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Apresentação
AConfederação Nacional da Indústria (CNI), por meio do Serviço Social da Indústria (Sesi), tem o orgulho de apresentar a publicação A arte do ofício: a evolução do homem contada por suas ferramentas. Este projeto é fruto da exposição “A arte do ofício”, que descreveu o processo de desenvolvimento do ser humano a partir do uso de instrumentos, estabelecendo as relações entre a arte, os ofícios e as profissões.
Com o sucesso alcançado com a exposição, a presente obra impressa sistematiza as informações sobre as pesquisas realizadas, que resultaram num belo e inédito trabalho organizado pelo especialista Claudio de Moura Castro. Representa um elo entre o passado e o presente da indústria, retratando a transformação das profissões por meio das tecnologias criadas pelo homem.
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O livro pretende dar ao leitor uma ideia dessa trajetória, que teve a mão como primeira ferramenta, um elemento necessário em todas as etapas de todos os ofícios. O texto, que conta a história de forma inovadora e atraente, destina-se especialmente aos professores das redes do Sesi e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), podendo ser utilizado por todos que tenham interesse em ampliar seus conhecimentos na área.
Nesta publicação, o leitor será convidado a fazer uma viagem, percorrendo a Idade da Pedra, o ciclo dos metais, a utilização do carvão e do vapor, a Revolução Industrial, a criação do smartphone e as tecnologias digitais, entre outros momentos.
É mais uma contribuição do Sistema Indústria, que investe em educação por meio do Senai e do Sesi, referências em ensino profissional e básico, respectivamente. As duas instituições, reconhecidas nacional e internacionalmente, se pautam por um projeto pedagógico que privilegia a excelência, a criatividade e a inovação, em favor do desenvolvimento do Brasil.
Boa leitura.
— Robson Braga de Andrade presidente da cni diretor do departamento nacional do sesi
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A arte do ofício
A exposição A arte do ofício: museu ou escola?
A exposição do Senai/Sesi que deu origem a este livro é descendente da ideia de usar museus como escolas. Ou seja, mobilizar a força imagética da tecnologia aplicada aos museus para ensinar ciência e tecnologia. Podemos vê-la como um museu que conta uma história estruturada, com princípio, meio e fim.
Ao surgirem, após o Renascimento, os primeiros museus foram batizados de Gabinetes de Curiosidades. Fruto das grandes navegações e trazidos de cantos desconhecidos do mundo, objetos curiosos começaram a ser colecionados e expostos pelas pessoas mais cultas. De fato, sua marca de origem é o interesse despertado pelas peças exóticas. E até hoje os museus escolhem mostrar o que pode atrair o visitante.
Em contraste, a escola nasce da necessidade de dar aos jovens as competências requeridas para a vida. São os conhecimentos considerados necessários, seja para ler a Bíblia, seja para ler o manual da Microsoft. Se é desinteressante, paciência.
Ao início na década de 1930, esses dois papéis começam a se fundir. Os museus passam a oferecer uma visão divertida e atraente da ciência e da tecnologia, uma dimensão em que a escola tende a falhar. Na exposição, recuperamos a inspiração de combinar o deslumbramento do museu com as lições estruturadas e úteis da escola.
Tal caminho é confirmado na conferência Communicating the Museum (Paris, 2017). Segundo Will Gompertz,
Para provocar a reflexão, um museu deve provocar, estimular a imaginação, além de ser divertido. Quem teria vontade de passar uma noitada com um amigo que não ri jamais e faz você se sentir menos inteligente que ele? Para Wendy Woon, o museu do futuro será emocionalmente inteligente. Por sua vez, David Sanders defende: Ou então,
É preciso parar de opor o conhecimento à emoção, pois sabemos que a emoção facilita inúmeros processos importantes para o aprendizado, tais como a atenção e a memorização (David Sanders).
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Introdução Os caminhos do Homo sapiens
Cinco ideias vigorosas permeiam a narrativa da exposição.
1. O homem é homem porque criou a tecnologia que dá a ele condições mais vantajosas de sobreviver. A tecnologia não vem depois, pelo contrário, avança pari passu com as mudanças físicas e intelectuais do primata que vira Homo sapiens. De fato, ele só vira homem porque criou a tecnologia. Assim, contamos a história da humanidade e das ferramentas inventadas, em paralelo à sua evolução biológica e intelectual.
2. A Revolução Industrial – o conjunto dos avanços tecnológicos e sociais ocorridos nos últimos dois séculos – corresponde ao maior salto já dado pelo homem, em toda a sua história. Pela primeira vez, torna-se possível superar o áspero padrão de vida imposto pelo determinismo malthusiano. Em que pese a brutalidade das condições de trabalho nos seus primeiros anos, foi graças a ela que, pela primeira vez, os mais pobres puderam desfrutar um padrão de vida digno e confortável. Isso se deveu ao espantoso salto de produtividade e produção ocorrido. A mudança foi fenomenal, e não se vislumbram limites aos avanços que nos esperam.
3. A história da manufatura é a história do trabalho bem feito, do orgulho e da ética profissional. Buscar a perfeição, admirar e cultivar a qualidade e zelar pelas ferramentas: eis a essência do profissionalismo.
A história das ferramentas é a crônica de um longo diálogo entre a técnica, a criatividade e as mãos bem adestradas.
4. A marcenaria começa sua história na pedra lascada. A mecânica, somente após o domínio dos metais, 2 mil anos antes de Cristo. Além disso, duas transformações correram em paralelo ao desenvolvimento do homem: a da energia e a dos materiais. Sem as novas fontes de energia – que multiplicam a pouca força dos seus músculos – e sem o desenvolvimento de novos materiais, o incrível progresso da humanidade não teria sido possível. Esta narrativa é completada por uma história da eletricidade e da eletrônica, que são as tecnologias que mais transformaram o século XX.
5. Temos por hábito dar pouca atenção às fronteiras entre utilidade e arte. A partir de um patamar de domínio da tecnologia, o que precisava apenas ser funcional ganha foros de obra de arte. Assim são muitas ferramentas e máquinas: úteis e belas. Há arte no ofício.
As grandes transições na evolução do homem e da tecnologia podem ser representadas por momentos que são como ícones. Abaixo descrevemos uma possível sequência de marcos na evolução da humanidade.
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qr code: No ano de 1991, nos Alpes orientais, foi descoberto Õtzi. O fantástico e “homem das neves” de mais de 5 mil anos ficou famoso no mundo todo por seu incrível estado de conservação e por ter trazido com ele as ferramentas da época.
Com a pedra lascada, um primata começa a virar humano
A pedra lascada não foi a única ferramenta de que dispôs o homem, mas é o artefato que, por ser capaz de sobreviver aos séculos, acabou sendo mais frequentemente encontrado pelos arqueólogos. Define, portanto, a primeira marca tangível da inventividade dos hominídeos e mapeia a evolução do homo sapiens no processo de se diferenciar dos outros primatas.
O machado: o encontro do pau com a pedra
O machado é o grande ícone na construção de ferramentas. Quando a pedra lascada ganha um cabo, o machado resultante inaugura um ciclo que jamais foi interrompido. Os mais antigos foram achados na Austrália, datam de 50 mil anos atrás e ainda estão à venda em lojas de ferragens em qualquer lugar do globo.
Otzi e seu machado de cobre: o ciclo dos metais
Otzi nasceu há mais de 5 mil anos e milagrosamente ficou conservado em uma geleira. Com sua descoberta, podemos escolhê-lo para sinalizar, em estilo “mediático”, o aparecimento de instrumentos de cobre, já que portava um machado com lâmina de cobre. Daí para frente, a pedra vai sendo substituída pelos metais. Ao longo do caminho, cobre e bronze perdem espaço para o ferro, o aço e suas ligas.
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qr code: Antes de dominar a produção de ferro, o desenvolvimento do homem estava severamente limitado pelos materiais de que dispunha. Sem ele, não seriam possíveis os avanços que culminam na Revolução Industrial, a mais profunda transformação na história da humanidade.
O ferro ao alcance de todos: o alto forno
Ninguém ignorou o potencial ilimitado nos usos do ferro. Contudo, sua produção era muito trabalhosa e, devido ao alto custo, seu uso permanecia restrito.
No século XVIII, a adoção do coque e de novos modelos de alto forno mudam esse panorama. Em vez de alguns quilos, produzem várias toneladas. É a revolução da quantidade. Antes disso, possuir alguns pregos já era sinal de riqueza.
Com o carvão e o vapor crepita a Revolução Industrial
Sem os motores a vapor, as fábricas estavam condenadas a um porte diminuto e a uma localização determinada pelo regime dos cursos d’água. Com a máquina a vapor, a Revolução Industrial floresce, trazendo junto o trem de ferro e o navio a vapor. Como no caso do alto forno, é o volume de produção que transforma tudo.
Um dos primeiros motores a vapor, século XIX.
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esquerda: Receptor de telégrafo sem fio, início do século XX.
direita: Ilustração de uma das primeiras lâmpadas incandescentes, fim do século XIX.
O petróleo e seus motores: a revolução nos transportes pessoais
Por muito que se considere o carvão transportável, não são triviais os problemas práticos de usá-lo em automóveis, caminhões, motocicletas e aviões. Com o petróleo, basta encher o tanque. Sai de cena o cavalo e entra o automóvel.
Com a eletricidade, a noite vira dia e a energia pode ser transportada
Eletricidade não é uma fonte de energia. Na prática, é um modo de levá-la de um lugar para outro, pelos fios de cobre. O movimento do eixo que gira, à beira dos rios, migra para o fio e aciona, onde quer que se queira, um motor elétrico. E de quebra, a eletricidade ilumina!
A eletrônica se junta à informática: o transporte do imaterial
Se o petróleo permite transportar pessoas e materiais, com a eletrônica podemos reproduzir, transmitir, armazenar e analisar palavras, vozes, imagens e informações. E isso se faz de uma forma cada vez mais rápida, confiável, eficaz e barata.
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18 | o nascimento do homo sapiens
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