Fundamentos do Turismo - 3ª edição revista e ampliada

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A obra apresenta desde o histórico do desenvolvimento da atividade até os fundamentos básicos de produtos e de mercados turísticos, da segmentação da atividade e da estruturação institucional. Também são avaliados os impactos econômicos, sociais, culturais e ambientais do turismo e suas perspectivas para o futuro. Por tratar as bases para estudo do Turismo, esta publicação é voltada para cursos tanto dessa área quanto de Hotelaria, Lazer, Eventos e Entretenimento. Estudantes e profissionais preocupados com o uso do tempo livre e os movimentos turísticos encontrarão neste livro todo o conjunto de procedimentos que regem o setor.

Luiz Renato Ignarra

FUNDAMENTOS do Turismo

Este livro tem a finalidade de organizar os conceitos básicos de Turismo para servir de base tanto aos alunos dessa disciplina, nos vários níveis, quanto aos profissionais que trabalham nos setores público e privado e no terceiro setor, e que precisam aprofundar teoricamente seus conhecimentos.

3ª edição revista e ampliada

Luiz Renato Ignarra é economista formado pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (Feausp) e doutor em Ciência da Comunicação/Turismo pela Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Além disso, o autor leciona no curso de Administração das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), é consultor da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e sócio diretor da empresa L. R. Ignarra Planejamento em Turismo.

ISBN 13 978-85-221-1539-6

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FUNDAMENTOS do

Turismo 3ª edição revista e ampliada

Luiz Renato Ignarra

Tendo em vista a pouca bibliografia especializada em Turismo, e a importância que esse setor tem ocupado nos cenários social, cultural e econômico, esta obra traz a sistematização de seus conceitos fundamentais. Dividido em 13 capítulos, este livro percorre um importante caminho pelos principais pontos dessa atividade. No primeiro capítulo, enfatiza os antecedentes históricos – da Antiguidade à Idade Moderna. No segundo capítulo, evidencia os conceitos básicos de turismo – incluindo definições como a de turista, excursionista e visitante –, os destinos e recursos turísticos. A partir daí, analisa a demanda e a oferta turística, os conceitos básicos de planejamento, os impactos físicos do turismo e as principais tendências, entre outras abordagens. Com linguagem dinâmica e a inclusão de conceitos muito bem organizados, a 3ª edição revista e ampliada de Fundamentos do Turismo contribui para a formação de quem está se aventurando na área de Turismo, bem como oferece subsídios de atualização importantes para quem já é profissional.


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Ao Bernardo, amigo, companheiro e, coincidentemente, filho. À Yzolette, minha mãe, em memória. À Carolina, sobrinha querida, cujas dificuldades da vida são incapazes de vencê-la.

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SUMÁRIO

Introdução

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1. Antecedentes históricos

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1.1 O turismo na Antiguidade 1.2 O turismo na Idade Média 1.3 O turismo na Idade Moderna 1.4 O turismo no Brasil Questões para revisão

2. Conceitos básicos de turismo 2.1 Enfoques básicos para o estudo do turismo 2.2 Definição de turismo 2.3 O conceito de turista, excursionista e visitante 2.4 Os tipos de turistas 2.5 Os destinos turísticos 2.6 Os recursos turísticos Questões para revisão Problema prático

3. A demanda turística 3.1 Por que a demanda é importante 3.2 A demanda turística internacional 3.3 A segmentação da demanda turística 3.4 Demanda efetiva e demanda potencial 3.5 Fatores de influência da demanda 3.6 Ciclo de vida das destinações turísticas 3.7 A mensuração da demanda turística Questões para revisão Problema prático

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4. A oferta turística 4.1 Conceito de produto turístico 4.2 Atrativos turísticos 4.3 Serviços turísticos 4.4 Serviços públicos 4.5 Infraestrutura básica 4.6 Recursos humanos Questões para revisão Problema prático

5. Conceitos básicos de planejamento turístico

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5.1 A importância do turismo no desenvolvimento socioeconômico 5.2 Os efeitos negativos do turismo 5.3 O conceito de planejamento 5.4 Tipos de planejamento 5.5 Etapas do planejamento 5.6 A matriz de envolvimento 5.7 Implantação do plano 5.8 Avaliação dos resultados Questões para revisão Problema prático

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6. Planejamento e fomento do turismo

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6.1 Comportamento cíclico do turismo 6.2 Instrumentos de fomento ao turismo 6.3 Sustentabilidade do desenvolvimento turístico 6.4 Aspectos políticos do desenvolvimento do turismo 6.5 Exemplos de planos de desenvolvimento turístico Questões para revisão Problemas práticos

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7. Segmentação do mercado turístico 7.1 Conceito de mercado turístico 7.2 Estrutura do mercado turístico 7.3 Segmentação de mercado 7.4 Os segmentos do mercado turístico 7.5 Imagem mercadológica de uma destinação turística Questões para revisão Problema prático

8. Marketing aplicado ao turismo 8.1 O conceito de marketing 8.2 Elementos componentes do marketing 8.3 Análise das oportunidades do mercado 8.4 O composto de marketing 8.5 A promoção turística 8.6 Elaboração de um programa de promoção 8.7 E-commerce no turismo Questões para revisão Problema prático

9. Impactos econômicos do turismo 9.1 O conceito de impacto econômico 9.2 Questões tratadas pela economia 9.3 As dimensões econômicas do turismo 9.4 Multiplicadores do turismo 9.5 Impactos econômicos do turismo 9.6 Dinâmica da economia do turismo 9.7 Elasticidade da demanda Questões para revisão Problema prático

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10. Impactos físicos do turismo 10.1 10.2 10.3 10.4

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177 O papel da preservação do patrimônio no turismo 178 Os impactos físicos do turismo 178 Conceito de sustentabilidade no desenvolvimento do turismo 183 Capacidade de carga turística 184

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10.5 Indicadores de mensuração de capacidade de carga turística 10.6 Ecoturismo e turismo de natureza Questões para revisão Problema prático

11. Impactos culturais do turismo

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11.1 O papel da preservação do patrimônio cultural no turismo 192 11.2 Os produtos turísticos culturais 193 11.3 O impacto do turismo nas manifestações culturais locais 195 11.4 Matriz de identidade patrimonial 198 11.5 Produção cultural associada ao turismo 199 Questões para revisão 200 Problema prático 200

12. O papel do poder público no turismo 12.1 As áreas de intervenção do governo no turismo 12.2 Outras áreas de intervenção 12.3 Posição do turismo nos organogramas governamentais 12.4 Organismos internacionais de turismo 12.5 Organismos nacionais de turismo Questões para revisão Problema prático

13. Tendências do turismo 13.1 O novo perfil do turista 13.2 Destinos turísticos futuros 13.3 Mercados turísticos futuros 13.4 Padrões emergentes do turismo 13.5 Os desafios do crescimento do turismo Questões para revisão Problema prático Bibliografia

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INTRODUÇÃO

O turismo, apesar de ser um fenômeno já praticado pelas civilizações antigas, só mais recentemente passou a ser objeto de preocupação dos cientistas. Como uma atividade econômica que se constitui, na atualidade, no principal setor em termos de geração de renda e emprego, sua organização entre os agentes econômicos é mais recente. Assim, não há grande bibliografia especializada sobre seus temas técnicos, notadamente no Brasil, onde essa atividade é motivo de preocupação ainda mais recente. O turismo não pode ser considerado uma ciência, já que seu estudo de maneira científica só se iniciou há poucas décadas. Contudo, é parte das Ciências Humanas, que, por sua magnitude, carece de aprofundamento técnico-científico. A capacitação dos recursos humanos para o setor tem sido feita precariamente quando se trata da indicação de uma bibliografia técnica especializada em língua portuguesa. Esta obra tem a pretensão de contribuir para a sistematização dos conceitos fundamentais do turismo e, sobretudo, ser um instrumento de apoio à capacitação dos recursos humanos do setor. O livro não pretende aprofundar a discussão teórica sobre o turismo, mas organizar uma série de conceitos fundamentais à compreensão do fenômeno turístico. Buscou-se explicitar esses conceitos em uma linguagem que, se de um lado pode pecar pela falta de rigor acadêmico, por outro busca melhor comunicação com aqueles que estão se iniciando na compreensão deste fenômeno tão contemporâneo e importante. Apesar de o turismo se constituir em um setor econômico recente, seu dinamismo é bastante elevado. Assim, sua conceituação é influenciada por esse dinamismo. Há cerca de 40 anos, por exemplo, quando foi implantado o primeiro curso superior de Turismo na atual Universidade Anhembi Morumbi, se fosse elaborado um glossário de seus termos técnicos, não haveria nem um terço dos atualmente utilizados. Naquela época, raramente alguém, no Brasil, falava em ecoturismo, por exemplo. Passados 40 anos, esse conceito enraizou-se na literatura especializada de tal modo que parece que as outras formas de turismo se tornaram extremamente ultrapassadas. Hoje, até mesmo a palavra ecoturismo tem sido questionada, sendo comum alguns autores preferirem o termo turismo de natureza. Esse é apenas um exemplo do dinamismo dos conceitos. Cerca de cinco anos atrás, poucos profissionais no Brasil falavam em cluster turístico. Hoje, esse conceito popu-

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larizou-se e já há autores fazendo a releitura do termo e buscando nova conceituação para o processo de regionalização dos produtos turísticos. Assim, um livro sobre fundamentos do turismo deve atualizar-se permanentemente, sob o risco de não acompanhar o dinamismo da atividade. A humanidade precisou de milênios para se transformar de sociedade agrícola em industrial. Para se transformar de sociedade industrial em outra, baseada nas informações, bastaram apenas 150 anos. A sociedade da informação tem apenas três décadas, e alguns cientistas defendem a ideia de que estamos nos transformando na dream society, ou seja, na “sociedade dos sonhos”. O turismo vem acompanhando essa evolução e hoje as pessoas não viajam apenas para conhecer, admirar, mas para vivenciar uma experiência, uma história. De acordo com esse novo enfoque, surgem novos termos, novas definições. O conceito de operadora turística receptiva evoluiu para o de Destination Management Company (DMC). Este livro não tem a pretensão de abarcar toda a evolução conceitual do turismo, mas, ao menos, procura apresentar algumas tendências mais contemporâneas desse fenômeno tão fascinante.

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ANTECEDENTES HISTÓRICOS

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SUMÁRIO DO CAPÍTULO

O turismo na Antiguidade ◆ Viagens de comércio dos sumérios ◆ Viagens para visitar as pirâmides do Egito ◆ Viagens comerciais dos fenícios ◆ Viagens culturais na civilização grega ◆ Turismo no Império Romano: as rodovias, o termalismo, as primeiras hospedarias ◆ Reinado de Alexandre, o Grande: turismo de eventos, suas viagens pela Índia ◆ Viagens dos chineses

O turismo na Idade Média ◆ As Cruzadas ◆ Turismo educacional dos nobres

O turismo na Idade Moderna ◆ O turismo de feiras ◆ As grandes navegações

◆ O precursor Marco Polo ◆ Surgimento dos spas ◆ Surgimento das ferrovias ◆ A primeira agência de viagens ◆ Os barcos a vapor ◆ O advento da aviação

O turismo no Brasil ◆ As viagens exploratórias ◆ As capitanias hereditárias ◆ As entradas e bandeiras ◆ Viagem de Von Humboldt – início do ecoturismo ◆ A Corte Real Portuguesa muda-se para o Brasil ◆ Surgimento da primeira estância climática brasileira: Petrópolis ◆ A era dos transportes a vapor ◆ Os primeiros hotéis ◆ O surgimento da aviação comercial ◆ A criação da Embratur

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM ◆ Compreender a relação entre as várias civilizações e as necessidades de viagens ◆ Conhecer a origem dos vários segmentos do turismo

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◆ Entender a evolução do turismo no mundo ◆ Saber sobre a evolução do turismo no Brasil

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1.1 O turismo na Antiguidade O fenômeno turístico está relacionado com as viagens, com visita a um local diverso da residência das pessoas. Assim, em termos históricos, o turismo teve início quando o homem deixou de ser sedentário e passou a viajar, principalmente motivado pela necessidade de comércio com outros povos. É aceitável, portanto, admitir que o turismo de negócios antecedeu o de lazer. Era também econômica a motivação para as grandes viagens exploratórias dos povos antigos, que buscavam conhecer novas terras para sua ocupação e posterior exploração. Dessa maneira, o turismo de aventura data de milênios antes de Cristo. A motivação religiosa também foi responsável por viagens na Idade Média, por intermédio das Cruzadas. O turismo religioso, portanto, data de muitos séculos atrás. O turismo de saúde também não é um fenômeno recente. No Império Romano, eram comuns as viagens para visita às termas. O turismo ligado à prática de esportes já era registrado na civilização helênica, com a realização dos jogos olímpicos. Como se vê, o hábito de viajar para outras localidades por inúmeros motivos é um fenômeno antigo na história da Humanidade. Segundo McIntosh e Gupta, deve ter surgido com os babilônios por volta de 4000 a.C.: El invento del dinero por los sumerios (babilónios) y el auge del comercio que se inició aproximadamente en el año 4000 a.C. talvez señalen el comienzo de la era moderna de los viajes. Los sumerios fueron los primeiros en concebir la idea del dinero, y en aplicarla a sus transacciones comerciales. (También inventaron la escritura y la rueda, por lo que se les podrá considerar como los fundadores de los viajes.) El hombre podía pagar por el transporte y el alojamiento ya fuera con dinero o por trueque de bienes.1

Três mil anos antes de Cristo, o Egito já era a meca para os viajantes que para lá afluíam para contemplar as pirâmides e outros monumentos. Essas pessoas viajavam pelo rio Nilo em embarcações com cabines bem confortáveis, ou por terra, em carruagens. Já no Egito antigo eram comuns as grandes festas, que atraíam grupos de homens e mulheres que viajavam em embarcações pelo rio Nilo para participar desses eventos, onde havia muita música e muito vinho. Talvez tenham sido os fenícios que mais desenvolveram o conceito moderno de viagens. Como a Fenícia era uma região inóspita para o desenvolvimento da agricultura, 1 McINTOSH, R.; GUPTA S. Turismo: planeación, administración y perspectivas. Cidade do México: Limusa Noriega Editores, 1993. “O invento do dinheiro pelos sumérios (babilônios) e o auge do comércio iniciaram-se aproximadamente no ano 4000 a.C., talvez assinalando o começo da era moderna das viagens. Os sumérios foram os primeiros a conceber a ideia do dinheiro e aplicá-la em transações comerciais (também inventaram a escritura e a roda, pelo que podem ser considerados fundadores das viagens). O homem podia pagar pelo transporte e alojamento fora com dinheiro ou por meio da troca de bens.” (Tradução do autor)

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houve necessidade de se desenvolver o comércio internacional como um instrumento de sobrevivência. Isso ocorreu há mais de mil anos antes de Cristo, época em que são registradas grandes viagens na China e na Índia. Na Grécia antiga, o hábito de viagens era disseminado. Heródoto, um dos primeiros historiadores da Humanidade, viajou pelo Egito, Mar Morto, pela Fenícia e Grécia. Durante o Império Romano, as viagens eram estimuladas por um grandioso sistema de rodovias administrado pelo Estado e protegido pelo exército, e há também registros das primeiras viagens de lazer. Os museus, como atrativos turísticos, surgiram já na civilização grega antiga. Segundo Goeldner et al: Santuários como o de Apolo, em Delfos, e o de Zeus, em Olímpia, foram gradualmente acumulando objetos de valor, doados como agradecimento por serviços prestados ou como suborno por algo que se esperava que fosse realizado.2

Os nobres romanos viajavam longas distâncias exclusivamente para visitar grandes templos. Foram eles que desenvolveram grande capacidade de viagens a longa distância. Chegavam a viajar cerca de 150 km por dia, com a troca periódica dos cavalos que puxavam suas carroças. Ao longo das vias de circulação eram montados postos de troca de animais, o que permitia vencer grandes distâncias em tempos relativamente curtos. Foi nesses pontos que apareceram as primeiras hospedarias de que se tem notícia. Surgia nessa época a hotelaria como um elemento fundamental na viabilização do turismo. As pessoas de mais posses viajavam em liteiras ou em carruagens. Os romanos desenvolveram bastante a tecnologia de construção de estradas. Já em 150 a.C. eram construídas estradas com o uso de nivelador com pêndulo de chumbo. Eram construídos meios-fios com pedras e um contorno inclinado para o escoamento da água da chuva. Algumas dessas estradas ainda hoje são utilizadas. Nesse período, eram usuais as viagens dos romanos a cidades litorâneas para banhos medicinais. A talassoterapia, portanto, data de cerca de 500 anos antes de Cristo. Foram os primeiros spas registrados na história da Humanidade. Mais ou menos na mesma época, no governo de Alexandre, o Grande, na Ásia Menor, eram registrados grandes eventos que atraíam visitantes de todas as partes do mundo. Na região do Éfeso, onde hoje se situa a Turquia, eram registrados mais de 700 mil visitantes para apreciar apresentações de mágicos, de animais amestrados, de acrobatas e de outros artistas. Eram os primeiros registros do turismo de eventos, nos quais havia um grande número de prostitutas, o que nos leva a crer que o turismo sexual também já existia naquela época. 2 GOELDNER, C. et al. Turismo: princípios, práticas e filosofia. Porto Alegre: Bookman, 2002.

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O próprio Alexandre, o Grande, quando visitou a Índia, descobriu estradas em bom estado, ladeadas de árvores e com poços de água, postos de polícia e casas para descanso. Havia uma estrada real com 2 mil km de comprimento e largura de 2 m, por onde passavam carruagens, carros de bois, camelos e elefantes. Também há relatos de grandes viagens que ocorreram na China antiga, como a de Chang Chien no ano de 138 a.C., que chegou a visitar a Pérsia (atual Irã) e a Síria.

1.2 O turismo na Idade Média Com o fim do Império Romano, as viagens tiveram grande decréscimo. Com a sociedade organizada em feudos autossuficientes, as viagens tornaram-se uma grande aventura pelo perigo que representavam em termos de assalto de grupos de bandidos. Como se vê, o problema de segurança dos turistas não é preocupação exclusiva dos tempos modernos. As exceções, nessa época, eram as Cruzadas. Grandes expedições eram organizadas para visitação dos centros religiosos da Europa e para libertar Jerusalém do domínio dos árabes. Talvez tenham sido essas viagens as precursoras do turismo de grupos. Também foi nesse período que mais se desenvolveram as técnicas de acampamentos, origem do campismo. Em 1388 o rei Ricardo II exigiu que os peregrinos portassem autorizações para as viagens, as quais deram origem aos atuais passaportes. As viagens passaram a se tornar mais seguras e a se ampliar após o ano 1000. Começaram a aparecer as grandes estradas, por onde circulavam os comerciantes que transportavam suas mercadorias em animais de carga, carruagens puxadas a cavalo, peregrinos, mendigos, trovadores, monges errantes e estudantes. Nesse período, os viajantes de nível social mais elevado eram hospedados nos castelos ou em casas particulares. Os demais utilizavam desde barracas até hospedarias. Na Idade Média, observou-se também o início de um hábito nas famílias nobres de enviarem seus filhos para estudar nos grandes centros culturais da Europa. Nasciam, assim, as viagens de intercâmbio cultural.

1.3 O turismo na Idade Moderna Com o fim da Idade Média e o advento do capitalismo comercial, as viagens foram se propagando. Criaram-se extensas vias de circulação de comerciantes ao longo do território europeu, primórdios das autoestradas hoje existentes. No entroncamento dessas vias surgiram as grandes feiras de troca de mercadorias. Tratava-se, pois, do início das feiras que atualmente provocam grande fluxo de turismo no mundo todo.

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Para alguns autores, o turismo inicia-se no século XVII, quando os primeiros sinais de crescimento industrial começaram a afetar o modo de vida estabelecido há séculos. O aumento da riqueza, a ampliação da classe de comerciantes e a secularização da educação estimularam o interesse por outras culturas e pelo conceito de que viajar era um meio de educar. A necessidade de ampliação do comércio implicou a ampliação também das rotas dos comerciantes. As viagens que inicialmente eram apenas terrestres passaram a incluir roteiros marítimos, primeiramente ligando a Europa à África pelo mar Mediterrâneo e depois pelos oceanos. Dessa época datam as grandes viagens de Marco Polo (1271), um veneziano que chegou a visitar a China. A despeito da motivação exploratória comercial, as viagens de Marco Polo podem ser consideradas as primeiras viagens turísticas de longo percurso. Antes dele, Benjamin de Tudela, judeu residente em Zaragoza, em 1160, viajou pela Europa, Pérsia e Índia. Os séculos XV e XVI foram marcados pelas grandes navegações; algumas, como a de Fernão de Magalhães, deram volta ao mundo. Essas viagens, que atravessavam os oceanos, levavam centenas de pessoas e duravam vários meses, teriam sido as precursoras dos grandes cruzeiros marítimos da atualidade. Nos séculos seguintes, com o florescimento do capitalismo, o hábito de viajar para estações de águas expandiu-se nas classes mais favorecidas. Inicialmente, os spas instalaram-se no interior dos países e posteriormente deu-se preferência aos spas litorâneos, os quais deixaram de ter destinação exclusiva para tratamento de saúde e passaram a ser procurados para eventos sociais, bailes, jogos de azar e outros tipos de entretenimento. Eram esses centros o conceito mais aproximado do que hoje se conhece como destino turístico de lazer. A era das ferrovias representou uma segunda etapa no desenvolvimento do turismo. O rápido crescimento da população e da riqueza criou um enorme mercado em um curto período de tempo. Data desse período o surgimento das viagens em massa e dos agentes e operadores turísticos, que desenvolvem novas formas de marketing, como as viagens previamente organizadas, os pacotes turísticos, cartazes e folhetos. O advento das ferrovias no século XIX propiciou deslocamentos a distâncias maiores em períodos de tempo menores. Com isso, o turismo ganhou grande impulso. Na Inglaterra, desde 1830, já existiam linhas férreas que transportavam passageiros. Em 1841, Tomas Cook organizou uma viagem de trem para 570 passageiros entre as cidades de Leicester e Lougboroug, na Inglaterra. O sucesso foi tão grande que sua empresa passou a organizar excursões para a parte continental da Europa e, posteriormente, até excursões para os Estados Unidos. A empresa prosperou e passou a ser considerada a primeira agência de viagens do mundo.

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Os historiadores apontam o Sr. Thomas Bennett como um dos precursores do serviço de agenciamento turístico. Quando trabalhava na embaixada da Inglaterra na Noruega, ele organizava viagens para os ingleses que visitavam aquele país. Posteriormente, instalou uma empresa própria especializada em organização de viagens: providenciava os roteiros, o aluguel de carruagens, as provisões para as viagens e tudo mais que fosse necessário aos turistas. As viagens marítimas desenvolveram-se bastante nesse período. Com o advento dos barcos a vapor na segunda metade do século XVIII, a navegação passou a ser mais segura, mais rápida e a ter capacidade maior de carga e de passageiros. Assim, as viagens intercontinentais passaram a ser comercialmente viáveis e iniciou-se um grande intercâmbio turístico, principalmente entre a Europa e os demais continentes. Em 1867, foi organizada a viagem marítima da Cidade do Quaker, nos Estados Unidos, ao Mediterrâneo e à Terra Santa, com 60 passageiros, incluindo Mark Twain, que registrou essa viagem em uma de suas obras. Foi provavelmente o primeiro cruzeiro marítimo organizado e anunciado para os turistas. Em 1850 foi fundada, nos Estados Unidos, a American Express. Essa empresa emitiu, em 1891, os primeiros traveler’s checks e deu início a outros serviços de viagem, transformando-se em uma das primeiras operadoras turísticas no mundo. Uma evolução do turismo ocorreu com a iluminação – a gás ou elétrica –, que estimulou a criação de entretenimentos noturnos, como os cabarés de luxo Moulin Rouge e Follies-Bergére. Data da segunda metade do século XIX a publicação dos primeiros guias de turismo, editados por Karl Baedecker, cujo nome passou a ser considerado sinônimo de guia de turismo. Também nesse período foram organizados grandes eventos que movimentavam turistas pelo mundo todo. Eram as chamadas feiras mundiais, que se iniciaram em 1851 em Londres com 13 mil expositores e 6 milhões de visitantes. A de 1900, comemorativa de início do século XX, em Paris, chegou a reunir 76 mil expositores e quase 51 milhões de visitantes. Com o crescimento do turismo, a atividade foi se estruturando. Em 1875, por exemplo, foi criado o Camping Club de Londres; em 1890, o Touring Club da França. Também em 1890, foi criada a primeira associação de hotéis, a Sociedade Suíça de Hoteleiros. Em 1909, criou-se a Associação de Albergues da Juventude. Em 1919, foi a vez de os agentes de viagem se organizarem, com a criação da Federação Internacional de Agências de Viagens (Fiav). A estruturação do setor privado do turismo foi acompanhada da estruturação do setor público. Em 1910, foi criado o primeiro órgão público oficial de turismo: o Office National du Tourisme, na França. Em 1947, criou-se a União Internacional de Organismos Oficiais de Turismo, entidade precursora da atual Organização Mundial do Turismo (OMT).

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Outra etapa do desenvolvimento do turismo deu-se no período entre as duas grandes guerras mundiais, no qual se desenvolveram as rodovias e o transporte aéreo. O turismo social surge nessa época com o aparecimento dos campings, albergues da juventude e das colônias de férias. Segundo Trigo, Na Suíça, em 1919, mais de 2 milhões de visitantes usufruíram da hospitalidade helvética. Na Alemanha, esse período, […] revelou intensa vida urbana, tão repleta de diversões e atividades culturais que vários jovens do restante da Europa foram atraídos pela efêmera efervescência germânica.3

O advento da aviação é que deu o impulso definitivo para o desenvolvimento do turismo. A aviação, em menos de um século, evoluiu rapidamente, tornando as viagens cada vez mais rápidas e baratas, possibilitando, assim, um grande intercâmbio turístico. O último período de desenvolvimento do turismo é observado a partir do final da Segunda Guerra Mundial. Acontece uma grande revolução tecnológica, notadamente no setor industrial, que resulta em uma aceleração da criação de riquezas e em uma escalada do poder aquisitivo de parcelas da população mundial. Os fatores da demanda nunca tiveram condições mais favoráveis para propiciar os gastos em viagens de lazer. Um contínuo aumento do Produto Interno Bruto (PIB), de 3% ou mais ao ano nos países da Europa ocidental, propiciou crescimento de 6% ao ano das viagens. O turismo mostrou-se elástico em relação à renda. Esse grande crescimento, no entanto, concentrou-se nos 25 países mais desenvolvidos do mundo. Estes, que englobavam menos de um quarto da população mundial, concentraram 85% das chegadas de turistas internacionais e 80% de seus gastos. Os avanços técnicos nos transportes e nas comunicações reforçaram, sobremaneira, os fatores econômicos favoráveis à expansão do turismo. O advento da televisão, em particular, contribuiu muito para a promoção da variedade dos atrativos dos países estrangeiros. Durante esse período, a classe média dos países industrializados teve acesso à compra de automóveis, o que modificou substancialmente o estilo de vida. Em 1953, já eram contabilizados 23 milhões de turistas internacionais, e esse número subiu para 55 milhões já em 1958.

1.4 O turismo no Brasil A história do turismo no Brasil começa com o próprio descobrimento. As primeiras expedições marítimas que chegaram com Américo Vespúcio, Gaspar Lemos, Fernando 3 TRIGO, L. G. G. Turismo e qualidade: tendências contemporâneas. Campinas: Papirus, 1993.

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de Noronha e outros não deixavam de fazer turismo de aventura. Nota-se que essas viagens exploratórias não se restringiam aos portugueses. Documentos históricos mostram que navegadores espanhóis, franceses, holandeses e ingleses exploraram as costas brasileiras. Com a criação das capitanias hereditárias e do Governo-Geral, começou a haver um turismo de negócios entre a metrópole e a colônia e também a necessidade das viagens de intercâmbio cultural, pois os filhos das classes mais abastadas eram mandados a Portugal para estudar. O Ciclo do Ouro e a ocupação da parte ocidental do país deram origem às entradas e bandeiras, verdadeiro início do turismo de aventuras no Brasil. Entretanto, o “turismo receptivo” brasileiro era bastante precário. Relatos históricos mostram que na segunda metade do século XVIII não havia hospedarias na cidade do Rio de Janeiro. Em 1787, o cirurgião inglês John White, cansado de percorrer com outros passageiros de seu navio as ruas estreitas do Rio de Janeiro, considerou o maior incômodo não achar café ou hotéis, onde pudessem tomar refresco ou passar uma ou duas noites em terra.4

Também datam do século XVIII os relatos de viagens dos tropeiros pelo interior do país, por Belchior e Poyares (1987): Toscos em sua construção, paupérrimos no conforto material oferecido, mal abrigando as pessoas das intempéries do dia ou do sereno noturno, erguido à beira das estradas, em geral por proprietários das terras marginais, durante longos anos permitiram levar a civilização para o interior, ao apoiar o fluxo de pessoas e bens. As mais vezes tinham acoplado outro, também rústico, estabelecimento para fornecer bebidas e alimentos.

Um marco importante em nossa história está relacionado com a famosa expedição de Von Humboldt, naturalista alemão que empreendeu longa viagem por grande parte do território brasileiro pesquisando a flora. Tratava-se da primeira grande viagem de ecoturismo empreendida em nosso país. No início do século XIX, a Corte Portuguesa transfere-se para o Brasil e com isso há um grande desenvolvimento urbano, notadamente no Rio de Janeiro. Cresce a demanda por hospedagem na cidade em razão da visita de diplomatas e de comerciantes, iniciando-se, assim, a hotelaria brasileira. Nesse período, Petrópolis revela-se a primeira estância climática brasileira, local escolhido pela realeza para fugir do calor do Rio de Janeiro. Na segunda metade do século XIX, principalmente pela ação do visconde de Mauá, desenvolvem-se os transportes movidos a vapor. Em 1852, é fundada a Companhia de 4 TRIGO, L. G. G. Cronologia do turismo no Brasil. São Paulo: Consórcio CTI/Terra Editoração, 1991.

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15/08/2013 18:03:04


A obra apresenta desde o histórico do desenvolvimento da atividade até os fundamentos básicos de produtos e de mercados turísticos, da segmentação da atividade e da estruturação institucional. Também são avaliados os impactos econômicos, sociais, culturais e ambientais do turismo e suas perspectivas para o futuro. Por tratar as bases para estudo do Turismo, esta publicação é voltada para cursos tanto dessa área quanto de Hotelaria, Lazer, Eventos e Entretenimento. Estudantes e profissionais preocupados com o uso do tempo livre e os movimentos turísticos encontrarão neste livro todo o conjunto de procedimentos que regem o setor.

Luiz Renato Ignarra

FUNDAMENTOS do Turismo

Este livro tem a finalidade de organizar os conceitos básicos de Turismo para servir de base tanto aos alunos dessa disciplina, nos vários níveis, quanto aos profissionais que trabalham nos setores público e privado e no terceiro setor, e que precisam aprofundar teoricamente seus conhecimentos.

3ª edição revista e ampliada

Luiz Renato Ignarra é economista formado pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (Feausp) e doutor em Ciência da Comunicação/Turismo pela Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Além disso, o autor leciona no curso de Administração das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), é consultor da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e sócio diretor da empresa L. R. Ignarra Planejamento em Turismo.

ISBN 13 978-85-221-1539-6

9 7 8 8 5 2 2 11 5 3 9 6

FUNDAMENTOS do

Turismo 3ª edição revista e ampliada

Luiz Renato Ignarra

Tendo em vista a pouca bibliografia especializada em Turismo, e a importância que esse setor tem ocupado nos cenários social, cultural e econômico, esta obra traz a sistematização de seus conceitos fundamentais. Dividido em 13 capítulos, este livro percorre um importante caminho pelos principais pontos dessa atividade. No primeiro capítulo, enfatiza os antecedentes históricos – da Antiguidade à Idade Moderna. No segundo capítulo, evidencia os conceitos básicos de turismo – incluindo definições como a de turista, excursionista e visitante –, os destinos e recursos turísticos. A partir daí, analisa a demanda e a oferta turística, os conceitos básicos de planejamento, os impactos físicos do turismo e as principais tendências, entre outras abordagens. Com linguagem dinâmica e a inclusão de conceitos muito bem organizados, a 3ª edição revista e ampliada de Fundamentos do Turismo contribui para a formação de quem está se aventurando na área de Turismo, bem como oferece subsídios de atualização importantes para quem já é profissional.


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