na ótica fenomenológico-existencial
2ª EDIÇÃO REVISTA E AMPLIADA
VALDEMAR AUGUSTO ANGERAMI – CAMON (org.)
APLICAÇÕES
Destina‑se aos cursos de Psicologia, Psiquiatria, Enfer‑ magem e Filosofia, nas disciplinas teoria e técnica em psicoterapia, ludoterapia, psicoterapia infantil e adoles‑ cente, aconselhamento psicológico e técnicas de exame psicodiagnóstico. Leitura indicada, também, para progra‑ mas de graduação e pós‑graduação em Psicologia Clínica, Psicossomática, Psicologia da Saúde e psicodiagnósticos.
ISBN 13 ISBN 13978-85-221-1168-8 978-85-221-1096-4 ISBN 10 ISBN 1085-221-1168-5 85-221-1096-4
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o atendimento infantil na ótica fenomenológico-existencial
Este livro mostra a compreensão do atendimento infan‑ til a partir do enfoque fenomenológico‑ existencial. É a primeira obra que reúne trabalhos envolvendo crianças dentro desse enfoque e, seguramente, abrirá caminhos para que novas publicações venham na sequência. O tex‑ to, dedicado exclusivamente ao universo infantil, atende a estudiosos e profissionais que há muito se identificam com essa abordagem fenomenológico‑existencial. O atendimento infantil na ótica fenomenológico-existencial representa uma nova compreensão do adoeci‑ mento e do tratamento psíquico da criança.
VALDEMAR AUGUSTO ANGERAMI – CAMON (org.)
o atendimento infantil
o atendimento
infantil
na ótica fenomenológico-existencial 2ª EDIÇÃO REVISTA E AMPLIADA
VALDEMAR AUGUSTO ANGERAMI – CAMON (org.)
Arlinda B. Moreno • Débora C. Azevedo • Elizabeth R. M. do Valle Karla C. Gaspar • Marisa Fortes • Paula L. Angerami Sônia C. de Andrade Oliveira • Vanessa Maichin • Vânia M. Bruneli
OUTRAS OBRAS INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA: Temas e Variações Edição Concisa Tradução da 7ª edição norte‑americana Wayne Weiten AS VÁRIAS FACES DA PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL Valdemar Augusto Angerami – Camon (org.) PSICOLOGIA DA SAÚDE Um Novo Significado para a Prática Clínica 2ª edição revista e ampliada Valdemar Augusto Angerami – Camon (org.), Esdras Guerreiro Vasconcellos, Karla Cristina Gaspar, Heloisa Benevides de Carvalho Chiattone, José Carlos Riechelmann e Ricardo Werner Sebastiani PSICOLOGIA HOSPITALAR: teoria e prática 2ª edição Valdemar Augusto Angerami – Camon (org.)
O Atendimento Infantil na Ótica Fenomenológico-Existencial 2a edição revista e ampliada
Valdemar Augusto Angerami (organizador) Arlinda B. Moreno Débora C. Azevedo Elizabeth R. M. do Valle Karla C. Gaspar Marisa Fortes Paula L. Angerami Sônia C. de Andrade Oliveira Vanessa Maichin Vânia M. Bruneli
Austrália • Brasil • Japão • Coreia • México • Cingapura • Espanha • Reino Unido • Estados Unidos
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Sumário Apresentação xi VALDEMAR AUGUSTO ANGERAMI
Capítulo 1 – A compreensão infantil a partir de filmes 1 VALDEMAR AUGUSTO ANGERAMI 1.1 1.2
1.3
INTRODUÇÃO 3 O MITO DA INFÂNCIA FELIZ 5 1.2.1 Sobre a pedofilia 7 1.2.2 Sobre o aborto 9 1.2.3 Sobre a obesidade infantil 10 1.2.4 Sobre a subjetivação da violência 11 1.2.5 Sobre a violência doméstica 13 1.2.6 Sobre o bullying 14 1.2.7 Sobre o estigma de diagnósticos médicos e psicológicos 16 1.2.8 Sobre a utilização de filmes 17 ALGUNS FILMES ESCOLHIDOS PARA A ANÁLISE 19 1.3.1 Desestruturação familiar, solidão e enfrentamento de adversidades 20 1.3.1.1
Sugestões temáticas de discussão e reflexão 22
1.3.2
Incesto e pedofilia 23
1.3.3
Solidão: o desespero infantil levado ao extremo 28
1.3.2.1 1.3.3.1
Sugestões temáticas de discussão e reflexão 26 Sugestões temáticas de discussão e reflexão 29
1.3.4
Desagregação familiar e sofrimento infindável: uma ode à vida 31
1.3.5
As violências doméstica e familiar levadas ao extremo da dignidade humana 35
1.3.4.1
1.3.5.1
1.3.6
Sugestões temáticas de discussão e reflexão 34
Sugestões temáticas de discussão e reflexão 38
Bullying: humilhação impiedosa no ambiente escolar 40 1.3.6.1 Sugestões temáticas de discussão e reflexão 42 V
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VI
O ATENDIMENTO INFANTIL NA ÓTICA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL
1.4 OUTROS FILMES RECOMENDADOS PARA ANÁLISE 43 1.5 CONSIDERAÇÕES COMPLEMENTARES 45 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48
Capítulo 2 – O autoconhecimento da criança em psicoterapia infantil na ótica fenomenológico-existencial 51 VÂNIA MIDORI BRUNELI 2.1 2.2
CONSIDERAÇÕES INICIAIS 53 DESCRIÇÃO DO CASO 55 2.2.1 O Caso Vitão 55 2.3 O TRABALHO DESENVOLVIDO 60 2.3.1 Elaboração do livro de história da criança 60 2.3.2 A entrega do livro: o livro em si 64 2.3.3 Os fenômenos que apareceram após a entrega do livro para a criança e a família 71 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 74 ANEXO AO CAPÍTULO 2 – RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA 75 SUFLÊ DE ROSAS 79
VALDEMAR AUGUSTO ANGERAMI
Capítulo 3 – Acompanhamento psicológico em oncologia pediátrica 81 ELIZABETH RANIER MARTINS DO VALLE 3.1 3.2 3.3 3.4
INTRODUÇÃO 83 PSICOTERAPIA E ONCOLOGIA PEDIÁTRICA 87 O PSICOTERAPEUTA 91 POSSIBILIDADES DE ATENDIMENTO 92 3.4.1 Acompanhamento psicológico individual 92 3.4.2 Grupo de apoio aos pais 96 3.4.3 Grupo de apoio psicológico à criança com câncer 98 3.4.4 Grupo de apoio psicológico ao adolescente com câncer 100 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 101
Capítulo 4 – Reflexões e intervenções em um caso de encoprese 103 DÉBORA CANDIDO AZEVEDO 4.1 4.2
INTRODUÇÃO 105 PABLO, UM CASO DE ENCOPRESE 106
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SUMÁRIO
VII
4.3 4.4 4.5
ALGUMAS REFLEXÕES FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAIS 110 PABLO E A PSICOLOGIA INFANTIL 112 O DESENVOLVIMENTO INFANTIL NA PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA 115 4.6 REFLETINDO SOBRE O SIGNIFICADO DA ENCOPRESE 117 4.7 A QUESTÃO DA CORPOREIDADE EM PSICOTERAPIA 121 4.8 VISITANDO A DIMENSÃO MOTIVACIONAL EM PABLO 124 4.9 ENCERRANDO UM CICLO 128 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 129 ANEXO AO CAPÍTULO 4 – RELATÓRIO PSICOLÓGICO 130 CHUVA 134
KARLA CRISTINA GASPAR
Capítulo 5 – Suicídio infantil: o escarro maior do desespero humano 135 VALDEMAR AUGUSTO ANGERAMI 5.1 5.2 5.3 5.4 5.5 5.6 5.7
INTRODUÇÃO 137 EM BUSCA DE CONCEITOS 137 SOBRE O DESESPERO 142 O DESESPERO INFANTIL 144 NADA MAIS FALSO! 149 SOBRE A INTENCIONALIDADE 152 SOBRE A CULPA 155 5.7.1 Culpa por ter causado a morte 156 5.7.2 Culpa em função do papel cultural ou social 157 5.7.3 Culpa moral 158 5.7.4 Culpa por ter sobrevivido 159 5.7.5 Atribuição de culpa ao outro 159 5.7.6 Culpa por não possuir conhecimentos sobre a condição humana 160 5.8 PROPOSTA PROPEDÊUTICA 161 5.9 CONSIDERAÇÕES COMPLEMENTARES 164 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 165
Capítulo 6 – Desdobramentos da vivência de bullying – um olhar existencial 167 SÔNIA CRISTINA DE ANDRADE OLIVEIRA 6.1
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INTRODUÇÃO 169
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VIII
O ATENDIMENTO INFANTIL NA ÓTICA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL
6.2 6.3 6.4
BREVE HISTÓRICO 170 O QUE É O BULLYING? 170 TIPOS DE BULLYING 173 6.4.1 Cyberbullying 174 6.5 O BULLYING E SEUS PERSONAGENS 176 6.5.1 Os agressores 176 6.5.2 Os agredidos 178 6.5.3 Os espectadores 179 6.6 EFEITOS E CONSEQUÊNCIAS 180 6.7 DISCUSSÃO DE CASO 182 6.7.1 Análise do caso 183 6.8 CONCLUSÃO 189 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 191 A MULHER MORENA 193
VALDEMAR AUGUSTO ANGERAMI
Capítulo 7 – Os diversos caminhos em psicoterapia infantil 195 VANESSA MAICHIN 7.1 7.2 7.3
INTRODUÇÃO 197 OS POSSÍVEIS CAMINHOS NO ATENDIMENTO AOS PAIS 199 AMPLIANDO A COMPREENSÃO DA CRIANÇA POR MEIO DAS VISITAS DOMICILIAR E ESCOLAR 204 7.3.1 Visita domiciliar 204 7.3.2 Visita escolar 210 7.4 UM NOVO OLHAR AOS TESTES PSICOLÓGICOS 229 7.5 OS POSSÍVEIS CAMINHOS NO ATENDIMENTO À CRIANÇA 236 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 248
Capítulo 8 – A infância e o sentido de ser criança 251 PAULA LINHARES ANGERAMI 8.1 INTRODUÇÃO 253 8.2 A CRIANÇA RETRATADA NAS OBRAS DE ARTE 253 8.3 A INFÂNCIA E SUA HISTORICIDADE 259 8.4 A LEGISLAÇÃO E A INFÂNCIA 262 8.5 A INFÂNCIA NA CONTEMPORANEIDADE 263 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 264
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SUMÁRIO
IX
Capítulo 9 – Análise de caso: uma visão multiteórica 265 ARLINDA B. MORENO KARLA CRISTINA GASPAR MARISA FORTES 9.1 9.2
9.3
INTRODUÇÃO 267 DESCRIÇÃO DO CASO 267 9.2.1 Histórico 267 9.2.2 Queixa 268 ANÁLISE DO CASO PELA ÓTICA DA PSICANÁLISE (por KARLA Cristina Gaspar) 270 9.3.1 Breve apontamento sobre os primórdios do tratamento psicanalítico com crianças até os dias atuais 270 9.3.2 Breve exposição sobre as contribuições teóricas e técnicas de D. W. Winnicott e J. Bowlby 274 9.3.3 Compreensão do caso de Lilian 277 9.3.3.1 9.3.3.2 9.3.3.3
9.4
“A ideia de fazer o suicídio” 278 A bolsinha florida 282 A contratransferência 283
ANÁLISE DO CASO PELA ÓTICA DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (por MARISA FORTES) 285 9.4.1 Reflexão sobre o suicídio infantil 286 9.4.2 O discurso de Lilian 287 9.4.3 A TCC com crianças 288 9.4.4 Uma proposta de tratamento para Lilian 290 9.4.5 Considerações e algumas (in) conclusões finais 291
9.5
ANÁLISE DO CASO PELA ÓTICA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL (por Arlinda B. Moreno) 293 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 298 UM PEDAÇO DE CHOCOLATE 301
VALDEMAR AUGUSTO ANGERAMI
Sobre os autores 303
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Apresentação VALDEMAR AUGUSTO ANGERAMI
A essência da vida é chorar como adulto E sorrir como criança… Sabedoria cigana
Este livro traz diversos trabalhos que envolvem crianças e que foram realizados sob o prisma fenomenológico-existencial. Ele mostra o modo como concebemos o universo infantil e também como estamos instrumentalizados para intervir em níveis psicoterápicos quando se faz necessário. Além disso, a obra apresenta uma análise de caso com diferentes óticas em contraponto com a compreensão fenomenológico-existencial. Trata-se de um livro que leva um pouco de nós mesmos para tantos que buscam informações e reflexões. Um pouco daquilo que sonhamos para a psicologia e para uma compreensão mais humana dos pacientes que se encontram diante das vicissitudes do caminho e que procuram pela psicoterapia em busca de alívio. E, antes de qualquer outro atributo que se queira conferir a esta obra, é um toque de carícia na alma de seus leitores. Cada um deles ainda será acarinhado por nosso orgulho e pelo prazer de tê-lo como companheiro de jornada. Também será acarinhado com nosso agradecimento pela generosidade de sua leitura. Cada apresentação de livro escrita, seja ela para um livro próprio ou para o livro de um colega, sempre traz uma carga de angústia e aflição muito grande. Saber que somos referenciais teóricos para tantos acadêmicos e profissionais é inquietante, pois, na verdade, não somos algo absoluto sobre o qual se pode debruçar de modo infalível em busca de conhecimento. Ao contrário, temos presente o princípio da maiêutica de Sócrates, em que a dialética com o outro, em vez de nos transmitir seu saber, apenas nos aumenta a consciência de nosso desconhecimento. Assim, ao mesmo tempo que somos referência, ficamos preocupados pela consciência da falta de conhecimento que temos diante de nós, em nossos próprios caminhos e buscas.
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XII
O ATENDIMENTO INFANTIL NA ÓTICA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL
Talvez fossem necessárias a delicadeza e a leveza da música de Mozart para se entender a doçura infantil; os acordes da grandeza melódica de Villa-Lobos para se entender a criança em seus arroubos e buscas desvairadas; a tristeza humana da música de Beethoven para se entender o coração infantil que padece de sofrimentos em sua alma ainda tão tenra e delicada; a algazarra matinal dos pássaros anunciando o amanhecer para podermos tocar seu coraçãozinho ainda tão frágil e delicado; a suavidade de um noturno de Chopin para tocar-lhe a alma com carinho e suavidade; o encanto das floradas para percebermos que a essência da vida é a alma infantil. Villa-Lobos, no âmbito da música erudita, certamente foi o compositor que mais se dedicou a homenagens infinitas ao universo infantil. Debruçou-se sobre temas infantis existentes e criou novas cantigas, dando-lhes uma formatação de concertos eruditos. Assim, muitos exímios pianistas gravaram o conjunto de suas cirandas e de suas músicas infantis, o que resultou em uma variedade de discos disponíveis, de grandes intérpretes, em que podemos encontrar músicas como A prole do bebê; Xô, xô; Passarinho; Fui no Tororó; A canoa virou etc. É uma lição a mostrar que a preocupação com aquilo que se oferece às crianças precisa ser exígua, pois o que temos à nossa frente quando deparamos com o universo infantil é o futuro em desdobramento de luzes e cores, em que pese muitas vezes o sofrimento presente no semblante pueril. E nossa perspectiva, na função de psicoterapeutas, é justamente o resgate dessa esperança aviltada pelo sofrimento. Somos crianças que ainda acreditam na ilusão do amor, e isso independe de nossa idade. A alma infantil não titubeia diante dos dissabores que a vida nos apresenta. E, por maiores que sejam as vicissitudes do caminho, a criança que ainda somos procura pelos sonhos diante da desesperança e do desamor. Ou seja, não podemos nos distanciar da criança que sempre seremos, mesmo que as intempéries do caminho sejam grandes. E mais que tentarmos entendê-la, temos de nos debruçar sobre ela para apreendermos os detalhes de requinte da própria vida. Serra da Cantareira, em uma manhã azul de outono.
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CAPÍTULO 1
A COMPREENSÃO INFANTIL A PARTIR DE FILMES VALDEMAR AUGUSTO ANGERAMI
O privilégio da infância é podermos transitar livremente entre a magia da vida e os mingaus de aveia; entre um medo desmesurado e uma alegria sem limites. INGMAR BERGMAN
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1.1
INTRODUÇÃO Meu anjinho de luz, teu espírito já está sendo aguardado… ansiosamente esperado… E ao som de Sarasade o meu vinho brinda tua chegada… o nosso lar está à tua espera… o meu coração palpita em frenesi… o fogo da lareira irá iluminar tuas brincadeiras que certamente nos trarão muita alegria… E sua presença será mais um quê de harmonia em nossas vidas… Que a luz de Sara Kali continue a iluminar teus caminhos por toda a eternidade. VALDEMAR AUGUSTO ANGERAMI1
Este capítulo tem como objetivo mostrar e refletir determinadas facetas do universo infantil que muitas vezes são negadas até mesmo no universo teórico e filosófico da seara acadêmica. E isso em que pese estarmos em um livro que aborda justamente a questão da psicoterapia infantil, ou seja, um espaço destinado a crianças que apresentem teor significativo de sofrimento em sua vida a ponto de justificar esse tipo de intervenção psicoterápica. Tudo que envolve crianças nos atinge de maneira única. Um ato de violência cometido contra uma criança tem seus matizes tingidos de cores insuportáveis. Uma criança vitimada por abusos sexuais traz em seu bojo não apenas o sentimento de ato tão abjeto, mas toda a incredulidade de se ter tal ato como passível de ocorrência. Igualmente, uma criança acometida de câncer nos sensibiliza como se a doença fosse mais severa para ela que para um adulto. Sentimos, e muitas vezes agimos, como se um adulto, por exemplo, pudesse passar por determinadas intempéries que a vida nos apresenta por já ter vivido anos de sua existência, e que a criança, ao contrário, deveria ser poupada de sofrimento por ainda ter todo o horizonte de possibilidades para ser vivido. Tais asserções são falsas, pois, seguramente, qualquer pessoa vítima de uma dessas ocorrências com certeza se sentirá injustiçada por tal portabilidade. 1 ANGERAMI, Minha filha Clarinha. Disponível em: <www.psicoexistencial.com.br>. Acesso em: 5 maio 2011.
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O ATENDIMENTO INFANTIL NA ÓTICA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL
Neste capítulo, vamos discorrer sobre o universo infantil a partir da utilização de filmes que envolvem temáticas contemporâneas contundentes, que serão analisadas de modo abrangente em uma visão que contemple não apenas os aspectos dos dramas exibidos, mas também os determinantes de concepção da arte cinematográfica presentes nesses filmes. A criança nos toca a alma de maneira única, e ao nos debruçarmos sobre temas que a envolvem, a primeira questão que se faz presente é: precisamos ter um amor inquebrantável pelas crianças para podermos permitir que aquela que somos seja tocada por elas? Arrelia foi um dos mais importantes palhaços brasileiros. No final da década de 1950, tinha um programa vespertino na TV Record por meio do qual adentrava o lar de inúmeras crianças que vibravam com suas peraltices e traquinagens. Em seu livro Arrelia e o circo,2 o palhaço cita, de maneira singela, como as atividades que envolvem crianças voltam e nos envolvem em uma aura de carinho e afeto simplesmente indescritíveis. Ele diz: A vida de circo tem me dado imensas alegrias, como, por exemplo, as que resultam do carinho das crianças. As de hoje prestigiam meu trabalho com o mesmo entusiasmo com que me prestigiaram as crianças de ontem. Isso, aliás, não é só uma alegria: é um tesouro, um patrimônio de irradiação simpática que me faz muito bem.3
E, na sequência, ilustra seus dizeres com um caso decididamente emocionante: Uma menina de nacionalidade argentina veio para São Paulo, trazida pelo Lions Clube, a fim de ser operada pelo dr. Zerbini, pois sofria de grave moléstia no coração e na Argentina não foi possível encontrar nenhum cirurgião capaz de operá-la. Depois de operada veio o tempo da recuperação. A menina era tratada com todo o carinho, tanto pelos médicos como pelo pessoal de enfermagem da Beneficência Portuguesa. A garota tinha tudo em seu quarto, até aparelho de TV, para não falar dos presentes e da cálida atenção que recebia de todos. Através daquele aparelho de TV, a menina conheceu-me e então fez ver a todos que queria conhecer-me pessoalmente. Como ainda estava de cama, em convalescença, e não podia ir ao meu cirquinho na TV Record, o dr. Zerbini e os diretores do Lions encontraram outra solução: convidaram-me para visitar a pequena operada. Marquei a visita para logo após o espetáculo que seria irradiado no domingo seguinte na TV Record. Terminado o programa, um dos diretores do Lions estava à minha espera e, em seu carro, fomos para o hospital; eu vestido e maquilado como Arrelia. Minha chegada provocou um 2 3
SEYSSEL, Arrelia e o circo. São Paulo: Melhoramentos, 1977. p. 86 Ibid.
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alvoroço! As enfermeiras receberam-me com risos e palmas, no que foram acompanhadas por pessoas que visitavam os doentes e também por pacientes que podiam abandonar a cama. E a meninazinha então! Ficou tão contente que quase me atrapalhou naquele espetáculo espontâneo que se formou, deixando-me comovido. Seu pai bateu diversas fotografias, eu e ela juntos: assim foi a foto do Arrelia para a Argentina, aparecendo no jornal La Prensa.4
Essa descrição é, certamente, um exemplo comovente da dedicação e entrega que se fazem necessárias a atividades que envolvem o cenário infantil. Arrelia nos mostra que a magia de se lidar com crianças é justamente a de se ver como criança e não se colocar acima de sua espontaneidade e de seus encantos. Somos fragmentos de uma névoa tênue a envolver o universo infantil ao mesmo tempo em que somos levados para outras instâncias de enlevo de nossas almas. E, mesmo que em nossa prática envolvendo crianças, a tônica principal seja o convívio mais estreitado com aquelas que trazem o sofrimento e as vicissitudes do caminho escancaradas em suas almas, ainda assim somos determinados a caminhar junto a elas para o próprio soerguimento desses sofrimentos. A criança, na quase totalidade das vezes, depende de adultos para orientar-lhe os passos, e isso faz que recaia sobre si até mesmo as intempéries desses adultos. Utilizamos filme como recurso facilitador para entender e alcançar detalhamentos da alma infantil. E certamente esse instrumento tem uma eficácia bastante interessante na medida em que, diante da exibição de um filme, sempre estamos envoltos em sua magia e em seu enredo de modo irrebatível. Transitamos pelo universo infantil como se fôssemos adultos e doutores na sabedoria maior da condição humana. E isso tudo, no entanto, desmorona quando nos damos conta de que ainda somos crianças com a ilusão de sermos adultos. Ou seja, não nos distanciamos de nossa própria condição de crianças que, embora crescidas e adultas, ainda preservam a crença nas coisas simples da vida.
1.2
O MITO DA INFÂNCIA FELIZ Um anjinho de luz virá a esse mundo por meu intermédio… Um anjinho em forma de menina… Uma luz a mostrar a doçura da vida em frestados de meiguice e esperança… Uma doce criança em tons e semitons de amor… VALDEMAR AUGUSTO ANGERAMI5
4 5
Ibid., p. 87. ANGERAMI, op. cit.
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O mito da infância feliz é algo que nos acomete como se fosse uma síndrome de negação de que a criança também sofre, tanto em níveis orgânicos como emocionais, em decorrência de sua condição humana, a despeito dessa negação. Tantas crianças enveredam pelos caminhos da absurdidade do suicídio por simplesmente não mais suportarem o fardo de sua vida,6 e essa não é a única situação de desespero e desesperança a assolar o universo infantil. É fato indissolúvel e indiscutível nos meios acadêmicos que se debruçam sobre o estudo do universo infantil que uma criança, ao ser indicada para a psicoterapia, traz em si toda a desestruturação de seu universo familiar. Assim, raramente teremos em psicoterapia uma criança que não seja depositária dos conflitos familiares e até mesmo das frustrações familiares. É jogada sobre ela toda uma carga de problemas de tal maneira que ela acaba se tornando tão somente a paciente identificável de uma estrutura doentia. E se não houver um cuidado bastante preciso e sensível dessas situações, o psicoterapeuta simplesmente atuará no sentido de tentar inserir essa criança na conceituação preestabelecida e denominada mito da infância feliz. Ou seja, ela estará diante de um tratamento que, mais que tentar cicatrizar suas chagas de dor emocional, estará imbuído de tentar simplesmente resgatar e inseri-la nessa condição de felicidade infantil. Ao aceitarmos que a criança sofre vicissitudes que são inerentes à condição humana, estaremos em condição de ajudá-la, não nessa inserção de felicidade infantil, mas, em vez disso, tentando resgatar sua dignidade e condição de humanidade. Chitman7 mostra aspectos da solidão presente nas crianças e o tanto que isso irá detalhar os mais diferentes tipos de sofrimentos e ocorrências. E certamente poderemos citar Sartre8 para quem “a existência humana é um hiato de solidão entre o nascimento e a morte”. É dizer que o espectro da solidão estará presente em nossa vida, em todas as fases do desenvolvimento humano, por mais que se tente negar sua presença no universo infantil. E não queremos dizer com essas afirmações que os únicos espectros da condição humana presentes na infância são a solidão e o desespero do suicídio. Em vez disso, o nível de sofrimento infantil é tão extenso quanto as possibilidades de ocorrências humanas em todas as suas configurações. A somatização presente no universo adulto decorrente de destrambelhos de origem emocional se faz igualmente presente na infância e também determina toda a sorte de sofrimento e desespero. A medicina criou a modalidade de pediatria para alcançar uma nova compreensão para a criança ao perceber que ela sofria determinadas patologias igualmente presentes nos adultos, mas que necessitavam de uma nova abordagem, uma vez que ainda estavam em um universo simbólico e semântico em que a ilusão e a esperança tinham 6 Veja o Capítulo 5, “Suicídio infantil: o escarro maior do desespero humano”, totalmente dedicado a essa temática. 7 CHITMAN, 1998. 8 SARTRE, O existencialismo é um humanismo. Lisboa: Editorial Presença, 1981, p. 125.
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espaços prioritários. Assim, também a psicologia e outras áreas da saúde precisam se debruçar sobre a realidade infantil, considerando tratar-se de seres em desenvolvimento e que apresentam características próprias. No entanto, isso deve acontecer sem negar-lhes o sofrimento por se tratar simplesmente de crianças e, dessa forma, de pessoas que ainda não podem sofrer tal como um adulto. O mito da infância feliz é buscado de todas as formas, como se dependêssemos dessa conceituação para negar essa realidade sem nos aproximarmos, assim, do sofrimento infantil – simplesmente negando seus constitutivos estruturais. Quando nos aprofundarmos em textos e fragmentos teóricos em busca da compreensão do universo infantil, a primeira dificuldade que se nos apresenta é a da aceitação de que a criança igualmente sofre de padecimentos dos mais diversos matizes. Mostram-se também os aspectos pungentes do desespero em seu ser. Particularmente, sempre me é presente a sensação de estupefação diante de meus primeiros textos sobre suicídio infantil.9 Desde a simples negação do fenômeno em si até situações irascíveis de inconformismo diante do que era exibido. Desde então, sempre me surpreendo em ver a negação do sofrimento infantil, como se isso fosse pertinente tão somente aos adultos. É como se tivéssemos uma linha divisória que nos delimitasse a partir de que ponto de nosso desenvolvimento deixaríamos de ter apenas alegria e ilusão passando a sentir as dores inerentes à condição humana. Vamos então, sistematizar alguns pontos dessa reflexão.
1.2.1 Sobre a pedofilia A negação ao sofrimento da criança é algo que requer um aprofundamento sobre suas raízes. E mesmo aqueles casos de pedofilia que, seguramente, representam uma das coisas mais abjetas envolvendo a condição humana, mobilizam a maioria das pessoas no sentido de negar seu raio de ação e, consequentemente, manter na impunidade seus algozes. Nesse rol, vamos encontrar desde mães que fingem ignorar o apelo de seus filhos diante do pai ou companheiro que os molesta, até superiores da hierarquia religiosa que se mantém omissa e praticamente indiferente diante dos casos de pedofilia que atingem seus membros. No seio da Igreja Católica, a questão da pedofilia ganhou matizes sombrios de gravidade não apenas pela frequência altíssima com que acontece como pela maneira como os superiores agem para tentar encobrir os atos de seus subalternos. Ao alegar que padres pedófilos são julgados pelos cânones do catolicismo e que, por isso, já estariam recebendo as devidas sanções canônicas, dispensando-se, assim, o enfrentamento da justiça cível e criminal, a Igreja Católica nada mais faz que desprezar a gravidade de tais atos. E, diante do estarrecimento da sociedade em relação a essas ocorrências, nada é dito além de que tais padres já foram transferidos dos locais em que cometeram tais absurdos, como se isso fosse o suficiente para o enfrentamento da 9
ANGERAMI, “O suicídio infantil na realidade hospitalar”. In:
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, 2003.
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O ATENDIMENTO INFANTIL NA ÓTICA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL
opinião pública. Houve, inclusive, a absurdidade de um cardeal que simplesmente se manifestou contra essas acusações de pedofilia calmamente argumentando em sentido contrário que tais padres eram mensageiros da palavra de Cristo e que, portanto, não poderiam ser execrados dessa forma por um simples fato pecaminoso que tenham cometido. As consequências desses atos de pedofilia sobre as crianças atingidas são meros detalhes que não importam aos olhos dos algozes da Igreja. A sexualidade comprometida para toda uma vida, a sequela que certamente deixou marcas indefiníveis e o contraponto apresentado de que esse algoz não deve ser sumariamente punido, pois se trata de um mensageiro da palavra de Cristo, seriam asserções cômicas se não fossem trágicas. Ademais, tais atos são cometidos contra crianças indefesas que muitas vezes são levadas para a Igreja por pais que desejam que seus filhos fiquem distantes dos perigos da rua. Livram tais crianças desses perigos e atiram-nas nas garras de religiosos inescrupulosos que, ao pensarem apenas em seu prazer, desprezam completamente as consequências físicas e emocionais das pequenas vítimas. Talvez a dimensão de tais fatos no seio das igrejas ganhe dimensionamento exarcebado pelo fato de estarmos diante de lugares que em princípio serviriam para a formação religiosa e para o aprendizado escolar. Almodóvar, um dos principais diretores de cinema da atualidade, em seu filme Má educação,10 uma espécie de produção autobiográfica, cita o que ocorre no interior de um colégio religioso e o assédio sexual sofrido pelas crianças dessa instituição. Lidar com um tema sempre tão delicado quanto a questão de padres pedófilos e a consequência de uma infância vivida no ambiente opressor da educação religiosa é o mesmo que brincar com um vespeiro, uma vez que, até por questões tradicionais, as declarações mais calorosas quando o que está em jogo é a crítica à Igreja e suas realidades dissimuladas são inibidas. Certamente, tais ocorrências também acontecem no seio de outras religiões, mas, no caso da Igreja Católica, o problema se torna ainda mais acintoso diante das explicações dadas pelos superiores hierárquicos. Colégios internos e outras instituições que abrigam crianças também sofrem por tais situações, mas, certamente, quando tais fatos vêm à tona, os superiores são severamente punidos de forma exemplar. A negação da pedofilia, principalmente a que ocorre em ambientes domésticos, nada mais é que a própria negação de que isso seja passível de ocorrência com crianças indefesas que ainda não possuem parâmetros de sua sexualidade. E tão dantesco quanto a pedofilia em si, seguramente, é a omissão de tantos envolvidos que preservam o agressor negando a monstruosidade de seus atos como se isso, de tão absurdo e horrendo, não pudesse acontecer jamais com nenhum deles. Temos, por exemplo, casos em que o marido molesta a enteada sob a contemplação da mãe que diz nada fazer com medo de represálias ou da perda do próprio 10
Má educação, Pedro Almodóvar, 2002. Neste trabalho, optamos pelo filme Sopro no coração para abordar a temática de pedofilia pelos detalhamentos mais aprumados e também por envolver a questão do incesto.
Livro Atendimento Infantil.indb 8
21/07/2011 16:12:53
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