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Ă?ndice
4. Botânica: um jardim no palco 6. Arabescas 8. Entrevista ping-pong com Laerte
Expediente: Cecilia Moronari Leite
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Botânica: um jardim no palco
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o topo de uma colina em um vilarejo rural no estado de Connecticut, nos Estados Unidos, há uma casa vitoriana branca com 22 quartos, oito banheiros e um jardim de 32 mil metros quadrados de área com 5 mil girassóis. Nesta mansão refugia-se o coreógrafo MosesPendleton, o diretor artístico do grupo Momix. Foi lá, em seu próprio jardim, observando o movimento das diversas flores que cultiva, que Pendleton criou o espetáculo Botanica, que se apresenta no Brasil este mês. Em um trecho da apresentação, por exemplo, o espectador é levado a imaginar homenspolvo cultivando o chão, preparando o inverno parachegada da primavera. Veja a galeria de fotos do espetáculo Botanica, criado por MosesPendleton, fundador do grupo Momix.
Botânica. Direção de MosesPendleton
Beleza e força nas coreagrafias
Onde: Teatro Positivo (rua Prof. Viriato Parigot de Souza, 5300, Curitiba, PR, tel. 0++/41/332173107). Quando: 26 e 27/10, às 21h. De R$100 a R$200. Onde: Theatro Pedro II (r. Álvares Cabral, 370, Ribeirão Preto, SP, tel. 0++/16/39778111). Quando: 30/10, às 21h, e 21/10, às 19h. De R$80 a R$195. Onde: Theatro Municipal do Rio de Janeiro (pça. Floriano, s/n, tel. 0++21/23329005). Quando: de 3 a 5/11, às 20h, 6/11, às 21h, e 7/11, às 16h. De R$100 a R$200.
Natureza representada em cenas poéticas
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Acrobatas trazem floresta para o palco
Cores e luzes nas performances fazem um espetรกculo mรกgico
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Arabescas Frances Lloyd
Exiladas em Londres, artistas árabes contemporâneas rompem dicotomia entre Oriente e Ocidente
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rtistas árabes mulheres vêm ganhando visibilidade substancial desde o início dos anos 1990 como parte de um mundo de artes cada vez mais globalizado e em rede. Chama atenção o fato de que, nas geografias sociopolíticas imensamente distintas do Oriente Médio, norte da África e das diásporas árabes, a fértil gama de práticas artísticas de artistas árabes mulheres ter desafiado as monolíticas e estereotipadas representações de mulheres árabes dominantes na mídia. Essas mulheres são frequentemente retratadas como figuras passivas e anônimas, distantes da esfera da produção cultural e de suas histórias. Uma indicação das práticas artísticas diversas que compõem esse poderoso corpus
de trabalho pode ser obtida com uma revisão breve do trabalho de artistas árabes
grande escala em silk- apresenta um ciclo inscreen de Laila Sha- terminável de vítima e waChildrenof Peace agressor. (Filhos da Paz) e ChilNo pano de fundo há fotos feitas por Shawa ao longo de vários anos de pichações feitas nos muros de Gaza, uma forma de comunicação posicionada de maneira diferente. A instalação de HouriaNiatiZiriab… AnotherStory (ZiriNatureza representada em cenas poéticas ab… Outra História, 1998) – série de pinmulheres que vivem e drenof War (Filhos da turas sobre rolos de trabalham no Reino Guerra), da série The papel pendurados, Unido. Wallsof Gaza (Os Mu- um mosaico de deA maioria das ar- ros de Gaza), iniciada senhos no chão, uma tistas árabes de lá em 1992, constituem montagem de parede, mudou-se para Lon- imagens poderosas ao lado do texto das dres entre o fim dos que destacam os efei- canções Ziriab de anos 1970 e meados tos de longo alcance Hiati – reúne formas da década de 1990, da guerra sobre gera- e motivos informados principalmente em ções de crianças pal- pela arte e arquitetura decorrência do exílio estinas. europeias e árabes. voluntário ou involUsando a linguagem Homenagem a Ziriuntário causado pela visual gerada pela mí- abIbaNafi, composiguerra. No caso de al- dia e associada à pop tor do Oriente Mégumas delas, as razões art americana, a ima- dio que viveu exilado foram profissionais. gem repetida em silk- em Córdoba, na EsAbrangem pelo me- screen de um garoto panha (então parte nos quatro gerações. sobre uma superfície do Império ÁrabeAs gravuras em fortemente colorida Islâmico) no século
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Mulheres árabes, mulheres árabes
9, a instalação aponta diretamente para outras histórias da cultura árabe e para gêneros de música e canção que viajaram para a Argélia e sobreviveram à colonização, à guerra e às restrições impostas pelo fundamentalismo islâmico no fim dos anos 1990. Em comparação com ela, a instalação CurrentDisturbance (Perturbação Atual, 1996), de Mona Hatoum, consiste em uma série de gaiolas metálicas empilhadas, equipadas com lâmpadas e com o som amplificado de correntes elétricas, que ganham vida em intervalos irregulares,
evocando sensações viscerais de vigilância e aprisionamento. As questões que cercam as representações monolíticas de mulheres árabes são tratadas também pelo trabalho de base
fotográfica de JananneAl-Ani e ZinebSedira. As primeiras instalações fotográficas e trabalhos em vídeo de Al-Ani representam suas três irmãs, ela própria e sua mãe, todas tendo se
mudado para o Reino Unido em 1980, vindas do Iraque, onde Al-Ani nasceu e foi criada. Em suas grandes fotos em preto e branco de meados dos anos 1990, Untitled (Veiling Project) (Sem Título, Projeto de Velar), o olhar direto da fileira de cinco mulheres sentadas é mostrado em vários estágios de colocação do véu, retirada do véu ou retirada da roupa, buscando ao mesmo tempo ressaltar e desestabilizar os códigos que categorizam e fixam identidades culturais.
Laila Shawa Childrenof Peace (Filhos da Paz) e Childrenof War (Filhos da Guerra)
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Laerte: ‘Tenho vergonha de quase O cartunista Laerte, com 40 anos de carreira e 59 de idade, lança ‘Muchacha’, coletânea de quadrinhos sobre os bastidores de uma série televisiva. No livro, um dos personagens, Djalma, se veste de mulher - comportamento que o próprio ilustrador vem adotando desde 2009 como reflexo de uma crise pessoal e profissional.
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aerte de batom, unhas pintadas, brincos e cabelos chanel, elementos que agregou recentemente às roupas masculinas. Desejo de explorar o universo feminino Passava das 14h30 de uma quarta-feira e Laerte Coutinho ainda não chegara à entrevista. Eu o aguardava numa padaria da Vila Madalena, bairro notívago de São Paulo. O cartunista de 59 anos, que está completando quatro décadas de uma carreira elogiadíssima, deveria aparecer 30 minutos antes. Como não dava as caras, resolvi lhe telefonar. “Putz, rapaz! Me esqueci de você!”, constatou, aflito. Saiu correndo do Butantã, onde mora num sobrado com dois gatos, e adentrou a padaria às 15h20. Exibia vistosos brincos de pérolas e um corte de cabelo chanel. Apenas no fim da conversa, que durou quase
três horas, esclareceu o motivo do visual peculiar: desde 2009, como resultado de uma profunda crise, mantém o hábito de se vestir de mulher, total ou parcialmente. A prática também pontua o livro Muchacha, que o desenhista paulistano acaba de lançar. A coletânea reúne quadrinhos publicados no jornal Folha de S.Paulo e retrata os bastidores de uma série televisiva dos anos 50. Um dos personagens, o ator gay Djalma, protagoniza espetáculos musicais sob a pele de uma transexual cubana. BRAVO!: Você costuma esquecer compromissos? Laerte Coutinho: Não, não costumo. É verdade que, às vezes, me desligo um pouco da Terra e vou para o mundo da Lua. Mas, em geral, me julgo um camarada bem responsável. Então por que você se esqueceu do nosso en-
contro? Tem ideia? Sinceramente? Freud explica. Freud sempre explica. Na realidade, não queria dar entrevista. Estou me obrigando… Atravesso um período nebuloso, sabe? Uma crise gigantesca, tanto pessoal como profissionalmente. Não ando satisfeito com minhas criações e não imagino um modo de torná-las satisfatórias no curto ou no médio prazo. Talvez nem mesmo no longo. Uma sinuca de bico… Falar sobre minhas ilustrações, meus cartuns e minhas tiras neste momento me incomoda muito. É reivindicar importância para algo que já não avalio como tão relevante. Hoje não acredito que possa despertar o interesse de alguém. Sinto vergonha de quase tudo o que produzi em 40 anos de carreira. Gostaria de consertar a maioria das coisas. Vergonha? A palavra
me soa forte demais, entre outras razões, porque você ganhou inúmeros prêmios e porque diversos cartunistas, incluindo os jovens, frequentemente o classificam de genial. O problema é que não me convenço. (risos) Genial? Consideravame gênio quando adolescente. “Uma hora o mundo vai me descobrir”, pensava, enquanto rabiscava carros, barcos, guerreiros. Tremenda bobagem… Claro que enxergo qualidades no que fiz e no que faço. Longe de mim bancar o coitadinho ou apelar para a falsa modéstia. Só que tais qualidades não chegam nem perto das que me atribuem. Eu não me contrataria. (risos) Na década de 1980, por exemplo, participei do Festival Internacional de Quadrinhos em Angoulême (sudoeste da França). Fui representar o Brasil com o Ziraldo e mais alguns colegas. As-
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t u d o q u e d e s e n h e i ’ por Armando Antenore sim que desembarquei na cidade, bateu um desconforto horrível. Tive ímpetos de cavar um buraco e sumir. Os franceses, que publicam HQs sofisticadérrimas, maravilhosas, simplesmente nos desprezaram - ainda que de maneira diplomática. Eles examinavam as nossas produções, arrebitavam o nariz e comentavam: “Curioso, curioso…” Aquilo me pareceu uma baita injustiça contra o Ziraldo e o resto da turma, mas não em relação às charges que levei para lá. Confesso que adoraria adorar a minha profissão. Adoraria ser como o Angeli, que desenha com um amor imenso. Ou como o Robert Crumb, que desenha compulsivamente. Ou como o Paulo Caruso, que desenha com uma facilidade assombrosa. Você não vê mais graça em desenhar? Praticamente não vejo. Desenhar se tornou penoso, difícil. Mal começo um trabalho, percebo que estou me dedicando àquela tarefa apenas porque necessito cumprir prazos ou
pelo simples fato de que já a incorporei no meu cotidiano. Fugir da burocracia virou o xis da questão. Descobrir rumos novos, prazeres diferentes… Há tardes em que travo e fico horas sem arriscar um mísero esboço, inteiramente refém da autocrítica. Não me agradam os motes que escolho para as tirinhas, o desenvolvimento das tramas, a redação dos textos, o jeito como lido com as cores, a plasticidade do meu traço. Por outro lado, também não me agrada a perspectiva de largar tudo e me refugiar numa ilha deserta, folgadão. Não pretendo me aposentar. O que desejo é me reinventar. Envelhecer o deprime? Não, mas me assusta. Nunca almejei a longevidade e sempre achei que morreria cedo. Por isso, não me angustio quando lembro que completarei 60 anos em 2011. Penso que dei sorte, que estou no lucro. (risos) O que me espanta é a rapidez do tempo a ligeireza com que
os dias voam depois que passamos dos 40. Uma rapidez estonteante, que se associa à falta de produtividade. Para um garoto, 12 meses fazem uma diferença brutal. Quantas coisas se modificam num intervalo tão pequeno! Já para um cinquentão, 12 meses normalmente não representam nada. Tudo permanece idêntico. Recém-lançada, a coletânea Muchacha leva o nome da cantora e dançarina que o ator gay Djalma interpreta na trama. Ele se traveste. Você, à semelhança de Djalma, está usando brincos e um corte de cabelo bem femininos. Também aprecia o guarda-roupa das mulheres? Também. É uma desc-
oberta nova, uma predileção que se insinua há séculos, mas que se manifestou com todas as letras apenas em 2009. Cinco anos antes, um dos meus personagens, o Hugo (veja acima), decidiu “se montar”. Não sei exatamente por quê. Só sei que, de uma hora para outra, arranjou vestido, batom, salto alto e se jogou no mundo. Desde que nasceu, o Hugo se porta como um alter ego do Laerte. Ele costuma assumir nos quadrinhos grilos e desejos que se confundem com os meus. O fato de imitar o visual das mulheres certamente denunciava algo sobre mim - sobre ambições que eu me negava a explorar às claras. Foi
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Agora, já se acostumaram. Ou quase. (risos) O que você sente quando se traveste? Um prazer indescritível, que nunca cogitei sentir. Recorrendo à prática, não planejo mudar de gênero definitivamente nem colocar em xeque a minha bissexualidade. O crossdressing, no meu caso, se refere menos à atividade sexual e mais à transposição de limites. É uma necessidade imperiosa de perscrutar e vivenciar os códigos femininos. Há ocidentais que se deleitam em investigar o Oriente. Experimentam comidas exóticas, fazem ioga, visitam a China. Da mesma maneira, por que um homem não pode empreender uma viagem radical pelo planeta insondável das mulheres? Em 2005, você perdeu um de seus três filhos num acidente de carro. A crise atual tem alguma relação com a morte
dele? Creio que sim. O desaparecimento repentino do Diogo, aos 22 anos, me abalou terrivelmente. Fiquei um mês mergulhado na absoluta incapacidade de desenhar. Quando retomei o trabalho, as dúvidas que me conduziram à guinada conceitual de 2004 recrudesceram. O entendimento de que um ciclo terminara se mostrou claríssimo. Desde então, vivo sem bússola, um tanto desnorteado. Ou melhor: existe um norte, só que é um norte débil, inseguro, mutante. Uma vertigem contínua. A perda do Diogo retirou o véu de tudo. Relativizou ainda mais quaisquer certezas, desnudou as minhas fragilidades e, paradoxalmente, revelou as minhas forças - ha medida em que toda fragilidade demanda uma força como resposta. Mas, na contramão do que parece, não extraí mensagens
edificantes do episódio. A morte não nos traz lição nenhuma. É o desconhecimento pleno, um vazio que não se contenta com as justificativas da política, da sociologia, do direito, da psicanálise, da antropologia. Pegue o fim trágico do Glauco... (Glauco Villas Boas, cartunista e amigo de Laerte, assassinado em março junto do filho, Raoni, por um adepto da Igreja Céu de Maria). O que explica uma barbárie daquela? “Ah, como lideravam um culto religioso que ministra o santo-daime, Glauco e Raoni atraíram um punhado de malucos...” Será mesmo? Para mim, não importa! Nada esclarecerá o mistério de por que alguns partem do modo cruel como os dois partiram. Havia realmente necessidade daquilo? Daquele Armagedon doméstico? Do horror imensurável? Um pai presenciar a execução do próprio filho e depois morrer?
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