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Um novo paradigma nos negócios

A sustentabilidade apresenta-se como um novo paradigma para a sociedade, para a sua economia e, consequentemente, para os negócios. Frequentemente encarada como um fator intrínseco ao ambiente e às alterações climáticas, representa muito mais do que isso, sendo uma verdadeira conjugação de elementos económicos e sociais, representando novos desafios para as empresas, para a sua dinâmica e desenvolvimento, e que importa compreender e implementar.

A questão ambiental e climática - em virtude das alterações a que temos assistido ao longo dos últimos anos - constitui um verdadeiro problema ao qual a sociedade, como um todo, necessita de responder rapidamente. Os objetivos e metas traçadas pela União Europeia, seguidas pelos seus diferentes Estados, para reduzir emissões e promoverem a transição energética, são uma realidade que a guerra entre Rússia e Ucrânia veio acelerar e contribuir, decisivamente, para demonstrar a sua necessidade.

É certo que muitas são as empresas do nosso sector que, com estes processos e desafios em mente, têm apostado nesta vertente, realizando investimentos que permitam a redução da sua dependência energética e, deste modo, tentando combater o aumento substancial de custos nesta área a que temos estado sujeitos.

Neste contexto é de salientar ainda a preocupação com a disponibilidade de recursos que alguns países-destino das nossas exportações se poderão confrontar nos próximos meses. Tal irá influenciar decisivamente o clima económico e social em que vivemos e negociamos. A vertente económica poderá ser substancialmente afetada por estes fatores, acelerando aumentos nos custos de produção que, por sua vez, originam processos inflacionistas, combatidos pelo incremento de taxas de juro que irão acarretar maiores dificuldades para consumidores e empresas no financiamento ou realização de investimentos. Essas dificuldades serão mais intensas quando o acesso a capital ou apoios comunitários estiver diretamente indexado ao investimento e demonstração que as empresas terão de fazer da redução da sua pegada carbónica, tal como se prevê para o próximo período.

A questão social terá também um papel essencial neste novo paradigma. Cada vez mais as decisões de consumo são tomadas em função das políticas de sustentabilidade das empresas, pelo respeito que as mesmas apresentam pelo meio ambiente, pelo desenvolvimento de políticas de responsabilidade social. As empresas que lidam diretamente com o consumidor final são muito sensíveis a este aspeto e irão (estão) impor que a cadeia de valor em que se inserem siga os mesmos pressupostos. Tal repercute-se até às nossas empresas que já são confrontadas com estes aspetos quando apresentam a sua oferta junto dos clientes ou potenciais clientes. Os “Relatórios de Sustentabilidade” estarão cada vez mais presentes e teremos de nos preparar para tal, não apenas por uma questão de diferenciação e redução de custos, mas porque, progressivamente, se irão tornar numa exigência.

A atração de talento será também influenciada por esta tendência. No outro dia ouvia, numa sessão dinamizada pela CEFAMOL, a estória de um jovem técnico qualificado que não assumiu um cargo superior numa empresa (fora da indústria de moldes) apesar de ser selecionado para tal, uma vez que, segundo o próprio, a mesma não cumpria as regras ambientais que considerava adequadas para a sociedade e não se via a trabalhar numa empresa que não tinha esta visão e propósito. Numa altura em que a “batalha” pela atração de talento para diferentes sectores e empresas é grande e todos procuram os melhores para reforçar a sua competitividade, concluímos que este é um elemento que devemos ter cada vez mais em conta. Há ainda que recordar que este indivíduo (à semelhança de muitos outros, da sua geração), é também um consumidor e que terá a mesma visão ou postura quando se tratar de fazer uma compra ou selecionar o seu fornecedor.

A sustentabilidade, mesmo que não seja, muitas vezes, interpretada de um modo integrado (questões ambientais, económicas e sociais), entrou decididamente no léxico e na agenda das empresas, e as de moldes não são exceção, até pela sua exposição ao mercado internacional e a cadeias de valor globais. Há então que compreender como alinhar a organização com estes temas, definir as políticas a implementar para o demonstrar ao mercado e aos seus stakeholders, mas, principalmente, como as fazer refletir num melhor desempenho a médio e longo prazo, garantindo a sustentabilidade da própria organização.

A entrada de novos requisitos legais nesta matéria irá acelerar o ritmo desta alteração, mas será o mercado, como sempre, o grande impulsionador da mudança nas empresas. Será o próprio a exigir novos requisitos a que temos de nos adaptar para manter o nosso sector no nível de excelência a que nos habituou e pelo qual somos reconhecidos mundialmente.

Estamos preparados?

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Texto: Manuel Oliveira (Secretário-geral da CEFAMOL)

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