SUCESSÃO NOS EUA CORREIO BRAZILIENSE
Brasília, quarta-feira, 9 de novembro de 2016
Só faltava
Jeff Kowalsky/AFP
o poder
Ele teimou em ser levado a sério, ainda que tenha sido tomado como assunto das páginas de variedades quando se lançou à disputa da candidatura presidencial pelo Partido Republicano. Donald Trump nunca teve receio de se ver no centro de uma polêmica — ao contrário. Milionário de berço, sentiu-se mais do que à vontade sob os holofotes, à frente do reality show O aprendiz. Desfilou de braços com modelos, batizou com o próprio nome arranha-céus, hotéis e cassinos, associou à imagem substantivos como riqueza e celebridade. Faltava o poder, e ele teimou em buscá-lo. Frequentava os Clintons, quando ocupavam a Casa Branca. Chegou a flertar com o fenômeno Barack Obama. Mas foi em um Partido Republicano perplexo e dividido, ávido por um caminho que o levasse de volta à mansão presidencial, como protagonista, que o bilionário extravagante encontrou terreno para a empreitada de maior risco.
Trump fez pouco dos comentaristas mais respeitados da imprensa. Ignorou os títulos empilhados em seu caminho por senadores, governadores, políticos de carreira que se acreditavam donos de uma sigla centenária: GOP, o Grand Old Party, herdeiro de Abraham Lincoln e Ronald Reagan. Não tomou conhecimento do clã Bush, com pai e filho ex-presidentes, e tirou do páreo o terceiro pretendente, outro dos favoritos da mídia que tiveram de se render ao estilo intempestivo de um candidato que fez da oposição ao establishment político o carro-chefe de uma campanha sem precedentes. Confrontar os Clintons e os Obamas era a batalha definitiva — e, uma vez mais, o rejeitado calou a elite política. Um bilionário galvanizou a insatisfação da classe operária e virou pelo avesso a democracia para a qual o mundo volta os olhos a cada quatro anos. Agora, os EUA e o mundo se perguntam o que virá com uma personalidade imprevisível no comando da grande potência militar e econômica.
CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, de 2016 • Mundo • 1
SUCESSÃO NOS EUA 2 • Especial • Brasília, quarta-feira, 9 de novembro de 2016 • CORREIO BRAZILIENSE Chip Somodevilla/AFP
Simpatizantes do republicano Donald Trump comemoram os resultados favoráveis ao magnata, durante evento no hotel New York Hilton Midtown: noite para entrar na história
O magnata vence a política » GABRIELA FREIRE VALENTE
Jim Watson/AFP
ENVIADA ESPECIAL
N
ovaYork — O 45º presidente dos Estados Unidos foi escolhido em uma disputa marcada por vaivéns e guinadas desde o início, ainda em meados do ano passado, e que terminou em uma madrugada de angustiante montanha russa para os mais de 200 milhões de eleitores norte-americanos — em especial para os militantes concentrados nas sedes montadas pelas campanhas de Hillary Clinton e Donald Trump para acompanhar a apuração dos votos, ambas em NovaYork. Era mais de 1h30 de hoje na Costa Leste (3h30 em Brasília) e, embora faltassem projeções para os últimos estados em disputa, o controverso bilionário desmentiu, uma vez mais, os adversários: os principais jornais do país (e do mundo), analistas e cientistas políticos; o presidente Barack Obama, que o declarou repetidamente “desqualificado” para ocupar a Casa Branca; em resumo, todo o establishment de Washington, incluindo os cardeais do Partido Republicano. Hillary e os democratas ainda se agarravam às últimas esperanças na apertada disputa por Michigan e Wisconsin, dois dos estados que ajudaram Obama a vencer as duas últimas eleições. Em ambos, as pesquisas de opinião apontaram a democrata na dianteira durante toda a campanha, mas até os últimos votos a vantagem seguia com o republicano. A virada do magnata, que desafiou as elites políticas por um ano e meio, arrancou o grito de “Trump presidente!” no hotel Hilton Midtown, em Nova York, o palco escolhido para a festa. Também na Big Apple, no Javits Center, estrategista, dirigentes e militantes democratas contemplavam, incrédulos, uma derrota que parecia impensável até poucas horas antes. O magnata já tinha virado o jogo a seu favor na Carolina do Norte, mas começou a sentir o gosto do triunfo pouco depois da meia-noite, quando as tevês projetaram para ele os 29 votos da Flórida no Colégio Eleitoral. A partir desses resultados, a matemática da eleição indireta começou a se definir: praticamente, não restavam a Hillary caminhos para conseguir os 270 delegados necessários para selar a maoiria e chegar à Casa Branca. Desde que as primeiras urnas foram fechadas, às 19h na Costa Leste (21h em Brasília), momentos de euforia e apreensão se sucederam no Javits Center, o centro de convenções escolhido pelo Partido Democrata. Nas primeiras duas horas de parciais, a rápida consolidação dos números na Flórida parecia antecipar uma noite triunfal, e os aplausos se sucediam a cada novo boletim. Do lado republicano, o hotel Hilton Midtown refletia a apreensão com o cenário: público me-
Trump presidente!” Coro dos militantes republicanos no Hilton Midtown de Nova York
Funcionário prepara bandeiras dos Estados Unidos para o discurso da vitória do republicano, em hotel de Nova York Eduardo Munoz Alvarez/AFP
O Empire State Building, em Manhattan, foi iluminado com as cores dos Estados Unidos nor e assessores com expressões carregadas, como a chefe de campanha, Kellyanne Conway. Ao jornal The New York Times, um estrategista admitia que só “um milagre” daria a vitória ao magnata. Os ânimos começaram a mudar por volta das 21h, quando o avanço da contagem em vários dos“campos de batalha” — como Carolina do Norte e Michigan, mas sobretudo a Flórida — mostrava o magna-
ta com desempenho acima do esperado com base nas últimas pesquisas de opinião. Duas horas mais tarde, a projeção de vitória republicana em Ohio, com 18 delegados no Colégio Eleitoral, levantou a torcida no Hilton. Em seguida, foi a vez de o Javits Center se recobrar do golpe: Hillary foi declarada vencedora naVirgínia, que lhe rendeu 13 votos no Colégio. No tenso cenário montado para a ex-
secretária de Estado, oradores se sucediam no palco repisando os ataques trocados ao longo de toda a campanha. “O voto latino é um gigante adormecido que acordou”, disse a porto-riquenha Melissa MarkViverito, integrante do Conselho Eleitoral de NY. Animada com a perspectiva de ver uma mulher eleita para a Casa Branca, ela tinha uma mensagem para Trump: “Ele disse tantas coisas ruins sobre nós, mas agora vamos derrotá-lo”, acreditava. O prefeito de NY,Bill de Blasio, procurava infundir confiança aos correligionários:“Nesta noite, vamos fazer história”. Em meio aos altos e baixos, a cantora Katy Perry, uma das estrelas da campanha de Hillary na reta de chegada, antecipou sua aparição para a plateia ansiosa. Escalada para fazer o show de encerramento programado para um festa de vitória, ela tomou o microfone para convocar os eleitores democratas no oeste do país, onde a votação prosseguia. “Se no seu estado as urnas ainda estão abertas, você deve ir votar por Hillary”, disparou a musa pop. Contou que ela própria tinha saído de casa pela democrata, enquanto os pais tinham votado em Trump.“Mas vamos nos sentar à mesa juntos no Dia de Ação de Graças”, emendou, em um apelo à reconciliação do país ao fim de uma campanha corrosiva, que expôs as divisões da sociedade americana — por raça, gênero e grau de instrução.
Sem o voto de George W. Bush Nem Hillary Clinton, nem Donald Trump. O ex-presidente George W. Bush optou pelo protesto e ontem, na cédula eleitoral, marcou “nenhuma das opções acima”, segundo o seu assessor pessoal, Freddy Ford. Bush havia dito que pretendia se abster do pleito quando o seu irmão mais novo, Jeb Bush, ex-governador da Flórida, foi derrotado nas primárias do Partido Republicano para as eleições deste ano. A mulher dele também se absteve no pleito. A família não teve peso significativo na disputa pela Casa Branca, mas o ex-presidente George H.W. Bush, o Bush pai, teria dito a amigos, em caráter privado, que votaria na candidata democrata.
SUCESSÃO NOS EUA CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quarta-feira, 9 de novembro de 2016 • Especial • 3
Clima cinzento na votação » BRAITNER MOREIRA
Robyn Beck/AFP
O
show protagonizado por democratas e republicanos durante a campanha presidencial norte-americana ficou para trás no momento mais importante da eleição: o dia final para votação, ontem. Após meses de show de luzes, decoração minuciosa e apresentações musicais, a sobriedade reinou nos Estados Unidos, tanto nas maiores quanto nas menores cidades. Cartazes, placas, pinturas e roupas com as cores dos partidos também sumiram. O clima festivo se limitava a poucas manifestações. O advogado ítalo-americano Giovanni Peluso, 62 anos, sempre votou no Partido Republicano. Ontem, repetiu a tradição, marcando o nome de Donald Trump na cédula. “Eu estava acostumado a ver Nova York dividida a cada eleição, mas hoje (ontem) estávamos todos vestidos de cores neutras, com casacos e sobretudos. É como se estivéssemos em um ritual solene”, diz. “No rosto de cada um, era possível ver a descrença. Para mim e para tantos, pouco importa quem vai ganhar. Eles não merecem os Estados Unidos.” O clima austero, distante da festividade inflada pelos comícios, se repetiu nas ruas das maiores metrópoles americanas, tais como Chicago, Houston e Los Angeles. E também nos municípios pequenos. “Não temos muitas manifestações no estado”, conta o brasileiro Adriano Araújo, 46, morador de Alpharetta, cidade de 60 mil habitantes da Geórgia. “Sou democrata e me dá medo de falar sobre política porque os republicanos estão muito energizados com a retórica de Trump”, prossegue. A percepção foi constatada pela consulta divulgada ontem pela Morning Consult/Politico. A pesquisa mostrou que 85% dos eleitores “só queriam que as eleições acabassem logo” e apenas 29% disseram-se “orgulhosos” diante do seguinte questionamento: “Descreva como você se sente a respeito da eleição de 2016”. Os “felizes” não passaram de 25%; os nervosos eram 71%. A pesquisa foi conduzida com 6.782 eleitores que votaram antes das 9h de Brasília.
Hit na web Apesar da frugalidade nas ruas país afora, o assunto dominou a internet durante o dia. Nos Estados Unidos, por volta das 10h, nove dos 10 assuntos mais citados no Twitter diziam respeito à votação. Às 13h, eram sete. Às 17h, oito. Nos temas mais comentados do Brasil, a hashtag #EleicoesNosEUA esteve na liderança durante todo o dia. Os nomes de Donald Trump e Hillary Clinton estiveram no top 5 durante a manhã. Michelle Obama ganhou espaço à tarde.
Tiroteio perto de seção eleitoral Um tiroteio nos arredores de um centro de votação na Califórnia resultou em um morto e três feridos. Segundo a porta-voz dos Bombeiros, Vanessa Lozano, os disparos, feitos por um homem, ocorreram no início da tarde, na cidade de Azusa, ao leste de Los Angeles. As quatro pessoas atingidas foram levadas a um hospital, mas uma delas não resistiu aos ferimentos e chegou ao local sem vida. Duas estão gravemente feridas. A seção foi fechada após a troca de tiros entre o homem e policiais. Até o fechamento desta edição, ninguém havia sido preso.
Fila para votação em Manhattan, em Nova York: derradeiro dia de eleição ficou marcado pela ausência das cores dos principais partidos
Quem pode votar antes Dos 50 estados americanos, 43 permitem a votação antecipada. O sistema do early voting permite a escolha presencialmente ou por correio. Esse método assegura o comparecimento dos eleitores que não podem deixar o trabalho num dia de semana e evita a formação de grandes filas no grande dia da eleição — que, desde 1845, sempre é marcada para a terça imediatamente após a primeira segunda-feira de novembro. É possível votar para todos os cargos eletivos que aparecem na cédula no dia final da eleição. O número de eleitores que antecipam os votos tem sempre crescido. A expectativa é de que, neste ano, supere um terço. Em 2012, foram 31,6% dos votantes.
Basquete no dia da eleição O presidente Barack Obama cumpriu, ontem, seu pequeno ritual supersticioso: jogou basquete com amigos enquanto milhões de americanos iam às urnas. No início da tarde, o atual presidente dos Estados Unidos se dirigiu à base militar Fort McNair, nos arredores de Washington, para jogar uma partida de basquete. Antes, havia passado a manhã no Salão Oval, em reunião com secretários. No fim de 2010, Obama machucou o lábio jogando uma partida nesse mesmo lugar. Depois, diminuiu consideravelmente a prática da modalidade, preferindo atividades mais tranquilas, como o golfe.
O respeito à tradição, até agora, deu resultado. Em 2008 e em 2012, anos nos quais foi eleito pela primeira vez e depois reeleito, Obama disputou partidas de basquete no mesmo dia da eleição, em seu reduto de Chicago, para se distrair à espera dos resultados. O presidente também cumpr iu o r itual durante o longo processo das primárias democratas de 2008, nas quais enfrentou justamente Hillary Clinton. O vice-presidente Joe Biden e a vice-primeira-dama, Jill, votaram em Wilmington, Delaware, no fim da manhã. À tarde, voltaram a Washington e de lá seguiram para Nova York.
Se o interesse pelas eleições fosse medido pelas filas nas cabines de votação do país, seria correto dizer que esse aumentou com o passar do dia. Pela manhã, só havia demora para votar nos sete estados que não permitem o voto antecipado. Em Detroit (Michigan) e Filadélfia (Pensilvânia), maiores cidades desse grupo, alguns eleitores chegaram a passar mais de uma hora aguardando. Depois do almoço, a espera tornouse mais comum em todas as regiões. Em Manhattan, centro comercial e cultural de Nova York, foi comum ver eleitores contornando os grandes quarteirões. “Não passo tanto tempo em uma fila desde o lançamento do último Star Wars. E não votarei para uma vitória de Darth Vader”, disse a astróloga Betty Jones, 49, ao Correio, enquanto aguardava na fila de um ginásio de San Diego, na Califórnia — em referência clara a Trump, candidato da oposição.
Recorde Betty afirma ter se arrependido por não ter votado de forma antecipada. Neste ano, mais de 43 milhões de eleitores preencheram as cédulas antes de a votação de ontem começar, batendo o recorde da campanha de 2012, quando 32 milhões de americanos foram às urnas antes do dia da eleição: crescimento de 33%. Um dos “apressados” foi NicholasI Kamm/AFP
Antes do basquete, Obama se reuniu com secretários no Salão Oval da Casa Branca
Op donos da internet Os Memes, nossa razão de viver
Fotos: Twitter/Reprodução
o presidente Barack Obama (leia mais na reportagem abaixo), que votou no mês passado, em Chicago, Illinois. Proporcionalmente, o estado com o maior número de eleitores antecipados foi a Flórida. Dos 14 milhões de registrados, 6,5 milhões já haviam votado antes do dia final, aproveitando as duas semanas de antecipação no Sunshine State. Muitos esperavam assim evitar as longas filas das eleições anteriores. Outros estavam apenas ansiosos para votar depois de meses de intensa campanha. Decisiva para o resultado final das eleições, a Flórida registrou grande número de intimidações (leia mais ao lado) a eleitores. A tensão era explícita porque a votação antecipada não deixou claro quem levaria os 29 votos do estado — durante a votação antecipada, os democratas votaram em número ligeiramente maior, com 2,6 milhões contra 2,5 milhões de votos para os republicanos declarados, segundo a comissão eleitoral. Cerca de 1,4 milhão de outros eleitores não eram afiliados a qualquer partido. O aumento da mobilização fez com que o VoteCastr, da Slate, projetasse que as eleições encerradas ontem tenham um dos maiores comparecimentos na história recente. O recorde é de 1960, quando 62,8% dos eleitores foram às urnas eleger o democrata John F. Kennedy. Em 2012, na reeleição de Barack Obama, 54,9% dos americanos registrados votaram.
Passaram-se exatamente 595 dias desde que Ted Cruz se tornou o primeiro político a anunciar a intenção de concorrer à Casa Branca. A corrida de 16 republicanos e cinco democratas encerrou-se, ontem, com o momento mais aguardado pela internet: a catarse de memes que percorreu as redes sociais.
Intimidação na Flórida Cerca de 700 casos de intimidação, discriminação e desencorajamento de eleitores foram registrados, ontem, pela Coalizão de Proteção Eleitoral (EPC), organização não governamental que atua em todo o território dos Estados Unidos. A entidade disponibilizou um telefone para denúncias. Segundo a ONG, a maior parte dos registros havia vindo da Flórida e da Pensilvânia, até o balanço das 19h (horário de Brasília). No primeiro estado, uma mulher não quis votar porque foi intimidada por um grupo que a ameaçou do lado de fora da biblioteca pública de Hollywood. Em Miami, apoiadores de Hillary Clinton gritavam em megafones contra eleitores republicanos. Em Chesapeake, na Virgínia, havia eleitores de Trump bloqueando a entrada de americanos negros em uma zona eleitoral. Forças policiais tiveram de intervir no local. Também houve o registro de um caso no qual um eleitor do republicano ameaçou queimar a casa de uma democrata em Seven Fields, Pensilvânia.
Topless Outro tipo de manifestação foi registrado em Nova York, onde uma eleitora de Hillary fez topless em um protesto na mesma sessão em que Trump votaria, em Manhattan. O incidente foi registrado antes de o candidato da oposição chegar para registrar seu voto. Outra mulher também tirou a roupa em protesto, em seguida. Ambas acabaram detidas. Além das intimidações, a EPC registrou 2.300 casos de atraso na abertura de cabines de votação e de 1.500 denúncias de eleitores registrados cujos nomes não apareceram nas listagens. Problemas técnicos também foram notados pela organização. O mais grave deles, em Durham, na Carolina do Norte, afetou mais de 20 mil eleitores. Como o registro informatizado de eleitores ficou com defeito, a solução foi permitir que os mesários utilizassem equipamento de papel para contabilizar a presença, o que retardou o procedimento.
CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, de 2016 • Mundo • 1
SUCESSÃO NOS EUA 4 • Especial • Brasília, quarta-feira, 9 de novembro de 2016 • CORREIO BRAZILIENSE Eduardo Munoz Alvarez/AFP
Hillary cumprimenta eleitores diante da Escola Primária Douglas G. Grafflin, na cidade de Chappaqua (Nova York), onde a família Clinton vive: “Estou incrivelmente feliz. (...) Farei o meu melhor se tiver oportunidade de vencer”
Confiança e voto em casa » RODRIGO CRAVEIRO
Reprodução/Twitter
Reprodução/Facebook
Jacob K. Javits, na cidade de Nova York, onde a candidata esperava fazer o primeiro discurso como presidente eleita. Na tarde de ontem, Hillary e assessores mais próximos se reuniram em um hotel para afinar duas versões de discursos para o evento noturno.
A
terça-feira histórica começou movimentada na pequena Chappaqua, cidade de 18 mil habitantes situada a pouco mais de 50km ao norte de NovaYork. O semblante de Hillary Clinton esbanjava otimismo e em nada denotava o cansaço da maratona eleitoral da véspera. Na madrugada de ontem, a democrata encerrou oficialmente a campanha com um comício em Raleigh, na Carolina do Norte — o evento contou com apresentações de Jon Bon Jovi e Lady Gaga. “Esta é a mais importante eleição de nossos tempos. Não se trata apenas de meu nome ou de Donald Trump na cédula, é o tipo de país que desejamos”, clamou. E esbanjou confiança: “Esta eleição vai terminar, mas nosso trabalho, juntos, está apenas começando”. O primeiro casal, Barack e Michelle Obama, tinha reforçado o evento de campanha anterior, um discurso para cerca de 40 mil pessoas na Filadélfia, Pensilvânia. Pouco depois das 8h (11h em Brasília), depois de votar na Escola Primária Douglas G. Grafflin, uma sorridente Hillary admitiu aos repórteres: “Estou incrivelmente feliz. Todos os meus amigos e vizinhos, isso me faz tão feliz”. Sob olhares atentos de agentes do Serviço Secreto e acompanhada do marido, o ex-presidente Bill Clinton, ela cumprimentou eleitores e conversou por alguns segundos com alguns deles. O casal mais influente da política americana vive em Chappaqua desde 1999. “Tanta gente conta com o resultado desta eleição, no que isso significa para nosso país, e farei o meu melhor se tiver a oportunidade de vencer hoje”, declarou a ex-secretária de Estado. Ela definiu o fato de ter votado em si própria como “o sentimento mais humilde”. “Eu sei o quanto de responsabilidade vai com isso.” Moradora de Chappaqua, a banqueira aposentada Ann Styles Brochstein, 61 anos, contou ao Correio que
Pedidos de apoio
Esforço para ganhar carisma Nos últimos anos, Hillary tem se esforçado para fomentar um carisma que não possui. A equipe de campanha aproveitou a viagem de volta da Filadélfia para tentar romper o estigma. A ideia foi aderir ao EnLeaderMannequinChallenge, campanha em que pessoas publicam fotos em poses congeladas, como se fossem manequins de lojas. Nas redes sociais, os assessores de Hillary publicaram uma foto da própria democrata, a bordo do avião, ao lado do marido, Bill Clinton, e do cantor Jon Bon Jovi. Todos imitavam “manequins”. A imagem era acompanhada da mensagem “Não fique parado, vote”.
conseguiu interagir com Hillary. “É a sua hora, não posso esperar para ouvir as palavras ‘Senhora presidente’”, gritou. “Eu também, obrigada”, respondeu a democrata, cuja mansão fica a menos de 5km da casa de Ann Styles. Segundo a vizinha, Hillary é “muito cordial e tem grande senso de humor”. “Uma das coisas que sempre me impressionaram foi que, ao conversar com Hillary, ela o escuta e não se distrai com as coisas ao redor. Ela se importa realmente com o povo”, comentou, ao revelar que o casal Clinton participa das atividades da comunidade. “Quando estão em Chappaqua, podem
Ex-secretária de Estado vota na mesma instituição de ensino e elogia baixa abstenção Spencer Platt/AFP
Com o presidente Obama, após discurso de encerramento da campanha na Filadélfia ser vistos caminhando com o cão, prestigiando as festas da quadra ou em mercados de fazendeiros. Hillary será uma grande presidente.” Depois de votar, Hillary retornou para casa, a cerca de 5 minutos da escola, e se engajou numa série de entrevistas à
imprensa, na tentativa de encorajar os norte-americanos a escolher o próximo mandatário. “Eu fiquei grata em ver que muitas pessoas saíram para votar”, declarou a uma emissora de rádio de Detroit. O próximo compromisso seria somente à noite, no Centro de Convenções
Op Largada eleitoral, moda e tributo a ativista A primeira apuração
A Gisele mania contra dos a paredeazuis terninhos
Homenagem no cemitério
Com oito eleitores inscritos, o povoado de Dixville Notch, em New Hampshire, honrou a tradição e foi a primeira a apurar os votos. O resultado foi anunciado à zero hora de ontem (3h em Brasília). Hillary teve quatro votos; Trump, dois; e o libertário Gary Johsnon, um. Um morador “votou” em Mitt Romney.
Tabitha Turner Bowman (foto), moradora de Bassett (Virgínia), aderiu à moda que varreu os EUA e saiu para votar vestida com um terninho azul, a cor do Partido Democrata. “As mulheres de toda a nação estão usando terninhos, o estilo de Hillary. Temos orgulho de Hillary”, disse Tabitha ao Correio. Segundo ela, mais de 2,7 milhões de mulheres — e homens — se simpatizaram com a causa. “Quando você vê aquele terninho em seu local de votação, você sabe que a pessoa está com Hillary. Os simpatizantes de Hillary são calmos, enquanto os de Trump são barulhentos. O terninho é nosso barulho e nosso orgulho.”
No dia das eleições, a ativista Susan B. Anthony, falecida em 1906, recebeu homenagens, no cemitério de Rochester (Nova York). O túmulo da mulher que viajou pelos Estados Unidos em defesa da garantia do direito de voto feminino foi coberto ontem por adesivos com a inscrição “Eu votei” (ffoto).
Arquivo pessoal
Reprodução/Twitter
Apesar de todas as pesquisas a apontarem como a provável nova inquilina da Casa Branca, a partir de 20 de janeiro de 2017, Hillary não mediu esforços para conquistar o voto dos indecisos e apelou ao Twitter. “Como nós nos elevamos? Nós votamos”, escreveu, ao repetir um trecho do discurso de Michelle Obama, durante a Convenção Nacional Democrata, em 13 de outubro — “Quando eles descem, nós nos elevamos”, declarou a primeira-dama, à época. Menos de uma hora depois, tornou a publicar nas redes sociais, alfinetando o republicano Donald Trump. “Hoje, vamos mostrar ao mundo que o amor sempre triunfará ao ódio”, postou, ao usar o verbo “trump”. Chelsea, a única filha do casal Clinton, não apareceu em público ao lado dos pais, mas utilizou as redes sociais para fazer uma declaração para a mãe. Ela divulgou foto em que aparece vestida com uma camiseta com a inscrição “Make herstory” — uma adaptação ao slogan “Make history” (“Faça história”) com alusão à primeira presidente mulher da história dos Estados Unidos. “Uma das maiores honras da minha vida foi votar em você hoje, mamãe. Como sempre, eu estou além do orgulho de você”, escreveu. De forma velada, Obama sugeriu o voto em Hillary. “Hoje, o progresso está nas urnas. Vá votar — então, tenha certeza de que seus amigos, sua família e todos que você conhece também votem”, exortou, no perfil de nome Potus, usado pelo presidente no Twitter.
SUCESSÃO NOS EUA CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quarta-feira, 9 de novembro de 2016 • Especial • 5
Trump entre vaias e apelos Mandel Ngan/AFP
» NAHIMA MACIEL
N
o fim da tarde de ontem, a poucas horas do encerramento das eleições na costa leste dos Estados Unidos, Donald Trump fez um apelo para que os eleitores fossem persistentes e não deixassem de votar. Em sua conta no Twitter, o candidato republicano à Casa Branca escreveu “Não esmoreçam, continuem saindo para votar — estas eleições estão LONGE DO FIM! Estamos nos saindo bem, mas ainda resta muito tempo. VAMOS, FLÓRIDA!”. Trump tentou conquistar, de última hora, os votos do chamado “Sunshine State”, sem os quais teria pouca chance de chegar à Casa Branca. Não houve palmas para a votação de Donald Trump. Pelo contrário. O candidato foi recebido sob vaias na chegada à escola pública na qual estava registrado para votar, no Upper East Side, em Manhattan (Nova York). Acompanhado da mulher, MelaniaTrump, e da filha, Ivanka, o republicano votou por volta das 10h40 (7h40 em Brasília). Se foi vaiado do lado de fora, Trump foi bem recebido no interior da escola. Comprou um doce de um garoto que vendia comida no local; apertou a mão de uma senhora, bastante feliz em encontrar o candidato; e respondeu às perguntas dos repórteres. Questionado se a equipe de campanha ouvira algo sobre a expectativa em estados nos quais a disputa será acirrada, ele disse que estava tudo bem. “Muito bem, está tudo muito bem. Está tudo ótimo, no geral”. Antes da chegada de Trump, duas mulheres foram presas na mesma seção eleitoral por tirarem a blusa em protesto contra o candidato. Ambas gritavam “Fora da nossa votação, Trump!”. Uma delas trazia no peito a frase “Trump, agarre suas bolas!” — referência ao áudio vazado contendo conversa do candidato sobre assediar mulheres. Apesar do protesto, Trump não teve problemas para votar, ao contrário de 2004, quando ele precisou passar por três seções eleitorais antes de encontrar o endereço correto. À época, o magnata foi extremamente desagradável com os mesários. Quando orientado a se dirigir a um endereço em Park Avenue, região nobre de Nova York, não hesitou: “Ah, eu gosto desse endereço. É muito mais rico que aqui.” Trump começou a terça-feira com uma entrevista para a emissora Fox News. Antes de votar, falou pelo telefone com a equipe da emissora. Durante pouco mais de 15 minutos, relembrou alguns momentos da campanha e a própria trajetória desde o anúncio oficial da candidatura, em junho de 2016. Disse que, apesar de supersticioso, atendeu ao pedido de entrevista. “Vocês pediram para eu ligar, então, liguei”, disse. A Fox é conhecida por apoiar a candidatura do republicano. Questionado se ele se arrependeria caso não ganhasse a eleição, o magnata não contemporizou: “Eu vou considerar tudo uma perda de tempo, energia e dinheiro. Gastei mais de US$ 100 milhões na campanha”. Os repórteres quiseram saber o quanto ele tinha mudado e aprendido durante a campanha. “Foi um processo incrível, cerca de 17 ou 18 meses desde que comecei. Foi um processo bonito, as pessoas deste país são incríveis, conheci pessoas de todos os níveis. As pessoas me perguntam o que aprendi. Aprendi que as pessoas são incríveis”, afirmou. O candidato pôs em xeque a confiabilidade das pesquisas de intenção de votos, que davam ligeira vantagem para Hillary Clinton.“Eu acho que boa parte das pesquisas estão propositadamente erradas. Eu sequer acho que eles entrevistam as pessoas, acho que eles apenas falsificam os números”, acusou. Na tarde de ontem, Trump se recusou, novamente, a dizer se aceitaria o
Acompanhado da mulher, Melania, o republicano Donald Trump votou em escola pública de Manhattan e foi hostilizado durante a chegada: “Não esmoreçam, continuem saindo!” Bryan R. Smith/AFP
Mandel Ngan/AFP
Magnata cerra o punho, em gesto de otimismo, ao deixar o local de votação
No interior da seção eleitoral, foi saudado pelos simpatizantes e reagiu com um sorriso
resultado das eleições, caso não fosse eleito. Em depoimento à rede CNN, ele reclamou do funcionamento de máquinas de votação.“Há relatos de que, quando alguém vota pelos republicanos, a cédula muda para democratas. São as máquinas”, afirmou. O problema teria ocorrido, de fato, em Lebanon, na Pensilvânia, mas foi corrigido há tempos, graças às queixas dos eleitores. Em entrevista concedida à Fox News, o republicano voltou a tocar no tema da aceitação do resultado. “Vamos ver como as coisas se desenrolam e espero que elas se desenrolem bem, assim não teremos que nos preocupar”, avisou. “Vai depender das circunstâncias. Eu quero que tudo corra realmente bem, que tudo seja suave. Eu entendo a importância disso, eu era muito bom em história”. Trump mandou um recado aos eleitores, caso Hillary vencesse: “Acho que vão ficar muito desapontados. Eles são os homens e mulheres esquecidos”. A eventual festa da vitória de Trump estava marcada para o Hilton Hotel, mas o republicano postou nas redes sociais que assistiria à apuração das eleições ao lado da família, na Trump Tower, em Manhattan.
Twitter/Reprodução
Filho de magnata pode ser investigado A família do republicano Donald Trump pode se tornar alvo de investigação. Eric Trump, filho do magnata, publicou no Twitter uma fotografia da cédula com o nome do pai marcado. “É uma honra incrível votar em meu pai! Ele fará um grande trabalho pelos Estados Unidos! #MakeAmericaGreatAgain”, escreveu. A postagem seria ilegal, e a Coalizão Democrática contra Trump apresentou queixa ao Conselho das Eleições do estado de Nova York. O tuíte foi apagado porque revelava uma violação das leis do estado.
Polêmica, profecias e castigo na rede Gisele contra a parede
O preferido dos animais
“Banido” do Twitter
Gisele Bündchen usou o perfil no Instagram para responder a um fã sobre boatos de que teria votado em Donald Trump. “Eu escutei que você e Tom estão apoiando Trump! É verdade?”, escreveu. “Não!”, retrucou a supermodelo brasileira, casada com o jogador de futebol americano Tom Brady.
Depois do macaco chinês Geda, considerado o “rei dos profetas”, que beijou um retrato de Trump na boca, o peixe indiano Chanakya III, da espécie Chennai, também escolheu o magnata, ao tocar a foto colocada no aquário. Geda e Chanakya III se somam ao Paul, o famoso polvo adivinho da Copa de 2010.
Depois de atacar sem piedade o presidente Barack Obama por meio de seu perfil no Twitter, Trump perdeu o direito de publicar na rede social. A decisão teria sido tomada pela própria equipe de campanha do republicano, que passou a editar os tuítes do candidato, antes da publicação.
Mike Coppola/Getty Images/AFP
Arun Sankar/AFP
CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, de 2016 • Mundo • 1
SUCESSÃO NOS EUA 6 • Especial • Brasília, quarta-feira, 9 de novembro de 2016 • CORREIO BRAZILIENSE
Os interesses do Brasil » PAULO DE TARSO LYRA
A
pesar de contar com uma ampla rede de informações montada via embaixadas e consulados espalhados no mundo todo para atualizá-lo, o presidente Michel Temer não alterou sua agenda política de ontem para acompanhar diretamente a eleição americana. Mas, mesmo que sem querer, os encontros do presidente com diversos ministros trataram de temas que impactam diretamente nas relações entre os dois países: a reforma da Previdência e a PEC que cria um teto de gastos para a União. A luta do governo brasileiro para reequilibrar as contas públicas é uma tentativa de atrair a confiança dos investidores americanos, que podem aportar recursos no Brasil por dois caminhos — empresas que se instalam diretamente no país ou os grandes fundos de investimento, que separam bilhões de dólares para financiar, sobretudo, obras de infraestrutura. Por isso, apesar da torcida, cada vez menos discreta, pela vitória da democrata Hillary Clinton, Temer jamais fez pronunciamentos pessoais sobre as preferências em relação ao sucessor de Barack Obama na Casa Branca. Seguindo o protocolo adotado nas disputas anteriores, especialmente pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2012 — ano da reeleição de Obama —, Temer vai ligar para o vencedor, possivelmente hoje, quando a contagem dos votos estiver terminada. Uma das maiores preocupações é a disposição do futuro governante americano de manter as portas abertas para o comércio exterior. O republicano Donald Trump tem se posicionado favoravelmente a uma política mais protecionista, voltada para o crescimento do mercado interno. Resume isso no “vamos fazer a América grande novamente”. Mas Hillary mantém as tradições democratas e já adiantou não ter muita disposição para derrubar barreiras comerciais e tarifárias. Outro temor do governo brasileiro —
“Relações fortes e dinâmicas”
Pontos importantes
Deu no...
» Investimentos
» Mercado
» Relações diplomáticas
O Brasil, afundado em uma recessão econômica, depende de investimentos externos. Os americanos são potenciais investidores, seja por meio de empresas ou por fundos específicos para aplicar recursos em infraestrutura.
O país pretende reequilibrar a balança comercial. O mercado consumidor americano é destino potencial para o país, incluindo produtos manufaturados, não apenas commodities.
Um eventual governo Trump pode significar relações mais tumultuadas, uma vez que o republicano mantém um discurso agressivo contra a América Latina.
Não acredito que Trump vá querer mudar o acordo fechado pelos países na Cop-21. Mas, pessoalmente, eu torço para que ele não vença as eleições” Sarney Filho, ministro do Meio Ambiente, em entrevista na semana passada com jornalistas internacionais
potencializado se Trump for o vencedor — é o que acontecerá com diversos acordos políticos já assinados. Na semana passada, durante um conference call com jornalistas internacionais, o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, expressou preocupação com a manutenção do acordo de Paris. Fechado em dezembro de 2015, o acordo estabelece um compromisso dos diversos países para a redução das emissões de dióxido de carbono a partir de 2020. “Não acredito que Trump vá querer mudar o acordo fechado pelos países na Cop-21. Mas, pessoalmente, eu torço para que ele não vença as eleições”, brincou o ministro brasileiro. Em entrevista ao Correio, o chanceler José Serra foi mais explícito. “A vitória de Trump será um pesadelo.” O fluxo de informações recebido pelo governo brasileiro em um episódio como a eleição americana é brutal. E se intensificou ainda mais nos últimos dias, com o acirramento da disputa entre Trump e Hillary, com o estreitamento na diferença de intenções de votos entre os dois e, em alguns momentos, alternância na liderança. A embaixada americana em Washington, ocupada pelo diplomata Sérgio Amaral, fornecia briefings diários para o Itamaraty sobre os desdobramentos da sucessão americana. Nos últimos dias, os informes passaram a ocorrer mais de uma vez ao dia. E não vieram apenas da embaixada. O governo brasileiro tem 10 consulados
espalhados em solo americano. Embora nem todos eles tenham sido convocados para abastecer o governo de informações, consulados específicos, como os de Miami, onde há uma ampla quantidade de brasileiros e que tem peso fundamental na eleição dos estados, têm mantido contato frequente com o Itamaraty. O Brasil tem uma ampla rede diplomática, que conta com 139 embaixadas e 52 consulados espalhados pelo mundo todo. Como a disputa pela Casa Branca impacta em qualquer relação global — e, no caso brasileiro, essa reação pode significar bom ou mau humor de potenciais investidores —, embaixadores brasileiros fora dos Estados Unidos também foram colocados de prontidão. Segundo apurou o Correio, diplomatas sediados em outros países têm acompanhado como o governo local e os empresários avaliam os desdobramentos de uma vitória democrata ou republicana. Segunda maior potência mundial, a China, por exemplo, tem especial interesse em saber quem vencerá a eleição americana. Como consequência, o embaixador brasileiro em Pequim foi escalado para medir o ânimo dos chineses quanto às eleições americanas e o impacto disso na realidade brasileira. Sempre bom lembrar que os chineses, assim como americanos, aportam bilhões de dólares em parcerias com o Brasil no setor de infraestrutura. Essa estratégia se repete em outras embaixadas asiáticas e europeias.
Luis Nova/Esp. CB/D.A Press
El País À noite, o site do jornal espanhol destacava que Trump “deslegitima sistema de votação dizendo que ele é manipulado”. A página também dedicou espaço à cobertura ao vivo das eleições norte-americanas. Havia, ainda, reportagens sobre a confiança de Wall Street na vitória de Hillary Clinton e como votaram as minorias negras e hispânicas.
The Guardian O site do diário britânico reservou destaque para as eleições nos Estados Unidos logo no alto da primeira página. Uma equipe de jornalistas garantia a cobertura on-line de cada avanço das eleições nos Estados Unidos, com atualizações frequentes. Novas notas e análises surgiam em intervalos que não superavam 10 minutos.
Le Figaro O site do jornal francês destacou a cobertura das eleições nos Estados Unidos em tempo real. O periódico publicou perfis de Bill Clinton e Melania Trump e adiantou que o expresidente George W. Bush e a mulher dele, Laura, preferiram votar em branco, ao contrário do pai, George H. Bush, que há meses anunciou o voto em Hillary, por não querer ver Trump na presidência.
Wall Street Journal A versão on-line do jornal norteamericano especializado em notícias econômicas focou a reta final da cobertura para a contagem das urnas. Um placar com as imagens de Hillary Clinton e Donald Trump aguardava os números de cada região, enquanto um mapa, ainda em branco, pintaria de vermelho ou azul cada estado que terminasse a apuração.
» MAÍRA NUNES Um pedacinho de Brasília ganhou ares norte-americanos ontem à noite, durante a apuração dos votos para presidente dos Estados Unidos. Em evento organizado na Asa Norte pela diplomacia dos EUA, a embaixadora Liliana Ayalde fugiu do “ringue político” travado entre Hillary Clinton e Donald Trump para ressaltar a importância simbólica de contar, pela primeira vez na história do país, com uma mulher candidata à Casa Branca: “Os Estados Unidos nunca tiveram uma mulher indicada à presidência por nenhum dos grandes partidos em toda sua história. Portanto, só isso já torna esta eleição notável para nós”. “Embora esta eleição possa ser lembrada em parte pela animosidade, creio que sua importância histórica não passará em branco para nenhum de nós”, completou a embaixadora, que está desde 2013 no Brasil. Ela ainda aproveitou para acalmar os ânimos brasileiros em relação aos temores de mudanças nas relações entre Brasil e Estados Unidos. “Independentemente de quem ganhar as eleições, as relações entre os dois países continuarão fortes e dinâmicas”, disse, ao justificar que ambas as nações compartilham valores de democracia e
Os sites dos principais jornais do mundo deram ontem amplo destaque às eleições nos Estados Unidos. Confira o que alguns deles publicaram:
Clarín
Cerca de 600 pessoas acompanharam a apuração em evento organizado pela Embaixada dos Estados Unidos: eleição histórica defesa dos direitos humanos. Em relação ao candidato de preferência, Liliana Ayalde preferiu a posição diplomática exigida pelo cargo que ocupa. “Sou uma funcionária do governo americano e não devo tomar partido”, desviouse. Pode até não ter nenhuma relação, mas o blazer que vestia sobre a blusa branca era azul, inclusive no tom adotado pelos democratas liderados por Hillary Clinton. A embaixadora que discursou
em português afiado — ela passou três anos da infância no Rio de Janeiro por causa do trabalho do pai, que era médico — entregou certa proximidade com Hillary: “Veja bem, já trabalhamos juntas. É natural que nos conhecêssemos”. O evento, que teve como ponto alto o pronunciamento de Ayalde, ocorreu em climadefesta.As cores dabandeira dos Estados Unidos estavam estampadas em bandeirinhas, balões, chapéus. Telões e
televisões repercutiam as eleições. Fotografias em tamanho real dos candidatos à presidência e do atual presidente, Barack Obama, e da primeira-dama, Michelle, foram as preferidas para as selfies feitas pelos cerca de 600 convidados, entre embaixadores de variadas nações, políticos brasileiros e estudantes intercambistas. Até umaurnafoimontadaparasimularavotação presidencial, que prendeu a atenção de todo o mundo até a madrugada de hoje.
“Contagem para a história: os resultados, em poucas horas” era a manchete do site do jornal argentino diante da definição do pleito norteamericano. Com espaço generoso no alto da página, o site também disponibilizava uma galeria de fotos dos bastidores das eleições, com imagens dos locais de votação, das equipes de reportagem e do policiamento reforçado em cidades como Nova York.
Histórias eleitorais Voto de última hora O camaronês Alexander Mbianda conseguiu a cidadania americana às 15h de ontem e se registrou a tempo de votar. A história foi divulgada pelo Twitter do Departamento de Polícia de Newton, cidade de Massachusetts.
A vovó dançarina Os 107 anos de idade não impediram Virginia McLaurin (ffoto) de exercer a democracia. A senhora que ficou conhecida depois de dançar com o casal Obama na Casa Branca, em fevereiro último, saiu cedo para votar na Escola Brightwood em Washington. Chamou a atenção das crianças e dos outros eleitores, que pediram para fazer selfies com ela.
DCOSTurner/Twitter/Reprodução
Broadway na coxia
Parto antecipado
Palco das artes em Nova York, a Broadway decidiu não competir com o maior espetáculo de ontem nos Estados Unidos. A maioria dos teatros não abriu as portas durante as eleições presidenciais. Comédias musicais de grande sucesso, como O fantasma da ópera, Cats e Chicago, tiveram a apresentação suspensa. Os prestigiosos Metropolitan Opera e Carnegie Hall também fecharam as portas.
Soshy Adelstein (ffoto) e o marido, Maxwell Brandel, esperavam a primeira filha para o dia das eleições. Por isso, decidiram votar antecipadamente, na sexta-feira, em Boulder (Colorado). Os planos foram adiados depois que Soshy entrou em trabalho de parto no caminho para a seção eleitoral. O casal correu para o hospital, onde Bella Rose veio ao mundo. “Eles entraram para depositar seus votos e assinar os envelopes”, contou Mircalla Wozniak, porta-voz do condado de Boulder, ao jornal Boulder Daily Camera. Ambos votaram em Hillary. “Trump representa tudo o que não partilhamos como valores — mentira, manipulação, sexismo, fanatismo e racismo”, disse Maxwell.
Reprodução/Instagram
SUCESSÃO NOS EUA CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quarta-feira, 9 de novembro de 2016 • Especial • 7
Incerteza no mundo todo » SIMONE KAFRUNI
Joe Raedle/Getty Images/AFP - 12/10/11
Projeções
A
vitória do republicano Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos assustou o mundo e deve provocar volatilidade dos mercados, aumento do risco e queda da confiança. Os especialistas alertam que esse cenário será efeito da incerteza em relação ao governo de Trump: se ele de fato colocará em prática medidas radicais bastante polêmicas ou se vai abandonar o discurso de campanha e implantar uma política econômica coerente. Na opinião de Antônio Pôrto, professor da Escola Brasileira de Economia e Finanças (EPGE) da Fundação Getulio Vargas (FGV), Donald Trump é um ponto de interrogação. “Ele pode mudar o discurso depois que assumir”, prevê. No entanto, se mantiver as propostas, o impacto na economia global será muito maior. “Ele prometeu acabar com a exportação de emprego e propõe uma redução de impostos. Os Estados Unidos correm o risco de abrir um deficit muito grande, porque ele não diz de onde virá a receita”, afirma o professor. Outro problema é que Trump defende aumento das tarifas de importação. Como os Estados Unidos são o segundo parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China, isso será um entrave para as exportações brasileiras e de todos os países que vendem produtos para a nação norte-americana. “Ele é contra a globalização, por isso é uma ameaça ao comércio mundial. Além disso, está comprando uma briga grande com México e China”, ressalta Pôrto. O especialista lembra, ainda, que os economistas que acompanham Trump e devem compor o núcleo duro do seu governo “não falam coisa com coisa”. No entender de Roberto Indech, analista da corretora Rico, a eleição do republicano será acompanhada de um pessimismo generalizado nos mercados financeiros por conta das medidas protecionistas e, sobretudo, pela falta de clareza na política econômica. “Não se sabe o que será feito daqui para frente. O mercado gosta de transparência e previsibilidade. Para comprar ações, investir ou os analistas recomendarem aplicações, é preciso clareza. Isso não existe com Trump”, assinala. O analista ressalta que as medidas anunciadas pelo republicano são muito polêmicas. “Ele tem propostas protecionistas demais. E deve aumentar a dívida pública porque defende a redução de impostos. Todo esse estresse vai derrubar as bolsas e valorizar o dólar”, enumera Indech. Donald Trump também é contrário a acordos de livre comércio em geral, inclusive oTratadoTranspacífico (TTP), considerado um importante legado da política econômica do atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, lembra Indech. “Isso vai afetar balanças comerciais de muitos países”, sentencia. “Ainda bem que há um porém. Ninguém sabe se ele vai conseguir implementar as suas posições radicais porque muita coisa depende da aprovação do Congresso”, acrescenta.
Incoerência Para o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, a maior ameaça de um governo Trump é a falta de coerência do presidente eleito. “Ele não consegue se comunicar com o mercado. Não explica o plano econômico. Talvez nem saiba qual que é”, arrisca. Ainda por cima, emenda Vieira, Trump representa um risco político muito grande. “Ele não tem apoio total dos republicanos,
Estimativa da Oxford Economics é de que a eleição de Trump pode afetar a economia global
Desempenho em 2017
Previsão de crescimento (em %) varia conforme aprovação das medidas do presidente eleito Indicadores
Exilado na embaixada equatoriana em Londres, Julian Assange (ffoto), fundador do WikiLeaks, negou ter tentado influenciar os votos dos americanos. O grupo é acusado de favorecer Donald Trump por não ter vazado qualquer conteúdo sobre o republicano. “Não podemos publicar algo que não temos”, justificou. Ao longo da disputa presidencial, milhares de e-mails hackeados do diretor de campanha de Hillary Clinton foram divulgados. As mensagens, mesmo não explosivas, deixaram a democrata na defensiva.
PIB
1,6
1,2
Consumo
2,1
1,7
Investimentos
1,3
0,0
Gasto do governo
-0,8
-1,6
Emprego
1,0
0,8
Taxa de desemprego
4,8
4,9
Inflação
2,0
1,9
Taxa dos fundos federais 0,6
0,1
Títulos do Tesouro para 10 anos
1,4
1,8
* Performance a partir de um acordo de negociação no Congresso, com a moderação das propostas mais polêmicas ** Desempenho com corte abrupto de gastos, alta nas tarifas de importação, política anti-imigração e queda na confiança Fonte: Oxford Economics
Porto em Fort Lauderdale na Flórida: comércio com o Brasil pode ser prejudicado com vitória republicana
seu partido, nem do chamado Tea Party. Obviamente também não conta com os democratas. Então, não se sabe o que vai dar”, considera. O pior cenário será se Trump conseguir emplacar o que chama de “loucuras”, conforme Vieira. “Ele quer fazer um muro com o México. Acabar com acordos comerciais. Varrer produtos chineses do país. Além do mais, é amigo do Putin (Vladimir, presidente da Rússia). Nesse caso, sofrerá impeachment em um ano”, aposta o economista da Infinity, ressaltando que Trump ainda não entendeu que não pode virar um ditador e simplesmente fechar fronteiras. A alternativa, argumenta Vieira, é Trump admitir que o discurso era retórica de campanha. “Ele pode usar essa estratégia. Aí é ver o quanto conseguirá avançar”, observa. Para o Brasil, qualquer que seja a decisão do presidente eleito, os efeitos serão negativos na inflação e nos juros. Isso porque, com uma maior percepção de risco do mercado, a tendência é que o dólar suba em relação ao real. Com o câmbio desvalorizado, o Banco Central terá mais dificuldades de controlar o custo de vida. A saída será implementar uma política monetária mais conservadora, segurando a queda da taxa básica de juros, a Selic. Estimativa da Oxford Economics considera dois cenários para a economia americana. De acordo com o especialista em macroeconomia dos EUA da instituição, Gregory Daco, no quadro adverso, com altas tarifas de comércio, cortes nos gastos públicos e queda da confiança, o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos deve crescer 1,2% em 2017. Já no cenário moderado, no qual ele terá que rever muitas das propostas polêmicas, o PIB poderá avançar mais, 1,6% no ano que vem. O gasto público, afirma Daco em sua projeção, cairá nos dois cenários: -0,8% no moderado e -1,6% no adverso.
Kazuhiro Nogi/AFP - 16/11/15
Bolsas em forte queda Os mercados da Ásia reagiram com fortes baixas à vitória do candidato republicano, Donald Trump, nas eleições à Presidência dos Estados Unidos, contrariando as pesquisas feitas pouco antes da abertura das urnas. A Bolsa de Valores de Tóquio abriu em alta de 0,68%, mas, após três horas de negociação, operava em queda de 4,5%. Na China, país que pode ser diretamente afetado pela política comercial de Trump, a Bolsa de Xangai recuava 1,3%. Em Sydney, na Austrália, as ações caíam 2,7% no momento do fechamento desta edição. Nos últimos dois dias, os mercados trabalharam em alta, impulsionados pelas sondagens que indicavam a democrata Hillary Clinton à frente da corrida eleitoral, ainda que por margem apertada. Ontem, nas Américas e na Europa, as principais praças financeiras negociaram sob a expectativa de que Hillary seria a nova ocupante da Casa Branca a partir do ano que vem. No Brasil, essa perspectiva fez o dólar recuar 1,16% e terminar a sessão
cotado a R$ 3,167. Os investidores começaram o dia mostrando cautela sobre o resultado da disputa, o que colocou a divisa em tendência de alta. À tarde, porém, a tendência se inverteu quando foram divulgadas informações sobre a participação majoritária de eleitores democratas nas cabines de votação. “Sites e pesquisas de última hora mostraram avanço de Hillary sobre Trump, o que animou os investidores”, comentou o analista de um grande banco de investimentos. “Os mercados sempre viram a democrata como uma candidata previsível, que não traria perturbações aos negócios, e consideravam as posições de Trump sobre temas como política externa, comércio e imigração polêmicas e desestabilizadoras”, acrescentou. A Bolsa de Valores de São Paulo chegou a operar em queda de 1,05% no fim da manhã, mas alcançou valorização de 1,12% no meio da tarde, após as sondagens favoráveis a Hillary. No fim da sessão, fechou em estabilidade, com ligeira alta, de 0,03%, aos 64.069 pontos.
Vozes do exílio e do espaço Assange nega ajuda a Trump
Cenário 1* Cenário 2**
Jack Taylor/AFP
“Será um dia de Brexit nos Estados Unidos? Espero que sim” Nigel Farage, membro do Partido de Independência do Reino Unido
Voto cósmico Distante cerca de 400 quilômetros da Terra, Shane Kimbrough (ffoto) fez questão de participar do embate entre republicanos e democratas. Na Estação Espacial Internacional desde o último dia 19 para uma missão de quatro meses, ele recebeu por e-mail a cédula de votação. Segundo a Nasa, pode-se votar no espaço em virtude de uma lei de 1997 aprovada no Texas, onde reside a maioria dos astronautas.
Vasily Maximov/AFP
Bolsa de Tóquio: êxito de Trump provocou forte queda nos índices das ações
Aposta errada nos EUA O mercado brasileiro seguiu de perto o movimento das bolsas norte-americanas, que subiram pela segunda sessão consecutiva, empurradas pelas pesquisas favoráveis à candidatura democrata, embora por margem apertada. Em Nova York, o índice Dow Jones teve elevação de 0,40% e o Standard & Poor’s 500 avançou 0,38%. Na Europa, os principais mercados, como Londres, Paris, Frankfurt e Milão, também fecharam em alta.
SUCESSÃO NOS EUA 8 • Especial • Brasília, quarta-feira, 9 de novembro de 2016 • CORREIO BRAZILIENSE
A democracia em imagens os candidatos. Na escolha do 45º presidente do país, nunca se viu tanta paixão entre os eleitores. Hillary Clinton e Donald Trump que o digam
Ralph Freso/Getty Images/AFP
O voto não obrigatório nos Estados Unidos não significa alienação política. Os cidadãos foram às urnas e às ruas para defender as ideias e
Fantasias
Em Glendale, no Arizona, um cidadão chamado Jorge Mendez se vestiu de Hillary para pendurar um boneco de Trump de cabeça para baixo William Mancebo/Getty Images/AFP
Rhonawise/AFP
Como visto na TV
O eleitor se lembrou do programa televisivo de Trump, O aprendiz. O recado é claro: “Obama, em 8 de novembro, você está demitido!”
Quando os porcos voam
Esse é o título do mural feito pelos artistas Rei Ramirez e Ivan Roque, em Miami, um grande reduto de hispânicos, hostilizados por Trump na campanha
Fotos: Jeff Swensen/Getty Images/AFP
No câmpus, tem espaço...
Na Universidade de Penn State, estudante busca votos para Trump
... para todo mundo
No mesmo local, grupo grita por apoio a Hillary Clinton
Fechado para balanço
Eleitores votam em loja de eletrodomésticos na Pensilvânia
Diretora de Redação: Ana Dubeux (anadubeux.df@dabr.com.br), Editores executivos: Plácido Fernandes Vieira (placidofernandes.df@dabr.com.br) e Vicente Nunes (vicentenunes.df@dabr.com.br), Editora de Mundo: Ana Paula Macedo (anapaula.df@dabr.com.br), Editor de Fotografia: Luís Tajes (luistajes.df@dabr.com.br), Edição: Sílvio Queiroz, Rodrigo Craveiro, Carmen Souza, Leonardo Meireles, Rozane Oliveira, Odail Figueiredo, Roberto Fonseca, Guilherme Goulart, Braitner Moreira, Marcelo Agner; Reportagem: Gabriela Freire Valente (enviada especial a Nova York), Nahima Maciel, Paulo de Tarso Lyra, Simone Kafruni, Maíra Nunes, Luiz Nova (foto); Revisão: Marina Arantes e Rubens Leal; Diagramação: Divino Alves, Itamar Balduíno, Glauco Gonçalves Dias, Enir Mendes, Waldir Diniz, Rafael Oliveira; Arte: Cristiano Silva e Tiago Fagundes.