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Da Alemanha para o Mundo
Albert Lamorisse foi um bem-sucedido cineasta francês. Nos anos 1950, ganhou duas Palmas de Ouro em Cannes com curtas-metragens. Em 1960, levou um Oscar de Roteiro Original. Mas seu maior sucesso aconteceu fora das telas. Lamorisse criou, em 1957, o Risk.
A premissa você já deve conhecer: um mapa-múndi com uma porção de exércitos disputando territórios. O jogo foi um sucesso instantâneo e, em 1959, passou a ser comercializado em outros países pela Parker Brothers, a mesma distribuidora de Monopoly e que hoje pertence à multinacional Hasbro. O jogo existe até hoje em dezenas de versões, vendidas no mundo inteiro. Mas nunca emplacou em um país: a Alemanha.
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“Depois da 2ª Guerra Mundial, os alemães queriam evitar ao máximo qualquer jogo que remetesse ao combate”, diz Queiroz. O relativo insucesso de War na Alemanha abriu espaço para o desenvolvimento de outros jogos - até que, em 1995, o país se tornasse referência neles.
O responsável por isso foi uma criação que extrapolou as fronteiras germânicas. Estamos falando de Colonizadores de Catan. O jogo se passa em uma ilha e, como o nome antecipa, o objetivo dos jogadores é colonizá-la. Para construir estradas e cidades, é preciso gerenciar recursos, como madeira e argila, distribuídos de acordo com o mapa sempre que alguém joga os dados. Ganha quem atingir dez pontos primeiro – ou seja, quem construir mais rápido.
Mas a premissa simples não foi a única responsável pelo sucesso de Catan. Seu criador, Klaus Teber, que à época trabalhava como dentista, inovou na mecânica de jogo. Os dados, por exemplo, não servem para determinar quantas casas se deve andar, mas sim a zona do tabuleiro que receberá os recursos. Se o jogador possuir alguma construção ali, sorte a dele. Isso signifi ca que, mesmo que não seja a sua vez, você continua participando ativamente do jogo, seja recebendo novos materiais, seja negociando trocas com os outros.
Além disso, o mapa é modular: permite alterar a posição dos recursos e adicionar expansões, fazendo com que as partidas sejam sempre diferentes.
Catan foi uma revolução – e o marco zero na era dos board games modernos. Teber largou a sala de dentista e fundou uma empresa junto com os fi lhos, para administrar as dezenas de versões temáticas do jogo, que já ultrapassou 30 milhões de unidades vendidas.
Hoje, as desenvolvedoras de jogos apresentam os seus lançamentos em feiras e convenções pelo mundo. A de Essen, na Alemanha, é a mais importante: mais de mil novos board games são lançados no evento, que acontece sempre no fi m do ano.
Os mais de 200 mil visitantes vão lá comprar jogos para o inverno, quando passarão um bom tempo dentro de casa. Nos EUA, a maior feira é a Gen-Con, na cidade de Indianapolis. Durante quatro dias, 70 mil pessoas ocupam um centro de convenções, um estádio de futebol e diversos hotéis da região, que disponibilizam todas salas para jogatinas.
É a esses eventos que editoras brasileiras vão atrás de seus próximos lançamentos. Ao encontrar um bom produto, elas conversam com as empresas estrangeiras para comprar a licença de distribuição. Com o contrato feito, as editoras fazem a tradução e diagramação da versão em português e mandam para as fábricas (a maioria na China) onde o jogo será produzido.
“Levando em conta o período de negociação, o processo de trazer um jogo para o Brasil dura, em média, um ano”, conta Kleber Bertazzo, diretor fi nanceiro da Conclave, editora criada em 2003 para vender livros de RPG e que, em 2013, passou a trabalhar com os jogos de tabuleiro. Ela é a responsável pela versão brasileira de Dominion, o jogo de tabuleiro com cartas mais popular do mundo. Nele, você é um monarca que busca expandir o seu reino e, para isso, vale de tudo, de fortalecer o castelo a contratar mercenários. “Dominion criou a mecânica mais recente de jogo, que é a construção do baralho (deck) durante a partida, e não apenas antes de começá-la”, explica Queiroz.
Na época em que a Conclave passou a distribuir jogos de tabuleiro, o Brasil contava com três editoras. Hoje, são mais de 30. Em 2018, 300 jogos foram lançados por aqui, movimentando mais de R$ 700 milhões, segundo dados da As-
sociação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos (Abrinq). No Brasil, outra empresa de destaque é a Galápagos Jogos. Criada em 2009, ela é a responsável por trazer títulos como Dixit, Ticket to Ride e Azul. Deu tão certo que, em 2018, ela passou a fazer parte de um conglomerado francês de jogos de tabuleiro. Hoje, conta com um catálogo de mais de 300 produtos.