N 58 2014

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RUAH ano xxii – nº 58 – segundo semestre de 2014

Quem são os jovens universitários? Estudo do Observatório Juventudes mostra o que os jovens universitários da PUCRS pensam sobre trabalho, tecnologia, família, religião, entre outros. Pág. 8 ISNN 1808 – 7868 Distribuição gratuita

Os caminhos e desafios da Missão Marista no Oriente Médio


/editorial

Olá! Há quantos anos você nos acompanha nestes mais de 20 anos de publicação da revista? Ou é pela primeira vez? Independente disso, com certeza você vai gostar de navegar nas páginas desta revista. Sendo significativo o grande número de jovens na PUCRS, trazemos como Reportagem Especial, trazemos os dados da Pesquisa do Observatório Juventudes sobre os jovens universitários. Será que você se identifica com esses dados? Confere lá na página 8. E você já imaginou o que rola por trás das câmeras do Globo Esporte? Pois é, a Alice Bastos Neves conta para nós na página 18. Já na página 4, nós contamos a experiência feita por Irmãos Maristas na Síria e no Líbano que lutam para tentar mudar um pouco daquela realidade em um ambiente de conflitos e guerra. E nós? O que podemos fazer por eles ou por tantos outros que estão ao nosso lado e também sofrem? Na página 14, você pode conferir o que o Grupo Universitário Marista, através do Voluntariado, está fazendo como parte de seu compromisso social. Espero que vocês possam aproveitar muito a leitura! Um grande abraço, Ir. Dionisio

Expediente Publicação do Centro de Pastoral e Solidariedade da PUCRS Av. Ipiranga 6681 – Prédio 17 – sala 101 Porto Alegre, RS – CEP 90619-900 Fone: (51) 3320-3576 www.pucrs.br/pastoral pastoral@pucrs.br

/primeira pessoa_

Experiências que fazem a diferença Já está mais que provado que não é somente com teoria que se aprende. Por isso, fique atento às oportunidades que a Universidade oferece fora das salas de aula. Durante o período universitário, o diplomado Jeferson Bombardelli, conciliava as aulas na Faculdade de Ciências Aeronáuticas, as horas de voo e as atividades de extensão que contribuíram para a sua formação. Ele conta para a gente como a experiência no Projeto Rondon o ajudou na sua profissão: “O processo seletivo para o Projeto Rondon ocorreu em 2010, e em julho de 2011 eu participei da Operação Peixe Boi, na cidade de Manaquiri, Amazonas. Também ajudei nos processos seletivos das equipes seguintes, junto a outros rondonistas e voluntários da Coordenadoria de Desenvolvimento Social (CODES), em 2011 e 2012.

Ano XXIII – n° 58 – 2014 Direção: Ir. Dionisio Roberto Rodrigues Supervisão Editorial: Assessoria de Comunicação Corporativa da Rede Marista Pauta: Marisol Trindade, Melissa Maciel e Sophia Kath Conselho Editorial: Ir. Dionisio Roberto Rodrigues, Maurício Perondi, Rafael Rossetto e Sophia Kath Jornalista Responsável: Flavia Polo (Registro Profissional 12.732) Reportagem: Flavia Polo Revisão: Ir. Salvador Durante Fotos: Arquivo Centro de Pastoral e Solidariedade, Comunicação Corporativa da Rede Marista, Gilson Oliveira/ Arquivo Fotográfico/ASCOM/PUCRS e Felipe Dalla Valle Projeto Gráfico e Editoração: Design de Maria www.designdemaria.com.br Impressão: Gráfica Epecê Tiragem: 5 mil exemplares Periodicidade: Anual

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Jeferson Bombardelli 25 anos, diplomado em Ciências Aeronáuticas pela PUCRS


A troca de conhecimentos é a maior aprendizagem

A participação nessas atividades foi de grande importância na minha formação como piloto de linha aérea. Boa parte da minha concepção sobre trabalho em equipe, companheirismo, liderança, divisão de tarefas e confiança no colega, eu aprendi lá. O Rondon também é um curso intensivo de Brasil, e minha imagem do país mudou completamente depois de participar do projeto. É muito gratificante sobrevoar o país e conhecer a forma como as pessoas vivem lá embaixo e saber que pude ajudarlhes, mesmo que minimamente, a ter uma vida melhor. (destaque na diagramação) Obviamente, o Projeto Rondon influenciou muito na minha formação pessoal. Dedicação, comprometimento e empenho passaram a ter novos significados depois que fiz parte da equipe que foi ao Amazonas. Também foi participando das atividades que criei amizades que carrego para a vida toda. Vale a pena se envolver com esses tipos de projetos!”.

Quem compartilha, evolui

Para mais informações sobre o Projeto Rondon, acesse: http://projetorondon. pagina-oficial.com/ portal/

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/em foco_

Missão Marista

na Síria e no Líbano:

novos desafios, novos caminhos Para nós, as notícias dos países em guerra chegam por meio da imprensa. Mas para muitos Irmãos maristas são seus olhos e ouvidos os mensageiros dos conflitos. Nas próximas páginas, confira o depoimento de dois deles.

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Síria Líbano


M

uitos são os Irmãos e Leigos Maristas que vivem em regiões distantes e em situação de vulnerabilidade. Eles são enviados em missões, como queria o próprio Marcelino Champagnat, fundador do Instituto dos Irmãos Maristas. Evangelizar tendo como ferramentas o sorriso, o livro e o caderno. Ensinar. Educar. Transformar. E é em torno dessa premissa que os Irmãos e Leigos Maristas vão ao mundo inteiro em missões. Queremos contar para vocês um pouco da experiência vivenciada pelos Maristas na região da Síria e do Líbano. “Toda a indústria parou, as fábricas foram saqueadas, a cidade está dividida em dois blocos e não se pode passar de um a outro. Há sequestros, mortes, vingança e roubos. As pessoas vivem da ajuda das demais, e eu posso garantir que a situação é horrível e incompreensível”, relata o Ir. Georges Sabe, um dos Irmãos maristas que nasceu na cidade de Alepo, na Síria, e sempre se dedicou à missão de educar os mais necessitados. Em 2012 eram 50 os maristas que moravam em Alepo, e atendiam a cerca de 400 famílias em um projeto solidário chamado Orelha de Deus, no bairro Djabal Al Sayde, que significa “Colina de Nossa Senhora”. Em julho desse

mesmo ano, porém, as escolas públicas foram ocupadas por centenas de famílias que foram obrigadas a deixar suas casas em zonas de conflito acirrado. Percebendo o desespero dessas pessoas, os maristas criaram o projeto Maristas Azuis e passaram a ajudar a mais 300 famílias. “Ajudávamos com comida, roupa, remédios, apoio psicológico e educacional para as crianças”, lembra o Ir. Georges Sabe.

Conheça mais o projeto em: www.facebook.com/MaristesAlep

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/em foco_

“Como você pode imaginar,

grande parte desta cidade está destruída. Os bombardeios continuam. O medo está instalado. A situação em Alepo é muito grave, é desumana. Não há palavras para descrever. Acho que é uma das guerras mais terríveis deste século e dos próximos também”. – Ir. Georges Sabe

Em março de 2013, contudo, o bairro foi ocupado por rebeldes e eles tiveram que recuar. Abriram a sua própria comunidade para receber os desalojados. Hoje, 30 famílias moram com eles, que é a capacidade máxima, mas os projetos de ajuda alimentícia, educativa e de saúde continuam. Ao todo cerca de 500 famílias se beneficiam da ajuda marista em Aleppo. De fato, a situação é grave. O Exército Nacional, leal ao presidente Bashar-al-Assad trava uma luta intensa contra a oposição, o Exército Livre da Síria, para a conquista de Alepo, que é a segunda maior cidade do país. Dados da ONU indicam que 110 mil pessoas já morreram na batalha, número que cresce a cada dia. Aliás, este é o lema com o qual convivem: viver um dia de cada vez. Uma hora de cada vez. Um minuto de cada vez. Não é fácil encarar essa rotina, mas como abandonar o barco quando tanta gente precisa de ajuda? Da tua ajuda? “Antes de tudo, ser marista na Síria, hoje, é carregar consigo muitas outras pessoas, na realidade, todo o mundo marista e todo o seu carisma. Garantimos que, como nunca, nossa presença enquanto maristas é mais do que atual”, expõe Georges, em carta enviada para Irmãos Maristas da sua região. O espanhol José Luis Elías deixou sua terra natal e foi deslocado para outros dois países. Em 2004 para a Costa do Marfim, onde ficou por seis anos. Em 2010 para o Líbano, onde está até agora. Perto de Beirute, numa cidadezinha chamada Dik el Mehdi, ele se ocupa de um dos dois colégios maristas construídos lá, o Champville. São 3.300 alunos de 3 a 17 anos que participam das aulas, das recreações e da catequese. O dia é dividido entre diversas atividades, e pouco respinga da guerra 6

na vizinha Síria. “O Líbano é um país muito especial no Oriente Médio. Por ser pluriconfessional, cristãos e muçulmanos convivem em respeito mútuo”, conta José Luis. (destaque) O Norte e o Sul são predominantemente habitados por muçulmanos. A região central é habitada por cristãos. Os direitos dos cristãos estão assegurados na constituição e há inclusive representação parlamentar de 50% para cada lado. Apesar de haver um ou outro ataque na cidade, Luis conta que não sente medo: “O que eu sinto é um sentimento de impotência diante das injustiças e da violência”. Já na Costa do Marfim, a experiência foi diferente. Quando foi enviado para lá, há 10 anos, o país havia recém saído de uma guerra civil violenta, em que opositores fizeram uma tentativa de golpe de Estado para tirar o então governante do poder. Os dois colégios maristas que havia lá foram esvaziados, e os Irmãos retirados às pressas de helicóptero da região. Durante um ano tiveram que se manter afastados. Ele conta que havia momentos de maior preocupação, mas que eram encarados com serenidade. “Víamos a tensão nas ruas,


De acordo com o Relatório das Nações Unidas, a guerra civil na Síria é considerada a “grande tragédia do século 21”, com mais de dois milhões de refugiados.

tomadas por milícias que te paravam e te revistavam. Mas isso não gerava medo, era apenas uma tensão. No fundo você sabe que tem uma missão maior e que deve cumpri-la. Não parávamos para pensar, fazíamos o que devíamos fazer sem nos angustiar com o amanhã”. Estes dez anos de trabalho em países longínquos, desencadearam uma mudança em Luis. “Aquilo que caracteriza a minha identidade, o meu essencial, não mudou, mas essa vivência me deu uma maior compreensão das situações de injustiça no mundo. Quando se está longe desses conflitos, até nos compadecemos um pouco com a situação, ajudamos como podemos, mas quando estamos vivendo essa realidade de perto, sentimos a fundo essa problemática e nos identificamos com essas situações, e então algo dentro de nós se mexe para dizer que não podemos deixar o tempo passar”. Georges, que está dentro de uma zona de conflito constante, diz que há momentos em que perdem a ilusão, “mas não a esperança”. Ele conta que há dias sem luz, sem água e com muitas bombas, dias “de frio e de morte”. Mas a casa de Marcelino Champagnat e de Maria continua aberta a todos, seja os que precisam tomar apenas um banho ou lavar suas roupas. “Somos heróis? Não, somos apenas maristas, e nos sentimos pertencentes a uma grande família. As pessoas que conhecemos são uma gota no mar dos que deixaram suas casas, dos desalojados, dos marginalizados, mas para nós, eles se chamam Zeinab, Moustapha, Ali, etc. Eles têm um rosto, eles têm uma história, eles têm um olhar, eles são um poema. Para eles e por causa deles nos arriscamos e tentamos construir um futuro melhor”, afirma Georges. 7 próxima>


/especial

O que pensa o jovem

Como pensam os jovens de hoje em relação ao trabalho, tecnologia, família, religião, temas tabus e ao futuro? A gente foi atrás dessas respostas e mostramos tudo nas próximas páginas!

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m estudo com 4.998 estudantes de 22 faculdades da PUCRS foi realizado para traçar um perfil sobre o jovem da Universidade. O objetivo foi identificar os aspectos socioeconômicos, culturais e crenças dos jovens universitários para entender mais sobre essa nova configuração que vem se delineando, e se sintonizar com eles por meio de estratégias pedagógicas e evangelizadoras. A coleta das informações para este trabalho iniciou no final de 2012, se estendeu por 2013 e o resultado final foi concluído em 2014. Como se vê, um longo estudo que contou com muitas mãos, através do Observatório Juventudes, numa parceria entre o Centro de Pastoral e Solidariedade, as faculdades de Educação, de Serviço Social, de Matemática e a Coordenação de Pastoral da Rede Marista.

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Para Miriam Lacerda, Professora da Faculdade de Educação, as escutas nos grupos focais possibilitaram não apenas observar a diversidade de experiências vividas pelos jovens participantes dos diferentes grupos, mas também como cada um deles significa essas mesmas experiências em seu dia a dia. “Os estudantes relatam seus cotidianos e revelam dias típicos: ora marcados pela falta de tempo para o estudo, família e lazer; ora marcados pelas estratégias que visam conciliar todos os aspectos da sua vida de estudante”, salienta. Entre as respostas que estas juventudes deram (sim, juventudes no plural porque no singular já não faz jus a esta profusão de diferentes perfis que encontramos por aí) vamos destacar as que mais chamaram a atenção dos pesquisadores.


universitário?

Trabalho Ao contrário do estereótipo que se tem de que o jovem de hoje não quer se apegar a nada e não está nem aí para as responsabilidades com o trabalho, a pesquisa apontou que este é um tema de enorme relevância para a grande maioria deles. Em todos os grupos focais criados para discutir qualitativamente alguns temas, a menção ao trabalho recebeu sempre destaque. O que mudou, de fato, foi a concepção de trabalho, que é diferente da existente na geração anterior. Hoje, o jovem vê esse campo como uma possibilidade de realização pessoal. Por isso, ele quer trabalhar naquilo que

gosta, que dá prazer, que o desafie. Quando o trabalho já não faz os olhos brilharem, eles buscam outro. “Antes funcionava a lógica da empresa escolher o funcionário, hoje o funcionário procura se candidatar a vagas em que empresas que ele deseja trabalhar”, salienta Maurício Perondi, pesquisador do estudo. Isso explica também o fato de os jovens mudarem tanto de emprego. Não existe mais o trabalho “para sempre”, e sim aquele que te realiza por determinado tempo. Também é por isso que muitos nem pensam em se aposentar, mas em trabalhar naquilo que amam até o fim.

Tecnologia Não é novidade para ninguém que os jovens estão cada vez mais conectados virtualmente. Muitos não vivem sem seu aparelho de celular e suas tais multifuncionalidades. Vocês já devem ter ouvido várias vezes alguém dizendo que está se sentindo “pelado” por ter esquecido o celular em casa, como se faltasse uma parte da roupa. O aparelho virou um acessório indispensável. A novidade da pesquisa, porém, é que, ao contrário do que se pensa, os jovens não estão conectados apenas em redes sociais. Sim, elas ainda representam a maior parte, mas muitos responderam que acessam a internet para

fazer compras e usar serviços, como o bancário (pagamentos, extrato de conta corrente, transferências). Também, usam para o trabalho e a faculdade, na leitura de artigos, teses, bancas digitais. E mesmo as redes sociais não servem apenas para a publicação de fotos. Muitos veem como uma segunda fonte de informação. “As manifestações de rua do ano de 2013 foram um exemplo claro. Muitos gravavam situações que aconteciam ao seu lado e postavam nas suas redes sociais, sendo um canal alternativo de veiculação que fazia um contraponto ao que a mídia tradicional estava expondo”, lembra Perondi. 9 próxima>


/especial

Família e Amigos Apesar de uma sociedade cada vez mais virtual, em que muitas amizades se estabelecem e dão continuidade de forma digital, os jovens afirmam que é na família que se apoiam nos momentos de dificuldade. “Eles não só valorizam a família, como a consideram a principal fonte para o amadurecimento”, observa Patrícia Grossi, professora da Faculdade de

Serviço Social. Em segundo lugar aparecem os/as companheiros/as, e em terceiro é que surgem os amigos. Isso mostra que, apesar dessa nova configuração de amizades virtuais que chegou com força nos últimos anos, são as pessoas “físicas”, as que mais te conhecem, são exatamente estas que representam o ombro amigo que o jovem abraça quando precisa de suporte.

Preconceitos Em relação aos temas polêmicos, aqueles temas delicados, difíceis de conversar, as juventudes de hoje os encaram de forma bem mais aberta. Posicionam-se contra preconceitos, bullying e agressões de qualquer tipo. “Os alunos gostam de assumir um compromisso éticopolítico. Estamos falando de jovens protagonistas, participativos, que querem transformar a realidade, que condenam a violência, repulsam o bullying e respeitam as diferenças com menos preconceitos”, esclarece a Professora Patrícia Grossi.

Religião Quase 70% responderam que têm uma religião, mas 31% desses se referem à religião como uma prática individual. Isso significa que, apesar da maioria ainda crer em Deus ou em “algo superior”, uma parte considerável percebe a religião muito mais como uma maneira de agir que não agrida a sua própria consciência, do que como a prática de regras definidas por uma Instituição, seja ela a Igreja Católica ou outra. “O que se vê é uma ‘desinstitucionalização’ dos jovens com as Igrejas, que mostra que o elemento religioso está presente, mas a forma como ele é vivenciado na prática é que é diferente”, ressalta o pesquisador Perondi.

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A tecnologia é importante, mas é na família que os jovens se apoiam quando mais precisam.


O jovem de hoje quer ser protagonista do mundo em que vive.

Apesar do jovem ser diferente das gerações anteriores, os anseios continuam os mesmos: ganhar dinheiro, trabalhar e formar uma família. Futuro Você já deve ter ouvido falar que esta juventude está “perdida”, que “não tem jeito”, que não se faz mais jovens “como antigamente”. Essa ladainha nostálgica não condiz com o que os próprios jovens pensam de si. A grande maioria é positiva em relação a si mesma e se vê como agente de mudança no mundo. Voluntariado, por exemplo, é uma atividade que eles fazem ou pretendem fazer (65%), e nos grupos focais também se constatou que eles estão sedentos por mais participação em todos os assuntos, seja na sociedade, na Universidade, em salas de aulas ou na família. Eles querem opinar, ser

ouvidos, dar vazão ao que estão pensando. Por se verem como indivíduos de mudança, a esmagadora maioria enxerga o futuro com confiança e de forma bastante positiva. Hoje, 94% acha que estará melhor nos próximos cinco anos,. De acordo com a professora Patrícia Grossi, ficou constatado no estudo que apesar dessa nova “cara” da juventude de hoje, as ambições para o futuro são bem similares aos dos nossos antepassados. “O que eles querem é ganhar dinheiro, ter um bom trabalho e constituir família, além de lutar por mais justiça social e educação”, afirma a professora.

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/especial

“Acredito na perspectiva ‘dialógica’, em que as duas partes conversam entre si. Não devemos nem absolutizar os desejos dos jovens, nem absolutizar a hierarquia da Instituição. O conhecimento se produz, se elabora, não é só transmitido, mas construído na relação professor com o aluno.” Maurício Perondi, pesquisador do estudo.

O que é ser jovem? Quando perguntados sobre o que é ser jovem, as respostas também mostram uma visão em relação a si mais profunda do que se julga de fora. Eles disseram que é lutar por aquilo que se acredita, ter responsabilidade, estar livre de preconceitos, ser agente de mudança. Mas também destacam as dificuldades inerentes à sua condição juvenil. “A sociedade não vê com seriedade o jovem e o discrimina, pois acha que não tem capacidade de fazer certas coisas”, desabafa um deles no grupo focal. A professora Miriam Lacerda destaca outro aspecto que impacta na vida dos jovens: “Muitos estudantes de nossa Instituição enfrentam dramas decorrentes de sua condição social, bem mais complexos quando comparados a outros cuja situação socioeconômica e cultural lhes assegura uma experiência de vida universitária distinta”. Uma vez a par deste novo perfil, a pergunta que fica é: deve a Universidade se moldar ao novo perfil de jovem, mais aberto, mais plural, com mais participação, ou exigir o compromisso com as regras já instituídas? Como sempre, uma boa resposta está 12

no equilíbrio. “Acredito na perspectiva ‘dialógica’, em que as duas partes conversam entre si. Não devemos nem absolutizar os desejos dos jovens, nem absolutizar a hierarquia da Instituição. O conhecimento se produz, se elabora, não é só transmitido, mas construído na relação professor com o aluno. O caminho do diálogo é o mais efetivo, mas também o mais desafiador, porque ainda não tem uma fórmula pronta, é o que está sendo construído”, afirma o pesquisador Maurício Perondi. Para Patrícia Grossi: “O jovem entende que está em uma Instituição com regras. A visão que temos de rebeldia juvenil é deturpada. Mas para a aprendizagem ser completa, o jovem precisa ver que ela faz sentido na sua vida. E esta é a missão da PUCRS como um todo: entender essas necessidades e trabalhar aliada a elas”. Miriam Lacerda complementa: “É chegado um novo tempo que exige uma reflexão para que os projetos pedagógicos dos cursos contemplem as novas demandas trazidas pelos jovens que chegam à Universidade. Instrumentalizar as necessárias mudanças é um dos desafios que este estudo se propôs a responder”.


E o que é ser jovem para os próprios jovens? Esta pergunta foi dirigida aos universitários dos sete grupos focais da pesquisa. Algumas opiniões dos participantes você pode conferir abaixo: “A gente tem que ampliar essa cultura, ampliar essa concepção de juventude para juventudes. A gente tem a nossa realidade dentro dessa juventude, mas dentro da universidade são várias realidades, várias juventudes” “Acho que juventude é mais ou menos

isso: aquela fase que a gente está tentando buscar a nossa própria identidade em outras coisas, em outras pessoas, em nós mesmos...” “Tem uma expectativa bem grande na nossa faixa etária jovem. Temos que saber fazer muita coisa, sermos bons profissionais, estarmos maduros, termos uma boa opinião, argumentação pra tudo. E às vezes eu acho que é muita expectativa e a gente não tá maduro o suficiente para tanta expectativa.”

Equipe responsável pela pesquisa

Muitos jovens sentem que são olhados com reprovação pela sociedade, e eles querem provar que são capazes de surpreender positivamente.

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/solidariedade_

Pequena Casa, Casa, Pequena grandessonhos sonhos grandes Assim como a vela que quanto mais se consome mais luz espalha, quem faz voluntariado se sente mais completo quanto mais se doa.

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a placa que lemos na entrada está escrito Pequena Casa da Criança. Mas só na plaquinha a casa é pequena. Dentro dos muros que a cercam, mais de 1.600 pessoas são atendidas mensalmente, entre crianças, adolescentes e idosos. Quando Alexandre atravessa a entrada, aquela Instituição passa a ter o tamanho dos sonhos de cada um que ali está. Cada pequenino traz consigo sua alegria, sua esperança, sua criancice. E jovens como Alexandre passam a trocar experiências que marcam os dois lados de forma profunda. Uma vez ao mês ele deixa de lado os processos do escritório de direito onde trabalha para se dedicar às crianças da entidade.

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Quando está com elas, lê histórias, faz brincadeiras, desenha, lancham juntos. O tempo passa rápido. Para ele, que já esteve do outro lado e recebeu o carinho de outras pessoas, o sentimento de devolver esse afeto é diferente do

Os voluntários aprendem que dividir é somar

que imaginava. “Parece que são eles que estão te ajudando, e não o contrário. Tu podes estar fazendo muito pouco, mas eles se lembram da gente, se alegram e nos recepcionam com sorrisos no rosto que te

motivam muito”, conta. Evelyn Lima concorda. Ela também participa da casa há cerca de um ano e se sente gratificada com o que propicia aos pequenos. “Os gestos que fazemos são pequenos, mas eles os reconhecem.”


Os primeiros trabalhos que desenvolveram na casa foi de reformas e consertos. Pintaram a fachada externa, o ginásio, a quadra esportiva, arrumaram o refeitório, limparam os banheiros, consertaram pequenas coisas aqui e acolá. “Me lembro que estava frio e chovendo quando fui a primeira vez, acharam que eu não voltaria mais, mas foi tão gratificante. O trabalho é pesado, mas a alma sai leve”, lembra Alexandre. Evelyn reforça: “Tu chegares lá e presenciar as crianças brincando nos locais em que fizemos os reparos, e a alegria delas brincando

Ninguém fica parado: a ideia é arregaçar as mangas para ajudar!

conosco, não tem preço. Me faz cada dia ter mais vontade de continuar participando do trabalho voluntário e agradecer a tudo o que eu tenho”. Atualmente, junto com Alexandre e Evelyn, cerca de 20 universitários do Grupo Universitário Marista participam mensalmente dessa atividade, buscando construir um mundo um pouquinho melhor. Juntos eles planejam, executam e avaliam todas as atividades realizadas com as crianças, na certeza de que cada sorriso, cada abraço, cada gesto de amor valeu (e muito!) a pena.

#vemproGUM Participar de um grupo, fazer novas amizades, ter um espaço de partilha, de colocar suas ideias, de vivenciar a espiritualidade, aprofundar a fé, exercitar a solidariedade e lutar por um mundo melhor são apenas alguns dos motivos que fazem os jovens do Grupo Universitário Marista se reunirem semanalmente. O grupo é composto por universitários e diplomados de diversos cursos da PUCRS e atualmente conta com cerca de 40 participantes. O grupo tem como pilares: a convivência, a formação integral, o aprofundamento da espiritualidade marista e o compromisso social. Quem quiser participar ou conhecer mais, basta ir até o Centro de Pastoral e Solidariedade, prédio 17 da PUCRS ou mandar email para pastoral@pucrs.br

#vemproVoluntariado Existem muitos lugares onde a sua atenção, contribuição e carinho são muito bem-vindos! A PUCRS, através do Centro de Pastoral e Solidariedade e da AVESOL incentiva sua comunidade universitária para a realização de ações que contribuam para o desenvolvimento humano, na busca de um mundo mais justo, fraterno e sustentável. Contamos com alunos, diplomados, professores e técnico-administrativos contribuindo com projetos sociais realizados na PUCRS ou em organizações sociais de Porto Alegre, Viamão e Alvorada. As inscrições do Voluntariado PUCRS ocorrem de março a dezembro, presencialmente, por meio de entrevista (40min), no Núcleo de Voluntariado AVESOL/PUCRS. Queres fazer voluntariado, mas tens dúvidas sobre como poderias contribuir? A gente te ajuda!

Agenda teu atendimento pelo telefone 3320.3576 ou pelo email voluntariado@ pucrs.br.

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/vida de formando

A vida por trás dos Muitas vezes nos perguntamos se o jeito que estamos conduzindo nossas vidas é o mais correto, não é mesmo? Receber uma homenagem serve para indicar que sim!

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xistem muitos professores que, além de darem boas aulas, também ensinam lições de vida. Existem colegas que a gente nunca esquece. Para destacar aquelas pessoas que deixaram um pouquinho de si às outras durante a Universidade, são entregues os “prêmios” de professor Paraninfo, Paraninfo Espiritual e Professores e Técnico-Administrativos homenageados, e ao

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aluno o troféu Marcelino Champagnat. Mas e qual a função de cada um deles? O paraninfo é escolhido pela turma como aquele professor que mais marcou os alunos. É ele quem vai experimentar a emocionante sensação de levar os alunos pela mão até o palco da formatura. O paraninfo espiritual que acompanha os universitários no dia da Missa de formatura é escolhido pelos

formandos por auxiliálos em sua formação, contribuindo com valores humanos. Além deles, os formandos também podem escolher professores e técnico-administrativos homenageados pela turma que são pessoas que no cotidiano das relações acadêmicas e administrativas tiveram mais proximidade e afinidade com a turma. Já o troféu Marcelino Champagnat é escolhido

pelos próprios estudantes no dia do ensaio geral, pouco antes da formatura. No texto de apresentação da cerimônia de colação de grau, o prêmio é assim descrito: “A PUCRS quer homenagear aquele aluno que, na opinião dos seus colegas de turma, destacou-se por ser o mais amigo. Aquele que, nos momentos mais importantes, esteve presente na vida dos colegas, sendo atencioso e procurando ajudar de maneira humanitária. Enfim, o ‘amigo do peito’ da turma”. Quando Rodrigo Lima Correa viu um colega seu ganhar o prêmio Marcelino Champagnat no ano anterior a sua graduação, pensou que também gostaria de recebê-lo. No último semestre acabou se envolvendo pra valer com a faculdade. Fez parte da comissão de formatura com cinco colegas, todas mulheres, e se destacou pela forma amigável e conciliadora com que conduzia os naturais problemas préformatura. O sorriso, a calma e a pró-atividade contaram a favor. Os churrascos eram na sua


prêmios... casa e aos poucos ele acabou conquistando até os que não o conheciam de semestres anteriores. No dia da sua formatura, estava nervoso. Não só porque era o dia “D”, mas também porque ganhar o prêmio Marcelino Champagnat teria um sabor todo especial pra ele. “O reconhecimento dos meus colegas tem mais valor do que uma láurea acadêmica, pois não é algo que se adquire com conhecimento”. Quando chamaram seu nome, veio à tona uma emoção tão forte que mesmo agora, três anos depois, ele ainda sente o coração bater mais forte só de lembrar. “Chorei litros d’água, mal consegui cumprimentar o professor que me entregou o troféu”, lembra. Para um professor a emoção não é diferente. Aliás, mesmo para um professor que já foi paraninfo 15 vezes, o sentimento continua tão intenso quanto na primeira vez. “Eu sempre me surpreendo, fico muito emocionado cada vez que me chamam”, afirma Luciano Marques de Jesus, professor

O reconhecimento dos meus colegas tem mais valor do que a láurea acadêmica, pois não é algo que se adquire com conhecimento. Rodrigo Lima Correa, prêmio Marcelino Champagnat da sua turma. de filosofia e ética de vários cursos na PUCRS. Ele conta que quando começou a lecionar disciplinas de que os alunos geralmente não gostam percebeu que tinha um desafio pela frente: “o de transformar o limão em um mousse”, brinca ele. Mas então, que fórmula é essa, que segredo é esse de dar aulas que os alunos não querem ouvir e tocálos de tal forma que, ao final do curso, o chamam

para ser paraninfo? “Boa pergunta, não sei te responder, acho que as avaliações que recebo dos alunos são sempre exageradas, eles falam muito mais do que eu realmente sou”, desconversa Luciano, com muita modéstia. Modéstia essa que não é falsa, e talvez é exatamente aí que reside o segredo do professor tão requisitado: dar o seu melhor em cada aula sem almejar ganhar uma recompensa ao final.

Ser simplesmente um bom professor. Os alunos sentem essa verdade genuína, tão rara. Em suas aulas, ele costuma citar um autor chamado Victor Frankl, que afirma que a felicidade e o sucesso são a consequência de uma vida com sentido. “Honestamente, acho que as homenagens que recebi também foram muito mais a consequência do meu trabalho, eu nunca me preparei para recebê-las”.

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/opinião

Por trás das câmeras A apresentadora Alice Bastos Neves revela o que de mais importante aprendeu na PUCRS e que leva ao seu dia-a-dia à frente do Globo Esporte.

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odo dia quando entro no estúdio para apresentar o Globo Esporte penso na responsabilidade que essa função acarreta. São milhares de gaúchos que nos assistem para se informar sobre seu time, e sobre o que acontece no esporte no estado, no Brasil e no mundo. É uma super-responsabilidade. Mas, ao mesmo tempo, tenho sempre em mente que naquele momento, mesmo que seja através de uma câmera, estarei simplesmente conversando com pessoas. A troca de um ser humano com o outro baseia todas as relações em quase todas as profissões. Saber conviver com o próximo de forma respei-

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tosa, e por consequência harmoniosa, acredito que seja a maior virtude de um profissional. E é esse tipo de relação que acredito que deve ser retomada, incentivada e valorizada. Não adianta nada dominarmos com perfeição nossa função, se não soubermos nos relacionar. Dentro de uma empresa, o profissional pode ser ótimo tecnicamente, mas se não tiver uma boa relação interpessoal, não será considerado suficientemente bom. Os valores que nos levam a manter bons relacionamentos vêm da família, dos amigos, da religião, e também da faculdade. No curso de jornalismo na Famecos/PUCRS recebi todo o aparato necessário pra me tornar uma boa profissional. Os laboratórios com equipamentos supertecnológicos, a biblioteca recheada de boa bibliografia na área da comunicação,

os professores superpreparados e dispostos a contribuir com meu crescimento. Mas, além disso tudo, procurei prezar pelas boas relações. Os professores, os colegas veteranos, os recémchegados, todos serão futuros companheiros de profissão.

Portanto, manter laços positivos é essencial em qualquer momento. Não só pelo futuro profissional, mas também para viver bem, em harmonia com a gente mesmo. Alice Bastos Neves Apresentadora Globo Esporte/RS


/você sabia?

Maristas novos em missao! Após seis anos da realização da I Assembleia Internacional da Missão Marista, uma segunda edição ocorre de 17 a 27 de setembro, na cidade de Nairóbi, no Quênia/África, com o tema “Maristas novos em missão”. O evento é organizado pelo Instituto Marista e oferece aos Irmãos, leigos e jovens, em todo o mundo, a oportunidade de partilhar, celebrar, refletir e construir juntos, em igualdade de condições, a vida e a missão Marista no presente e para o

futuro, fiéis ao carisma. Durante esses 10 dias são feitos estudos e diálogos que trazem novas ideias com potencial de transformarem-se em ações. A Assembleia é uma excelente oportunidade para fortalecer nossa dimensão internacional e intercultural a serviço das infâncias e das juventudes. A PUCRS também participou da preparação desse grande encontro, promovendo espaços de discussão, celebração

da um break

e levantamento de desafios e proposições por meio do Centro de Pastoral e Solidariedade, com envolvimento de representantes da comunidade universitária (gestores, professores, técnico-administrativos e universitários). A Universidade também estará representada na Assembleia, em Nairóbi, através da agente de pastoral Sophia Kath, que juntamente com Aline Cunha e Ir. Miguel Antônio Orlandi irão representar a Rede Marista.

Saiba mais em: http://maristas.org.br/ assembleia

Todo o mundo sabe que o dia a dia de um universitário é agitado: são aulas, estágios, trabalhos com prazos de entrega. Que tal dar uma paradinha no meio do turbilhão de coisas para fazer e ficar mais voltado a si mesmo, refletindo sobre as escolhas que tem feito, os caminhos que está percorrendo, para onde está indo? Essa pausa não só é importante, como necessária para definir o rumo da sua vida. O Centro de Pastoral promove dois retiros para universitários por ano para que o jovem possa alimentar a sua espiritualidade e ter uma experiência profunda com a vida. Ainda dá tempo de se inscrever para o segundo retiro, com o tema “Há que se cuidar da vida. Há que se cuidar do mundo”.

Entre no site da Pastoral www.pucrs. br/pastoral ou ligue para (5 1) 3320.357 6. 19 próxima>


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