Ano XXXV - Nยบ 193 setembro/outubro - 2016 Preรงo: R$ 6,00
Sumário
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Ser criança As Crianças e os Jovens A obra, a missão e a tarefa Casamento Lei de sintonia Somos todos adotados O Anticoncepcional Painel Espírita Tudo é Vida
Ser criança
Diante dos Criminosos Parábola do Evangelizador Minha dor, sua dor, nossa dor... Conversando com Claudia Bonmartin em Paris
MARCELO HENRIQUE PEREIRA
Crendices e Mediunidade
São José-SC
Jesus, a sombra e a psicologia profunda O Homem no Mundo O Livre arbítrio O desejo de destruir Colheita O jovem e a prática da mediunidade Cuidar das crianças Suicidar-se nunca! O Trigo e o Joio 1 Qual dos dois fez a vontade do pai? Não saiba a tua mão esquerda... (Mt.6:3)
Ano XXXV - Nº 193 setembro/outubro - 2016 Preço: R$ 6,00
Fotos da capa: Google Imagens
2 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2016
O
quão criança você é, ainda, às vezes? O quanto se permite fazê-lo? Descobre-se, encanta-se, sonha e vive? Por que não? Envolto em tantas preocupações e responsabilidades, sitiados ante os deveres do dia-a-dia, angustiados por atender os compromissos inadiáveis, nem sempre temos tempo e chance de sermos crianças... Criança é quem ri de si mesmo, quando percebe que não sabe fazer ou comete pequenos equívocos. Cantarola sua canção preferida, na rua, no ponto de ônibus, ou, até mesmo, mais reservadamente, no chuveiro, mesmo sabendo que alguém pode ouvir... Que senta no chão com seu filho, e age como um menino que se deslumbra com um brinquedo novo, sem pressa, parecendo que aquele instante não irá acabar... Que se apaixona por seus sonhos, tal qual fez um dia, tendo como fonte de desejo a professora ou a prima mais velha, que nem se davam conta que você existia. Porque, o importante, naqueles tempos, era ficar perto dela um pouco, tal qual fazemos, hoje, em relação ao que gostaríamos fosse verdade. Que se imagina capaz de resolver os problemas cotidianos, aqueles que ficam em nossa mente até a hora de dormir, do mesmo modo que nos víamos como super-heróis, mocinhos ou bandidos, indestrutíveis e poderosos, nas brincadeiras e fantasias. Que, hoje, toma banho de chuva, por descuido, em razão de ter esquecido o guarda-chuva, mas não se zanga, por lembrar que, na infância, mesmo com a bronca dos pais, dava um jeitinho de tomar chuva pra se refrescar...
Que procura amigos sinceros entre os circunstantes, e, às vezes, só tem colegas ou conhecidos, porque se descobre fechado em si mesmo, com medo de tudo e de todos, quando, em tempos infantis, era tão fácil fazer (e manter) amigos... Que precisa de proteção, de segurança, mas age timidamente, com medo da reação dos outros, que o esperam e consideram forte e capaz, quando a vontade era ter, de novo, o colo e o ombro de pai e mãe para consolá-lo... Que acorda tarde, perde a hora, e se enfurece ao não poder atender o compromisso, mas logo esquece, pois sabe que haverá outras manhãs, e outras chances, tal qual no tempo em que descobria que a derrota no futebol ou a nota baixa seriam recuperadas, logo à frente. Ou, que sente a presença dos bons amigos espirituais, nas horas de desespero ou necessidade, do mesmo modo em que conversava com seres imateriais, que lhe pareciam reais, embora ninguém – além de você – os visse. Continuamos sendo crianças, em Espírito, porque ainda tão pouco sabemos das verdadeiras Leis da Vida, o que não nos impede, todavia, de caminhar e experimentar. E, a cada descoberta ou ventura, tal qual a criança que se maravilhava com o desconhecido e o sobrenatural - porque tudo, naquele tempo, era superior à sua natureza infante –, nos sentimos, hoje, bem e satisfeitos, somente por viver, o que já nos basta. Deixamos, então, de ser pessimistas ou excessivamente cautelosos. A vida, assim, volta a ter tons multicores, sons harmoniosos e traços mágicos. Deixemos, então, que nosso lado criança fale por si mesmo...
As Crianças e os Jovens RAYMUNDO R. ESPELHO Campinas-SP
“As crianças e os jovens precisam ser poupados das desavenças familiares. Se o relacionamento amoroso entre os cônjuges acabou, ambos precisam ter consciência de que ainda são pai e mãe, e que os filhos precisam ser amados.”1 Poucas vezes, nos lembramos de projetar para o futuro o que serão as crianças e os jovens de hoje. Serão mestres, médicos, filósofos, um trabalhador anônimo e honrado, uma criatura de projeção no mundo? Serão eles, enfim, pessoas de bem? Uma coisa é certa: eles serão os habitantes da Terra, exalarão a essência e o que absorveram em sua formação por muito tempo, no ambiente familiar, no convívio com amigos, familiares, pessoas que estiveram à sua volta. Isso nos lembra da importância de educarmos e estimularmos, para o Bem e para os reais valores, os que dirigirão a Humanidade de amanhã. Sem a base, o direcionamento nas referências do que seja o respeito ao outro, o respeito a si, aos códigos de boa conduta, baseados na ética e no respeito, fica muito difícil conquistar, no futuro, um mundo à volta que garanta um convívio sadio e equilibrado. Através de Allan Kardec e dos Bons Espíritos, somos orientados que o retorno à vida corpórea tem, como objetivo, o aperfeiçoamento do Espírito, que a infância propicia maior flexibilidade e aceitação, por parte do Espírito reencarnante. “(...) É, então, que se pode reformar o seu caráter e reprimir as suas más tendências.”2 Que sejamos o exemplo positivo, do mestre que ensina para o Bem, dos escritores e editores que selecionam e disponibilizam materiais construtivos. Mas, é aos pais que, sempre, recai a maior parcela de responsabilidade, diante do encaminhamento de seres que, desde antes do nascimento, já vão recebendo os direcionamentos, sentindo a harmonia
Expediente Fundada em 01 de janeiro de 1981 Fundador: Azamor Henriques Cirne de Azevedo
TRIBUNA ESPÍRITA Revista de divulgação do Espiritismo, de propriedade do Centro Espírita Leopoldo Cirne Ano XXXV - Nº 193 - setembro/outubro - 2016 Diretor Administrativo e Financeiro: Severino de Souza Pereira (ssp.21@hotmail.com) Editor: Hélio Nóbrega Zenaide Jornalista Responsável: Lívia Cirne de Azevedo Pereira DRT-PB 2693 Secretaria Geral: Maria do Socorro Moreira Franco Revisão: José Arivaldo Frazão Lívia Cavalcante Gayoso de Sousa Assessoria: Uyrapoan Velozo Castelo Branco
ou os desajustes, o esforço ou a intemperança entre os que os rodeiam. Pais! A reforma social há de vir dos lares, mas necessita da colaboração de toda a Humanidade. Precisamos estar mais atentos ao que temos oferecido aos nossos pequenos, neste mundo repleto de apelos de consumo, de competição de superficialidade. Se desejarmos a felicidade de nossos filhos, daqueles que amamos, o Evangelho é a melhor fonte de inspiração, o convidado de honra a seguir a nossa caminhada, aqui, como encarnados. Lembremo-nos de que o Mestre dos mestres nos falou: “Deixai vir a mim os meninos, e não os impeçais, porque deles é o reino de Deus”3.
____________ 1Paterra, Marcos, “Revista Internacional do Espiritismo”, edição de janeiro de 2014; 2 Kardec, Allan, O livro dos Espíritos, FEB, 2015, questão 385. 3 Lucas, 18:16
Colaboradores desta edição: Adeilson Salles, Adésio Alves Machado, Azamor Henriques Cirne de Azevedo, Daltro Siqueira Vianna, Divaldo Franco (Pelo espírito Joana de Ângelis), Elmanoel G. Bento Lima, Fátima Araújo, Flávio Mendonça, Frederico Menezes, Hélio Nóbrega Zenaide, Iara da Silva Machado, José Passini, José Raul Teixeira, Luis Hu Rivas, Liszt Rangel, Marcelo Henrique Pereira, Mauro Luiz Aldrigue, Nilton Santos, Octávio Caúmo Serrano, Orson Peter Carrara, Pedro Camilo, Raymundo Rodrigues Espelho, Stanley Marx Donato, Walkíria Araújo, Zaneles Brito, (Pelo espírito de Lindemberg.). Diagramação: Ceiça Rocha (ceicarocha@gmail.com) Impressão: Gráfica JB (Fone: 83 3015-7200) ASSINATURA BRASIL ANUAL: R$ 35,00 TRIANUAL: R$ 100,00 EXTERIOR: US$ 40,00 CONTRIBUINTE ou DOADOR: R$....? ANUNCIANTE: a combinar TRIBUNA ESPÍRITA Rua Prefeito José de Carvalho, 179 Jardim 13 de Maio – Cep. 58.025-430 João Pessoa – Paraíba – Brasil Fone: (83) 3224-9557 e 99633-3500 e-mail: jornaltribunaespirita@gmail.com
Nota da Redação Os Artigos publicados são de inteira responsabilidade dos seus autores. 2016 • setembro/outubro • Tribuna Espírita 3
A obra, a missão e a tarefa AZAMOR CIRNE João Pessoa-PB
A
llan Kardec, em Revue Spirite de 1867 (Paris, França), fez a seguinte declaração: “É fato indubitável que os adversários do Espiritismo consumiram mil vezes mais força, para abatê-lo, sem o conseguir, do que seus partidários empregaram, para propagá-lo – (grifo nosso). Ele avança, por assim dizer, sozinho, semelhante a um curso d´água que se infiltra, se o retêm à esquerda, mirando, pouco a pouco, as rochas mais duras, e acabando por obter montanhas”. Lembremo-nos que Kardec, naquela época, já havia publicado O Livro dos Espíritos (1857), a Revista Espírita (1858), O Livro dos Médiuns (1861), O que é o espiritismo (1861), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864) e O Céu e o Inferno (1865). O Espiritismo não foi abatido, entre outras, por dois motivos: primeiro, porque os Espíritos são os seres inteligentes da natureza, incorpóreos, imortais, almas dos homens que, antes, viveram. Segundo, porque é uma revelação divina. Um fato que existiu e foi descoberto. Se fosse falsa, já não seria nem fato nem revelação, mesmo se atribuída a Deus. Como diz o próprio Kardec: “O que caracteriza a Revelação Espírita é o de ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem”. A Revelação Espírita ditada pelos Espíritos e codificada por Allan Kardec, há 159 anos, ainda não foi desmentida. Na época em que surgiu o Espiritismo, Paris era a cidade-luz, centro da cultura mundial. Não se poderia admitir nada que não fosse o resultado da experimen4 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2016
tação; o positivismo julgava as causas, a razão determinava o método, e a metafísica limitava o físico e o transcendente. Bruxuleava o dogmatismo teológico, a fé cega enfraquecia o seu domínio, por não poder resistir ao confronto das correntes do saber. A Ciência e a Religião se distanciavam, cada vez mais, uma da outra. Tudo a seu tempo e a seu turno. Chegara a hora de uma nova fase, em que a raça humana teria de avançar no descobrimento de si mesma. Foi necessário que, primeiro, o conhecimento tivesse alcançado tão altos níveis, para que, depois, surgisse O Livro dos Espíritos, como resultado das mais sérias pesquisas, inaugurando a Era do Espírito. Revelando a preexistência do Espírito ao nascimento e a sobrevivência à morte corporal, a Revelação demostrou que a vida continua em outra dimensão, alargando o horizonte da existência. Trouxe, assim, a esperança aos que sofrem, a tranquilidade aos bons e a advertência de que nenhum mal ficará impune perante as Leis Divinas. As figuras de céu, do inferno, das penas eternas e do diabo, herdadas da mitologia e assimiladas pelas religiões que permanecem na horizontalidade secular, na retaguarda da Ciência e do Progresso, deixaram de ter o impacto das remotas épocas. Herculano Pires, em sua importante obra Agonia das Religiões, oferece a seguinte análise: “As religiões são seres sociais que nascem, crescem e morrem. São corporificações dos anseios de transcendência inatos no homem”. Não mais o Deus antropomórfico, vingativo, que castiga, dos exércitos san-
grentos do Velho Testamento, mas sim o Deus que é Amor, Justiça, Perfeição do Evangelho de Jesus: “Cada um será julgado de acordo com suas obras”.1 As experiências reencarnatórias, suaves ou penosas, funcionam de maneira reeducativa, em cada existência corporal. Os laços de família não se rompem, na despedida da sepultura; solidarizam-se, nos encontros temporais de cada reencarnação. Allan Kardec, sem dúvida alguma, foi um gênio e um herói, a quem estava destinada uma das maiores missões terrenas. Vemo-lo confiante, em suas deduções, afirmar “ter percebido, naqueles fenômenos (experiências espíritas por ele efetuadas), a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da Humanidade, a solução que eu procurava em toda a minha vida. Era, em suma, toda uma revolução nas ideias e nas crenças”. Em pleno século 21, os adversários do Espiritismo tentam, ainda, abatê-lo, sem conseguir. E os partidários, que estão fazendo para propagá-lo? Muito têm feito, e é preciso fazer mais, pois, até agora, não contamos com uma rede de TV aberta. Portanto, entre outros meios, aproveitemos a internet, o jornal, a revista, a emissora de rádio, o anuário, o livro, o vídeo, os seminários e os congressos, fazendo-os chegar a quem julgamos conveniente. Custam tão pouco e rendem tanto! O Espiritismo foi obra dos Espíritos. A Codificação foi missão de Kardec. A Divulgação é tarefa dos Espíritas. _________________ 1 Mateus, 16:27. Foto: Gloogle Imagens
Casamento JOSÉ PASSINI Juiz de Fora/MG
Será contrário à lei da Natureza o casamento, isto é, a união permanente de dois seres? “É um progresso na marcha da Humanidade.”
“O Livro dos Espíritos”, item 695
C
omo se vê, pela pergunta do Codificador, casamento para ele não era um ato formal levado a efeito perante as leis da sociedade, nem uma bênção sacerdotal dada numa solenidade religiosa. Depreende-se da sua pergunta que ele entendia que casamento é um compromisso livremente assumido por dois Espíritos, perante o altar de suas consciências. A alguns pode parecer estranha a presença do adjetivo permanente no contexto, o que parece contrariar o exercício do livre-arbítrio. Mas a dúvida se desfaz quando se atenta para o prosseguimento do diálogo mantido entre Kardec e os Espíritos, registrado no item 697: Está na lei da Natureza, ou somente na lei humana, a indissolubilidade absoluta do casamento? Ao que os Espíritos responderam: “É uma lei humana muito contrária à da Natureza. Mas os homens podem modificar suas leis; só as da Natureza são imutáveis”. Kardec, com a sua visão voltada para o futuro, anteviu o questionamento sério a que seria submetido o casamento nas décadas vindouras, e, querendo que ficasse registrada a opinião dos Espíritos Superiores, formula ainda a seguinte pergunta: Que efeito teria sobre a sociedade humana a abolição do casamento? A resposta não deixa dúvidas quanto à vinculação do casamento à lei Natureza: “Seria uma regressão à vida dos animais”. Pelo visto, depreende-se que a expressão permanente, nesse contexto, significa com perspectivas de permanência, isto é, que não se trata de uma união fortuita, baseada apenas num impulso passageiro, mas no amor. E quando há realmente amor, o casamento não acaba. Se acaba, pelo menos um dos dois não experimentou realmente o amor, pois o verbo amar só tem pretérito na gramática...
Conforme se vê, casamento, na conceituação do Codificador e dos Espíritos que lhe responderam as perguntas, está muito acima de qualquer bênção religiosa ou da assinatura de qualquer documento diante de uma autoridade civil. Trata-se de uma sociedade conjugal, estabelecida pelo próprio casal, num plano eminentemente moral, ético. É compromisso sagrado, que leva um a ver no outro o próximo mais próximo. À medida que o tempo passa, mais se evidencia o avanço do pensamento do Codificador em relação aos seus contemporâneos, pois o casamento tem perdido, ao longo dos anos, o caráter de ato social, religioso, passando a ser conceituado e respeitado como ato pessoal, íntimo. Atualmente, um casal se impõe perante a sociedade como legitimamente constituído, não mais por ter sido o seu compromisso matrimonial assumido num templo, mas sim pelo ambiente de respeito e seriedade em que ambos vivenciam a união. Além do mais, quem é que dá a um homem o direito de estabelecer esse vínculo sagrado entre duas pessoas, e de dizer, ao final da cerimônia: “O que Deus uniu, o homem não separe”? Casamento não depende de nada exterior, de nenhuma ação alheia aos dois. As duas criaturas se casam, pois ninguém tem o poder de es-
tabelecer vínculos entre elas. Na gramática, aprende-se que o verbo casar pode, entres outros regimes, ser transitivo, mas filosoficamente essa classificação é falsa. Poder-se-ia dizer que o verbo é recíproco, pelo fato de as pessoas se casarem, sem a interveniência de ninguém. Nem o Juiz de Paz promove o casamento. Essa autoridade apenas registra nos anais da sociedade, para os efeitos legais, o casamento que é diante dela declarado. Com esse entendimento, conclui-se que o casal espírita apresenta-se diante da autoridade civil apenas para declarar o seu casamento, solicitando seja ele registrado, e não para receber qualquer tipo de legitimação. A legitimidade do casamento é dada pelo grau de responsabilidade e de amor que presidiu a formação do casal. Quanto mais espiritualizado o casal, mais o casamento transcende os limites da vida material, atingindo níveis de consciência espiritual, o que leva naturalmente ao desejo de uma comunhão com o Alto, através de uma prece, que poderá ser proferida por um ou por ambos os nubentes, ou por alguém afetivamente ligado a eles, pois só o amor pode legitimar a condição de alguém na condição de suplicante de bênçãos sobre uma união matrimonial. 2016 • setembro/outubro • Tribuna Espírita 5
Lei de sintonia O
cidadão comum que preserva os valores éticos e comporta-se conforme a crença moral que lhe é agradável atrai, inevitavelmente, a presença dos bons Espíritos que se comprazem em assisti-los. Sendo possuidor de faculdade mediúnica, abrem-se-lhe as portas da caridade que pode exercer mediante os sentimentos que lhe são naturais. No caso em tópico, aqueles Espíritos inamistosos, a princípio zombam do seu comportamento, logo depois, ante a natural demonstração dos atos dignificantes, sensibilizam-se, tornam-se-lhe simpáticos e aderem aos postulados de que se contagiam. Trata-se da lei de sintonia, através da qual os semelhantes se atraem. A melhor terapêutica, portanto, para os graves problemas das desordens obsessivas é o bem proceder. Quando examinamos a mensagem de Jesus, identificamos em todos os momentos a superioridade do amor que inspira os pensamentos e os atos nobres, induzindo à vivência saudável. O amor, portanto, emite ondas de vibrações elevadas, que ensejam a não violência, a resistência pacífica. A tragédia do cotidiano entre as criaturas humanas deflui da inadvertência de pessoas e grupos que optam pela dominação arbitrária dos outros e tentam, a seu talante, submeter todos quantos se lhe acercam. A lei de sintonia propõe a transformação moral do ser humano e logo advêm as consequências pacíficas e pacificadoras. No começo do século XX, Leon Tolstoi, que se houvera tornado cristão sem designação religiosa, mas conforme o Evangelho, acompanhando a miséria que reinava na sua pátria – a Rússia – escreveu uma carta ao czar Nicolau II, chamando-o de irmão e amigo para adverti-lo da crueldade do seu governo sobre os cem milhões de súditos. Advertia-o das ciladas e das manobras dos seus auxiliares, daqueles que o cercavam, polícia e exército, informando-o ser amado 6 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2016
e aplaudido por aqueles miseráveis que o detestavam no abandono e na forme a que estavam atirados... Falou-lhe da força inexorável do amor e do bem que lhe cabia praticar na missão que Deus lhe confiara de conduzir o povo esfaimado e sofrido. Vaticinou que, por certo, não teria ocasião de vê-lo sofrer as consequências da violência na qual se apoiava, com resultados devastadores, em razão da sua idade avançada. Apelava para a bondade e a justiça, eliminando a pena de morte das leis severas que mantinham nos cárceres abarrotados por mais de cem mil prisioneiros tidos como revolucionários, porque insatisfeitos com a maneira como eram tratados... De fato, mais tarde, quando estourou a revolução comunista, ele foi deposto e enviado com a família para o exílio na Sibéria, sendo submetido a inclementes humilhações, fuzilado logo depois, num espetáculo doloroso. Tolstoi houvera desencarnado antes e foi sepultado humildemente entre as árvores que ele próprio plantara, num singelo túmulo, tão humilde quanto ele, em Iásnaia Poliana. Deixou-nos, entre outras, a sua obra que ele considerava prima, O reino de Deus está em vós. * Nesse ínterim, na África do Sul, um jovem advogado indiano que lera a sua magnífica obra sobre a mensagem de Jesus em torno do Reino dos Céus dentro de nós, alterou a vida e dedicou-a, a princípio, a dignificar o seu povo odiado e perseguido naquele país. Preso e condenado por pedir igualdade para todos, iniciou a cruzada por libertar a Índia e o Paquistão do cárcere do Império britânico. Tratava-se de Mohandas Karamchand Gandhi. Viveu o Evangelho em toda a sua pureza, no amor e no jejum, na resistência pacífica, na oração e, sobretudo, em a não violência. Assassinado por um fanático, chamou por Deus sorrindo e imortalizou-se.
Parece difícil, nestes dias, a vivência integra do amor, tais as circunstâncias e as conquistas bélicas, as forças da violência, o poder das armas... No entanto, nos dias de Jesus, não eram diferentes as condições, e por isso Ele foi crucificado. Tolstoi teve algumas das suas obras proibidas de circularem nas terras da “Mãe Rússia”, e a pobreza suprema a que ele se submeteu permitiu que fosse escarnecido e desprezado e que tivesse problemas domésticos, ao renunciar ao título de Conde. Gandhi, admirado e perseguido, insistiu nos objetivos a que entregou a existência e, conforme esperava, tornou-se vítima da violência, deixando o seu legado de paz que ainda comove o mundo. Talvez, não logres alcançar o nível desses missionários, o que não é importante, desde que te dediques ao humilde trabalho de aplainar a estrada, melhorar os caminhos por onde marcharão os apóstolos do amanhã que virão pacificar a Terra. Faze a tua parte: ama! Exercita o não revide, a não violência, a resistência pacífica. Esses elementos são o alicerce sobre o qual o Senhor está construindo o mundo melhor de amanhã. As tremendas provações que ora se abatem sobre a humanidade: guerras, epidemias, violência, desagregação do ser, perda de sentido existencial, atraem Espíritos também infelizes que se mesclam com os indivíduos e as massas, provocando o caos. A mesma lei de afinidade atrai os seres nobres da Espiritualidade, os gênios, os sábios, os mártires e os santos para a edificação da felicidade dos corações mesmo durante estes afligentes momentos... * Pensa no amor e ascende aos paramos da Luz Divina da qual procedes. Joanna de Ângelis (página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite de 3 de fevereiro de 2016, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia) Foto: Gloogle Imagens
Somos todos adotados OCTÁVIO CAÚMO SERRANO João Pessoa-PB
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prendemos, ao longo da história milenar, que o homem é uma alma reencarnada. Uma afirmativa, por exemplo, de Sócrates, 400 anos antes de Jesus e 2250 anos antes de o Espiritismo, organizado por Allan Kardec, que nasceu em 3 de outubro de 1804, viria para ressuscitar a Lei da Reencarnação, arquivada e esquecida nos escaninhos do passado remoto. Quando um casal se une para produzir um corpo, constrói uma nova casa para o abrigo de alguma alma milenar que virá morar nela, após cuidadosa programação, levando-se em conta o seu passado espiritual e as necessidades evolutivas que precisa experimentar. Traz, portanto, um psiquismo já plenamente povoado de ações, boas e más, caracterizadas como virtudes e defeitos que já estão nele incorporados, porque esses são os tesouros do céu, que o ladrão não consegue roubar. Nossas experiências ficam acumuladas no inconsciente para toda eternidade. Daí porque vale a pena o esforço de renovação para melhorar-nos porque se incorpora para sempre em nós e nunca mais o perdemos. Uma conquista definitiva. Uma vez pacientes, seremos dono da paciência para sempre. Uma vez humildes, donos definitivo da virtude da humildade. Por todos os milhões de séculos que ainda nos restarão viver. Embutido nesse passado, há, amiúde, resgates ligados à fertilidade e à impotência dos humanos, o que os impedem de criar o novo corpo no qual virá morar essa velha alma que deseja continuar suas experiências. É para as mulheres um momento de frustração inconsolável, porque, sem dúviFotos: Gloogle Imagens
da, é na maternidade que elas experimentam o seu mais sublime momento de vida. A alegria é tanta quando ficam grávidas que por mais feias que sejam suas feições humanas, elas se enriquecem de uma beleza que transparece pelos poros, com olhos mais brilhantes e suavidade no semblante. Conclui-se que é por terem no seu corpo, durante esses nove meses, duas almas em vez de uma. Há um recurso ainda mal compreendido para preencher essa decepção causada pela infertilidade, que é a adoção. Embora aprendamos que o corpo herda do corpo, mas o espírito tem sua própria história, ainda há um tabu no momento da adoção. Temem que o adotado seja filho de algum malfeitor e traga com ele uma carga maligna herdada do genitor. Embora saibamos que caráter não se transmite por DNA, há sempre alguma apreensão. Em O Livro dos Espíritos, na pergunta 203, foi feita a seguinte indagação: “Os pais transmitem aos filhos uma porção de suas almas ou apenas lhes concedem a vida animal, à qual uma alma nova vem, mais tarde, adicionar a vida moral?” Resposta: “Os pais transmitem apenas a vida animal, pois a alma é indivisível. Um pai estúpido poderá ter filhos inteligentes e vice-versa”. A seguir, na questão 207, há outra dúvida: “Os pais frequentemente transmitem a seus filhos uma semelhança física; transmitem, também, uma semelhança moral?” Resposta: “Não, pois têm almas (ou espíritos) diferentes O corpo deriva do corpo, mas o espírito não deriva do espírito. Entre os descendentes das raças há apenas consanguinidade”.
Mas como explicar que, às vezes, há semelhanças morais entre pais e filhos? Na questão 207a, está dito que são espíritos simpáticos, atraídos pela afinidade de suas inclinações. Quem não puder ter filho, não tenha preconceito contra a adoção, porque filho legítimo ou adotivo será um homem de bem, ou não, conforme a educação que se lhe dê. É provável que um adotado cause até mais alegria, porque, se for correta e naturalmente informado dos antecedentes, saberá ser agradecido e procurará corresponder ao amor que lhe foi ofertado. Ao contrário do chamado legítimo, que quando é contrariado nas suas necessidades logo solta aquela conhecida frase absolutamente inverídica: “Eu não pedi pra nascer.” Às vezes, pediu e até implorou. Quando o adotivo está na categoria dos espíritos afins, como relatado na questão 207a acima, poderá ser até mais parecido com os pais do que aqueles que foram gerados no ventre da mãe genitora. Serão mais amigos e sabe-se lá por que chegaram a esse lar. No livro da psicóloga americana Helen Wambach, Vida antes da vida, ela relata, nas entrevistas por regressão hipnótica, alguns casos de pessoas que sabiam que iriam nascer de uma mãe com a qual eles não tinham compromisso, mas que logo depois seriam adotados por outras pessoas com as quais tinha comprometimentos anteriores. A Lei de Deus é muito bem feita! Nunca se esqueça: FILHO ADOTADO, TROFÉU DE AMOR. Título do Capítulo 13 do nosso livro “Pontos de Vista” de março de 1996. Se já existíamos antes de nascer, somos todos adotados. 2016 • setembro/outubro • Tribuna Espírita 7
O Anticoncepcional JOSÉ RAUL TEIXEIRA Rio de Janeiro-RJ
A
Dra. Susan Blackmore, da Universidade de Bristol, na Inglaterra, juntamente com o Dr. Colin Blackwell, estabeleceram suas visões a respeito do anticoncepcional. Sim, a respeito da pílula. E, nas falas de ambos, conseguimos ler que eles interpretam a pílula anticoncepcional como tendo sido um grandíssimo movimento revolucionário na década de 1960, que teve o poder, teve o condão de dar liberdade às práticas sexuais. Asseveram que o anticoncepcional deu à mulher essa possibilidade de dirigir seu corpo e não permitir a fecundidade, quando não tivesse nela qualquer interesse. Foram mostrando como é que o anticoncepcional mexeu na maneira como a mulher era vista no contexto social. A visão machista da mulher foi forçada a sofrer alterações de monta. Também lembraram que, graças ao incremento dos anticonceptivos, a mulher pôde ocupar o lugar que lhe cabia e que lhe era negado, no contexto social. O anticoncepcional igualmente promoveu uma grandíssima revolução na questão que era bastante discutida sobre a divisão do trabalho. O que cabia à mulher, o que cabia aos homens. Ao longo de muitas décadas, desde a de 1960, essa questão do anticoncepcional ganhou bastante destaque. No entanto, desde a década de 1940, químicos e bioquímicos trabalharam buscando uma solução para o que chamavam de grave problema das relações sexuais: a procriação. E, a partir disso, na América do Norte, nos Estados Unidos, os pesquisadores trataram de investigar um produto à base da testosterona, o hormônio masculino, para que houvesse uma pílula para os homens. E isso porque eram os homens tradicionalmente, historicamente, que tinham uma vida mais liberada, que tinham uma vida mais solta, mais libertina. Então, seria válido, pensavam eles, criar-se uma pílula para os homens. O que acontece é que, depois da pílula criada e em fase de testes, os pesquisadores foram a muitos presídios norte-americanos e ofereceram aos presidiários, com a devida autorização da Justiça, a oportunidade de eles servirem de cobaia ao uso 8 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2016
da pílula, sob a condição de que receberiam indultos e, até mesmo, liberações totais de suas penas. Ao longo das consequências, os pesquisadores notaram algo que não esperavam. Em função dos órgãos sexuais masculinos serem externos, aquele produto gerou sobre os homens, primeiro, uma impotência precoce; depois, uma retração do órgão genital. Pode-se bem perceber que os pesquisadores interromperam ali o trabalho. Não era conveniente, à época, criar-se uma pílula para o homem, capaz de produzir tamanho desastre na autoestima masculina. Então, voltaram-se para a mulher, cujos órgãos sexuais são internos e à base de estrogênio, de progesterona, ainda em quantidades nada científicas, e apresentaram as primeiras pílulas. As primeiras mulheres que se decidiram por usá-las se saíram muito mal. Os problemas de mama e os cânceres abundaram até que, ao longo do tempo, a própria farmacologia e a bioquímica foram ajustando os níveis de estrogênio, de progesterona, para que os médicos, ao conhecer o funcionamento orgânico de suas pacientes, pudessem indicar essa ou aquela pílula. Desse modo, o problema grave foi ate-
nuado, mas cada mulher responde por si, em virtude do uso, indiscriminado ou não, que faça de anticonceptivos. Não há dúvida de que a mulher tem o direito de se proteger, de se cuidar, mas não apenas em termos corporais. *** O cuidado com o corpo é fundamental. Nenhuma mulher tem a obrigação de reproduzir aleatoriamente, reproduzir por reproduzir. Ela tem direito a se cuidar, tem o dever de se cuidar. Nada obstante, a mulher obedece a um programa no plano da Divindade. Lemos em O Livro dos Espíritos uma pergunta que é dirigida aos Imortais a respeito da missão do homem e da mulher: Qual é a mais importante para o Criador? E a resposta incisiva das Entidades Espirituais, que orientam o Planeta, é que a missão que Deus concedeu à mulher é superior àquela concedida ao homem, porque é a mulher que o educa. Dessa maneira, começamos a perceber que seria lamentável se a mentalidade feminina descesse para esses patamares e fizesse com que a mulher se convertesse meramente em uma máquina de fazer sexo. Cabe a ela a procriação, sem dúvida, mas cabe a ela o amor. Fotos: Gloogle Imagens
A mulher é essencialmente mãe, mesmo quando não tenha filhos do seu próprio corpo. A mulher é essencialmente mestra, professora. É essencialmente orientadora. A natureza, nas mãos de Deus, fez com que a mulher tivesse uma sensibilidade maior. Então, qualquer produto químico que no organismo do homem realize um determinado efeito, em razão da sensibilidade feminina, no seu organismo, esse efeito será mais drástico. É por essa razão que, quando percebemos esse uso indiscriminado de pílulas, desde as meninas novas, passando por suas mães, até as mulheres maduras, apenas para evitar-se a gravidez, lamentamos profundamente. Porque, naturalmente, pensamos que a pílula, o anticoncepcional, não deveria existir apenas com esse propósito. Originalmente mesmo, o anticoncepcional surgiu para equilibrar o ciclo menstrual das mulheres. Não era chamado de anticoncepcional. Os médicos descobriram que, ao regularizar o ciclo feminino, também agia sobre a hipófise, provocando sobre essa glândula um estado orgânico na mulher como se ela estivesse grávida. E, a partir daí, ela, ao simular essa gravidez, impede
o amadurecimento de novos óvulos. Essa era a função do anticoncepcional, como elemento utilizável pelas mulheres: fazer com que o organismo simulasse o tempo todo que a mulher está num estado de gestação, pela não ação da hipófise. Verificamos que a mulher simula, durante um longuíssimo tempo, algo que não é real e, obviamente, haverá consequências sobre o seu organismo. Muitas alegam: Mas foi recomendação do meu médico! Mas a orientação médica desses dias, com as exceções louváveis, é uma orientação materialista. Grande número de facultativos não admite a existência da alma, do ser espiritual, não admite que nós sejamos Espí-
Transcrição do Programa “Vida e Valores”, de número 198, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.
ELMANOEL G. BENTO LIMA
Painel Espírita
João Pessoa - PB
Perseverar até o fim Todos reencarnamos com uma programação específica a cumprir, embora possamos, por livre arbítrio, desviarmo-nos dela. Ela difere da genérica, que estabelece a família onde reencarnamos, o sexo e demais características do corpo da presente jornada terrena. ESCOLHA DAS PROVAS − Ao reencarnar, é o próprio Espírito que escolhe o gênero de provas pelas quais deseja passar, sob o amparo de seu livre-arbítrio. Não é Deus que impõe as tribulações. Mas, nada ocorre sem a permissão Dele, já que foi Ele que estabeleceu todas as leis regentes do Universo. Isto dá ao Espírito a liberdade de escolha, deixando-lhe toda responsabilidade de seus atos e consequências. Se um perigo vos ameaça, foi Deus que o criou, sim; porém, vosso foi o desejo de vos expordes a ele. (Vide a questão 258 de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec). Na programação especifica entram as linhas mestras de nossa vida material (profissão, a família a ser constituída, a atividade religiosa, etc.), cujos detalhes delineamos no dia-a-dia, segundo nossa
ritos e que não estamos na Terra apenas para fazer sexo pelo sexo. O sexo, ao lado da função procriadora, deve alimentar as almas que se unem pelos vínculos do respeito e do amor. Deve servir para os grandes feitos da inteligência, para iluminar as criaturas e esses hormônios trocados, esses elementos trocados, do psiquismo de um para o psiquismo de outro, têm um endereço mais alto, que é a felicidade íntima da criatura. É por essa razão que, quando o homem visita o bordel, o lupanar, para apenas auferir o prazer sensorial, aquilo não o satisfaz e ele tem que voltar de novo, como alguém que, na sede, decide-se por beber água do mar. Pela sua salinidade, ela não sacia a sede. É a partir disso então que, diante do anticoncepcional tão desbragadamente utilizado, vale a pena pensar que a mulher tem uma função diante das Leis Divinas. Usando ou não o contraceptivo, pensar que ela é a grande geradora da vida, a grande colaboradora de Deus, pelo mundo afora.
liberdade de pensar e agir, sujeitos a erros e acertos em nossas decisões. Neste contexto, nossa liberdade é plena na intenção, mas limitada na ação, por inúmeros fatores, onde se encontra, entre outros, o determinismo do Alto. Assim, se estamos reencarnados − vivendo no Brasil − e somos espíritas, não é por acaso. Trata-se de programação de ordem: • genérica, no primeiro caso, porque não podemos modificar a família onde renascemos (ou seja, mudar os pais, os irmãos etc.); • especifica, no terceiro, porque é nossa opção nos mantermos espíritas. Atenhamo-nos, aqui, ao tema livre arbítrio dirigido para e nas atividades doutrinárias. A Doutrina Espírita é jovem e vigorosa. Jovem, porque possui 148 anos de idade (o que é pouco, em termos de influir sobre as ideias da Humanidade, como um todo). Vigorosa, porque se alicerça na lógica (filosofia), em bases científicas (fenomenologia mediúnica, principalmente) e na fé raciocinada (em contraposição à fé cega, que aceita princípios sem exame,
comprovação e/ou reflexão profunda). O Movimento Espírita é, também, jovem e, a nível de ideal, vigoroso; portanto, importa que a chama desse vigor seja mantida e fortalecida. A hora é de testemunho, para todos que têm responsabilidade nas atividades espiritistas; seja, desde a mais simples às mais complexas; seja, no campo administrativo ou na divulgação; seja, na esfera da atividade assistencial ou doutrinária, coerente com os Evangelhos de Jesus e com o pentateuco espírita (achega nossa). É, com sacrifícios e renúncias, que daremos a nossa efetiva participação de colaboração na construção de uma Humanidade melhor, perseverando em nossos trabalhos da seara espírita. E nossa liberdade de pensar, sentir e agir deve ser bem conduzida, porque dela depende a nossa unidade. Portanto, perseverarmos até o fim em nossa programação especifica, significa mantermo-nos unidos no mesmo ideal de Kardec, apoiados nos ensinamentos de Jesus, o Cristo, hoje compreendidos em espírito e verdade, e com a maturidade moral que nossos espíritos já conseguiram alcançar. [Simplificação e adaptação do Editorial da “RIE”, de ago/2000]
2016 • setembro/outubro • Tribuna Espírita 9
Tudo é Vida ADÉSIO ALVES MACHADO
A
vida nunca cessou, não cessa e nem cessará em todos os departamentos deste Universo infinito, onde ela se mostra soberana e bela. Aquilo a que denominamos morte poderíamos chamar de uma desagregação celular que, por sua vez, continua vivendo incessantemente, e isso por uma razão bem simples: cada célula componente de um grupo que lhe empresta forma é energia, e essa não desaparece, mas prossegue com vida, e vida cada vez mais abundante, justamente pela certeza adquirida de que ela, morte, inexiste, é uma mentira. Os enciclopedistas, mais cedo ou mais tarde, haverão de colocar em seus dicionários o verdadeiro significado da morte: uma desorganização celular que dava forma a um grupo de células que se constituía num todo orgânico ou inorgânico. Olhando a morte com a visão espírita, que é justamente a visão do Espírito imortal, a morte já não se pode constituir num temor, num horror. É, sim, um fenômeno biológico natural que deve ser racionalizado pelo Espírito ergastulado à carne. As células componentes de um corpo somático, ao se desestruturarem no ser humano, não encontram mais condições de reter a energia que as comandava, que as mantinha unidas, grupadas. Falta-lhes vitalidade, que é usada pelo Espírito para comandar o corpo, apropriando-se dele. Tudo se altera para que aconteça o melhor, o aperfeiçoamento da forma, o seu progresso, a sua evolução. Viver, como vamos percebendo, é evoluir em todos os estágios, sem cessar, até à 10 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2016
angelitude, quando a energia espiritual, o Espírito, não mais necessita da forma para se expressar. Daí porque o ser real não é físico. Esse é clausura temporária da energia eterna. Todos nós voltaremos às origens, quando nos desprendermos do magnetismo e do vitalismo orgânico que engendra a forma física. Reagir à libertação pela morte do corpo carnal é apego insensato às licenças do prazer e às imposições das mais primárias das paixões. Somente o hedonista teme ou odeia a morte, porque para ele tudo se resume no agora, supondo que a vida seja esse breve estágio no frágil e breve período dos sentidos físicos. Fomos criados para a libertação plena, que vamos alcançando, paulatinamente, nas abençoadas experiências reencarnatórias que caracterizam a verdadeira Vida, a do Espírito. O homem terreno ainda vive e sente apenas o corpo carnal, não se apercebendo das sensações tipicamente espirituais, oriundas da vivência da caridade, do amor ao próximo, da Natureza nas suas variadas manifestações. Como, em realidade, nada morre, mas experimenta incessante transformação, o Espírito prossegue vivo quando da desarticulação da maquinaria física sob sua diretriz. As comunicações mediúnicas que nos chegam diariamente, ao serem percebidas na sua essência, vão deixando aos humanos a realidade da vida extrafísica.
Jesus veio mostrar a Vida estuante, após se deixar crucificar sem um mínimo gesto de defesa ou justificativa para o que havia feito. Se confiamos nEle, mais ainda confiemos em Deus. Assim sendo, segundo as palavras do Incomparável Messias, renunciemos a nós mesmos, tomemos a nossa cruz e sigamo-Lo. Procuremos, assim, conduzir-nos com equilíbrio em todos os momentos da existência terrena para que, no instante da morte, estejamos devidamente preparados para a sobrevivência plena que nos aguarda. Acalmando-nos, aguardemos o reencontro com os que nos antecederam na viagem de retorno ao mundo verdadeiro – o dos Espíritos. O ser amado vive e nos espera, com certeza. Caso façamos silêncio interior, ouvi-lo -emos com palavras dúlcidas de esperança e consolo, para que prossigamos em nossos afazeres até o instante final da libertação. Se porventura algum temor nos acicata com ameaças a respeito da desencarnação, nada melhor e salutar do que recordarmos de que diariamente vivemos uma forma de morte quando adormecemos. “Ama os que morreram, mas vivem, preparando-te, por tua vez, para viveres depois que morras”- diz Joanna de Ângelis. Vivamos, pois, felizes, amando a vida, o que fazemos, e esperemos, sem temor algum, o momento fatal da nossa desencarnação, confortando-nos com os conhecimentos oferecidos pelo Espiritismo. Nota da Redação: o autor já se encontra na Pátria Espiritual. Foto: Gloogle Imagens
Diante dos Criminosos FÁTIMA ARAÚJO João Pessoa-PB
A
violência infelicita o mundo atual, ameaçando a paz e a segurança dos cidadãos até dentro de seus lares. Sempre que a sociedade se abala diante de um crime bárbaro, clama-se por revisões na lei, sugerindo-se providências como a instituição da pena de morte, da prisão perpétua, da diminuição da maioridade penal, entre outras. A lei humana deve ser cumprida, embora reconheçamos que, muitas vezes, ela não atenda aos objetivos de ressocialização e moralização do indivíduo. Desejamos que essas leis sejam revistas, se necessário, sem radicalismo, não esquecendo que seus objetivos devem acompanhar as mudanças sociais e visar à recuperação da criatura que enveredou pelos caminhos do mal. Mesmo porque sanções extremas não resolvem o problema da criminalidade e geram revolta e desejo de vingança no espírito, que apenas fica livre do corpo, mas continua preso às sensações negativas. Precisamos refletir, à luz da Doutrina Espírita, sobre os crimes e sobre a lei, uma vez que o maior Mandamento da Lei Divina inclui a caridade para com os criminosos, por mais difícil que possa parecer esse sentimento, diante da barbárie, e por mais que, perante a Lei de Deus, reconheçamos todos como irmãos. O criminoso é alguém que ainda não se conscientizou dessa Lei, que ainda não conhece a luz, nem vê no outro um irmão. Portanto, não devemos guardar ódio, rancor, desejos de vingança, nem tampouco intenções de devolver o mal recebido. Vejamos a questão 634, de O Livro dos Espíritos, sobre a natureza moral da humanidade, quando Kardec pergunta às Entidades Venerandas se Deus não poderia ter criado a humanidade em melhores condições. A resposta é que “Deus deixa que o homem escolha o melhor caminho. Tanto pior para ele, se toma o caminho mau; mais longa será sua peregrinação”. É o livre-arbítrio. Já na questão 756 da mesma obra, Kardec indaga: “A sociedade dos homens de bem se verá algum dia expurgada dos seres malfazejos?”. E eis a resposta: “Esses homens, em quem o instinto do mal domina e que se acham deslocados entre pessoas de bem, desaparecerão gradualmente, como o mau grão se separa do bom, quando este é joeirado. Mas desaparecerão para renascer sob outros invólucros. Quando terão mais experiência, compreenderão melhor o bem e o mal”. Foto: Gloogle Imagens
O Espírito Elisabeth de França, no Capítulo XI, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, itens 14 e 15, conclama-nos a ajudar essas almas que se distanciam do bem e acumulam mais sofrimento, a sair do lamaçal em que se encontram. Ela nos alerta sobre “a oportunidade que Deus nos concede de termos, entre nós, grandes criminosos, para que, com o exemplo que eles nos dão, possamos compreender o verdadeiro sentido da reencarnação: progresso, iluminação, felicidade. E que devemos auxiliar esses seres equivocados com nossas preces, para que um dia não tenhamos mais que precisar desses tristes exemplos e possamos gozar de um mundo mais pacífico”. No item 14, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, intitulado “Caridade para com os Criminosos”, Elizabeth de França nos ensina: “A verdadeira caridade é um dos mais sublimes ensinamentos de Deus para o mundo. Entre os verdadeiros discípulos de sua Doutrina deve reinar perfeita fraternidade. Deveis amar os infelizes, os criminosos, como criaturas de Deus, para as quais, desde que se arrependam, serão concedidos o perdão e a misericórdia, como para vós mesmos, pelas faltas que cometeis contra a sua lei”. Quando Jesus recomendou: “Amai os vossos inimigos”, estava falando do amor, do sentimento de piedade, do não ao ódio e ao preconceito, da misericórdia. O Divino Mestre alertava ainda para o desejo de que o doente desperte para o bem e evolua. Diante de crimes, como deve reagir o verdadeiro Espírita? Para a vítima, elevar preces de conforto ao seu espírito, como também vibrações de encorajamento e perdão aos familiares. Para o criminoso, preces de paz para que ele se defronte com o arrependimento, o mais cedo possível, iniciando seu crescimento espiritual. Porque pensamentos de ódio e de vingança, ausência de caridade e rancores são atitudes que atraem espíritos sofredores que se locupletam das fraquezas e da revolta dos envolvidos, muitas vezes chegando a subjugar suas vítimas, em processos terríveis de obsessão. Talvez até transformando vítimas em multiplicadores do mal. Portanto, sejam quais forem as circunstâncias, usemos a Caridade que Jesus nos ensinou! 2016 • setembro/outubro • Tribuna Espírita 11
Parábola do Evangelizador ADEILSON SALLES Olinda-PE
H
á pouco mais de 150 anos entre os homens, o Espiritismo ainda não foi compreendido em toda sua propositura. Estamos ensaiando os primeiros passos no seu entendimento. De qualquer forma, o que ressalta aos olhos de qualquer observador mais atento é a revolução educativa que a Doutrina Espírita oferta à Humanidade. Observar a vida pela ótica reencarnacionista, conforme ensina o Espiritismo, é dilatar a visão e a compreensão sobre velhos problemas humanos. Há quantos séculos viajamos entre as duas dimensões sob o guante da culpa? Encarnamos e desencarnamos recebendo uma educação pautada na culpabilidade. Os efeitos da proposta educativa do Espiritismo podem se fazer sentir nas escolhas realizadas por aqueles que nasceram em lares espíritas. A criança que recebe as sementes da educação espírita não estará isenta dos sofrimentos deste mundo, todavia, fará suas escolhas, certas ou erradas, com uma visão mais abrangente sobre a vida. Não carregará em seu psiquismo a pecha da culpabilidade, esparzida há séculos sobre as mentes infantis, pelo contrário, será informada, de maneira pedagogicamente eficaz, que ela é responsável por todas as escolhas que faça. Seja no seio familiar, ou nas relações interpessoais, a criança orientada pelos postulados espíritas logrará um caminhar mais amadurecido durante a sua existência. Nesse sentido, de modo complementar à ação evangelizadora dos pais e responsáveis, e com o intuito de levar às nossas crianças e jovens os postulados libertadores da Doutrina Espírita de maneira pedagogicamente adequada, é imprescindível a figura do evangelizador espírita em nossas instituições. O evangelizador é o semeador da mensagem espírita cristã. Cabe a ele o semear da esperança nos corações que viajam pelas dimensões da vida, esfaimados de luz. Fora da evangelização infantojuvenil, torna-se mais difícil a regeneração do mundo. As crianças e jovens, que aportam em nossos núcleos espíritas, recebem uma informação libertadora, que será confrontada, em seu psiquismo, com as velhas informações punitivas e atávicas de séculos atrás. É fundamental que o dedicado evangelizador espírita se mantenha firme no roteiro traçado pelos bons Espíritos. O evangelizador irá se defrontar com corações e mentes de variados matizes evolutivos. Mesmo lhe parecendo que a semente não germine de maneira promissora ante seus olhos, o evangelizador deve compreender que não está evangelizando corpos, está semeando luz para Espíritos imortais. Jesus não desistiu de nós e ainda hoje segue esperando que a semente da Boa Nova germine em nosso coração, traduzindo-se em frutos preciosos através das nossas ações. O evangelizador espírita é parceiro de Jesus em sua faina de amor. Por mais empecilhos que surjam nas tarefas da evangelização, o evangelizador deve se esforçar por permanecer nessa senda. Cada criança evangelizada é a semente de uma família feliz amanhã. Que em nossa próxima viagem pela dimensão material possamos 12 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2016
reencarnar em família na qual tenhamos como pai ou mãe, avô ou avó, uma criança evangelizada nas nobres instituições espíritas de hoje. Reflitamos, pois, na parábola do semeador, entendendo que o evangelizador espírita, hoje, é o semeador do Consolador prometido por Jesus ontem. Naquele mesmo dia, Jesus, tendo saído de casa, sentou-se perto do mar; e se reuniu ao seu redor uma grande multidão de gente; por isso Ele subiu num barco, onde sentou-se com todo o povo estando na margem; e lhes disse muitas coisas por parábolas, falando-lhes desta maneira: Aquele que evangeliza saiu a evangelizar e, enquanto evangelizava, uma parte do seu esforço perdeu-se pelo caminho, pois muitos obstáculos surgiram: incompreensão, falta de apoio, pais desorientados, lares atormentados, crianças esfaimadas de carinho, sedentas de amor. Outra parte do seu esforço perdeu-se em corações endurecidos, onde não havia muita ternura, mas logo surgiu uma esperança, veio o entusiasmo, a empolgação, mas o sol das dificuldades levantou-se a seguir e transformou em cinzas a breve esperança. Outra parte dos esforços do evangelizador caiu entre os espinhos da materialidade, e assim que principiou a dar frutos, os chamados do prazer material cresceram e sufocaram os frutos. Outra parte, enfim, caiu em coraçõezinhos repletos de ternura, e deu frutos, alguns grãos rendendo cento por um, outros sessenta e outros trinta. Que ouça aquele que tem ouvidos para ouvir. Escutai vós a parábola do Evangelizador. Todo evangelizador que conhece a Doutrina Espírita e não se esforça por perseverar nessa afanosa tarefa, os obstáculos e dificuldades surgem e lhe tiram a alegria de evangelizar. Esse se assemelha ao evangelizador que recebeu a tarefa de evangelizar e fica pelo caminho. Aquele que semeia a Doutrina Espírita se depara com alguns corações endurecidos; pode se entusiasmar, se empolgar, mas se as raízes do sentimento espírita cristão e seus luminosos postulados não estiverem ínsitos na própria alma do evangelizador espírita, o sol das dificuldades transformará em cinzas a boa vontade e a empolgação. Em sobrevindo os revezes da vida e a perseguição do orgulho e da vaidade do próprio evangelizador, já que a evangelização espírita não oferece papel de destaque no mundo, tira ele daí motivo de escândalo e queda. Aquele que evangeliza entre os espinheiros da materialidade, e se mantém preso a esses mesmos cuidados de maneira excessiva, acaba por perder-se e sua palavra é abafada, tornando-se infrutífera. Aquele, porém, que persevera, esforça-se e dedica-se tem o coração enternecido pela faina evangelizadora, esse encontrará coraçõezinhos ávidos por sua ternura e saberá reconhecê-los em meio às urzes do caminho. A semente da evangelização estará presente em suas palavras, em seus exemplos. Sua prática evangelizadora dará frutos suculentos para os Espíritos imortais, chegando a produzir cem, ou sessenta e trinta por um. Referências: KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 129. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 17, it. 5. Foto: Gloogle Imagens
Minha dor, sua dor, nossa dor... STANLEY MARX DONATO João Pessoa-PB
E
stremece o Mundo ante o predomínio da iniquidade humana! Conflitos mil não podem estar dissociados da dor, meio idôneo a nos proporcionar reflexões maiores sobre a razão da vida humana na Terra. Nesse sentido, percebe-se que as lágrimas, a despeito de se apresentarem sempre na forma cristalina, conotam, muita vez, expressões aflitivas diversas, concorrendo, usualmente, a compreensão de que a minha dor é diferente da sua dor, pois a minha dói mais... De fato, a priori, nada de estranho parece emanar de tal juízo. Todavia, à Luz da Doutrina Espírita, cuja compreensão sobre Deus contempla a soberania da bondade e justeza universal, percebe-se que o binômio necessidade/merecimento reclama reflexão mais ampla sobre o processo de aflição humana. Diz-nos Emmanuel (Rumo Certo) que, à feição dos alunos na escola, recebemos lições, na vida encarnada na Terra, através dos problemas que nos são apresentados, razão pela qual dificuldade vencida, experiência adquirida. É justamente na experiência adquirida que percebemos mudança perceptiva e vivenciada ante o contexto das lições a serem experimentadas pela criatura humana na Terra. Enquanto uns choram pelo supérfluo e banal, outros conservam a serenidade ante perdas traumáticas. Como explicar a diversidade reinante? Genética? Dom? Indubitável que as células componentes do nosso envoltório físico (corpo humano) não conservam respostas convincentes, nada obstante tenha sido objeto de inaudita busca pela Ciência humana, que, gradativamente, contempla paisagens diversas, sobretudo pelo intrigante fato de que, em alguns contextos, a dor física parece não se aproximar da lancinante dor moral que guarda peculiaridade extraordinária: manter-se em
vigília com o seu autor, ainda que esse se encontre em estado de sono físico. Tal afirmação, apenas como exemplo, pode ser facilmente contemplada nas buscas pelo perdão entre adversários ante a iminência do trânsito para o desencarne. Ao refletirmos sobre tal questão, compreendemos o magnânimo poder do nosso Mestre Jesus, que, em sua pedagogia no trato com a puerilidade humana, aconselhou-nos corrigir o equívoco e não mais repeti-lo em momento superveniente, a fim de evitarmos novas aflições em situações ainda mais adversas. A proposta, portanto, apresenta sentido novo para o viver, pois, se há possibilidade de seguir-se adiante com o equívoco corrigido, passível de nos encontrar novamente, algo extraordinário nos é revelado: detemos o poder de escolha. Se assim o é, consideramos que a bondade e justeza de Deus não se coadunam com o surgimento da aflição como opção, mas como efeito da incidência de suas leis imutáveis que regem a nossa vida, o nosso evolver, concitando-nos a refletir sobre a capacidade que detemos de mudar o rumo seguinte, a fim de nos depararmos com o amor e, por conseguinte, nos distanciarmos da dor. Para tanto, outro caminho não há senão seguir carregando a nossa cruz, compreendendo, como dito por Emmanuel (Rumo Certo), que o inevitável encontro com as lágrimas não reclama a presença do desespero e das condenações responsáveis pela dorida consciência de culpa, pois, na ótica da substituição dos vícios pretéritos pelas virtudes atuais, imperioso reconhecer que tudo passa e isso também passará, orientação dada a Chico Xavier por Emmanuel, proporcionando-nos reconhecer que a minha dor não difere da sua dor. A diferença reside na forma de lidar com a nossa dor, fato atribuído a lições apreendidas através de adversidade vencida na escola da vida... Sejamos bons alunos!
2016 • setembro/outubro • Tribuna Espírita 13
Antonio Cesar Perri de Carvalho (Brasil), Claudia Bonmartin e Charles Kempf (França), Konrad Jerzak (Polônia), Elsa Rossi (Reino Unido), Spartak Severin (Bielo-Rússia) e Nestor Masotti (Brasil - desencarnado).
Conversando com Claudia Bonmartin em Paris
O
Movimento Espírita vive um momento especial na Europa. Agora, neste mês de outubro, precisamente nos dias 7 a 9, acontece o 8º CONGRESSO ESPÍRITA MUNDIAL em Lisboa, Portugal. Com países estruturando-se e organizando-se, para se fortalecer na divulgação da Doutrina Espírita. É o caso da Bielo-Rússia, Polônia, Dinamarca e, em casos mais ativos, Bélgica, França, Suíça, Reino Unido, Portugal e Espanha. O Conselho Espírita Internacional (CEI) esforça-se em produzir obras espíritas em todos os idiomas. Tudo isso para poder oferecer a literatura, e os europeus buscarem e aprimorarem nela seus conhecimentos. Dessa forma, os divulgadores fazem o que podem em seus países, para que o Espiritismo chegue ao Velho Continente. Não é fácil, certamente, há um longo caminho a se percorrer para a disseminação da Doutrina, mas as perspectivas são as melhores. Parabenizamos os companheiros que atuam no Movimento Espírita desses países, pois lutam com outras dificuldades daquelas que vemos aqui no Brasil. Mas, de acordo com o Conselho Espírita Internacional (CEI), tem havido uma expansão de atividades e de núcleos espíritas em vários países do Leste Europeu. Para se ter uma ideia de que forma está traçado o mapa das casas espíritas no continente europeu, temos os seguintes dados: na França, existem mais de 50 centros espíritas; no Reino Unido, 13; países como Dinamarca, Luxemburgo, Polônia, Áustria, Estônia e Bielo-Rússia já contam com 2 ca14 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2016
sas espíritas, cada um. Na Suécia, temos 7. Um na Escócia, 9 na Suíça, 70 na Espanha, 13 na Bélgica, 7 na Itália, e, em Portugal, já conta com mais de 140 casas espíritas. O colunista de nossa revista “Tribuna Espírita”, o pernambucano Nilton Santos, em recente viagem à França, passeando com sua esposa e sua filha Leila, residente em Paris, fez uma visita em uma dessas casas, o CESAK - Centre d’Études Spirites Allan Kardec e, em conversa fraterna com a dirigente Claudia Bonmartin, desenvolveu, com exclusividade para nossa revista, uma entrevista com essa companheira dedicada, que muito tem contribuído para a expansão do movimento espírita no continente: Nilton Santos - Como se tornou espírita? Claudia Bonmartin - Eu nasci em família católica praticante. Sempre estudei em colégios e faculdades católicas. Somente na França, quando cheguei em 1° de julho de 1973, depois de passar nove meses em Madrid, onde fui contemplada com uma bolsa de estudo, é que fui estudar em uma universidade do governo, a Sorbonne, na minha área que era Educação. Minha mãe tinha uma mediunidade muito ostensiva, desde criança, o que sempre foi um problema em família muito católica. Meu pai a compreendia, pois ele conhecia um pouco de Umbanda e era familiarizado com a mediunidade. Quando ele caiu seriamente doente, uma senhora espírita, amiga de um irmão de minha mãe, veio trazer-lhe assistência. Tratava-se de
Brunilde do Espírito Santo, fundadora do Lar de Tereza, no Rio de Janeiro, o primeiro centro espírita na zona sul da cidade. Depois do desencarne de meu pai, mamãe começou a frequentar, quando podia, às reuniões de estudo desse centro. Eu, às vezes, a acompanhava, mas, católica, não estava pronta para mudar. Aos 18 anos, pela primeira vez, vi Divaldo Franco. Foi em nosso apartamento, no Rio de Janeiro. Por intermédio de amigos, o conhecemos. Minha mãe, então, trabalhava no IPASE do Rio, e ele no de Salvador. Naquele tempo, não havia ainda muitos centros espíritas, então, Divaldo ia às casas das pessoas. Quando eu completei vinte anos, ele criou o culto doméstico em nosso lar. Entretanto, durante um ano e meio, eu participava das reuniões em casa, às sextas feiras à noite e, no domingo, eu ia à missa. Um certo dia, não senti mais necessidade de ir à missa: havia tranquilamente me tornado espírita. Agora, em 2016, completo cinquenta anos de trabalho sem interrupção na doutrina. Nilton Santos - O que representa o CESAK para você? Claudia Bonmartin - Podemos dizer que o CESAK é o nosso médium. Para a divulgação, para receber as pessoas, para estudar juntos, para entender a mediunidade, para ter o material de trabalho e contar com a proteção estável dos Bons Espíritos, precisamos de um local, reconhecido pelas leis francesas, para não termos problemas, pois recebemos público e, aqui na França, a lei Foto: Gloogle Imagens e arquivo pessoal
da Juventude em nível de CEI, realizando seminários de sensibilização a esse tipo de educação aqui ,na França, que vem despertando muito interesse. Em outros países, esse trabalho já existe com excelentes resultados. Mas ainda há muito a fazer. Atualmente, aqui, na França, estamos tentando começar a falar de Espiritismo em ambientes não espíritas, para provocar um diálogo onde estamos refletindo de que maneira deveremos agir para sermos bem compreendidos. Esse trabalho está começando apenas e nos tem feito refletir bastante.
O casal Nilton Santos/Iclea Santos, com a filha Leila Santos, em visita ao Cimetière du Père Lachaise, no túmulo de Allan Kardec
é coisa muito séria que deve ser respeitada. Nesses quarenta anos de existência, nossa história tem sido, segundo um Espírito amigo, uma grande aventura! Quando cheguei em Paris, não havia Espiritismo. Aqueles que se diziam espíritas praticavam era a mediunidade e, às vezes, de maneira muito equivocada. Ainda hoje, confundem mediunidade e Espiritismo. Vivemos altos e baixos. Seguimos com muita luta, perseverança e confiança em Jesus e nos Bons Espíritos. Estamos agora tentando comprar uma salinha que será nossa e não mais dependeremos de aluguéis. Nilton Santos - Quais as principais atividades do CESAK? Claudia Bonmartin - Houve vários CESAK. Expliquemos. As pessoas dos cinco primeiros anos, onde as reuniões eram em nossa casa, não foram as que, com o tempo, continuaram conosco. Depois, alugamos, uma vez por semana, algumas horas na sala da antiga União Espírita Francesa e, mais tarde, outras salas, duas ou três vêzes por semana, até 1994, quando alugamos uma sala só para nós. Contamos sempre com brasileiros, portugueses e pessoas de outras nações, que estão de passagem ou vêm estudar. Temos recebido muitos estudantes brasileiros, às vezes, que trabalham na Embaixada, no Consulado, ou espíritas que buscam um Centro em Paris. Temos, sempre, pelo menos, 50% de franceses nas reuniões, que são em francês. Conforme, onde estávamos, nossas atividades se diversificavam. Em minha residência, somente estudávamos e aplicávamos passes, mas sem nenhuma forma de mediunidade ostensiva. Quando fomos para um lugar neutro, aos
poucos, começamos o estudo da mediunidade e depois a prática mediúnica com espíritos sofredores. A partir de 1994, nossas atividades aumentaram, pois, pela primeira vez, pudemos contar com um local somente nosso todos os dias. Ali ficamos 12 anos, crescemos muito e chegamos a ter 9 reuniões diferentes por semana. Outros grupos saídos do CESAK criaram novos centros. Entretanto, a sala foi vendida, e começamos a buscar um novo local que é o que nos encontramos atualmente e onde estamos tentando comprar uma das salas. O CESAK tem as seguintes reuniões: públicas, de estudo da doutrina, estudo da mediunidade, mediúnica, de ajuda aos espíritos sofredores, de prece e irradiação, para espíritos encarnados e desencarnados, de psicografia e de acolhimento fraterno. Nilton Santos - O interesse pelo Espiritismo tem aumentado entre os franceses? E em outros países? Claudia Bonmartin - Sim. Aos poucos, o número de franceses vem aumentando, principalmente fora de Paris, onde a cidade é muito cosmopolita. Divaldo Franco ajudou muito, com suas palestras, na difusão da doutrina, semeando estrelas. As traduções de livros brasileiros e, em especial, dos de André Luiz,, psicografados por Chico Xavier, sob a impulsão do Conselho Espírita Internacional, onde a FEB desempenha um papel de muita importância, foram fundamentais. Nestor Masotti, antigo presidente da FEB e Secretário Geral do CEI, com toda a sua diplomacia natural, conseguiu unir as estrelas de cada país, favorecendo o crescimento do Movimento na França e no Mundo. Iniciativas, como os encontros anuais da “Associação Internacional de Médicos Espíritas” em vários países europeus e do mundo, têm favorecido para que o Espiritismo consiga atingir um público mais exigente que, sem esse tipo de ação, não seria possível. Os Congressos do CEI, de três em três anos, também têm ajudado muito para que as pessoas se conheçam, troquem ideias, esclareçam dúvidas, planejem novas ações em conjunto. Estamos, graças à Claudia Werdine, responsável pelo Departamento da Infância e
Nilton Santos - Podemos encontrar o livro espírita nas livrarias da cidade? Claudia Bonmartin - Alguns livros de Allan Kardec e de Léon Denis podem ser encontrados em algumas grandes livrarias. Em Amazon, tem muita variedade e também nas Edições do CEI e nas Editions Philman. Nilton Santos - Sua mensagem aos espíritas do Brasil. Claudia Bonmartin - O Brasil tem desenvolvido um papel importantíssimo no Espiritismo mundial. Divaldo saiu como pioneiro, semeando estrelas; muitos outros brasileiros o seguiram e, como ele, continuam ajudando a difundir a doutrina onde se encontrem. Não podemos, de nenhuma forma, esquecer a importância dos brasileiros e, principalmente, das brasileiras, que deixam o Brasil, por motivos diversos, e que, nos países que se encontram, terminam casando com alguém e ali se estabelecem definitivamente. Em vários países europeus e americanos do norte, as respectivas federações são dirigidas por mulheres!!! A mulher está tendo um papel preponderante na difusão do Espiritismo fora do Brasil. Se a França é o berço do Espiritismo, o Brasil, como maior país espírita do planeta, o está exportando. Trazemos do Brasil o Espiritismo na sua forma completa e o transmitimos aqui. Entretanto, notamos que cada vez mais que tocamos a mente e o coração das pessoas nativas dos países em que trabalhamos, precisamos adaptar nossa maneira de abordar cada tema à nova cultura. Isso é, atualmente, o nosso maior desafio. O assunto está sendo abordado seriamente nas reuniões dos responsáveis de cada país do CEI, onde a maioria ainda é brasileira. Estamos confiantes que encontraremos a boa solução para cada cultura. Ao Brasil, a nossa eterna gratidão pelo trabalho realizado pelos grandes espíritas brasileiros conhecidos! Mas também pelos desconhecidos trabalhadores sinceros, para que a doutrina consiga enfrentar os desafios que se apresentam. Todos nós, daqui de fora, nos inspiramos neles para prosseguirmos divulgando com muita simplicidade. Os seus exemplos e carinho nos revigoram cada vez que voltamos à nossa pátria natal, buscando novas forças para continuar… Merci beaucoup Brésil! Claudia Bonmartin Paris, 20 de junho de 2016. 2016 • setembro/outubro • Tribuna Espírita 15
Crendices e Mediunidade ALÍRIO DE CERQUEIRA FILHO Cuiabá-MT
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maioria das pessoas leigas, quando ouve falar de mediunidade, tem reações diversas. Existe o grupo dos que acreditam que toda atividade mediúnica é coisa do demônio e que deve ser evitada a qualquer custo, sob pena daqueles que “mexem com essas coisas”, conforme dizem, irem para o inferno, sofrerem punições por ousarem lidar com essa prática. As pessoas desse grupo confundem a mediunidade com a magia negra, que é uma prática milenar que envolve o mediunismo voltado ao mal das pessoas, uma prática que, infelizmente, existe. Como ignoram a diferença da prática da mediunidade como Jesus e os seus apóstolos nos ensinaram, sobretudo, pelo exemplo de vida, bem como por ações como a transfiguração de Jesus, no Monte Tabor, em que ele dialoga com Moisés e Elias, dois Espíritos desencarnados, dentre outras passagens nas quais Jesus demonstra ser o Médium de Deus. Nos “Atos dos Apóstolos” há descrições de inúmeros fatos mediúnicos, envolvendo os apóstolos, a começar pelos eventos ocorridos em “Pentecostes”, demonstrando ser a mediunidade uma prática usual nos primeiros tempos do Cristianismo, como acontece, hoje, nos Centros Espíritas, que têm, como objetivo principal, reviver o Evangelho de Jesus e as práticas cristãs dos primórdios do Cristianismo nascente. Existe outro grupo que acredita que a mediunidade é algo sobrenatural, sendo os médiuns verdadeiros semideuses infa-
16 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2016
líveis, e que tudo que provenha deles é a pura expressão da verdade. As pessoas que acreditam nisso são muito místicas e desconhecem o que é ser médium e o significado da mediunidade. Muitas pessoas que participam do Movimento Espírita estão nesse rol, tornando os médiuns verdadeiros mitos. A mediunidade nem é um ato demoníaco, nem, tampouco, um passaporte para a perfeição espiritual. Trata-se de uma faculdade que um ser humano pode ser dotado, para que possa desempenhar uma tarefa de autoesclarecimento e, por extensão, de esclarecimento daqueles que partilharão da sua tarefa como médium. O médium é, por isso, uma pessoa comum que se destaca das demais, por ter um sexto sentido mais aguçado, fato que lhe possibilita a percepção, em maior
intensidade, da dimensão espiritual, mas que, como diz Allan Kardec em “O Livro dos Médiuns”, todas as pessoas possuem, em maior ou menor grau. A Doutrina Espírita tem como objetivo disciplinar o fenômeno mediúnico, que não foi criado por ela, mas que existe desde todo o sempre. A prática mediúnica, somente, pode ser disciplinada, quando trabalhada à luz do Evangelho de Jesus. Segundo o Espiritismo, todo médium está em uma tarefa de se autoevangelizar, constituindo-se a atividade mediúnica em uma grande oportunidade de autoconhecimento e autotransformação, quando o médium desenvolve as suas tarefas, sempre, tendo Jesus, como modelo e guia e Allan Kardec, como o instrutor imprescindível, para o bom êxito de sua atividade.
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Jesus, a sombra e a psicologia profunda IARA DA SILVA MACHADO João Pessoa-PB
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niciamos nossa reflexão sobre a Psicologia Profunda trazendo um trecho do livro “O Efeito Sombra”, dos autores Deepak Chopra, Debbie Ford e Marianne Williamson, que diz: Quando o psicólogo suíço Carl Gustav Jung pressupôs o arquétipo da sombra, disse que ela cria uma névoa de ilusão que cerca o self. Encurralados nessa névoa, lançamo-nos à própria escuridão e, consequentemente, damos à sombra cada vez mais poder sobre nós… A sombra expressa seu poder fazendo com que a escuridão se pareça com a luz. As tradições sábias do mundo gastaram a maior parte de sua energia deparando com os mesmos dilemas básicos. A criação tem um lado sombrio. A destruição é inerente à natureza. A morte interrompe a vida. A decadência consome a vitalidade. (2010, págs. 18-19). Assim, a Psicologia Profunda de base junguiana reconhece as polaridades do crescimento pessoal do ser humano na dualidade e busca, na conexão com a luz consciencial, em que estão escritas a Lei de Deus, as Leis Naturais da Vida, passando pelo vale das sombras das imperfeições, das inquietações e das ilusões egóicas, clareando a visão espiritual. Esse caminho de iniciação pessoal e intransferível decorre daquilo que chamamos no judaísmo e derivações cristãs de contato e aproximação com a luz do Pai, do Eu Sou, do Cristo Interno. Na exemplar literatura de Joanna de Ângelis, sob o título Jesus e o Evangelho à luz da Psicologia Profunda, lê-se: Jesus é o mais notável Ser da História da Humanidade… Sob qualquer aspecto considerado, o Seu Testamento – O EvanFoto: Gloogle Imagens
gelho – é o mais belo poema de esperanças e consolações de que se tem notícia. Concomitantemente, é precioso tratado de psicoterapia contemporânea para os incontáveis males que afligem a criatura e a Humanidade. Vivendo numa época em que predominava a ignorância em forma de sombra individual e coletiva, qual ocorre também nestes dias, embora em menor escala, Jesus cindiu o lado escuro da sociedade e das criaturas, iluminando as consciências com a proposta de libertação pelo conhecimento da Verdade e integração nos postulados soberanos do amor. (2000, p. 9). O convite do Cristo Jesus à humanidade é o de olhar de frente para aquilo que a Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, denominará de “domar as más inclinações”, e para domar (educar, dominar) um comportamento ou conduta, o primeiro passo é reconhecê-lo, saber-se portador daquela condição, e na sequência querer esforçar-se para modificá-lo, para melhorar a si mesmo, avançando na direção da perfectibilidade. Esse diálogo interno, refletido nos atos seguintes, caracteriza a conversa de si para consigo mesmo, da sombra e da luz interna, a tendência ou má inclinação e a Lei natural presente na instância consciencial chamando para a retidão da atitude. Jesus, o Cristo, convoca a criatura humana a fazer contato com o Self, o Eu Profundo, latente em todos nós. Sendo o Self o aspecto energético psíquico que traduz sabedoria, e se sobrepõe às ilusões da personalidade transitória, descortina os véus que encobrem as soberanas Leis da Vida,
minimiza as redes comportamentais de supervalorização das coisas do universo físico, e amplia as possibilidades de estar no mundo sem ser do mundo, de maneira que se pode usufruir do aprendizado material, da forma, sem identificação patológica com os bens transitórios e impermanentes da persona/sombra, buscando, sim, os tesouros que a ferrugem não consome, os ladrões não roubam e as traças nas corroem; os princípios alinhados às Leis Morais da Vida, ao Ser Luz que somos, nas próprias palavras do Mestre Jesus, quando afirma: “Vós sois a luz do mundo!” O Evangelho, a Boa Nova, a Bela Notícia anunciada pelo Cristo de Deus, no tocante à Psicologia Profunda, é a possibilidade que a humanidade de todas as épocas, inclusive a contemporânea, tem de escolher cuidar de si, examinando que se está numa personalidade, num corpo físico, sagrado e provisório, a serviço do Eu Profundo, do Self, da Individualidade, para alçar voos para a libertação das limitações egóicas e a ampliação da capacidade de se tornar Um com o Pai, numa sinfonia celestial de energia e ação integral, de perfeita comunhão com o Creador, na supraconsciência de que Eu e o Pai somos Um, integrando em definitivo a sombra (aspectos negados das personalidades) à Luz do Eu Sou, do Ser Celestial, unido à essência cósmica, na pura Luz. Fonte: ÂNGELIS, Joanna de. Divaldo Franco. Jesus e o Evangelho – À luz da Psicologia Profunda. Salvador: LEAL, 2000. CHOPRA, Deepak, Et AL. O efeito Sombra. São Paulo: Luz de Papel, 2010. 2016 • setembro/outubro • Tribuna Espírita 17
O Homem no Mundo WALKIRIA L. DE ARAÚJO João Pessoa-PB
“Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal? ‘Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.’” (Livro dos Espíritos, questão 919)
A
ntes de nos colocarmos no mundo, precisamos saber quem somos, nossos pendores, nossas aspirações, para somente depois, projetarmo-nos para ele. Porque, senão, seremos “algo” dirigido por outros, seguindo-lhes a vontade sem analisarmos o que estamos fazendo. Esse movimento de conhecer-se passa por quem somos na família, na sociedade, nas relações profissionais e na religião. Vivemos um eterno movimento de crescimento. Movimento esse que precisa ser calcado em bases sólidas. Mas, para isso, precisamos sair do estado de consciência de sono e passarmos para a consciência desperta. A consciência de sono está vinculada à busca da saciedade dos prazeres sensoriais: comer, dormir, etc... A consciência desperta nos fala do ser como parte integrante da sociedade, do aprofundamento da criatura e da busca pelo “eu divino” que habita em nós, mas que não perde a sua individualidade. É o entendimento do significado de fazer parte do grupo, mas não deixar de ser uma individualidade por causa disso. Falando um pouco mais sobre o assunto, vemos criaturas, independente do grau de cultura, moldarem-se ao agrupamento em que estão, seguindo as suas vontades, sem procurar raciocinar sobre o que estão fazendo, em virtude do desejo de serem aceitos, seja por imaturidade espiritual, seja pelo anseio de se darem bem a todo custo. O ponto de análise é que a criatura passa a projetar não o que é realmente, mas o que os outros desejam que ela seja. Não estamos falando das concessões, a título de boa convivência, que todos fazemos. Ora um cede, ora outro cede, para que haja este movimento de tolerância e aprendizado recíprocos. Estamos falando no moldar-se ao agrupamento, a ponto de assumir a personalidade dominante do grupo, mesmo que isso esteja em desacordo com o que se acredita. Isso é mais comum do que parece. 18 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2016
Ao reencarnarmos, trazemos as impressões já grafadas de outras encarnações, mas também absorvemos o que nos é transmitido pelo meio ambiente: “383 – Qual, para este [espírito], a utilidade de passar pelo estado da infância? Encarnado, com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante esse período, é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo.” (Livro dos Espíritos). Por isso é tão importante aproveitarmos essa fase para ensinarmos, muito mais através dos exemplos que das palavras, quais as diretrizes a seguir. A família é a primeira sociedade que conhecemos. Local em que grande parte do nosso caráter é formado. A criatura reencarnada vem como molde maleável e moldável às impressões trazidas pelos seus educadores, que permanecerão impregnadas ao longo do tempo. Ver-nos-emos reproduzindo comportamentos que nem acreditávamos que tínhamos absorvido. A família serve como modelador dos relacionamentos futuros que a criatura terá com as outras pessoas. Outro ponto delineador e que servirá de sustentáculo em nossas vidas é a religiosidade. Não estamos tratando da religião pura e simplesmente. Não é da prática da religião, mas da mudança que as ideias do Divino e da Sua Lei provocam em nossas vidas. Trazemos, ao reencarnar, a memória da religião, no sentido do religare com a Divindade. Mesmo aqueles que se afirmam ateus, possuem-no, mas, por razões as mais variadas possíveis, preferem se afervorar na negação. Contudo, reafirmamos ser a religiosidade o segundo grande pilar que possuímos para conseguir nos projetar no mundo de forma segura.
O que se torna complicado é quando a criatura não possui um modelo equilibrado de família. Não estamos falando do modelo constitutivo de pai, mãe e filhos, bastante modificado nos dias atuais, uma vez que, hoje, agregam-se avós, enteados, etc. Estamos falando dessa relação de pertencimento tão importante ao desenvolvimento da criatura. Ou quando não encontramos no correspondente religioso as respostas para os nossos anseios. Seja porque estamos numa religião imposta e não estamos adequados, seja porque estamos na religião adequada, mas não nos predispomos ao movimento de mudança para que o religare aconteça. Com isso, a criatura projeta-se para a sociedade e para o agrupamento profissional buscando suprir os prazeres imediatos, querendo matar a sede com a água do mar. Não com a água cristalina do conhecimento espírita, que é sólida e representativa para o futuro. Dentro dessa busca de compreensão do Homem no Mundo, cabem ressaltar os médiuns, criaturas que, em virtude das percepções mediúnicas, conseguimos absorver o psiquismo ambiente de uma forma amplificada. Com isso, necessitamos ter mais vigilância e bons condicionamentos psicológicos, para, ao absorvermos, não nos deixarmos ir pelo grupo dominante (encarnados e de desencarnados). Então como o homem deve comportarse no mundo? A questão 919a nos orienta: “Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar”. “Presentes” nos são ofertados, muitas vezes, em regime de imposição (são as expiações), outros são escolhas que fazemos, porque já entendemos que precisamos mudar de significado a encarnação (são as provas), mas transformar o recebido em algo bom depende, exclusivamente, de nós. Significa aprendizado. Por isso, quando falamos que a doutrina nos apresenta a Justiça das Reencarnações, não estamos trazendo uma propositura para o futuro, mas uma esperança para o presente, vendo de uma forma clara que não existem atalhos na busca da perfeição e que só a alcançaremos quando tivermos chegado ao cume da nossa montanha interior. Fotos: Gloogle Imagens
O Livre arbítrio DALTRO RIQUEIRA VIANNA Belo Horizonte-MG
“Pois, aquilo que o homem semear, isso também ceifará”. (Paulo, Gálatas, 6:7)
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esde o alvorecer da humanidade, quando o Supremo Arquiteto do Universo criou o homem “simples e ignorante” , o seu destino vem sendo escolhido livremente por ele próprio, expandindo-se de acordo com o seu crescimento espiritual, ora se libertando, ora se escravizando através de seus atos. Desde os séculos mais longínquos, Deus tem nos enviado iluminados mensageiros para nos indicar os caminhos da evolução espiritual. Muitos profetas habitaram o planeta terráqueo com essa missão. Há milênios, por ordem Divina, Moisés recebeu o OS DEZ MANDAMENTOS no Monte Sinai, que iriam nortear os humanos pela LEI DE JUSTIÇA. Seguidamente, renasceram na Terra inúmeros espíritos de escol, visando ao nosso amadurecimento moral. Foi então que, há mais de 2.000 anos, despontou no orbe terrestre o “tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo – JESUS” . Estava exarada, então, a LEI DO AMOR. Veio para os que se “encontravam doentes, e não para os sãos”. (Mateus 9:12). Resumiu o “Decálogo” em dois extraordinários mandamentos: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espí-
rito, é o maior e o primeiro mandamento. E eis o segundo que é semelhante ao primeiro: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas estão encerrados nesses dois mandamentos”. (Mateus, 22: 34 a 40). Indicou-nos a rota ética e moral para a humanidade conquistar a felicidade plena, através do SERMÃO DA MONTANHA (Mateus 5:13), magistral código de postura evangélica. Conhecedor profundo das condições precárias da humanidade terrestre, enviou-nos o CONSOLADOR PROMETIDO pelo “Espírito de Verdade” (João, 16:15 a 17 e 26), no século 18 da nova era, estabelecendo, assim, a DOUTRINA DOS ESPÍRITOS, atualizando e ampliando o Cristianismo. Trouxe a lume o verdadeiro sentido do livre-arbítrio, da lei de causa e efeito, da reencarnação, da mediunidade, e de outros tantos e valiosos esclarecimentos para o ser humano. Literaturas e mais literaturas espíritas surgiram no cenário terrestre, convocando-nos a exercer um livre-arbítrio mais condizente com os ensinamentos evangélicos e a conquistarmos o “Reino de Deus”. Hoje, mais do que nunca, podemos decifrar os enigmas de tantas diferenças sociais, entendendo que “o hoje é decorrência das ações do ontem, e que o futuro será consequência do hoje”.
Sempre esteve no nosso comportamento a construção do nosso destino, visto que Deus nos criou para a perfeição relativa. Então, o que estamos esperando para pegarmos a charrua do livre -arbítrio, sem olhar para trás e corrigir a estrada da nossa evolução espiritual, suprimindo sofrimentos e dores acerbas? Lembremo-nos de que “O Evangelho existe em primeiro lugar para os inapetentes mentais, que fogem de aceitar as diretrizes edificantes da vida; os artríticos da emoção enredados em desequilíbrios da mediunidade; os autointoxicados pelo pessimismo, detentores de alterações do crescimento espiritual; os alérgicos à humildade; os hipertrofiados de orgulho; os anêmicos da razão; os paralíticos do bom ânimo, os mutilados da vontade, todos reclamando superesforço a fim de se reajustarem. Apliquemos o Evangelho para os outros e para nós – a divina farmácia, valiosos e gratuitos, cujos remédios jamais oferecem o perigo de contraindicações, endereçados a campo extenso de distúrbios, apresentando fórmula real e honesta, de uso fácil e preço ao alcance de todos.” Pensemos nisso e eduquemos o nosso Livre-Arbítrio. ___________ 1 Kardec, Allan – O Livro dos Espíritos – perg. 121. 2 Kardec, Allan – O Livro dos Espíritos – perg. 625. 3 Filgueiras, Domingos – Seareiros de Volta. 2016 • setembro/outubro • Tribuna Espírita 19
O desejo de destruir LISZT RANGEL Recife-PE
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desejo é o cenário onde ocorrem a felicidade ou a infelicidade, a harmonia ou o conflito, o amor, o ódio, a vingança, a aceitação, a posse e tantos outros sentimentos e atitudes. Responsabilizar o outro, Deus, o mundo invisível, a sorte ou a falta dessa sempre representa o acionamento de um dos mecanismos de fuga, como o de transferência. Indivíduos infantis ou rígidos optam com frequência por essa iniciativa, a fim de não se responsabilizarem por seus fracassos e até mesmo pelo mal que fizeram ao outro, com a desculpa do “... foi sem querer”. As intenções, por mais que desconhecidas, é que são levadas em conta, quando se fala no direcionamento do livre-arbítrio. E as intenções desconhecidas, por assim serem, não inocentam o autor das atitudes insanas e inconsequentes, ainda mais quando tais iniciativas, para a desgraça do outro, poderiam ter sido brevemente vigiadas pela consciência. Mas, como falar de consciência a quem opera pelo princípio do prazer? Sim, por mais que deflagre um estado de cólera contra o próximo, a liberação desse conteúdo emocional movimenta não apenas o corpo, em que braços e pernas se agitam e a voz toma corpo e intensidade de um trovão na Terra. Antes disso, e durante essa explosão, há uma liberação de hormônios e enzimas sobre o Sistema Nervoso Central, atingindo o clímax ideal, o gozo numa linguagem especificamente psicanalítica, em que o Sistema Límbico das Emoções, herança dos nossos antepassados mais distantes que habitavam as cavernas, direciona as chamadas pulsões de morte do inconsciente e atinge, em cheio, a sua vítima. Antes disso, não é raro ver pessoas que diziam amar-se, prometiam o céu uma a outra, e agora vivem suas existências em um verdadeiro Inferno de Dante. O desejo sempre foi foco também da Filosofia Budista e, atualmente, no Ocidente, graças ao contato propiciado pela globalização, a cultura Tibetana vem mostrando a necessidade de espiritualização do Homem, do contato com seu modus operandi, observado atentamente pela sua própria atitude mental. Sim, porque se encontra nas crenças centrais o alimento saudável ou tóxico para a estrutura e direcionamento do desejo. O desejo de se destruir, através de posturas em que as pessoas sempre se colocam em risco, procurando viver aventuras através de romances proibidos, típicos comportamentos histéricos de amores inalcançáveis. Júlia, 35, já experimentava a sexta relação 20 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2016
proibida, com homens comprometidos, ou seja, já casados. Em sua narrativa, assevera: “Não sei o que ocorre comigo, quando estou perto de me envolver com um homem interessante e livre, sinto uma repulsa. Até que eu penso e me vejo o lado deste, mas logo me afasto. Os casados sempre me atraíram e não precisam ser belos”. Na crença central de Júlia, há um passado que não ficou no passado, mas que a acompanha no presente, ele está vivo, ainda que para ela, sob a imagem de um fantasma, sem rosto. Entretanto, ele tem rosto, é o da traição familiar entre seus pais. A imagem procurada por Júlia é a que ficou perdida em sua infância, paralisada no choque emocional, pelo fato de, aos 4 aninhos, presenciar uma cena de conflito entre os genitores, em que a imagem de seu referencial paterno foi destruída pela mãe. Júlia se dá conta, com o tempo, que a história que escrevia não era a sua, mas a crença central que lhe guiava, era a da repetição de achar que deveria ser a “eterna outra”, que satisfaria seu pai e não permitiria que ele traísse sua mãe. Ao mesmo tempo, ela não acreditava que podia ter uma vida afetiva apenas sua, simplesmente, em que ela fosse a protagonista de seu romance, mas sim desejava, ao mesmo tempo, reforçar em si a dor da mãe, de modo que Júlia não se permitia ter momentos felizes, pois logo a culpa apontava em sua mente um desgos-
to, e adivinhava estes pensamentos: “Eu estou aqui vivendo isso, e minha mãe não está, então não vou comprar tal objeto para mim, não vou viajar para tal lugar, nem vou jantar neste restaurante, já que mamãe não pode.”, desabafa. Qual, portanto, era a vida dessa jovem? A de uma xérox mal feita da vida de seus pais. Ou seja, o desejo de destruir a si mesma era, em verdade, o desejo de acabar com toda a dor do passado, porém, quanto mais ela o repetia, mais esse se fortalecia. Escandalizou o Brasil, na década de setenta, o assassinato da Ângela Diniz, socialite mineira que ficou conhecida por sua beleza e pelos relacionamentos furtivos em sua casa em Búzios - RJ. Ângela defendia sempre que sua liberdade era tudo. Raul Fernandes Street, mais conhecido como Doca Street, foi acusado do assassinato da socialite, e seus advogados de defesa alegaram “defesa da honra”, devido ao fato de Ângela ter convidado uma alemã para uma relação sexual a três. Isso teria deixado o Doca Street irritado, haja vista os amigos de Ângela Diniz e seus funcionários afirmarem que ele já morria de ciúmes dela. As últimas palavras do casal, antes do disparo que acertou o rosto da bela mineira, como relata sua secretária, na noite de 30 de Dezembro de 1976, foram: “- Você não presta, pode ir embora. Você não presta, Doca! - Eu te amo, eu te amo. Foto: Gloogle Imagens
- Você não presta! - Eu te amo!” Um amor que destrói? Eis a grande pergunta! Ou seria o desejo de ter, de possuir, de não ser rejeitado, de não perder a personagem principal dessa tragédia? Lembremo-nos também do chocante caso ocorrido em 10 de Novembro de 2006, envolvendo André Luiz Ribeiro, marido, pai de três filhos, que sequestrou sua ex-mulher, a enfermeira Cristina Ribeiro, com base no desejo e na posse. Mais conhecido como o sequestro do ônibus 499 no Rio de Janeiro, André acusava a esposa de traição. Entretanto, os depoimentos da cunhada de André e de outros parentes de Cristina, descrevem um homem ciumento que a esperava sempre na mesma hora da saída do trabalho. Ela já o acusara antes de tê-la mantido em cárcere privado, mas André, insatisfeito com o rompimento do casamento, sentia-se rejeitado e ameaçou a vida da mãe de seus filhos por mais de dez horas dentro de um ônibus, até que foi preso pela polícia. A vontade de destruir o objeto supostamente amado, como a que observamos em casos assim, constitui uma grave psicopatologia. Não foi apenas a relação que adoeceu, mas os envolvidos na trama permitiram, pela satisfação do desejo, do gozo de sentir posse do outro, a realização dos jogos infantis, que no início da relação parecem bobagem de amantes apaixonados, e que, finalmente, disparam o gatilho de sentimentos adormecidos, nesses casos, o da rejeição, o da não aceitação de que a Vida do Outro se-
“Quantos homens tombam por suas próprias faltas! Quantos são vítimas de sua imprevidência, do seu orgulho e de sua ambição! Quantas pessoas arruinadas por falta de ordem, de perseverança, por má conduta e por não terem limitado seus desejos.” guirá sem a presença de um. Em situações em que o desejo de destruição impera sobre a ordem natural da Vida, não há nada, nem há ninguém para culpar, nem mesmo o mundo invisível, muito menos a Deus, a falta de sorte, tampouco o Karma. Apenas um é o responsável, o Homem, herdeiro de suas escolhas, operadas pelo seu livre-arbítrio. O ainda tão desconhecido e ignorado Allan Kardec (1978) remete a este mesmo ponto, o da responsabilidade humana perante os desastres do cotidiano. “Quantos homens tombam por suas próprias faltas! Quantos são vítimas de sua imprevidência, do seu orgulho e de sua ambição! Quantas pessoas arruinadas por falta de ordem, de perseverança, por má conduta e por não
terem limitado seus desejos.”, explica o Codificador. Allan Kardec (1978) registra a mensagem do Espírito Fénelon e esclarece que na raiz desse desejo manifesta-se o ciúme, que, por sinal, em pesquisas acerca do comportamento humano, na área da Psicologia, é considerado como o irmão gêmeo da inveja. “Haverá maiores tormentos que aqueles causados pela inveja e o ciúme? Para o invejoso e o ciumento, não há repouso; estão perpetuamente em febre; o que eles não têm e os outros possuem lhes causa insônia; os sucessos dos seus rivais lhes dão vertigem; sua emulação não se exerce senão para eclipsar seus vizinhos, toda sua alegria está em excitar, nos insensatos como eles, a cólera do ciúme de que estão possuídos.”, adverte Fénelon. Sendo assim, não há a quem responsabilizar por escolhas, por desafetos, pelo mau gerenciamento do desejo e, em especial, pelo estranho mundo do sentimento e da emoção, que, de uma hora para outra, desperta, tal qual um gigante adormecido. O Homem, artífice de seu destino, é o reflexo de sua bendita impermanência evolutiva. Entretanto, quanto mais ignorante de si mesmo, afastado da compreensão dessa Lei, maiores serão as vítimas em sua jornada, a começar por ele mesmo. BIBLIOGRAFIA: http://oglobo.globo.com/rio/dez-crimes-que-chocaram-rio-de-janeiro-17845895#ixzz4LHVLD6Rf A, KARDEC. O Evangelho Segundo o Espiritismo. São Paulo: Editora IDE, 1978.
Colheita HÉLIO NÓBREGA ZENAIDE João Pessoa-PB
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emear e colher são práticas permanentes, na vastidão dessa seara abençoada por Deus. Como somos nós mesmos que plantamos, importa considerar a qualidade do que semeamos. Como somos nós mesmos que colhemos, importa, também, considerar a qualidade do que apanhamos. E eu fico a pensar na disponibilidade que temos, para trabalhar em proveito próprio, na seara de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em proveito próprio, porque necessitamos de Jesus em nossas vidas. As nossas vidas vêm de Deus e é, com Jesus, que retornamos ao Pai. Com Jesus, tanto a semeadura como a colheita são promissoras, porque as sementes do seu Evangelho fazem diferença em nossas vidas. Isso, sem falar que podemos estar entre os “trabalhadores de última hora”
e que importa valorizar as nossas horas de trabalho. Não têm como ignorar, que essa seara de solo fértil e promissor só aguarda a disposição de nós, trabalhadores. E, cada vez que saímos a semear, estamos no exercício de extrair, de nós mesmos, o que temos de melhor. As boas sementes do Evangelho, lançadas na terra, produzirão bons frutos. A partir desses bons frutos é que teremos mais sementes de qualidade, para semeaduras e colheitas futuras. Agora, se saímos a semear e não nos empenhamos em extrair o melhor de nós; se não é boa a semente que lançamos ao chão, na hora da colheita, vamos lamentar. Então, haja justificativas, de que foi a aridez que: dificultou a semeadura; comprometeu a germinação
das sementes; prejudicou a qualidade dos frutos; enfim, foi ela que, em nada, contribuiu para uma boa colheita. Pois bem, toda essa aridez pode estar, aqui, bem dentro de nós. Não recebemos as sementes do Evangelho de Jesus, em nossas vidas e o resultado é que saímos, por aí, de qualquer jeito. Logo, boas ou más sementes podemos extrair, de nós mesmos e, com elas, é que saímos para semear. Se não semeamos bem, na hora da colheita, já não dá para voltar. Algum contratempo? Nós, mesmos, o criamos. Tudo seria mais natural, se houvesse, de fato, empenho da nossa parte, em corresponder a tanta disponibilidade que tem essa seara bendita. Deus, nosso Pai, nos abençoe.
O jovem e a prática da mediunidade PEDRO CAMILO Salvador-BA
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s jovens têm sido alvo, ao longo da história humana, de uma série de preconceitos, filhos da incompreensão sobre a condição do ser em etapa tão delicada de sua encarnação e, consequentemente, do desconhecimento de como lidar com suas dificuldades. Registros que datam de 2000 a.C., no Egito, bem como escritos do poeta Hesíodo, no séc. VIII a. C., já sinalizavam que o fim do mundo não tardaria caso o futuro dependesse dos jovens da época, enquanto inscrições encontradas em um vaso de barro, da Babilônia de há 1000 anos a. C., também diziam: “Esta juventude está podre no mais profundo do ser. Os jovens são maliciosos e preguiçosos; jamais serão como a juventude do passado; a juventude de hoje não terá condições de sustentar a nossa herança cultural”. Tal estado de resistência à presença jovem não é exclusividade dos dias atuais, estando presente em todas as épocas e em todas as esferas de interesse humano, seja nas “coisas” da vida material, seja nas “coisas” da vida espiritual. E também aqui, na Esfera do Espírito, encontraremos grande resistência à presença do jovem, sempre visto e considerado como ser indesejável e despreparado para lidar com suas muitas nuances. O ESPAÇO DO JOVEM De uma maneira geral, as casas espíritas reservam ao jovem um espaço específico e delimitado. Criam grupos de juventude ou mocidade, estabelecem reuniões semanais, dividem-nos por faixa etária e lhes reservam atividades artísticas, como de teatro, canto e poesia. No entanto, ao passo em que se procura, com medidas assim, dar uma atenção especial a um público específico, cria-se uma barreira, às vezes tácita, às vezes explícita, à sua participação em outras atividades, principalmente as de caráter mediúnico. Argumenta-se que mediunidade é coisa para adultos, pessoas maduras, que já sejam capazes de compreendê-la bem e a ela dedicar tempo, esforço e responsa22 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2016
bilidade. O jovem, assim, não teria condições de vivenciar a mediunidade com a intensidade e complexidade que ela possui, além de ser naturalmente “irresponsável”, não atendendo aos objetivos superiores que a mediunidade encerra. PRESENÇA DA MEDIUNIDADE Os que acreditam e defendem a ideia de que o jovem não deve se ocupar com a mediunidade, muito menos devendo, as casas espíritas, aceitar a sua presença nas reuniões mediúnicas, esquecem-se de fazer tal advertência à própria natureza. E dizemos isso porque, sendo a mediunidade algo natural, que se manifesta neste ou naquele indivíduo independentemente de credo, da cor, da condição social ou mesmo de sua vontade, também eclode entre os jovens de todas as idades, arrojando-os a uma esfera de novas experiências e de aprendizado. Ora, defender a impossibilidade do jovem se ocupar com a prática mediúnica é contrariar a natureza e a própria vontade divina, desde que se considerem as palavras de Jesus, que afirma não cair uma folha de uma árvore sem o consentimento de Deus. Se fosse inadequada a presença
da mediunidade ao espírito estagiando na juventude do corpo, Deus não “consentiria” o seu aparecimento. Destarte, a própria história do Espiritismo desmente por completo qualquer tentativa nesse sentido. A eclosão dos fenômenos mediúnicos, no século XIX, deve-se à mediunidade de efeitos físicos das irmãs Fox, jovens de onze e quatorze anos. Além disso, no grande trabalho de consolidação do Espiritismo, Kardec se serviu das “meninas médiuns”, as irmãs Baudin, a Srta. Japhet e Ermance Dufaux, todas elas adolescentes entre quatorze e dezesseis anos, que foram intermediárias de quase todo conteúdo de O Livro dos Espíritos e das demais obras consideradas básicas. É possível lembrar, também, que Francisco Cândido Xavier descobriu-se médium ainda criança e que assumiu responsabilidades com a mediunidade no vigor da juventude, tendo publicado seu primeiro livro psicografado, Parnaso d’Além Túmulo, aos vinte e um anos de idade. Assim como ele, a médium Yvonne do Amaral Pereira desde muito cedo recebia receitas mediúnicas sob o influxo do espírito Dr. Bezerra de Menezes e praticava curas com o auxílio dos espíritos Bittencourt Sampaio e Eurípedes BarsaFotos: Gloogle Imagens
nulfo, chegando mesmo a receber, pela psicografia, grande parte de suas obras entre os vinte e os trinta anos de idade. Se houvesse qualquer incompatibilidade, como explicar o sucesso de Allan Kardec e os extraordinários trabalhos do médium de Emmanuel e da pupila de Charles? DIRECIONAMENTO O problema da mediunidade entre os jovens não é de natureza doutrinária. Na condição de espírito encarnado, nenhum obstáculo existe à sua atuação mediúnica, havendo, outrossim, motivos de sobra para a eclosão da mediunidade nessa fase da existência, face ao verdadeiro despertar das forças da alma que se dá em todo o indivíduo no período da adolescência. O que o jovem requer, no âmbito da mediunidade e mesmo fora dela, é direcionamento seguro e confiável. Os responsáveis pela orientação mediúnica nas casas espíritas devem se capacitar, através do estudo e do bom aproveitamento da experiência, a enxergar os jovens para além de sua idade e aparência física. Inicialmente, importa aceitar a possibilidade de o jovem participar ativamente de reuniões de exercício e desenvolvimento da mediunidade, rumo à educação para sua vivência. Em seguida, utilizar-se dos mesmos critérios gerais, aplicáveis a qualquer candidato à prática mediúnica, para avaliar a necessidade e conveniência de sua participação. Nesse item, importa verificar se o afloramento mediúnico é decorrente ou não de um processo obsessivo; em caso positivo, deve-se tratar a causa para só depois verificar se os efeitos permanecem. Persistindo os sinais da mediunidade, é preciso verificar se o jovem compreende o que acontece consigo e revela um mínimo de “maturidade do senso espiritual”, se assim nos podemos expressar, o que lhe permitirá compreender os fatos e suas conseqüências, sendo capaz de se orientar de acordo com essa compreensão. Ressalte-se que a idade, nesse particular, nada revela de importante. Foi o próprio Allan Kardec quem, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, pôde afirmar, em relação à Doutrina Espírita, que “se veem homens de uma capacidade notória que não a compreendem, enquanto que inteligências vulgares, de jovens mesmo, apenas saídos da adolescência, a compreendem com admirável exatidão em suas mais delicadas nuanças”. Com a mediunidade se dá o mesmo: há jovens que a compreendem e vivenciam melhor, na sua parte fenomênica e nas suas consequências ético-morais, do que indivíduos que se consideram doutos, seja pelos títulos e diplomas que ostentam, seja por possuírem anos de ação nessa seara.
CONCLUSÃO Nada existe, do ponto de vista doutrinário, que não recomende a prática mediúnica aos jovens. O que se encontra, além de desconhecimento, é uma grande onda de preconceito girando em torno do tema, o mesmo preconceito que associa, à ideia de uma prática mediúnica doentia, a opção por uma vida sexual ativa e mesmo a ingestão de carne e outros alimentos. A prática mediúnica é recomendável aos jovens. A Providência Divina os dotou de mediunidade, sua condição física e espiritual se presta a tanto e a história do
Espiritismo e dos próprios médiuns, conhecidos ou não, confirma essa realidade. Os que lidam com a mediunidade, sobretudo nas casas espíritas, precisam compreender essa verdade e praticá-la, a benefício do grupo, de si mesmos e dos próprios jovens, carentes de direção e esclarecimento. Atitudes como essa só farão contribuir com um dos mais importantes objetivos de Kardec ao propor, em O Livro dos Médiuns, a Teoria Espírita da Mediunidade: fazer compreender que a prática mediunidade não tem mistérios – tem critérios...
Cuidar das crianças FREDERICO MENEZES Recife-PE
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ia das crianças. Claro que esse dia é mais uma convenção comercial que faz a alegria da garotada pelos presentes vindouros. Aproveito a ocasião para abordar um tema que é estrutural, no que diz respeito ao mundo melhor que desejamos. É o cuidado com nossas crianças. Cuidado que não é apenas aquele relacionado ao fato de suprir com boa alimentação seu crescimento ou a atendê-la, no tocante à sua educação. Cuidado, também, em sua dimensão espiritual, psicológica e emocional-afetiva. O futuro monitoriza o que estamos fazendo no presente pelas nossas crianças. Muitas feridas sociais do momento começaram a ser construídas lá atrás, em lares displicentes ou na indiferença afetiva. Muitas dores de hoje são oriundas da insegurança no período infantil, e muitos valores estão subvertidos na atualidade, porque houve negligência em incutir nos pequeninos aspectos éticos e morais imprescindíveis. Nossos avós tinham a preocupação de aparelhar seus filhos com algum nível de fé em Deus, com alguma religiosidade, por mais superficial que fosse. Ensinavam a orar e mediam o grau de educação de sua prole pela honestidade no comportamento. Hoje, esses valores são facilmente negligenciados, mes-
mo sendo fundamentais na formação emocional do cidadão. Pesquisas científicas constatam que os cidadãos com religiosidade, com algum tipo de valor de espiritualidade, são mais interessantes para as empresas, porque tendem a ser mais honestos e produtivos, além de serem mais saudáveis na construção de seus relacionamentos sociais. Claro que existem exceções. Nas diversas denominações religiosas, existe o trabalho da evangelização da criança e do jovem. É um trabalho de alto porte. Essa tarefa nasce no coração sublime de Jesus. Fornece o ferramental mais importante, para que os futuros cidadãos cresçam íntegros e equipados para consolidar uma era nova na face da Terra. Cuidar das crianças. Cuidar de suas necessidades morais. Cuidar para corrigir suas más inclinações, pois, no estado de infância, encontra-se maior cota de facilidade para a melhoria moral do ser. Essa é maior demonstração de amor que podemos dar aos nossos filhos: encaminhá-los para a dignidade, para sua espiritualização. Cuidemos delas, levando-as à evangelização. Como espíritos que vieram do espaço para progredir, elas agradecerão. E o futuro também. 2016 • setembro/outubro • Tribuna Espírita 23
Suicidar-se nunca! ORSON PETER CARRARA Matão-SP
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eu caro leitor, se você é daquelas pessoas que está enfrentando difícil fase de sua existência, com escassez de recursos financeiros, enfermidades ou complexos desafios pessoais (na vida familiar ou não) e está se sentindo muito abatido, gostaria de convidá-lo a uma grave reflexão. Todos temos visto a ocorrência triste e dramática daqueles que se lançam ao suicídio, das mais variadas formas. A ideia infeliz surge, é alimentada pelo agravamento dos problemas do cotidiano e concretiza-se no ato infeliz do autoextermínio. Diante de possíveis angústias e estados depressivos, não há outro remédio senão a calma, a paciência e a confiança na vida, que sempre nos reserva o melhor ou o que temos necessidade de enfrentar para aprender. Ações precipitadas, suicídios e atos insanos são praticados devido ao desespero que atinge muitas pessoas que não conseguem enxergar os benefícios que as cercam de todos os lados. Mas é interessante ressaltar que esses estados de alma, de desalento, de angústias, de atribulações de toda ordem, não são casos isolados. Eles integram a vida humana. Milhões de pessoas, em todo mundo, lutam com esses enigmas como alunos que quebram a cabeça tentando resolver exercícios de física ou matemática. Mas até uma criança sabe que o problema que parece insolúvel não se resolverá rasgando o caderno e fugindo da sala de aula. Sim, a comparação é notável. Destruir o próprio corpo, a própria vida, como aparente solução é uma decisão absurda. Vejamos os problemas como autênticos desafios de aprendizado, nunca como castigos ou questões insuperáveis. Tudo tem uma solução, ainda que difícil ou demorada. O fato, porém, é que precisamos sempre resistir aos embates do cotidiano com muita coragem e determinação. Viver é algo extraordinário. Tudo, mas tudo mesmo, passa. Para que entregar-se ao desespero? Há razões de sobra para sorrir, rir e viver...! O suicídio é um dos maiores equívocos humanos, para não dizer o maior. A pessoa sente-se pressionada por uma quantidade variável de desafios, que julga serem problemas sem solução, e precipita-se na ilusão da morte. Sim, ilusão, porque ninguém consegue se autoexterminar. E o suicídio agrava as dificuldades, porque aí a pessoa sente o corpo inanimado, cuja decomposição experimenta com os horrores próprios, pressionada agora pelo arrependimento, pelo remorso, sem possibilidade de retorno imediato para refazer a própria vida. Em meio a dores morais intensas, com as sensações físicas próprias, sentindo ainda a angústia dos seres queridos que com ele conviviam, o suicida torna-se um indigente do além. Como? Sim, apenas consequências do ato extremo, nunca castigo. Isso tudo por uma razão muito simples: não somos o corpo, estamos no corpo. Somos espíritos reencarnados, imortais. E a vida nunca cessa, ela continua objetivando o aprimoramento moral e intelectual de todos os 24 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2016
filhos de Deus. Suicidar-se é ilusão. Os desafios existenciais surgem exatamente para promover o progresso, convidando à conquista de virtudes e o desenvolvimento da inteligência. A oportunidade de viver e aprender é muito rica para ser desprezada. E quando alguém a descarta, surgem consequências naturais: o sofrimento físico, pela autoagressão, e o sofrimento moral, pelo arrependimento e pela perda de oportunidades. Muitos, talvez, poderão perguntar-se: Mas de onde vêm essas informações? A Revelação Espírita trouxe essas informações. São os próprios espíritos que trouxeram as descrições do estado que se encontram depois da morte. Entre eles, também os suicidas descrevem os sofrimentos físicos e morais que experimentam. Sim, porque sendo patrimônio concedido por Deus, a vida interrompida por vontade própria é transgressão à sua Lei de Amor. Como uma criança pequena que teima em não ouvir os pais e coloca os dedos na tomada elétrica. Para os suicídios, há atenuantes e agravantes, mas sempre com consequências dolorosas e que vão requerer longo tempo de recuperação. Deus, que é Pai bondoso e misericordioso, jamais abandona seus filhos e concedelhes sempre novas oportunidades. Aí, surge a reencarnação como caminho reparador, em existências difíceis que apresentam os sintomas e aparências do ato extremo do suicídio. Há que se pensar nos familiares, cônjuges, pais e filhos, na dor que experimentam diante do suicídio do ser querido. Há que se pensar no arrependimento inevitável que virá. Há que se ponderar no desprezo endereçado à vida. Há, mais ainda, que se buscar na confiança em Deus, na coragem, na prece sincera, nos amigos (especialmente o maior deles, Jesus), a força que se precisa para vencer quaisquer ideias que sugiram o autoextermínio. Meu amigo, minha amiga, pense no tesouro que é sua vida, sua família! Jamais se deixe enganar pela ilusão do suicídio. Viva! Viva intensamente! Com alegria! Que não o perturbem nem a dificuldade, nem a enfermidade, nem a carência material. Confie, meu caro, e prossiga! Foto: Gloogle Imagens
O Trigo e o Joio
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MAURO LUIZ ALDRIGUE João Pessoa-PB
“(...) O Reino dos céus é semelhante ao homem que semeia boa semente no seu campo...” (Mt. 13:24-30)
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campo é a Humanidade, somos todos nós. O semeador é Jesus. O trigo é o Evangelho, a boa semente. A erva daninha (o joio) são as interpretações capciosas de seus textos. O inimigo são aqueles que se têm lançado de permeio com a lídima doutrina cristã. Toda semente que é lançada no campo vai germinar, tanto a boa como a má; são os desígnios das leis da natureza, quando se encontra uma boa terra. Assim, o joio irá crescer junto ao trigo, e que representa a luta entre o bem e mal, que é comum nos mundos de provas e expiações. Da mesma forma, indica as dificuldades e as bênçãos existentes na luta cotidiana de nossa existência. E, por que se encontra o joio? Decorre da nossa invigilância ou de processos atávicos, ainda não superados. Jesus nos convida a “Olhai, vigiai e orai...(...)” - (Mc.13:33) e “Vigiai e orai...(...) “ - (Mt. 26:41) Através da boa semente do Evangelho, que é luz e amor, pode nos proporcionar os meios de nos libertarmos de nossas imperfeições. Em nosso campo de atuação, de semeadura, característico no nível evolutivo em que desenvolvemos experiências importantes de aprendizado e aprimoramento espiritual, estamos convidados a trabalhar com a boa semente: em nossa família, em nosso ambiente de trabalho, nas nossas relações sociais, etc., devemos compreender que são ambientes e situações que demonstram a necessidade de selecionar valores. É a semeadura dos valores morais e intelectuais. Quando Jesus se refere que, “(...) dormindo os homens, o inimigo veio e semeou joio no meio do trigo, e se retirou.”, leva-nos a refletir sobre necessidade do repouso, que é uma lei natural, trazendo o descanso físico e mental, reparação das forças do corpo, mas que se deve discernir da ociosidade. Foto: Gloogle Imagens
O adversário, em qualquer contexto, representa as perigosas infiltrações do mal, dos valores não éticos, dos ensinos não morais. O mundo está cheio de enganos, em vários domínios que foram invadidos por homens menos edificados que ergueram criações chocantes para os Espíritos menos avisados, desviando-os dos caminhos do bem. Ah! o joio..., ação contrária ao bem. Necessário se faz, também, que olhemos para dentro de nós, para descobrirmos que os adversários mais difíceis são aqueles de que não nos podemos afastar, facilmente, por se alojarem no cerne da própria alma. Ah! O egoísmo, o orgulho, a vaidade, o desânimo, a intemperança mental, o medo de sofrer e tantos outros agentes nocivos que, ainda, acolhemos e os alimentamos. O joio cresce, junto ao trigo, para demonstrar a sublime tolerância celeste no quadro das experiências da vida e, também, porque o otimismo do celeste Semeador nunca perde a esperança na vitória final do bem. A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória; sentença decorrente de “(...) tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” (Paulo, Gal. 6:7).
Jesus aponta que a separação entre o joio e o trigo se dê na colheita, porque, em seu ciclo, os frutos produzidos facilitarão a distinção entre ambos: “(...) e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: colhei, primeiro, o joio e atai-o em molhos para o queimar, mas o trigo, ajuntai-o no meu celeiro”. As mazelas do mal, as decepções, as desilusões e conturbações serão reunidas e expurgadas da seara do Senhor, como o joio, na engrenagem da “Lei de Causa e Efeito”. É o momento da real aferição do aprendizado desenvolvido pelo Espírito. No celeiro divino só há espaço para o Bem, para o Evangelho, representado pela semente do trigo. Praticando o Bem, estaremos expandindo o que há de divino em nós; e, em consequência, experimentando a felicidade plena. O rei Davi, no “Salvo 23:1”, expressa a confiança no Senhor, que nos concede a fortaleza moral, para superarmos os obstáculos que surgem em nossa caminhada evolutiva: “O Senhor é meu pastor; nada me faltará.” Referência: 1 FEB. Estudo aprofundado da Doutrina Espírita. Brasília, 2013. Livro II, parte 1.
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2016 • setembro/outubro • Tribuna Espírita 25
Qual dos dois fez a vontade do pai? FLÁVIO ROBERTO MENDONÇA Recife-PE
“Mas que vos parece? Um homem tinha dois filhos; chegando ao primeiro, disse: - Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha. Ele respondeu: - Irei, senhor; Chegando ao segundo, disse-lhe o mesmo. Porém, este respondeu: - Não quero. Mais tarde, tocado de arrependimento, foi. Qual dos dois fez a vontade do pai? Responderam eles: - O segundo. Declarou-lhes Jesus: - Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entrarão primeiro do que vós no reino de Deus. Pois João veio a vós no caminho da justiça e não lhe destes crédito, mas os publicanos e as meretrizes lho deram; e vós, vendo isto, nem vos arrependestes depois, para lhe dardes crédito.” – Mateus 21:28-32
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ia de regra, agimos todos como na parábola dos dois filhos: com menor consciência, como o primeiro filho ou com conflito de arrependimento, no segundo caso. Na passagem evangélica, Jesus estimula a reflexão perguntando qual dos dois fez a vontade do pai. Em complemento, mostra o quanto as pessoas estavam presas às letras e às palavras, no entanto, outros considerados pecadores teriam a chance de se redimir antes mesmo deles, que conjugavam a lei. É comum vermos pessoas aconselhando ou pregando, para que as outras façam o que é correto ou até condenando os que julgam errados. No entanto, na maioria das vezes, o conselho serviria mais para si que para um terceiro. Estão elas também presas à letra da lei? Cabe aqui uma boa reflexão! Em outra ocasião, Jesus também orienta a todos que deixem o argueiro nos olhos alheios e foquem nas suas próprias barreiras, nos seus próprios desafios. 26 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2016
A questão que desejamos dividir aqui com os leitores é: por que nos voltamos tanto para o nosso lado sombra, quando estamos tomados de luz interior? Não, não nos sintamos culpados. A reflexão nos conclama à mudança, e não a sobrecarregar o fardo. Evidente que no processo de amadurecimento da consciência, o sentimento de culpa aflora, mas apenas como um alerta a nos mostrar que estamos contrariando nosso padrão moral. Manter-se preso a esse sentimento de culpa só retarda o processo. Alias, denota a imaturidade em que se encontra o espírito que se prende a esse sentimento. Significa que reluta ao próximo passo. Na questão 621 de “O Livro dos Espíritos”, Kardec pergunta: - Onde está escrita a lei de Deus? — Ao que a resposta vem em socorro: - Na consciência. Portanto, caros leitores, nosso padrão moral é uma conquista do espírito, que a obteve com todas as suas lutas transatas, nas suas experiências, nas diversas fases em que estagiou durante seu desenvolvimento, encarnado ou na erraticidade. Assim, esse lado sombra que tanto abrigamos representa a nossa verdadeira zona de conforto. E por que permanecemos nela? Digamos que ascender à luz exige enormes esforços e renúncia constante. Os apegos, a inércia moral, sentimentos de vitimização, inveja ou soberba, tudo isso são elementos que impedem o avanço e que precisam ser combatidos veementemente, sob pena de nos alienarmos no processo de estagnação relativa ao progresso da alma. Caminhar exercitando o bem e o de-
sapego é recurso único e que serve exclusivamente para o progresso de quem o pratica. Não se atinge patamares mais altos no padrão moral sem esse esforço, que só o próprio candidato pode decidir realizar. Não se pode almejar o progresso pessoal terceirizando as atividades. Essa tarefa cabe a cada ser individualmente. No entanto, convenhamos, quando um único ser conquista sua melhora moral, qualifica mais ainda o mundo que o cerca para o melhoramento geral. Temos, portanto, um grande desafio que não é tarefa para uma única ação ou um romântico desejo. Exige esforços constantes de sublimação dos pensamentos e dos atos; escolhas e equilíbrio emocional. Isso só é possível com muita coragem e determinação. Jesus não nos falou que seria fácil, disse, isso sim, que seguindo seu roteiro, o fardo seria suave e leve. Um pensamento que nos deixou André Luiz (espírito), no livro “Missionários da Luz”, capítulo “A Epífise”, dá-nos a dimensão dos nossos deveres para conosco e para com a evolução da alma. Com essa citação, deixo a todos o meu mais sincero voto de paz e que possamos fazer brilhar a nossa luz!
“Receber um corpo, nas concessões do reencarnacionismo, não é ganhar um barco para nova aventura, ao acaso das circunstâncias, mas significa responsabilidade definida nos serviços de aprendizagem, elevação ou reparação, nos esforços evolutivos ou redentores.” Foto: Gloogle Imagens
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Não saiba a tua mão esquerda... (Mt.6:3)
omos, ainda, sementes embrutecidas no aguardo do grande despertar... Conservamos, em estado latente, em nossa intimidade, o germe da vida. Vida essa que, para brotar, necessita, primeiro, passar pela morte. No princípio, vivíamos no mais completo embrutecimento dos sentidos, mesmo sendo, em essência, Espíritos imortais. Um dia, porém, veio o vendaval..., a enxurrada..., e nos sepultou em valas, mais ou menos, profundas, até que, o tempo depositasse sobre elas resíduos úmidos, fazendo-as passar pelo processo de decomposição de suas couraças − morte aparente dos grãos escondidos na cova; para, um dia, poderem erguer os braços viçosos do broto, durante a germinação; quais duas mãos, postas em prece de gratidão ao Criador, por ressurgirem dos mortos e exaltarem a vida. Duas forças regem os fenômenos da natureza: espírito e matéria; ambos vivendo em íntima comunhão de energias supridas pelo Amor Infinito. Transitamos, lentamente, pelos reinos da natureza, acumulando, em nosso psiquismo, laboriosas experiências nos vastos milênios... Atingimos a condição humana, mas estamos, ainda, na infância do reino hominal. Longe, muito longe, nos en-
contramos do status de anjo. Nível esse responsável pela captação e distribuição das forças criadoras do amor, assimiladas, diretamente, do Excelso Pai. Essas respeitáveis autoridades celestes, co-criadoras da vida em todo o cosmo orgânico, atuam, incessantemente, assistindo-nos, sem que tenhamos consciência plena dessa intervenção nos dois planos: físico e espiritual. Representam elas o exemplo claro e profundo dos que dão, com a mão esquerda, sem que a direita tome consciência. É, para todos nós, Jesus, o Divino Guardião do globo, o modelo e guia incomparável por quem devemos nos espelhar. Ainda, que o Mestre, em princípio, não dependesse de forças exteriores, para exercer o seu apostolado, deixou, para nós todos, em diversas ocasiões de sua vida, o testemunho de que, nem ele, nem ninguém, é capaz de viver e decidir, isoladamente, desvinculado da Força Cósmica do Amor... No horto de Getsêmani, aceitou a intervenção de um anjo que o consolou, e fortaleceu. Sem nos esquecermos de que, em outras ocasiões, o Divino Rabi afirmou que desceu do céu, não, para fazer a sua vontade, mas a daquele que o enviou. Nessa vasta senda evolutiva, temos caminhado com a fronte orgulhosamen-
te erguida; mãos estendidas, pretextando auxilio; tudo, para testemunharem os nossos gestos de benemerência... Quando nos desprendermos da ilusão de que somos fonte, e compreendermos que não passamos de canal, por onde transitam as correntes do Amor Infinito que dão suporte a vida, concluiremos que o corpo, que nos foi confiado, pelos arquitetos celestes, não é mais do que máquina reclamando direção e entendimento, desprendimento e amor, para que os órgãos que o sustentam recebam suprimento extra de forças psíquicas capaz de energizar a matéria e vitalizar a alma. Quando, humildemente, admitirmos que toda força geradora da vida e do amor procede de Deus, passaremos a ajudar e servir, amparar e socorrer, reconhecendo que toda cura obtida e todo prodígio alcançado em nossos empreendimentos, deve-se, exclusivamente, à presença de Deus em nós. Dar, com uma mão, sem que a outra veja, significa, pois, ter ampla consciência de que nada podemos realizar, sem a anuência da Fonte Infinita da Vida, que reside no coração do Altíssimo. Lindemberg (Mensagem psicografada pelo médium Zaneles Lima de Brito, na sessão mediúnica do dia 23 de fevereiro de 2016, na Associação Espírita Leopoldo Machado, em Campina Grande-PB).
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LUIS HU RIVAS
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