Festival” foi prorrogado para o dia 8 de janeiro de 2021. É o único prêmio de Arquitetura em que todos os escritórios selecionados apresentam seus projetos ao vivo diante dos jurados do festival, que devido a pandemia do novo coronavírus foi adiado para o ano que vem, de 23 a 25 de junho, em Lisboa.

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Arquivo pessoal

Ponto de vista Carlos Augusto Manço

Senhor Juventude

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asci em 1927, em Ribeirão Preto, interior do estado de São Paulo. Ainda criança, minha mãe faleceu. Vivi com meu pai, meu irmão, minha madrasta e minha irmã, e estudei em colégios públicos. Aos 18 anos me alistei e fui chamado a prestar os serviços militares por seis meses. Depois trabalhei no Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto, onde conheci minha esposa. Em seguida, trabalhei na Universidade de São Paulo como desenhista contratado e também prestava serviço para o arquiteto Manuel Carlos Gomes de Sotello. Nesse período, o Dr. Sotello me incentivou e exigiu que eu fizesse o curso de Técnico em Desenho, do qual ele era professor, no Industrial. Ao longo desses anos, me casei, formei minha família e me dediquei aos estudos das orquídeas e sua taxinomia, o qual ainda sou apaixonado. Fiquei em dúvida se continuava meus estudos formais em orquídeas ou se me dedicava à profissão que estava me oportunizando trabalhar. Aposentei-me aos 54 anos e aproveitei para me dedicar às orquídeas, cultivando-as em um orquidário construído em minha casa. Também aproveitei para ajudar, junto com a minha esposa, meus filhos e netos em seus estudos e na constituição de suas famílias. Minha esposa e eu sempre fomos curiosos e abertos às novidades. Temos computador em casa há um tempo e aos poucos descobríamos a tecnologia. Eu sabia pouca coisa, usava mais os jogos e guardava as fotos que tirava nas exposições de orquídeas que visitava. Sempre tive ajuda dos meus netos, que faziam o passo a passo para eu usar o que precisasse. Certa vez, fizemos um curso de informática no Senac, por alguns meses, onde aprendi mais um pouco dos programas para usar no computador. Tenho oito netos. Quando o mais novo fez faculdade de Arquitetura, despertou em mim o interesse e a vontade de conhecer o que é a Arquite-

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Sou da época em que desenhar um projeto era à mão e na mesa de desenho. Para mim, o sentimento do desenho vem quando fazemos ele à mão. O computador não transmite esse sentimento"

tura. Nesse momento, minha esposa adoeceu e a família precisou se dedicar aos cuidados dela, que sempre nos amparou e cuidou. Após seu falecimento, a vontade de voltar a estudar e de ocupar meu tempo e minha mente vieram intensamente. Com o apoio de meus filhos e netos prestei o vestibular. Estava ansioso pelo resultado e a notícia da aprovação foi recebida por nós com muita emoção e comemoração. Até ganhei um bolo! Desde que comecei as aulas, fiz algumas amizades que sempre me ajudam. Só ainda não aprendi muito sobre o uso dos programas para desenho. Sou da época em que desenhar um projeto era à mão e na mesa de desenho. Para mim, o sentimento do desenho vem quando fazemos ele à mão. O computador não transmite esse sentimento. Mas acompanho as aulas de informática, faço os exercícios e aos poucos vou aprendendo essa tecnologia. Eu me sinto mais jovem com os colegas de sala. Sempre falo que tenho 60, nunca que tenho 90 anos. Inclusive, meu apelido quando entrei na faculdade era “Juventude”. Carlos Augusto Manço, 92 anos, desenhista de formação, orquidófilo por paixão e estudante de Arquitetura e Urbanismo




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