Espírita Tribuna
Quem foi
Ano XXXIV - Nº 187 setembro/outubro - 2015 Preço: R$ 5,00
Allan Kardec?
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Sumário
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A Afabilidade como Instrumento da Paz
Cuidado com a palavra Imortalidade da Alma Matar-se, jamais!.. Ontogênese A verdadeira desgraça
A Afabilidade como Instrumento da Paz
O Paralítico de Betsaida Realezas Terrenas Assistencialismo ou Serviço de Assistência e Promoção Social Espírita? Deve-se publicar tudo quanto dizem os Espíritos?
FÁTIMA ARAÚJO
A rede
João Pessoa-PB
J
Temor da Morte - Educação para a Vida Quem foi Allan Kardec? Você vai morrer!!! E agora? Painel Espírita Reflexão sobre o Dia dos Mortos Indo e Voltando A Família Deus, Fonte Inexaurível Vida e morte “Dia de Finados, na ótica espírita” Fatalidade, tragédia, provação... Interferência dos Espíritos em nossas Vidas
Espírita Tribuna
Quem foi
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Ano XXXIV - Nº 187 setembro/outubro - 2015 Preço: R$ 5,00
Allan Kardec?
2 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2015
esus estabeleceu a Afabilidade e a Doçura, como ensinamentos morais da mais alta importância, visto que é, exatamente, o contrário da violência e da insensibilidade com que tantos tratam seus semelhantes. Notadamente, o Divino Mestre inspirava a bondade que devemos cultivar, a sinceridade e o senso humanitário, sempre tão necessários, para nos tornarmos pessoas melhores. E nos deixou essas ternas virtudes, como verdadeiras regras da boa convivência. O capítulo 9, de “O Evangelho Segundo o Espiritismo, que trata da parte mais doce dos ensinamentos de Jesus, no Sermão da Montanha, traz, no item 4, considerações a respeito desse verniz que a Humanidade precisa cultivar, como suporte da própria paz. “Por esses ensinamentos morais, Jesus estabeleceu como Lei a doçura, a moderação, a brandura, a afabilidade e a paciência, condenando (que, hoje, devemos dizer, ‘reprovando’, porque Jesus não condenava nada), consequentemente, a cólera, a violência e qualquer expressão descortês para com os semelhantes.” Ainda no mesmo item 4, que lembra a citação do Evangelho de Mateus, Cap. 5:21 e 22, falando da palavra ofensiva dirigida ao irmão, Allan Kardec considera que “Toda palavra ofensiva expressa um sentimento contrário à lei do amor e da caridade, que deve fazer com que os homens mantenham, entre si, uma relação de concórdia e união. Uma palavra ofensiva, além de alimentar o ódio e o rancor, também é um insulto à bondade e à fraternidade que deve existir entre todos os irmãos. Depois da humildade para com Deus, ser caridoso para com o próximo
deve ser a primeira lei de todo cristão”. O Espírito André Luiz ensina que “a afabilidade é a caridade, no trato pessoal”. Mas, o mundo está cheio de pessoas vazias de amor, direcionadas por valores alicerçados no interesse e na competitividade, sendo lamentável que as dificuldades de nossa vida terrena sejam motivadas, em sua maioria, por esse desamor! De forma que o Espírito Lázaro, no item 6, do citado capítulo, logo após afirmar, “Aquele que ama o próximo é bondoso para com os semelhantes. Essa bondade se manifesta através da afabilidade e da doçura”, alerta para o fato de que “(...) não se deve confiar nas aparências. Uma pessoa bem educada e experiente pode parecer possuir as qualidades da afabilidade e da doçura, mas muitos apenas fingem, utilizando essa bondade como uma máscara para uso externo, como se fosse um traje (...)”. O autor nos fala, ainda, daqueles que “(...) são bondosos quando estão fora de casa, mas, no lar, são verdadeiros tiranos, fazendo com que a família e seus subordinados suportem o peso do seu orgulho e de sua opressão.”. E conclui: “Aquele, cuja afabilidade e doçura não são fingidas, nunca se contradiz. É, sempre, o mesmo, diante da sociedade ou na intimidade, pois sabe que, pelas aparências, pode enganar os homens, mas não engana a Deus”. Diríamos que a mansidão e a brandura são virtudes essenciais à vida em sociedade, pois nosso ser espiritual precisa de boas vibrações, para ter saúde e serenidade, para ser feliz! Por isso, as pessoas amoráveis, que agem com afabilidade e doçura, estão contribuindo para a Paz!
Cuidado com a palavra
Expediente Fundada em 01 de janeiro de 1981 Fundador: Azamor Henriques Cirne de Azevedo
TRIBUNA ESPÍRITA Revista de divulgação do Espiritismo, de propriedade do Centro Espírita Leopoldo Cirne Ano XXXIV - Nº 187 - setembro/outubro - 2015 Diretor Administrativo e Financeiro: Severino de Souza Pereira (ssp.21@hotmail.com)
CARLOS ROMERO João Pessoa-PB
“Quem tem boca, vai a Roma” - diz o ditado. Não, amigos, quem tem boca vai para toda parte. Falei sobre as mãos, sobre os olhos, sobre os pés e, agora, chegou a vez da boca. Você pode viver, sem os olhos; sem as mãos, sem os pés; mas, sem a boca, é impossível. Sem ela, como falar, como se alimentar, como beijar? É importante o alimento que se ingere, a água que hidrata, o remédio que se toma; mas, a palavra que sai da boca é a alma da convivência. Não se convive sem a fala. Diga-me, como falas, e eu te direi quem és. O homem não é, somente, aquele que pensa, mas aquele que fala. Se não me engano, foi Voltaire que costumava dizer a uma pessoa que lhe era apresentada: “Fala, para que eu saiba quem tu és”. E, como ele dava importância à fala, chegando a dizer: “Eu discordo do que você di; mas, defenderei, até a morte, o seu direito de dizê-lo”. Tem muita gente que bota a palavra fora. Que diz coisa que não era para se dizer; “fala pelos cotovelos”. Mas, a palavra não é para se desperdiçar. Voltando à boca, Jesus, certa vez, disse: “Não é o que entra na boca, que contamina o homem, e, sim, o que dela sai (...)” (Mateus 15:11) Ora, o que sai da boca é a palavra. Embora muita gente se utiliza, mal, da boca; não só pela má palavra, como pelos venenos do fumo e da bebida alcoólica.
“Orai e vigiai, para não entrardes em tentação (...) ” - (Mateus 26:41), receitou, também, o Mestre. Estejamos, portanto, atentos ao que dizemos. Há uma mediunidade, chamada Psicometria. O médium psicômetra, se entrar numa sala, por exemplo, percebe tudo o que se disse naquele ambiente. As palavras dos que estiveram, ali, ficaram gravadas na parede. Veja, aí, quanta responsabilidade no falar. A verdade é que, nada se perde, do que dizemos. Por isso, repitamos a advertência: muito cuidado com a palavra! Muita franqueza dói. Daí, dizer Chico Xavier: “a verdade que fere é pior do que a mentira que consola”. A fala é uma bênção. Que digam os mudos. Jesus ensinava a discrição: “Seja, porém, o vosso falar: sim, sim; não, não; (...) (Mateus 5:37). Ninguém soube usar, tão bem, a palavra como o Mestre. Tinha resposta, para tudo. Só uma vez, ele deu o silêncio, como resposta. Justamente, quando o procurador Pilatos lhe perguntou: ”O que é a verdade?” O procurador estava junto da verdade e não sabia. Jesus calou-se. Nunca, um silêncio falou tão alto. Como explicar ao cético procurador o que era a verdade? Jesus poderia, muito bem, ter respondido: “A verdade é a Lei”. Ou, senão: “A verdade sou eu”. Mas, o seu silêncio disse tudo. Impressionante aquele encontro, entre a Verdade e a Mentira... Google imagens
Editor: Hélio Nóbrega Zenaide Jornalista Responsável: Lívia Cirne de Azevedo Pereira DRT-PB 2693 Secretaria Geral: Maria do Socorro Moreira Franco Revisão: José Arivaldo Frazão Assessoria: Uyrapoan Velozo Castelo Branco Colaboradores desta edição: Adésio Alves Machado, Alírio de Cerqueira Filho, Azamor Henriques Cirne de Azevedo, Carlos Romero, Denise Lino, Divaldo Franco (Pelo espírito Joanna de Ângelis), Elmanoel G. Bento Lima, Fátima Araújo, Flávio Mendonça, Frederico Menezes, Geraldo Campetti Sobrinho, Guilherme Travassos Sarinho, Hélio Nóbrega Zenaide, Igor Mateus, Liszt Rangel, Marcel Mariano (Pelo espírito Vianna de Carvalho), Marcos Paterra, Mauro Luiz Aldrigue, Octávio Caúmo Serrano, Pedro Camilo, Walkíria Araújo, Waldehir Bezerra de Almeida, Zaneles Brito (Pelo espírito O guru). Diagramação: Ceiça Rocha (ceicarocha@gmail.com) Impressão: Gráfica JB (Fone: 83 3015-7200) ASSINATURA BRASIL ANUAL: R$ 30,00 TRIANUAL: R$ 80,00 EXTERIOR: US$ 30,00 CONTRIBUINTE ou DOADOR: R$....? ANUNCIANTE: a combinar TRIBUNA ESPÍRITA Rua Prefeito José de Carvalho, 179 Jardim 13 de Maio – Cep. 58.025-430 João Pessoa – Paraíba – Brasil Fone: (83) 3224-9557 e 9633-3500 e-mail: jornaltribunaespirita@gmail.com
Nota da Redação Os Artigos publicados são de inteira responsabilidade dos seus autores. 2015 • setembro/outubro • Tribuna Espírita 3
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Imortalidade da Alma IGOR MATEUS Natal-RN
A
o apresentar para à Humanidade a sua obra “Nosso Lar”, já nos primeiros parágrafos, o Espírito André Luiz nos convida a refletir logo que “A vida não cessa. A vida é fonte eterna e a morte é o jogo escuro de ilusões. O grande rio tem seu trajeto, antes do mar imenso. Copiando-lhe a expressão, a alma percorre, igualmente, caminhos variados e etapas diversas; também, recebe afluentes de conhecimentos, aqui e ali, avoluma-se em expressão e purifica-se em qualidade, antes de encontrar o Oceano Eterno da Sabedoria.” Descortinando para os homens, através do Espiritismo, as Leis que emanam de Deus e que regem a vida em todos os seus aspectos, os Espíritos Superiores legaram à Humanidade uma doutrina abrangente, que toca em todas as questões fundamentais da existência humana e que pode e deve ser estudada e praticada, em todos os seus aspectos, tais como: científico, filosófico, religioso, ético, moral, educacional e social. Uma das frases que melhor sintetiza a sua mensagem e que orienta o homem a respeito da sua própria existência é a que está inscrita no túmulo do próprio codificador da Doutrina Espírita, o Sr. Allan Kardec: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei”. Nela, temos bem configurada a clara visão de nossa realidade, como seres imortais, Espíritos que já existiam e que continuam existindo, independentemente da vitalidade, ou não, do corpo físico. Esse sentimento vem fazendo parte das preocupações humanas, desde a mais remota antiguidade. Vários filósofos lançaram-se na tentativa de compreender esta verdade que, de certa forma, é uma idéia inata, em todos os homens!
4 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2015
Fora o sentimento, a razão nos esclarece que não pode ser diferente. O bom-senso e o conhecimento de Deus, forçosamente, nos levam a concluir pela imortalidade da alma. Que Pai seria esse, se assim não fosse? E, com a contribuição valiosa do Espiritismo, recordamos e compreendemos, com maior clareza, a lógica da reencarnação que, muito naturalmente, nos reposiciona dentro dessa condição que, em verdade, nunca perdemos, de “Seres Imortais”. Então, o que seria a morte? No dizer do Espírito André Luiz, ainda na apresentação de “Nosso Lar”, um pouco mais adiante: “A morte é um sopro renovador”. É a vida que continua, em outro plano; é a saída do Espírito, do jogo escuro das ilusões, para a realidade clara e permanente da vida eterna. É transição, entre os dois planos da vida. Uma viagem interdimensional, entre a realidade física e a espiritual. Acontece que nós temos sido treinados, ao longo das últimas experiências reencarnatórias, a encarar a morte com um aspecto lúgubre e sofrido; mas, não precisa ser assim. Isso faz parte, sobretudo, de nossa cultura ocidental, e da falta dessa compreensão de que a vida continua... Mas, quando pensamos, com a ótica da imortalidade, passamos a encarar a morte de um ente querido como uma viagem que ele fez, por exemplo, para um país distante, para estudar ou trabalhar por algum tempo. Quando a notícia é dada, o nosso egoísmo fala mais alto, inicialmente. Queremos aquela pessoa junto de nós. Mas, a consciência da importância daquela viagem, para o nosso ente querido, faz com que o nosso amor por ele supere o nosso egoísmo: vai ser bom e
“Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei”.
Matar-se, jamais!.. FREDERICO MENEZES Recife-PE
ele irá aprender, evoluir. Isso nos conforta e nos faz deixá-lo ir... Mas, não nos impede de sofrer, principalmente na hora da partida. No entanto, algo nos conforta o coração: a certeza de que a despedida não é permanente! Não é um ADEUS, é um ATÉ BREVE! Enquanto ele está distante, lembremos que o nosso sofrer exagerado pode prejudicá-lo. Se souber que estamos sofrendo, sofrerá também, e isso pode atrapalhar suas atividades do lado de lá! E lembrem que a separação física não separa os corações! E, além de tudo, podemos nos comunicar com eles e receber notícias suas, que nos alegram, muito, ao saber que estão bem, e, também, saudosos do reencontro. Durante o tempo que estão longe, ficamos, por aqui, vibrando positivamente por eles, torcendo, para que sejam bem sucedidos, orando por eles. E, aí, um belo dia, quando menos esperamos, o reencontro acontece e podemos matar todas as saudades, colocar os assuntos em dia, e seguir adiante na nossa caminhada; seja, pela volta desses nossos entes queridos (reencarnação); seja, pela nossa ida ao encontro deles (desencarnação). Quando nos encontramos, o longo tempo que passamos distantes parece que foi tão pequeno, principalmente, porque sabemos que teremos todo o resto da vida para estarmos juntos, nos amando e progredindo juntos. O resto da vida, que o nosso universitário André Luiz já nos relembrou que é Eterna! Essa compreensão, meus caros amigos, é extremamente confortadora, e é, por isso, que o Espiritismo é considerado o “Consolador Prometido” por Jesus. Ela nos valoriza, nos torna melhores e maiores, nos mostra como centelhas do amor divino, e é, efetivamente, o famoso elixir da vida eterna que motivou buscas de filósofos ,durante toda a história da Humanidade! Por isso, mergulhado em todas essas reflexões, Camille Flammarion, ao pronunciar o discurso durante o funeral de Allan Kardec, despede-se do grande amigo, dizendo nas suas palavras finais: “A imortalidade é a luz da vida, como esse brilhante Sol é a luz da Natureza. Até breve, meu caro Allan Kardec, até breve.”
E
specialistas se voltam para entender a grande quantidade de pessoas que atentam contra a própria existência. Um número cada vez maior de jovens parece encarnar o desvario e a perda da esperança. Tudo, alimentado por crises de depressão, fobia social, desestrutura emocional. Feridas psíquicas parecem surgir do nada. Nestes tempos em que sentimos o alvorecer de uma era nova, dois mundos se digladiam: o antigo, com seus medos, seus dramas seculares; a “Lei de Causa e Efeito” está concretizando a fragilidade das convicções religiosas; e o mundo novo, que acena através das atividades nobres, da espiritualidade vivida, das crianças precoces e da renovação da geração, pelo reencarne de Espíritos mais amadurecidos na face do mundo. Quando falamos da era nova, não quer dizer que ela já se encontra às portas da sociedade humana, conquanto possamos, pelos fatores citados acima, perceber seu desenho. Os desafios são enormes. Por muito tempo, ainda, conviveremos com os conflitos entre o passado eivado de problemas e violência, e o futuro, acenando com o amor. No bojo das lutas vividas pelas almas, na atualidade, destaca-se a ausência de valores de profundidade, em uma considerável parcela da Humanidade, favorecendo o debacle da esperança e da coragem moral. Famílias atordoadas não conseguem fortalecer os filhos ou, até mesmo, os pais tombam, ante as provas ou os desentendimentos da vida de relação. Precisamos infundir, nos corações, a necessidade de voltar-se à grandeza da vida, injetando esperança e coragem nos seres humanos. Fundamental, que as famílias intensifiquem a importância de uma relação mais profunda com Deus. Crianças e jovens precisam entender sobre sua filiação divina, sobre a luz que resplandece na intimidade de cada um deles. Ensiná-los a lidar com os problemas da existência, algo inerente ao processo evolutivo de cada um de nós. Matar-se, jamais! O autoamor e a compreensão, sobre os fundamen-
tos da vida e nossa natureza, evitará muitos dos desastres que vitimam milhares de pessoas, das mais variadas idades, em todo o planeta. Vazio existencial, desespero, autoabandono, insegurança, todos esses elementos se combate, sim, com conhecimento, ternura, respeito, interesse fraternal, solidariedade. A certeza de que o suicídio não é solução poderá ser adquirida, a partir da disseminação desses postulados que iluminam a humanidade, desde 1857, quando Kardec nos legou “O Livro dos Espíritos”. Qualquer que seja o desafio, matarse, jamais! Seja qual for a provação, matar-se, jamais! Viver, com a consciência da imortalidade e do infinito Amor de Deus, com a convicção de que toda nossa vida tem sentido, traçando um futuro radioso, após a superação dos problemas e desafios. Tirar a própria vida física, apenas, aumenta a dor e intensifica os conflitos, produzindo mais desalento e retardamento espiritual. Não há, a meu ver, componente mais seguro e belo, para uma campanha em defesa da vida, do que entregar à sociedade o pensamento espírita, pondo-o em todos os lugares, onde alguém possa conhecê-lo e, claro, colocá-lo na própria existência. Google imagens
2015 • setembro/outubro • Tribuna Espírita 5
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Ontogênese FLÁVIO MENDONÇA João Pessoa-PB
“O Princípio Inteligente afastou-se do leito oceânico, atingiu a superfície das águas protetoras, moveu-se em direção à lama das margens, debateu-se no charco, chegou à terra firme, experimentou, na floresta, copioso material de formas representativas, ergueu-se do solo, contemplou os céus e, depois de longos milênios, durante os quais aprendeu a procriar, alimentar-se, escolher, lembrar e sentir, conquistou a inteligência... Viajou, do simples impulso para a irritabilidade, da irritabilidade para a sensação, da sensação para o instinto, do instinto para a razão”.
É
comovente poder, através do conhecimento, eliminar dogmas milenares que arrastaram a Humanidade à condição de ignorância. Pensando bem, saber que o homem é um processo evolutivo, que já estagiou em várias paragens, e tudo que ele é, representa os esforços da senda progressiva, não só o leva a um sentimento justo do mérito, como também, o de maior união ao criador. Sim, porque ele deixa de ser um mero fantoche da divindade, para se tornar co -autor da Sua obra. Ademais, isso dá uma sensação maior de ligação a Deus: substitui a figura distante e arbitrária e O torna um pai dedicado que permite que Suas criaturas estejam juntas, a cada instante no seu desenvolvimento, solidário, desde o início. A figura de um tutor responsável, 6 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2015
fiel e solidário. Certamente, um Pai amoroso que “faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos” (Mt. 5:45). A citação de abertura do texto, retirada do livro “No Mundo Maior”, do autor espiritual André Luiz, sintetiza a ontogenia dos seres, desde o seu início, originado nos oceanos, até a idade da razão, conquistada há pouco, na cronologia terrestre. Léon Denis, contemporâneo de Allan Kardec, também, já havia citado algo semelhante quando disse: “Na planta, a inteligência dormita; no animal, sonha; só, no homem, acorda, conhece-se, possui-se e torna-se consciente”. Entender todo esse complexo multidimensional que é o homem requer, mesmo, muita profundidade, pois, sem isso, todo esse arcabouço de elementos ficaria sem explicação clara e lógica e cairia, como assim o fez no passado, a título de milagres, dogmas e concepções mais restritas. Interpretar a vida, sem a luz da ciência, permitindo uma leitura supersticiosa, é prender a razão num cárcere inconcebível. As conquistas da inteligência pedem uma compreensão mais madura, e já era tempo de iluminar as consciências, para que elas abandonem, definitivamente, o obscurantismo que, ainda, insiste em predominar em alguns grupos. Aos poucos, a razão se assenhora da inteligência, e tudo isso será, apenas, parte da história humana, no seu processo de crescimento. Bonito, mesmo, é perceber que as conquistas atuais da inteligência podem alçar voos ainda mais altos, utilizando-se dos subsídios que a natureza provê a todo candidato à plenitude. No mesmo livro, “No Mundo Maior”, o autor espiritual cita uma questão que é coerente com as observações dos fisiologistas especializados. Fala ele: “Nos pla-
nos dos lobos frontais jazem substâncias de ordem sublime, que serão conquistadas à medida do esforço ascendente, da organização em evolução.” Evidente que, não é isso que dizem os fisiologistas, mas atribuem ao setor cerebral a função do desenvolvimento das ideias abstratas, de onde se conclui que é, lá, que o futuro se desenha em forma de ideal. Portanto, os recursos que, ainda, se investigam, como ciência, André Luiz os chama de “substâncias de ordem sublimes”. Ora, então é, aí, onde os recursos serão fornecidos, para ascensão da inteligência a estágios mais elevados da vida! Todavia, deve-se considerar que, para tal, o candidato deverá merecer o benefício citado, e isso só se dará, quando ele acessar a área de fornecimento, ou seja, o lóbulo frontal. Sua eficácia dependerá da forma como o candidato a utilizará. Numa síntese, ele estará disponível, apenas, pelo merecimento do esforço e da ascensão moral. E, aí, entra a sabedoria divina. Sua oferta se dá, na medida em que a inteligência compreende o suficiente, a fim de que sua utilização atinja seu mister. Como afirmaram os bons Espíritos, “a Natureza não dá saltos”. Da irritabilidade à razão, do desenvolvimento do instinto à conquista da moral, da sensação ao sentimento, da sensibilidade ao aprendizado, tudo isso a inteligência experimentou, diante dos milênios, para se apresentar diante do altar divino e dizer: “Eis-me aqui, Senhor. Agora, sou razão, agora posso receber a luz do Evangelho, para me desenvolver para a próxima etapa que me aguarda. Agora sei, Senhor, que és Pai, que és Amor e que sou filho desse Amor. A Terra é a escola onde me desenvolvo, nessa nova matéria. Amar é tudo que preciso aprender. Que Tua e a minha vontade sejam uma só, como aconteceu com Jesus.”
A verdadeira desgraça OCTÁVIO CAÚMO SERRANO João Pessoa-PB
Q
uando lemos em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, capítulo V, ‘Bem Aventurados os Aflitos’, item 24, a mensagem ditada em Paris, 1861, pelo Espírito Delphine de Girardin, não podemos deixar de lembrar o que ocorreu na nossa chegada a João Pessoa, onde desembarcamos na noite de 21 de janeiro de 1997. Hospedamo-nos num hotel na praia de Manaíra, próximo ao apartamento que havíamos comprado, numa visita que fizemos à cidade em outubro de 1996, na Av. Geraldo Costa esquina com Av. Edson Ramalho. Ali, ficamos uma semana, aguardando a mudança e os carros que viriam por transportadora. No dia 1º de fevereiro, mudamos, definitivamente, para o apartamento onde ficamos somente quatro meses e depois o vendemos; por desconhecimento, compramos um imóvel voltado para o poente, onde o calor era insuportável. Não somos adeptos de ar condicionado ou ventilador, o que se tornava mais agravante. Minha mulher, acostumada a servir, fornecer enxovais para gestantes pobres, roupas para orfanatos, que ela mesma costurava e pintava, além dos trabalhos espíritas que fazia no nosso Centro em São Paulo, atendimento fraterno, exposição do Evangelho e direção dos trabalhos mediúnicos, além de ajudar outros Centros, inclusive financeiramente, sentia-se como inútil desocupada aqui em João Pessoa. Conversamos com um amigo que havia nos recebido em viagem anterior, quando nos levou para palestras em vários Centros, inclusive na Federação Espírita Paraibana, e ele recomendou que minha esposa procurasse a presidente de um Centro da Grande João Pessoa, que ela, sem dúvida, gostaria de oferecer-lhe trabalho. Feito isso, marcaram para o dia seguinte, quando a “confreira” passaria no nosso apartamento e a levaria junto, porque era longe e ela não acertaria ir só. Às oito da manhã, a benemérita viria pra levá-la ao trabalho. Como até o meio-dia não aparecesse e nem atendesse ao telefone, minha mulher ficou impaciente. Finalmente, às seis da tarde, conseguiu ser atendida e a senhora presidente desculpou-se que havia tido problemas com o carro; fora à oficina e não tivera tempo de informar, mas que, no dia seguinte, às oito, pontualmente, ela passaria sem falta. Repetiu-se a leviandade da véspera e ela não só não passou como nunca mais deu qualquer satisfação, mesmo depois, quando nas esquinas do movimento espírita acabamos nos encontrando. Naquele dia, minha mulher me intimou a que tivéssemos a nossa própria instituição e então saímos à procura de local. No dia 1º de abril de 1997, sessenta dias depois que fomos para o nosso apartamento, já havíamos comprado a casa da Av. Esperança, 1213, Manaíra, registrado os estatutos, obtido o CNPJ, que ainda era CGC, autorização da Prefeitura e alvará do Corpo de Bombeiros e inaugurávamos a nossa casa: O Centro Kardecista “Os Essênios”. Pouca gente foi à inauguração (sete pessoas), porque, ao escolher o dia da mentira, acreditamos
que imaginaram tratar-se de alguma pegadinha espiritual. Na verdade, o dia foi escolhido para homenagear a fundação da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, criada por Allan Kardec em 1º de abril de 1858, em Paris. Como defendemos que Espiritismo sem estudo não é Espiritismo, a data vinha a calhar. O que sobrou de tudo isso, dezoito anos depois, é que aquele acontecimento desagradável e leviano protagonizado por uma presidente de um Centro Espírita e, portanto, seguidora de Kardec, possibilitou a fundação de mais uma instituição em João Pessoa, o que, de início, não era nossa prioridade, que hoje é uma Casa acreditada, razoavelmente frequentada por pessoas que já estão conosco há muito tempo, algumas desde o primeiro ano, Casa essa que, talvez, não existisse se a presidente da outra Casa não tivesse agido como agiu. Na lição do Evangelho, aprendemos exatamente isso. Qual é a verdadeira desgraça? Aquela que nasce de um procedimento correto e, mais tarde, traz consequências desagradáveis, ou acontecimentos aparentemente funestos que, ao final, redundam em benefícios de diferentes formas. Houvera aquela senhora agido corretamente e, talvez, tivéssemos nos engajado nas suas atividades, e, hoje, o Centro Kardecista Os Essênios não existiria na Paraíba. Isso ocorre amiúde na nossa vida. Se soubermos manter o equilíbrio e esperar os resultados mais adiante, muitas coisas que parecem boas serão más e outros que se prenunciam desagradáveis, no final, causam-nos muita alegria. Se tivermos Deus ao nosso lado e formos merecedores de proteção e ajuda, vivenciemos esta fé e aguardemos com paciência, certos de que nos acontecerá sempre o melhor. Aquela presidente descompromissada com a solidariedade, respeito e atenção com o próximo, acabou se tornando nossa benfeitora. “Há males que vêm para o bem.” O adágio popular, mais uma vez, teve razão. Ela foi instrumento de Deus, para nos ajudar a fazer o melhor! 2015 • setembro/outubro • Tribuna Espírita 7
O Paralítico de Betsaida Google imagens
WALDEHIR BEZERRA DE ALMEIDA Brasília-DF
Enquanto a dor-expiação é uma reação a uma ação negativa, a dor-auxílio surge, como advertência, impedindo o Espírito de uma nova queda moral.
N
este passo, vamos nos valer, mais uma vez, do registro feito pelo “discípulo amado”. Narra o evangelista que o Cristo fora a Jerusalém e, lá, visitou a piscina de Betsaida, local onde os cegos, os coxos e doentes em geral nela se banhavam, na esperança da cura. Entre os enfermos havia um que, há trinta e oito anos, estava entrevado, impossibilitado, até, de chegar à piscina para banhar-se. Agora, a fração do texto que nos interessa de imediato: − Jesus, tendo-o visto deitado e sabendo-o doente desde longo tempo, perguntou-lhe: Queres ficar curado? − O doente responde: Senhor, não tenho ninguém que me lance na piscina, depois que a água for movimentada; e, durante o tempo que levo para chegar lá, outro desce antes de mim. − Disse-lhe Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e vai-te. − No mesmo instante o homem se achou curado e, tomando de seu leito, pôs-se a nadar. Ora, aquele dia era um sábado. Disseram então os judeus ao que fora curado: Não te é permitido levares o teu leito. − Respondeu o homem: Aquele que 8 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2015
me curou disse: Toma o teu leito e anda. − Perguntaram-lhe eles, então: Quem foi esse que te disse: toma o teu leito e anda? − Mas, nem mesmo o que fora curado sabia quem o curara, porquanto Jesus se retirara no meio da multidão que lá estava. − Depois, encontrando aquele homem no Templo, Jesus lhe disse: Vês que foste curado; não tornes, de futuro, a pecar, para que te não aconteça coisa pior. O homem foi ter com os judeus e lhes disse que fora Jesus quem o curara. (Jo 5:1-15). Aqui, a advertência do Mestre dirigida ao paralitico curado foi bem diferente da anterior, aplicada ao cego de nascença, e nos leva a outra conclusão: a causa da deficiência física daquele homem era resultado de um erro cometido por ele. Violara, provavelmente, as leis divinas, pois o Rabi da Galiléia enfatizou: “Eis que estás curado; não peques mais, para que não te suceda algo ainda pior”. Logo, estivera ele em expiação. (Grifamos) Outro exemplo de dor-expiação encontramos, na cura do paralítico de Cafarnaum. − Tendo subido numa barca, Jesus atravessou o lago e veio à sua cidade (Ca-
farnaum). Como lhe apresentassem um paralítico deitado em seu leito. − Jesus, notando-lhes a fé, disse ao paralítico: “Meu filho, tem confiança; perdoados te são os teus pecados”. (Mt 9:1-5). Declinamos de fazer qualquer comentário, frente ao claro e elevado raciocínio do sistematizador da Doutrina Espírita: “Que significariam aquelas palavras: ‘Teus pecados te são perdoados’ e em que podiam elas influir para cura? O Espiritismo lhes dá a explicação, como a uma infinidade de outras palavras incompreendidas até hoje. Por meio da pluralidade das existências, ele ensina que os males e aflições da vida são, muitas vezes, expiações do passado, bem como, que sofremos, na vida presente, as consequências das faltas que cometemos em existência anterior e, assim, até que tenhamos pago a dívida de nossas imperfeições, pois que as existências são solidárias umas com as outras. Se, portanto, a enfermidade daquele homem era uma expiação do mal que ele praticara, o dizer-lhe Jesus: ‘Teus pecados te são remitidos’, equivalia a dizerlhe: ‘Pagaste a tua dívida; a fé que, agora, possuis elidiu a causa da tua enfermidade; conseguintemente, mereces ficar livre
dela. Daí, o haver dito aos escribas: ‘Tão fácil é dizer: Teus pecados te são perdoados, como: Levanta-te e anda’. Cessada a causa, o efeito tem que cessar. É, precisamente, o caso do encarcerado a quem se declara: ‘Teu crime está expiado e perdoado’, o que equivaleria a se lhe dizer: ‘Podes sair da prisão’.”1 Tratavase, claramente, de dor-expiação, aquela que vem de dentro para fora, como ensina André Luiz ENTENDENDO A DOR-AUXÍLIO − “Se a tua mão ou o teu pé te escandalizam, corta-os e atira-os para longe de ti. Melhor é que entres mutilado ou manco para a Vida do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres atirado no fogo eterno.” (Mt 18:8) Esse aviso de Jesus, aconselhando-nos a recorrer à mutilação de parte do corpo físico, é uma alegoria que nos leva a admitir a existência da reencarnação, para evitar a mutilação moral em nossa peregrinação espiritual. Na obra “Ação e Reação”, encontramos o conceito de dor-auxílio, dado pelo Assistente Druso. Diz que “em muitas ocasiões, no decurso da luta humana, nossa alma adquire compromissos vultosos nesse ou naquele sentido. Habitualmente, logramos vantagens em determinados setores da experiência, perdendo em outros. Às vezes, interessamo-nos, vivamente, pela sublimação do próximo, olvidando a melhoria de nós mesmos”. Nesse caso, constatamos que, embora não causemos nenhum dano a alguém, causamos a nós mesmos. Cometemos enganos na existência terrena, deixando, muitas vezes, de multiplicar os talentos que nos foram concedidos pelo Alto. Aí, então, “pela intercessão de amigos devotados à nossa felicidade e à nossa vitória, recebemos a bênção de prolongadas e dolorosas enfermidades no envoltório físico, seja para evitar-nos a queda no abismo da criminalidade, seja, mais frequentemente, para o serviço preparatório da desencarnação, a fim de que não sejamos colhidos por surpresas arrasadoras, na transição da morte. Tais enfermidades “constituem, por vezes, dores-auxílio, para que a alma se recupere
“Se a tua mão ou o teu pé te escandalizam, corta-os e atira-os para longe de ti. Melhor é que entres mutilado ou manco para a Vida do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres atirado no fogo eterno.” (Mt 18:8) de certos enganos em que haja incorrido na existência do corpo denso, habilitando-se, através de longas reflexões e benéficas disciplinas, para o ingresso respeitável na Vida Espiritual”.2 Exemplo interessante de dor-auxílio nos oferece André Luiz, em outro livro seu, informando que um determinado Espírito reencarnará, com uma perna defeituosa, como medida preventiva. Importante observar que o defeito físico, no reencarnante, não terá nenhuma similaridade com a sua falta pregressa, que foi o excesso de vaidade. Acatando, humildemente, a proposta dos Espíritos devotados à sua felicidade, o futuro aleijado assim se expressa: “(...) preciso defender-me contra certas tentações de minha natureza inferior e a perna doente me auxiliará, ministrandome boas preocupações. Ser-me-á um antídoto à vaidade, uma sentinela contra a devastação do amor-próprio excessivo”.3 A deficiência física será uma ajuda, para ele combater, com mais facilidade, a vaidade, o amor-próprio exagerado que o prejudicaram em vida anterior. Não usou, indevidamente, a perna, como se depreende da sua manifestação, para o cometimento de qualquer falta, como concluiria, apressadamente, aquele que interpretasse o seu infortúnio, de forma linear, adotando o princípio de ação e reação. Comprova-se, assim, a real função da dor: amiga inseparável, na senda do nosso progresso moral e espiritual. Aquele Espírito “entrará na vida” – reencarnará – com a perna defeituosa, para que lhe sirva de intimidação, evitando que cometa “novos escândalos” e retorne a novos sofrimentos. Exemplo de dor-auxílio, que merece reflexão, quanto a nossa posição e pro-
“(...) preciso defender-me contra certas tentações de minha natureza inferior e a perna doente me auxiliará, ministrando-me boas preocupações. Ser-me-á um antídoto à vaidade, uma sentinela contra a devastação do amor-próprio excessivo”
cedimentos, diante da doença física que poderá nos acometer, quando em situação de queda moral, é o “caso Antídoto”, relatado no livro “No Mundo Maior”. Tratava-se de um pai de família que se entregara ao alcoolismo, tornando-se fácil para vampirizadores desencarnados. Após inúmeras tentativas de ajuda pelo aconselhamento e assistência indireta, “em atenção às intercessões da esposa e de dois filhinhos adoráveis”, o mentor Calderaro resolveu adotar um “recurso drástico”, para evitar uma queda maior e graves consequências para a família do vitimado pela obsessão. Assim resolvendo, aquele Espírito amigo encetou complicado serviço de passes, ao longo da espinha dorsal. (...) O assistente passou a aplicar-lhe eflúvios luminosos sobre o coração, durante vários minutos, causando uma parada súbita do coração de Antídio. Sendo socorrido por amigos, foi hospitalizado em estado grave, quando então concluiu o mentor Calderaro: “Antídio, por algum tempo, a partir de hoje, será amparado pela enfermidade. Conhecerá a prisão, no leito, durante alguns meses, a fim de que se lhe não apodreça o corpo num hospício, o que se iniciaria dentro de alguns dias, lançando nobre mulher e duas crianças em pungente incerteza do porvir. O infortunado amigo será portador de uma nevrose cardíaca, por dois ou três meses, aproximadamente. Debalde usará valeriana e outras substâncias medicamentosas; em vão, apelará para anestésicos e desintoxicantes. No decurso de algumas semanas, conhecerá intraduzível mal-estar, de modo a restabelecer a harmonia do cosmo psíquico. Experimentará indizível angústia; submeter-se-á a medicações e regimes, que lhe diminuirão a tendência de esquecer as obrigações sagradas da hora e lhe acordarão os sentimentos, devagarinho, para a nobreza do ato de viver”4. Esta natureza de sofrimento é muito distinta, pois, aqui, existe culpa do passivo da aflição. Ele sofre “por causa” e não “pela causa”. 1- KARCEC, Allan. A Gênese, editado pela FEB, Capitulo XV, item 14. 2- LUIZ, André. Ação e Reação, editado pela FEB, 2ª edição, pp 255/256. 3- LUIZ, André. Missionários da Luz, editado pela FEB, 14º edição, capitulo 12, p 168. 4 - LUIZ, André. No Mundo Maior, editado pela FEB, 3ª edição, capitulo XIV, pp 186/187. 2015 • setembro/outubro • Tribuna Espírita 9
Realezas Terrenas
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(Comentários a “O Evangelho Segundo o Espiritismo” – Cap. II:8) Google imagens
DENISE LINO
Campina Grande-PB
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seção Instruções dos Espíritos do Capítulo II de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (ESE) compõe-se de uma única mensagem. Trata-se de um depoimento intitulado “Uma Realeza Terrena”, autografado por um Espírito que se nomeia “Uma Rainha de França”. Para a compreensão do capítulo, intitulado “Meu Reino não é deste Mundo”, esse texto se mostra, deveras, interessante, porque exemplifica a realeza de Jesus a partir do depoimento de um Espírito que viveu a realeza terrena e que constatou, após a morte, não ser essa a que conta, para ingresso no mundo espiritual superior. Ou seja, em vez de coletar o depoimento de um Espírito superior que faria, certamente, uma excelente descrição do Mestre, o Codificador seleciona, pedagogicamente, um depoimento verídico de um Espírito que conheceu a glória terrena e a desilusão deste, quando desencarnou. Analisado, intrinsecamente, esse texto, também, se mostra muito interessante, pela coragem que tem o Espírito de desvelar-se, assumindo, por exemplo, na primeira parte, que o “orgulho fez que eu me perdesse na Terra”. “Quem, pois, compreenderia o vazio dos reinos terrenos, se eu não o compreendesse?” Portanto, essa condição justifica o fato de a autora começar o depoimento, afirmando que compreendia (em profundidade) 2 a sentença de Jesus de que o seu reino não era deste mundo. Ainda, na primeira parte do texto, que corresponde ao primeiro parágrafo, temos uma descrição avaliativa da sua situação após a morte, revelando quão iníqua mostrou-se a sua condição, no mundo espiritual. Os detalhes são reveladores da descoberta feita pelo Espírito: a) a condição de rainha não a acompanhou, seque,r até a tumba, o que, provavelmente, pode significar que, antes mesmo da morte, já houvera caído em desgraça, como ocorreu a tantos monarcas, ao longo da História; b) a inquietação, quanto à vida após a morte, pois, “Rainha eu era entre os homens, rainha eu acreditava entrar no reino dos céus”. Considerava a depoente que a condição material seria a senha de ingresso no mundo dos mortos; porém, qual não foi a sua surpresa, quando constatou que a sua condição de rainha não era suficiente para tal. Mais ainda, quando se viu na situação 10 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2015
que descreve como desilusão e humilhação, por ver, acima de si, muito acima, “homens” a quem desprezava por não serem nobres; c) e a percepção de quão estéreis são “as honrarias e grandezas que se buscam com tanta avidez na Terra.” Como podemos perceber, trata-se de um depoimento autobiográfico sobre uma descoberta que deve ter sido feita com muitas dores, como entrevemos pelas palavras desilusão e humilhação, pois, de rainha passa a indigente. Descoberta que inclui a percepção do funcionamento da lei do mérito – a cada um segundo as suas obras – ilustrada pela declaração sobre os que estavam hierarquicamente acima de si. Na segunda parte do texto, encontramos um roteiro para entrada no reino dos céus que se mostra, logo a princípio, com um indício da universalidade do ensino dos Espíritos, que é uma das categorias de análise kardequiana. Trata-se de uma paráfrase da Questão 886 de “O Livro dos Espíritos”, na qual o Codificador pergunta “qual o sentido da palavra caridade conforme a entendia Jesus?”. A resposta é, sinteticamente, conhecida como “BIP”: “ benevolência para com todos, indulgência das faltas alheias e perdão das ofensas.” A Rainha de França afirma que, para entrar no reino dos céus, “é preciso a abnegação, humildade, caridade em toda a sua celeste prática, benevolência para com todos. Não vos perguntam quem fostes, que postos ocupastes, mas o bem que fizestes, as lágrimas que enxugastes”. Em outras pa-
lavras, ela nos diz que o currículo válido, para entrada no mundo espiritual superior, está relacionado à ação no bem que, em geral, passa longe dos holofotes. Na terceira e última parte do texto, nos deparamos com uma súplica: “Tende piedade daqueles que não ganharam o reino dos céus. Ajudai-os com vossas preces, pois a prece reconcilia o homem com o Altíssimo – é o traço de união entre o céu e a Terra, não o esqueçais.” a partir da qual depreendemos a importância do sentimento de compaixão externado pela prece, para com os que não atingiram o reino dos céus. Quanto eles sofrem e, nunca, nos lembramos disso, principalmente aqueles, como a Rainha de França, que estiveram acostumados a todas as glórias efêmeras da Terra. Quem de nós já orou por algum deles? Quanto à universalidade do ensino dos Espíritos, anteriormente referida, vale, ainda, destacar a relação desse texto com dois outros, de duas importantes personagens da realeza que figuram no livro “O Céu e O Inferno”.3 O primeiro deles é o registro da evocação da Rainha de Oude, cujo diálogo demonstra que esse Espírito, ao contrário da Rainha de França, ainda se percebe rainha no mundo espiritual e demonstra muita insatisfação, por não ser tratada como tal, bem como, pelo fato de não ter servos à sua disposição. Outro texto de rara beleza é o depoimento da Condessa Paula, evocada 12 anos após a sua morte. Esse Espírito que havia vivido junto à realeza e, também, junto aos pobres e oprimidos, a quem hou-
vera atendido inúmeras vezes, descreve sua condição de felicidade no mundo espiritual, como decorrente dessa atuação caridosa. Ademais, revela o intenso trabalho desenvolvido no além-túmulo, reafirmando que a “Lei de Trabalho” vale, tanto para cá, quanto para lá. Com isso, o depoimento da Rainha de França, quando comparado a esses dois, parece colocá-la numa posição intermediária, posto que, já não mais esteja, na negação da de Oude, porém, ainda não atingiu o estágio de Paula, que se mostra um Espírito lúcido e devidamente incorporado às equipes de auxílio à Terra. Por fim, cabe destacar a atualidade desse texto, psicografado em Havre em 1863, há mais de um século e meio. A partir do depoimento do Espírito que foi uma cabeça coroada, podemos inferir a situação das muitas cabeças coroadas pela mídia, cujas realezas são, ainda, mais efêmeras do que aquelas a que se refere o texto. Realezas inspiradas em situações ligadas à vaidade, à exposição da imagem, ao culto ao corpo ou a qualquer habilidade que, como tudo na vida, são transitórias, mas que, num mundo ainda inspirado na filosofia materialista, são valorizadas. Para exemplificar, podemos citar o caso do ganhador do primeiro “Grande Fratello da Itália”, similar ao “Big Brother”, que se matou, três meses após ter vencido “reality show”, alegando, em correspondência deixada à família, que não suportava o ostracismo. Passando em revista outras situações como essa, concluímos, tocados de compaixão, que as preces pedidas pela Rainha de França não são destituídas de propósitos. E, antes que possamos dizer “Graças a Deus, não tenho nada a ver com isso”, nos lembremos de que não é preciso ser coroado, para nos sentirmos reis/rainhas, pois, em nossa infantilidade espiritual, nos sentimos, muitas vezes, como reis da cocada preta; ou seja, reis sem tronos, sem súditos, sem holofotes; todavia, nos comportando como se o mundo devesse girar em torno dos nossos interesses e desejos. Mais ou menos, como na narrativa infantil, Caloca – o dono da bola, desejamos nos “retirar”, cada vez que não concordamos com as regras do jogo. Ora, ora, se os coroados não são recebidos, como tal, no mundo espiritual, o que podemos dizer de nós, cujo reino é mera ilusão de ótica? Preces, por nós também, pois nossas ilusões, ainda, confundem nossos sentidos. Nesse sentido, parece que estamos mais para a Rainha de Oude do que para a Condessa Paula. Felizes seremos, se alcançarmos, durante a encarnação, a lucidez da Rainha de França.
Assistencialismo ou Serviço de Assistência e Promoção Social Espírita? ALÍRIO DE CERQUEIRA FILHO Cuiabá-MT
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m dilema que o movimento espírita se depara, ainda em pleno século XXI, é a confusão que existe entre caridade e assistencialismo. Muitas atividades assistencialistas ainda têm sido desenvolvidas, em nome da caridade, como se fossem atividades promocionais do Espírito imortal; mas, que, analisadas com critério, muitas vezes, concorrem para viciações muito difíceis de serem superadas. Essas atividades não se coadunam com o objetivo principal da Doutrina Espírita, que é a promoção da criatura a uma posição de maior evolução. É fundamental que o movimento espírita, em pleno século XXI, ressignifique as suas práticas, de modo que possamos aproximar o movimento dos postulados básicos da Doutrina Espírita. Em nosso movimento, temos confundido caridade com assistencialismo, a caridade, exclusivamente material, na qual praticamos filantropia. Vemos muitos dirigentes e trabalhadores das Casas Espíritas bem intencionados; mas, mal direcionados, por não meditarem, profundamente, sobre o axioma “Fora da Caridade não há Salvação”, cunhado por Kardec, incorrerem no erro de confundir caridade com assistencialismo, acreditando que, ao realizar essa prática, estão se salvando pela caridade. Todo o trabalho da caridade material só nos auxiliará, no processo de salvação, se estiver promovendo, tanto quem realiza a atividade, como aqueles que recebem os benefícios daquela tarefa. Se não promover, para melhor, o trabalhador do Bem e aquele que recebe a ajuda do trabalhador, não estará acontecendo, verdadeiramente,
esse processo de salvação. Por isso, é que Kardec coloca a caridade como critério de salvação e não o Espiritismo. Kardec diz que a caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola. Ainda, se confunde a caridade com a esmola. Muita gente acha que dar esmola é pegar um dinheiro no bolso e dar para um mendigo na rua. O conceito de esmola é muito mais amplo do que isso. Todas as vezes que, em nossas atividades assistenciais, dermos algo material para alguém, pura e simplesmente, sem realizar ações que promovam aquela pessoa, estaremos dando uma esmola. A esmola pode ser útil? Pode. O problema não é a esmola. O problema é só dar a esmola, gerando o assistencialismo, que é bem diferente da beneficência, que trabalha pela promoção espiritual do assistido. Se fizermos uma atividade, em nosso Centro Espírita, que vise, apenas, suprir uma necessidade material, não estaremos praticando a caridade, segundo Jesus. O trabalho de Serviço de Assistência e Promoção Social Espírita é aquele que, sempre, promoverá o Espírito imortal, na pessoa do assistido. A prática da beneficência, no Centro Espírita, como uma ação de verdadeira caridade, deve aliar as dádivas materiais ao desenvolvimento das “qualidades do coração”, tanto de quem assiste, quanto de quem é assistido. Se não houver o desenvolvimento das qualidades do coração, mas, apenas, o exercício do assistencialismo, nós estaremos oferecendo uma esmola que faz um bem transitório aos outros, mas, sem promover o Bem com “B” maiúsculo, que transforma, interiormente, tanto quem dá, quanto quem recebe.
1 - Texto escrito com base na palestra feita sobre o tema na Fraternidade Espírita Luz e Verdade, Campina Grande, em agosto de 2015. Para composição do texto, foi consultada a tradução de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” feita por Matheus Rodrigues de Camargo, publicada pela Editora EME, em 2004. 2- Parêntese nosso. 3 - Para a redação desse artigo, consultamos a tradução de “O Céu e o Inferno”, feita por Albertina Escudeiro Seco, para a editora Léon Denis, em 2008, versão em PDF. Google imagens
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Deve-se publicar tudo quanto dizem os Espíritos? GERALDO CAMPETTI SOBRINHO Brasília-DF
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m interessante artigo, publicado na “Revista Espírita” de novembro de 1859 , Allan Kardec, com inteligência, registrou, como título, uma pergunta que desperta curiosidade: “Deve-se publicar tudo quanto dizem os Espíritos?” E, inicia o texto, respondendo à questão com outra indagação: “Seria bom publicar tudo quanto dizem e pensam os homens?” O Codificador, certamente, conhecia as técnicas da boa redação, que independe do idioma. A redação de qualidade haverá, sempre, de atrair a atenção do leitor interessado no assunto. Pois há aquelas tão ruins que, nem mesmo, os interessados no assunto se dispõem a lê-las. No desenvolvimento do texto, Kardec explica que os Espíritos são as almas dos homens que deixaram este mundo. E, assim como os habitantes da Terra são de níveis diferentes, os que dela já partiram, também, formam comunidades distintas, compostas por indivíduos que preservam suas qualidades peculiares. Há homens bons e maus, inteligentes e ignorantes, assim como, também, existem Espíritos que revelam em seus comportamentos traços de bondade ou maldade, inteligência ou ignorância. No conjunto das comunicações espirituais, existem aquelas más, “que chocam qualquer ouvido delicado”, e outras que, simplesmente, são ridículas ou triviais. Seria conveniente publicá-las? Uma vez mais, reconhecemos a sabedoria do Codificador, que não nega, peremptoriamente. Esclarece que elas são impróprias. Mas, para efeito de estudo, com os devidos cuidados e corretivos, mesmo não sendo instrutivas, poderiam ser publicadas. Foi o que, didaticamente, fez o próprio Allan Kardec em “O livro dos Médiuns”. O que não se deve é tomar “como sérias, coisas que chocam o bom senso, 12 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2015
a razão e as conveniências”. Acompanhemos os inconvenientes elencados nesse artigo da Revista Espírita quanto à publicação das comunicações triviais ou ridículas: 1) indução ao erro: pessoas que não conseguem discernir o verdadeiro do falso ou que não têm condições de aprofundar os estudos sobre o assunto. 2) munição oferecida aos adversários: existem aqueles, sempre, prontos a criticar. Se forem alimentados em seus propósitos, mais se fortalecerão. Eles não se preocupam em separar o “joio” do “trigo” e, tomam a parte, pelo todo. Por isso, é recomendável cuidado, quando se trata de tornar públicas ideias, pensamentos, teorias – mediúnicas ou não. Allan Kardec pondera que “o erro de certos autores é escrever sobre um assunto, antes de tê-lo aprofundado, suficientemente, dando lugar, desse modo, a uma crítica fundamentada”. O texto sobre a conveniência e a oportunidade de certas publicações espíritas é concluído, com a importante lembrança de que os Espíritos se afinizam com os que lhes são simpáticos. E permanecem “onde sabem que serão ouvidos”. Não é conveniente, portanto, publi-
car as comunicações mediúnicas sem prévio exame ou correção. Isso seria “dar prova de pouco discernimento”. O Espiritismo é uma doutrina de liberdade. Quanto a isso, não há dúvida. O caráter de progressividade doutrinária conduz-nos a ponderar que não devemos incorrer em erros pretéritos de criar um “Index Prohibitorium”, relacionando obras a serem condenadas por julgamentos tendenciosos, simplesmente, por apresentarem ideias diferentes daquelas nas quais acreditamos e defendemos, porque as definimos como verdadeiras. Na Doutrina Espírita, não existem heresias. Por isso, ninguém será condenado por elas. Toda e qualquer pessoa tem o direito de se manifestar, livremente, sobre uma ideia, teoria ou aspecto doutrinário. Mas, isso não impede o igualmente direito e, sobretudo, dever das instituições espíritas de se expressarem no estabelecimento de orientações e diretrizes, quanto aos conteúdos que serão veiculados em publicações nas diferentes mídias, desde as mais tradicionais, como as impressas, até, as mais avançadas tecnologicamente, como as eletrônicas. Ao considerar essas observações, entendemos que os critérios de avaliação do conteúdo de um livro e de artigos de periódicos relacionam-se, principalmente, com três aspectos: nível de cobertura e exaustividade dos assuntos analisados; a atualidade dos temas ou da abordagem sobre eles; e a efetiva contribuição do título à área específica do conhecimento a que se refere.
1 - DEVE-SE publicar tudo quanto dizem os Espíritos? Reformador, ano 121, n. 2.092, p. 275-277, jul. 2003. Páginas da Revue Spirite. Tradução de Evandro Noleto Bezerra.
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A rede MAURO LUIZ ALDRIGUE João Pessoa-PB
“Igualmente, o Reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar e que apanha toda qualidade de peixes.”(Mt. 13:47)
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Parábola da Rede nos fala do momento de transformação que a Humanidade deverá passar. Significa o fim de um ciclo evolutivo, com o desaparecimento de todos os usos, costumes e instituições contrários à Moral e à Justiça. Quando Jesus se refere à expressão Reino dos Céus, podem-se aferir dois sentidos: o sentido objetivo e o subjetivo. Quando usada objetivamente, designa o mundo exterior; isto é, o universo do qual a Terra faz parte e onde habitamos, referindo-se aos lugares felizes do Universo, que são os mundos regenerados, os felizes e os divinos. Tomada no sentido subjetivo, essa expressão designa a tranquilidade de consciência, a paz interior, a felicidade íntima, a suavidade do coração, a calma interna, a fé viva em Deus, advinda da perfeita compreensão das leis divinas e de completa submissão à vontade do Senhor. O Reino dos Céus, para a Doutrina Espírita, é um estado de alma, reflexo da soma de caracteres positivos que já detemos e que vivenciamos na existência. Assim, lançar a rede, envolve trabalho, ação, operação meticulosa e inteligente, bem direcionada, e, portanto, a rede, como instrumento, deve estar, sempre, pronta e bem cuidada, apta para o trabalho. Essa rede pode ser compre-
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endida, como a lei de amor, inscrita por Deus em todas as consciências, e, os peixes por ela apanhados, são os homens de todas as raças de todos os credos, que serão avaliados, segundo as obras construídas em suas vidas. A lei de amor nos oferece os instrumentos necessários, para navegarmos no “mar da vida” com segurança. Estes instrumentos são: a inteligência, a saúde, a palavra, os recursos financeiros, o aprendizado, a família, os amigos, o apoio religioso, a renúncia, a abnegação etc. A arte da convivência pacífica demonstra a importância de saber lidar com todas as pessoas em sociedade, aprendendo a importância de cada uma delas, que nos oferece, além do aprendizado da convivência, os seus valores, a sua contribuição em nosso aprendizado de vida, como de sentimentos. Temos a liberdade de agir, fato que define nossa conduta perante a sociedade, sendo que o correto é seguir as diretrizes do Bem, acertando nas escolhas, observando, com atenção, as pessoas e os acontecimentos. Ora, devemos trabalhar o silêncio; ora, usar de palavras iluminativas, ora o exercício da paciência, ora a ação em ações caritativas; enfim, em tudo, nos conduzir em Deus. Avaliando os resultados da pesca simbólica, nos é oferecida uma avaliação de nossa existência. A cada momento, fazemos nossas escolhas, operando as mais variadas frentes, pela seleção de companhia, situações, interesses e desejos. Em consequência, deparamos com o resultado do livre-arbítrio: positivos ou negativos. Os pontos positivos são as vitórias espirituais que nos fazem ascender na escala evolutiva. Os resultados negativos serão lançados, no mar da existência, para que ocorram as devidas retificações, no momento apropriado, determinado pela “Lei de Causa e Efeito”. Isto, no plano individual.
No plano coletivo, podem ser aplicados esses ensinamentos da Parábola, nas transformações que, coletivamente, acontecem na Humanidade. As convulsões físicas e morais que, presentemente, assolam o planeta são indicativas da existência de um estado de transição que a Humanidade passa. É preciso, pois, muita prudência, no agir, uma vez que “as redes” do Evangelho foram lançadas há tempos. Se nos mantivermos fiéis aos ensinamentos do Cristo, com os esclarecimentos da Doutrina Espírita, não devemos temer, porque o Bem prevalecerá. Porque Jesus está no comando. A consumação dos séculos indica, apenas, que um período está finalizando e iniciando outro, marcados pelas inevitáveis transições. Na Terra, irá reinar o Bem e, para tanto, os Espíritos que não alcançarem tal condição, serão oferecidas outras moradas que estarão em condições de recebê-los, dentro da misericórdia divina. O pranto e o ranger de dentes são as provações amargas que nós, os Espíritos endividados, imperfeitos, perante as leis divinas, deverão passar, para retomar as existências de reparação das escolhas erradas que foram tomadas. O infrator estará no local em que se caracterizaram as suas faltas, através das reencarnações futuras, reajustando a marcha evolutiva. No momento de transição por que passa o Planeta, ninguém encontra o tesouro da experiência, no pântano da ociosidade. É necessário acordar com o dia, seguindo-lhe o curso brilhante de serviço, nas oportunidades de trabalho que ele nos descortina. A existência terrestre é passagem para a luz eterna. Que sejamos alcançados pela rede lançada, oferecendo os nossos préstimos, nas obras eternas do Bem. 1-FEB. “Estudo aprofundado da Doutrina Espírita”. Brasília, 2013. Livro II, parte 1.
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Temor da Morte - Educação para a Vida
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esde os primórdios da Humanidade, houve, sempre, forte preocupação dos mais velhos, em transmitir e retransmitir o conhecimento acumulado aos mais novos. Os anciãos, detentores naturais do conhecimento pela experiência pessoal, selecionavam aqueles mais curiosos e adestrados do clã e a estes transmitiam os ensinamentos orais, garantindo, desta maneira, que a cultura e a própria sobrevivência da tribo fossem asseguradas, para o incerto porvir. Participando de caçadas perigosas e longas viagens, em busca de alimentos para os demais, o demorado contato com os mais experientes combatentes da tribo já se constituía em ponto fundamental de aprendizado, para a sobrevivência do grupo, em que todos estavam inseridos. Com a descoberta da escrita, na utilização do carvão oriundo das fogueiras primitivas e certas tinturas de origem vegetal, a grafia, em paredes de escuras cavernas, ganhou forma e os ensinamentos passaram, tanto a ser orais, como escritos, ensejando a preservação da memória coletiva, em caracteres indeléveis para a posteridade, o que muito contribuiu, para a conservação dos hábitos coletivos de então, servindo, hoje, como material de pesquisa, para que arqueólogos e historiadores possam compreender como se 14 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2015
deu a formação dos primeiros agrupamentos humanos, na superfície da Terra. Advindo a Mitologia, como herança ancestral (1), os santuários edificados passaram à condição de escolas religiosas, herméticas, onde os poucos iniciados, ali admitidos, travavam contato, não somente, com lições para a vida material, mas eram adestrados, sob orientação de sacerdotes mais experientes, para manterem contato com as forças do mais além, ampliando o conhecimento sobre a transcendência da vida. E era natural que, no contato com estas forças ignoradas e ocultas, estivesse implícito o conhecimento sobre a vida e sobre a morte. Ainda profundamente assinalada pelos mistérios mitológicos, surgem, nas civilizações mais antigas, os germens das religiões ancestrais, possuidoras de forte conteúdo teologal místico, ajudando a decifrar os enigmas que acobertam a morte, bem como, buscando elucidar como se dá a passagem que se opera entre o mundo material e o mundo espiritual. Os livros antigos passaram a conservar esses ensinamentos, conquanto estivesse sua linguagem marcada por parábolas e passagens, nem sempre, traduzíveis ao leigo. Começava a se edificar, no seio das civilizações, uma casta sacerdotal que de-
tinha o conhecimento sobre os mistérios da vida e da morte, mantendo contato mais estreito com os Espíritos dos mortos e com o próprio Deus. Surge a era do profetismo, dos patriarcas e de todos aqueles que presumiam possuir um contato exclusivo com o mundo espiritual. Inseridos nas comunidades onde viviam, passariam à condição de intérpretes de Deus (ou dos deuses), orientando reis e déspotas transitórios. Eram, também, chamados de oráculos e profetas. Os sem prestígio eram tachados de simples adivinhos, feiticeiros, sem qualquer valor ou consideração social, credores da lapidação pública e, mesmo, da morte (2). Entretanto, a par do imenso e caudaloso rio de conhecimentos, que esse intercâmbio proporcionava, essa casta de iniciados nunca patrocinou, junto à massa de povo, a devida educação na vida para a morte, mantendo a esmagadora maioria da população, em completa ignorância e subserviência, alimentando o medo do desconhecido, o que acabou por criar um fabuloso poder teocrático e material, a erguer e sustentar impérios e nações, que se tornaram célebres, num passado remoto da história social e cultural humana. A casta sacerdotal era sabedora dos mistérios do além-túmulo e sonegava
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esse conhecimento ao populacho, temerosa de perder o prestígio que a detença deste conhecimento carreava, fruindo, juntos aos reis e imperadores de então, poder e mando, quase que sem limites. Com a chegada de Jesus à Terra, uma nova era abriu-se, nos horizontes culturais, e religiosos dos povos, pois que o Divino Embaixador trazia a prerrogativa do Pai de comandar todos os Espíritos domiciliados no planeta (3), que lhe estavam submetidos à evolução impar, pelo que, não somente, Ele interrogou os desencarnados, em memoráveis diálogos, como os socorreu com infinita misericórdia (4), proclamando, serem eles os homens e as mulheres que estiveram, outrora, na Terra, vestidos de carne, usando, para isto, de expressões próprias, para entendimento dos seus coevos. Enalteceu Deus, como uma Inteligência Suprema e Pai, não somente, para os judeus, mas, igualmente, estendeu essa paternidade para os gentios (5). Proclamou o amor, como base para a vida e recomendou que cada um se abstivesse de promover escândalos, pelos quais cada um responderia, no tempo oportuno (6), e, diante da morte, assegurou-nos vida abundante, afirmando esta não existir, havendo, tão somente, vida, aqui ou no mais além (7). Morto, venceu a noite vazia do sepul-
cro e retornou aos seus, no terceiro dia, confirmando, por este episódio, suas palavras, ditas junto ao povo sofrido (8). Dezoito séculos após o drama do Calvário, regressam dos túmulos os próprios imortais, reinaugurando, na França exausta do século XIX, a “Nova Era” de que ele se fizera Excelso Diplomata do Pai, trazendo Jesus, de volta ao seio das massas descrentes e intoxicadas de materialismo, testemunhando, por seus inquestionáveis pareceres científicos, que o Espírito sobrevive à decomposição cadavérica, sendo imperioso educar-se para a vida, atravessando os umbrais do sepulcro, em paz. Pelo conhecimento que espargiu, antecipa como será a grande transição. Pelo contato direto que estabeleceu com as vozes que atravessaram a aduana sepulcral, robusteceu a certeza de que eles prosseguem vivos, sendo-lhes permitido, pelas Leis de Deus, volverem, depois de vencida a perturbação post-mortem, ao convívio com os afetos que ficaram na retaguarda, consolando-os e instruindo-os, para a grande viagem que todos farão um dia. E estas comunicações, tanto consolam, como instruem. Pelo exercício na própria mediunidade, antecipadamente, visitam os médiuns, o grande lar de onde se apartaram um dia e, nele, junto aos afetos que os antecederam, alimentam-se da inquebrantável certeza de que a vida continua, após o decesso cadavérico, somente perecendo este, por ser constituído de matéria perecível. Ao Espírito imortal está destinado o triunfo entre as estrelas. Pelas meditações e reflexões, em torno da impermanência de tudo que é material, conclui-se que a vida não se concentra, unicamente, no corpo precário, nem é esta extinta pelo advento da anóxia cerebral, antecedendo à concepção e su-
cedendo à decomposição orgânica, triunfando, sobre os caprichos elaborados pela organização atômica. E, pela prece, nos fortalecemos em Deus, que é Senhor de vivos e não de mortos, a todos os filhos ofertando o tesouro do tempo e a preciosidade do carro carnal, estágio educativo que nos compete utilizar, como estágio de aprendizado para a vida, enaltecendo-a, como sublime curso de progresso e evolução para a grande viagem, inevitável para todos, de regresso ao país da luz, onde a morte é palavra obsoleta, tudo, nele, transpirando vida e vida em plenitude, a nos arrebatar, em um turbilhão de alegrias duradouras, facultando uma convivência demorada, com todos aqueles amores que nos antecederam, nos firmando, em definitivo, a certeza que a vida é perene, a passagem pelo corpo, simples estágio de aprendizado, e a morte carnal, comboio que nos devolve ao porto de partida, nos situando no colo de Deus, para a felicidade sem jaça. Vianna de Carvalho (Página psicografada pelo médium Marcel Mariano, em 20.09.2015, em Barreiras-BA.). Notas indicadas pelo autor espiritual: 1) Após superação dos estágios na Litolatria (adoração a pedras tidas como sagradas) e Fitolatria (adoração a vegetais); 2) Ficou célebre, na historiografia bíblica, a visita oculta que o Rei Saul fez a uma pitonisa, na cidade de Em dor, quando este rei solicitou entrevista com o defunto Rei Samuel – 1 Samuel, 28 : 1 a 25; 3) Mateus, 28: 18; 4) Marcos, 5: 7 a 9; 5) Mateus, 28: 19 e 20; 6) Lucas, 17: 1 e 2; 7) João, 10: 10; 8) Mateus, 20:17 Nota do autor espiritual: Com a presente página, buscamos homenagear a passagem dos 150 anos de aparecimento, na cidade de São Salvador, do primeiro Grupo Espírita do Brasil (Grupo Familiar do Espiritismo), fundado em 17.09.1865, pelo pioneiro Luiz Olímpio Telles de Menezes.
2015 • setembro/outubro • Tribuna Espírita 15
(PARA QUEM NÃO SABE QUEM FOI ALLAN KARDEC, POR NÃO SE TER INTERESSADO, OU NÃO TER SIDO DEVIDAMENTE ESCLARECIDO, AGORA, OFERECEMOS ESTA PÁGINA, A TÍTULO DE CONHECIMENTO.)
Quem foi
Allan Kardec? AZAMOR CIRNE João Pessoa-PB
T
orna-se importante e satisfatório, mesmo, conhecermos as fases que se completam, na vida de um dos maiores missionários do nosso Globo. São as vias do antes e do depois de: “O Educador”, “O Pesquisador”, “O Codificador” e de “O Livro dos Espíritos” (marco inicial da Doutrina Espírita). No segundo quartel do Século XIX, falar em religião era tempo perdido, pois o Cepticismo ou, mesmo, o Positivismo tinham a preferência das elites. Vejamos, então, quem foi Allan Kardec, o futuro codificador da Doutrina Espírita, na sua primeira fase, como o brilhante educador, imbuído da visão de adaptar o ensino escolar às novas exigências da época, em sua Pátria. O Educador Hippolyte Léon Denizard Rivail, ou simplesmente H. L. D. Rivail, como assinava em seus livros, mundialmente famoso, pelo pseudônimo Allan Kardec, nasceu na cidade de Lyon, França, no dia 03 de outubro de 1804, sendo descendente de família católica. Seu pai, Jean-Baptiste Antoine Rivail, era advogado e sua mãe, Jeanne Louise Duhamel, do lar. Realizou seus primeiros estudos, em sua cidade natal, e, em 1814, seus 16 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2015
genitores o enviaram para Yverdun, na Suíça, às margens do Lago Neuchâtel, onde ingressou no mais célebre instituto pedagógico de toda Europa, ali instalado, em 1805, pelo professor Johann Henrich Pestalozzi. Rivail permaneceu, naquela Instituição de Ensino, até 1822 (os registros não são exatos). Nesse período, conviveu com estudantes de diferentes nações e idades, tendo se revelado um dos discípulos mais fervorosos do método pestalozziano. Destacou-se, pelo hábito da investigação, e tornou-se, com o tempo, um submestre; ou seja, colaborador ativo dos professores. Quando Pestalozzi se ausentava, para difundir a sua escola pedagógica em toda a Europa, Rivail substituía o mestre, pois uma das técnicas empregadas, a “escola comunitária” era de os mais velhos ensinarem aos mais jovens. “Em sua doutrina, Rivail encontrou o modelo do homem íntegro que ele mesmo foi e que se tornou, também, o ideal da moral espírita”. (André Moreil, um dos seus biógrafos) Entre 1822 e 1823, Rivail já estava domiciliado na cidade de Paris, ostentando os diplomas de Instituteur (mestre das escolas primárias e secundárias)
e Chef d´Institution (diretor escolar). Falava alemão, inglês, italiano, espanhol e, obviamente, francês, sua língua-mãe. Em 6 de dezembro de 1823, a “Bibliografia da França” registrava o lançamento do primeiro livro do Professor H.L.D. Rivail: “Curso Prático e Teórico de Aritmética”, cujo subtítulo era “de acordo com o Método de Pestalozzi”. Trabalhando durante o dia, reservava o horário da noite, para escrever livros didáticos, fazendo traduções e preparando cursos; tudo isso, numa época em que Thomas Edison (18471931), ainda, não houvera inventado a lâmpada elétrica (1879); nem o Padre Azevedo (1814-1880), a máquina de escrever (1861). Sobrava-lhe, ainda, tempo, para ensinar Química, Física, Astronomia e Anatomia Comparada, no “Instituto Técnico Rivail”, entidade que fundara, com a participação de amigos. O ensino era gratuito, para os que não podiam pagar. Era membro de várias sociedades culturais. Publicou livros especializados, de grande aceitação, com muitas reedições nas escolas, inclusive, na Universidade de Paris e no Liceu Polimarco. Em 1831, publicou o trabalho: “Qual o sistema de estudo mais em harmonia
com as necessidades da época?”, que lhe mereceu um prêmio em concurso. Em 1832, foi agraciado, novamente, porque “encontrou no mundo das letras e do ensino, que ele frequentava em Paris, a senhorita Amélie Gabrielle Boudet, que viria a ser sua esposa e companheira de ideal de todos os instantes da sua vida.” (Henri Sausse, outro dos seus biógrafos). Contribuindo com livros, cursos e planos educacionais que incentivaram a reforma do ensino na França, promoveu a educação de crianças, jovens e adultos – pobres e ricos! Valorizando a sua vocação, como emérito educador, cumpriu a sua missão de impulsionar a educação, sem preconceitos, nem discriminação, levando ao entendimento de que o progresso da sociedade depende do progresso dos homens que a compõem. Hippolyte demonstrou, assim, estar apto a outra missão universalista que o aguardava: a de “Codificador da Doutrina Espírita”. O Pesquisador Em 1854, Allan Kardec, ainda conhecido como Hippolyte Léon Denizard Rivail, encontrou um dia o magnetizador Fortier, a quem conhecia desde muito tempo, e tomou conhecimento pela primeira vez das “mesas girantes” que estavam sendo motivo de passatempo, divertimento, tão em voga, nos salões de Paris, onde não faltavam, os interessados em saber do futuro, da sorte nos jogos e nos casamentos, etc. Por tal assunto, o professor Rivail não demonstrou qualquer interesse. Algum tempo depois, esse seu amigo retornou com o mesmo assunto. Falou-lhe dos fenômenos das mesas, com muito entusiasmo: “Temos uma coisa muito mais extraordinária; não só se consegue que uma mesa se mova, magnetizando-a, como também que fale. Interrogada, ela responde”. Ali, estavam duas pessoas, dois modos de ver a mesma coisa: o Sr. Fortier, tomado de entusiasmo, e o professor Rivail, assumindo uma atitude positivista, como era de ser ver à época, respondeu: “Quanto a isso é outra coisa; só acreditarei, quando puder ver os fenômenos com os próprios olhos, e quando me provarem que mesa tem cérebro, para pensar; nervos, para sentir e que possa tornar-se sonâmbula.” Dizia isto, porquanto, até ali, tudo lhe parecia um conto de fazer dormir em pé. “As mesas respondem, por meio de pancadas. A cada letra corresponde um determinado número de pancadas”, reafirmou outro magnetizador, o Sr. Carlotti, e enfatizando, mais: “Ainda, serás um dos nossos”; ao que respondeu Hippolyte, com o seu costumeiro equilíbrio: “Não digo o contrário. Veremos isso, mais tarde”.
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Esse diálogo teve sua razão de ser, pela revelação antes apresentada por Fortier; assim como, pela exigência da prova, exigida por Hippolyte que, também, participava com esse amigo, de um grupo de estudo sobre magnetismo. “Bastante conhecido e admirado, o Sr. Rivail mostrou-se, sempre, à altura da gloriosa missão que Lhe estava destinada. A sua formação cultural, o seu caráter íntegro, aliado à observação metódica, puseram-no ao abrigo, tanto dos entusiasmos sem motivo, como das negações injustiçadas”, disse Henry Sausse. Pouco tempo depois, foi o professor à casa da Sra. Roger, em companhia do Sr. Fortier, onde conheceu o Sr. Pâtier e a Sra. Plainemaison que, na oportunidade, o convidou para as sessões que realizava em sua casa, na Rua Grange-Batelière, 18. Ele foi, viu e chegou, mesmo, a declarar: “Foi, pela primeira vez, que testemunhei o fenômeno das mesas que giravam, pulavam, e corriam, em posições tais, que dúvida nenhuma seria possível”. Na mesma ocasião, pôde observar alguns ensaios de escrita mediúnica sobre uma lousa, com o auxílio de uma cesta. Essas conclusões e afirmações a que chegou Rivail nos levam às declarações finais daquele diálogo havido entre ele e o Sr. Fortier, linhas atrás.
Em uma das sessões realizadas na residência da Sra. Plainemaison, travou conhecimento com a família Baudin que residia, então, na Rua Rochechourt. Convidado a participar das reuniões espíritas dessa família, aceitou, imediatamente, sem que percebesse, que Espíritos superiores estavam procedendo a um sutilíssimo trabalho de atração do ilustre pedagogo, levando-o ao cenário, aonde ele, com tirocínio e bom senso, iria realizar uma das maiores missões já confiadas a um Espírito, no plano corpóreo. Foi muito satisfatória a sua ida à casa da nova família, tendo a oportunidade de, ali, encontrar vários amigos, entre os quais Carlotti, amigo de 25 anos, a primeira pessoa que lhe falara das “intervenções dos Espíritos” nos fenômenos das mesas; René Taillandier (membro da Academia de Ciências); Tiedeman-Manthèse; o dramaturgo Vitorien Sardou e o editor Didier, que puseram, em suas mãos, mais de cinquenta cadernos em que se encontravam registradas comunicações espirituais dos últimos cinco anos. Hippolyte entregou-se ao estudo racional e experimental do Espiritismo do qual iria estabelecer as bases doutrinárias e científicas. 2015 • setembro/outubro • Tribuna Espírita 17
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Você vai morrer!!! E agora? LISZT RANGEL Recife-PE
A
reflexão, acerca da própria finitude, remete o indivíduo ao desespero e, ao mesmo tempo, ao manejo de todos os recursos disponíveis, para tentar evitar o inevitável, que a grande mensageira da verdade está galopando, velozmente, em sua direção. Sabe-se, quando ela chegará? Não! Ou, ao menos, sabe-se por que você, entre tantas pessoas, foi escolhido para morrer? Também não, se sabe esta resposta. Porém, a única certeza que qualquer o homem tem, é a de que vai morrer. Aliás, já passou a morrer, desde o instante em que começou a viver. Entretanto, saber que a morte está mais próxima do que se pensava e esperava, é algo, por demais, chocante. Segundo Kübler-Ross (1996), o paciente, quando recebe a notícia de que o término de sua existência está próximo, geralmente, ele atravessa algumas fases, no contato com o morrer e com a sua morte. Porém, ela adverte que, nem todos passam pela mesma ordem sequenciada, e há outros pacientes que estacionam, em algumas das fases do morrer. Ao saber que se encontra vítima de uma doença fatal, como certos tipos de câncer, por exemplo, naturalmente, a primeira reação do paciente é Negar. Frases do tipo, “quem tem câncer é sua mãe, doutor!!!” Ou, “Eu??? Com câncer? Que brincadeira é esta?” E se dirige aos familiares, dizendo: “Ele está louco, me dizendo que tenho ‘aquela’ doença”. A negativa e o medo da doença são tão intensos, que muitas pessoas, nem falam o nome câncer, chamando a doença de “aquela” ou, simplesmente, “aquela que começa com C”. Já pude presenciar uma mulher, 56, vítima de um câncer no aparelho reprodutor, que, nunca, chamava a doença pelo nome. Ela, apenas, dublava a palavra, sem emitir o som. E, assim, ela contava às pessoas, como estava o tratamento; mas, na hora de falar a palavra câncer, ela, apenas, movimentava a boca, como se fosse uma mímica labial. Quando questionei o porquê de ela nunca emitir o 18 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2015
som da palavra, ela me disse que era porque, no hospital, não tinha madeira, para bater três vezes; pois, falando a doença, a mesma não a deixaria e, tocando na madeira, ela seria isolada da doença. Ao lado desta negativa do paciente terminal, também, aparece a negativa da família. Posturas como, “Não, isto só pode ser um erro médico”, ou, a mudança de médicos e toda uma bateria de exames, sendo repetida, diversas vezes, denotam a fuga, para diminuir o choque da doença. Entrar em contato com morte do outro, também, nos apavora, porque nos mostra o quanto somos frágeis. Do ponto de vista psicológico, a negação é uma tentativa do psiquismo do paciente, de diminuir os danos emocionais e psíquicos, ao receber a notícia de que seu fim está perto. E, o pior de tudo, é que ele não se preparou, para ele. Mas, antes de ele pensar que é hora de ir embora deste mundo, a Dra. Kübler-Ross percebeu que muitos são tomados pelo segundo nível do morrer, o da Revolta. Geralmente, o paciente que foi cristão a vida toda, usa, como principal alvo de sua indignação, Deus. Sim, até, porque o “deus dos cristãos” é o “deus das lacunas”. Ora, ele está presente, preferencialmente, quando tudo está bem, ora, ele não está, quando tudo vai mal. Sendo assim, ninguém melhor do que Deus, para ser o culpado de nossa dor e morte. Frases do tipo, “Os desgraçados deste mundo, que vivem aprontando na vida, vão viver, e eu vou morrer?” “Por que eu, Deus?”, “Por que o senhor fez isto comigo?” “Por que me escolheu?” “Com tanto bandido, por aí, logo eu?” Esta postura revela traços egoístas do paciente, e, não apenas, o desejo de continuar a viver. Ele está revoltado; não é, porque ele vai morrer, mas, porque outros que, na visão dele, não merecem viver, vão continuar gozando. Isto é muito observado, por profissionais da saúde; bem como, por psicólogos que atuam em hospitais. O paciente maltrata os auxiliares; grita com
os colegas de quarto; joga o alimento no chão; nega-se a dialogar, educadamente com o médico; usa de ironia, enfim... até que, um dia, ele desperta, pela manhã, e algo nele começa a mudar. Quando ele começa a viajar pelo mundo, tentando tratamento em tudo que é país, gastando o dinheiro da família, ou, quando se põe a pedir, em preces pela sua cura, a voltar o olhar para Deus, buscando fazer as pazes e bater na porta de Terreiros, Centros Espíritas, ou regressa para o Catolicismo, religião tradicional, à qual pertenceram seus pais, ou chega, até mesmo, a apelar para a Igreja Universal, ele está entrando na terceira fase, a Barganha. Ele, agora, usa a caridade, “é bonzinho”; pensa nos meninos da creche, nos velhinhos do abrigo, tenta fazer o bem, até, à sogra. Outros, buscam terapias alternativas, com luzes, cristais, energizações, banhos de lama; fazem penitências, ou seja, o desespero os toma, e, nesta hora, vale tudo! Se, por um lado, este é um mecanismo de defesa usado pelo paciente contra a dor psíquica; por outro, ele está adiando o que terá que enfrentar, em breve: a sua morte. Mesmo ignorando, não é a morte a sua única acompanhante, nesta hora; mas, a vida está operando, em transformação em seu íntimo e, não apenas, em seu corpo. E, pensar na morte, após ter recorrido a tudo para escapar dela, leva-o ao quarto estágio do morrer, a Depressão. Deprimido, o paciente não deseja ver ninguém, não quer visitas, manda dizer que não está em casa, se isola no quarto, também não se alimenta... porém, não se deve pensar que ele está se entregando. Não, não é isso! Ele, agora, começou a refletir sobre sua doença e está revendo sua vida, como se estivesse arrumando a mala para viajar. Ele abre o guarda-roupa e diz, para si: “Por que guardei esta peça, por tanto tempo, dentro de mim? Será que foi isso que me adoeceu? “Por que não me desfiz das mágoas?” “Por que não vivi aquele grande amor e fugi, covardemente?”, “O tempo
passou, tão rápido para mim, e não tive as oportunidades que queria; mas, também, as que tive e não as aproveitei.” Após esse período, quando ele pedir para comer ou para abrir a janela; quem sabe, pedir que alguém o ajude a organizar o testamento, ou, simplesmente, pedir para que lhe tragam o álbum da família é, porque ele está pronto! Entrou na quinta fase, a da Aceitação. O que não quer dizer resignação. O paciente, diz para si “bem, como não tem outro jeito, eu vou!” Lembro-me de Jussara, 42, também, com câncer, mas, distribuído em três partes do corpo. Dois filhos, um menino e uma menina, cinco e oito anos, respectivamente. Vieram buscá-la, na casa da prima, a pedido de Jussara que desejava morrer ao lado do marido que havia ficado, no interior, enquanto ela se tratava, na capital. Ela me disse, na saída: “Não nos veremos mais, nem nos falaremos, Liszt. Agora, devo voltar, enquanto ainda há tempo, para pedir
perdão àqueles a quem fiz mal.” E se foi. Foi-se, primeiro, para o interior. Reconciliou-se, com seus desafetos; depois, ela se foi para outra realidade, haja vista, tudo o que nos cerca tratar-se de uma grande ilusão. E ela, só, foi, porque as malas estavam prontas. E, que bom, quando dá tempo de arrumar as malas. Por isso, como nunca sabemos quando a dama da morte, a grande mensageira da verdade nos visitará, é, sempre, bom deixar algumas peças já arrumadas na mala, porque, quando o trem chegar na sua estação, você não esqueça de estar de posse de seu bilhete. Também, é bom, evitar aqueles shows e espetáculos de certos familiares que, mais atrapalham o moribundo, do que o ajudam em sua libertação. O doente terminal que estacionou, em uma das fases, também, não ajuda, dando vexames, do tipo: “eu não quero ir, eu, ainda, tenho tanto o que fazer, por aqui...” e começa a chamar, pelo
Painel Espírita
Bibliografia: KÜBLER-ROSS, Elisabeth. “Sobre a morte e o morrer”. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
ELMANOEL G. BENTO LIMA João Pessoa - PB
Evocação de Clientes Desencarnados Um médico poderia, sim, evocar seus clientes que faleceram, para explicar qual o motivo da sua morte, para, daí, enriquecer suas experiências sobre os tratamentos. No entanto, de inicio, é necessário saber quais as intenções desse médico. O entrave a esse benefício, para a Medicina, no que tange à ganância. Os ricos e poderosos têm bons tratamentos, mas, quem não tem dinheiro, às vezes, morre nas portas dos hospitais, ouvindo que não há vagas. Ao rico as vagas sobram e a assistência lhe é redobrada. Os guias espirituais não permitem as revelações citadas, por tais ou quais faltas que não são corrigidas, mesmo, com os médicos ouvindo como devem proceder, diante de tais revelações. Mais ainda, as descobertas, os diagnósticos são trabalhos dos médicos, alguns dos quais são ajudados pela inspiração, quando o doente tem crédito para tal favor. Se o Espírito do paciente voltasse, por intermédio de um médium, para dizer sobre as falhas do clinico, não iria adiantar muito, porque o enfermo, somente, recebe o que merece na pauta do tempo. A vantagem, para o médico não evangelizado, em saber mais que os outros, seria puramente a fama. que ele, sempre, usa para rechear mais os bolsos. Zelar, pela saúde coletiva, é dever do Estado, onde todos deveriam receber o mesmo tratamento. Se Deus quisesse, ele enviaria grandes Espíritos à Terra, com a finalidade de indicar remédios, bem como tratamento, para que o homem ficasse imune a todas as doenças, livre de todos os sofrimentos, ao passo que a dor, mesmo sendo
nome dos parentes, e grita e chora. Ora essa, você, em vida, foi um vitorioso, chegou chorando, quando nasceu, é verdade; mas, por que, justo na hora de partir, não sai de cena, sorrindo? Na verdade, somente sabe, portanto, morrer bem, quem soube bem viver! O problema não é a morte, apenas, é o morrer que se torna inaceitável. Então, como terapia pessoal, é bom, de vez em quando, se perguntar: “Eu vou morrer, e agora?” Ou, então, usar outra sugestão: “Eu morri! Como me sinto agora?” Geralmente, dá uma angústia. Pode ter, como causa, os preconceitos sobre o assunto, ou pode ser a sensação de finitude, ou, quem sabe, o pior, a prova que tínhamos muitas coisas, para fazer, e que deveríamos tê-las feito. Então, façamos, enquanto ela não nos surpreende. Que tenhamos, todos, uma boa morte!
Que Despertas?
rejeitada, é grande instrutora, junto aos homens. Isto, para que apressem a educação; através dela é que a alma compreende o valor da saúde e passa a amar aos seus semelhantes. No estágio atual da Humanidade, o homem não pode tirar a dor do seu caminho, devido à necessidade de despertar seus valores internos, o que, somente, o faz, pelo sofrimento. Quanto mais a ciência busca remédios, mais surgem desequilíbrios orgânicos e, às vezes, psíquicos, para, no amanhã, o encarnado sentir a necessidade da harmonia mental, que lhe custa o esforço próprio, na sua autoeducação. E um médico, que só acredita no que ele faz, deixa de ajudar ao que precisa de outros métodos de tratamento. A própria Ciência está se dividindo, para melhor atender às necessidades humanas. Para um médico corrigir determinadas falhas cometidas, basta, somente, se entregar às experiências, por motivos de benevolência, com amor à causa, sem visar riqueza. Sem pensar no pobre, onde fica a caridade? Fonte: Simplificação e adaptação do cap. 40 do tomo VIII da obra “Filosofia da Mediunidade”, do Espírito Miramez, pela psicografia de João Nunes Maia, Edit. Fonte Viva.
O conquistador de glórias sanguinolentas espalha terror e ruínas, por onde passa. O político astucioso semeia a desconfiança e a dúvida. O juiz parcial acorda o medo destrutivo. O revoltado espalha nuvens de veneno sutil. O maledicente injeta disposições malignas nos ouvintes, provocando o verbo desvairado. O caluniador estende fios de treva, na senda que trilha. O preguiçoso adormece as energias daqueles que encontra, inoculando-lhes fluidos entorpecentes. O mentiroso deixa perturbação e insegurança, ao redor dos próprios passos. O galhofeiro, com a simples presença, inspira e encoraja histórias hilariantes. Todos nós, através dos pensamentos, das palavras e dos atos, criamos atmosfera particular, que nos identifica aos olhos alheios. A sombra de Simão Pedro, que aceitara o Cristo e a ele se consagrara, era disputada pelos sofredores e doentes que encontravam nela esperança e alívio, reconforto e alegria. (N. T. - Atos, 5:15: “De sorte que transportavam os enfermos para as ruas e os punham em leitos e em macas, para que, quando Pedro passasse, ao menos, sua sombra cobrisse alguns deles.”) Portanto, examina os assuntos e as atitudes que tua presença desperta nos outros. Com atenção, descobrirás a qualidade de tua sombra e, se te encontras interessado em aquisição de valores iluminativos com Jesus, será fácil descobrires as próprias deficiências e corrigi-las. Fonte: Simplificação e adaptação do cap.172 do livro “Pão Nosso”, do Espírito Emmanuel, pela psicografia de Francisco C. Xavier, FEB.
2015 • setembro/outubro • Tribuna Espírita 19
Reflexão sobre o Dia dos Mortos
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GUILHERME TRAVASSOS SARINHO João Pessoa-PB
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stá chegando o mês de se comemorar o “Dia dos Mortos”; o dia dos que se foram, no que se costuma chamar de “Dia de Finados”, também conhecido, como o “Dia dos Fiéis Defuntos”. O dia em que os cemitérios se enchem de gente e viram verdadeiros mercados públicos, numa mescla de balbúrdia, de burburinho, de choros, de risos, de tristeza, de alegria e, sobretudo, de muito comércio. Tornou-se, também, o ponto de encontro anual de familiares que passam o ano, dispersos, e, nem se lembram de que formam uma família. Tudo isso me levou a uma reflexão. Costumo dizer que não somos daqui, e que todos estamos, de passagem, com o bilhete volta na mão, e cuja data de retorno está marcada com tintas invisíveis. E, costumo, também, dizer que, no Universo, tudo, mas tudo, mesmo, é regido por Leis Universais perfeitas e, desse modo, nada se perde (Lei de Lavoisier) e tudo está em movimento (Lei de Newton). Há, portanto, uma dinâmica evolucionista, em tudo que existe no Universo. E, como nada é finito, mas, estruturado em transformações (Lei de Lavoisier), nada morre, definitivamente, incluindo o nosso corpo material que, sendo todo ele constituído de átomos, é formado por poeira das estrelas que se “findaram” há bilhões de anos e, quando “morrermos”, retornarão às estrelas e, de novo, se unirão e “renascerão” em outros corpos humanos ou constituirão partes deste planeta, ou, de outros corpos estelares, como minerais, vegetais ou animais; mas, com certeza, não se acabarão. Se somarmos a isso que, no Universo, nada está parado, mas tudo vibra (Lei da Energia), portanto, tudo é energia, e que toda matéria é energia em baixa vibração, inclusive o nosso corpo físico, constituído, que é, por trilhões de átomos em movimento. Como seres “vivos”, somos animados por uma energia mais etérea, mais sutil, mais fluídica, que se mantém constante, que unida, preenchendo todo o corpo físico, o anima, o dinamiza e o faz se relacionar com o mundo em que está inserido, através dos cinco sentidos (e, por que não de outros?). Essa energia a quem chamamos de Espírito ou alma, que dá dinâmica ao corpo físico, como toda energia, é eterna, e, desse modo, podemos dizer que ninguém morre. O corpo físico, com certeza, se decompõe, se desagrega, se desintegra em seus trilhões de átomos; mas, o “sopro”, o Espírito que o anima e que não é matéria, como a conhecemos, aqui no planeta, mas, pura energia, se separa da sua contraparte física. Há uma dissociação entre ambos, com o desligamento da malha de energias das células
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do corpo físico, formadas por átomos que, com o tempo, se decomporão, liberando esses átomos à terra. “Da terra à terra e do pó ao pó”. Essa dissociação, entre ambos, pode ser chamada de “morte”. Eu prefiro chamar de vida. Vida após a “morte”; vida em outro plano; vida no mundo espiritual; vida na Pátria do Espírito. Somente, as pessoas de conhecimentos espirituais restritos, fundamentalistas, materialistas ou sectárias, não aceitam essa lógica dos fatos. E, entre estes, estão os que se apegam ao “Dia de Finados”, os que fazem parte desse grupo. Muitos vão ao cemitério, naquele dia, para não dar o que falar aos familiares, amigos e colegas de trabalho; outros, para tentar compensar o tempo que nunca tiveram para o “finado”, quando vivo, e outros, ainda, para desencargo da consciência. Outros, diante do túmulo do familiar, agem com total desespero, como se o “morto” estivesse vivo, embaixo da terra, como se o corpo pudesse ouvi-lo. Poucos vão, para fazer uma prece, para rogar a Deus pelo ente querido, para uma conversa espiritual, para um diálogo mudo, com a pessoa amada que seguiu, na frente, para o plano espiritual. O “Dia de Finados” foi copiado, pela Igreja Católica Romana, do “Dia dos Espíritos”, que acontecia, no primeiro dia de novembro (de nosso calendário) e era celebrado, pelos druidas, que eram os sacerdotes dos povos celtas, em especial, os da antiga Gália. Era um ritual pagão que foi imitado pelos papas da Igreja Católica. Os celtas dedicavam um dia, a celebrar a alma das pessoas amadas que morreram, e não, o corpo físico, como se faz hoje. Comemoravam, pois, a parte imortal, eterna, o Espírito; logo, celebravam vida, não a morte. A Igreja Católica transformou o dia primeiro de novembro, no “Dia ou Festa de Todos os Santos” (em latim: Festum Omnium Sanctorum); isto é, o dia da universalidade dos que morrerem em estado de graça. A esse dia se segue o “Dia de Todos os Mortos”, os “outros”, os que, não sendo santos, morreram em pecado e, desse modo meio preconceituoso, não podia haver um só dia, para ambos os grupos. Nada contra, haver um dia especial, para os que conviveram, aqui conosco neste plano, os entes queridos que retornaram à dimensão do Espírito, onde nos aguardam. O que discordamos é da maneira como é feita: verdadeira festa profana; um dia de comércio aos “mortos”; um dia de agitação, mesclada com tormentos, amarguras e tristezas; um dia sombrio, espiritualmente pesado, no qual se perde a finalidade de um contato espiritual elevado e sublime com
os que já se foram. E, se esse dia cair numa sexta ou segunda-feira, melhor ainda; vira, para muitos, um feriadão. Uma passadinha, rápida, no cemitério (para chorar o corpo), para desencargo de consciência e, depois viagem, praias, passeios, farras, bebidas e comidas. A Doutrina Espírita que não confunde o indivíduo que se foi, com o seu corpo, sabe que ninguém morre, no sentido de acabar-se, definitivamente. Conhece e ensina a predominância do Espírito sobre a matéria e sua imortalidade. Procura esclarecer sobre a existência dos “mortos” que estão “bem vivos”, no mundo espiritual, e de que é possível uma comunicação entre os dois mundos. Sabe que somos seres em crescimento espiritual e, por isso, crê nas sucessivas reencarnações, onde cada uma, é fase de um processo, para que possa ocorrer essa evolução, e que todos nós passaremos, por essas etapas reencarnatórias, até se completar esse aprendizado, essa evolução espiritual; e, desse modo, ensina que ninguém morre, uma vez que a morte é, somente, um ritual de passagem, através do portal, para outra dimensão, que os cientistas chamam de quarta dimensão e ela a denomina de Plano Espiritual. Ninguém precisa se desesperar, em relação aos que já foram ou aos que irão, um dia, pois a amizade e o amor, como os Espíritos, são eternos. Todo o dia é dia de finados; pois, todo
dia, a qualquer hora e em qualquer lugar, podemos dialogar, mentalmente, com quem já foi, especialmente através de uma prece, de uma lembrança alegre e feliz. Talvez, o lugar mais apropriado para essa lembrança boa, terna, meiga, amorosa, seja na intimidade do nosso lar, nas nossas preces, no contato com os Mestres Iluminados, na ligação com o Divino. A resposta à pergunta de número 323 de “O Livro dos Espíritos” esclarece tudo: “Aquele que visita um túmulo apenas manifesta, por essa forma, que pensa no Espírito ausente. A visita é a representação exterior de um fato íntimo. Já dissemos que a prece é que santifica o ato da rememoração. Nada importa o lugar, desde que é feita com o coração.” Faça como ensina a Doutrina dos Espíritos; em vez de chorar os mortos, no chamado “Dia de Finados”, nos cemitérios, renda, diariamente ou sempre que puder, uma homenagem aos “vivos desencarnados”, uma prece suave, uma lembrança com carinho e amor. No Universo, tudo o que acontece, está assentado em Leis Divinas. No Universo, não existe morte. O nascer e o morrer são leis da Natureza. Para que se preocupar com a morte? Pense na morte, como um renascimento no plano espiritual. É como disse o poeta e livre-pensador francês Savinien Cyrano de Bergerac (1619-1655): “E, depois, morrer não é nada; é terminar de nascer”.
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HÉLIO NÓBREGA ZENAIDE João Pessoa-PB
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eus, nosso Pai e Criador, abençoa a vida de cada um de nós. Deus abençoa essa vida, em que, cada segundo vivido nos deixa com mais idade e com menos anos de vida na Terra. Deus abençoa, também, a vida eterna, que se perpetua na individualidade do nosso Espírito. Logo, temos vida, na Terra, e temos a vida eterna. E nós somos vida inteligente, na Terra... Entendemos que temos certo número de anos de vida, por aqui, e aceitamos o fato de que envelhecemos, no decorrer dos anos. Conferimos, como os anos de vida nos extinguem desse convívio e, até, cremos que a vida não cessa, vencida a experiência na Terra. Mas, como é daqui para a eternidade, nós não alcançamos. Como é ultrapassar as barreiras da matéria, com vida? E, com vida inteligente? Ora, nós somos o princípio inteligente do Universo. Enquanto na Terra, nós somos Espíritos encarnados. No entanto, não nos lembramos de como foi vir animar a matéria, nem como é dela se desligar. Mesmo encarnados, são poucas as
lembranças que nos ficam dos nossos primeiros anos, fase em que o corpo físico está em desenvolvimento, animado pelo Espírito encarnado que evolui para o domínio da matéria e manifestação plena. Só, depois, é que distinguimos o princípio inteligente da matéria viva e ativa. Com o tempo, reconhecemos o domínio da vida inteligente e como ela prevalece sobre a matéria. Passados os anos, vai se ultimando a vitalidade da matéria e, quanto mais debilitada fica, mais sintomas justificam o afastamento do princípio inteligente. O Espírito sente essa separação, pelo hábito da matéria. Mas, como não se limita à experiência terrena, retorna à Pá-
tria espiritual. E, somos nós, mesmos, que experimentamos essa passagem em que a vida inteligente ressurge plena de vida eterna. O Espírito vive e sente essa separação. E o Espírito vive e sente a sua reencarnação. Para reencarnar, prepara-se o Espírito. Até, se ressente da liberdade que goza na Pátria Espiritual, mas a experiência terrena lhe é necessária. E, como se dá essa passagem e o seu domínio sobre a matéria? É o que nos ocorre... Mais um começo, ou recomeço, que se perde na lembrança do Espírito. Deus, nosso Pai, nos abençoe. 2015 • setembro/outubro • Tribuna Espírita 21
A Família WALKÍRIA L. CAVALCANTI João Pessoa-PB
“697. Está na lei da Natureza, ou somente na lei humana, a indissolubilidade absoluta do casamento? “É uma lei humana muito contrária à da Natureza. Mas os homens podem modificar suas leis; só as da Natureza são imutáveis.” (O Livro dos Espíritos)
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Lei da Natureza nos concita à Lei de Amor. No princípio, as famílias tinham caráter patriarcal. Eram organizadas em derredor de um homem que trazia, para si, a responsabilidade de conduzir aquela tribo. Caminhando-se mais, começou-se a estabelecer as famílias, com base na consanguinidade. Surgiram as uniões religiosas, após e concomitantemente, a união civil. Saímos de uma sociedade altamente patriarcal, na qual o homem dita as regras e é obedecido (ou temido), passando pela revolução feminina, que teve seu ápice na década de 60, fazendo um retorno aos padrões familiares, na década de 80, para, novamente, cair em desdita, tendo, como grande propulsor, o avanço tecnológico. Não que a tecnologia seja ruim, mas facilita-nos, sobremaneira, as relações extraconjugais. Outro condimento que podemos acrescentar são as relações profissionais. Em virtude da convivência excessiva e identidade de gostos, e vinculação nos trabalhos executados, somando-se há isso o pouco convívio familiar, permitimo-nos seduzir pelo(a) colega. Sendo que, só, nos mostramos, tal qual somos, quando estamos no recesso do nosso lar. Emmanuel, através da psicografia de Chico Xavier, no livro: “Momentos de Ouro”, no capítulo “Lesões Afetivas”, nos traz: “O amor, sem dúvida, é lei da vida, mas não será lícito esquecer os suicídios e homicídios, os abortos e crimes na sombra, as retaliações e as injúrias que dila-
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pidam ou arrasam a existência das vítimas, espoliados do afeto que lhes nutria as forças, cujas lágrimas e aflições clamam, perante a Divina Justiça, porque ninguém, no mundo, pode medir a resistência de um coração, quando abandonado por outro, e nem sabe a qualidade das reações que virão daqueles que enlouquecem, na dor da afeição incompreendida, quando isso acontece por nossa causa.” Primeiro, existe atração física; depois, a paixão; caminhamos para o amor-terra a terra, no qual nasce a camaradagem entre os cônjuges; para chegarmos ao amor-renúncia, no qual as criaturas renunciam a si mesmo, em detrimento do outro. São aquelas almas abnegadas que, por exemplo, diante de um cônjuge doente, dedicam a sua encarnação a cuidar dele, sem reclamar, em profundo regime de celibato. Mas, infelizmente algumas criaturas desejam, somente, vivenciar o momento da paixão. O ápice dos hormônios em ebulição. Tais criaturas são as que trocam, constantemente, de parcei-
ros e estão em busca de resolver os seus próprios problemas, através do outro. Trazemos, para a vida adulta, o modelo de família que vivenciamos no lar. Todos, sem exceção, possuímos lacunas emocionais. Lacunas reais (mãe ou pai ausente ou, excessivamente, opressor) ou imaginárias (acreditar-se em abandono, quando, realmente, não estamos). “Quando Deus junta dois seres, isso ocorre em razão da “Lei de Causa e Efeito” que já ensejou conhecimento das criaturas em existências passadas, nas quais surgiram as manifestações iniciais da afetividade, ou foram realizadas tentativas de união que, ora, se apresenta, mais forte e compensadora do que naquele ensejo.” (Livro: “Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda”, Joanna de Ângelis/Divaldo Franco, cap. 29 – “Matrimônio e Amor”). A questão 258 e seguintes de “O Livro dos Espíritos” nos explicam que reencarnamos, com o gênero de provas pré-estabelecidos, mas que, em virtude de determinados vínculos emocionais, criados em outras encarnações, como bem explicou Joanna de Ângelis, há a necessidade de reencarnarmos junto a determinadas pessoas. Temos a dificuldade em honrar o compromisso, por causa do orgulho, pois, quando reencarnarmos, temos disposições morais diferentes das que possuímos antes de reencarnar. O universo do desejo e do prazer rápido e fácil nos convida a outros entendimentos da vida e do nosso entendimento moral irá depender a nossa conduta, durante a encarnação. Como o divórcio é uma lei humana que tem, por objetivo, legalizar o que, de fato, já estava separado, precisamos fazer a diferenciação entre divórcio e separação familiar. A separação familiar ocorre, quando as criaturas, mesmo ainda vivendo sob o mesmo teto, se desagregam, emocionalmente. São estranhos que estão vivendo, mas não convivendo. Há uma ruptura, fazendo com que sejam estranhos que se encontram, casualmente. Percebemos que esta separação familiar
“Quando Deus junta dois seres, isso ocorre em razão da “Lei de Causa e Efeito” ocorreu, quando verificamos que não há mais o respeito. As discursões passam, do terreno da teimosia, para as ofensas pessoais. Há a humilhação. Somando-se ao desrespeito, temos a desvalorização e a desconsideração do outro. Alguns afirmam que permanecem unidos, em virtude dos filhos. É um sacrifício respeitável, mas que deve ocorrer, por um curto espaço de tempo, até que os pequenos possam compreender a situação e verificarem que a separação do casal não significa uma separação familiar. Pois, se perdurar, por muito tempo, teremos dois
solitários que estarão juntos, mas infelizes. Isto propicia as relações extraconjugais, se a criatura não possui uma base religiosa fundamentada na compreensão das verdades espirituais. Temos a liberdade de consciência, de palavra, de ação e a afetiva. Mas, para isso, precisamos oficializar a nossa situação. Outros alegam que não oficializam a situação, em virtude do patrimônio. Ou, porque possuem pouco para dividir, gerando, quase, uma situação de miséria para ambos. Ou, porque possuem muito e não querem perder o padrão social. E, neste momento sim, de comum acordo, buscam outros parceiros, para extravasarem as emoções reprimidas. Puro jogo de interesses. Uma volta aos antigos casamentos políticos. “Todos nós, os espíritos vinculados à evolução da Terra, estamos altamente compromissados em matéria de amor e sexo, e, em matéria de amor e sexo irresponsáveis, não podemos estranhar os estudos respeitáveis nesse sentido,
porque, um dia, todos seremos chamados a examinar semelhantes realidades, especialmente as que se relacionem conosco, que podem, efetivamente, ser muito amargas, mas que devem ser ditas.” (Emmanuel/Chico Xavier, livro: “Momentos de Ouro”, capítulo ‘Lesões Afetivas’). Se estivermos na condição do cônjuge traído, não aceitemos tal condição, com a desculpa que o outro irá mudar. Não aceitemos migalhas do outro. Se estivermos na condição do traidor, lembremos que somos credores do amor do outro, como ele é do nosso e não podemos conspurcar uma instituição tão bela que é a família. Se estivermos na condição do terceiro vértice da pirâmide, tenhamos, em mente que, mesmo que o casal esteja se dissociando não temos o direito de colocar mais uma pedra, na construção desta separação, para que, mais tarde, não façamos consciência de culpa, por ter contribuído para a desdita de outrem.
Deus, Fonte Inexaurível J
esus é fonte viva da Humanidade. Deus é fonte inexaurível do Universo. Beber da fonte fecunda do Amor Infinito é possibilidade de todos. Quem mais divide do que recebe, mais beneficiário se torna dos “favores divinos”. Consumir e regatear, ainda mais, para si, retrata atitude muito própria do egoísta. Quem dá tudo o que tem, sabe que muito tem, ainda, para dar. Quanto mais se dá, mais se lhe é dado. Quanto menos se dá, até, o que parece ter lhe é tirado. Quanto mais se divide, mais se multiplica o que se tem. Quanto mais o amor norteia nossas atitudes, mais Deus está em nós. Quanto mais nos vemos, menos percebemos os outros. A fonte inesgotável do Criador encontra-se, por toda eternidade, límpida e abundante, potável e revigorante, à disposição do viajor que deseje dela fazer uso. Um dia, nascemos nessa fonte! Um dia, a ela tornaremos! Quem dela faz uso, dessedenta o corpo e alimenta a alma. Quem a usa, com a finalidade de servir, recebe a permissão de voltar outras vezes. Quem dela, apenas, se refestela; ainda que banhe o rosto e o próprio corpo, se perderá no labirinto de suas próprias inquietações, não conseguindo mais localizá-la; até que, desenvolva, em si, a riqueza do Amor e a fortaleza da Fé. Jesus dela fez uso, em diversas ocasiões: “Uma comida tenho para comer que vós não conheceis” (João 4:32)..
Na medida em que o acesso a esse repositório for frequente, nossos problemas se diluirão, nossas dores se aplacarão, nossa fé se retemperará e a aparente hegemonia corporal tornar-se-á irrelevante, frente aos valores espirituais. Quando Francisco de Assis falou: “Pois é dando que se recebe”, reportava-se aos obreiros de Deus que desconhecem tempo, distância, cansaço, doença... Quando o divino amigo Jesus frisou: “(...) de graça recebestes, de graça dai” (Mateus 10:8), falava-nos do mecanismo de amor e justiça com que o Criador disciplina a distribuição de Suas benesses. Quando o asceta se entrega às profundas meditações, para comungar com a Força Criadora da Vida, mas não a aplica na semeadura do Bem, para que ela floresça até nos solos mais áridos e adustos, retornará ao seu “ashram”, tal qual foi, no mesmo estado de pobreza. Quando, um dia, a nossa comunhão com Deus se fizer espontânea, deixaremos de ser, tão somente, “eu”, para sermos com Ele, “nós”. Quando, um dia, nos alimentarmos muito mais do bem que fizermos, do que do prato que nos servimos... Quando, um dia, aprendermos a guiar cada uma das minúsculas partículas que constituem o nosso corpo biológico, desconheceremos a morte, porque estaremos ressuscitados em vida; coroados de alegria, premiados de fé e retemperados no Amor, pedra de toque do Excelso Criador. O guru (*) (Mensagem mediúnica recebida por Zaneles, em 02.12.14, na Associação Espírita Leopoldo Machado, em Campina Grande, Paraíba). Nota da Redação: (*) Segundo o receptor, não foi possível identificar o nome do autor espiritual.
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Vida e morte Google imagens
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arra-se que o príncipe Sidarta Gautama, após ter-se iluminado, oportunamente, interrogou os seus discípulos, indagando qual era o oposto de morte, e eles responderam que era vida. Após reflexionar, por momentos, o nobre mestre redarguiu, tranquilo, que o inverso de morte é renascimento, porquanto, sempre, se está na vida, quer se deambule através do corpo físico ou fora dele. Em realidade, a vida biológica, em face da organização molecular que se desestrutura, experimenta, inevitavelmente, a sua desagregação, quando ocorre o fenômeno da morte, que libera do casulo em que se enclausura o Espírito imortal. Viajor do tempo e do espaço, singra os oceanos de energia, energia pensante que é, vestindo-se, despindo-se e revestindo-se de matéria orgânica, para o ministério da evolução, em cujo curso se encontra inscrito. A vida, no entanto, desde quando criada por Deus, jamais se extingue, alterando-se, constantemente, de expressão, de acordo com os instrumentos de que se utiliza, até lograr o estado de plenitude ou alcançar o Reino dos Céus. A inevitabilidade da morte biológica deve constituir grave quesito de fundamental importância, nas reflexões de todas as criaturas, tendo em vista o momento que será por ela alcançado, inapelavelmente. A depender das circunstâncias e dos fatores que a desencadeiam, a morte foi transformada em tabu, como se constituísse uma verdadeira desgraça, quando é, simplesmente, uma porta que se abre na direção da Realidade... A conscientização da transitoriedade do corpo somático, elaborado pelo Divino Amor, para servir de solo fértil para a fecundação e desenvolvimento dos atributos adormecidos no Espírito, representa conquista valiosa, para a harmonia do ser, durante a aprendizagem terrestre. Mediante o respeito que deve ser dedicado à estrutura orgânica, faculta-se-lhe uma existência de equilíbrio ou de desar, 24 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2015 o • 2015
que lhe proporciona libertação fácil ou demorada, conforme a maneira como se haja dele utilizado. Assim sendo, a morte não significa o fim da vida, mas a bênção do renascimento, em outra dimensão, estuante de vibração e de progresso. Não fora assim, e todo o projeto e realização do ser humano perderia o seu significado grandioso, quando a desoxigenação cerebral anulasse as contínuas modificações celulares. O ser humano tem, como destino, a conquista do Infinito, e esse logro não pode ser alcançado em apenas uma etapa, considerando-se a incontável pluralidade de constelações de galáxias, que o Pai criou, para servir de morada para os Seus filhos... O sentido psicológico do existir, igualmente, ficaria afetado, em face do ínfimo espaço entre berço e túmulo, prelúdio do aniquilamento da inteligência e da razão, tendo-se em vista a eternidade... Morte, portanto, é renascimento, sono momentâneo que faculta o despertar em novo campo vibratório. * * * Aqueles seres queridos que morreram, em realidade, não se consumiram, conforme estabelecem algumas correntes do materialismo, anulando a grandeza da vida. Eles vivem e esperam por ti, acompanhando-te por enquanto e auxiliando-te na aquisição dos tesouros imarcescíveis das virtudes espirituais. Eles resguardam os seres queridos, tendo a visão ampliada em torno da realidade que, ora, defrontam, e gostariam que fosse alcançada pelos afetos que ficaram na retaguarda. Por essa razão, encorajam-nos, durante as provações, oferecem-lhes braços amigos e inspiração contínua, para que permaneçam em paz, embora o rugir das borrascas perigosas que desabam, sobre suas existências, com certa frequência... Mas, nem todos são felizes, como se pode facilmente compreender. Cada um desperta, conservando os va-
lores com os quais adormeceu. Todos os títulos de mérito ou de demérito permanecem válidos, para aquele que os conduz, durante a jornada carnal ou após o seu decesso tumular. Desse modo, os Espíritos venturosos, de hoje, são aqueles que, ontem, se empenharam no culto dos deveres elevados, que transformaram a existência em formoso educandário, no qual abrilhantaram a inteligência e enterneceram o coração, transformando-se em sinfonia viva de amor. Aqueloutros, porém, que, da existência terrestre, somente cultivaram os sentimentos negativos, atados às paixões nefastas, profundamente vinculados aos vícios, com dificuldade, separam-se dos despojos em degradação, dando prosseguimento à alucinação em que se compraziam. São infelizes e infelicitadores, porquanto se acercam das criaturas que vibram no seu mesmo diapasão, inspirando-lhes ideias perturbadoras, intoxicando-as com os seus fluidos deletérios, induzindo-as a situações deploráveis e submetendo-as, muitas vezes, aos seus caprichos infelizes... Ignorantes dos recursos de elevação ou renegando-os, jazem no cárcere da própria insânia, prolongando os padecimentos que os visitaram, antes da desencarnação, e que lhes estiolam a alegria e a esperança... Não ficam, porém, eternamente nesse estado de mesquinhez e aflição, porque a misericórdia do Pai os busca, recambiando -os aos renascimentos expiatórios, através dos quais se depuram e se renovam. A morte, portanto, não deve ser considerada como a desventurada ocorrência da vida, mas sim, como a desveladora da realidade espiritual, na qual, todos se encontram mergulhados. Por isso mesmo, morrer não é conquistar a ventura excelsa, caso não se tenha entesourado, antes, os seus pródromos, em forma de amor, abnegação e vivência digna, durante a jornada terrestre. Cada criatura, portanto, morre conforme vive, e desperta consoante morreu. * * * Não esperes milagres da desencarnação, cujo objetivo é conduzir ao Grande Lar o aprendiz que viajou, antes, na direção do educandário terrestre, onde se deve ter aprimorado e crescido moralmente. Cultiva o pensamento, em torno da desencarnação, como bênção que, um dia, te alcançará, e não te permitas temê-la. Recorda aqueles que se apartaram, fisicamente, de ti, mas que não te abandonaram, procurando senti-los, captar-lhes os pensamentos e as emoções, quando felizes, e, se porventura lhes perceberes as aflições, envolve-os em dúlcidas vibrações de amor e de ternura, através da sublime emanação da prece, que lhes fará um grande bem.
Joanna de Ângelis
(Mensagem psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na manhã de 22 de maio de 2009, na residência do Sr. Josef Jackulak, em Viena, Austria)
“Dia de Finados, na ótica espírita” MARCOS PATERRA João Pessoa-PB
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ara se falar sobre o Dia Finados, é necessário que se entenda que é uma celebração da Igreja Católica no dia 2 de novembro. Desde o Século II, alguns cristãos rezavam pelos falecidos, visitando os túmulos dos mártires, para rezar pelos que morreram. Com o avançar dos tempos, no Século V, a Igreja decretou um dia do ano, para rezar por todos os mortos. Desde o Século XI, os Papas Silvestre II (1009), João XVII (1009) e Leão IX (1015) obrigam a comunidade a dedicar um dia aos mortos. No Século XIII, esse dia anual passou a ser comemorado em 2 de novembro, porque o dia 1º é o da “Festa de Todos os Santos”. Segundo Léon Denis,1 na obra “O Gênio Céltico e o Mundo Invisível”2, o estabelecimento de uma data específica, para a comemoração dos mortos, é uma iniciativa dos druidas, pessoas encarregadas das tarefas de aconselhamento, ensinos jurídicos e filosóficos, dentro da sociedade celta, que acreditavam na continuação da existência depois da morte. Reuniam-se nos lares, e não nos cemitérios, no primeiro dia de novembro, para homenagear e evocar os mortos. Para os católicos, a celebração de fina-
dos é um dia de respeito, dedicado, para que as famílias celebrem a vida eterna dos seus entes falecidos, tendo esperança de que tenham sido recebidos pelo reino de Deus. Ao se falar em ótica espírita, devemos enfatizar que a Doutrina Espírita nos ensina que somos Espíritos imortais e que, quando desencarnamos, nos desligamos de nosso corpo físico. A inteligência, as emoções, tudo está no Espírito. Sob esse prisma, a morte não existe. O Livro dos Espíritos3 nos esclarece nas questões: 321. O dia da comemoração dos mortos é, para os Espíritos, mais solene do que os outros dias? Apraz-lhes ir ao encontro dos que vão orar nos cemitérios sobre seus túmulos? “Os Espíritos acodem nesse dia ao chamado dos que da Terra lhes dirigem seus pensamentos, como o fazem noutro dia qualquer.” a) - Mas o de finados é, para eles, um dia especial de reunião junto de suas sepulturas?” “Nesse dia, em maior número se reúnem nas necrópoles, porque então também é maior, em tais lugares, o das pessoas que os chamam pelo pensamento. Porém, cada Espírito vai lá somente pe-
los seus amigos e não pela multidão dos indiferentes.” 323. A visita de uma pessoa a um túmulo causa maior contentamento ao Espírito, cujos despojos corporais aí se encontrem, do que a prece que por ele faça essa pessoa em sua casa? “Aquele que visita um túmulo apenas manifesta, por essa forma, que pensa no Espírito ausente. A visita é a representação exterior de um fato íntimo. Já dissemos que a prece é que santifica o ato da rememoração. Nada importa o lugar, desde que é feita com o coração.” Podemos afirmar de que a data de finados é lembrada pelos adeptos da Doutrina, e, há o costume de realizar orações e pedidos, para que os desencarnados recebam as boas vibrações. Nós, espíritas, não temos o costume de frequentar os cemitérios e nem de levar flores aos entes queridos, já que a matéria é, totalmente, dispensável aos Espíritos. Todavia, não há restrições, quanto àqueles que fazem uso de velas e flores, pois, sempre, prevalece o respeito aos que precisam dessas ações, para fortalecer a sua fé. Em verdade, os Espíritos, onde quer que estejam, recebem nossas orações. “Quando desejamos nos comunicar com os Espíritos desencarnados estaremos numa determinada frequência psíquica para tal. Se quisermos mudá-la, teremos de alterar a emoção ou o pensamento. O estado de oração é uma forma de mudança de ambos. A sintonia não se dá, apenas, por um momento e em estado de oração, mas, principalmente, pelo modo de ser do indivíduo, pela sua natureza íntima, pelos sentimentos e ideias de que é portador.” (NOVAES. 2002) 4 1-Léon Denis (1846 – 1927) Um sucessor e propagador da Doutrina codificada por Kardec. 2- DENIS, Léon. O gênio céltico e o mundo invisível, Ed, Idea. Rio de Janeiro. 1989. 3- KARDEC, Allan. Livro dos Espíritos. Ed. FEB. Rio de Janeiro. 2002 4-NOVAES, Adenáuer Marcos Ferraz. Psicologia e Mediunidade; Salvador: Fundação Lar Harmonia, 2002 – trecho retirado da pag.53; Cap. Mediunidade e Sintonia.
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2015 • setembro/outubro • Tribuna Espírita 25
Fatalidade, tragédia, provação... PEDRO CAMILO Salvador-BA
O
s noticiários apresentaram, no mês de setembro, o caso dramático de uma criança que morreu durante a noite, quando acordou e, não vendo a mãe ao seu lado, ergueu-se até a janela de ventilação do banheiro, com o auxílio de uma cadeira, vindo a cair de um andar alto. Situações como essa, sempre, nos comovem, não, somente, pela dor que alcança a família, como também, pelo fato de trazer a morte de uma criança, que simboliza vida e prosperidade. Diante de eventos assim, sempre, nos perguntamos: quais as possíveis razões profundas que levaram aquela criança a óbito? Terá sido uma fatalidade? Efeito de influências espirituais negativas? Consequência do descuido materno? Onde estaria a Providência Divina, nesses momentos? Por que Deus permitiria que algo assim acontecesse? Inicialmente, precisamos considerar que a morte de crianças, sobretudo em circunstâncias trágicas, costuma nos inquietar, mais do que a morte de pessoas adultas ou idosas, tendo em vista que, sempre, se espera que as crianças cresçam e desenvolvam uma “vida normal”. Na verdade, isso tem a ver com nossas expectativas sociais e emocionais, haja vista que a encarnação não possui um tempo, mais ou menos certo, para durar. E, o que determinaria o tempo de vida de cada ser reencarnado? Será, sempre, a natureza das experiências e aprendizados que aquele Espírito tem a realizar, no estado de encarnação. Como, enquanto Espíritos, somos seres marcados pelas nossas imperfeições e pelas necessidades evolutivas delas decorrentes, a maior ou menor duração de nossas vidas físicas guardará relação com aprendizados imprescindíveis ao nosso crescimento espiritual? Assim, o que muitos poderiam chamar de “fatalidade”, nada mais é do que a resultante das necessidades evolutivas do Espírito somada, quase sempre, às escolhas que, porventura, faça, antes de reencarnar, com base no aprendizado possível. Na palavra dos Espíritos, em resposta à pergunta 851 de “O Livro dos Espíritos”, “a fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espíri26 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2015
to fez, ao encarnar, desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino, que é a conseqüência mesma da posição em que vem a achar-se colocado (...)”. É, só nesse sentido, que devemos entender possível uma espécie de fatalidade, e não como algo que “vem de cima”, uma determinação divina que é impossível evitar. Outra hipótese, levantada por alguns, para o fato, é que a morte do garoto poderia ter se dado pela ação de influências espirituais negativas. O fato de o menino ter acordado, justamente quando a mãe se ausentou de casa, tendo ido, exatamente para o banheiro, onde havia a única janela não protegida do apartamento, tendo ali colocado uma cadeira e um banco para alcançá-la, bem poderia ter sido uma “urdidura das trevas”. Naturalmente que não temos elementos, para dizer que isso não pode ter acontecido; entretanto, também, não temos qualquer bom indício para afirmá-lo. Bem sabemos que os Espíritos de todo tipo volteiam ao redor de nós, buscando estabelecer vinculações boas ou más e que, apesar disso, ainda que atuemos sob suas influências, somos os responsáveis pelo nosso atuar, pela acolhida das sugestões recebidas. E, ainda mesmo que tal trama tenha tido lugar, o desfecho, somente, foi possível, graças às necessidades evolutivas dos envolvidos, pois, do con-
trário, haveria injustiça de Deus ao permitir que o menino morresse. Talvez, a mãe tenha sido responsável, ao negligenciar os cuidados necessários com a criança, indo buscar o namorado, enquanto ele dormia. Esta é uma hipótese que todos, bem, gostaríamos de sustentar, sobretudo, porque sempre precisamos encontrar “culpados”, para todo e qualquer evento da vida. Contudo, quem nos garante que, sendo uma provação, pela qual, tanto ela, quanto o garoto, precisava passar, o mesmo fato não teria acontecido, durante a madrugada, momento em que a mãe estivesse dormindo, e a criança, acordando e fazendo peraltices, que toda criança faz, teria feito, exatamente, tudo que fez? Será que, em tal situação, a dificuldade que a mãe enfrentaria, para provar sua inocência, não seria maior? Quem sabe, se não seria acusada de lançar o filho da cobertura e simular um acidente? Em “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec propõe a indagação que se segue, acompanhada da respectiva resposta: 199. Por que tão frequentemente a vida se interrompe na infância? A curta duração da vida da criança pode representar, para o Espírito que a animava, o complemento de existência precedentemente interrompida antes do momento em que devera terminar, e sua morte, também não raro, constitui provação ou expiação para os pais. Assim, conforme indicam os Espíritos, uma morte tão prematura, como a daquele garoto, bem pode representar “o complemento de existência precedentemente interrompida, antes do momento que devera terminar”, em atendimento, talvez, à necessidade de compensação psicológica do ser reencarnante, que não tendo completado uma vida anterior, por variadas causas, sente a necessidade íntima de totalizar o tempo deixado para atrás e pacificar-se, interiormente. Em todo caso, e não raro, a abreviação da vida na infância também representa dolorosa expiação ou provação, pela qual os pais devem passar, na consolidação de experiências e aprendizado, cujo alcance nos escapa, por não conhecermos a história daqueles espíritos. A grande verdade é que toda e qualquer explicação que quisermos levantar, para esse caso, será possível, sim, mas meramente especulativa. Não temos elementos suficientes, para fazer qualquer afirmação conclusiva, cabendo-nos, de toda sorte, mobilizar a vontade, através da prece, para tentar proporcionar conforto, tanto para os pais do menino, quanto para ele próprio que, na vida espiritual, certamente, estará precisando de um pouco de serenidade.
Interferência dos Espíritos em nossas Vidas
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ADÉSIO ALVES MACHADO
A
Doutrina Espírita não deixa dúvidas, ao informar que os Espíritos, por terem sido as almas dos homens que viveram na Terra, interferem na nossa vida, com suas paixões perniciosas uns, e outros, com suas aspirações de alto teor moral/espiritual. A “Lei de Ação e Reação” vai desenvolvendo a sua função, na vida moral dos Espíritos, estejam na carne ou fora dela, porque a vida responde, de conformidade com a qualidade da sementeira que deitarmos sobre ela. O homem de hoje reflete a soma dos seus atos, de suas ações nas reencarnações passadas; é o que informam, há milênios, as religiões orientalistas. E, a partir de meados do século passado, com o advento da Doutrina dos Espíritos, em 1857, o mundo ocidental se deixou incorporar pelo mesmo conceito. Ocidentalizou-se, com o missionário Allan Kardec, a “Lei de Causa e Efeito”. Estamos, hoje, defrontando pessoas e situações, cujo início se deu em vidas anteriores à atual, sendo cobrados, por algumas pessoas, por aquilo que lhes negamos antes e, por outras, somos restituídos, no que nos foi retirado no passado espiritual. É bom sabermos que não estamos, apenas, pagando, restituindo, mas recebendo, também, tendo de volta o que nos foi retirado, indevidamente. “O que nos acontece teve início antes”, é o que nos afirma Joanna de Ângelis. São, sempre, os mesmos Espíritos, envergando novas personalidades nos novos palcos da vida; todos carregando a bagagem moral acumulada em inúmeras experiências reencarnatórias. Pelo fato de toda ação construir uma reação semelhante, o nosso futuro começa, agora, a ser construído, tendo como base
nossas iniciativas. Tudo quanto fizemos de bom ou de mal aos que, conosco, caminham pelas sendas da existência terrena, não se refuta no Espiritismo. Deus cria a vida e a entrega ao homem, transmitindo-lhe, na oportunidade, a responsabilidade de conduzi-la, fornecendo-lhe meios e condições, para o melhor desempenho de suas tarefas redentoras, como asseveraram os Espíritos a Allan Kardec, através das respostas às perguntas 704 e 711 de “O Livro dos Espíritos”. Dispensemos acurada atenção aos nossos pensamentos, os quais vamos plasmando, dia a dia, no mundo mental, e que se vão condensando na esfera física, caso sejam contumazes, determinando, assim, as nossas ações. Necessário fugirmos das situações perturbadoras, sendo aconselhável nos fixarmos nos propósitos enobrecedores, para que, só assim, desfrutemos de paz, para viver e oferecer. Devemos elaborar um programa de cunho altruístico e cumpri-lo, dentro de deveres pequenos para os olhos do mundo, mas de alta significação às vistas divinas, os quais podemos assinalar: reservar algum dia da semana, para uma visita aos enfermos; visitar um abrigo de crianças ou de idosos, levando carinho aos que lá se detêm; contribuir com alguma importância, para um trabalho assistencial; mostrarmo-nos alegres; a todos tratar bondosamente; manter um clima de esperança íntimo que, naturalmente, haverá de refletir-se exteriormente, beneficiando os demais; dar um telefonema a um amigo ou parente necessitado; escrever umas poucas palavras de ânimo e de esperança; ajudar, materialmente, a uma família carente... Recebemos o que damos e, se queremos receber mais do que damos, passemos a dar mais do que recebemos.
Junto às demonstrações de caridade, firmemos nossos mais acendrados propósitos de renovação moral, visando a superação das imperfeições e o alcance de novos limites, buscando nutrir otimismo que, com certeza, nos enriquecerá de boa disposição orgânica. Nossos pensamentos ditarão as nossas aspirações, tarefas e ações, estabelecendo, caso sejam sadias, a sintonia com os Espíritos que facultarão aprendizagem no campo da educação superior, mas que, sendo doentias, perturbadoras e egoístas, nos farão escravos das tendências inferiores. Nossas realidades espirituais serão aquelas extravasadas e assimiladas pelos que, conosco, lidam, elas que se encontram, sempre, incrustadas nas camadas mais profundas do nosso psiquismo, aguardando a nossa voz de comando, que é acionada por nossa vontade. Compete-nos, diante de tamanha realidade, atuarmos no bem, sempre ligados ao amor, porque o amor responderá com total eficiência, já que ele reflete a interferência benfazeja dos Mentores da Vida Maior, na programação de nossa existência. Estabeleçamos com eles um vínculo, cada vez mais firme, certos de ser o recurso de que dispomos, para vivermos a relativa felicidade na Terra, confiantes em que ela se estenderá além da aduana da morte, quando nos depararemos com a verdadeira vida, a espiritual.