dezembro/2016
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Um Pouco de Muita Vida Direção do CCSA: Maria Arlete Duarte de Araújo (Diretora) Maria Lussieu da Silva (Vice-Diretora) Coordenação do Qualivita: Jefferson Arruda Damasceno Bolsista de Apoio Técnico: Paloma Mendes Silva Entrevistas e Redação: Jefferson Arruda Damasceno Paloma Mendes Silva Cerimonial: Marta da Apresentação Noeli Vitorino Recursos audiovisuais: Gustavo Alcantara Design: Brisa Gil
Mensagem da Direção
um pouco de muita vida
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o reestruturamos o Programa de Qualidade de Vida do CCSA (Qualivita), criado em 2012, além da preocupação em construirmos uma ambiência adequada de trabalho no CCSA assumimos o compromisso de que, entre as ações do Qualivita, o Desenvolvimento de Pessoas deveria ocupar um lugar central. A definição desse eixo decorria da compreensão de que a instituição, pautada por critérios de racionalidade, negligencia a gestão dos afetos, tão importante na vida do homem. Assim, um conjunto de iniciativas deveriam ser promovidas tanto para acolher as pessoas no momento de seu ingresso no CCSA quanto no momento de sua aposentadoria quando um mundo de incerteza emerge em relação ao futuro. E, mais do que isso, as iniciativas deveriam expressar em diferentes ocasiões o reconhecimento pelo trabalho realizado ao longo da trajetória profissional. Com essa premissa nasceu o Projeto “Um Pouco de Muita Vida” para homenagear os servidores aposentados que dedicaram anos de sua vida ao projeto acadêmico do CCSA. A nossa compreensão é de que a homenagem é de fundamental importância não só para evidenciar a contribuição individual em diferentes momentos da vida do Centro mas para reafirmar que o presente se explica pelas opções do passado e que muitos com o seu trabalho e dedicação foram atores importantes dessa construção do que representa hoje o CCSA no âmbito da UFRN. A homenagem é assim a expressão do nosso reconhecimento ao trabalho realizado e é a forma que encontramos para valorizar as iniciativas de todos que teceram as articulações, definiram projetos, construíram alicerces, venceram dificuldades e estiveram às vezes à frente do seu tempo. Esta é a primeira edição do Projeto “Um Pouco de Muita Vida” e queremos agradecer a todos que aceitaram participar deste momento deixando registrado a representação que cada um faz de sua contribuição ao projeto do CCSA, da aposentadoria e do espaço organizacional onde fizeram amigos, relacionamentos, descobertas e forjaram uma identidade profissional e de vida. Podem ter a certeza de que este material é
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um pouco de muita vida extremamente rico para os professores e técnicos, recém-chegados ao CCSA, pela revelação que ele permite sobre o sentimento de pertencimento com a instituição, de dever cumprido e de serviços prestados à sociedade. Como sempre temos dito, a convicção de conduzir o CCSA a patamares ainda mais elevados de excelência acadêmica não é incompatível com o esforço de reintroduzir dimensões humanas – o calor, o carinho, a valorização das pessoas, o reconhecimento pelo trabalho realizado – na vida organizacional. Estamos alegres com este encontro - de afetos, de amigos, de saudades. Estamos alegres em resgatar um pouco a história daqueles que confundiram a sua própria trajetória com a trajetória do CCSA. Estamos aqui realizando uma festa que foi carinhosamente planejada. No entanto, é a presença de todos que dá o brilho especial à noite. Noite de grande beleza pela simbologia que encerra. Noite de emoções. Noite de recordações. Noite de alegrias. Estamos felizes em viver o cotidiano do Centro de Ciências Sociais Aplicadas de forma intensa, sem medo de enfrentar as suas dificuldades. Afinal, o que é preciso é aprender a viver no tempo que nos coube viver, como verdadeiros seres humanos. Isso é o que vale e pode ser feito. Natal, 07 de Dezembro de 2016
Maria Arlete Duarte de Araújo Diretora do CCSA Maria Lussieu Silva Vice-Diretora do CCSA
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um pouco de muita vida
Apresentação
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Projeto “Um Pouco de Muita Vida” faz parte de uma das diretrizes do eixo Desenvolvimento de Pessoas do Programa de Qualidade de Vida no Trabalho do Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Qualivita CCSA. Tal projeto abarca três ações pontuais, direcionadas a todos os servidores desde o momento em que adquirem o direito de se aposentar até o dia em que já tiverem cumprido seu tempo laboral na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. A primeira ação é o acompanhamento, com vistas à preparação em vários âmbitos da vida, dos servidores que adquiriram direito à aposentadoria. Podemos direcioná-los a projetos existentes, no âmbito da UFRN, ou realizar encontros locais no CCSA para este fim. A segunda ação é um rito festivo no mês em que o servidor efetivou seu processo de aposentadoria, no ambiente de trabalho em que é lotado, com os colegas de convívio mais próximo. A terceira é um evento bienal, ou de acordo com a demanda, cuja finalidade é homenagear os servidores já aposentados de maneira coletiva, tenham estes usufruído ou não, das duas ações anteriores. A cerimônia composta pelos egressos, familiares e amigos, apresenta um pouco da história profissional de cada um e, por fim, os servidores são congratulados com um símbolo formal em gratidão pelos serviços prestados ao CCSA /UFRN. Acreditamos que esse é um espaço de gratidão, bem estar e admiração por aqueles que dedicaram parte de suas vidas à prestação de serviço à nossa comunidade acadêmica. Substituímos a ideia de esquecimento pela de reconhecimento, a ideia de que foram mais um, pela de que foram únicos em sua contribuição.
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o processo de realização da primeira edição do Cerimonial Um Pouco de Muita Vida, ouvimos seiscentos e poucos anos de história. Isso mesmo. Até onde fiz as contas, somando os anos de dedicação profissional de cada um, tive a honra de ouvir um pouco mais de meio milênio de história a cada vida que entrou na sala do Qualivita e respondeu a três ou cinco
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um pouco de muita vida perguntas sobre sua trajetória no Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Nos primeiros encontros a emoção era quase incontrolável por ver tanta vida, sonhos, dedicação e emoções conflitantes ainda pulsando ali. Depois fui dominando os sentimentos e me tornando um prático em resumir, em média, trinta anos de vida em meia lauda de uma página digital, mas nunca deixei de me encantar pelo jeito de cada um encarar sua vida e pelas marcas que os anos de CCSA-UFRN deixaram em seus corpos e almas. Foi uma honra, uma felicidade e um grande aprendizado. Algumas vezes a memória das entrevistas acompanhavam silenciosamente meus dias e me pegava pensando: Qual é a minha relação com o trabalho hoje? Em que medida a minha atuação profissional se confunde com quem eu sou na íntegra? Quanto sobra de mim, ou quem eu sou quando não penso em produzir algo para alguém? Ou melhor: Eu penso mesmo em ser útil para alguém? Ou tudo que faço, no fundo, é para me sentir melhor comigo mesmo? Bem, nem todas as percepções se transformaram em questões existenciais. Algumas tornavam-se, de imediato, num sentimento de prazer simplesmente por estar ali; era quando eu pensava “trabalhar é exatamente isso: é ter o prazer de trocar algo com as outras pessoas”. Outras percepções transformavam-se num sentimento de esperança e liberdade do tipo “Quando eu me aposentar serei assim, viverei numa busca tranquila por Ser melhor e estar em sintonia com o mundo”; outras me deixaram um tanto triste por perceber a dificuldade que os anos de mergulho intenso no rotina estruturante do trabalho nos traz, pois acabamos perdendo a capacidade nata de vivenciar a vida em sua completude, para além do Ser que racionaliza, questiona e produz. Enfim, não ousarei dizer, embora já ousei pensar, que tenho um material de pesquisa em mãos. Prefiro considerar essas entrevistas como filmes vivos que me ajudaram a refletir sobre ciclos e despedidas. Na despedida do Ser que trabalha, nos ciclos de construção e transformação do Ego e em todas as pequenas transformações cíclicas que vão acontecendo ao longo de nossa vida: surgimento de pêlos, primeiro amor, carteira de motorista, pele flácida, casamento, careca, formaturas, memória curta, primeiro trabalho, óculos, viagens, aposentadoria. Transformações, ciclos, despedidas, assuntos com os quais podemos estabelecer mais intimidade a fim de nos harmonizarmos com a natureza da vida que tem uma sabedoria intrínseca e faz todos os ciclos acontecerem, quer aceitemos, quer não. Tudo em nosso mundo é energia em renovação e cada manifestação energética que fica para trás marca um novo ciclo a partir daquele ponto. Aceite a nova onda de águas renovadas. As águas serão sempre novas se você permitir. Jefferson Arruda Coordenador do Qualivita
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Professores e TĂŠcnico-administrativos homenageados
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Ana Lúcia Aragão A
história de Ana Lúcia Aragão, na UFRN, começa em 1978 com sua graduação em Psicologia. A partir daí seguiram-se 34 anos de dedicação profissional. De sua contribuição ao CCSA, destaca-se o período entre 2003 e 2011 quando seguiram-se dois mandatos na Direção do Centro, um como Vice-Diretora de Arlete e outro como Diretora, tendo Lussieu como Vice. Foram oito anos de uma gestão difícil, mas igualmente satisfatória. Não se tinham as dificuldades orçamentárias de hoje, mas foi o período da expansão universitária e do crescimento do controle o que aumentou muito o trabalho administrativo com implicações na formas de gerir. Durante o projeto de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, o CCSA fez um debate acadêmico, estruturado em oficinas, que resultou na decisão de adesão ao REUNI reestruturando os cursos já existentes, ampliando a oferta de vagas e reorganizando os espaços físicos do Centro. Isso resultou em aumento na demanda por profissionais e logo foram realizadas oficinas para receber os novos servidores (que eram muitos), apresentando-os à dinâmica do Centro. Nesse ínterim, ocorreu a elaboração do Plano Diretor da UFRN com várias implicações sobre o planejamento espacial do Centro, sendo a mais destacável o remanejamento completo do projeto do NEPSA II que deixaria de ser um prédio mais horizontalizado e passaria ao formato de quatro andares. Outra grande mudança foi a desvinculação, de fato, do Departamento de Educação do CCSA, transformando-se no Centro de Educação da UFRN, o que envolveu também a realocação de algumas unidades administrativas suplementares como o Núcleo de Educação Infantil e a Oficina de Tecnologia que foram redistribuídas para o novo Centro de Educação. Diante de tanto trabalho, Ana Lúcia alegra-se por ter saído desse processo com dignidade e inteireza, não havendo mau sofrimento e, se porventura houve, foi um bom sofrimento que lhe ensinou a ser melhor. As melhores lembranças que leva são as humanas, dos contatos estreitos com os alunos por meio dos Centros Acadêmicos e da convivialidade com os professores e técnicos. Com essa mesma tranquilidade aposentou-se. Ela enxerga a aposentadoria como uma fase natural, parte inevitável da vida, assim como nascer ou entrar no mercado de trabalho. Não aceitar isso seria como ficar brigando contra a morte por não querer morrer. “Podemos até lutar, mas vamos morrer.” Ela acha que, em muitos casos, a identificação do trabalho como razão da vida ou do viver, transfere ao trabalho as responsabilidades de escolhas e opções do próprio viver. Nesse sentido, aposentar-se ou desvincular-se, traz de volta para si a responsabilidade das escolhas e do bem viver. Esse processo não é fácil, mas pode
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um pouco de muita vida ser sem sofrimento e dor. E, por ser inevitável, o melhor é se preparar para receber essa nova fase, cultivando a graça e celebrando a chegada desse momento com novos planos, novos caminhos. Finaliza dizendo que, no seu caso, aposentadoria em si não lhe trouxe coisa nenhuma, ela que foi atrás de todas. O direito legal de aposentar-se apenas lhe trouxe o merecido suporte financeiro e a disponibilidade de tempo. Merecido porque trabalhou muito para conquistar essa liberdade de poder fazer as escolhas dentro de uma nova lógica temporal e organizacional. E o que faz hoje é seguir o caminho do autoconhecimento
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Antônio Sales Mascarenhas A
ntônio Sales Mascarenhas foi um realizador. Foram 37 anos dedicados à UFRN, sendo os doze últimos mais expressivos do ponto de vista da gestão onde pôde dar sua maior contribuição. Assumiu a Chefia do Departamento de Ciências Contábeis na época em que se iniciava o projeto de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais. Algumas de suas realizações podem ser enumeradas: O Curso de Ciências Contábeis abriu 45 novas vagas, foram contratados seis novos professores, o Curso foi concentrado no Setor de Aulas V, foram equipadas todas as salas com projetor de slides, construído novo laboratório com 50 computadores, comprados notebook para os professores, equipado um miniauditório para o Departamento e incentivado fortemente a capacitação de muitos docentes. Lembra que houve uma época na qual os doutores eram menos de 20% do corpo docente e comemora o fato de que esse percentual será de 56% em 2017. De modo que a melhor lembrança que Mascarenhas leva é o sentimento de realização e a sensação de dever cumprido. Os objetivos de melhorar a qualidade do curso e equipar o Departamento foram alcançados. Aposentou-se pelas incertezas que rondavam o tema diante das instabilidades governamentais e por estar com 70 anos, mas gostava muito do que fazia. De certa forma, a vida ficou mais vazia, embora concorde que tenha chegado a hora. Ficou a saudade
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Djalma Freire Borges D
jalma se percebe como um intelectual e o modo como ele enxerga a vida de alguém que se dedica ao exercício da reflexão crítica e da produção do conhecimento, moldou sua trajetória profissional desde sua contribuição ao longo da vida ativa até à escolha de novos projetos para a fase da aposentadoria. Sua mais expressiva contribuição se deu no âmbito da pós-graduação. Junto com o professor Carlos Rios, entre 1977/78, fundou o Programa de PósGraduação em Administração (PPGA) que foi possível a partir do projeto de criação do Curso de Mestrado em Administração, de sua autoria. Aprovado pela CAPES em 1978, o Mestrado em Administração, junto com o Mestrado em Educação, ambos pertencentes ao CCSA, foram os primeiros cursos de pós-graduação “stricto-sensu” a existir na UFRN, dando início ao espetacular desenvolvimento da pós, na UFRN, nos dias de hoje. Alguns anos depois, enquanto Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Administração, Djalma escreveu o projeto de criação do Curso de Doutorado em Administração, apresentado à CAPES em fins dos anos 1990. Dessa forma, ele enxerga que contribuiu na formação de muitos mestres e doutores na área da Administração, alguns deles já hoje docentes em universidades públicas e privadas do Rio Grande do Norte e de outros estados do país. As melhores lembranças que Djalma leva de sua vida no CCSA, para além do relacionamento com colegas, dos debates acadêmicos e das lutas políticas travadas dentro e fora do Centro, foram os momentos em que ele pôde perceber o crescimento intelectual e o despertar do interesse pela ciência por parte dos jovens. Sempre que ele percebia o brilho dos olhos dos alunos, quando um tema abordado os tocava mais profundamente e os motivava para novos estudos e pesquisas, era como um nascimento ou uma revelação. Djalma aposentou-se por limite constitucional de idade para servidores públicos. Sua primeira descoberta, nesta fase, foi perceber o tempo livre e decidir o que fazer com ele. Foi um momento de choque que o convidou a construir um novo projeto de vida para não cair no vazio tedioso. Entretanto, na sua visão, para um verdadeiro intelectual torna-se fácil o enfrentamento do tempo livre, pois ele pode elaborar um projeto de estudos, pode eleger algo que ele sempre teve interesse de conhecer e não teve tempo para executar. Foi o que Djalma fez. Hoje ele estuda o Marxismo, História do Brasil e construção e evolução da economia e sociedade brasileiras. Por outro lado, aposentadoria é um tema complexo e Djalma percebe que, no âmbito pessoal, ele é muito paradoxal uma vez que se liga a uma fase final da existência humana, o que não é fácil de encarar. O que ele pode dizer é que, até esse momento, sua experiência tem sido satisfatória devido à formulação do projeto de estudo e da utilização dele para transmitir conhecimento e experiên-
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um pouco de muita vida cias a outras pessoas, através de publicação de crônicas, artigos e participação em disciplinas novas e abertas em cursos na universidade
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Elizabete Silva de Castro E
lizabete Silva de Castro dedicou-se, durante 30 anos, às suas funções enquanto assistente administrativa do Mestrado em Administração com zelo e assertividade. As melhores lembranças que leva da UFRN são as amizades que aqui fez e o senso de família no ambiente de trabalho. A aposentadoria lhe trouxe a possibilidade de dedicar-se mais a si e a sua família, além de adotar uma prática regular de atividade física em sua vida. Enfim, lhe proporcionou mais tempo livre para viver a vida.
Hiran Francisco O. Lopes da Silva H
iran viveu um sonho na UFRN e diz que seu maior legado foi educar. Ele tinha uma carreira nacional consolidada como consultor industrial do SEBRAE quando resolveu começar a se preparar para a realização do objetivo de ser professor. Foram anos de extrema dedicação e de difíceis escolhas, porque algumas coisas ficaram para trás para que o sonho tivesse lugar. Dos seus anos de serviço dedicados ao Departamento de Economia do CCSA, a melhor lembrança que Hiran leva é ter sido professor, título do qual tem muito orgulho. Aliás, um dos motivos que o levou a solicitar sua aposentadoria foi quando começou a perceber que o professor não era mais uma entidade respeitada pelos alunos. Ele lembra com lástima do Natal em que recebeu uma intimação da justiça federal questionando a colocação de faltas em um aluno. Por esse motivo, passou o réveillon sofrendo pelo ocorrido. Isso o fez considerar se valia
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um pouco de muita vida a pena continuar, uma vez que ele já tinha o direito adquirido de aposentar-se. Entretanto, acrescenta que se a pessoa está propensa a tomar uma decisão pensada tudo fica mais fácil. Ele já estava pensando sobre o assunto e planejando-se há pelo menos três anos e sabia que estava saindo no momento certo de garantia de direitos. A aposentadoria tem ensinado para Hiran que é possível viver sem ser professor, mas ele sente que esse é um sentimento que não o larga nunca, porque é uma emoção muito intrínseca a ele. Ensinou também que podemos ser substituíveis e finaliza dizendo que o processo de aposentadoria foi a oportunidade que teve para se conscientizar de que já tinha cumprido seu papel e de que é preciso ter respeito por si mesmo e enxergar seus limites para sair na hora exata. “Assim como o sábio Pelé, é bom sair deixando saudades”
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João Rodrigues Neto A
vida profissional do professor João Rodrigues foi delineada pela coragem de arriscar-se diante das oportunidades profissionais que lhe apareceram e pela realização da meta de vivenciar, ao máximo, as possibilidades da carreira de professor universitário. Com relação a esse ponto, destaca-se sua dedicação à publicação de artigos e capítulos de livros em sua área de pesquisa: Economia do petróleo, do gás natural e dos biocombustíveis. Podem-se pontuar alguns momentos de sua carreira: Especialização no Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Económico na Itália; Mestrado na Universidade Federal de Campina Grande na Paraíba e Doutorado na Universidade Estadual de Campinas em São Paulo. No CCSA contribuiu lecionando diversas disciplinas da graduação e, administrativamente, tendo sido Chefe de Departamento por quatro mandatos, membro do Conselho de Administração - CONSAD e do Conselho Universitário - CONSUNI. Publicou trabalhos em nove países (Brasil, Argentina, Áustria, Canadá, Chile, Espanha, México, Paraguai e Uruguai) e foi o primeiro Professor Titular do Departamento de Economia e o único com Pós-Doutorado (realizado no México, em 2014) até os dias atuais. João Rodrigues sente muita afinidade e facilidade em trabalhar com sua linha de pesquisa e considera-se privilegiado por essa temática ser relevante no contexto mundial. Sem dúvida, isso ajudou sua carreira a ter fluidez e reconhecimento. Todo esse contexto, aliado ao modo como caminhou profissionalmente, em alguns momento, serviu de estímulo para que os colegas fizessem o mesmo. Das lembranças que leva da vida no CCSA destaca a boa convivência com to-
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um pouco de muita vida dos os colegas (professores, técnicos e bolsistas) e o respeito que tinham pelo seu trabalho. Ele diz que se aposentou, apenas de direito, porque chegou ao limite legal de idade. Ainda não se sente aposentado porque continua publicando (o que vem fazendo nesses dois últimos anos), participando de congressos no exterior e de bancas para Professor Titular, em outras universidades brasileiras, atividades que ainda consomem muito o seu tempo. Talvez a aposentadoria tenha lhe trazido, até este momento, somente a liberdade de escolher como gerir seu tempo e, futuramente, lhe traga a oportunidade de ficar um pouco mais de tempo conhecendo e vivendo nos países pelos quais passou correndo enquanto estava na ativa
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Jomária Mata de Lima Alloufa J
omária Alloufa vem escrevemdo uma história de 41 anos na UFRN. Desde os 19 anos, sua vida se confunde com a própria história desta universidade. Participou das discussões para aprovação e implantação de uma gama de projetos hoje consolidados, tais como: alguns Programas de Pós-Graduação; criação de um fundo orçamentário para pesquisa numa época em que a universidade focava apenas em ensino; realização das primeiras edições da Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura - CIENTEC, quando nem tinha esse nome; criação do Laboratório de Informática das Ciências Sociais Aplicadas - LIACS, dos Núcleos de Pesquisa em Ciências Sociais Aplicadas - NEPSA I e II, e capacitação de tantos professores pelo Projeto CAPES/COFECUB. Aliás, esse último merece um destaque em sua história. Em 1979, o governo brasileiro estabeleceu um acordo com o governo francês para capacitar professores da Região Nordeste. O projeto chamado CAPES/COFECUB oferecia doutoramento em todas as áreas. Então, Jomária fez seu doutorado e, quando voltou, ajudou a consolidar intercâmbio para diversas missões de qualificação e doutoramento. Daí nasceram algumas das bases de pesquisa do CCSA, inclusive a que coordenou até sua aposentadoria: Representação Social e Educação. Surgiram também pesquisas interdisciplinares com a França fazendo com que o Programa de Pós-Graduação em Educação entrasse no circuito dos melhores do Brasil. Após esse ciclo, cujos impactos foram avaliados pela CAPES, Jomária atuou como consultora do projeto CAPES/COFECUB da Região Norte. De tanta história vivida, Jomária leva as boas lembranças dos dias em que,
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um pouco de muita vida juntamente com Arlete, ficaram “plantadas” no CCSA criando os projetos que geraram o NEPSA I, o Seminário do Centro e o LIACS, laboratório que simbolizou a chegada de novas tecnologias no CCSA. Também lembra, com muito gosto, das participações nos Conselhos Superiores onde lutou pela criação e consolidação de um futuro melhor para a UFRN. Jomária se aposentou aos 47 anos, durante o Governo de Fernando Henrique Cardoso, na época do sucateamento das universidades. Foram criados novos critérios de aposentadoria bastante desfavoráveis e ela estava vivendo um momento difícil de sua vida pessoal. Esses dois fatores aliados levaram-na a essa escolha. Mas sua vontade de voltar a trabalhar era tão grande que aposentou-se de direito mas nunca de fato. Em 2016 completaram-se 20 anos como professora voluntária no Departamento de Ciências Administrativas. Como não teve a oportunidade de vivenciar o fato de estar aposentada, Jomária ainda não sofreu nenhum sintoma ou mudança visível em sua vida. O que a aposentadoria significou foi o fim de um ciclo profissional e o início de outro: uma nova carreira na Área de Administração. Jomária encerra dizendo “o que é perene em mim é o amor por ser professora e pesquisadora e, enquanto trabalho, me sinto viva”
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José Arimatés de Oliveira J
osé Arimatés percebe-se como um professor sério e exigente consigo mesmo e com seus alunos. Desejando que eles caminhem com os próprios pés, ministra aulas incentivando o pensar reflexivo sobre tudo, sempre semeando ideias ao invés de técnicas. Ele acredita que sua maior contribuição, enquanto professor no CCSA, foi a prática do humanismo na relação com os seus semelhantes e os relatos positivos de ex-alunos o fazem pensar que seguiu o caminho certo. Arimatés adotou uma postura de consideração, a priori, que todos os seus alunos eram bons até que lhe provassem o contrário e jamais se decepcionou. Entre tantos momentos agradáveis da vida acadêmica, ele lembra especialmente da defesa de sua tese de doutorado, quando o carteiro entrou várias vezes na sala entregando algo ao professor orientador. Ao terminar, o professor anunciou que havia recebido mais de uma dezena de telegramas de colegas do departamento, felicitando Arimatés pela defesa. O carinho e atenção dos colegas de trabalho o tocaram e foi uma emoção incrível que contribuiu com sua quali-
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um pouco de muita vida dade de vida no ambiente de trabalho. Arimatés aposentou-se, prematuramente, aos 56 anos de idade, porque desejava fazer algo mais além da universidade. Não se tratava de insatisfação, cansaço ou tristeza. Ao contrário, aposentou-se em um ótimo momento de sua carreira, quando coordenava um grupo de pesquisa, estava publicando, orientando teses e dissertações e coordenando um projeto que amava muito na graduação em Administração. Mas desejava alçar outros vôos e a aposentadoria lhe deu a possibilidade de realizar algumas atividades externas que a dedicação exclusiva à Universidade não permitia. Sentindo-se jovem, poderia ter uma carreira docente em outra universidade, em Natal ou fora, mas preferiu dedicar-se a atividades solidárias e voluntárias, algumas relacionadas à sua relação com Deus. Em termos acadêmicos continua com algumas atividades na educação a distância que, em sua opinião, representa novas possibilidades de colaboração com a sociedade. Então, aposentadoria para Artimatés é sinônimo de aprendizagem, de liberdade para fazer algo fora da rotina estruturante, de atuar de outras maneiras no mundo. Isto significa satisfação, alegria e felicidade. Inclusive ele gosta de dizer que não está “aposentado”, mas “jubilado”, que é uma expressão em língua espanhola que diz mais sobre sua atual situação na vida
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Maria da Penha M. de Medeiros M
aria da Penha acredita que, ao longo de sua passagem pela UFRN como professora, contribuiu com a aprendizagem de conteúdos e exemplos atitudinais corretos para os alunos, enxergando-os como pessoas e futuros profissionais. Construiu, gradual e coletivamente, as ações de administração, pesquisa e extensão dentro do que lhe coube atuar, tendo sido os esforços pessoais invisíveis e imensuráveis. Algumas etapas podem ser pontuadas, embora a dinâmica da vida seja bem mais difícil de descrever. Começou como estudante de Graduação em Administração (76 a 78), depois foi aluna da Pós-Graduação em Administração (79-83) até, finalmente, tornar-se professora do Curso de Administração onde esteve na ativa entre 84 e 2012 e como voluntária entre 2013 e 2014. Somando um total de 38 anos ininterruptos, sendo 30 como professora, lecionou disciplinas da área de Gestão de Pessoas e Metodologias na Graduação, no Mestrado e na Especialização. A maior parte do tempo dedicou-se à área de Gestão de Pessoas, lecionando e orientando trabalhos na graduação e pós-graduação. Como a maioria dos pro-
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um pouco de muita vida fessores, vivenciou experiências de extensão, de atuação administrativa como Coordenadora do Curso e participação em Comissões. Muitas lembranças boas foram colecionadas porque sempre teve prazer em exercer suas funções. Cada batalha vencida era uma alegria sem preço e os momentos difíceis foram esquecidos, restando somente gratidão pelas oportunidades vivenciadas. Maria da Penha aposentou-se por necessidades pessoais e familiares. Esse foi um processo doloroso e de saudosismo das atividades docentes, tanto que atuou como professora voluntária até que as emoções se acomodassem melhor em seu íntimo. Isso tudo lhe trouxe a percepção de que a vida tem suas etapas e cada uma deve ser vivida por inteiro, no presente, sem lamentações ou saudosismos estéreis, mantendo a saudade positiva que auxilia a ir em frente e lutar pela qualidade da vida e pelo momento que estamos vivendo, construindo sempre. A aposentadoria lhe trouxe possibilidades de vivenciar experiências que, até então, vinham sendo adiadas por falta de tempo, definir novas prioridades, abrir novos horizontes como por exemplo, a busca por conhecimentos mais humanistas que valorizam outras esferas além da intelectual, novas práticas e aprendizagens, novas contribuições, tempo para fazer o que gosta e maior convivência com a família, dentre outras coisas que ampliam a vida
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Maria de Fátima Dias de Souza M
aria de Fátima Dias de Souza, carinhosamente conhecida pelos seus colegas como Mirica, começou sua carreira como Assistente em Administração no Campus Avançado de Caicó, onde passou dois anos como Secretária. Em 1977 chegou ao Departamento de Direito Público do CCSA onde permaneceu por 37 anos. Foi uma profissional dedicada e atenta à necessidade de capacitação continuada, o que a fez participar da maior parte dos cursos de atualização administrativa oferecidos pelo então Departamento de Desenvolvimento de Recursos Humanos, além de anualmente participar dos congressos de secretárias. Nos últimos anos no CCSA, trabalhou na Secretaria do Mestrado em Direito e, por fim, dedicou-se às demandas dos Cursos de Especializações. A melhor lembrança que leva de sua vida na UFRN são as amizades e o bom relacionamento que tinha com todos os colegas de trabalho. Acredita que se aposentou na hora certa, que contribuiu com a universidade e, agora, vê a oportunidade de dedicar-se mais à sua família
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Maria do Socorro de Azevedo Borba S
ocorro Borba, professora desde 1979, assumiu algumas funções administrativas ao longo de sua carreira, dentre elas a de Diretora do CCSA. Em sua gestão, foram criados os Cursos de Turismo e Biblioteconomia, construído o anexo do prédio administrativo, criada a logomarca do Centro, defendida a primeira tese de doutorado da UFRN no Programa de Pós-Graduação em Educação, bem como viabilizada a capacitação do quadro docente do Curso de Direito. Até meados da década de 80, Socorro Borba e mais 14 bibliotecários eram lotados na Biblioteca Central, contratados como professores colaboradores. Em 1988, porque o Ministério da Educação e Cultura passou a exigir que todos os professores fossem lotados em Departamentos, foi criado o antigo Departamento de Biblioteconomia - DEBIB (1992), que funcionou por cinco anos ministrando disciplinas em vários cursos de graduação e pós graduação da UFRN até que, em 1996, criou-se o Curso de Biblioteconomia. Socorro lembra de um período em que os esforços do então reitor, Ivonildo Rêgo, voltaram-se para avaliação e melhoria do conceito dos cursos, iniciando pelo Curso de Direito. Hoje, a avaliação se chama Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes – ENADE. Na ocasião, os estudantes se rebelaram, não responderam ao exame, ficando com nota zero. Então uma comissão do Ministério da Educação veio até o CCSA entender o que estava acontecendo e acabaram por identificar uma série de inadequações e deficiências do curso, o que resultou em um conjunto de recomendações que, com apoio da reitoria, foram seguidas. A partir daí criou-se um Mestrado Interinstitucional em parceria com a Universidade Federal do Pernambuco (UFPE) e foram capacitados aproximadamente 15 professores, introduzidas melhoria nos laboratórios e, mais adiante, viabilizada a criação do Mestrado em Direito. Ainda na sua gestão, o curso de Biblioteconomia foi avaliado, por cinco anos consecutivos, com a nota máxima pelo MEC. A melhor lembrança que Socorro leva de sua vida profissional foi o dia em que foi criada a Graduação em Biblioteconomia, pois o sentimento que pairava era o de que o Departamento não vingaria se não tivesse algum curso atrelado a ele. Logo, a criação foi como um renascimento. Ela e toda equipe carregam um sentimento de gratidão pela acolhida por parte do então diretor do CCSA, professor Aluísio Alberto Dantas, durante o processo da criação do Departamento e, igualmente, são gratas pelo apoio relevante de Célia Ribeiro, então diretora, e de todos os departamentos vinculados ao Centro durante a concretização desse processo em 1992. Socorro enxerga a aposentadoria como o coroamento do dever cumprido, foram 35 anos de trabalho intenso! Ela lembra que Zila Mamede, sua chefe no início da carreira, era uma pessoa muito íntegra, ética e cumpridora de deveres.
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um pouco de muita vida Em sua época, todos os postos de trabalho eram ocupados oito horas por dia fielmente, portanto não existia flexibilidade de horários para docentes. Por fim, a aposentadoria lhe apareceu como oportunidade de ir para o mundo, de conhecer outras nações atendendo a um chamado do seu marido. Percebe, com alegria, que o mundo deles dois se uniu muito mais depois dessa decisão e que, com a aposentadoria, a qualidade de vida dela e da família melhorou, pois não há mais stress como horários preestabelecidos! Outro fator que a fez ficar confortável com a ideia de aposentar-se foi o jeito contemporâneo do aluno “desejar aprender” que é muito diferente do que está habituada. Nos últimos tempos ela via o excesso de virtualidade como um feedback indiferente que a deixava um tanto desestimulada. Enfim a aposentadoria chega em excelente hora lhe trazendo mais qualidade de vida e a possibilidade de flexibilizar a rotina e exercer a liberdade de viver no mundo
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Maria do Socorro Gondim Teixeira S
ocorro Gondim dedicou-se ao CCSA por 24 anos. Começou lecionando disciplinas de graduação e logo se engajou em funções administrativas. Participou da Comissão Permanente de Pessoal Docente - CPPD, foi membro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC, foi coordenadora do Curso de Graduação em Economia por dois mandatos e da Pós-Graduação por três, sendo um como Vice. Contribuiu para a formação dos Cursos de Pós-Graduação em Economia, Serviço Social e Engenharia da Produção. Sua colaboração enquanto produtora de conhecimento se deu nas áreas de Economia e Desenvolvimento Regional e Competitividade Sistêmica. Destaca-se o esforço de Socorro Gondim para dar visibilidade ao Curso de Economia da UFRN, ampliando a rede de contatos com profissionais de todo o Brasil. Ela ajudou a trazer para Natal, em 2007, uma edição do Congresso da Associação Nacional de Cursos de Graduação em Ciências Econômicas - ANGE. Na época do Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais e das mudanças das Diretrizes Curriculares no Brasil. Desde então faz parte da Diretoria da ANGE. Em 2011, com sua ajuda, foi sediado em Natal, o Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos - ENABER. Na época, o encontro bateu recorde de trabalhos inscritos. Isso deu visibilidade à UFRN e aos Cursos de Graduação e de Pós-Graduação em Economia. Os graduandos que, nessa
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um pouco de muita vida época, apresentaram trabalhos tiveram a oportunidade de fazer mestrado e doutorado com essa equipe de profissionais com a qual estabeleceram contato Socorro lembra do dia em que abriu o SIGRH e visualizou uma mensagem que estava completando 10.000 dias de UFRN. Hoje já se vão 11.000 dias no CCSA, o que a faz lembrar da mudança e do crescimento do Centro ao longo dos anos, dos quase 2.800 alunos que passaram por ela e das amizades que ficaram para o resto da vida, além do grande sentimento de pertencimento ao CCSA. Socorro decidiu se aposentar pela conjuntura do país e porque já possuía direitos garantidos, mas como ama lecionar, espera seguir os caminhos da educação de outro modo. Nessa nova fase, seu ritmo de vida já mudou. O tempo agora é outro, podendo andar mais lentamente, sentir mais as coisas do mundo, dedicar-se a fazer tudo que gosta: karatê, francês e fotografia. E o melhor é que tudo isso ainda é vivenciado no lugar que, de certo modo, a construiu: a UFRN
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Maria Ivaneide da Rocha M
aria Ivaneide da Rocha diz que a UFRN é imensa e que somente deixou pequenas marcas no resumido universo de trabalho onde esteve lotada, o Departamento de Ciências Contábeis. Embora a lista de atividades fosse demasiada, ela acha que o exemplo diário e a dedicação ao trabalho deixam marcas. Nesse momento, remete-se a Cora Coralina que diz: “A vida é boa. Saber viver é a grande sabedoria. Saber viver é dar maior dignidade ao trabalho. Fazer bem feito tudo que houver de ser feito. Seja bordar um painel em fios de seda ou lavar uma panela coscorenta. Todo trabalho é digno de ser bem feito”. As melhores lembranças que leva do CCSA são relativas aos encontros, aos abraços diários, à ajuda de colegas de trabalho, às lembranças das gargalhadas pelos corredores, da solidariedade nas situações difíceis. “Enfim, um quadro pintado e nele todos os amigos, em conversas nos jardins do CCSA.” Maria Ivaneide fala que sempre amou seu trabalho, o seu fazer, seus chefes e colegas, mas que um dia começou a perceber que a idade trazia algumas limitações e chega uma hora em que já não se consegue “assoviar e chupar cana ao mesmo tempo, pulando num pé só”. Portanto, aposentar-se foi um projeto escrito e amadurecido em sua mente enquanto o momento se aproximava. Ela sabia exatamente o que iria fazer porque ao longo dos anos de trabalho foi deixando a vida pessoal num cantinho e a aposentadoria foi vislumbrada como a possibilidade de realização de vários projetos que foram sendo abandonados na tra-
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um pouco de muita vida jetória. Então, a aposentadoria lhe chegou como a oportunidade de colocar em prática alguns deles. Acabou por descobrir que a vida de aposentada também é corrida e que o tempo é curto para realizar tudo que se deseja. Encerra dizendo que “aposentar-se é necessário, pois o tempo é inexorável e a ocupação da vaga que antes era sua, por alguém que está iniciando no universo de trabalho, trará outras contribuições e um novo jeito de fazer. É a vida que segue o seu curso normal”
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Maria Lúcia M. de Farias L
úcia Maranhão, dedicou-se à UFRN por 35 anos e sua principal contribuição foi a socialização da informação. Essa foi a base de sua formação profissional, desde a época em que estudou estatística até sua especialização em Análise de Sistemas, finalizando sua vida acadêmica com o mestrado em Ciências da Informação. Lúcia trabalhou na Biblioteca Central Zila Mamede (BCZM) por 18 anos. Quando começou-se a falar em informatização de bibliotecas ela era chefe do Setor de Automação e Estatística da BCZM (Internamente chamado de Central de Processamento de Dados - CPD). Muito trabalhou-se, em sintonia com os envolvidos, para viabilizar o projeto de colocar em rede todo o sistema de bibliotecas da UFRN e, sob a sua coordenação, foram elaboradas algumas de nossas bibliotecas digitais, como a Biblioteca Digital de Teses e Dissertações que foi a primeira implantada no Brasil, tendo recebido elogio publicado na página principal do IBICT- Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. Em 2009 chega ao CCSA para trabalhar no acervo do Núcleo Temático da Seca, onde implantou o sistema de automação do acervo bibliográfico, disponibilizou o catálogo para consultas online, reorganizou todo o acervo, implementou a visualização das estantes e criou a Fanpage do Facebook. As melhores lembranças que Lúcia tem são das equipes de trabalho pelas quais passou, onde fez vários amigos. Sente um enorme prazer de ver que o trabalho planejado vem sendo executado e dando retorno à comunidade A exemplo disso, ela diz que é uma satisfação constatar, na atualidade, a operação de todo o sistema de bibliotecas da UFRN em rede e saber que ela contribuiu semeando essa ideia na década de 90, junto com as diretoras Rejane Lordão e
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um pouco de muita vida Rildeci Medeiros e com o apoio da Empresa Financiadora de Estudos e Projetos do Governo Federal - FINEP. Portanto, aposentadoria para Lúcia é sinônimo de realização profissional. Ela agora visita a UFRN com a alegria de voltar a uma casa em que foi muito feliz. Foram anos de muito trabalho e já sentia vontade de viver mais a vida em família. Percebia que sua saída da instituição além de abrir vaga para que uma nova vida pudesse vir contribuir com a UFRN, lhe traria a possibilidade de usar sua vitalidade para descobrir novas coisas. Mesmo tendo se aposentado a apenas dois meses, já tem a perspectiva de realizar vários hobbies como fotografia, culinária, edição de imagem e vídeo, além da liberdade de poder viajar pelo mundo
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Maria Soares de Brito M
aria Soares de Brito, a famosa Dona Maria da Supervisão do Setor de Aulas I, serviu com alegria à UFRN durante 37 anos de sua vida. Ela diz que sua história na UFRN foi boa demais porque aprendeu muita coisa que não sabia antes e expressa ter gostado muito de seu trabalho que, em suas palavras, “era uma benção!” Seu marido trabalhava aqui e, em determinado momento, foi solicitado a trazer alguém para ocupar um cargo de limpeza. Foi assim que Dona Maria entrou na UFRN como auxiliar de serviço gerais e, um ano depois, foi promovida a “Assistente de alunos” quando lhe foi dada a responsabilidade pela sala da supervisão. Esse momento, somado ao dia em que conseguiu isonomia de cargos, são as melhores lembranças que ela leva. Dona Maria lembra que quando chegou na UFRN, o Setor de Aulas I era bem novinho e todos tinham o maior cuidado com a limpeza. O piso das salas, naquela época já de granilite, eram areados com bombril toda semana. Os pisos dos corredores, de uma cerâmica retangular vermelha, eram encerados todos os sábados. Também lembra de ter acompanhado a mudança dos equipamentos ao longo desses anos: giz, retroprojetor, data show de mesa, data show pendurado no teto. Ela diz que hoje está tudo cada vez mais simples porque quase nada é manual e não dá trabalho nenhum. Dona Maria finaliza dizendo que o que aprendeu aqui leva para a vida, que se sente honrada por ter conhecido tanta gente e ter sido respeitada por todos. Sentiu-se muito feliz, mesmo depois de aposentada, por ter sido lembrada por nós e ter sido convidada para participar de um café festivo das formandas em Serviço Social. Ela diz que se aposentou porque já estava no limite de idade, mas
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um pouco de muita vida que não queria. Fala que, no começo, sentia muita falta do trabalho quando dava a hora de sair de casa e que, alguma vezes, chegou a tomar banho e logo depois lembrou que estava aposentada. Fala com tranquilidade que essa fase passou sem a necessidade de ter acompanhamento psicológico e que hoje está tudo tranquilo
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Nilton Bezerra Pires O
professor Nilton considera que seu maior legado foi cumprir eticamente seu papel como servidor público federal. Em sua opinião, assiduidade e seriedade ao executar as tarefas são o mínimo que qualquer servidor deveria desenvolver e foi isso que fez. O CCSA foi o lugar onde fez amigos, irmãos e parceiros de vida. Foi sua melhor casa, o lugar onde se sentiu bem e gozou de paz e tranquilidade, apesar dos pontuais dissabores da vida, em especial no enfrentamento com raríssimos alunos. Seu processo de aposentadoria se deu de forma natural, pois atingiu, concomitantemente, os requisitos de tempo de serviço e idade. Após aposentar-se, chegou a ser convidado para continuar como professor voluntário, mas sentiu que já havia cumprido seu papel ao longo dos 26 anos de docência no Departamento de Direito Público do CCSA, além da UNP, Escola Técnica de Comércio Alberto Maranhão e na Campanha Nacional de Escolas da Comunidade, sempre atuando como professor. A aposentadoria não o deixou em casa, lendo jornal, de pijama... Ao contrário, lhe impôs a responsabilidade de continuar a vida normalmente,tendo apenas deixado de ministrar aulas, atividade para a qual dedicava 80% do seu tempo e energia. Nilton Bezerra continua no exercício da advocacia e continua sendo bom apreciador da música popular brasileira
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Odair Lopes Garcia E
ntre 1977 e 2004, além de ministrar aulas em diversas disciplinas, Odair Lopes Garcia foi coordenador de uma base de pesquisa da qual bolsistas tornaram-se professores de UF´s ou foram concursados em ministérios em Brasília. Com a colaboração dos colegas professores, elaborou e encaminhou o projeto do Curso de Mestrado em Economia, do qual foi coordenador antes da aprovação do Programa pela Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior. Solicitou sua aposentadoria quando já havia transcorrido mais de três anos de direito adquirido, motivado pelo excesso de burocracia, incertezas quanto à manutenção dos direitos dos aposentados e alguns aborrecimentos momentâneos. Entretanto, após aposentado, nada mudou. Continuou trabalhando por 3 ou 4 anos como professor voluntário porque faltavam professores no Departamento. Um fato curioso é que, assim como ele, outros professores na mesma situação, não gostavam do nome “professor voluntário” e propuseram alterar o nome para “professor associado”. Como professor associado passou a ser um novo degrau na carreira docente, voltaram a ser chamados de “voluntários”. Quando, finalmente, Odair se afastou do Departamento percebeu que os conhecimentos adquiridos nas atividades de pesquisa abriam espaços para que pudesse trabalhar como assessor ou consultor em outras áreas da administração pública do Estado. Ele acredita que quem trabalha com o que gosta não quer se afastar nunca de seu trabalho. Afinal, professores pesquisadores passam a maior parte de sua vida investindo muito esforço na construção de seu próprio desenvolvimento. Em sua opinião, a não consideração desse aspecto leva a uma visão equivocada sobre o processo de “deixar de trabalhar” e acrescenta que deveríamos refletir sobre aposentadoria de maneira diferente, para cada tipo de trabalho, propiciando condições para aqueles que desejassem permanecer. Odair considera que as pequenas conquistas do cotidiano formam um conjunto memorável que o levam a acreditar que valeu a pena servir à UFRN e guardar um sentimento de que foi muito divertido
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Paulo Ney da Silva Bulhões P
aulo Ney sonhava com a possibilidade de um dia ser professor, pois essa foi uma atividade que sempre gostou de fazer. Graduou-se em Ciências Econômicas em 1971 na UFRN e, logo em seguida, foi ser oficial da marinha, deixando o sonho de lecionar engavetado por 6 anos. Um dia a oportunidade apareceu com a criação da figura do professor colaborador na UFRN e, no dia primeiro de fevereiro de 1978, começou sua história acadêmica que durou 35 anos. Paulo Ney saiu para fazer mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina na época do reitor Domingos Gomes de Lima quando se vivenciava a febre da pós graduação no Brasil. Voltando ao CCSA, em 1981, assumiu vários cargos administrativos, sem jamais deixar a sala de aula, dentre eles: Coordenador de Modernização Administrativa da Pró-Reitoria de Planejamento, Presidente do Conselho de Curadores, Chefe de Departamento e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Administração. Como pesquisador, contribuiu com a base de pesquisa sobre trabalho informal e apresentou vários trabalhos pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração e pela Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração. Paulo Ney vivenciou o processo de aposentadoria de uma forma muito natural e tranquila, pois já tinha 35 anos de serviço na UFRN e 6 anos na Marinha do Brasil. Sentia que já era o tempo e, dentre outros fatores, pela dificuldade de leitura acarretada pela diabetes adquirida. Um dos métodos utilizados na sua disciplina de “Organização e Processos” era o estudo dirigido que lhe demandava muitas horas de leitura atenta, atividade que começava a demandar mais energia do que dispunha. Paulo diz que tinha muito prazer em dar aula, mesmo com turmas trabalhosas como foram as dos últimos anos. A melhor lembrança que leva daqui é, em suas palavras, “a sala de aula e o relacionamento com os colegas do departamento.” A aposentadoria lhe trouxe mais tempo para se dedicar às atividades religiosas, para viajar e para continuar atuando na área de ensino, só que agora na escola dominical
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Renata Passos F. de Carvalho R
enata Carvalho serviu à UFRN por 37 anos, grande parte do tempo dedicados ao atual Departamento de Ciências da Informação - DECIN. Além de professora, foi chefe de Departamento e Coordenadora do Curso por duas vezes em cada uma das funções. Também ocupou os cargos de Vice-chefe do Deparatamento e Vice-coordenadora do Curso de Graduação. Foi Diretora do Núcleo Temático da Seca (NUTSECA) e do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Norte por quatro anos, quando esteve afastada da UFRN. Renata participou ativamente de todo o processo de criação da Graduação em Biblioteconomia e da Especialização em Gestão Estratégica de Sistemas da Informação que, posteriormente deu origem ao Mestrado Profissional em Ciência da Informação. A melhor lembrança que leva da sua história no CCSA foi a vitória de uma equipe solidária de sete professoras para a criação do DEBIB e do Curso de Biblioteconomia, além do esforço cotidiano que todas fizeram para consolidar essas conquistas. Essas professoras foram: Rilda Chacon, Socorro Borba, Renata Carvalho, Goretti Maux, Francisca de Souza, Teresinha Anibas, Rildeci Medeiros e Antônia de Freitas. Renata diz que foi muito feliz enquanto atuou como profissional da biblioteconomia e professora. Que não queria ter se aposentado, por exemplo, 10 anos antes, mas que agora entendeu que chegara sua hora e que já tivera contribuído com o CCSA. Com a aposentadoria, descobriu a liberdade de viver, de fazer tudo o que se quer sem rotinas fechadas e relata estar muito satisfeita com a melhoria na qualidade de vida
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Ruth Elizabeth Duarte Milfont R
uth Milfont serviu por 34 anos ao Departamento de Ciências Administrativas - DEPAD. Sua mais marcante contribuição foi, sem dúvida, a ordem em todos os sentidos. Desde os mobiliários, até a mais minuciosa organização de documentos, tudo era deixado sob sua responsabilidade e ela abraçava de bom grado uma vez que esse é um traço de personalidade que ela cultiva em sua vida como um todo. Em sua opinião, sempre teve chefes muito bons e competentes e leva excelentes lembranças dos laços de amizade construídos. Aqui ela encontrou pessoas com quem podia conversar sobre qualquer assunto, trocar experiências de vida e, até mesmo, confidências. Hoje sente-se muito feliz e saudosa por ter tido a oportunidade de trabalhar num lugar onde as pessoas só lhe passaram coisas boas, alegrias e aprendizados. A decisão sobre aposenta-se veio com a reflexão de que a permanência no cargo não traria mais progressão alguma em sua carreira e, também, era preciso aproveitar mais a vida social, pessoal e familiar com vitalidade. Ela pressentia uma grande mudança em sua vida, mas isso não a deixou tão impressionada, mesmo diante das incertezas. No fim, o que pesou mais foi um sentimento de libertação que modificou sua vida para melhor, diminuindo responsabilidades, preocupações, possibilitando mais viagens e aumentado sua presença no lar e na família, além de ter lhe dado o poder de desfrutar de seu tempo como bem quer
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Teresinha Saldanha T
eresinha Saldanha foi professora do Departamento de Ciências Contábeis por 34 anos. Em paralelo à docência na UFRN exerceu o cargo de auditora do Ministério da Fazenda. Sua maior contribuição para a UFRN foi colaborar, como gestora, na construção e implementação do Sistema Integrado de Patrimônio, Administração e Contratos (SIPAC), importante ferramenta de modernização do Departamento de Materiais e Patrimônio (DMP), local onde esteve lotada por 13 anos. Do CCSA leva boas lembranças desde o tempo de estudante e encerrou seu ciclo trabalhista com as sensação de dever cumprido, totalmente de bem com a vida. Continua buscando conhecimentos e fazendo novas descobertas a cada dia, inclusive de um novo estilo de vida com um convívio maior com a família e de construção de novas amizades
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Menções Honrosas G
ostaríamos de deixar registrado o nome de outros servidores, igualmente contemplados pela nossa homenagem, mas que por motivos diversos, suas entrevistas tornaram-se inviáveis durante os meses de preparação do evento “Um Pouco de Muita Vida”. Aluíso Fontes de Queiroz, técnico-administrativo - Administração do CCSA Ariovaldo Miranda, técnico-administrativo - DESSO Cássio de Freitas Barreto, professor - DETUR Cícero Alves Nascimento, reprografista - Administração do CCSA Damiana Andrade da Silva, técnico-administrativa - DETUR Francisco de Assis Alves, técnico-administrativo - DCC Giusep da Costa, professor - DPR Guaraci Soares de Maria, professor - DCC Hérbat Spancer Batista Meira - DPR Ivan Bastos Xavier, técnico-administrativo - Administração do CCSA José Dantas de Lira, professor - DPR José Vital Peres, jardineiro - Administração do CCSA Juliano Homem Siqueira, professor - DPU Maria da Salete Guimarães Menezes, professora - DPR Mário Sérgio dos Santos, professor - DEPAD Marise Edila Pinheiro, bibliotecária - Adminsitração do CCSA Pedro Alberto Brito Lopes, técnico-administrativo - Administração do CCSA Severina Garcia de Araújo, professora - DESSO Vera Lúcia de Araújo Medeiros, técnico-administrativa - DPU Wilza Alves Lessa, assistente social - DESSO
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