5 minute read
I&D - GANHAR COMPETÊNCIAS PARA MELHORAR RESULTADOS (O CASO DA MOLDIT)
A participação em projetos de I&D tem permitido às empresas potenciar competências, melhorar processos, ganhar competitividade. As parcerias com entidades de ciência, ensino e investigação, e até com outras empresas, possibilitam uma partilha de conhecimento e de experiências fundamental para a construção do futuro. Mas para que estes projetos sejam, de facto, compensadores, é preciso que as empresas os escolham em função das suas estratégias empresariais e integrem os seus resultados inovando e aperfeiçoando os seus processos produtivos.
“O I&D e o seu potencial impacto numa empresa é grande: aí reside a sua estratégia de futuro”. Jorge Laranjeira, responsável pela área de I&D da Moldit, não tem dúvidas de que o sucesso das organizações passa, cada vez mais, por integrar inovação e desenvolvimento. “Mesmo que não se note o impacto desta integração no curto ou médio prazo, vai notar-se, com toda a certeza, a longo prazo”, defende, considerando que a aposta nesta vertente depende muito da dimensão da empresa.
No caso da Moldit, conta, a área de I&D é composta por “duas ou três pessoas mais focadas no que são os projetos, as necessidades de melhorias ou as inovações”. Mas, adianta, “a grande parte do trabalho é feita por equipas multidisciplinares dentro da empresa”. Ou seja, “quando temos um determinado projeto, são pessoas da engenharia, da produção, da qualidade e de outras áreas a participar. Montamos assim equipas para executar projetos de I&D que, no nosso caso, estão muito focados na engenharia”, explica.
Jorge Laranjeira conta, ainda, que a empresa participa em projetos de I&D desde 2006, tendo integrado vários no âmbito do programa QREN, mas apenas quando era convidada para isso. “Tivemos uma participação interessante, mas sempre passiva. E isso só mudou com o programa de apoio PT2020. A empresa criou uma estrutura para tomar parte de forma mais ativa”, relata, adiantando que “essa inflexão na estratégia, permitiu que passássemos a ser um ator ativo”. Foi nessa altura que “pela primeira vez, fomos promotores líderes de projetos de I&D”. Para isso, sublinha, “criámos redes de parcerias com todas as universidades portuguesas porque, se queremos ser promotores líderes, temos de ter parceiros”. A partir daí, a empresa começou a apostar em projetos de investigação industrial aplicada, com o objetivo de desenvolver soluções para os moldes que fabricam, ou melhorias nos processos produtivos ou até no desenvolvimento de produtos.
/ / Jorge Laranjeira - Moldit
Deixa a ressalva de que “a investigação científica de base não é feita pelas empresas, mas sim pelas universidades e pelos centros tecnológicos, que são quem tem as competências nessas áreas”. E são, por isso, parceiros fundamentais para as empresas. “São equipas com experiências e visões diferentes, que veem as coisas de outra forma e acabam por espoletar novas ideias que, mais tarde, dão origem a outros projetos”, acrescenta, defendendo por isso, que “com sucesso, a participação, desta forma, em projetos de I&D, acaba por ser um processo que se autoalimenta”.
INVESTIMENTO
Ao assumir esta postura, a empresa percebeu que “este é um investimento que se paga, que é rentável a longo prazo, porque traz um conjunto de vantagens, como a aquisição de novas competências, de novas áreas de negócios, novos processos e metodologias de trabalho”. E estes são, no seu entender, “pontos que permitem à empresa, a médio prazo, rentabilizar o investimento”, uma vez que, salienta, “nem todos os projetos são financiados”.
Para que se retirem estes benefícios, é necessário que os projetos tenham aplicação prática. “Têm de ser aplicáveis no processo produtivo e, nalguns casos, no desenvolvimento de um novo produto. Uma vez que as empresas de moldes não têm um produto, a maior parte dos projetos acabam por se centrar mais no processo produtivo”, adianta.
Um dos exemplos que aponta para ilustrar a participação da empresa, foi o desenvolvimento e posterior aplicação de ferramentas lean nos moldes. “Estas ferramentas não existiam, foram desenvolvidas no projeto mobilizador Tooling Edge”, explica, sublinhando que “nos moldes, há necessidade de standardizar e o lean tem ferramentas interessantes”.
Explica ainda que, normalmente, os projetos de investigação têm uma duração curta, mas que “os resultados são conhecimentos e competências que, depois, é preciso industrializar e colocar no chão de fábrica. E isto, por vezes, demora mais do que o tempo do projeto”.
Esta é, até, a seu ver, uma das fragilidades deste tipo de programas: “quando termina o projeto, estão desenvolvidos os aspetos científicos, mas a aplicação, se foi abordada, é apenas como um exemplo ou um caso de estudo, levando muito mais tempo a ser colocada em prática”.
No caso da sua empresa, sustenta, a participação nestes projetos tem como finalidade a industrialização de soluções.
VALORIZAÇÃO EMPRESARIAL
Um outro aspeto positivo da aposta em I&D, considera, é a possibilidade de diversificar. “Nos últimos anos, temos procurado inovações para aplicar a produtos. Com as crises nos mercados, por exemplo, acabamos por perceber que a indústria de moldes precisa de diversificar e o I&D é um apoio enorme para dar esse salto”, considera.
Por isso, o foco têm sido os produtos em áreas como a embalagem, a saúde, a defesa ou a aeronáutica e espacial. “No automóvel, é mais difícil porque os nossos clientes fazem esse trabalho e têm capacidade e recursos para o fazer muito bem”, afirma, frisando que “o que fazemos é, na nossa área de desenvolvimento, contribuir para melhorar o desempenho dos produtos e para acrescentar valor”.
Jorge Laranjeira destaca ainda a questão da propriedade intelectual como outro dos aspetos positivos. “No nosso sector, nunca tivemos esse cuidado de proteger a nossa propriedade intelectual. Estamos acostumados a entregar o know-how ao cliente, mas quando os projetos são financiados, a situação obriga a que valorizemos essa questão”, conta.
Destaca ainda um outro ponto que considera ser uma vantagem destes projetos: “todos os requisitos necessários para participar acabam por ajudar as empresas a organizar-se de outra forma, seja na área produtiva, seja, por exemplo, na financeira, e isso é muito positivo”.
Salienta também que “há uma outra questão importante que, por vezes, nos esquecemos: a imagem que se passa para o exterior, seja para instituições bancárias, investidores, fundos de investimento, etc”. É que, lembra, “quando olham para uma empresa que investe em I&D, associam a sua imagem a um projeto mais robusto e com uma aposta no futuro”, considerando que “por vezes, este é um ponto que descuramos, mas é fundamental para a estratégia de uma empresa: a consolidação da sua valorização empresarial”.
---
Texto: Helena Silva