PSICOPATOLOGIA DA APRENDIZAGEM
PSICOPATOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Apresentação
Apresentação Um conteúdo objetivo, conciso, didático e que atenda às expectativas de quem leva a vida em constante movimento: este parece ser o sonho de todo leitor que enxerga o estudo como fonte inesgotável de conhecimento. Pensando na imensa necessidade de atender o desejo desse exigente leitor é que foi criado este produto voltado para os anseios de quem busca informação e conhecimento com o dinamismo dos dias atuais. Com esses ideais em mente, nasceram os livros eletrônicos da Cengage Learning, com conteúdos de qualidade, dentro de uma roupagem criativa e arrojada. Em cada título é possível encontrar a abordagem de temas de forma abrangente, associada a uma leitura agradável e organizada, visando facilitar o aprendizado e a memorização de cada disciplina. A linguagem dialógica aproxima o estudante dos temas explorados, promovendo a interação com o assunto tratado. Ao longo do conteúdo, o leitor terá acesso a recursos inovadores, como os tópicos “Atenção”, que o alertam sobre a importância do assunto abordado, e o “Para saber mais”, que apresenta dicas interessantíssimas de leitura complementar e curiosidades bem bacanas, para aprofundar a apreensão do assunto, além de recursos ilustrativos, que permitem a associação de cada ponto a ser estudado. Ao clicar nas palavras-chave em negrito, o leitor será levado ao Glossário, para ter acesso à definição da palavra. Para voltar ao texto, no ponto em que parou, o leitor deve clicar na própria palavra-chave do Glossário, em negrito. Esperamos que você encontre neste livro a materialização de um desejo: o alcance do conhecimento de maneira objetiva, concisa, didática e eficaz. Boa leitura!
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Prefácio
Prefácio O ser humano é complexo. É através do indivíduo que as emoções se traduzem, que as sensações assumem forma, que as palavras se personificam. É, portanto, no âmbito dessa complexidade, que cada ciência e cada instituição deve orientar a dinâmica de seu trabalho. Ajudar o indivíduo quando ele sente raiva ou quando está frustrado, apaixonado, deslumbrado, vazio ou incompleto não é tarefa fácil. O profissional que lida com o ser humano nessas condições assume papel de extrema importância, porque será ele a peça fundamental que vai ajudar o indivíduo a equilibrar as emoções e tudo o que tem relação com sua vida: família, amigos e escola. Mas qual é a incumbência da instituição educadora? O que cabe a ela administrar? Neste e-book, procuramos identificar esses pontos e, para isso, elaboramos um estudo abrangente. Na Unidade 1, o leitor terá acesso a um conteúdo que vai explorar os principais conceitos da psicopatologia e os déficits relacionados a cada problema passível de ser enfrentado pelo educador. Na Unidade 2, o foco é voltado para a estrutura motora: suas principais vertentes e dificuldades. Na Unidade 3, falamos sobre os aspectos relacionados à linguagem e toda a problemática que a envolve. E, finalmente, na Unidade 4, alguns comportamentos são analisados, como os violentos, os amenos, os homicidas e as consequências que causam cada um deles. O conteúdo oferecido neste e-book traz respostas a perguntas que permanecem durante muito tempo na mente do educador e ratifica questões que precisam ser cuidadosamente ponderadas por todos aqueles que estão envolvidos com a educação. Este é um conteúdo essencial a você, professor, e tem por objetivo auxiliar sua trajetória como educador. Boa leitura!
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Unidade 1 – A psicopatologia e a escola
UNIDADE 1
A PSICOPATOLOGIA E A ESCOLA
Capítulo 1 Apresentação, 11 Capítulo 2 O que é psicopatologia?, 11 Capítulo 3 O conceito de normalidade em psicopatologia, 12 Capítulo 4 Breve história da psicopatologia, 14 Capítulo 5 A educação inclusiva e a psicopatologia, 16 Capítulo 6 Identificando as principais psicopatologias da
aprendizagem, 20
Capítulo 7 Entendendo a psicopatologia, 23 Capítulo 8 Principais psicopatologias detectadas nos alunos em
contexto escolar, 25
Capítulo 9 Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, 26 Capítulo 10 Transtorno específico de aprendizagem, 27 Capítulo 11 Transtorno de oposição desafiante, 28
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Psicopatologia da aprendizagem
Capítulo 12 Transtorno do espectro autista, 29 Capítulo 13 Transtornos do desenvolvimento intelectual, 30
Conclusão, 31 Glossário, 32
Unidade 1 – A psicopatologia e a escola
1. Apresentação A disciplina de Psicopatologia da Aprendizagem trata de quatro assuntos relacionados ao tema em questão: (1) A psicopatologia e a Escola; (2) Psicopatologia das condutas motoras e das funções cognitivas; (3) Psicopatologia da linguagem; e (4) Psicopatologia das condutas agressivas e distúrbios de comportamento. Esta primeira unidade contempla discussões acerca da “Psicopatologia e a Escola”. Muitos já devem ter lido ou escutado que a escola deve garantir, de fato, os direitos dos alunos que apresentam alguma demanda relacionada à saúde mental, ou seja, uma psicopatologia. Devem, também, ter refletido sobre como a psicopatologia pode interferir no aproveitamento e desempenho do aluno. Por se tratar de um campo vasto, o estudo da psicopatologia e sua relação com a escola abrangem diversas reflexões, tais como: o que é psicopatologia; como identificá-la; como a sua história se construiu; e como é vista a educação inclusiva neste campo. Esta primeira unidade busca se aprofundar nessas reflexões, com o objetivo de compreender e construir um pensar crítico sobre o assunto.
2. O que é a psicopatologia? Psicopatologia é o estudo das causas e da natureza dos transtornos psíquicos, isto é, analisa os problemas relacionados ao funcionamento das funções mentais, bem como os componentes psicológicos das perturbações somáticas. Trata da natureza essencial da doença mental, suas causas, mudanças estruturais e formas de manifestação. Condutas psicopatológicas consistem em sintomas de configuração e duração variadas, que incidem em dois tipos de transtornos mentais: (1) orgânicos, que são aqueles que apresentam causas físicas evidentes; e (2) funcionais, que significam padrões comportamentais atípicos, sem claros indícios de alterações orgânicas cerebrais. A investigação da psicopatologia é a vida psíquica compreendida, que se manifesta por meio de condutas sensorialmente percebidas e nas exteriorizações das diferentes formas de linguagem. Para isso, é necessário interpretar qualquer forma de manifestação da pessoa, como expressões, gestos e comportamentos (PAIM, 2008). Para identificar a existência de casos de psicopatologia, deve-se investigar a história clínica de forma minuciosa e fazer um resumo detalhado dos fatores sociais, psicológicos e biológicos que podem contribuir para o surgimento de um transtorno mental particular. Portanto, a psicopatologia pode ser identificada por sinais comportamentais, vivências subjetivas e queixas relatadas pela pessoa e sua família.
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Psicopatologia da aprendizagem
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IQUE ATENTO! A psicopatologia é uma área de conhecimento interdisciplinar que visa se aprofundar nos estados psíquicos relacionados ao sofrimento mental.
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URIOSIDADE! A psicopatologia é uma área de conhecimento multidisciplinar, que envolve um conjunto de discursos com variados objetivos, métodos e questões.
Este campo tem como principal base a Psiquiatria. Porém, também envolve o conhecimento de outros áreas, como: Biologia, Neurociência, Psicologia, Antropologia, Sociologia, Filosofia, Linguística e História.
3. O conceito de normalidade em psicopatologia O conceito de saúde e de normalidade na psicopatologia são questões complexas, uma vez que cada ser humano está inserido em crenças e culturas distintas. É claro que, ao tratar de situações em que as alterações mentais e comportamentais são acentuadas e de longa duração, a diferenciação entre o normal e o patológico não é tão complexa (DALGALARRONDO, 2008). Porém, existem casos limítrofes que oscilam entre a constatação do “saudável” e do “patológico”, o que torna difícil a identificação e compreensão de ambos os estados. Tal condição viabiliza dilemas como: o que é considerado normal? o que é patológico? onde termina a saúde e inicia a doença? Uma forma de responder a tais questionamentos é através da identificação do conceito de normalidade na psicopatologia, por meio de definições acerca do que é saúde e o que é doença mental. Desta forma, no Quadro 1, serão apresentados alguns exemplos de definições sobre os critérios de normalidade. O que é considerado normal e o que é considerado patológico?
Unidade 1 – A psicopatologia e a escola
Quadro 1 - Critérios de normalidade Saúde pela ausência da doença É a presença da saúde pela ausência da doença, ou seja, não há sinais e sintomas de alterações mentais exacerbadas. Saúde ideal Neste caso, a normalidade se estabelece por uma norma ideal que é socialmente construída e referendada. Saúde pelo critério estatístico A normalidade consiste em características (peso, comportamento, sono etc.) observadas com mais frequência. Embasada em determinadas distribuições estatísticas na população em que se vive. Saúde pelo bem-estar É a normalidade não apenas como ausência de doença, mas sim considerando o bem-estar físico, social e mental do indivíduo. Saúde funcional É baseada em aspectos funcionais, não necessariamente quantitativos. É considerado patológico quando o sofrimento pode interferir na harmonia biológica do indivíduo e/ ou atingir seu grupo social. Saúde pelo processo Considera os aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial de acordo com as mudanças em cada período etário. Saúde subjetiva A normalidade se dá pela percepção subjetiva do próprio indivíduo sobre o seu estado de saúde e bem-estar. Saúde como liberdade A normalidade, neste caso, é vista pela possibilidade de liberdade existencial. Caso esta liberdade não esteja presente, considera-se a chegada da doença. Saúde operacional Neste critério procura-se trabalhar operacionalmente com as definições sobre o que é normal e patológico. *Nota-se: Todo o conteúdo desta tabela foi adaptado para este livro e obteve como base os significados dos critérios por Dalgalarrondo (2008).
Como mostra o quadro, há diversos critérios adotados para normalidade e anormalidade na psicopatologia. Porém, a escolha de um significado para tais critérios depende de opções filosóficas, ideológicas e pragmáticas do profissional. A normalidade, em suas diversas constituições, se transpõe de forma flexível, demonstrando que seu significado se transforma de acordo com as condições individuais. Portanto, pode-se afirmar que o limite entre o normal e o patológico é impreciso. Por exemplo: duas pessoas podem se submeter a situações de risco, semelhantes ou iguais, porém o que vai determinar o normal e o patológico é a reação que cada uma delas terá diante da sua realidade.
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Portanto, é para além do corpo que se deve olhar, pois o que adoecerá não são apenas partes ou totalidades anatômicas. O adoecimento vai além dos limites do corpo, envolvendo um mal-estar que pode, também, estar inserido nos diversos contextos sociais (CANGUILHEM, 2010). Os critérios de normalidade e patologia variam de acordo com a função dos fenômenos específicos com os quais se trabalha, e também de acordo com a opção teórica do profissional. Portanto, o campo da psicopatologia permite o uso e a associação de vários critérios de normalidade, desde que se mantenha uma postura crítica e reflexiva sobre como utilizá-los para compreender o ser humano.
4. Breve história da psicopatologia A história da doença mental enquanto fenômeno psicossocial caminha junto com a trajetória do homem. Em diferentes tempos, em vários séculos e décadas, encontram-se indícios de pessoas que sofreram alteração comportamental no que se refere ao descontrole emocional, a ponto de causar estranheza em seus semelhantes. A psicopatologia surgiu nos hospícios, com a institucionalização e segregação de pessoas ditas loucas, que apresentavam comportamentos atípicos, atitudes estranhas, personalidades desagradáveis ou incomuns e, até mesmo, “possessões demoníacas”. Na Idade Média, a loucura era considerada uma espécie de “possessão demonía ca” e, na Modernidade, época do Racionalismo, passa a ser vista como perda da consciência de si.
Ilustração de 1868 de um antigo prédio psiquiátrico em Paris.
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Institucionalização/segregação de pessoas com transtornos mentais.
Com os cuidados médicos e uma visão mais humanizada sobre a doença mental, a “loucura” passa a ser considerada psicopatologia, e não mais “possessão” ou perda da razão. Embora o surgimento da psicopatologia tenha se dado nos hospícios de alienados, aos poucos, este ramo da ciência foi ganhando autonomia, tornando-se um conhecimento independente da psiquiatria. Sendo assim, oferece indispensável colaboração aos profissionais de todos os grupos de ciências humanas e da saúde. Cada época histórica, no entanto, trata de maneira única os fenômenos caracterizados, avaliando aspectos culturais, sociais e políticos do período.
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URIOSIDADE! A psicopatologia é um fenômeno de caráter único do ser humano. Nos animais, pode haver alteração de comportamento, mas isso não é derivado de uma psicopatologia, pois o animal não põe em questão seu ser, ou seja, não há sentimentos como a culpa, o inconformismo, a raiva, o vazio, portanto, não há sofrimento psíquico.
A história da psicopatologia é determinada por fatores biológicos e sociais, tendo o seu desenvolvimento durante a primeira metade do século XIX. No início do século XIX, a psicopatologia se baseava em informações obtidas a partir da observação da manifestação do comportamento, atuando na interface entre a filosofia e a psiquiatria clínica.
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Partindo para o século XX, houve o encontro da psicopatologia com a fenomenologia, havendo uma aliança entre os campos. Com sua ênfase na subjetividade e descrições neutras, a fenomenologia tornou-se a parceira ideal para a psicopatologia. A contribuição deste campo levou a uma pluralidade de pontos de vista psicopatológicos, que tiveram fortes influências dos métodos de Karl Jasper (1883 – 1969) e Ludwig Binswanger (1881 – 1966). Assim, a influência da fenomenologia fez com que a psicopatologia evoluísse para além de meras descrições de sintomas.
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TENÇÃO! A psicopatologia é o campo que descreve, define e classifica sinais e sintomas de doenças mentais. Esse campo prosperou no século XIX e, no início do século XX, com fundamental contribuição de Karl Jaspers e sua abordagem fenomenológica.
5. A educação inclusiva e a psicopatologia Para falar de inclusão, é importante entender a trajetória desde o início deste movimento até os dias de hoje. O movimento mundial denominado de educação inclusiva teve grande visibilidade no final da década de 1970, ganhando forças a partir de 1980. Obteve amplo crescimento, no entanto, no início do ano de 1990, por meio do documento elaborado durante a conferência mundial de educação para todos, na cidade de Jomtien, na Tailândia (Unesco, 1990). Na luta para que os direitos da educação se estabelecessem a todos, concebeu-se na Conferência Mundial de Educação Especial de Salamanca, em 1994, a resolução da Organização das Nações Unidas – Declaração de Salamanca (Unesco, 1994). Com a Declaração de Salamanca de 1994, todo aluno passou a ter direito à educação, com a garantia ao oferecimento de um nível adequado de aprendizagem. Ao destacar a valorização da individualidade de cada educando, independente de apresentar necessidades especiais ou não, a Declaração de Salamanca obteve avanços significativos. A história sobre o movimento da educação inclusiva mostra que alguns países buscam atender alunos com alguma necessidade especial nos sistemas educativos em geral. Esta ideia vem evoluindo com a extensão da educação inclusiva como uma reforma que visa responder à diversidade entre todos os estudantes. Países desenvolvidos, como os Estados Unidos da América, Canadá, Espanha e Itália foram os pioneiros na implantação de escolas e classes inclusivas. Na década de 70, em países escandinavos, a Europa iniciou o processo de educação inclusiva, gerando classes e escolas para esse propósito.
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Movimentos mais radicais para inclusão ocorreram na Itália. Na Espanha, entretanto, o processo foi mais gradual. Nos Estados Unidos e Canadá, ocorreram alguns movimentos que deram início à educação inclusiva. Em relação a outros países como Alemanha, Holanda, Luxemburgo e França, as experiências para a prática inclusiva foram criadas de maneira isolada. Os movimentos a favor de práticas inclusivas na educação obtiveram força a partir do final dos anos 80, ganhando destaque na década de 90 e expandindo até os dias de hoje. O Brasil ganhou visibilidade no século XIX ao inspirar-se na experiência Europeia. Embora iniciativas isoladas e precursoras tenham ocorrido anteriormente à década de 90, apenas nesta época a educação inclusiva obteve marcos importantes que, de fato, colaboraram para sua evolução. No século XVIII e em meados do século XIX, os indivíduos que apresentavam qualquer necessidade especial, como deficiência ou doença de saúde mental, eram protegidos em instituições residenciais e segregados socialmente. Em razão da preocupação com o desenvolvimento educacional, surge, no final do século XIX e meados do século XX, a inserção de classes especiais dentro de escolas regulares, visando oferecer à pessoa deficiente uma educação segregada. Com o objetivo de garantir o acesso e permanência de pessoas com qualquer tipo de necessidade especial no ensino regular, o Ministério da Educação (MEC) passou a fomentar a política de construção de sistemas educacionais inclusivos. Nesse sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), por meio da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, garante a oferta de atendimento educacional especializado (AEE) na rede regular de ensino àqueles detentores de deficiência (BRASIL, 1990). No final do século XX, houve um movimento cujo objetivo era integrar indivíduos portadores de deficiência em ambientes escolares, com a preocupação de oferecer subsídios educacionais os mais próximos possíveis daqueles garantidos às pessoas “normais”. Porém, nesta fase, a educação se baseava no fato de que o aluno deveria ser alfabetizado até o limite de sua capacidade. Ainda que, na década de 90, as discussões fossem ampliadas, nota-se, pelas descrições históricas, que existiram poucos avanços no que se refere à efetivação da construção dos contextos educacionais inclusivos. Em 2001, o Plano Nacional de Educação (PNE), por meio da Lei no 10.172, de 9 de janeiro daquele ano, reafirmou a importância da garantia de vagas em estabelecimentos de ensino regular para alunos com diferentes tipos e níveis de
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necessidades especiais e assegurou a Educação Especial como modalidade de educação escolar (BRASIL, 2001). No ano de 2006, surgiu o Plano Nacional de Educação e Direitos Humanos e, posteriormente, em 2007, chega o Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE). No primeiro documento, existem temas relacionados às pessoas com deficiência e currículos escolares, tendo este sido elaborado pelo MEC, Ministério da Justiça, Unesco e Secretaria Especial dos Direitos Humanos. O PDE aborda questões pautadas na infraestrutura das escolas, no que diz respeito a salas com recursos multifuncionais, acessibilidade das edificações escolares e formação docente. O Decreto no 6.571, em 2008, dispõe que o AEE deve estar integrado ao projeto pedagógico do ensino regular e obriga a União a prestar apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de ensino no oferecimento da modalidade (BRASIL, 2008). Como complemento, a Resolução no 4 CNE/CEB, de 2009, orientou o estabelecimento do AEE no sistema regular de ensino no contraturno e, preferencialmente, nas salas de recursos multifuncionais. A Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (BRASIL, 2012). O último Plano Nacional de Educação, vindo com a Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, definiu as bases da política educacional brasileira para os próximos 10 anos. Com relação à educação inclusiva, ele busca universalizar (preferencialmente no sistema regular de ensino) o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado para crianças e adolescentes de 4 a 17 anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. As limitações encontradas nestes documentos dizem respeito ao termo “preferencialmente”, que surge, na maior parte, sobre a educação inclusiva, e abre brechas para que pessoas com alguma necessidade especial permaneçam, muitas vezes, matriculadas apenas em escolas especiais.
Aluno com necessidade especial.
Vivenciamos um momento em que se fala, mundialmente, sobre inclusão escolar na rede regular de ensino. A legislação é explícita quanto à obri-
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gatoriedade em acolher e matricular todos os alunos. Porém, não é suficiente apenas esse acolhimento. O aluno com alguma necessidade especial, mais especificamente com algum tipo de psicopatologia, que é a população investigada nesta unidade, deve ter condições efetivas de aprendizagem e desenvolvimento de suas potencialidades. Os sistemas de ensino devem se organizar para que, além de garantir essas matrículas, assegurem, também, a permanência de todos os alunos, sem perder de vista a intencionalidade pedagógica e a qualidade do ensino. Os fundamentos teórico-metodológicos da Educação Inclusiva baseiam-se na concepção de educação de qualidade para todos e no respeito à diversidade dos educandos. Para isso, é imprescindível uma participação mais qualificada dos educadores para o avanço desta importante reforma educacional, que objetiva o atendimento das necessidades educativas de todos os alunos, com ou sem necessidades especiais. É um grande desafio fazer com que a Inclusão ocorra sem se perder de vista que, além das oportunidades, é preciso garantir o avanço na aprendizagem, bem como o desenvolvimento integral desta população.
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ARA SABER MAIS! Quer se aprofundar nos documentos e leis relacionados à Educação Especial? Consulte os links:
• Declaração de Salamanca: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2015. • MEC/SEESP: <http://peei.mec.gov.br/arquivos/politica_nacional_educacao_especial.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2015. • Lei 8.069: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 18 abr. 2015. • Lei 10.172: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm>. Acesso em: 18 abr. 2015. • Decreto 6.571: <http://www.ebc.com.br/decreto-no-6571-de-17-de-setembro-de-2008dispoe-sobre-o-atendimento-educacional-especializado>. Acesso em: 18 abr. 2015. • Lei 12.764: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764. htm>. Acesso em: 18 abr. 2015. • Lei 13.005: <http://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/125099097/lei-1300514>. Acesso em: 18 abr. 2015.
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6. Identificando as principais psicopatologias da aprendizagem Por uma série de circunstâncias relacionadas às questões biopsicossociais, milhares de crianças, adolescentes e jovens precisam de uma atenção educacional específica, adaptada à sua necessidade pessoal e social. Aqueles cujas respostas psicoeducacionais e sociais exigidas por sua situação não são respondidas devido à falta de profissionais qualificados, ou em razão de meios inadequados, entre outros fatores, acabam, com frequência, não evoluindo em questões socioeducativas. A escola é um ambiente que ultrapassa seu papel acadêmico, influenciando no pleno desenvolvimento e bem-estar do aluno. Os sintomas advindos da psicopatologia exercem considerável impacto ao indivíduo, não só pelo fato da presença característica do distúrbio, mas, também, pela virtude da discriminação, que muitas vezes os impedem de participar de atividades escolares. As psicopatologias podem interferir no ambiente escolar, dificultando o desempenho daqueles que a possuem. Essa dificuldade pode surgir devido aos critérios e diagnósticos não tratados, que em grande parte possibilitam déficits psíquicos em: (1) comunicação, e (2) aspectos motores, (3) sociais, (4) emocionais e (5) comportamentais. Problemáticas advindas da psicopatologia, muitas vezes, dificultam o acompanhamento do ritmo normal de ensino-aprendizagem por parte do aluno, o que tornam necessárias intervenções educacionais específicas. Mas, como podemos identificar que o aluno possui algum tipo de psicopatologia que interfere na aprendizagem sem que exista um laudo com o diagnóstico concreto?
Diversas psicopatologias envolvem a aprendizagem.
Cada pessoa possui um ritmo diferenciado de desenvolvimento e amadurecimento da aprendizagem, que devem ser respeitados. Porém, aqueles alunos que apresentam não só ritmos distintos de aprendizagem, mas, também, características sintomáticas, que podem afetar as questões acadêmicas (de ensino e aprendizado), e interferir no campo social, de interação e de necessidades mais elementares da vida cotidiana, devem ser observados e receber a atenção necessária. Além disso, é
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muito importante trocar informações com a família sobre aspectos fenomenológicos observados. Em relação às psicopatologias que envolvem a aprendizagem, há uma série de especificidades que necessitam ser levadas em consideração. Para melhor compreender, vamos listar, a seguir, algumas queixas e características advindas de possíveis psicopatologias, como: (1) agitação; (2) ansiedade; (3) teimosia; (4) mentiras; (5) agressividades; (6) expressão de sentimentos de maneira inadequada; (7) dificuldade de interação/relacionamento; (8) déficits acadêmicos; (9) medos; (10) angústia; (11) falta de apetite; (12) problemas com sono e vigília. Essas são apenas algumas características que podem ser observadas em uma suposta doença mental. O campo da psicopatologia inclui um vasto número de fenômenos humanos diferenciados, associados a um diagnóstico de doença mental. Ao identificar sintomas característicos da psicopatologia, dois aspectos básicos devem ser considerados (DALGALORONDO, 2008): • As características dos sintomas – São as estruturas básicas dos sinais e sintomas. Essas estruturas são semelhantes em problemáticas da mesma classe. • Conteúdo – É a consistência da alteração estrutural dos sinais e sintomas. Este aspecto, geralmente, é individual e depende da vivência de cada um. Portanto, a característica é a forma dos sintomas (alucinação, ideia obsessiva, labilidade afetiva etc.), e o conteúdo é o que pode ser utilizado para preencher a alteração estrutural (conteúdo de culpa, religioso, de perseguição etc.).
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TENÇÃO! Para memorizar, observe o exemplo: um escolar de família muito religiosa possui grande ansiedade e medos constantes e exacerbados de novas situações, chegando a desmaiar algumas vezes. Para lidar com seus temores, procura a religião, rezando sempre antes de alguns atos. Características dos sintomas – ansiedade, medo e desmaios. Conteúdo – Consistência do medo, da ansiedade, religião e crenças.
Ainda de acordo com Dalgalarrondo (2008), é importante observar além das características e conteúdo, o aspecto global do escolar, considerando sua postura, expressão corporal e atitudes psicológicas específicas e gerais. Para que não haja consequências devido a precipitações errôneas, é necessário observar o caso de forma detalhada e trocar informações com profissionais relacionados da área. As observações globais do indivíduo são necessárias e importantes, pois a pessoa adoece na sua totalidade. As funções psíquicas não funcionam de forma
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PSICOPATOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Este livro, bastante didático e de fácil entendimento, trata da psicopatologia e a escola, abordando a psicopatologia das condutas motoras e das funções cognitivas, da linguagem e das condutas agressivas e distúrbios de comportamento.