5 minute read

Ayani Hunikuí e Louise Botkay

Next Article
Flora Süssekind

Flora Süssekind

Foi no Acre, na comunidade São Joaquim, na beira do Rio Jordão, que Ayani e eu nos conhecemos. Em 2009, tive o grande prazer, honra e alegria de ir na comunidade de Ayani como oficineira professora junto com Ana Carvalho para dar um curso de cinema dentro do projeto Vídeo nas Aldeias1. Fizemos uma formação de cinema que durou um mês. Ayani foi nossa aluna e fez um filme muito bonito chamado Ayani por Ayani, que circula no Brasil e no mundo. É um filme sobre a avó dela e que a gente teve a alegria de construir juntas, eu como professora e oficineira, e agora ela já está fazendo um filme novo e vai poder contar sobre ele. Depois desse encontro em 2009, voltei para São Joaquim em 2010 e em 2011 para fazer um trabalho autoral, um filme de três canais chamado Vai e vem, e Ayani era minha tradutora, produtora, braço direito e assistente de direção. O trabalho que vamos mostrar é a tradução de um canto que surge nesse filme. Esse canto aparece em um ritual noturno na última aldeia do Rio Jordão, a comunidade do Novo Segredo.

Louise Botkay Vai e Vem https://vimeo.com/102477413

Advertisement

1 “Criado em 1986, Vídeo nas Aldeias é um projeto precursor na área de produção audiovisual indígena no Brasil. O objetivo do projeto foi, desde o início, apoiar as lutas dos povos indígenas para fortalecer suas identidades e seus patrimônios territoriais e culturais, por meio de recursos audiovisuais e de uma produção compartilhada com os povos indígenas com os quais trabalha.” (em http://www.videonasaldeias.org.br/2009/index. php , acesso em 3/7/2022).

Esse filme, desde criança, com uns 18 ou 19 anos, meu irmão era cineasta também e sempre filmava, e eu sempre quis registrar o nosso trabalho das mulheres. Em 2009, chegou a oportunidade. A minha amiga Louise chegou e, de repente, pegamos a câmera com ela. Depois disso, escolhi minha vó, o que para mim é muito bom para poder registrar os nossos ancestrais, nosso trabalho, para não acabar, e poder mostrar para os nossos netos e os povos também. No momento, eu estou trabalhando na floresta ainda para continuar esse filme. Agora minha vó já faleceu, eu quero continuar esse registro da minha mãe e o trabalho da minha mãe e das mulheres indígenas. Eu quero continuar esse trabalho. Ainda estou planejando, é muito bom compartilhar com você e quero mais uma ajuda para conseguir mais câmera, ajuda para conseguir equipamento.

Ayani HuniKuí Ayani por Ayani https://vimeo.com/72744722

Ayani por Louise

Louise por Ayani

Nai buni hua.

Ninaya nayanee.

Buni hua tuea. Ninaya nayanee.

Nai a ku hua. Aku

hua tuea. Ninaya nayane. Nai ashu hua.

Ashu hua tuea ninaya nayane

HAUX!

Essa cantoria a gente usa na floresta, aprendi com nossa avó, na nossa língua HachanKuí, língua Pano, a gente usa no ritual essa cantoria para chamar a força. Eu vou cantar aqui esse canto que meus antepassados usaram na floresta. Se chama Ninaya nayanee.

Essa música a gente usa no ritual. Tem várias outras músicas também, como a da cura, essa música a gente usa mais no ritual do Nixipã, como todo mundo sabe, é a Ayahuasca, mas tem as cantorias da tecelagem, a cantoria que se chama de bahú, que é usada mais pelo homem e é sobre desenho do Kene, tem também cantoria da cura também, tem cantoria que chama forças do sol, há várias músicas que se cantam. Esse canto tem várias frases e em cada frase a gente chama a floresta, chama o vento, terra, água, cheiro da floresta, tudo isso nesse canto.

Ni é floresta, naya é o vento, Nai a ku hua, a Ku é uma árvore grande que chama, Ni é geral, é a floresta, então, uma floresta de árvores grandes. Aku é uma floresta com árvores grandes. Hua é uma flor das árvores. Ninaya nayanee é a gente repetindo, e a gente fala cada nome de árvore, aí repete ninaya nayanee. É esse o nome da música. A gente fala cada palavra ninaya nayane e Nai a ku hua. A ku é um outro tipo de floresta grande dentro da floresta. Cada floresta tem um nome.

Com esse canto Ninaya nayanee a gente vê uma miração bonita, a gente usa no Nixipã (ritual de Ayahuasca) e, primeiro, chama força. Essa música já vem no meio do ritual. Chama força e, depois da força, dá cura e, depois da cura, tem a miração. Esse canto daqui, já canto, é um canto do momento da miração boa, são árvores, terra, todo mundo na miração, gente voando, a gente viajando durante o uso do Nixipã, Ayahuasca, que a gente toma. Aí a gente está caminhando e a gente vê a miração boa, bonita, desenhada toda em colorida, aí é nesse momento que pode se cantar essa música.

Kene

Ayani na rede

Queria que você mostrasse um kene para quem não conhece o que é. Cada desenho tem a sua linguagem, não é? Tem esse símbolo da tradução dos desenhos, a tradução da linguagem dos desenhos. Cada desenho tem a sua força como a força dos cantos.

Antigamente, desde 500 anos, nossos antepassados, a gente trabalhava só com a tecelagem, agora a gente consegue a miçanga, né. Esses kene têm 60 tipos diferentes de desenhos.

Dany, mãe de Ayani

Ayani, avó de Ayani

Ayani Hunikuí é cineasta, mãe e xamã, mora no Acre, fronteira do Brasil com o Peru, na Aldeia São Joaquim – Centro de Memória. Filha do renomado pajé Augustinho, com quem estudou a medicina da floresta, é artesã, mestra das artesãs do Rio Jordão e desde 2005 representa e coordena o movimento das mulheres das terras indígenas do município de Jordão.

Louise Botkay é formada na Escola Nacional de Cinema da França (FEMIS), desde 2003, realiza seus filmes em países como Haiti, Congo, Níger, Chad, Holanda, França e Brasil. Utiliza diferentes mídias, como o telefone celular, vídeo e película, super-8, 16 e 35 milímetros, que revela artesanalmente. Seus trabalhos foram selecionados e premiados em diversos festivais.

This article is from: