Centro Ciência Viva de Lagos | Semanário Barlavento | 14 janeiro 2016

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cultura

Sabe onde estão as pegadas de dinossauros no Algarve? Sara Alves | sara.alves@barlavento.pt

O Algarve já foi ponto de passagem ou habitat de várias espécies de dinossauros, cuja memória perdura até hoje. O «barlavento» diz-lhe como pode descobrir estes vestígios As palavras Tiranossauro Rex ou Velociraptor estimulam a imaginação. Como seria a vida no planeta na era destas criaturas? Apesar de extintos há milhões de anos, os dinossauros continuam presentes no nosso imaginário e os seus vestígios estão bem mais visíveis e perto do que imagina. No Algarve, ainda é possível admirar marcas deixadas por dinossauros herbívoros e carnívoros. Existem dezenas de pegadas espalhadas pelas praias da Salema e Praia Santa, no concelho de Vila do Bispo.

As primeiras foram encontradas na praia da Salema há 20 anos, mas ainda permanecem desconhecidas para muitos algarvios. E não há razão para tal, pois é possível descobri-las na companhia de um paleontólogo experiente. Luís Azevedo Rodrigues, 44 anos, é diretor do Centro Ciência Viva de Lagos (CCVL) desde 2012. Doutorou-se em paleontologia de vertebrados e tem desenvolvido trabalho de investigação em paleontologia de dinossauros por todo o mundo. Trabalhou no Museu Nacional de História Na-

tural e da Ciência (Universidade de Lisboa), no Museu de História Natural de Nova Iorque e é, atualmente, o responsável pelas saídas de campo que este centro promove. Nas visitas guiadas do CCVL, é feito o enquadramento geológico e a caracterização paleontológica. Duram cerca de hora e meia, e têm um nível de acessibilidade médio-fácil e um custo de dez euros. Contudo, se preferir tentar descobri-las por contra própria, o desafio poderá ser mais difícil. Comece por seguir até à praia da Salema onde poderá admirar as rochas do Cretácico Inferior: «têm cerca de 120 milhões de anos», segundo o paleontólogo. «São calcários e margosas, rochas depositadas em profundidade no mar, em águas quentes, ou pântanos», segundo as explicações de Luís Azevedo Rodrigues. Aqui existem duas jazidas de pegadas: a este encontrará pegadas de dinossauros bípedes carnívoros e, a poucos metros de distância, a oeste, um trilho deixado por um animal bípede herbívoro. Na laje situada a este é possível identificar sete pegadas tridáctilas (três dedos), com dedos finos e com garras, atribuíveis a terópodes. Por aqui passaram, pelo menos, três indivíduos. Infelizmente, a jazida está sujeita à ação da força das marés que retiram ou repõem a areia ficando por vezes, inacessível. Azevedo admite que «no espaço de uma década e devido à sua localização, assisti a uma erosão quase completa destas pegadas. Já não estão em muito bom estado»,

Sara Alves

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Praia da Salema - Jazida Oeste

mas ainda é possível apreciá-las e talvez tirar um registo fotográfico, antes que desapareçam de vez. A oeste encontrará uma laje horizontal na areia junto à falésia, logo após um vão de escadas que liga a falésia ao areal, com uma pista formada por oito pegadas alinhadas, e algo desgastadas devido à constante erosão do mar. «Reconhecem-se marcas com cerca de 50 centímetros, três dedos largos e curtos, com terminações arredondadas, em forma de «U», e com a ausência de garras nos pés», descreve. A pista é atribuível a um ornitópode, um herbívo-

ro com 2,2 metros do solo até à anca que estaria a deslocarse a uma velocidade de cerca de 2km/h. «Através do tamanho da pegada, e multiplicando-a por quatro, é possível descobrir a altura do animal e calcular a velocidade de locomoção», explica. Perante as atuais condições de preservação, talvez seja possível observá-las apenas durante mais uma década, até serem totalmente consumidas pela erosão. O acesso às pegadas na praia Santa é bastante mais difícil e sinuoso. E atenção que provavelmente não conseguirá descobrir estas pega-

das sem o acompanhamento de um guia. Mas, neste caso, Azevedo considera que o estado de preservação destas pegadas é fantástico e vale bem a aventura: «notam-se perfeitamente as almofadas das patas. O animal que as deixou é semelhante ao da jazida oeste da praia da Salema, mas bastante maior». Trata-se de um ornitópode, um bípede herbívoro. A boa preservação neste local pode dever-se a diversos fatores, como a ligeira diferença de composição de sedimentos e o facto de as camadas «terem saído» há menos tempo, comparativamente às outras…

Descobertas em Portugal e no Algarve Os dinossauros surgiram há cerca de 235 milhões de anos. Foram a forma de vida dominante na terra por mais de 150 milhões de anos. Distinguem-se em bípedes carnívoros (terópodes), quadrúpedes herbívo-

ros (saurópodes) e bípedes herbívoros (ornitópodes) e as suas pegadas são conhecidas em várias jazidas de Portugal. Recentemente, foi encontrada no concelho de Loulé uma nova espécie de salamandra gigante (Meto-

possaurus Algarvensis). Este município celebrou na semana passada um protocolo de cooperação científica que visa apoiar a continuidade da investigação, através do apoio às escavações e bolsas de estudo.

Guias à distância de um telefonema É possível agendar uma visita guiada às pegadas de Vila do Bispo na companhia do

Centro de Ciência Viva de Lagos. Para marcações e informações basta contactar pelo

telefone 282 770 000 ou escrever para o e-mail info@ lagos.cienciaviva.pt


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