País económico edição fevereiro 2017

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ECONOMIA DO MAR QUER AJUDAR PORTUGAL A AFIRMA-SE NO MUNDO

Nº 172 › Mensal › Janeiro 2017 › 2.20# (IVA incluído)

Ana Paula Vitorino Ministra do Mar

Rodrigo Rosa Presidente da OGMA

Paulo Venâncio Presidente da Cooperativa de Moura e Barrancos

Laskasas Mobiliário de luxo para o Mundo

Celso Lascasas, presidente da Laskasas, empresa de Rebordosa, concelho de Paredes, distingue-se pela produção de mobiliário de alto requinte que chega cada vez mais a todo o mundo. Exportação e decoração para hotelaria e restauração são os motores do crescimento sustentado desta empresa de mobiliário português. Janeiro 2017 | PAÍS €CONÓMICO › 1


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Ficha Técnica Propriedade

Editorial

Economipress – Edição de Publicações e Marketing, Lda.

Sócios com mais de 10% do capital social › Jorge Manuel Alegria

Contribuinte 506 047 415

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Uma resposta na língua portuguesa

Redacção › Manuel Gonçalves › Valdemar Bonacho › Jorge Alegria

Fotografia › Rui Rocha Reis

Grafismo & Paginação › António Afonso

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Direccção Administrativa e Financeira › Ana Leal Alegria (Directora)

Serviços Externos › António Emanuel

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A política global da nova Administração Trump nos Estados Unidos ameaça alterar substancialmente o quadro estratégico e de alianças com que o mundo viveu desde o pós II Guerra Mundial. É certo que ainda é cedo para fazer afirmações taxativas de que existem mudanças fundamentais no posicionamento americano no mundo, mas os sinais são substanciais de que muita coisa deverá mudar. Não sei se mudará para melhor. O mundo continua a ser um lugar perigoso, pelo que a necessidade de existirem países que possam contribuir decisivamente para a estabilidade internacional, constitui um elemento poderoso de que o planeta não pode prescindir. Sempre fomos dos que acreditam nas virtualidades do livre comércio, mas igualmente na estabilidade estratégica, incluindo na existência de regras positivas na liberdade de comerciar. Por exemplo, não basta os países integrarem a Organização Mundial de Comércio (OMC) e afirmarem que cumprem as regras que constam do seu estatuto. É preciso verificar de que cumprem mesmo e que respeitam os direitos das outras nações. Neste mundo volátil em que vivemos, afigura-se de importância acrescida que Portugal reforce substancialmente as suas relações com os restantes países de língua portuguesa. Como temos referido nesta coluna em edições anteriores, a circunstância de existirem países onde se fala o português que atravessam dificuldades económicas e financeiras circunstanciais, não deve impelir a um desligamento de Portugal e das empresas portuguesas desses países. Pelo contrário. A título de exemplo, a realização no final de Janeiro do II Fórum Empresarial Angola-Portugal, que se realizou em Luanda, por iniciativa da AEP – Associação Empresarial de Portugal, constituiu um sinal muito positivo e demonstrativo de que é preciso resgatar o pessimismo e as visões de curto prazo, antes afirmando que Portugal continua a ser muito importante para o desenvolvimento da economia e da sociedade angolana, o que também beneficia Portugal, naturalmente. Quando se vê, com naturalidade, o reforço do relacionamento anglo-saxónico entre os EUA e o Reino Unido, também se afigura essencial, independentemente da nossa tradição universalista, que deveremos sempre defender e aprofundar, que defendamos igualmente um reforço fundamental entre as economias e as sociedades que no mundo falam português. JORGE GONÇALVES ALEGRIA

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Índice Grande Entrevista Celso Laskasas é o presidente da empresa de produtora de mobiliário de luxo Laskasas, situada em Rebordosa, concelho de Paredes. Chegado da recente edição da Maison & Objet, que decorreu em Paris, onde o mobiliário da empresa se salientou pela extrema elegância e qualidade, a Laskasas acelera nas exportações bem como na produção de mobiliário para os segmentos da hotelaria e da restauração. Colocar a marca Laskasas como uma das grandes referências mundiais no segmento da alta qualidade do mobiliário internacional é a grande meta de um dos mais notáveis empreendedores da nova geração empresarial portuguesa.

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Ainda nesta edição…

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Grande Plano

Reunião anual das Câmaras de Comércio Portuguesas será em Paris Personal20 chegou aos EAU Porto de Belém terá novo projeto Mobiliário do Ceará quer design e know how português OGMA é um pilar do cluster aeronáutico em Portugal Mecachrome avança com fábrica em Évora Alentejo 2020 já tem projetos aprovados Portugal é acolhedor para os imigrantes Cooperativa de Moura e Barrancos é ícone no azeite em Portugal Casa Santos Jorge quer reunir toda a Herdade dos Machados PineFlavour investe 1,5 milhões de euros em Grândola Adega de Borba inova nos vinhos Vila Galé tem investimentos de 50 milhões em Portugal Mota-Engil ganha mais uma obra em Angola Vivafit abre 10º ginásio na Índia

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A Ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, anunciou ainda no final de Dezembro de 2016 a “Estratégia para o aumento da Competitividade Portuária 2017/2026”, onde pretende acelerar o desenvolvimento dos portos portugueses, com o Porto de Sines a ser a grande referência do sistema portuário nacional, mas também a modernizar a política da frota da marinha mercante portuguesa, bem como de todo o cluster marítimo e oceânico nacional. A revitalização da pesca também está entre as prioridades apontadas pelo governo e a PAÍS €CONÓMICO foi ouvir os projectos da Docapesca para as lotas e portos de pesca portugueses.

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› GRANDE PLANO

Ana Paula Vitorino, Ministra do Mar, apresentou “Estratégia para o aumento da competitividade Portuária” nos portos portugueses

Entre 2016 e 2026 portos querem aumentar 200% a carga movimentada

cadeia de valor da economia do mar e com um assinalável contributo para a internacionalização da economia portuguesa», sublinhou. Referindo o propósito que os portos portugueses possam criar nos próximos dez anos cerca de 12 mil postos de trabalho, a responsável pela pasta governamental do mar sublinhou que os objetivos estratégicos passam por “adequar infraestruturas e equipamentos ao aumento da dimensão dos navios e da procura e às ligações ao hinterland”, à “melhoria das condições de operacionalidade das unidades portuárias”, além de “criar nos portos plataformas de aceleração tecnológica e de novas competências”. No que respeita ao primeiro dos objetivos enunciados, as metas colocadas apontam para, no plano portuário, os investimentos sejam de 83% provenientes do setor privado, 11% do público e 6% de fundos comunitários. Por outro lado, esses investimentos visam aumentar em 200% a movimentação de contentores nos portos comerciais do continente. Finalmente pretende-se diminuir em 20% o tráfego rodoviário de ligação aos portos e aumentar o tráfego fluvial de mercadorias. No que respeita ao objetivo de criar nos portos plataformas de aceleração tecnológica, as metas previstas apontam no aumento de 50% o volume de negócios nas atividades conexas/transversais, criar condições para abastecimento de navios a GNL nos portos do continente até 2026, além de também aumentar em 50% o volume de negócios na indústria naval. Segundo a explanação de Ana Paula Vitorino em Sines, os principais investimentos previs-

tos nos portos nacionais do continente, serão fundamentalmente os seguintes: no Porto de Sines, a expansão do Terminal XXI (3ª fase) e a construção do novo Terminal de Contentores – Terminal Vasco da Gama; no Porto de Lisboa, a construção de um novo Terminal de Contentores no Barreiro, assegurar a navegabilidade do Tejo até Castanheira do Ribatejo, a construção de um novo Terminal de Cruzeiros (2ª fase), além de aumentar a eficiência do Terminal de Alcântara; no Porto de Leixões, construir um novo Terminal de Contentores (fundos a -14 m ZH), a reconversão do Terminal de Contentores Sul, e criar a Plataforma Multimodal Logística (Polos 1 e 2); no Porto de Aveiro, construir o Terminal Intermodal na Zona de Atividades Logísticas e Industriais, a Infraestruturação da Zona de Atividades Logísticas e Industriais e a implementação da Operacionalidade do Terminal de Granéis Líquidos; no Porto de Viana do Castelo, o aprofundamento do Canal de Navegação e a Melhoria do Acesso Rodoviário; no Porto da Figueira da Foz, a melhoria das acessibilidades marítimas e das infraestruturas e a melhoria da segurança e operacionalidade na entrada do Porto; no Porto de Setúbal, está prevista a melhoria das Acessibilidades Marítimas; no Porto de Portimão, a melhoria das Acessibilidades Marítimas e Infraestruturas Marítimas. Os investimentos previstos neste vasto plano poderão ascender aos 2,1 mil milhões de euros, podendo mesmo atingir os 2,5 mil milhões de euros com a construção da segunda fase do Terminal Vasco da Gama, no Porto de Sines. ‹

Os portos portugueses aumentaram a carga movimentada nos últimos 10 anos em cerca de 180%, mas a Ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, quer mais para os próximos dez anos e coloca a tónica no objetivo de chegar aos 200% no aumento da carga movimentada nos portos portugueses até 2026. Para o efeito, além de investimentos na melhoria tecnológica e na eficiência da gestão, estão previstos novos investimentos, incluindo em novos terminais portuários, que ascenderão neste período a cerca de 2,1 mil milhões de euros.

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TEXTO › JORGE ALEGRIA

| FOTOGRAFIA › CEDIDAS PELA APS

ntre 2006 e 2016, a carga movimentada contentorizada nos portos portugueses subiu cerca de 175%, mas os objectivos da Ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, para o ciclo dos próximos dez anos – 2016-2016 – passa por acelerar esse crescimento na movimentação portuária nacional em cerca de 200 por cento. Discursando no porto de Sines na cerimónia de apresentação da “Estratégia para o aumento da competitividade Portuária” para

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o período de 2016 a 2026, a Ministra do Mar pretende que os portos nacionais possam ir mais além nas suas ambições e referiu que «os portos nacionais deverão maximizar as vantagens euro-atlânticas de Portugal, transformando-se em hubs para conseguirem captar novas mercadorias, mais investimentos e novas tecnologias». Ana Paula Vitorino referiu que «Portugal poderá constituir um importante pólo logístico na Europa e devidamente interligado na

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› GRANDE PLANO

Notícias Portuárias Porto de Sines bateu record de movimentação em 2016

51 milhões de toneladas ultrapassadas Após anos a bater sucessivos records, o ano de 2016 marcou uma nova etapa no Porto de Sines, com a ultrapassagem dos 51 milhões de toneladas movimentadas no principal porto português, uma variação positiva de 16,4% face ao período homólogo. Com todos os terminais a crescer, o especial foi para o Terminal de Contentores,

com um crescimento homólogo de 25%, para um total de 20,6 milhões de toneladas, 4 milhões de toneladas a mais do que em 2015. O Terminal de Granéis Líquidas foi o segundo em termos de evolução positivo, com um crescimento de 15,6% face ao ano anterior, mais 3 milhões de toneladas movimentadas do que em 2015.

Ainda na carga contentorizada, no que diz respeito ao volume de TEU, Sines ultrapassou a barreira de 1,5 M TEU, com um total de 1,513M TEU, correspondendo a uma variação homóloga de 13,6%. Finalmente, em 2016, escalaram Sines 2.422 navios, mais 235 mais que em 2015, o que corresponde a um crescimento de 10,7%. ‹

Ministra do Mar projecta crescimento de 60% para o Porto de Setúbal A Ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, esteve em Setúbal para a apresentação da “Estratégia para o aumento da Competitividade Portuária 2017/2026” para o Porto de Setúbal. No quadro da

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“Estratégia para o aumento da Competitividade Portuária” a nível nacional que tinha sido apresentado no final do ano passado em Sines, a responsável pela pasta do mar no governo, referiu, relativamente ao Porto de Setúbal, que se projeta um crescimento de 50% no período entre 2017 e 2026, para o qual contribuirão os investimentos nas acessibilidades marítimas (25,2 milhões de euros) e das acessibilidades ferroviárias (5,5 milhões de euros). A par destes e outros investimentos, destacou a sintonia existente entre o Governo, a APSS e a Câmara de Setúbal para a construção de uma nova marina em Setúbal. Lídia Sequeira, presidente da APSS, a respeito do projeto “Melhoria dos acessos marítimos ao Porto de Setúbal”, deu a conhecer que os trabalhos irão arrancar previsivelmente ainda em 2017, e que vai numa primeira fase aprofundar os canais de acesso da barra e área central do porto, permitindo a receção a navios de 3.000 a 4.000 TEU. A deposição de dragados, a nascente do terminal Ro-Ro Coelho da Mora/Autoeuropa, irá possibilitar no futuro mais 18 há de terrapleno. ‹

Lisboa voltou a liderar cruzeiros O Porto de Lisboa voltou a liderar o movimento de passageiros de cruzeiros em 2016, terminando o ano com um total de 522.497 passageiros, enquanto pelo Porto do Funchal passaram 520.176 passageiros. Desde 2009, é o terceiro ano em que Lisboa conseguiu ultrapassar o porto madeirense, o que também aconteceu em 2013 e 2014. O crescimento de Lisboa neste segmento foi de 2% face a 2015, tendo para o efeito contribuído os 311 navios de cruzeiros que fizeram escala na capital portuguesa. Porto do Funchal Todavia, o Porto do Funchal informou que aos 520.176 passageiros provenientes dos 294 navios que aportaram ao cais funchalense, é preciso juntar os 204.378 tripulantes, perfazendo dessa forma um total de 724.550 pessoas. Foram sobretudo os ingleses e alemães que mais passaram pelo Porto do Funchal. Já em 2015, pelo Porto do Funchal passaram 580 mil passageiros, provenientes de 312 paquetes, contribuindo para que o porto insular fosse nesse ano o 13º mais movimentado na Europa em termos de cruzeiros. Porto de Leixões O Porto de leixões já tem confirmadas 107 escalas de navios de cruzeiros para 2017, o que representará um crescimento de 27% face a 2016, esperando que passem pelo novo e moderno terminal portuário cerca de 105 mil passageiros, igualmente um aumento de 46% face ao ano anterior. De referi que em 2016, passaram pelo principal porto do norte do país um total de 84 cruzeiros, com a demanda de 71.799 passageiros. Dos dados apontados para 2017 destaque para a chegada de 14 novos navios de cruzeiros e duas novas companhias, com destaque para a Royal Carabbean International. Portos de Portimão e Faro A Ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, anunciou recentemente que serão investidos cerca de 30 milhões de euros nos portos

comerciais de Portimão e de Faro, passando também aquelas estruturas portuárias a ser geridas por uma nova entidade (Portos do Algarve), que também passará a gerir os portos de recreio na região. Porto de Tavira Requalificar e regularizar a dragagem de entrada, junto ao molhe nascente, na barra de Tavira, bem como requalificar a lota desta cidade do Sotavento algarvio, assim como dragar a zona de acostagem de barcos, constituem alguns projectos previstos para avançarem junto ao rio Gilão. No total, os investimentos em Tavira ascenderão a cerca de dois milhões de euros. Porto da Figueira da Foz O Porto Comercial da Figueira da Foz fechou 2016 com 2.07 milhões de toneladas de cargas movimentadas, o terceiro melhor resultado de sempre, o que permitiu um aumento de 3,5% em relação ao ano anterior. Porto de Ponta Delgada Começaram os preparativos para o reforço do manto de protecção do molhe principal do porto de Ponta Delgada, tendo começado a ser instalados os estaleiros da obra, bem como já foram feitas as encomendas dos moldes para fabrico de peças e a mobilização de equipamentos. Porto de Sines O ministro do Planeamento e Infraestruturas, Pedro Marques, anunciou que o governo vai lançar os trabalhos de reabilitação das linhas ferroviárias de ligação entre o Porto de Sines e a fronteira do Caia (Elvas). O projecto conta com o apoio de fundos comunitários e arrancará com um investimento de 18,5 milhões de euros na requalificação da linha ferroviária entre Elvas e a fronteira do Caia, numa extensão de nove quilómetros. ‹

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› GRANDE PLANO Teresa Coelho, Presidente da DOCAPESCA – Portos e Lotas, SA

«Vamos continuar a valorizar o nosso pescado» Em entrevista que concedeu à PAÍS €CONÓMICO, Teresa Coelho, presidente do Conselho de Administração da Docapesca – Portos e Lotas, SA salientou que tendo Portugal o melhor peixe do Mundo «temos que continuar a valorizar o nosso pescado e contribuir para aumentar as nossas exportações». Teresa Coelho referiu também que «temos condições para o fazer e a Docapesca apresenta-se como a parceira ideal para a

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concretização desse objetivo que visa essencialmente transferir valor para o setor». TEXTO › VALDEMAR BONACHO | FOTOGRAFIA › RUI ROCHA REIS

eresa Coelho fez questão de sublinhar que a Docapesca no caso da Pesca, estará sempre ao lado do setor para contribuir para a promoção do pescado português e que no que concerne à Náutica de Recreio a entidade a que preside tem vindo a realizar estudos que visam contribuir para a melhoria deste importante segmento de atividade. «Agora em relação aos portos de pesca, não pouparemos esforços para melhorarmos a qualidade das lotas e dos portos de pesca, porque sabemos que havendo uma melhor qualidade a este nível a Docapesca estará a contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos nossos pescadores, armadores e comerciantes», chamou a atenção a presidente da Docapesca, que no arranque desta entrevista faria uma breve introdução sobre os passos que conduziram à criação desta entidade. A criação da Docapesca «Em 1990, através do Decreto-Lei 107/90, de 27 de Março foi constituída a Docapesca – Portos e Lotas, SA, sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos, que resultou da fusão da Docapesca, SA com o Serviço de Lotas e Vendagem (SLV)», salienta Teresa Coelho, esclarecendo que a Docapesca presta a primeira venda de pescado fresco, e que «desde 1990 que tinha esse objeto principal». Entretanto, adiantou Teresa Coelho, «Em 2012 deu-se a extinção do IPTM – Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos, e as competências desta entidade que regulava, fiscalizava e exercia funções de coordenação e planeamento do setor marítimo-portuário, foram transferidos para o IMP – Instituto de Mobilidade e Transportes, DGRM – Direção-Geral dos Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos e para a Docapesca», ajudou a esclarecer a nossa entrevistada. Em 2014 com a publicação da transferência da jurisdição do IPTM, IP para a Docapesca, a empresa passou, também, a desempenhar funções de autoridade portuária.

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Para além de ter um peso substancial no que se refere à prestação de serviços de primeira venda de pescado em regime de exclusividade em todo o território continental português, a Docapesca presta igualmente um conjunto de serviços de apoio a Armadores, Pescadores, Comerciantes e outros, dos quais se salientam o aluguer de armazéns para comerciantes e armadores, mercados de segunda venda, venda de gelo e combustível. «Gerimos portos desde Vila Praia de Âncora a Vila Real de Santo António, em estreita articulação com as autarquias e entidades locais, 22 lotas com controlo veterinário, 37 postos de vendagem de pequena dimensão distribuídos por comunidades piscatórias, e ao nível da Náutica de Recreio a empresa dispõe atualmente de 14 infraestruturas na sua área de jurisdição que representam 4.477 lugares de amarração, ou seja, 34,1% da oferta total nacional, 44,3% da oferta em Portugal continental e 93,4% da oferta no Algarve», referiu Teresa Coelho, que aproveitaria para lembrar que a Docapesca tem vindo a desenvolver a sua atividade em todas as suas vertentes, «sendo que a principal fonte de receitas da Docapesca continua a ser a primeira venda de pescado fresco», disse. Em todas as áreas, a empresa procura uma gestão de proximidade e em estreita articulação com os Municípios. Segurança Alimentar é questão séria Teresa Coelho referiu também que o Conselho de Administração da Docapesca iniciou uma estratégia de modernização a nível das suas infra-estruturas, «para que a empresa garanta cada vez melhores condições higio-sanitárias, cumpra os princípios do HACCP, procedimento que foi implementado gradualmente e tem vindo a ser melhorado». «Também temos as lotas de Peniche e Figueira da Foz em processo de certificação no âmbito da norma ISO 22000, até porque a Segurança Alimentar é uma área que nos preocupa e na qual a empresa está empenhada em continuar a investir. Os objetivos

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› GRANDE PLANO estratégicos da Docapesca advêm da estratégia que a Senhora Ministra do Mar definiu, e o nível de exigência para o cumprimento dessa estratégia é elevado», sublinhou a presidente da Docapesca, para a propósito dizer ainda que com estes procedimentos «tentamos contribuir de uma forma cada vez mais efetiva para o aumento da economia do mar». Em perfeita sintonia com o Ministério do Mar Nas suas mais diversas intervenções a Ministra do Mar tem chamado a atenção para a importância que a pesca tem não só na economia do mar como também no desenvolvimento da economia nacional. Teresa Coelho disponibilizou-se para um breve comentário nesta matéria. «Isso é um facto. O que temos ouvido da Senhora Ministra é que está empenhada em desenvolver os setores emergentes, mas sem nunca esquecer as atividades tradicionais. O que se pretende, portanto, é uma compatibilização entre as atividades tradicionais e as atividades emergentes de forma ponderada e harmoniosa», referiu. Segundo a presidente Teresa Coelho, «todas as ações da Docapesca visam a modernização de todos os setores a seu cargo. Tentamos contribuir para a modernização dos processos e, para isso, temos vindo a fazer ações de formação junto dos nossos trabalhadores, mais de 470, e das comunidades piscatórias. Temos tentado mudar o paradigma da formação que existia na empresa e um esforço de racionalização dos Recursos Humanos, com o objetivo de qualificação dos nossos quadros.», resumiu a presidente da Docapesca. Esforço de modernização nas lotas portuguesas Teresa Coelho fez questão de sublinhar o esforço de modernização que tem vindo a ser feito ao nível das 22 lotas geridas pela Docapesca. «Todas as lotas têm número de controlo veterinário, todas elas têm um sistema de venda eletrónico, 5 com sistema de venda de leilão online, projetos de modernização e inovação tecnológica. Mas em todas as lotas tem sido feito um grande esforço de requalificação e, por outro lado, temos vindo a fazer intervenções nos portos para que os pescadores tenham melhores condições de desembarque, e um esforço para que os projetos em curso sirvam as comunidades locais e, neste contexto, devemos salientar a boa colaboração que temos recebido das autarquias locais». Plano de Investimentos Ambicioso A Docapesca tem 6 delegações: Norte, Matosinhos, Centro Norte, Centro, Centro Sul e Algarve pelas quais de distribuem as 22 lotas geridas pela empresa. Este esforço de modernização que tem ocorrido nas lotas portuguesas é para continuar? Teresa Coelho diz que sim. «A Docapesca tem um Plano de Investimentos Específicos, que durará entre 2017 e 2020 e terá de ser aprovado pelo acionista na Assembleia

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Geral que ocorre em Março. Trata-se de um plano que visa requalificar as infra-estruturas de Norte a Sul. E estamos a falar de investimentos significativos. Para 2017 estão previstos investimentos superiores a 6 milhões de euros», sublinhou a presidente da Docapesca. Ainda no que concerne aos investimentos da Docapesca para 2017, Teresa Coelho fez questão de se referir a um projeto para Tavira que ocorrerá em 2017 e que representará um investimento da 1 milhão de euros. «Esse projeto inclui a drenagem do canal de acesso ao cais de descarga (Rio Gilão), o reordenamento do cais e instalação de plataformas flutuantes para descarga de pescado e estacionamento

de embarcações, assim como a requalificação do edifício da Lota de Tavira, para melhor enquadramento com a remodelação do Mercado Municipal, recentemente recuperado pela Câmara Municipal de Tavira», destacou Teresa Coelho, para acrescentar que este projeto foi submetido a uma candidatura para financiamento no âmbito do Programa Operacional “MAR 2020”, a qual já foi aprovada no final de 2016, prevendo-se que os concursos públicos para as diferentes empreitadas sejam lançados pela Docapesca, no primeiro trimestre de 2017. A Docapesca tem também sob sua jurisdição 29 estaleiros de reparações ou construção naval que, no entender de Teresa Coe-

lho constituem uma «atividade fulcral» quer para a Pesca, quer para a Náutica de Recreio e que têm beneficiado de bons investimentos. Ainda no contexto do seu desenvolvimento sustentável e inovação, Teresa Coelho destacou o projeto CCL – Comprovativo de Compre em Lota, cuja etiqueta identifica o pescado fresco das lotas portuguesas nos pontos de venda ao público, quer no pequeno retalho, quer na grande distribuição sob o lema “É DA LOTA, É DE CONFIANÇA“ e ainda as inúmeras sessões de valorização de espécies como a cavala, o carapau e o polvo, que a Docapesca vem realizando desde 2012. ‹

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› NOTICIÁRIO

Carlos Vinhas Pereira, Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Franco Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República Portuguesa, e Bruno Bobone, Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa

VI Encontro das Câmaras de Comércio Portuguesas em Paris

Personal20 chega aos Emirados Árabes Unidos

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Abu Dhabi e Dubai são os dois emirados dos Emirados Árabes Unidos (EAU) onde o Personal20, conceito nacional de Electro Fitness, vai ter novos espaços já a partir de Abril do presente ano, sendo um Masterfranchising no primeiro caso e um sub-franchisado no segundo. Os dois contratos foram assinados na residência do embaixador português nos EAU, Joaquim de Moreira de Lemos, tendo estado presentes Pedro Ruiz, fundador da Personal20, os parceiros locais e vários interessados em assinar contratos de franchising da Personal20 e da Vivafit para os EAU, Bahrain, Kuwait, Líbano, Jordânia e para o canadá. O parceiro Master, que representa os sete Emirados dos EAU, é omanita, Shuaib Al Suleimani, filho de um dos maiores empresários do Dubai. Já o sub-franchisado em Abu Dhabi é uma arquitecta iraquiana, Jwan Munir, residente de longa data em Abu Dhabi. ‹

Capital francesa acolherá câmaras portuguesas aris acolherá nos dias 23 e 24 de março o VI Encontro das Câmaras de Comércio Portuguesas no Exterior, reunião anual que congrega todas as câmaras de comércio portuguesas fora de Portugal, e que alternadamente se realiza em Portugal e num país estrangeiro. Este ano, depois do evento já se ter realizado no Rio de Janeiro e em Nova Iorque, caberá a Paris receber as câmaras que apoiam as entidades portuguesas no comércio e nos investimentos em muitos países além-fronteiras. O Encontro é uma iniciativa da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP), sendo a reunião de dois dias em Paris organizada sob a égide da Câmara de Comércio e Indústria Franco Portuguesa, liderada por Carlos Vinhas Pereira. O primeiro dia será para uma reunião de trabalho que durará todo o dia, enquanto o segundo dia será essencialmente dedicado a visitar empresas de renome na região parisiense. No decorrer da reunião em Paris, serão entregues os prémios Câmara de Comércio Portuguesa 2016 e Câmara de Comércio Portuguesa Revelação 2016. ‹

Embaixador português em Pequim ganha prémio O embaixador português em Pequim (China), Jorge Torres Pereira, venceu o prémio “Diplomacia Económico do Ano”, atribuído pelo “salto qualitativo evidente”, nomeadamente no turismo e investimento, no que concerne às relações entre Portugal e a China. O prémio foi atribuído pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP), tendo o diplomata português, que no próximo mês cumpre quatro anos de mandato como embaixador em Pequim, sublinhado no momento em que recebeu o prémio que «há um maior conhecimento do que é o mercado chinês para as

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audiências portuguesas e da importância do mercado português para os chineses. Este aumento de atenção em relação ao outro é a base para as coisas decorrerem desta forma dinâmica», salientou Jorge Torres Pereira. Ainda segundo este diplomata, «existem importantes indicadores do aumento do turismo, da aquisição de imobiliário em Portugal e a ideia cada vez mais premente de se estabelecer uma ligação aérea direta entre os dois países, prevista a partir de Junho deste ano». ‹

Corticeira Amorim no Qatar

Missão Empresarial aos EAU

A nova solução para relvados naturais da Corticeira Amorim, já instalada em quatro relvados utilizados no Euro 2016, em França, além dos campos de treinos do Real Madrid e do Arsenal, vai ser igualmente aplicada em dois estádios que vão receber jogos do Mundial de 2022 que será realizado no Qatar. Trata-se da tecnologia AirFibr, solução desenvolvida pela Amorim Isolamentos, em parceria com a Natural Grass, e que incorpora cortiça, relva natural e microfibras sintéticas, no que resulta um “relvado mais resistente” e que «reduz o impacto da queda dos jogadores em cerca de 40%», referiu recentemente António Rios Amorim, presidente da Corticeira Amorim. ‹

No início de Dezembro, por iniciativa da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP) decorreu uma missão empresarial portuguesa aos Emirados Árabes Unidos, na qual contou com a parceria do Portuguese Business Council. Durante a missão, os empresários portugueses puderam contactar com diversos potenciais parceiros dos EAU, país considerado dos mais importantes para garantir uma presença empresarial mais alargada na zona do Golfo Arábico. Por outro lado, parte amanhã (4 de Fevereiro) para o México uma missão empresarial portuguesa, igualmente sob a égide da CCIP, e que será liderada pelo vice-presidente deste organismo, Paulo Portas. O México é actualmente a 15ª maior economia mundial e têm nos sectores da construção, decoração, tecnologias de informação, têxtil, energia, financeiro, I&D e turismo, aqueles que são mais promissores para as empresas portuguesas. ‹

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› GRANDE ENTREVISTA Celso Lascasas, Fundador e Presidente da Laskasas, um dos principais produtores de mobiliário de luxo em Portugal

Laskasas leva mobiliário de luxo português ao Mundo Celso Lascasas foi o fundador e é o presidente da Laskasas, a empresa de mobiliário de Rebordosa, concelho de Paredes, que constitui presentemente um dos maiores ícones da produção de mobiliário de luxo em Portugal. Começou a trabalhar com 14 anos na indústria, mas foi há 12 anos que decidiu empreender por conta própria e tornar-se empresário. Fundou então a Laskasas, que evoluiu para um grupo que além da fábrica da produção de mobiliário, inclui também unidades de fabrico de estofos e uma serralharia. Apostar cada vez mais na exportação, que valeu no ano passado 23% do volume de negócios do grupo, e que deverá subir para os 35% em 2017, «sem esquecer o mercado nacional», é a principal via para o crescimento da Laskasas, sem prejuízo da contínua aposta na área do contract, ou seja, da criação de soluções de mobiliário para a área da hotelaria e da restauração, onde avultam os trabalhos que a Laskasas têm realizado para

D

o Grupo Vila Galé em Portugal, e que se poderão estender brevemente ao Brasil. TEXTO › JORGE ALEGRIA | FOTOGRAFIA › RUI ROCHA REIS

esde muito novo, mais precisamente desde os 14 anos de idade, Celso Lascasas viveu e trabalhou no mundo dos móveis. É este o principal sector de actividade do concelho de Paredes e da própria freguesia de Rebordosa, onde hoje se ergue uma das suas mais emblemáticas marcas produtoras de mobiliário contemporâneos elegantes e de qualidade. Há doze anos, Celso Lascasas decidiu empreender por conta própria e fundou a Laskasas, um nome apelativo para os consumidores e para o mercado global a que aspirava aceder. Falando das suas origens, recorda que «desde os meus 14 anos, quando comecei a trabalhar no sector do mobiliário. Sempre gostei do pó, dos moldes, de trabalhar o próprio móvel. No fundo nasci na produção dos móveis e é ainda aí que me sinto na ‘minha praia’. Mas, a vontade de enveredar por uma carreira empresa-

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rial constituiu um apelo muito forte e há 12 anos decidi dar esse passo. Como não tinha grandes recursos, decidi entrar pelo segmento da revenda, ou seja, comprava móveis a outros fabricantes e depois na nossa primeira loja, em Ermesinde, no concelho de Valongo, vendíamos ao consumidor final. O nosso foco sempre foi o consumidor final, e não foi por acaso que neste trajecto de crescimento que temos empreendido ao longo dos anos que levamos de actividade com a Laskasas, fomos investindo na abertura de lojas em vários pontos do nosso país, e no presente detemos 10 lojas em Portugal, a que acresce a que lançámos também em Luanda, a capital de Angola», lembra Celso Lascasas. Da revenda de móveis para a indústria de mobiliário Esse crescimento no ritmo de aberturas de lojas próprias e, consequentemente, na

afirmação da marca Laskasas no mercado português, levou o seu fundador a decidir já no final da década passada, a entrar também na área industrial criando uma unidade de produção de estofos. «Realmente, uns três ou quatro anos depois do nosso início de actividade, então dirigido essencialmente à revenda do mobiliário que adquiríamos aos fabricantes, tomámos a decisão de alugar um armazém e aí instalar uma unidade industrial de fabrico de estofos. Mais tarde, talvez outros três anos depois avançámos para a própria produção de mobiliário nesta unidade industrial de Rebordosa onde ocorre esta entrevista à País €conómico, e já no ano passado decidimos criar uma terceira unidade industrial, no sector da metalomecânica, com a instalação de uma serralharia, tendo por objectivo principal servir as actividades desenvolvidas pelas empresas do nosso grupo. No fundo, e analisando o

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› GRANDE ENTREVISTA nosso core business, entendemos das vantagens da verticalização do negócio e em deter as várias vertentes que nos possibilitam controlar todas as fases de produção do mobiliário e das soluções de mobiliário que produzimos para os nossos clientes», assegurou Celso Lascasas. Exportação e área de contract como alternativas à crise No entanto, como recorda, «a crise económica que assolou o nosso país e que teve um forte impacto nos anos de 2011/2012, também nos afectou e as nossas lojas em Portugal já não conseguiam escoar todo o mobiliário que então produzíamos. Analisámos a situação e tomámos opções de quais os caminhos a seguir não apenas para superar a crise, mas para continuarmos a desenvolver e a crescer. A aposta na exportação foi um passo óbvio, o outro foi a aposta na área do contract, ou seja, mobilando os ambientes idealizados por clientes na área da hotelaria», sublinha o empresário de Rebordosa. O Grupo Vila Galé tem sido o principal cliente das Laskasas na área do contract. A empresa foi a entidade escolhida pelo segundo maior grupo hoteleiro português para desenvolver os elementos de decoração para o emblemático Hotel Vila Galé Palácio dos Arcos, em Paço de Arcos a única unidade de cinco estrelas que o grupo liderado por Jorge Rebelo de Almeida possui em Portugal. Além dessa unidade, a Laskasas trabalhou também com o Hotel Vila Galé Évora, inaugurado em abril de 2015, «além de termos igualmente participado em projectos de remodelação que o grupo levou a efeito em várias das unidades Vila Galé em Portugal», salientou Celso Lascasas. Questionado sobre se também já tinha fornecido alguma unidade da Vila Galé no Brasil, o empresário confirmou que a Laskasas forneceu cadeirões para o Hotel Vila Galé Rio de Janeiro, «além de ainda recentemente nos ter sido solicitada a cotação para soluções para um hotel com 400 quartos que o grupo vai construir próximo da cidade brasileira de Natal (n.d.r. será o Hotel Vila Galé Touros, a construir

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brevemente no estado brasileiro do Rio Grande do Norte). Mas, se esta área da actividade da Laskasas é cada vez mais estratégica para o grupo liderado por Celso Lascasas, é no rigor e qualidade do mobiliário produzido que se centra a aposta presente e futura. Exportações aumentam peso nos negócios do grupo Em 2016, o Grupo Laskasas facturou cerca de nove milhões de euros, dos quais as exportações representaram cerca de 23%. Países como a França, Espanha, Angola, Inglaterra, Chipre, Canadá, Roménia e a Arábia Saudita, são os mercados mais importantes da empresa, mas a marca Laskasas pretende chegar a outros locais do mundo e constituir cada vez mais um actor global no mercado do mobiliário de alta qualidade e no lifestyle de luxo. «O

nosso objectivo é de atingir pelo menos os 35% da nossa facturação este ano em resultado das exportações. Estimamos que o total vai continuar a subir e que se deverá situar entre os dez e os onze milhões de euros, e referimos esse número porque acreditamos que o mercado nacional também vai desenvolver-se e crescer», referiu o empresário. A recente presença da Laskasas numa das mais tradicionais e importantes feiras do sector a nível mundial, a Maison & Objet, reforçou indiscutivelmente a imagem de inovação e vontade de surpreender que a marca já demonstra no presente no mercado mundial do mobiliário. Celso Lascasas é cauteloso quando refere que «ainda estamos muito longe dos níveis que desejamos, mas não temos dúvidas de que pretendemos colocar a marca Laskasas como um ícone do mobiliário de alta qualidade

produzido internacionalmente, mas ainda falta um caminho para lá chegar em termos de reconhecimento externo». Por isso, adianta Celso Laskasas, «temos de continuar todos os dias a criar e a inovar, a projectar produtos e soluções novas para os mais exigentes mercados, mas temos igualmente de continuar a aprofundar a nossa capacidade de dar a conhecer a marca Laskasas, em todo o mundo. Criar, inovar e promover exigem muitos recursos, nomeadamente financeiros, mas consideramos que apenas prosseguindo nesse caminho poderemos progredir na afirmação da empresa e da marca globalmente», enfatizou Celso Lascasas. Uma cultura de exigência e responsabilidade O Grupo Laskasas fechou o ano de 2016 com um quadro de 165 colaboradores,

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› GRANDE ENTREVISTA

na sua grande maioria altamente especializados para responder aos elevados padrões da Laskasas. Mas, com a ambição de crescimento da empresa, Celso Lascasas espera que este ano o grupo possa globalmente empregar mais de 180 pessoas.

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«Aqui, no Grupo Laskasas, damos muita importância ao desempenho das pessoas, respeitando naturalmente os seus direitos, mas sempre com uma elevada cultura de responsabilidade. Se a empresa atingir os seus objectivos de crescimento, todos

seremos beneficiados, mas para isso todos temos de nos empenhar e contribuir para atingirmos os altos objectivos da empresa. Estou certo de que assim vai acontecer», finaliza o fundador da Laskasas. ‹

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› LUSOFONIA › Brasil

EDP Brasil leva eficiência energética aos hotéis no Sauípe

Belém Porto Futuro

Primeiro Spa de Ilhéus A EDP Brasil e a Costa do Sauípe celebraram os resultados de uma parceria firmada para o aperfeiçoamento da eficiência energética em dois hotéis do destino que fica no estado brasileiro da Bahia. A eléctrica, que atua nas áreas de geração, distribuição, comercialização e soluções de energia, modernizou toda a estrutura de refrigeração dos empreendimentos, substituindo equipamentos antigos por outros mais modernos e eficientes, o que acarretou na simplificação do sistema. Segundo Fernando Saliba, da EDP Brasil, «hoje, parte da Costa do Sauípe conta com os benefícios da implantação de um projecto moderno e eficiente, o que já se reflecte no bem-estar dos hóspedes», adiantando ainda que «trata-se de um modelo que também pode ser replicado em outras redes do sector hoteleiro ou em outros segmentos da indústria e do comércio». O resultado representa uma economia anual de 1,176 milhões de reais para a Costa do Sauípe. O investimento realizado foi financiado em parte pela EDP Brasil e pela Costa do Sauípe. ‹

Esfoliação com nibs de cacau e café, seguida de banho terapêutico de canela e finalizado com massagem relaxante com manteiga de cacau, além de outras possibilidades de bem-estar e relaxamento, eis os principais ingredientes oferecidos pelo Meu Querido Spa, o primeiro estabelecimento desse tipo em Ilhéus, no sul da Bahia, região famosa pelo cultivo do fruto, e que atravessa um período de forte renovação com a produção de cacau seleccionado e chocolate fino. O Meu Querido Spa é um investimento da bióloga Ana Paula Uetanabaro, e desenvolve-se num espaço rústico e tranquilo, montado numa casa próxima à praia, dispondo de mais de 20 tipos de terapias corporais. Para além das terapias usadas no Meu Querido Spa, existem pacotes com opções para visitar a Ilhéus, cidade imortalizada por Jorge Amado e pela novela “Gabriela, Cravo e Canela”. ‹

Chineses avançam para a Ponte Salvador-Itaparica A China Road and Bridge Corporation, estatal chinesa da área da construção, reuniu-se em Salvador com o Governador da Bahia, Rui Costa, para firmar um protoloco de intenções visando estudar durante seis meses o projecto arquitectónico e ambiental da Ponte Salvador-Itaparica, período a partir do qual a empresa chinesa indicará a sua projecção do valor do custo da obra e se estará então interessada em avançar com o investimento, actualmente estimado em cerca de 7 biliões de reais (2,052 biliões de euros). Presente também na reunião com os representantes chineses esteve o Vice-Governador e Secretário do Planejamento, João Leão, que aproveitou para referir que «hoje é um dia histórico para o estado da Bahia. Assinamos um protocolo com uma das maiores empresas do mundo, no intuito de construir a ponte Salvador-Itaparica, além da duplicação dos trechos que ligam Bom Despacho até Santo António de Jesus e Nazaré até Valença. O objectivo é levar um grande desenvolvimento para essa região». ‹

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O Ministro da Integração Nacional do governo brasileiro, Hélder Barbalho, esteve recentemente em Belém, onde apresentou à comunidade paraense o Projeto Belém Porto Futuro, que tem como objetivo renovar e recuperar o espaço portuário da capital do estado do Pará, fundada pelos portugueses há 401 anos, e que compreenderá uma área de dois quilómetros pertencentes à Companhia Docas do Pará. Segundo o ministro brasileiro, o projeto constituirá uma grande intervenção urbana e turística, que vai beneficiar a população e os visitantes de Belém, onde «nesse espaço vamos construir uma área com praças, feira, centros de arte e cultura, estacionamento e um novo Museu do Círio», sublinhou Hélder Barbalho. As obras terão início no segundo semestre do presente ano, e ainda segundo o ministro da Integração Nacional «já estamos com recursos garantidos, e quem vai ganhar com isso é a nossa cidade», em que o projeto está orçado em 150 milhões de reais (cerca de 44 milhões de euros). Aproveitando a sua presença em Belém, Hélder Barbalho garantiu também o recomeço das obras da Ferrovia Transnordestina em 2017, com um percurso de 1.728 quilómetros interligando os estados do Ceará, Piauí e Pernambuco aos portos de Suape (PE) e Pecém (CE). ‹

Helder Barbalho, Ministro da Integração Nacional, apresenta projeto em Belém

Recuperação do Museu da Língua Portuguesa começou As obras de recuperação do Museu da Língua Portuguesa, instalado na Estação da Luz, em São Paulo, começaram em dezembro do ano passado, depois de uma parte do edifício ter sido atingido por um incêndio no final de 2015. O investimento na reconstrução do museu atingirá cerca de 65 milhões de reais (cerca de 19,1 milhões de euros), para o qual o

principal contribuinte privado será a EDP Brasil com 20 milhões de reais (cerca de 5,87 milhões de euros). O Museu da Língua Portuguesa foi originariamente inaugurado em 2006, e durante dez anos recebeu cerca de quatro milhões de visitantes, tornando-se um dos principais museus de São Paulo. ‹

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› LUSOFONIA › Brasil Júnior Osterno, Presidente do Sindicato das Indústrias Moveleiras do Ceará (Sindmóveis)

Queremos de Portugal a qualidade do seu design e know how Por iniciativa da Câmara de Comércio Brasil-Portugal no Ceará, deverá decorrer no primeiro semestre deste ano uma missão empresarial da indústria do mobiliário do Ceará a Portugal. Em entrevista exclusiva à País Económico, Júnior Osterno, presidente do Sindicato das Indústrias Moveleiras do Ceará (Sindmóveis), sublinha que as indústrias do seu sector, que já são cerca de quatro centenas no Ceará, pretendem procurar em Portugal sobretudo aprender com o desenvolvido design e know how que reconhece existir do lado de cá do Atlântico. O líder dos industriais de mobiliário cearense sublinha também que o Brasil é um grande mercado na área do mobiliário para quem pretende investir no país, e que o Ceará dispõe de excelentes condições para servir como porta de entrada, não apenas no próprio Brasil, bem como para o sul do continente americano e mesmo para o mercado dos Estados Unidos. TEXTO › JORGE ALEGRIA | FOTOGRAFIA › CEDIDAS PELO SINDMÓVEIS Como avalia o atual momento da indústria

O setor produtivo do mobiliário cearense

liário cearenses em particular?

de mobiliário no Ceará?

está capacitado ao nível de qualidade,

Diante do quadro nacional de uma economia em recessão, a nossa indústria já está adaptada à crise e pronta para retomar o crescimento, onde o ano mais difícil foi em 2015.

design e preço para competir em termos

a indústria de mobiliário do Ceará em

Estamos tratando deste assunto seriamente, pois entendemos que podemos fazer uma grande parceria com Portugal com o objetivo de importarmos design e know how.

termos da sua competitividade interna-

Quais serão os objetivos essenciais para

Quantas empresas do setor existem no

cional?

as empresas cearenses de mobiliário na

Estado? Do total produzido, qual o per-

Temos procurado a competitividade e qualidade para nos compararmos com os melhores, foram feitos muitos investimentos em máquinas provenientes da Alemanha e Itália, mas precisamos de investir mais principalmente em design e know how, talvez uma boa parceria com Portugal nos ajudaria a nos aproximar dos melhores. Procuraremos em Portugal design e know how

visita a Portugal?

A Câmara de Comércio Brasil-Portugal no Ceará pretende realizar brevemente

O Brasil é um grande mercado para a indústria do mobiliário

uma missão empresarial da indústria

Quais as vantagens de investir na indús-

moveleira cearense a Portugal. O que é

tria de mobiliário brasileira?

que Portugal poderá acrescentar à in-

Principalmente, o grande mercado que temos, no momento não está crescendo, mas

centual de vendas no próprio Ceará e qual o percentual de vendas no restante território brasileiro? Quanto dessa produção total é exportada? Para onde?

Nosso parque industrial é formado por mais ou menos 400 empresas entre pequenas, médias e grandes. Da nossa produção, apenas cerca de 20% é vendido no próprio Ceará, pelo que as restantes vendas no Brasil surgem fundamentalmente dos estados do sul e do sudeste do país. No passado recente, exportámos em torno dos 5.000.000,00 de dólares por ano, mas hoje exportamos em torno de 1,5 milhões de dólares ano para os Estados Unidos e África.

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internacionais? Em que patamar estratégico se poderá neste momento colocar

dústria em geral e as empresas de mobi-

Conhecer o que Portugal fez para chegar onde chegou e tentar importar este modo de fazer para as nossas indústrias, principalmente o que chamamos alta decoração. Existe potencial e oportunidades para investimentos futuros da indústria moveleira portuguesa na sua congénere cearense? Sim, principalmente importação de designer e know how.

temos uma grande perspectiva de crescimento e servir de trampolim para acessar ao mercado americano (presentemente dominado pelos asiáticos, pois 49% das importações de móveis feitos pelos norte-americanos são provenientes da Ásia). Em termos gerais, como observa o potencial de colaboração e parceria entre

os setores de mobiliário dos dois lados do Atlântico?

Por definição, em qualquer intercâmbio, existem ganhos. No caso do setor noveleiro, a troca de experiências de uso de materiais, equipamentos, metodologia de trabalho, design e formato de comercialização, além da possibilidade de comple-

mentaridade das linhas de produtos para ambos os mercados. Portugal tem melhor acesso às atualizações tecnológicas e o Brasil tem um mercado gigante e é grande fornecedor de madeiras e produtos relacionados. Por qualquer ângulo que se olhe, as oportunidades aparecem. ‹

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› LUSOFONIA › Brasil

Presidente da Federação das Indústrias do Ceará, Beto Studart, entrega resultados do projeto Rotas Estratégicas.

Federação das Indústrias identifica caminhos para o desenvolvimento do Ceará

O

Sistema Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Sistema FIEC) tem como missão fortalecer a indústria e incentivar o desenvolvimento socioeconômico do Ceará, estimulando a competitividade, gerando novos negócios e fortalecendo vínculos institucionais. Um importante passo nessa direção é identificar e superar as lacunas de cada segmento industrial em um processo conjunto com governo, empresários e pesquisadores. Nesse ensejo, o Sistema FIEC tem conduzido o Programa para Desenvolvimento da Indústria, iniciativa própria, contando com a parceria Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Sebrae. O programa teve início em 2015 com a realização do projeto Rotas Estratégicas, que visa traçar estratégias para os setores industriais promissoras para o Ceará até o ano de 2025 e prevê uma série de ações, atividades e projetos de inovação visando a promoção da indústria. São treze os setores considerados portadores de futuro: Energia; Eletrometalmecânico; Construção e Minerais não Metálicos; Logística; Saúde; TI e Comunicação; Biotecnologia; Água; Economia Criativa e Turismo; Economia do Mar; Meio Ambiente; Indústria Agroalimentar; e Produtos de Consumo (couro & calçados; con-

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fecção; madeira e móveis). Até o final de 2016, foram apresentados os resultados das sete primeiras Rotas Estratégicas Setoriais: Rotas da Água; Construção e Minerais Não Metálicos; Logística; Saúde; e Tecnologia da Informação e Comunicação. Os resultados entregues sob forma de publicações impressas e também digitais e trazem, além dos caminhos necessários para o desenvolvimento desses setores, os fatores críticos de sucesso e as visões de onde se quer chegar. Agora, o trabalho a ser desenvolvido será a implementação desses estudos na prática com o apoio dos especialistas participantes, na fase chamada de Masterplan. Para o presidente da FIEC, Beto Studart, o trabalho que está sendo desenvolvido é um projeto de Estado que romperá gerações. “Esse é o grande fato que a FIEC está criando, em um ótimo momento. Os industriais, empreendedores, investidores internacionais, executivos e gestores públicos que precisarem acessar quaisquer dados para entender os gargalos e as soluções para cada área industrial, terão as informações ao alcance da mão. Tudo estará sistematicamente reunido no Observatório da Indústria, um ambiente dinâmico que será de grande valor para tomada de decisões no âmbito de investimentos no setor produtivo”, pontua. Bússola da Inovação

Equipes de especialistas no workshop para a construção das Rotas Estratégicas Setoriais.

Outro projeto que já teve seu primeiro ciclo concluído foi a Bússola da Inovação, que consiste em uma pesquisa ampla junto aos industriais, para conhecer o status da inovação nas empresas do Ceará e, ao mesmo tempo, sensibilizar os empresários para os ganhos decorrentes da inovação e orientá-los sobre as variáveis que a compõem e sua importância para a competitividade industrial. As indústrias participantes estão distribuídas em 27 municípios e as cidades com maior participação foram Fortaleza (45%), Juazeiro do Norte (9%) e Russas (6%), e grande maioria delas (82%) é de micro e pequeno portes. Dez segmentos industriais estão representados na mostra da pesquisa: Alimentos e Bebidas, Construção, Eletrometalmecânico, Têxtil e Vestuário, Químico, Madeira e Móveis, Minerais não Metálicos, Couro e Calçados, Gráfico e Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Para cada setor, foi gerado um relatório setorial disponibilizado para consulta pelas empresas para que entendam o status da inovação em seu segmento de atuação. Além disso, ao observar a situação atual de suas indústrias e de seus setores industriais, em relação às diferentes variáveis da inovação, os empresários poderão mais facilmente identificar oportunidades de negócios.

O “Perfil de Inovação Industrial do Ceará”, com o panorama setorial da indústria cearense a partir da análise de dez dimensões da inovação, resultante da Bússola, foi publicado em novembro de 2016. De acordo com o documento, o quesito Ambiente Interno teve o de melhor desempenho entre as dimensões, com o índice de 2,3 numa escala de 0 a 4. Isso significa que, de forma geral, as indústrias cearenses investem em práticas de incentivo à inovação internamente. Isso é especialmente importante, diz o estudo, porque, ao criar ferramentas sistemáticas e dinâmicas de participação dos colaboradores, a empresa passa a estabelecer canais de troca de conhecimento e estimula a expressão de talentos que ampliam as possibilidades de inovação, gerando benefícios e vantagens competitivas para processos produtivos e produtos finais. Além de trazer um panorama setorial, o Perfil de Inovação apresenta sugestões de melhorias que podem ser aproveitadas por todos os empresários do estado, inclusive para aqueles que não participaram da iniciativa da Bússola. Também apresenta casos de sucesso inspiradores capazes de estimular práticas inovadoras em qualquer negócio, independentemente do porte. Os resultados das Rotas Estratégicas setoriais e o relatório Perfil de Inovação do Ceará estão disponível no site www1.sfiec.org.br/ nucleodeeconomia. ‹

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› EMPRESARIADO Rodrigo Rosa, CEO e Presidente do Conselho de Administração da OGMA – Indústria Aeronáutica de Portugal, S.A.

OGMA é um pilar na aeronáutica em Portugal Fundada em 1918, a quase centenária OGMA, com sede em Alverca, é a mais emblemática empresa do sector aeronáutico português. Rodrigo Rosa é o gestor brasileiro escolhido pela Embraer, principal accionista da OGMA (com 65% do seu capital), pela ocupar as funções de CEO e Presidente do Conselho de Administração da empresa portuguesa, e revela nesta entrevista exclusiva à País Económico a importância da relação estratégica, tecnológica e de gestão estabelecida com a Embraer no Brasil. A participação no emblemático projecto KC-390, o novo avião de carga militar desenvolvido pela empresa aeronáutica brasileira, confere uma notoriedade e dimensão internacional à OGMA, cujos efeitos tem sido muito positivos e permitiu registar em 2016 um volume de negócios na ordem dos 188 milhões de euros, valor que deverá subir este ano para números muito próximos dos 200 milhões de euros. TEXTO › VALDEMAR BONACHO | FOTOGRAFIA › RUI ROCHA REIS e cedidas pela OGMA A OGMA é sem dúvida a mais prestigiada empresa portuguesa

A OGMA participa ativamente no projeto do KC-390 e nessa

no ramo da Aeronáutica. Foi fundada em 29 de Junho de 1918

parceria com a Embraer investiu cerca de 35 milhões de euros,

e dedica-se ao fornecimento de serviços de manutenção e fa-

originando a criação de mais 180 postos de trabalho para o de-

bricação de aeroestruturas e o seu capital é detido em 65%

senvolvimento e fabrico da fuselagem central do K-390 e dos

pelo consórcio Airholding, SGPS, sendo os restantes 35% deti-

sponsons direito e esquerdo, bem como os lemes de profundi-

dos pela Empordef - Empresa Portuguesa de Defesa, SGPS, SA,

dade. A integração da OGMA neste importante projeto exigiu da

composta pelo Estado português. O que é que mudou na OGMA

parte dela um reforço adequado de know-how, ou ele já existia

significativamente com a entrada da Embraer?

no seio da empresa?

O relacionamento da OGMA com o Embraer é anterior à privatização, tendo início em 1998, quando a OGMA se torna Centro de Manutenção Autorizado para o ERJ 145. Esta relação foi evoluindo positivamente e acabou por se aprofundar de forma decisiva com o processo de privatização. A Embraer acreditou no potencial da empresa, na experiência e competências e no legado que a OGMA tinha, olhando para nós como uma oportunidade para criar uma base operacional para o mercado europeu e para o mercado africano. Do lado da OGMA, integrar o universo da Embraer permitiu conhecer novas metodologias, novas formas de trabalhar, abrindo novas portas para chegar a novos mercados e a novos produtos.

O KC-390 é um projeto estruturante para a OGMA e uma alavanca para o desenvolvimento da nossa Área de Negócio de Aeroestruturas. Vem demonstrar que há capacidade técnica e humana em Portugal para fazer projetos de excelência como o KC. A OGMA está envolvida desde a fase inicial do Desenvolvimento do Produto e tem também a seu cargo o desenvolvimento e gestão da cadeia de fornecimento. Estamos a falar de um projeto que representa um investimento significativo da empresa não só ao nível de equipamento, com especial destaque para a aquisição de um rebitadora automática que nos capacitou para introduzir a automação no processo de montagem, com ganhos de tempo, de eficiência e de qualidade no trabalho feito, como também ao nível

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recursos humanos. O KC-390 tem efeitos positivos na criação de postos de trabalho. Quando se iniciar a fase de produção em série apontamos chegar a aproximadamente 150 trabalhadores. A OGMA tem a seu cargo o fabrico da fuselagem central, fabrico e montagem das carenagens dos trens de aterragem direito e esquerdo bem como dos lemes de profundidade. É com especial satisfação que posso dizer hoje que a OGMA acaba de dar um passo importante neste projeto com a entrega do 1.º conjunto de componentes que vão integrar o 1.º KC-390 de série, isto é, a 1.ª aeronave das 28 unidades encomendadas pela Força Aérea Brasileira. É bastante gratificante ver que todo o esforço e dedicação da equipa envolvida neste projeto está a contribuir para que o KC390 seja cada vez mais uma realidade do mundo da aeronáutica.

A OGMA distingue-se no panorama do setor aeronáutico pela sua capacidade de responder simultaneamente ao nível de Manutenção e de Aeroestruturas. Geralmente as empresas estão focadas apenas numa destas áreas de intervenção. O facto da OGMA ter um histórico bastante relevante em ambas permite apresentar-se no mercado com um conjunto de soluções integradas e uma capacidade de resposta desde a manutenção à fabricação de componentes. Face à forte competitividade que marca o setor aeronáutico a nível mundial, a OGMA procura apresentar soluções competitivas, assentes na qualidade, na experiência das suas equipas, na sua capacitação tecnológicas e na flexibilidade para responder às diferentes necessidades dos clientes. A OGMA é simultaneamente um importante fornecedor de so-

95% da nossa actividade dirige-se aos mercados externos

luções integradas para fornecedores de primeira linha, como

Hoje em dia existe no mercado nacional uma vasta concorrên-

e outros mais. Sendo esta uma área em franco crescimento e

cia na área da Aeronáutica, consubstanciada com a presença

progressão, podemos acreditar que esta lista de fornecedores

de um bom número de empresas que se distinguem pela inova-

possa vir a crescer ainda mais nos próximos anos?

ção e qualidade do seu trabalho. Como é que a OGMA se destaca

Ter a confiança de um conjunto de fabricantes mundiais de aeronaves e de fornecedores de primeira linha (tier 1) ao longo de décadas é simultaneamente um motivo de orgulho e de exigência para a OGMA. Como todos os setores económicos, também a indústria aeronáutica é marcada pelo dinamismo e pela evolução tecnológica. É essencial estar preparado para a mudança e ter capacidade de antever o que podem ser as tendências do mercado. É

dessa mesma concorrência?

Como sabe, a produção da OGMA dirige-se essencialmente ao mercado externo (cerca de 95%). Neste quadro, a concorrência da OGMA encontra-se sobretudo em outras empresas estrangeiras que se dedicam à manutenção de aviação civil e militar e companhias que fabricam e montam componentes aeronáuticos.

a Embraer, Dassault, Airbus, Lockheed Martin, Pilatus Aircraft

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› EMPRESARIADO isso que procuramos fazer, preparando a nossa organização para este mindset e procurando identificar oportunidades e apostas a fazer a médio e longo prazo. Mais do que alargar a lista de fornecedores, estamos apostados em consolidar a OGMA como um parceiro de confiança dos nossos clientes, alguém que conhece bem os programas aeronáuticos e as especificidades associadas, que tem vindo a apostar na tecnologia e na automação e que está preparado para responder a novas solicitações dos clientes que já temos em carteira. Continuamos atentos ao mercado português A Internacionalização é nos tempos atuais uma preocupação prioritária de qualquer empresa em qualquer área de atividade. E a OGMA não foge à regra, exportando mais de 90 por cento da sua produção para mercados de todo o Mundo. O facto de estarmos na presença de uma empresa com grande veia exportadora, isso significa uma ausência de atenção ao que se passa em redor do setor da Aeronáutica em Portugal?

Não, de todo. A OGMA é uma empresa portuguesa, é esse o seu ADN e está sempre atenta ao mercado nacional. Sabemos que é um mercado mais pequeno mas não descuramos oportunidades

que continua a oferecer, seja ao nível de aviação comercial como militar. A OGMA continua a trabalhar com clientes nacionais. Na área civil destaca-se a TAP Express, SATA e a White. A Força Aérea Portuguesa é o principal cliente da OGMA em Portugal. Realizamos de forma regular trabalhos de manutenção e modernização, seja em aeronaves de transporte, como C-130, P-3 ou C-295, em caças (F-16) e helicópteros na Base do Montijo. Que novos passos pensa a OGMA dar ao nível da internacionalização? É no mercado internacional que está o futuro de qualquer empresa e a OGMA não foge a essa realidade. As nossas equipas estão motivadas para consolidar as relações comerciais que já dispomos e, ao mesmo tempo, procurar novas oportunidades de negócio. Esta realidade faz com que tenhamos de ser ágeis, de acompanhar as tendências do mercado e de apostar numa abordagem de proximidade para mostrar as nossas características competitivas. Este esforço tem tido resultados visíveis ao longo dos últimos tempos com a concretização de contratos, quer ao nível de aviação civil quer militar, que revelam a confiança que os clientes depositam na experiência de quase 100 anos da OGMA.

Mão-de-obra altamente qualificada A OGMA possui atualmente nos seus quadros mais de 1700 colaboradores. Investem fortemente na formação destes recursos humanos?

A OGMA emprega 1734 profissionais de várias nacionalidades e áreas de especialização, nomeadamente técnicos especializados em montagem e manutenção aeronáuticas, profissionais especializados em aeronáutica e em engenharias dos ramos aeroespacial, mecânica e aeronáutica. Em média a OGMA recruta cerca de 100 colaboradores por ano, sendo um número que pode variar de acordo com as necessidades da empresa para responder ao fluxo de trabalho. No âmbito da sua política de Desenvolvimento de Pessoas, e com o objetivo de reforçar e desenvolver o capital humano e captar colaboradores com formação relevante para assegurar o futuro da empresa, a OGMA investe todos os anos na realização de estágios, através de parcerias com escolas e com o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). Em 2015 a empresa acolheu um total de 173 estágios. Neste número, inclui-se o Programa Trainee, que tem como objetivo a atração e recrutamento de jovens de elevado potencial e com formação em universidades de referência, visando promover o desenvolvimento de projetos com relevância estratégica para a OGMA ao longo de um período de 12 meses.

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Em 2015 desenvolveu-se a 4.ª edição do Programa, que acolheu um total de 10 trainees. A taxa de retenção desta edição situou-se nos 70%. Ao abrigo da sua parceria com o IEFP, no âmbito da Modalidade Vida Ativa, a OGMA recebeu em 2015 um total de 108 pessoas em situação de desemprego para a realização de formação especializada em aeronáutica. Cada formando realizou um total de 975 horas de formação (375 horas de formação teórica e prática, acrescidas de 600 horas em On Job Training, tendo 70% destes passado a integrar a empresa. Faz parte da política de recrutamento da OGMA a integração de profissionais em início de carreira, traduzindo-se estas parcerias numa elevada percentagem de retenção, quer através da integração após realização dos cursos, quer através da sinalização destes profissionais para futuras integrações. Esta abordagem resultou numa taxa de retenção de estagiários na ordem dos 90% em 2015. Toda a empresa está comprometida com estes processos de integração, nomeadamente através do envolvimento dos nossos formadores internos, que investem tempo e conhecimento no sentido de assegurar o desenvolvimento destes jovens que farão parte do futuro da empresa. ‹

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› EMPRESARIADO

Mecachrome com apoios ao investimento em Évora

Alentejo acelera nos fundos comunitários Mais de metade da dotação global do programa comunitário Alentejo 2020 está comprometida, num montante de 549 milhões de euros, revelou recentemente Roberto Grilo, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Alentejo. Ainda segundo o presidente da CCDR do Alentejo, a taxa de compromisso do atual programa operacional regional, cuja dotação global ascende a 1.082,9 milhões de euros, situa-se nos 51%, que corresponde a 549 milhões de euros. Das 2.115 candidaturas recebidas para os vários eixos prioritários, 917 projetos foram aprovados até ao final de 2016, representando um montante total

O Governo português aprovou os apoios ao investimento de 29,8 milhões de euros que a Mecachrome está a realizar em Évora, e que reforçará com a nova unidade industrial que está a ser erigida na cidade, onde continua a crescer o cluster da indústria aeronáutica, depois da fabricante de aviões brasileira Embraer ter investido em duas fábricas na zona industrial da capital do Alto Alentejo. A nova unidade da Mecachrome Aeronáutica terá uma nova linha de produção que possibilitará o desenvolvimento de uma série de produtos fabricados com um novo processo produtivo criogénico. O grupo, liderado por Júlio De Sousa, pretende criar 300 novos empregos em Portugal. A Mecachrome é um grupo especializado na produção de peças de alta precisão para os setores aeronáutico, espacial, automóvel e da energia, possuindo 14 fábricas em cinco países e um volume de negócios superior a 300 milhões de euros. Segundo um comunicado da AICEP, “trata-se de um importante projecto de investimento que terá um forte contributo para o desenvolvimento do “cluster” aeronáutico português, bem como para a projecção da competitividade de Portugal como localização para acolher investimento estrangeiro desta dimensão e complexidade, em sectores de alta tecnologia”. ‹

de investimento aprovado de 420 milhões de euros, estando 504 candidaturas em apreciação. O presidente da CCDR do Alentejo referiu ainda que o nível de execução do programa está nos 1,9%, que corresponde a 20,6 milhões de euros, e que a taxa de pagamentos é de 5%, o que equivale a 49,1 milhões de euros. «O ano de 2017 será de velocidade de cruzeiro e temos como meta chegar aos 17% em termos de execução do programa». Roberto Grilo revelou igualmente que foi criado um instrumento de monitorização para avaliar «o impacto dos fundos comunitários na alteração do perfil de competitividade e de criação de emprego e ao nível da coesão territorial», salientou. ‹

Franceses investem em Ponte de Sôr Uma empresa francesa que produz máscaras de oxigénio para aviões supersónicos vai construir uma fábrica em Ponte de Sôr, um projecto considerado pioneiro em Portugal, revelou em Dezembro, Hugo Hilário, presidente do município local. Ainda segundo o autarca, a empresa pretende arrancar com o projecto entre março e abril deste ano, que ficará localizado no Aeródromo Municipal de Ponte de Sôr, estando previsto a criação de 35 postos de trabalho. Segundo Hugo Hilário, «felizmente, conseguimos atrair para Ponte de Sôr esta fábrica, após vários contatos entre as partes (câmara e empresa). O administrador da empresa visitou o aeródromo e manifestou total interesse face às nossas infraestruturas e conteúdos já sediados naquela área». O edil adiantou também que a empresa francesa nas infraestruturas que vai construir prevê investir cerca de um milhão de euros, e que numa primeira fase do projecto criará cerca de 12 postos de trabalho e, a partir de 2018, entre os 25 a 35 postos de trabalho, «o que é óptimo» para o concelho. ‹

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› EMPRESARIADO

Ministro da Economia visita a empresa Maroco

Ministro da Economia visitou empresas de mobiliário na Capital do Móvel

Em três anos foram criadas 561 empresas em Paços de Ferreira O Ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, visitou três empresas do sector do mobiliário em Paços de Ferreira, respectivamente, a Móveis Veríssimo, a Prugent Diam e a Maroco. O responsável pela economia no governo português teve a acompanhá-lo o Presidente da Câmara de Paços de Ferreira, Humberto Brito, bem como outros responsáveis autárquicos e empresariais da Capital do Móvel. Integrada na Semana do Investimento e do Emprego, a visita de Manuel Caldeira Cabral a Paços de Ferreira, permitiu verificar a evolução empresarial do concelho nos últimos três anos, nos quais, segundo um comunicado da autarquia local, foram criadas

Ministro da Economia visita a empresa Móveis Veríssimo

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561 novas empresas e 2.500 postos de trabalho, tendo sido investidos cerca de 100 milhões de euros. Ainda segundo a Câmara de Paços de Ferreira, os empresários do concelho prevêem criar nos próximos anos mais cerca de mil postos de trabalho. Uma das empresas visitadas pelo Ministro da Economia foi a Prugent Diam, uma empresa francesa que decidiu investir no concelho de Paços de Ferreira. A empresa vai ocupar uma das naves do Pavilhão de feiras e Exposições de Paços de Ferreira, onde montará um laboratório de prototipagem de mobiliário de luxo da Prugent Diam Portugal, prevendo criar 60 postos de trabalho e investir cerca de um milhão de euros. A empresa francesa trabalha com grandes marcas internacionais, como a Clinique, a Dior, a L’Óreal, a Lâncome, a Cartier ou a Luis Vuitton, tendo escolhido Paços de Ferreira para produzir protótipos de mobiliário de luxo, instalar um gabinete de design e um showroom permanente. De referir que a escolha pela Capital do Móvel deveu-se igualmente à proximidade com os parceiros de produção com quem já trabalham há vários anos, 10 empresas do concelho da área do mobiliário e serralharia, prevendo iniciar o projecto já no próximo mês de março. O facto de ocupar uma das naves do Pavilhão de Feiras e Exposições de Paços de Ferreira, não impede, pelo contrário, de se realizarem no local as várias feiras previstas, como acontecerá já em Abril com a Feira Capital do Móvel, assegurou Rui Carneiro, Presidente da Associação Empresarial de Paços de Ferreira. ‹ A publicidade para a página 35, será da Divercol, que saiu na edição nº 161, página nº 31. A publicidade para a página 37 será da Meditor, que saiu na edição nº 163, página

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› EMPRESARIADO

Baía do Tejo promove territórios na Margem Sul A Baía do Tejo, em conjunto com os autarcas dos municípios de Almada, Barreiro e Seixal, levaram a cabo uma acção de apresentação dos ativos que compõem o portfólio da empresa para um conjunto de várias câmaras de comércio com sede em Portugal, mas que se articulam com os mercados dos seus respectivos países, como sejam, a Turquia, Angola, Hungria, Luxemburgo, Holanda e a China. O programa promocional constou de uma visita aos territórios do designado Arco Ribeirinho Sul e culminou com uma apresentação de um vídeo sobre os territórios Lisbon South Bay no Clube de Empresas da Baía do Tejo no Parque Empresarial do Barreiro. De referir que, ainda este ano, entre as várias iniciativas de promoção das três zonas empresariais, a Baía do Tejo prevê estar nas feiras de MIPIM, em Cannes, e na Expo Real, em Munique. ‹

O Feliz colocará a cobertura metálica de shopping em Angola A metalomecânica portuguesa O Feliz, com sede em Braga, foi escolhida no regime de subempreitada, para o fabrico e montagem da estrutura metálica do futuro centro comercial Xyami Kilamba, na região angolana de Kilamba, o que originará uma facturação de 2,5 milhões de euros para a empresa portuguesa. O facto de a empresa já possuir uma unidade industrial em Angola, foi considerado um factor muito importante para O Feliz ter conseguido esta empreitada. Segundo António Feliz, presidente da empresa, «trata-se de um projecto de grande dimensão e complexidade a nível logístico dada a elevada quantidade de materiais transportados. Sem dúvida um desafio, mas estamos preparados para responder a qualquer projecto, em qualquer parte do mundo», sublinhou o empresário. O Feliz Metalomecânica é uma empresa especializada em construção metálica, perfilagem de chapa, corte e quinagem de chapa, fabrico de colunas de iluminação e torres de comunicação, serralharia em aço inox, alumínio e corte a laser. O Feliz empresa 400 trabalhadores facturou em 2016 cerca de 36 milhões de euros, com as exportações a representarem um terço. Além de Portugal e da presença industrial em Angola, a empresa possui delegações comerciais em Moçambique, Argélia e Marrocos, e prepara a entrada em novos mercados, sobretudo França, Bélgica e Colômbia. ‹

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OLAmobile abriu escritório em Guimarães A OLAmobile, empresa multinacional de global mobile marketing abriu o seu segundo escritório em Portugal, na área de Guimarães, onde instalou a sua primeira equipa técnica em solo nacional. Com esta nova sucursal, a empresa deu início a uma parceria com a Universidade do Minho, em que ambos irão colocar em prática um projeto de investigação que visa desenvolver um novo algoritmo automático para a Previsão e Otimização de campanhas publicitárias para dispositivos Móveis em modelo de subscrição. O escritório de Guimarães resultou num investimento de 722 mil euros. Segundo Antoine Moreau, CEO da OLAmobile, «Portugal tem-se demonstrado bastante importante para a estratégia de crescimento da OLAmobile que acolhe agora uma equipa técnica. O objectivo é o de constituir uma vantagem competitiva sobre os restantes concorrentes e atingir a liderança tecnológica no nosso mercado de atuação, a nível global e o know how que encontramos em Portugal e na Universidade do Minho garante-nos a especialização que procuramos». A OLAmobile possui a sua sede no Luxemburgo, foi fundada em 2011, e está presente na Roménia, Israel, México e Portugal. ‹

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› EMPRESARIADO

Portugal e Marrocos querem melhores ligações na área da energia

Dois países querem criar uma ‘auto-estrada’ da energia

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Edgar Vales, Vice-Presidente da Câmara de Odivelas, Karima Benyaich, Embaixadora do Reino de Marrocos, e Mohamed Chichah, Presidente da Associação da Comunidade Marroquina em Portugal.

Conferência “Imigração e Cidadania” decorreu em Odivelas

Bem receber e bem integrar os imigrantes

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uma iniciativa conjunta da Associação da Comunidade Marroquina em Portugal e da Câmara de Odivelas, decorreu no passado dia 21 de Janeiro a conferência “Imigração e Cidadania”, que juntou no auditório do município vizinho a Lisboa um conjunto de especialistas nesta vasta e complexa matéria, bem como muitos imigrantes já residentes em Portugal, sobretudo com origem em Marrocos. Não por acaso, presente na conferência esteve a embaixadora de Marrocos em Portugal, Karima Benyaich, que aproveitou para sublinhar a exemplar integração da comunidade marroquina residente em Portugal, pelo que «a minha presença nesta conferência significa também uma homenagem à comunidade marroquina neste país e que é muito considerada pelo nosso Rei Mohamed VI». Por sua vez, Mohamed Chichah, presidente da Associação da Comunidade Marroquina em Portugal (ACMP), referiu que «a comunidade marroquina em Portugal é um exemplo da convivência e integração cívica na sociedade portuguesa», adiantando que a ACMP está a desenvolver diversas iniciativas, «particularmente na divulgação e aprendizagem da língua portuguesa e árabe aos membros da comunidade marroquina», não deixando elogiar as

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ortugal e Marrocos já escolherem as empresas que vão elaborar o estudo de viabilidade eléctrica entre os dois países, um investimento de 185 mil euros. O estudo será elaborado pela empresa norueguesa DNV GL, a consultora Deloitte a ao INESC Porto. O objectivo do estudo é o de “avaliar o potencial técnico e económico do projecto”, referiu a Secretaria de Estado da Energia em comunicado. A futura interligação energética poderá permitir a Portugal es-

coar a energia renovável produzida em Portugal e também possibilitar ao país diversificar as suas fontes de abastecimento energético. Em termos práticos, o estudo vai avaliar os custos da construção de um cabo submarino, que poderá ter a capacidade de transporte de mil megawatts (MW), mas também qual a sua melhor localização. A concretização deste ambicioso projecto de conexão energética entre Portugal e Marrocos possui um custo estimado de 630

milhões de euros, e para o secretário de Estado da Energia português, Jorge Seguro Sanches, «a ligação física entre os dois países é uma medida considerada estratégica para Portugal». Tanto Portugal como Marrocos têm projectos em desenvolvimento na área das renováveis, sendo de referir que até 2030, o reino de Marrocos quer obter mais de 50% da sua electricidade a partir de energia verde, contando com 26 mil milhões de euros para apoiar projectos. ‹

políticas do município de Odivelas na promoção da integração das comunidades estrangeiras na sua área geográfica. O Vice-Presidente da Câmara de Odivelas, Edgar Vales, concordou que o município tem desenvolvido políticas inclusivas das comunidades imigrantes, «pois acreditamos que os 8,3% de imigrantes que vivem e residem em Odivelas são muito importantes para o concelho e a sua integração cívica é uma das nossas grandes apostas para tornar um concelho em que o diálogo inter-cultural e inter-religioso sejam questões muito importantes para a nossa sociedade», sublinhou o autarca. Depois intervieram várias personalidades de organismos públicos que explicaram aos presentes os procedimentos legais tendo em vista a legalização dos imigrantes em Portugal, bem como foram referidas as iniciativas tendentes a valorizar a integração desses imigrantes na sociedade portuguesa, com a noção de que «são bem-vindos e importa que se integrem bem na sociedade portuguesa». A este nível, todos sublinharam o exemplo da boa integração e desenvolvimento da comunidade marroquina em Portugal, destacando também o papel muito positivo desempenhado nessa matéria pela Associação da Comunidade Marroquina em Portugal. ‹

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› AGROINDÚSTRIA Paulo Venâncio, Presidente da CAMB – Cooperativa Agrícola de Moura e Barrancos

«O que diferencia o Azeite de Moura no mercado é a sua Qualidade» Constituída em 1954, a Cooperativa Agrícola de Moura e Barrancos (CAMB) é uma

das mais antigas e importantes do Alentejo, e mesmo a nível do País é uma das mais cotadas, colocando no mercado o prestigiado Azeite de Moura um produto de excelência reconhecido tanto em Portugal como internacionalmente. Em entrevista à PAÍS €CONÓMICO, Paulo Venâncio, presidente da CAMB anunciou para os próximos anos investimentos de 5 milhões de euros. «Temos de continuar a apostar porque queremos consolidar a nossa posição no mercado nacional e continuarmos a conquistar novos mercados externos», sublinhou, para salientar ainda que o que diferencia o Azeite

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Moura no mercado é a sua excelente qualidade. TEXTO › VALDEMAR BONACHO | FOTOGRAFIA › RUI ROCHA REIS

uando em 1954 os 45 agricultores que fundaram a CAMB se decidiram pelo arranque deste projecto, tudo funcionava num pequeno lagar de prensas. Mas hoje é bem diferente. Estamos a falar de um dos maiores e mais modernos lagares do País com uma capacidade de moenda de 900 toneladas de azeitonas por dia. A capacidade disponível da CAMB permite-lhe acomodar uma produção média superior a 35.000 toneladas de azeitona proveniente de 20 mil hectares de olival de 1200 cooperadores, transformando mais de 7 milhões de quilos de azeite virgem e virgem extra em cada campanha. «Por exemplo, na campanha última correspondente a 2015/2016 a CAMB obteve 7,4 milhões de quilos de azeite de excelente qualidade», observou Paulo Venâncio. Na altura do começo deste projecto empresarial o propósito dos 45 agricultores que fundaram a CAMB era dar uma resposta competitiva à transformação em azeite da azeitona proveniente dos olivais dos seus fundadores.

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Investir mais 5 milhões de euros Mas a realidade da CAMB hoje é bem diferente. Cresceu fruto do bom trabalho que a várias direcções desta cooperativa agrícola desenvolveram ano após ano, do espírito empreendedor e inovador de cada uma delas, e da entrega e espírito altamente profissional dos seus técnicos e trabalhadores. «Neste momento a CAMB tem 34 trabalhadores e o seu volume de negócios em 2016 atingiu os 24 milhões de euros», referiu o presidente Paulo Venâncio, para sublinhar também que a CAMB pretende investir 5 milhões de euros nos próximos anos, visando a consolidação do mercado nacional e a conquista de novos mercados externos. «Actualmente exportamos para Espanha, Suíça, Alemanha, Polónia e França, e a tendência é para alargarmos ainda mais a nossa presença no mercado externo. É nesse sentido que trabalhamos todos os dias…», sublinhou. Perguntámos a Paulo Venâncio as razões da boa aceitação do Azeite de Moura tanto no mercado na-

cional como no mercado externo e o que diferenciava este azeite dos restantes. A resposta foi clara. «A aceitação no mercado nacional do Azeite de Moura DOP é bastante positiva. Nós só recebemos azeitona dos nossos associados, e a utilização de variedades tradicionais autóctones: Cordovil, Galega e Verdeal, face às condições edafoclimáticas constituem factores que fazem com que o consumidor procure a nossa marca. Direi também que o que diferencia a nossa marca no mercado é a qualidade. A nossa preocupação estende-se desde o olival à extracção, de modo a obter sempre azeites virgens de excelente qualidade. O resultado dessa monitorização comprova-se nas distinções e prémios recebidos durante os vários anos, e também é conhecido que as exportações de azeites virgens desta região remontam ao tempo do Império Romano», enfatizou Paulo Venâncio, presidente da CAMB.

Valorização e genuinidade do Azeite de Moura Segundo o presidente da CAMB, o lagar da Cooperativa Agrícola de Moura e Barrancos (CAMB) é actualmente de duas fases e sem produção de águas ruças. Entretanto, questionado sobre as possibilidades do projecto da CAMB continuar a crescer, Paulo Venâncio acredita que tal venha a acontecer, e justifica: «Sim, é possível. O perímetro de rega do Alqueva permite aos nossos associados que aumentem o investimento na suas explorações e, por consequência, o aumento da CAMB para poder recepcionar a produção dos seus associados», salienta o presidente da CAMB que apontou como prioridade privilegiar a capitalização nas produções mediterrânicas, «cuja transformação possa proporcionar vantagens competitivas de diferenciação e qualidade, e valorização e genuinidade do Azeite de Moura». ‹

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› AGROINDÚSTRIA Jorge Tavares da Costa - Diretor-Geral da Casa Agrícola Santos Jorge, SA

«Queremos reaver no total as terras que nos tiraram» Antes da denominada “Revolução dos Cravos” ocorrida a 25 de Abril de 1974 a Casa Agrícola Santos Jorge, SA, situada da Herdade dos Machados, respirava dinâmica em todos os seus 6100 hectares de exploração. Tinham-se então criado cerca de 270 postos de trabalho, existia uma escola para os filhos de quem ali trabalhava e até um posto médico que quinzenalmente era visitado por um médico que dava consultas a quem delas precisasse. «Mas em 19 de Abril de 1975 fomos ocupados e posteriormente expropriados, em nome de uma Reforma Agrária decretada pelo governo de então (era Ministro da Agricultura Lopes Cardoso). Seguiu-se uma Intervenção Estatal para gerir os destinos desta Sociedade, até que, em 1980, o primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro, decidiu desintervencioná-la e dividir a Herdade dos Machados pelos trabalhadores (e não só…), criando um problema que, volvidos 40 anos, ainda perdura», disse Jorge Tavares da Costa, em entrevista que concedeu à PAÍS €CONÓMICO, deixando bem expresso que «Não descansaremos - custe o que custar - enquanto não reavermos na sua totalidade

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as terras que nos tiraram, até porque não fomos ressarcidos por qualquer indemnização». TEXTO › VALDEMAR BONACHO | FOTOGRAFIA › RUI ROCHA REIS

o meio de planícies e montes, entre Moura e Sobral d’Adiça, ergue-se a Herdade dos Machados, que explorava cerca de 6.100 hectares de terras, outrora pertencente à Família de José Maria dos Santos, um dos maiores agricultores da região. Em 1967, foi criada uma empresa - Casa Agrícola Santos Jorge, SA – (de característica familiar) e que tinha por objectivo gerir e explorar toda a pecuária, transformação e comercialização dos produtos , apoiada também por três estabelecimentos comerciais que detinha em Lisboa, e onde procedia à venda de vinhos, azeites, queijos, compotas, grão e outros produtos oriundos da herdade. Em entrevista à PAÍS €CONÓMICO, Jorge Tavares da Costa, director-geral da Casa Agrícola Santos Jorge, SA e ligado à empresa desde 1972 não escondeu a sua revolta e desilusão por ver a Herdade dos Machados, que, volvidos que estão 40

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anos da data em foi ocupada (a 19 de Abril de 1975), intervencionada estatalmente e posteriormente desintervencionada «continua a lutar para reaver a totalidade das terras que lhe foram sonegadas sem qualquer indemnização. Como exemplo, era como um proprietário de uma casa fosse “despejado” da mesma e substituído por outro, sem mais nem menos! O director-geral da Casa Agrícola Santos Jorge, SA, que tem acompanhado de perto todo este processo com o Estado português, não evita a sua indignação perante uma situação que ele próprio considera «insustentável» e recorre à sua memória para lembrar que a então distribuição de terras, instituída por Francisco Sá Carneiro «criou uma manta de retalhos na Herdade dos Machados e originou uma situação anómala que não se sabe ainda quando terá fim…».

Jorge Tavares da Costa acredita que se hoje Sá Carneiro fosse vivo, «certamente que estaria muito arrependido pela situação criada na Herdade dos Machados», e recorrendo uma vez mais à sua memória, sublinha: «Os proprietários da Herdade dos Machados nunca foram indemnizados pelos prejuízos causados pela ocupação e lembro-me da passagem de um livro escrito por Rosado Fernandes, deputado pelo CDS/PP à Assembleia da República e ao Parlamento Europeu, em que este descreve um encontro com Sá Carneiro em 1980 e onde o então primeiro-ministro lhe terá dito sentir-se envergonhado de estar a dividir terras da Herdade dos Machados, sem as ter pago». Ocupação foi golpe duro «Até 1974 a Casa Agrícola Santos Jorge, SA exibia uma forte dinâmica empresarial dentro de toda a propriedade, nos

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› AGROINDÚSTRIA 6100 hectares que explorava. Dava trabalho a cerca de 270 pessoas, tinha uma escola para os filhos dos seus colaboradores, tinha um posto médico que quinzenalmente era visitado por um médico que consultava todos os que dele necessitassem. Mas em1974 deu-se a Revolução e nós não podíamos “ficar fora dela”. «A 19 de Abril de 1975 fomos ocupados por gente que aqui trabalhava e não só e a partir daí começou todo este tormento. Dois meses depois, em Junho de 1975 fomos expropriados e intervencionados. O Estado colocou aqui uma comissão de gestão para gerir a Herdade dos Machados. Até 1980 a situação manteve-se deste modo, com várias comissões de gestão, tendo mesmo sido proibido aos proprietários de entrar em qualquer instalação da Empresa! Só em 1980 é que o então Primeiro-Ministro Sá Carneiro resolveu retalhar e distribuir pelos 160/170 trabalhadores (e não só…) as terras da Herdade dos Machados, atribuindo SÓ DEPOIS, uma reserva de propriedade e exploração aos seus legítimos proprietários (cerca de 450 hectares retalhados). E toda a Família (estamos a falar de uma empresa familiar) passou então a viver da “esmola” (aliás como todas as famílias que passaram por este processo…) que o então Instituto de Gestão e Estruturação Fundiária lhe atribuiu e que era pouco mais de 8 mil escudos por cada agregado familiar. Estou na empresa desde 1972 e acompanhei de perto este triste

processo», deixou claro Jorge Tavares da Costa. Procurando justificar melhor o verdadeiro pesadelo por que passaram, o director-geral da Casa Agrícola Santos Jorge, SA avança com outros exemplos tristemente marcantes na vida da empresa. «Em 1980 foi-nos devolvida uma parte da propriedade com cerca de 450 hectares retalhados e o que encontrámos na Herdade dos Machados foi uma situação deplorável, com sinais de abandono e edifícios degradados. Antes da intervenção tínhamos um núcleo de 7000 ovelhas e quando regressámos nem uma encontrámos; tínhamos um outro núcleo de 1000 bovinos e entregaram-nos apenas 100 desses animais. Um parque de máquinas, 34 tractores, 3 ceifeiras-debulhadoras, e podíamos dar muitos outros exemplos. Quando regressámos tivemos que ir refazendo, à medida das necessidades, o que mais urgente era necessário para a sobrevivência de uma empresa». Recuperar a dinâmica de outros tempos Apesar de indignado com o ARRASTAMENTO deste processo, Jorge Tavares da Costa não desiste, da sua luta, afirmando que fará tudo o que estiver ao seu alcance para que a Herdade dos Machados volte à posse dos seus legítimos proprietários e recupere a dinâmica empresarial e social que se possuía noutros tempos. Situação que, aos poucos, vai acontecendo, fruto de parcerias que se fizeram com outro sócio que acreditou no projecto de recuperação e desenvolvimento da mesma, deixando esta – Casa Agrícola Santos Jorge, SA – de ser considerada como empresa familiar. Produtos de elevada qualidade A Herdade dos Machados sempre foi conhecida pela excelência da qualidade dos seus produtos. Para além do olival, possui uma área de regadio, alguma área de cerealífera, forragens e floresta, e ainda mantém o estatuto de criador de cavalos de Raça Pura Lusitana, e Bovinos de Raça Charolesa e de Raça Alentejana.

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Mas o tempo de agora exige novas maneiras de estar no mercado, e Jorge Tavares da Costa sabe disso melhor do que ninguém. «A globalização obrigou-nos a estar atentos às regras de mercado e perante essa realidade, juntamente com as empresas a que nos associámos, decidimo-nos por concentrar mais a nossa atividade na pecuária, no olival (vamos plantar novas áreas) e na vinha (à qual temos vindo a fazer reestruturações), com consequentes aumentos de produtividade e modernização da adega, de modo a torná-la mais eficiente e mais consentânea com as exigências dos mercados. Também, em parceria com outra das sociedades envolvidas nestes projectos, ir-se-á implantar uma área de amendoeiras. Cerca de 95 por cento dos vinhos elaborados por esta empresa agrícola são DOC, obtidos a partir de castas seleccionadas. O director-geral da Casa Agrícola Santos Jorge referir-se-ia depois aos vinhos produzidos na Herdade dos Machados: «Talvez por ser o mais barato, o vinho que mais se vende e mais se consome no mercado é o “Toutalga”, depois temos os Reservas “Herdade dos Machados”, “Cerro das Pedras”, “Santos Jorge” e “Morgado da Canita” (em homenagem a José Maria dos Santos), muitos deles premiados (nacional e internacionalmente), e que à semelhança do mercado nacional também são bem vendidos em países como a Alemanha, EUA, Suíça, Brasil, China e outros mercados externos». A pouco e pouco tem sido possível aos legítimos proprietários da Herdade dos Machados reaver as terras que lhes foram sonegadas, através de acordos que tem feito com rendeiros do Estado e homologados por este. E segundo os esclarecimentos de Jorge Tavares da Costa, ainda hoje existem 1800 hectares de terras por recuperar. Ainda existem 48 rendeiros do Estado, com alguns dos quais já se fizeram novos acordos, aguardando-se as respectivas reversões por parte das Entidades Oficiais. «São terrenos muito dispersos e esta solução é complexa e difícil, mas temos esperança de ver o dia em que se faça justiça», desejou o nosso entrevistado. ‹

PineFlavour investiu 1,5 milhões de euros em unidade em Grândola

Processamento da pinha e do pinhão A PineFlavour investiu 1,5 milhões de euros na criação de uma unidade industrial localizada na Zona Industrial de Grândola, tendo como objectivo principal o processamento da pinha e do pinhão, e depois vender esses produtos nos mercados interno e externo. Em declarações à Lusa, Pedro Amorim, sócio-gerente da PineFlavour, referiu que «a proximidade da matéria-prima (a pinha), concentrada numa faixa entre Coruche e Santiago do Cacém, e do porto de Sines, para as exportações, além do apoio do próprio município, constituíram factores decisivos na escolha do concelho de Grândola, para instalar a unidade fabril». Para o gestor, cerca de metade da produção da PineFlavour é destinada à exportação de pinhão, mas a empresa decidiu «estudar e avaliar este mercado, no sentido de perceber a matéria-prima

que existe no nosso país e aproveitar ao máximo o valor no nosso mercado», além de que para lá do próprio fruto, o processo utlizado na fábrica permite aproveitar as cascas do pinhão e a própria pinha, que será vendida «essencialmente para fábricas de pellets ou para padarias» para ser usada como combustível, referiu Pedro Amorim. Localizada na Zona da Indústria Ligeira de Grândola, a nova unidade fabril, com 624 metros quadrados foi construída com preocupações ambientais, e tem neste momento a laborar cinco trabalhadores, embora estes possam vir a duplicar nos próximos meses, adiantou o gestor. A capacidade de transformação da unidade industrial é de 500 quilos de miolo de pinhão por dia, prevendo-se que a fábrica atinja a velocidade de cruzeiro na sua plena laboração em três anos. ‹

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› AGROINDÚSTRIA João Mota Barroso, Presidente da Adega Cooperativa de Borba

«Temos a paixão de fazer grandes vinhos» Fundada em Abril de 1955, a Adega Cooperativa de Borba foi a primeira de uma série de adegas constituídas no Alentejo, com o incentivo da então Junta Nacional do Vinho, numa altura em que o setor não tinha o protagonismo que tem hoje na economia regional. João Mota Barroso, presidente da Adega Cooperativa de Borba diz que o empurrão então dado por aquele organismo da tutela lhe pareceu adequado e com muito sucesso. «Se não fosse esse empurrão, provavelmente a vinha teria desaparecido por completo na região», observou o presidente, chamando em seguida a atenção para o projeto ambicioso que a Adega Cooperativa de Borba lançou e que visa a aproximação de viticultores à empresa incutindo neles a paixão de fazerem grandes vinhos. TEXTO › VALDEMAR BONACHO | FOTOGRAFIA › RUI ROCHA REIS

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esta entrevista à P€ João Mota Barroso referiu que o incentivo que naquela época a Junta Nacional do Vinho deu ao setor «foi adequado» porque permitiu uma organização comercial e de transformação para os vinhos do Alentejo que não existia. «Esse foi o clique que fez com que as pessoas se tentassem associar para conseguir colocar junto do consumidor a sua produção», recorda João Mota Barroso para, ainda a este propósito, dizer que esta questão surgida há 60 anos atrás «ainda hoje é evidente». «Há cada vez maior quantidade de valor acrescentado que vai ficando perdido pelo caminho…». A Adega Cooperativa de Borba reúne atualmente 270 associados que cultivam cerca de 2000 hectares de vinha distribuídos por 70 por cento de castas tintas e 30 por cento de castas brancas, defendendo marca bem conhecidas tanto no mercado nacional como no mercado internacional. A que se deve hoje esta euforia em redor dos vinhos do Alentejo? João Mota Barroso tem uma opinião. «Os vinhos do Alentejo são o resultado das condições que esta região tem para a produção de uva, mas depois há uma série de factores que contribuem para o sucesso dos vinhos do Alentejo. Os solos

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são um factor importante, mas importante é também o desenvolvimento em larga escala de algumas soluções tecnológicas e o facto de haver escala de produção. Mas na base de tudo isto estão as condições climáticas que o Alentejo tem, que são excelentes e que proporcionam vinhos muito ao gosto do consumidor», referiu João Mota Barroso, para a propósito referir ainda que, «Se estes vinhos vão ao encontro do gosto do consumidor e se o custo de produção deles até não é muito elevado (chegam ao consumidor a preços adequados), então não é de estranhar a preferência que continua a ser dada ao vinhos do Alentejo. O Alentejo tem vindo a desenvolver uma marca com algum valor nos últimos tempos. É uma marca que hoje tem um peso considerável e que se alarga não só ao vinho como a outros produtos de grande notoriedade, como os azeites, os queijos e muitos outros. Mas te-

mos de reconhecer o facto de terem sido os vinhos que mais contribuíram para que o Alentejo se tornasse na marca que é hoje», sublinhou o presidente da Adega Cooperativa de Borba, empresa que no seu portfólio possui um conjunto de marca de grande nomeada, tais como a “Adega de Borba”, “Convento da Vila”, “Galitos”, “Montes Claros” e outros. João Mota Barroso não esconde o orgulho que tem em presidir a uma empresa com o prestígio e história da Adega Cooperativa de Borba, e quando questionado sobre os objetivos principais desta empresa, reage. «Eu costumo dizer que trabalhamos para bem servir os nossos consumidores, os nossos associados e os nossos colaboradores. O nosso desejo é que todos eles se sintam satisfeitos com o trabalho desenvolvido pela Adega Cooperativa de Borba», salientou.

De referir que o projecto da Adega Cooperativa de Borba envolve cerca de 270 associados e 70 colaboradores e, segundo revelação de João Mota Barroso, «cerca de 15 por cento destes colaboradores pertencem ao quadro superior». Ao longo dos anos têm sido levados por diante alguns projetos de nomeada na Adega Cooperativa de Borba visando a consolidação do seu processo de modernização. Segundo nos disse o presidente, já antes da actual Direcção ter entrado em funções, fizeram-se 4 ou 5 projetos com o objetivo de melhorar estruturalmente a empresa. «Entre esses projetos devemos destacar o Centro de Vinificação e Armazenagem», referiu João Mota Barroso, para dizer também que «os investimentos na adega são continuados», e que na última década os investimentos realizados ultrapassaram os 20 milhões de euros>», enfatizou. ‹

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› TURISMO

Mota-Engil ganha nova obra em Angola

Vila Galé iniciou construção de resort no Brasil e investe 50 milhões em Portugal

Vila Galé inaugurará hotéis em 2018 As obras de construção do novo Vila Galé Touros, localizado no estado brasileiro do Rio Grande do Norte já começaram, mas a cerimónia formal de colocação da primeira pedra do empreendimento acontecerá apenas no dia 4 de Fevereiro, com a presença do Governador Robinson Faria, e do presidente do Grupo Vila Galé, Jorge Rebelo de Almeida. O Vila Galé Touros terá 460 unidades habitacionais, além de três restaurantes, SPA Satsanga e um centro de convenções com cerca de 1.750 metros quadrados. Este hotel no Brasil constitui um investimento de cerca de 30 milhões de euros e será inaugurado em setembro de 2018. Entretanto, em Portugal, o Grupo Vila Galé anunciou que está com projetos de investimento na ordem dos 50 milhões de euros, tendo já em curso as obras dos novos hotéis Vila Galé em Sintra e no Porto (Ribeira), sendo que o primeiro tem a inauguração aprazada para o dia 25 de abril de 2018.

O grupo vai também avançar este ano com um hotel em Braga, e pretende edificar outro em manteigas, na zona da Serra da Estrela. Por outro lado, como já foi anunciado, a Vila Galé vai também chegar a Elvas, onde será reconstruído e convertido em hotel o Convento de São Paulo. Este hotel vai ser construído ao abrigo do programa Revive, lançado pelo governo no ano passado, mas para o líder da Vila Galé, «sendo louvável pôr os privados a recuperar edifícios históricos, mas é necessário que o governo faça um trabalho de fundo para conquistar investidores». Em 2016, o Grupo Vila Galé facturou em Portugal 93,6 milhões de euros, um aumento de 15% face ao período homólogo de 2015, enquanto no brasil registou um volume de receitas de 76 milhões de euros, uma subida de 6% face ao ano anterior. O volume de negócios global do grupo em 2016 foi assim de 170,6 milhões de euros. ‹

TAP cresceu em 2016 A TAP transportou em 2016 um total de 11,724 milhões de passageiros, traduzindo um crescimento de 3,5% face ao ano anterior. No ano passado, a companhia destaca sobretudo o desempenho em Dezembro, o melhor de sempre, com o transporte de 990 mil passageiros. Entre os fatores de crescimento destaca-se a operação para os Estados Unidos, que atingiu o transporte de 472 mil passageiros, mais 186 mil do que no ano anterior. O crescimento nas ligações com África também contribuíram para a melhoria do desempenho da companhia aérea portuguesa, com um aumento de 10% em 2016, tendo transportado 800 mil passageiros. Em recuperação esteve igualmente as ligações com o Brasil, sobretudo na segunda metade do ano, tendo em Dezembro último crescido 5% face ao período homólogo. Em 2016 a TAP transportou nas rotas com o Brasil cerca de 1,4 milhões de passageiros. ‹

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A Mota-Engil Engenharia e Construção África ganhou uma obra de 178 milhões de euros para reparar a estrada Via Express/ Camama/Avenida Pedro de Castro Van-Dúnem Loy, um dos principais eixos viários da província de Luanda, região que conta com quase sete milhões de habitantes. A atribuição da obra foi feita através de um despacho do Presidente de Angola, que define também a sua execução, e que está incluída no Programa de Investimentos Públicos, sendo feito ao abrigo da linha de crédito de Portugal assegurada pela Cosec. Aliás, os governos de Angola e de Portugal pretendem acelerar a inclusão na linha de crédito e seguro à exportação Cosec de projectos a desenvolver por empresas portuguesas naquele país africano, com prioridade para as infraestruturas e defesa. ‹

Andrade Gutierrez com nova obra em Angola A construtora de matriz brasileira Andrade Gutierrez Engenharia informou que obteve um contrato de 82 milhões de dólares para a conclusão das obras de recuperação, expansão e modernização da pista do aeroporto da cidade do Dundo, capital da província de Lunda Norte, em Angola. A empresa informou também que a assinatura do contrato foi firmada no dia 26 de Janeiro no Ministério das Finanças de Angola e que participou ativamente na montagem da linha de crédito, em colaboração com o governo angolano. Esta linha de crédito permitirá que o governo de Angola pague os valores previstos por trabalhos já realizados e garanta o pagamento da obra, cuja conclusão está prevista para Outubro de 2017. ‹

SMSA vai investir em Angola A SMSA – Sebastião e Martins, com sede em Guimarães, empresa especializada na produção de embalagens de cartão canelado para transporte, anunciou em Luanda de que pretende concretizar este ano um investimento na construção de uma fábrica na capital angolana. Em declarações à Lusa à margem do II Fórum Empresarial Angola-Portugal que se realizou no final de Janeiro na capital angolana, Miguel Martins, administrador da SMSA referiu que «está em vias de fazer uma parceria de concessão comercial com investidores angolanos para instalar uma fábrica nos arredores de Luanda. A futura unidade contará com 50 postos de trabalho. Em Portugal, a SMSA emprega 166 trabalhadores. Ainda segundo Miguel Martins, «trabalhamos para o mercado angolano há três anos. Este último ano, um pouco em contraciclo face a todas as empresas, tivemos um crescimento de 50%, com meio milhão de euros de facturação em Angola», mas que deverá crescer bastante nos próximos anos. ‹

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› A FECHAR

Vivafit inaugurou 10 ginásio na Índia A Vivafit, marca portuguesa de ginásios femininos, inaugurou recentemente o seu décimo ginásio na Índia, o quinto só na cidade de Bangalore, onde registou no ato inaugural a presença do secretário de Estado da Indústria, João Vasconcelos, que estava naquele país no âmbito da visita do primeiro-Ministro português à Índia. Na abertura esteve presente o fundador da Vivafit, Pedro Ruiz, bem como o Masterfranchising Raman Nair, e os próprios franchisings. A Vivafit possui operações em Portugal, Índia, Singapura, Taiwan, Espanha, Emirados Árabes Unidos, Omã, Arábia Saudita, Paquistão e Uruguai. ‹

Nautilus no Dubai A Nautilus, empresa líder em soluções para a educação, vai estar presente no próximo mês no Dubai, onde decorrerá a feira GESS (Global education Sup+lies and Solutions), local onde serão divulgados os vencedores dos GESS Awards, competição onde a empresa portuguesa participa como finalista com dois produtos, um na categoria de tecnologia, outro na categoria de saúde. Antes da presença no Dubai, a Nautilus marcou presença na BETT 2017, a maior feira europeia dedicada à educação e que decorreu em Londres. Aqui, a empresa portuguesa expôs as suas soluções desenvolvidas para a educação das novas gerações, através da inovação nas salas de aula, acompanhando a evolução nos métodos de ensino. ‹

Ambitious aposta no Extremo Oriente A empresa portuguesa produtora de calçado de homem Ambitious, está a apostar em novos mercados do Extremo Oriente, nomeadamente na China, Coreia do Sul e no Japão, de forma a diversificar as suas geografias de negócio. Esta aposta surge depois de iniciativas de expansão no México e na Colômbia. Segundo Pedro Ramos, depois das apostas no continente americano, «agora decidimos investir nestes mercados do oriente». Em 2016 a Ambitious faturou 15 milhões de euros, tendo registado um crescimento na ordem dos 10% nos últimos cinco anos. Localizada em Guimarães, a empresa exporta para 36 países, estando presente em quase todos os mercados europeus. A expansão internacional levou a Ambitious a investir na sua expansão industrial, com a instalação de uma segunda nova fábrica em Guimarães, onde admitiu 60 novos trabalhadores. Atualmente, as duas fábricas da Ambitious empregam 200 trabalhadores. ‹

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ISQ na Arábia Saudita O Grupo ISQ tornou-se parceiro da empresa saudita Mustang Al-Heijailan DAR PI para um projecto de upgrade em metalurgia numa unidade de produção de gás natural da Saudi Aramco. A iniciativa tem como objectivo a implementação de um programa de gestão da corrosão, que visa prevenir situações de fissuras na estrutura metalúrgica, bem como a fuga de gases inflamáveis. O projecto teve uma duração de dois meses, com um valor de facturação na ordem dos 50 mil euros. ‹

Viaceport investe na Guarda A empresa espanhola Viaceport vai investir 4,5 milhões de euros na instalação de uma fábrica de paletes na Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial (PLIE) da Guarda. Segundo o presidente da Câmara da Guarda, Álvaro Amaro, «a empresa vai começar de imediato a operação logística na cidade da Guarda num armazém alugado para o efeito, onde deverá criar 20 postos de trabalho». O autarca adiantou que brevemente será iniciada a construção da nova unidade fabril da Viaceport. ‹

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