CORREIO BRAZILIENSE Brasília, domingo, 27 de novembro de 2016
FIDEL CASTRO
Jack Manning/NYT/AE1
★ 13/08/1926 ✝ 25/11/2016
REVOLUCIONÁRIO, ESTADISTA, COMANDANTE. DITADOR, TIRANO, ASSASSINO. HERÓI PARA MUITOS, VILÃO PARA OUTROS TANTOS — EM AMBOS OS CASOS, PARA DUAS OU TRÊS GERAÇÕES. FIDEL CASTRO RUZ NÃO CHEGOU A VIVER 100 ANOS, MAS ENCARNOU UM SÉCULO. SEU NOME E SUA IMAGEM ESTÃO ASSOCIADOS A EXPRESSÕES CLÁSSICAS DESSA “ERA DAS REVOLUÇÕES”, COMO FOI CHAMADA POR ERIC HOBSBAWN: COMUNISMO, IMPERIALISMO, UNIÃO SOVIÉTICA, GUERRA FRIA. NO FIM DA NOITE DE SEXTA-FEIRA, EM CUBA (MADRUGADA DE ONTEM NO BRASIL), SUA MORTE SELOU UM CAPÍTULO DA HISTÓRIA UNIVERSAL. TRÊS MESES DEPOIS DE COMPLETAR 90 ANOS, ELE PARTIU COMO O ÚLTIMO PERSONAGEM DE VULTO DO SÉCULO 20.
★ 13/08/1926 ✝ 25/11/2016 2 • Mundo
• Brasília, domingo, 27 de novembro de 2016 •
CORREIO BRAZILIENSE
HAVANA EM CHOQUE
A N O T Í C I A S U R P R E E N D E U A C A P I TA L E M M E I O À S C E L E B R A Ç Õ E S D A S N O I T E S D E S E X TA - F E I R A . R A Ú L C A S T R O F O I À T E V Ê ANUNCIAR A MORTE DO IRMÃO. PAÍS TERÁ NOVE DIAS DE LUTO
E
ra pouco menos de 0h de ontem, em Havana (3h, em Brasília), quando a imagem do presidente Raúl Castro invadiu sem anúncio a tela da tevê oficial de Cuba, no fim do noticiário noturno — sinal claro de algo extraordinário, que muitos puderam antecipar. Sem qualquer preâmbulo, como é de seu estilo sóbrio, ele fez o comunicado que surpreendeu muitos cubanos desfrutando a noite de sexta-feira da maneira habitual, dançando, bebendo, namorando. “Com profunda dor, compareço para informar ao nosso povo e aos amigos da América e do mundo que hoje, 25 de novembro, às 10h29 da noite, morreu o comandante-em-chefe da Revolução Cubana, Fidel Castro”, proclamou o irmão caçula. Como foi ao longo de seus 90 anos de vida, completados em agosto, o homem que governou o país por quase meio século dividiu as reações pelo mundo afora. Na capital da ilha, a alegria deixou as ruas muito mais cedo que de costume. Nos Estados Unidos, na margem oposta do Estreito da Flórida, a menos de 100km da costa cubana, os exilados anticastristas levaram a festa para as ruas. Estávamos trabalhando quando Raúl, 85, deu a notícia pela tevê, e todo mundo ficou impactado. Foi um momento muito triste”, contou à agência de notícias France-Presse Yaimara Gómez, funcionária do Hotel Presidente, em Havana. Marco Antonio Díaz, 20, empregado de um lava a jato, estava em uma festa quando, de repente, a música parou — para não voltar mais. “Voltei para casa e acordei todo mundo: ‘Fidel morreu’. Minha mãe ficou pasma.” Na Little Havana, em Miami, a essa altura, a madrugada despertava com buzinaços e garrafas de champanhe (leia na página ao lado). Irma Hierrezuelo, 65, enfermeira aposentada, resumiu o significado do personagem para a geração de cubanos que viveu a revolução comunista de 1959. “Ele foi o outro pai que eu conheci. Devo a ele os estudos de enfermaria, devo tudo”, disse, depois de ter tomado calmantes. Blanca Cabrera, 56, dona de casa, também demorou para se recompor do choque. Depois, saiu ao jardim de sua casa para fumar um cigarro. “A gente custa a acreditar, mas tivemos a alegria de que ele nos acompanhasse por muitos anos. Isso alivia a dor.” Para ela, o expresidente “preparou o povo” quando compareceu ao Congresso do Partido Comunista de Cuba (PCC), em abril, e se despediu, na prática: “Todos nos vamos um dia”. Michel Rodríguez, 42, representava uma interseção entre a Cuba do “socialismo de guerra”, encarnado pelo primeiro líder, e o “socialismo renovado” que o irmão e sucessor procura colocar em marcha. Padeiro com negócio próprio, em uma das atividades hoje abertas para a iniciativa privada, ele recebeu a notícia pelo rádio, com o estabelecimento ainda aberto. “Perder Fidel é como perder um pai, o guia, o farol desta revolução”, lamentou.
Adalberto Roque/AFP
HOMENAGENS NO CENTRO HISTÓRICO DA CAPITAL: A GERAÇÃO PRÉ-REVOLUÇÃO CHORA POR “UM PAI”
“Com profunda dor, compareço para informar ao nosso povo e aos amigos da América e do mundo que hoje, 25 de novembro, às 10h29 da noite, morreu o comandante-em-chefe da Revolução Cubana, Fidel Castro” Raúl Castro, presidente de Cuba
“Ele foi o outro pai que eu conheci. Devo a Fidel os estudos de enfermaria, devo tudo” Blanca Cabrera, dona de casa cubana
CORTEJO
A polícia de Havana interditou prontamente os acessos à Praça da Revolução, coração do poder do regime comunista. Mas, afora essa medida e o comunicado oficial lido por Raúl, o aparato oficial acompanhou a perplexidade da população — em particular, a mídia. O diário Granma, órgão oficial do PCC, demorou quase cinco horas para atualizar a primeira página com a notícia, que correu o mundo ainda mais rapidamente que os boatos repetidos sobre a morte do patriarca da revolução. Quase simultaneamente, a versão impressa começava a circular, em edição extra, estampando na capa uma foto do tempo da guerrilha, ao lado da manchete decalcada em um lema do líder: “Hasta la victoria siempre, Fidel!” Até a noite de ontem, não se conheciam as circunstâncias da partida de Fidel, mas o rito traçado para as homenagens fúnebres foi traçado prontamente. Segundo seu desejo expresso, o Comandante será cremado. As cinzas percorrerão parte da ilha em caravana, que se estenderá por quatro dias, com destino a Santiago de Cuba, a 960km da capital. O país observará nove dias de luto, até o sepultamento, marcado para 4 de dezembro.
Adalberto Roque/AFP
“Voltei para casa e acordei todo mundo: ‘Fidel morreu’. Minha mãe ficou pasma” Marco Antonio Díaz, empregado de um lava a jato
“Perder Fidel é como perder um pai, o guia, o farol desta revolução” Michel Rodríguez, padeiro
A CAPA DO GRANMA, DIÁRIO DO PARTIDO COMUNISTA: EXALTAÇÃO AO GUERRILHEIROVISITA DO PONTÍFICE A HAVANA
AFP
Mensageiro da guerrilha O título do órgão central do Partido Comunista de Cuba (PCC) invoca o nome do iate que conduziu Fidel Castro e os 80 revolucionários agrupados no México para a expedição com destino à ilha, em novembro de 1956. Granma é uma versão abreviada da expressão inglesa grand mother (“avó”). O jornal foi fundado em 3 de outubro de 1965, ano em que o Partido Unificado da Revolução Socialista de Cuba foi refundado e rebatizado com a sigla de PCC.
TRISTEZA NA UNIVERSIDADE DE HAVANA: JOVENS CALARAM A MÚSICA E VOLTARAM PARA CASA
★ 13/08/1926 ✝ 25/11/2016 CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 27 de novembro de 2016 • Mundo • 3
ALEGRIA EM MIAMI
C U B A N O S TO M A M A S RUA S D E L I T T L E H AVA N A PA R A C E L E B R A R A M O R T E D O L Í D E R . E X I L A D O S A D M I T E M S AT I S FA Ç Ã O E ESPERANÇA COMEDIDA EM RELAÇÃO A MUDANÇAS NA ILHA » RODRIGO CRAVEIRO
Rhona Wise/AFP
Á
ngel de Fana, 77 anos, terminava um trabalho no computador quando, pouco antes da zero hora de ontem (3h em Brasília), Raúl Castro anunciou o falecimento de Fidel. “Foi um momento de alegria. Apesar de eu ser católico, me senti bem pela morte de um assassino que arruinou o nosso país, causou tanto sofrimento ao povo cubano e matou centenas de milhares de pessoas”, afirmou ao Correio, por telefone, de Miami, onde vive como exilado desde 1984. Em Little Havana, a oeste do centro da cidade da Flórida, uma multidão logo tomou as ruas para celebrar a notícia da morte. “Viva Cuba livre! Morreu Fidel!”, gritavam os exilados, em meio a danças, buzinaços e foguetórios. “É tremendamente significativo o fato de que os cubanos em Miami saíram para comemorar. Eu fiquei em casa, acompanhando pela tevê. A imensa maioria era formada por jovens. Eram pessoas cujos avós morreram sem comemorar a morte de Fidel. Foi algo emocionante”, comentou Ángel. Presidente da Plantados hasta la Libertad y la Democracia, organização formada por ex-prisioneiros políticos, ele conta que, quando vivia em Cuba, trabalhava em condições humildes e costumava devorar livros. “Eu me dei conta de que a revolução, símbolo de esperança para muitos, tinha sido traída por Fidel, que nos levava a um regime totalitário.” Ángel decidiu conspirar com os amigos; mas o sonho em mudar o governo custou caro. “Fui detido quando estava no trabalho e condenado a 20 anos. Fiquei na prisão sete meses além da minha sentença. A libertação, em 1983, ocorreu sob a condição de que eu abandonasse o meu país”, lembra. Forçado a fugir para a Venezuela, mudou-se para Miami no ano seguinte. O jornalista e cineasta Pedro Corzo, 77, também amargou a repressão castrista: preso entre 1964 e 1972, foi submetido a trabalhos forçados por 14 horas diárias. “Fidel era símbolo do projeto totalitário estabelecido em Cuba, 57 anos atrás. Em torno de sua personalidade, montou-se uma estrutura de poder, por meio da qual foram cometidos crimes, abusos e violações dos direitos humanos”, admite à reportagem o cubano que trocou Havana por Miami em 1992. Ele acredita que, apesar da renúncia em 2006, Fidel manteve intacta a influência sobre a estrutura de poder. Apesar da morte do comandante, Corzo não vislumbra grandes transformações na ilha. “Raúl queria reformas, e Fidel, ainda que não tivesse autoridade direta, impedia o irmão de levá-las adiante. Creio que Raúl jamais fará mudanças estruturais que coloquem em risco o poder e a família Castro”, disse. Segundo o jornalista, prováveis contradições internas do Partido Comunista Cubano podem causar fissuras e vazios que permitam o crescimento da liberdade. Fundador do Presídio Político Histórico Cubano, um grupo de Miami composto por presos políticos, José Luis Fernández, 76, aposta que o “legado de terror” de Fidel estará gravado na história. Ele duvida de modificações na estrutura do regime castrista. “A máquina repressiva estava preparada para este evento. Como cidadão que ama a liberdade, sinto satisfação pelo desaparecimento de um ditador da magnitude de Fidel. Mas isso não altera o curso dos acontecimentos”, garante o ativista, que também permaneceu atrás das grades, na ilha, dos 19 aos 25 anos. Para o escritor José António Albertini, 72, “a morte de Fidel é positiva para a causa da liberdade de Cuba”. “Ele foi um ícone da mal chamada revolução. Para os cubanos, era como ir a uma igreja e pedir ao santo no altar. Muitos viam Fidel assim.” Enrique De La Osa/Reuters - 16/10/11
BERTA SOLER, LÍDER DAS DAMAS DE BRANCO: “QUEM MORREU NÃO FOI UM HOMEM, MAS UM DITADOR”
PANELAÇO, FOGOS DE ARTIFÍCIO E BUZINAÇO DURANTE A MADRUGADA, EM MIAMI: AOS GRITOS DE “VIVA, CUBA LIVRE!” E “FIDEL MORREU”, EXILADOS FESTEJARAM O ANÚNCIO
VOZES DO EXÍLIO Arquivo pessoal
Pedro Corzo, 73 anos, jornalista, presidente do Instituto de la Memoria Historica Cubana contra el Totalitarismo. Foi preso entre 1964 e 1972 e submetido a trabalhos forçados por 14 horas diárias “O fim de Fidel pode deflagrar contradições internas, que poderão obrigar correntes do establishment a modificarem políticas econômicas e de governabilidade. Ante a transcedência da figura de Fidel e o doloroso legado que ele deixa, precisamos ficar atentos ao modo como ocorrerão essas contradições.”
Arquivo pessoal
Facebook/Reprodução
Twitter/Reprodução
Ángel de Fana, 77 anos, ativista, presidente da organização Plantados hasta la Libertad y la Democracia. Prisioneiro político entre 1963 e 1983. Mora em Miami desde 1984
José Luis Fernández, 76 anos, preso por seis anos, dos 19 aos 25. Presidente do Presídio Político Histórico Cubano. Mora em Miami desde 1980
José António Albertini, 72 anos, escritor, ex-prisioneiro político entre 1974 e 1979. Exilado em Miami após anistia concedida por Fidel Castro
“Eu estou muito contente. A morte de Fidel Castro pode significar o começo de uma nova etapa, capaz de trazer liberdade e democracia ao nosso povo, por meios pacíficos e cívicos. Pode ser o final dessa tragédia. Eu espero que haja uma mudança até a instalação da democracia em nosso país.”
“O legado da ditadura é infinito; ele inclui a separação de famílias, a perseguição, a intervenção na vida do povo. Sinto tranquilidade em dizer que um ser detestável deixou esse mundo. Centenas foram mortos pelos pelotões de fuzilamento. Fidel perseguiu todas as mulheres que levantaram a voz contra o nepotismo. Muitas pereceram nas masmorras castristas.”
“Muitas pessoas falavam que a defesa da liberdade de Cuba no exílio está nas mãos de cubanos idosos. No entanto, as ruas de Miami estão repletas de jovens — mulheres com menos de 50 anos e adolescentes nascidos nos Estados Unidos. Com Donald Trump no poder, haverá mudanças. Mas Raúl não poderá fazer qualquer alteração, sob pena de perder o poder.”
OPOSITORES CITAM AUMENTO DA REPRESSÃO EM CUBA
Pouco antes das 7h (hora local), uma foto do sol despontando no horizonte de Havana foi publicada nas redes sociais pela blogueira Yoani Sánchez, uma das mais conhecidas opositoras ao regime. “Amanhece em Havana, após o anúncio da morte de Fidel Castro”, escreveu. “Cuba, um país de silêncios neste sábado”, acrescentou, cinco horas depois. Por meio do Twitter, Yoani contou que os olhares dos cubanos pareciam dizer “Disso não se fala”. Se grande parte da população preferiu a discrição, talvez em obediência ao luto, a dissidência reagia com alívio ao último suspiro do ex-presidente. Líder das Damas de Branco — grupo formado por mulheres e mães de prisioneiros políticos que protestam pelas ruas, vestidas de branco e carregando palmas-de-santa-rita —, Berta Soler contou ao Correio que estava em Miami na madrugada de ontem e retornou a Havana por volta
das 8h. “À 1h, minha irmã me comunicou a morte do ditador. Sou uma mulher que ama a vida e que não deseja a morte de ninguém, mas fiquei bastante contente, pois agora temos um ditador a menos”, relatou. “O ditador Fidel Castro morreu! Fidel Castro morreu! Um ditador responsável pela morte de muitos e pela separação de famílias da nação cubana. Quem morreu não foi um homem, mas o ditador Fidel Castro”, acrescentou, por telefone. Soler afirma que Raúl Castro segue aferrado ao poder, inviabilizando a democracia. No entanto, ela vê a eleição do republicano Donald Trump como uma oportunidade para a ilha. “Trump declarou que morreu um ditador. Ele colocou as coisas em seu próprio nome. Peço ao presidente Trump que condicione as relações com a ilha à abertura rumo à transição”, defende. A ativista disse que não percebeu uma mudança na rotina, em Havana, após o anúncio da morte de Fidel. “Não há nenhum co-
mentário nem tristeza. Tudo está normal, como se nada tivesse ocorrido.” Ela prometeu que as Damas de Branco manterão sua luta. Hoje, elas devem voltar a marchar pelas ruas da capital para exigir a libertação dos presos políticos. Filha de Oswaldo Payá, dissidente morto em um acidente suspeito, em 2012, Rosa María Payá disse à reportagem que as reações de júbilo vistas nas ruas de Miami contrastaram com o aumento da repressão em Havana. “Desapareceu o símbolo responsável pela instalação do totalitarismo comunista em Cuba e por vários crimes. Mas Cuba segue em tirania, ainda que Fidel tenha saído de cena”, afirmou, por telefone. “Eu gostaria de instar a comunidade internacional a levantar voz contra a repressão. Muitos opositores têm as casas revistadas e alguns foram detidos. O estado policial visto hoje (ontem), em Havana, coloca os opositores do regime em situação vulnerável.”(RC)
★ 13/08 ✝ 25/11/ 4/5 • Mundo • Brasília, domingo, 27 de novembro de 2016 • CORREIO BRAZILIENSE
A TRAJETÓRIA PESSOAL DO COMANDANTE RESUME OS QUE ELE ENCARNA. DE ÍCONE REVOLUCIONÁRIO A D E I XO U O C E N T RO D O PA LCO, E FO I O BJ E TO
A HISTÓRIA JULGARÁ Adalberto Roque/AFP - 7/12/05
» SILVIO QUEIROZ
D
ificilmente, quem deixa sua marca em uma época escapa de ser impregnado pelas cores do tempo no qual viveu — e esse traço assume relevos proporcionais às dimensões do personagem. Foi assim com Fidel Castro, ao longo de 90 anos que se estenderam entre as tormentas do século 20 e os horizontes abertos do novo milênio. O patriarca da Revolução Cubana, cuja imagem de guerrilheiro se fez ícone para a geração rebelde dos anos 1960, deixa a vida no figurino de um ancião debilitado, recluso, muito distante do jovem vigoroso em farda verde-oliva, dono de um discurso caudaloso e tonitroante — embora tenha cultivado, até os últimos dias, a predileção por discorrer sobre quase qualquer assunto que julgasse de interesse. Parecia inabalável a confiança de que nunca lhe faltariam olhos e ouvidos atentos. Foi em uma fazenda de cana de Birán, no extremo oriental de Cuba, que Fidel Alejandro Castro Ruz nasceu, em 13 de agosto de 1926, filho do espanhol Angel Castro, veterano da guerra perdida pela antiga metrópole colonial, no início do século, para os herdeiros do escritor José Martí, patriarca da independência da ilha. A mãe, Lina Ruz, era na época empregada de Don Angel, com quem viria a se casar anos depois, após se divorciar da primeira mulher. Já na idade avançada, invocava, nostálgico, a vida livre da infância rural, um gosto que viria a recuperar na vida adulta, como guerrilheiro na Serra Maestra. Em Fidel Castro, uma biografia consentida, da brasileira Claudia Furiati, o Comandante conta que passou fome, como hóspede de um tio a quem foi confiado para estudar em Santiago de Cuba — na companhia do caçula, Raúl. Foi lá, e depois na universidade, que os irmãos Castro se iniciaram na política estudantil. A ilha vivia como protetorado e colônia de férias dos EUA, a nova potência das Américas. Internamente, desde 1952, era governada com mão de ferro pelo ex-sargento Fulgencio Batista. No ano seguinte, Fidel e Raúl encabeçaram uma rebelião contra o ditador, à frente de uma coalizão mal costurada entre militantes estudantis e veteranos da oposição política. Fracassaram na tentativa de assalto ao quartel Moncada, na região de Santiago, e foram presos. Mas a data, 26 de julho de 1953, ficou para a história como marco inicial da revolução que triunfaria seis anos mais tarde. Recém-formado em direito, o mais velho dos Castro assumiu perante o tribunal a própria defesa — política, muito mais do que jurídica. Cunhou ali a frase que daria título ao primeiro de uma série infindável de livros: “Condenem-me, não importa. A história me absolverá”. Anistiado em 1955, foi ao México prometendo voltar para vencer ou morrer.
COMUNISTA
Provavelmente, jamais ficará de todo esclarecido quando o líder da revolução que embala há meio século a esquerda latino-americana e mundial tornou-se ele próprio um comunista. Ao menos até Moncada, era reticente inclusive à União Soviética, que via como candidata a ocupar o lugar dos “ianques” como nova metrópole. O mesmo não vale para o Castro caçula: no exílio, organizando com Fidel a expedição revolucionária a bordo do iate Granma, Raúl foi apresentado ao argentino Ernesto Guevara, o Che, misto de aventureiro e rebelde quase sem causa. A dupla aproximou-se da Juventude Comunista e chegou à Serra Maestra com planos para fazer da guerrilha rural o ponto de partida para o socialismo às portas do centro do capitalismo mundial. Reza a mitologia da Revolução Cubana que foram 14 os sobreviventes do desastroso desembarque do Granma, em 1956 retardado por uma tempestade que roubou aos revolucionários o fator surpresa. Como se reunisse seu punhado de apóstolos, o comandante proclamou que venceriam. Foram precisos pouco mais de dois anos para cumprir-se a profecia. E outro tanto para que John Kennedy, recém-empossado presidente dos EUA, ajudasse a eliminar as últimas resistências do novo líder cubano à corte que lhe fazia o Kremlin. Em abril de 1961, a Agência Central de Inteligência (CIA) convenceu JFK a patrocinar a invasão da ilha por uma força-tarefa de cubanos descontentes. O ataque à Baía dos Porcos precipitou a proclamação do caráter socialista da revolução, e Cuba tornou-se posto avançado da URSS.
DAVI E GOLIAS
Kennedy não foi o primeiro presidente americano a “passar” pela vida do Comandante. A lista completa inclui ainda Dwight Eisenhower, Lyndon Johnson, Richard Nixon, Gerald Ford, Jimmy Carter, Ronald Reagan, George Bush pai, Bill Clinton, George Bush filho e Barack Obama. Incluindo Donald Trump, sucessor eleito de Obama, são 12 — tantos quantos os apóstolos de Jesus. Mais um paradoxo na biografia de um líder que até o fim se proclamou ateu, embora tenha recebido em visita oficial três papas: João Paulo II, Bento XVI e Francisco. A década de 1960, ponto culminante da Guerra Fria, foi o palco no qual Fidel encenou sua versão laica para o mito de Davi e Golias, retratado com enredo e apetrechos na crise dos mísseis, de outubro de 1962. Foi quando Kennedy ordenou o bloqueio naval de Cuba, para exigir a desmontagem de uma bateria de mísseis nucleares soviéticos — e, ao longo de duas semanas, o mundo viveu sob a expectativa real de um holocausto atômico. Dali para frente, sob embargo econômico, Cuba confrontou-se com Washington nos mais variados terrenos: na tribuna da ONU, nas guerrilhas derrotadas da América Latina, na guerra de libertação de Angola.
FIDEL DISCURSA NA CIDADE DE CÁRDENAS, EM MATANZAS, EM 2005: CRIADO SOB DITADURAS, ACABOU IMPLANTANDO UMA
CHARME PERDIDO
O Fidel desafiante seduziu uma legião de fãs que vai de Jean-Paul Sartre a Diego Maradona, passando por Gabriel García Márquez, mas o governante envelhecido colecionou também desiludidos, como foi o caso do
Nobel de Literatura José Saramago. Ao contrário do amigo Che, eternizado na imagem do “guerrilheiro heroico” abatido na Bolívia aos 39 anos, o Comandante envelheceu como o patriarca de Gabo em seu outono. Cuba perdeu o charme romântico da rebeldia para ser vista como uma espécie de museu do modelo soviético, soterrado sob as ruínas do Muro de Berlim: sem a subvenção corta-
da por Mikhail Gorbachov, a ilha procura desde então um novo caminho de sobrevivência, sem renunciar ao socialismo. Despido progressivamente da roupagem do mito, mas sempre amplificado pela projeção histórica do personagem, o último gigante do século 20 encerra a jornada como sempre: amado e odiado com igual intensidade.
08/1926 11/2016
S E X T R E M O S E O S PA R A D OXO S D O P E R Í O D O H I S TÓ R I CO A GOVERNANTE POR MEIO SÉCULO, FIDEL NUNCA O D E PA I XÕ E S I N T E N S A S E CO N T R A D I TÓ R I A S Granma/Reprodução - 8/1/59
“Condenem-me, não importa. A história me absolverá” (1953, defesa no processo pelo ataque ao quartel de Moncada)
SOBRE O COMUNISMO “Só posso dizer uma coisa: não sou comunista, nem os comunistas têm força para ser determinantes no meu país” (19/4/1959, discurso na Sociedade Americana de Editores de Jornais)
“Digo aqui com inteira satisfação e inteira confiança: sou marxista-leninista e serei marxista-leninista até o último dia da minha vida” (2/12/1961, discurso)
SOBRE CUBA APÓS A SUA MORTE “Não é problema meu, é problema dos outros. Os mortos não opinam” (23/10/1995, entrevista à CNN) FIDEL ACENA PARA A POPULAÇÃO DE HAVANA, APÓS ENTRADA TRIUNFAL NA CAPITAL COM OS OUTROS COMBATENTES, EM 1959: REVOLUÇÃO CONCRETIZADA Arquivo/CB/D.A Press
Tom Mihalek/AFP - 6/9/00
“Logo, devo completar 90 anos. A todos chegará a nossa vez, mas ficarão as ideias dos comunistas cubanos” (19/4/2016, discurso na sessão de encerramento do 7º Congresso do Partido Comunista de Cuba)
TRAVESSIA ENTRE DOIS SÉCULOS 13 de agosto de 1926 Fidel Alejandro Castro Ruz nasce em Birán, no extremo leste de Cuba. 1945 Começa a estudar Direito na Universidade de Havana, onde se inicia na política estudantil e se aproxima de partidos de oposição ao governo de Ramón Grau. 26 de julho de 1953 Ao lado do irmão Raúl, Fidel comanda uma tentativa frustrada de tomar o quartel de Moncada, em Santiago de Cuba. Os dois e demais companheiros são presos, mas a data é celebrada até hoje como marco inicial da Revolução Cubana. Maio de 1952 Anistiados, os irmãos Castro reagrupam os companheiros de Moncada no Movimento 26 de Julho (M-26). 2 de dezembro de 1956 O iate Granma aporta no extremo leste da ilha, com 80 revolucionários, incluindo Fidel, Raúl e o médico argentino Ernesto Che Guevara. 1º de janeiro de 1959 Com os revolucionários avançando em direção a Havana, e com o Exército em colapso, Fulgencio Batista abandona Cuba na madrugada de ano-novo. Fidel chega à capital uma semana depois e assume o comando do governo. Outubro de 1960 Washington proíbe as exportações para Cuba, com exceção de comida e remédios.
JOGANDO BASQUETE: APOIO AO ESPORTE Conselho de Estado de Cuba/AFP - 1/1/60
NA TRIBUNA DA ONU, EM SETEMBRO DE 2000
Abril de 1961 Quase 1,3 mil exilados, apoiados pela Agência Central de Inteligência (CIA) americana, tentam invadir a ilha pela Baía dos Porcos. O ataque fracassa dois dias depois. Fidel declara Cuba um Estado socialista.
Diario Granma/Reuters - 12/08/03
7 de fevereiro de 1962 Washington proíbe todas as importações cubanas. O conjunto de represálias é articulado na forma do embargo comercial. Outubro de 1962 A inteligência americana descobre a instalação de mísseis nucleares soviéticos em Cuba. O presidente John F. Kennedy (1961-63) impõe o bloqueio naval da ilha e dá um ultimato para a remoção das armas, sob pena de ação militar. Janeiro de 1998 João Paulo 2º torna-se o primeiro papa a visitar Cuba. 31 de julho de 2006 Fidel Castro é submetido a uma cirurgia gastroinstestinal de emergência e cede temporariamente o poder a Raúl. Desde então, mantém-se recluso.
EM CONVERSA DESCONTRAÍDA COM CHE GUEVARA, NA DÉCADA DE 1960 Fevereiro de 2008 O último mandato de Fidel expira e ele renuncia a ser reeleito. Raúl passa a ser, formalmente, o chefe de Estado e de governo. Começam as reformas.
Reprodução
14 de dezembro de 2014 Raúl e Barack Obama anunciam, simultaneamente, a decisão de reatar as relações diplomáticas rompidas pelos EUA em 1961. Fidel aprova a distensão, mas recebe com duras críticas, em março de 2016, a visita de Obama, primeiro presidente americano a viajar à ilha em mais de 80 anos. 19 de abril de 2016 Fidel aparece de surpresa na sessão de encerramento do 7º Congresso do Partido Comunista. Em breve discurso, menciona a proximidade do 90º aniversário e anuncia: “Talvez esta seja a última vez em que discurso neste salão”.
NA SELVA, TEMPO PARA A LEITURA, UM DE SEUS PRINCIPAIS HOBBIES
EM RARA FOTO DE INFÂNCIA, AOS DOIS ANOS
25 de novembro de 2016 Raúl anuncia aos cubanos, pela tevê, a morte do irmão.
★ 13/08/1926 ✝ 25/11/2016 6 • Mundo
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CORREIO BRAZILIENSE
ENTRE VAIAS E APLAUSOS
MORTE DE LÍDER CUBANO REPERCUTE MUNDIALMENTE. TRUMP C O N S I D E R A F I D E L U M “ D I TA D O R B R U TA L” . L U L A D I Z Q U E E L E L U TAVA P E L A E M A N C I PA Ç Ã O D O P O V O L AT I N O - A M E R I C A N O
U
m misto de lamentos e apreensão se espalhou com a morte de Fidel Castro. A divergência entre críticos e admiradores do comandante da Revolução Cubana marcou as mensagens de líderes políticos sobre o falecimento. Enquanto expoentes da esquerda e da direita se dividiam entre a exaltação e a condenação do legado de Fidel, prevaleceu que sua era chegou ao fim. Com a recente reaproximação entreWashington e Havana e os pedidos para a eliminação dos embargos sobre a ilha, entre as prioridades da agenda política americana, o presidente eleito Donald Trump descreveu o líder cubano como um “ditador brutal que oprimiu seu próprio povo por quase seis décadas”. “Fidel Castro está morto!”, reagiu o republicano, em sua conta no Twitter.“O legado de Fidel é um de pelotões de fuzilamento, roubos, sofrimento inimaginável, pobreza e negação de direitos fundamentais de direitos humanos”. Prestes a assumir o comando do Executivo americano, Trump fez votos para que a morte de Fidel “marque um movimento de distanciamento dos horrores suportados por muito tempo e em direção a um futuro em que o maravilhoso povo cubano finalmente possa viver em liberdade”. O retrato de um vilão que oprimiu o povo cubano foi ecoado pelo senador Marco Rúbio, eleito pelo estado da Flórida, principal reduto de dissidentes cubanos fora da ilha. “Um ditador morreu, mas a ditadura ainda não. Uma coisa é clara: a história não absolverá Fidel Castro”, escreveu. Protagonista da histórica recuperação dos laços diplomáticos com Havana, em julho de 2015, o presidente Barack Obama salientou que os EUA “estendem a mão da amizade ao povo cubano” e exortou que o passado de diferenças entre as duas nações seja superado.
LUTO LATINO
Na América Latina, a admiração ao legado do líder cubano se sobrepôs às críticas. “Foi-se um grande. Morreu Fidel. Viva Cuba! Viva América Latina!”, escreveu Rafael Correa, presidente equatoriano. O venezuelano Nicolás Marudo, um dos líderes regionais mais próximos de Fidel, considerou que ca-
Alex Castro/AFP 21.9.15
DEU NO...
Era de incertezas O jornal britânico relembrou a trajetória de Fidel Castro, que derrubou o expresidente cubano Fulgencio Batista, estabeleceu um estado comunista e sobreviveu a inúmeras tentativas de assassinato dos Estados Unidos.
Apóstolo apaixonado
UM MOMENTO DE DESCONTRAÇÃO: O PAPA FRANCISCO E O EX-PRESIDENTE DURANTE VISITA DO PONTÍFICE A HAVANA
be a “todos os revolucionários do mundo seguir com seu legado e sua bandeira de independência, de socialismo e pátria humana”. Evo Morales, mandatário da Bolívia, lembrou Fidel como um “gigante da história”, enquanto a chilena Michelle Bachelet recordou sua luta por “dignidade e justiça social”. Mensagens de pesar e solidariedade também foram emitidas por chefes de governo e líderes de países como México, El Salvador, Argentina e Colômbia. O ex-jogador de futebol argentino Diego Armando Maradona, que se aproximou do revolucionário entre suas idas e vindas de Cuba, lamentou: “Fui tomado de uma dor terrível porque ele foi como um segundo pai”. Enquanto o premiê canadense Justin Trudeau elogiou a oratória de Fidel e seus “avanços nos âmbitos da educação e da saúde”, o papa Francisco, que intermediou a reaproximação entre Havana e Washington, ofereceu preces e expressou sentimentos de pesar pela morte de Fidel.
Na Europa, as reações se dividiram entre a lembrança do peso histórico de Fidel e as expectativas para o futuro cubano. A chefe da chancelaria europeia, Federica Mogherini, considerou que a ilha enfrenta “grandes desafios” em um momento de incerteza global. O ministro das Relações Exteriores britânico, Boris Johnson, afirmou que a morte do cubano marca “o fim de uma era para Cuba e o início de uma nova etapa para o povo cubano”. O presidente da França, François Hollande, lembrou o revolucionário como alguém que “encarnou” tanto as esperanças criadas com a tomada do poder em 1959 quanto as “desilusões” do regime. Vadimir Putin, presidente da Rússia, descreveu Fidel como um “homem distinto” que “com razão é considerado símbolo de uma era na história mundial”. O ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev assinalou que “Fidel resistiu e fortaleceu seu país durante o bloqueio americano mais duro, mesmo assim tirou seu país dessa situação”.
O período classificou Fidel Castro como “apaixonado apóstolo da revolução” que levou a Guerra Fria para o Hemisfério Ocidental em 1959 e depois desafiou os Estados Unidos por quase meio século como líder máximo de Cuba. O jornal ainda destacou que durante seu governo 11 presidentes norte-americanos passaram pela Casa Branca e o mundo quase entrou em guerra nuclear.
Presságio escuro A renúncia ao poder de Fidel Castro, depois de quase cinco décadas, comentou o jornal argentino, foi um presságio escuro. A publicação destacou que após uma cirurgia intestinal complexa que o mantinha nas sombras nos últimos tempos, o ditador cubano estava convalescente.Para o periódico, o país entrará em uma nova era.
Último revolucionário
ÍCONE DA ESQUERDA BRASILEIRA Da Revolução Cubana, em 1959, até sua morte, o líder cubano Fidel Castro influenciou artistas, intelectuais, jovens e políticos brasileiros, mesmo quando as relações com o país caribenho estiveram rompidas. Essa influência chegou ao ápice durante os governos Lula e Dilma, quando o Brasil fez grandes investimentos na construção do Porto de Mariel, em Cuba, com financiamento do BNDES no valor de US$ 682 milhões. Por meio do Programa Mais Médicos, 2,4 mil profissionais cubanos da área da saúde vieram trabalhar no Brasil. Tanto o Porto de Mariel, construído pela Odebrecht, como a vinda dos médicos geraram grande polêmica. Em nota, o presidente Michel Temer destaca que o líder cubano atuou “com a defesa firme das ideias em que acreditava”. O ministro das Relações Exteriores, José Serra, se solidarizou com o povo cubano e assinalou que o líder marcou profundamente a política do seu país e o cenário internacional, “entra para a história como uma das lideranças políticas mais emblemáticas do século 20”. O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso destacou que, com Fidel no poder, Jose Goitia/AP 5.3.09
Cuba avançou na inclusão social, mas “não teve o mesmo sucesso para assegurar a tolerância política e as liberdades democráticas”. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva relembrou que conheceu Fidel em 1980, na Nicarágua. “Mantivemos, desde então, um relacionamento afetuoso e intenso, baseado na busca de caminhos para a emancipação de nossos povos”, disse. Para a ex-presidente Dilma Rousseff, Fidel foi “um visionário que acreditou na construção de uma sociedade fraterna e justa, sem fome nem exploração, numa América Latina unida e forte”.
PRESENÇA CONSTANTE
A primeira visita de Fidel Castro ao Brasil foi em 1959, quando foi recebido pelo então presidente da República Juscelino Kubitschek. O criador de Brasília havia reconhecido o novo governo cubano, logo após a vitória da revolução liderada por Fidel. Com o golpe militar, em 1964, as relações diplomáticas ficaram rompidas por 22 anos e só foram retomadas em 1986, durante a presidência
de José Sarney. Quatro anos depois, em campanha contra a perestroika, do líder soviético Mikhail Gorbatchov, Fidel retornou ao Brasil, durante o governo de Fernando Collor de Mello. A campanha não teve sucesso e, com o fim da União Soviética, Cuba mergulhou em uma crise econômica que se prolonga até hoje. A terceira visita marcou sua participação na Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92, no Rio de Janeiro. Em 1995, prestigiou a posse do presidente Fernando Henrique Cardoso. Três anos mais tarde, Fidel voltaria a visitar FHC, então candidato à reeleição, mas aproveitou para manter contato com adversário dele nas urnas, Luiz Inácio Lula da Silva. Em 1999, participou da Cúpula América Latina, Caribe e União Europeia, fórum de diálogo político entre as nações, realizada no Rio. Em 2001, quando FHC e o seu colega venezuelano Hugo Chávez montaram uma rede de transmissão de energia elétrica na fronteira entre os dois países, Fidel acompanhou Chávez e fez uma escala no Brasil. Retornou ainda em 2003 para prestigiar a posse de Lula na presidência da República.
PauloWhitaker/Reuters 18.4.09
A morte do ex-presidente cubano aos 90 anos em Havana foi manchete do jornal espanhol. A publicação afirmou que Fidel Castro era um ditador irresponsável para muitos e foi o último revolucionário do século XX para seus admiradores, influenciando, até o último momento, nos rumos políticos do regime cubano, o qual liderou por 47 anos.
Colete moral Fidel Castro estava perto da morte muito antes de morrer, descreveu o jornal alemão. Segundo a publicação, o ditador cubano sofreu mais de 600 tentativas de assassinato e ele se orgulhava de não usar colete à prova de balas, como declarou certa vez, com orgulho, em 1979, em um vôo para Nova York. Ele levou o charuto à boca, abotoando a camisa verde-oliva e mostrou seu peito nu. ‘Eu tenho um colete moral’”.
Situação crítica Em sua manchete on-line, o jornal francês destacou que Fidel Castro está morto e que Cuba sobrevive. A publicação alertou que a ilha está em uma situação crítica, apesar de o degelo iniciado nas relações com os Estados Unidos. O periódico ainda informou que o corpo do ditador será cremado, um pedido feito enquanto ainda tinha vida.
Homenagens póstumas ]
O jornal do Partido Comunista Cubano estampou em seu site o pronunciamento oficial feito pelo presidente cubano, Raul Castro. A publicação destacou que o comandante e chefe da revolução morreu às 22h29 de 25 de novembro. Uma comissão organizadora foi criada e homenagens póstumas serão feitas.
LULA E FIDEL CONVERSAM DURANTE VIAGEM DO BRASILEIRO A CUBA EM 2009. OS DOIS ERAM AMIGOS
NA COMPANHIA DE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO EM CERIMÔNIA NO MUSEU DE ARTE MODERNA DO RIO DE JANEIRO
★ 13/08/1926 ✝ 25/11/2016 CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 27 de novembro de 2016 • Mundo • 7
PROVA DE FOGO PARA O “SOCIALISMO ATUALIZADO” POR 10 ANOS, RAÚL CASTRO CONDUZIU SOB A SOMBRA DO IRMÃO UM PROGRAMA DE REFORMAS PARA TIRAR DA ESTAGNAÇÃO A ECONOMIA. EM 2018, ELE ENTREGA O PODER AOS HERDEIROS DA REVOLUÇÃO
SILVIO QUEIROZ
Omara Garcia Mederos/ACN/AFP - 19/4/16
U
ma geração nascida e criada sob o regime instalado pela revolução de 1959, que respirou a atmosfera da Guerra Fria e assistiu ao fim da União Soviética e do bloco socialista do Leste Europeu, tem seu encontro marcado com a história — agora que Cuba avança para normalizar relações com os Estados Unidos, inimigos de meio século, e se integra na economia globalizada. Em fevereiro de 2018, Raúl Castro termina o mandato como presidente dos conselhos de Estado e de Ministros e passa o comando ao sucessor a ser escolhido pela Assembleia Nacional. Seja quem for, já não será um dos veteranos da Serra Maestra e do grupo de dirigentes que conduziu o país por quase seis décadas, à sombra de Fidel. A“transição geracional”, como vem sendo chamada desde que a questão se colocou, com o afastamento do Comandante, representa a face mais exterior e visível de um programa de reformas implementado por Raúl desde que assumiu as funções do irmão mais velho, em 2006. O lema geral das mudanças, que abrangem elementos cruciais da ordem econômica e múltiplos aspectos da vida social, é a “atualização do modelo socialista”, definida no 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba (PCC), em 2011. Cinco anos mais tarde, o 7º Congresso fez um balanço cauteloso do andamento do processo: apenas 10% das metas estabelecidas no encontro anterior tinham sido cumpridas. “A política econômica está mudando, mas muito lentamente”, analisa Peter Hakim, presidente honorário do think tank Diálogo Interamericano, com sede em Washington. Atualmente, 1 milhão de cubanos (cerca de 20% da população ativa) trabalham como autônomos ou são funcionários do incipiente setor privado, mas, por falta de estatísticas, não é possível ter uma radiografia dessa economia independente. “O governo diz que quer mudanças e abertura, mas insiste em manter o controle rígido da atividade. É uma contradição inerente”, diagnostica Hakim. Visto desde os primeiros anos do governo revolucionário como o comunista “ortodoxo”, “verdadeiro”, entre os dois irmãos, Raúl imprimiu um estilo bem mais “clássico” de comando desde que substituiu Fidel. A personalidade dominante do antecessor deu lugar a uma ênfase maior para a “direção coletiva”, mais conforme aos manuais do marxismo-leninismo. No campo da condução da economia, igualmente, o caçula dos Castro dá sinais de buscar “fundamentos científicos” para tirar a ilha da dependência externa histórica — não mais do açúcar, mas do turismo e de commodities como o níquel. Raúl apostou as fichas na abertura controlada para o capital externo, que tem a expressão mais
TRÊS PERGUNTAS PARA PETER HAKIM, PRESIDENTE HONORÁRIO DO DIÁLOGO INTERAMERICANO
FIDEL E RAÚL NO 7º CONGRESSO DO PARTIDO COMUNISTA, NA ÚLTIMA APARIÇÃO DO COMANDANTE EM PÚBLICO completa na zona econômica especial do Porto de Mariel, ampliado pela construtora brasileira Odebrecht, com financiamento do BNDES. O plano é fazer do complexo uma área de processamento de exportações e importações não apenas para Cuba, mas para todo o entorno caribenho e centro-americano, apostando inclusive na proximidade com o Canal do Panamá.
“MODELO CHINÊS” Desde que foi anunciado, o projeto sugeriu a observadores que o presidente cubano estaria buscando a variante local para uma espécie de “modelo chinês” de socialismo. Jennifer Harris, pesquisadora sênior do think tank norte-americano Conselho de Relações Exteriores (CFR), não acredita que Cuba tenha capacidade para replicar a capacidade exportadora da China, mesmo levando em conta as desproporções entre os dois países. “Essas reformas só podem se parecer com algum tipo de ‘modelo chinês’ na medida em que aproximem Cuba de uma sociedade completamente capitalista, com uma ‘cobertura’ de comunismo em Havana”, avalia Jennifer. Peter Hakim, do Diálogo Interamericano, não vê definições claras nos planos de Raúl. “Até o momento, além de rejeitar o capitalismo, os cubanos
OS VETERANOS SE DESPEDEM
A passagem do comando para a geração de meia-idade começou a ser debatida na cúpula comunista antes mesmo do afastamento de Fidel, mas foi inicialmente postergada. Os veteranos da Serra Maestra alegaram que era preciso antes “colocar a casa em ordem”. Raúl ensaiou discutir o processo no 6º Congresso do Partido Comunista (PCC), em 2011, mas, novamente, a “atualização do modelo socialista” se sobrepôs. Em 2013, porém, a Assembleia Nacional aprovou duas medidas destinadas a colocar um prazo para a“transição geracional”. Uma das decisões limita o exercício de cargos de direção, no partido e no Estado, a dois mandatos consecutivos de cinco anos. Complementarmente, foi estabelecido o limite de 60 anos de idade para o ingresso no Comitê Central (CC) do PCC. Os resultados apareceram na renovação parcial promovida pelo 7° Congresso, em abril de 2016. Ampliado para 142 integrantes, o CC passa a ter uma média etária de 54,5 anos, com dois terços dos efetivos nascidos depois da revolução. Os 55 novos eleitos são todos menores de 60 anos, mas a “velha guarda” manteve as rédeas: Raúl foi reeleito como 1º secretário, tendo como “número 2” outro
octogenário, José Ramón MachadoVentura. A limitação de mandatos colocou um horizonte para a transição, ao menos nos organismos de Estado: em fevereiro de 2018, expira o mandato final de Raúl como presidente dos conselhos de Estado e de ministros. Em princípio, o herdeiro designado é o primeiro-vice, Miguel Díaz-Canel, economista de 55 anos. “O fator menos conhecido e mais imprevisível, em Cuba, é o rumo político que o país tomará”, comenta Peter Hakim, do Diálogo Interamericano. Ele aponta outro problema, “típico dos regimes autoritários”: como assegurar que o novo presidente tenha autoridade e legitimidade para governar, “já que não terá o sobrenome Castro e não será um herói da revolução, nem um político largamente conhecido”. Jennifer Harris, do Conselho de Relações Exteriores (CFR), acredita que a nova geração foi preparada durante as últimas décadas para o seu momento. “Lembremos que muitos da geração seguinte à de Fidel e Raúl estão na faixa dos 60 anos, e os que vêm em seguida estão com 45”, lembra a pesquisadora. “Não é como se garotos com iPad fossem tomar o lugar de Raúl.” Ela aler-
não deram nenhuma indicação clara de qual tipo de economia querem. Modelo chinês? Modelo vietnamita? Está tudo no ar”, afirma. “Eles querem o impossível: uma economia próspera, que mantenha um patamar elevado de equidade e fique sob direção altamente centralizada.” Antes mesmo de Mariel entrar em pleno funcionamento, medidas vêm sendo tomadas para atrair turistas em número crescente — uma das apostas do país para captar divisas, essenciais para importar bens de consumo. A recente normatização do setor privado local, que legaliza autônomos e pequenas empresas inclusive no ramo da hotelaria, foi um desses passos. O efeito colateral, porém, já se faz sentir, em uma economia que penaliza os salários de médicos, engenheiros, professores e outros trabalhadores do setor estatal, e permite a ampliação das diferenças de renda. Como paliativo, o governo decidiu promover a transição do regime de preços subsidiados, atrelados ao racionamento, para outro em que os subsídios darão lugar, paulatinamente, à complementação de renda para os cidadãos com maior necessidade. “Essa é a grande ironia: para sobreviver, Cuba necessita desesperadamente de investimentos externos diretos. Mas esses investimentos, por si mesmos, vão alterar o tecido político e econômico do país, afrouxando o controle do regime sobre o poder”, conclui a estudiosa do CFR. Yamil Lage/AFP - 26/7/15
O ATUAL PRESIDENTE E O VICE, MIGUEL DÍAZ-CANEL: A GERAÇÃO DA SERRA MAESTRA PASSA O BASTÃO ta, porém, que a morte do Comandante, figura absoluta e dominante no país por seis décadas, tende a precipitar Cuba em um questionamento crescente ao regime. “No curto prazo, o foco estará voltado para recordar o legado profundamente improvável dos irmãos Castro”, pondera Jennifer. “Mas no médio prazo — passados uns dois anos — é mais do que provável que o desafio ao regime se apresente. O tempo para isso dependerá da rapidez com que progredir em Cuba a expansão do acesso à internet.” (SQ)
Como o senhor avalia as reformas introduzidas em Cuba desde 2006? Embora persistam desacordos, analistas econômicos cubanos e estrangeiros tendem a concordar quanto aos ajustes fundamentais necessários para atrair investimentos e promover o crescimento. Isso inclui substituir o sistema atual de duas taxas de câmbio por um de taxa única; pôr fim ao controle centralizado e dar maior autonomia às agências do governo, às estatais, aos investidores e empreendedores privados; adotar normas e regulações econômicas transparentes e consistentes, que não possam ser interpretadas e alteradas de maneira arbitrária; e estabelecer mecanismos independentes e confiáveis para a solução de disputas. Raúl Castro prometeu entregar o poder em 2018. A nova geração está pronta? Raúl anunciou que sairá. Mas, como Cuba não estabeleceu uma tradição ou um processo definido para a escolha da liderança, ninguém pode ter certeza se, de fato, haverá transferência de poder em 2018 — nem sobre quem será o sucessor e como será escolhido. É possível que o novo líder chegue ao poder em uma transição ordeira e pacífica. Mas é também possível imaginar uma luta rancorosa e fragmentária pelo poder entre grupos e personagens poderosos. Os militares podem emergir como atores dominantes. Liderados durante muitos anos por Raúl, eles já têm um papel desproporcional na economia e são vistos como uma instituição poderosa. Não se pode descartar a perspectiva de protestos e distúrbios. A morte de Fidel pode representar uma “abertura de comportas” para a oposição? Poderemos ver uma erupção de oposição popular a um governo sem os Castro. Mas o mais provável é que a transição se complete dentro de algum tempo — a menos que um novo governo tente reverterasmudançasimplantadas desde a posse de Raúl e a reaproximação com os EUA. Muitos cubanos já vislumbram um futuro melhor, parecem mais otimistas do que os analistas, como eu mesmo. As Forças Armadas e os serviços de segurança são numerosos e bem treinados, devem jogar um papel importante. Ainda assim, os rumos de Cuba são imprevisíveis.
★ 13/08/1926 ✝ 25/11/2016 8 • Mundo
•Brasília, domingo, 27 de novembrode 2016 •
CORREIO BRAZILIENSE
UM LUGAR DE CABARÉS E GÂNGSTERES
AT É S E R TO M A D A P O R F I D E L , C U B A E R A C O M A N D A D A P E L O D I TA D O R F U L G Ê N C I O B AT I S TA . O S E U A M A N D AVA M E D E S M A N DAVA M , CO M O S E O PA Í S FO S S E U M G R A N D E B O R D E L » RENATO ALVES
Reprodução
A
té o grupo de insurgentes liderados por Fidel Castro tomar o poder em Cuba, o país vivia sob a ditadura de Fulgêncio Batista, líder da Revolução dos Sargentos. Considerado uma figura sinistra pelos revolucionários, ele dominou a vida política cubana por 25 anos. Sempre com o apoio dos Estados Unidos — que, para a pequena ilha vizinha, exportaram a cultura da jogatina e seus gângsteres. Nesse período, Cuba serviu como balneário de luxo para os ricos norte-americanos. O coronel Fulgêncio Batista foi o único que se mostrou capaz de colocar um pouco de ordem no caos em que a ilha se transformara durante o Pentagonato, o regime de transição que sucedeu a queda de Geraldo Machado, de agosto a outubro de 1933. Batista assegurou, pelas armas, a queda definitiva dos seguidores de Machado, forçado à renúncia em 4 de agosto de 1933. Deu também as garantias para tranquilizar os donos de engenhos norte-americanos. Controladores de 40% da terras, eles detinham 60% da venda do açúcar cubano, base da economia da ilha. Fiel aos princípios democráticos do presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt e da sua política da boa vizinhança, Batista, autopromovido a coronel e chefe do Estado Maior do Exército, passou a governar o país na sombra. Ele colocou na cadeira presidencial, até 1940, quatro homens que assinavam os papéis que ele lhes mandava. Quando estudante, o poeta Lezama Lima participou dos tumultos em Havana que levaram ao fim o governo de Machado. Mais tarde, registrou que a geração dele, dos anos 1930, imaginara ter entrado em uma ampla pradaria — mas que logo viu que tratava-se de um " labirinto derretido" no qual se viam "ilustres restos/cem cabeças, cornetas". Batista logo tratou de sufocar os anseios da juventude nacionalista e de quem desejava um governo transparente.
CASSINOS E BORDÉIS
MORADOR DE BRASÍLIA E PROFESSOR APOSENTADO DA UNB, O CUBANO TIRSO SAENZ FOI VICE-MINISTRO DE CHE GUEVARA: “HAVANA ERA UM PROSTÍBULO A CEU ABERTO”
Descendente de camponeses mestiços que se tornara sargento-telegrafista, Batista aproximou-se de Meyer Lansky, gângster norte-americano escondido na ilha. O chefão que ampliara os negócios do jogo e da droga para o sul dos Estados Unidos. Primeiro, para o estado da Flórida. Depois, para Las Vegas, no Texas. A jogatina em Cuba, até então, era mal vista devido à corrupção dos cassinos, que empurrou os turistas norte-americanos de Havana para Porto Rico. Com a ascensão de Batista, porém, os bordéis tomaram conta da ilha. InA TURMA DOS BARBUDOS: INSURGENTES COM APOIO DA POPULAÇÃO TOMAM O PODER dústrias cresciam em volta deles. Funcionários do governo recebiam gorjetas de empresários, e os policiais, proera corrupta, Fidel perdeu e começou a perceber que para Cuba vipina para a segurança privada dessas casas. Prostitutas eram ver um processo democrático deveria passar por uma revolução. vistas em qualquer esquina de Havana. Vagavam pelas ruas Batista deu uma licença para exploração de cassino para cada ou ficavam nas janelas de suas casas para atrair a clientela. hotel construído na ilha por mais de US$ 1 milhão. Os chefes maEm 1959, havia 100 mil prostitutas em Havana, segundo dafiosos migraram em massa para Havana. Entre eles, Frank Costedos oficiais. lo, Vito Genovese, Moe Dalitz e Santo Trafficante Jr.. Além de conNessa época, Tirso Saenz ocupava um alto cargo em uma indústrolarem os vícios lucrativos da capital cubana, eles repassaram a tria norte-americana de produtos de limpeza instalada em Havana. Batista o costume dos assassinatos. “Cansei de ver cadáver na rua "A cidade era um prostíbulo a céu aberto", lembra. Aos 85 anos, ele no caminho para casa ou trabalho”, conta Tirso Saenz. Doutor mora em Brasília. Professor aposentado da UnB, ele mantém uma em química, ele ocupou cargos de prestígio na Revolução casa na capital cubana, onde vivem os filhos e os netos. Cubana. Entre outros, o de vice-ministro de Che Guevara, no Quando Batista, depois de ter ficado ausente do controle direMinistério das Indústrias. to da ilha, entre 1944 e 1948 — estava em Daytona Beach, na FlóriEm meio ao cenário de terror, liderados por Fidel Castro, mais de da , onde tinha uma mansão bem perto do Quartel General de 120 guerrilheiros atacaram um quartel em Moncada, no interior da Lansky —, decidiu retomar as rédeas em Cuba, o domínio da máilha, em 26 de julho de 1953. A ação foi um desastre, mas simbolizou fia sobre a ilha chegou ao apogeu. Logo que derrubou o impopuo início do fim do regime ditador de direita. Com a impopularidade lar presidente Prío Socarras em 10 de maio de 1952, a pretexto de de Batista, na metade de 1958, os guerrilheiros controlavam as proevitar uma guerra civil, ele criou uma taxa de 30% sobre qualquer víncias orientais da ilha e, no fim do mesmo ano, levantes em Havaobra pública. O dinheiro arrecadado era depositado na conta corna forçaram a fuga do presidente para a República Dominicana. rente do seu ministro Andrés Domingo. Em 1º de janeiro de 1959 colunas guerrilheiras lideradas por ErNesse período, um jovem advogado, chamado Fidel Castro, abriu nesto Che Guevara e Camilo Cienfuegos entraram em Havana um processo contra o presidente Batista, alegando que o golpe de apoiadas pela população. Era o início da revolução cubana, a ditaestado havia ferido o Código de Defesa Social, mas como a justiça dura fidelista, para os norte-americanos.
PARA SABER MAIS
CUBA E OS ESTADOS UNIDOS Os Estados Unidos ocupam militarmente a ilha desde 1899, até ser publicada a primeira Constituição cubana, em 1902. Porém, o estado cubano emerge para a vida republicana com uma constituição tutelada pelos norte-americanos. Eles tiveram que aceitar a emenda Platt, espécie de apêndice constitucional composto de oito pontos onde se definem as relações entre Cuba e os Estados Unidos, sob a consigna de uma proteção à independência cubana e aos seus cidadãos. As ideias centrais da Emenda visam uma tutela por parte dos Estados Unidos, pois lhes dão direito de intervir em Cuba e de supervisionar a sua economia, além de ficar com uma parte da ilha para estabelecer uma base naval. O acordo determinou que o lugar fosse na província de Guantánamo. Cinco intervenções militares norte-americanas tiveram que fazer frente aos cubanos entre a entrada em vigor da Constituição em 1902 e a presidência do civil Ramón Grau, em 1933. Depois, duas longas ditaduras apoiadas pelo país do norte, a de Gerardo Machado desde 1925 e a de Fulgêncio Batista, que desde 1934 esteve manipulando a vida política desde os bastidores. Batista consegue se eleger Presidente em 1940 até 1944, mas em 1952 toma o poder e governa ditatorialmente até que é derrocado pelo processo revolucionário liderado por Fidel Castro em janeiro de 1959. Batista foge imediatamente para a República Dominicana.