Encontro Internacional Pensar o futuro: as histórias que tecemos e as histórias que queremos

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Encontro Internacional Pensar o Futuro: as histórias que tecemos e as histórias que queremos Dias 15 e 16 de fevereiro de 2017 Centro de Pesquisa e Formação – Sesc São Paulo O futuro sempre ocupou um lugar especial nos projetos e nas representações sobre o devir humano. Historicamente, e especificamente nos últimos séculos, a utopia povoou imaginários e lutas em prol de justiça, de liberdade e de igualdade. Porém, quando observamos o cenário político e social deflagrado no final do século XX, e que se cristaliza nos primeiros anos do século XXI, percebemos que o futuro se distancia cada vez mais do horizonte seguro e revolve-se perante inúmeros dilemas e incertezas. Nesse cenário, o presente parece se reinventar constantemente. A realidade social passa a ser interpretada pela lente do universo virtual, onde o tempo da aceleração modifica a vida social e suas percepções, bem como inaugura novos valores. A ubiquidade das tecnologias da informação e comunicação modificam as noções do regime espaçotempo, características da modernidade, gerando novas relações temporais e espaciais. Na atualidade, o sentido de futuro foi substituído por um presente que se recria incessantemente, pois as possibilidades do virtual e de campos de conhecimento como a biotecnologia, a cibernética, a inteligência artificial, entre outros, produziram um universo de experiências e concepções radicalmente diferentes das que a humanidade teria experimentado e concebido até aqui. O tempo da aceleração, ao condicionar e constituir as esferas sociais, econômicas e culturais, seria o catalizador de outras temporalidades que integram a história atual? A rede digital e seus modos de operação globalizante seriam tão potentes a ponto de modificar profundamente instituições, coletividades, sistemas políticos, afetividades, comportamentos e corporeidades? Que tipo de experiência humana surge de formas de


vida, para as quais as memórias estão cada vez mais objetivadas em dispositivos técnicos e automáticos, separadas dos corpos humanos e das tradições coletivas, e produzidas segundo a lógica da velocidade? Em que medida os novos aparatos tecnológicos representam formas realmente novas de produção de conhecimento, suficientemente fortes para a emancipação e superação de velhos problemas humanos? A temporalidade do “tempo real” e das simulações trouxe consigo novas percepções e sentidos, originárias de um mundo onde máquinas inteligentes e seres humanos coabitam e se relacionam de certa forma simbiótica. Alguns depositam sobre elas esperanças e projetam possibilidades positivas para a democratização do conhecimento, da formação profissional, da autonomia e do empreendedorismo; pensam também no surgimento de novas práticas econômicas, e segundo estas expectativas, a transição do capitalismo para um novo sistema estaria em pleno andamento. Outros, no entanto, acreditam que o fenômeno das tecnologias da informação e comunicação e suas temporalidades são mais um desdobramento do capitalismo tardio em sua feição globalizante, e, dessa forma, podem aprofundar sobremaneira as injustiças e desigualdades sociais. Há ainda aqueles que consideram parte das relações sociais e culturais emergentes das redes digitais, bem como o uso individual e coletivo que fazem de seus aparatos, como sendo manifestações originais, mas que devem ser analisadas criteriosamente, sob uma perspectiva prudente e cautelosa, posição esta que inclui apontar suas desvantagens quando necessário. O fato é que essas novas possibilidades emergem num panorama onde permanecem e se aprofundam velhos problemas, gerando ambiguidades e os vislumbres de um futuro caótico. As crises de representação político partidária, de desestruturação do sistema econômico, de destruição do meio ambiente, ou até mesmo de diluição das utopias coletivas, criaram uma paisagem na qual a dúvida passa a se colocar como principal elo entre presente e futuro. Perante a era das incertezas, quais seriam as possibilidades de compreensão e transformação da realidade? Seria esta questão mais um rastro da utopia modernista, racional e emancipatória, já cindida e deslocada? Diante de um presente que não nos permite mais certezas, seriam essas indagações os principais


pressupostos para enfrentar a realidade contemporânea e confrontar a ansiedade de futuro? O crescimento do capitalismo e da formação dos Estados orientaram a imaginação política dominante, os princípios e as práticas dos períodos hegemônicos. Apesar da contestação do modelo “estadocêntrico” em forma de uma globalização militarizada e da expansão do livre mercado, alguns de seus sintomas ganharam relevo, como as discrepâncias entre as fronteiras políticas e culturais. Nação e território nem sempre coincidem, colocando a dimensão espacial da cidadania em profunda crise, enquanto os Estados sobrevivem e reforçam suas identidades nacionais. As recentes crises financeiras e fiscais surgem como novos intervenientes na configuração e nos significados das fronteiras estatais. A tarefa supõe encontrar meios de acomodação dos subnacionalismos em sociedades multinacionais e multiétnicas, garantindo a coexistência pacífica e evitando as tragédias associadas aos conflitos nacionalistas. Neste contexto, a proposta multicultural expõe os desafios das próximas décadas. O difícil equilíbrio entre os direitos das minorias, pressuposto do multiculturalismo, e a liberalidade da sociedade que, por um lado, buscam assegurar o justo tratamento de culturas minoritárias e a consequente participação e liberdade de escolha aos indivíduos, e, por outro lado, podem conduzir à autossegregação em pequenos grupos ou comunidades coletivistas, como forma de encontrar um refúgio da opressão dos grupos dominantes. No interior deste cenário, as potencialidades críticas e criativas que emergem dos campos da arte e da cultura são notadamente significativas enquanto expressões que podem revelar certo mal-estar da condição humana ou traduzir e acenar para as possibilidades de transformação ética e estética da realidade. Ou seja, as manifestações culturais e artísticas oferecem uma forma peculiar de leitura e compreensão do mundo que extrapolam os limites de uma visão supostamente objetiva e racional, ao passo que proporcionam múltiplas formas de imaginação e intervenção sobre a sociedade. Contudo, não é possível deixar de reconhecer as tensões que se concebem no interior destes campos, a partir das relações que estabelecem com o universo político e econômico, bem como com a esfera mais ampla da realidade social. Diante desta condição, cabe repensar


o significado das ideias e práticas sociais que moldam a conformação dos campos da cultura e das artes na realidade atual e, da mesma forma, coloca-se como questão fundamental refletir sobre os limites e possibilidades que permeiam a construção de novas utopias, por meio das relações sociais que são impulsionadas pelas manifestações artísticas e culturais no mundo contemporâneo. Enquanto as incertezas nos levam ao desalento, as dúvidas assumem a centralidade no desígnio humano, todavia perseguir incessantemente as respostas não assegura a conquista filosófica da luz, mas apenas o reconhecimento de que a reflexão lastreia o desentranhar da caverna. Se o caminho das respostas se constrói a partir das perguntas, restam às dúvidas o indagar. Todas essas questões demandam a reflexão sobre o legado de conhecimentos e categorias analíticas que estruturaram a modernidade, bem como a elaboração de epistemologias que deem base para a construção de teorias críticas que respondam aos desafios e à complexidade do presente e do porvir. É nesse sentido que o Encontro Internacional Pensar o Futuro: as histórias que tecemos e as histórias que queremos pretende abordar questões fundamentais que contribuam para pensar tempos e contratempos. Para tanto, os eixos conceituais são propostos em forma de perguntas e compõem o quadro de discussões:      

Como vivermos juntos no século XXI? Para onde a aceleração da vida atual nos leva? Depois das vanguardas ainda restam utopias? Quais são os caminhos para a construção de uma ordem cosmopolita? Qual o futuro do homo economicus? Como pensar as questões ambientais integradas à produção da vida na contemporaneidade?

Este encontro tem a intenção, também, de propiciar um espaço para dúvidas instigantes e potentes, para reflexões sobre os temas apresentados aqui e os estudos correlacionados, bem como sobre as ações e paradigmas que estão emergindo nas diferentes realidades e campos de conhecimento, intenções estas que, espera-se, sejam


profícuas para pensar e debater sobre as incertezas e instabilidades atuais, e para ensejar horizontes possíveis e impensados. Programação 15 DE FEVEREIRO DE 2017 [quarta-feira] 10h às 10h30 Abertura institucional DANILO SANTOS DE MIRANDA (BRA) Diretor Regional do Sesc São Paulo 10h30 às 11h30 Conferência de Abertura: Como vivermos juntos no século XXI? Chegamos a uma etapa histórica em que alcançamos conhecimentos e experiências suficientes para resolvermos velhos e novos problemas da humanidade. Como colocar em prática a imaginação criadora humana, promovendo a convivialidade e novas formas de coletividade e solidariedade, preservando as pluralidades culturais, a liberdade de pensamento e as singularidades individuais? Palestrante: CHRISTIAN DUNKER (BRA) Título da comunicação: O futuro presente Formas de vida definem-se principalmente pelo desejo, trabalho e linguagem. O primeiro desafio para o século é como empregar a transparência dos saberes disponíveis em escala universal para construir uma nova experiência comum. “Viver junto” não é apenas dividir espaços particulares e ser constrangido por leis universais, mas pertencer a um tempo, que tem uma história e é capaz de inventar um futuro imprevisível. Isso começa pela crítica da moral da sobrevivência e a suspensão dos estados de segregação. Confinados ao presente e seu projeto defensivo de uma vida em estado de ameaça e exceção a tecnologia torna-se inócua, a disponibilidade do saber é impotente e a pluralidade cultural torna-se improdutiva. Nosso grande desafio é inventar novas formas de possuir e de pertencer. Nenhum plano de sustentabilidade ou de ocupação, nenhum projeto de


vida ou de política pode criar novas experiências transformativas se não traduzir a vivência de estar junto, em uma experiência real de compartilhamento. Conviver não é suportar ou tolerar o outro, mas pertencer ao mesmo futuro que ele. Viver junto é obrigatório. Ter uma vida em comum, conviver, é contingente.

Assim também a

singularidade de cada um depende das condições que nos damos para fazer com que trabalho, linguagem e desejo resolvam-se em soluções únicas, mas que sejam também para todos. Christian Ingo Lenz Dunker é psicanalista, professor titular de psicanálise e psicopatologia do Instituto de Psicologia da USP. Coordenador do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da USP, autor de "Estrutura e Constituição da Clínica Psicanalítica" (Anablume, Prêmio Jabuti 2012) e "Mal-Estar, Sofrimento e Sintoma" (Boitempo, Prêmio Jabuti 2015). Articulista de Revistas Mente & Cérebro e Brasileiros e Blog da Boitempo. 11h30 às 13h30 Mesa 1 - Para onde a aceleração da vida atual nos leva? O que vem depois da velocidade do tempo pós-moderno? A percepção e a organização do espaço e do tempo na vida social mudaram profundamente, quando as comparamos com as formas de vida, com as experiências e as relações existentes há cinquenta anos. Quais seriam suas consequências e suas implicações? Quais temporalidades e modos de vida ainda permanecem na atualidade? Como interagem na aceleração geral em que nos encontramos no presente e em que medida representam formas de resistência à inexorabilidade da velocidade? Palestrante: HARTMUT ROSA (ALE) Título da comunicação: Aceleração social, estabilização dinâmica e desincronização da sociedade Pretende-se identificar a estabilização dinâmica como uma característica de definição das sociedades modernas. Este termo refere-se ao fato de que tal sociedade requer crescimento (material), aumento (tecnológico) e altas taxas de inovação (cultural) para reproduzir sua estrutura e preservar o status quo socioeconômico e político. Esta característica tem duas consequências sociais decisivas: primeiro, leva a uma lógica progressiva de escalada nos domínios da produção, velocidade e mudança social, que


pode ser compreendida sob o conceito único de "aceleração social". Em segundo lugar, nem todas as esferas da vida social são igualmente "rápidas", ou igualmente aptas para a dinamização. Assim, o problema da "dessincronização" passa à frente da sociedade contemporânea. As quatro crises mais prementes da era moderna são crises de "dessincronização": 1) A crise ecológica pode ser lida como uma crise de “dessincronização” entre a velocidade do giro material e a produção econômica, por um lado, e a renovação ambiental por outro; 2) A crise financeira em curso desde 2008 pode ser entendida como uma consequência da “dessincronização” entre as taxas de rotatividade dos mercados financeiros e as da "economia real" da produção e consumo materiais; 3) A crise da democracia assinala uma “dessincronização” entre a velocidade intrínseca da formação e da tomada de decisões democráticas, e a velocidade dos mercados, por um lado, e por outro, dos meios de comunicação e do progresso tecnológico; 4) A "psico-crise" que pode ser observada no aumento acentuado das taxas da síndrome burnout e depressão resulta de uma possível “dessincronização” entre a "velocidade" da psique humana e a velocidade da mudança social, como Alain Ehrenberg a entende. Hartmut Rosa é professor de Sociologia e Teoria Social na Universidade Friedrich-Schiller em Jena (Alemanha) e diretor do Max-Weber-Kolleg na Universidade de Erfurt. É também professor afiliado no Departamento de Sociologia da New School for Social Research em Nova York. Em 1997, obteve seu doutorado em Ciência Política pela Universidade Humboldt em Berlim. Ocupou cargos de docente nas universidades de Mannheim, Jena, Augsburg e Essen; foi vice-presidente e secretário-geral do Comitê de Pesquisa 35 (COCTA) da ISA e um dos diretores da Conferência Internacional Anual de Filosofia e Ciências Sociais em Praga. Em 2016, foi professor visitante na FMSH/EHESS em Paris. É editor do jornal internacional Time and Society. Suas publicações se concentram na Aceleração Social, Ressonância e Estruturas Temporais da Modernidade, bem como a Teoria Política do Comunitarismo. Palestrante: NORVAL BAITELLO JUNIOR (BRA) Título da comunicação: O futuro como refúgio A existência do futuro talvez seja o artifício mais elaborado do homem para sobreviver nos ambientes sempre inóspitos que o cercaram. O pré-ver se tornou condição


indispensável da sobrevivência, exigindo para si grandes modificações anátomofisiológicas do corpo e sobretudo do cérebro humano. Mas a evolução cultural do mesmo homem investiu tantas fichas no futuro que um equilíbrio da existência pode ver-se em risco. O presente negligenciado pode significar sérios danos não apenas à espécie como mesmo ao planeta. As esperanças desmesuradas no futuro podem se transformar em um refúgio para os conflitos e traumas não resolvidos por um presente deficitário.

- SOBRE O PALESTRANTE Norval Baitello é professor titular na pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC/SP. Criou os cursos de Comunicação e Artes do Corpo e Comunicação em Multimeios. Foi Professor convidado das Universidades de Viena, Sevilha, S. Petersburg, Autónoma de Barcelona e Évora. Livros mais recentes: “A Serpente, a Maça e o Holograma” (2010), “O Pensamento Sentado, Sobre Clúteos, Cadeiras e Imagens” (S.Leopoldo, 2012) e A Era da Iconofagia (S.Paulo, 2014).

ALMOÇO | 13h30 às 15h 15h às 17h30 |Arte e Política – Grupos de Trabalho Sessões temáticas simultâneas de apresentação de pesquisas

Sessão 1: - “Alteridades telemáticas” Antônio de Pádua Rodrigues e Daniel Cardoso Perseguim de Oliveira Insurgências telemáticas como resultado de ações maquínicas sem controle humano ocorrem em nova era de exclusão pautada pela tecnologia. Neste contexto, o futuro está comprometido em equacionar alteridade e autonomia. Em especial a alteridade maquínica, cuja práxis entre sujeito e objeto não se submete mais a uma sintaxe geral. Como exemplo, em 2016 um drone autônomo, idealizado pelo Pentágono, identifica a representação de insurgentes de uma vila do Oriente Médio e dispara eventos sem o controle humano. Em 2013, jovens da periferia de São Paulo invadem shoppings em encontros organizados pela internet, os chamados rolezinhos, uma forma de performance


artística mediada pela tecnologia. Esses e outros eventos são analisados no âmbito político e cultural como forma de resistência e controle. Antônio de Pádua Rodrigues é mestrando em Estética e História da Arte na USP. Pesquisa os processos de subjetivação no ambiente urbano. Daniel Cardoso Perseguim de Oliveira é profissional multimídia. Desenvolve criações e pesquisas nos campos de arte, educação e tecnologia por meio do texto, imagem, som e suas extensões.

- “Por uma poética do comum: reflexões sobre arte gestada coletivamente nos espaços informacionais das cidades” Lucas Pret Esta comunicação traça paralelos entre o conceito de multitude, de Michael Hardt e Antonio Negri, e alguns projetos de arte concebidos em espaços públicos brasileiros nos últimos anos a partir da articulação de coletivos e indivíduos em rede. Entendendo que artistas e ativistas de grupos como Baixo Centro, Pimp My Carroça, Tanq_ ROSA Choq_ e Coletivo Projetação se valem de “inteligência de enxame”, examino alguns aspectos dessa maneira de trançar arte, política e mercado nos anos 10, que forjam uma poética baseada em bens comuns (commons). Duas características são a busca habitual pelo lastro do financiamento coletivo (crowdfunding) e a composição de dispositivos relacionais, utopias de convivência, o que os aproxima das teorias propostas por Nicolas Bourriaud, imbuindoos, assim, de um sentimento de vanguarda. Lucas Pret é jornalista e artista multimídia, mestrando no Instituto de Artes (IA) da Unesp. Foi um dos idealizadores do movimento Baixo Centro.

- “Potencialidades da outra arte contemporânea” Daniel França Gonzalez Xavier Reflexão transversal sobre os novos modelos de criação do artístico que propõem a reconfiguração da função social das artes. Através do neologismo “Outra Arte


Contemporânea” apresentaremos práticas estéticas não cartografadas na geopolítica oficial da crítica. Citaremos analogias entre processos atuais e movimentos históricos, considerando as transformações tecnológicas, científicas e sociais que incluem o atual protagonismo da internet. Estas manifestações sinalizam uma ruptura com os espaços vistos como legitimadores e apontam o surgimento de vanguardas tardias no capitalismo cognitivo. Ao conectar a esfera tecnológica e a social a Outra Arte radicaliza as intenções das vanguardas históricas de aproximar a estética da vida, fazendo da arte seu trabalho cotidiano, coletivo e espiritual. Daniel França Gonzalez Xavier é curador especializado em artemídia. Mestre em Gestão Cultural pela Universidad Carlos III e bacharel em Comunicação pela FAAP.

- “Participação e interação: a arte como ponto de articulação entre autonomia e coletividade” Luiza Gianesella O século XX viu o surgimento de uma arte à qual é cara a noção de interação ou participação, tendo no centro de sua poética o fomento de uma postura ativa do fruidor. Como pensar em termos políticos essa arte que, desde pelo menos o início do século XX, tem posto em cheque a primazia da obra e da autoria e proposto aquilo que se pode chamar de procedimentos (C. Aira), dando maior peso ao processo? Como pensá-la num cenário onde o fruidor começa a interagir também com sistemas inteligentes (inteligência artificial), em diálogo com a cultura hacker? Evocando autores como V. Flusser, H. Bey, G. Deleuze e J. Larossa, pretendo sugerir que a potência e a relevância social da arte interativa ou participativa encontram-se na sua capacidade de conjugar autonomia e coletividade. Luiza Gianesella é artista e educadora, especializou-se em Educação em Museus e Centros Culturais.

Sessão 2:


- “Arte têxtil: pode o artesanato revolucionar o museu?” Maria Celina Gil Este trabalho analisa o diálogo entre as práticas comumente chamadas de artesanato e aquelas ditas arte – separação de caráter hierárquico, como se uma prática tivesse mais valor que outra. Tem se percebido, porém, uma presença cada vez maior das artes cotidianas em museus e uma separação menos sólida entre o que pode ou não ser considerado arte. A arte têxtil será o foco aqui, principalmente seu aspecto de resistência num mundo que valoriza a produção mecanizada e industrial. A manipulação artística de têxteis também ressignifica papéis de gênero na sociedade, já que esses trabalhos foram sempre associados às mulheres e, portanto, considerados inferiores. A arte têxtil é como um manifesto: a arte que subverte o sistema nasce do cotidiano, das mãos dos que poucas vozes tiveram até então. Maria Celina Gil é formada em Cinema (FAAP) e Letras (USP). Atuou em Direção de Arte Audiovisual e atualmente pesquisa artes cênicas e visuais, investigando trabalho artesanal e figurinos.

- “Design des-centrado” Vilma Vilarinho Design des-centrado acolhe em seu cerne de discussão o pensar projetos no âmbito de demandas sociais complexas do contexto contemporâneo, percebidas como fenômenos que de algum modo escapam do sentido banal de ordem, geram caos e se configuram como situações desestabilizadoras, como por exemplo o fluxo de migrações que se espalha pelo mundo. Diante de situações como esta, de fluxo, de passagem, de “em vias de”, que por alguns ângulos de percepção ganham contornos de perturbação e desequilíbrio, ao campo do design se coloca a urgência de rever modos de exploração e entendimento de contextos, e a necessidade de questionar se métodos tradicionais ainda


são caminhos viáveis para a compreensão de um mundo de fronteiras em vias de esmaecimento, ao mesmo tempo em que ascendem contornos rígidos. Vilma Vilarinho é doutoranda na área de concentração de Design e Arquitetura pela USP, onde pesquisa o fazer design diante de situações complexas.

- “As possibilidades de vida e as estéticas de resistência: panorama do coletivo URUBUS sobre a paisagem dos engajamentos poéticos e civis contemporâneos” Carolina Pinzan Dias de Souza O transbordamento da arte contemporânea além de transgredir territórios, linguagens, disciplinas, status e espaços, fornece ferramentas de guerrilha poética e existencial à sociedade, imergindo e agindo em diferentes campos das relações com estratégias que tem propósito em criar experiências imediatas vivenciadas coletivamente, no tecido cotidiano, que reinventem e instaurem concretamente outros instantes, constituições e realidades vitais. Este cenário abriga desde 2005 o Coletivo URUBUS, que desenvolve o programa in progress Projeto Árvore, pesquisa híbrida e relacional que cria trabalhos e ocupações artísticas e/ou pedagógicas, em contexto coletivo (urbano, natural, público ou institucional), propondo diferentes modos, qualidades e intensidades de experiência, presença e integração. Carolina Pinzan Dias de Souza é mestra e bacharela pela USP. Diretora de cena em BR-3 (Teatro da Vertigem). Coordenadora e performer do URUBUS.

- “Intervenções urbanas em São Paulo: arte e ação política” Carolina Nery e Ivaldo Brasil Jr A vida contemporânea reflete questões ligadas à velocidade, espaço e política, que se desdobram em práticas artísticas. A velocidade interfere nas subjetividades, no que se refere a conhecimento, comportamento e sociabilidade. O espaço urbano liga-se a conceitos identitários, históricos e relacionais. E hoje, micropolíticas são focadas em


questões específicas e cotidianas da vida em sociedade. A coletivização da produção artística e as ações colaborativas encontram em São Paulo ambiente propício para intervenções performáticas e instalativas. Nesta pesquisa, a cidade é vista como campo de criação e circulação da arte, museu aberto ou espaço estético imersivo, no qual as relações entre arte, cidade, artista e espectador podem reconfigurar autoria, percepção e afetividade. Carolina Nery é arquiteta (UBC), mestranda em Estética e História da Arte (MAC-USP) na área de Produção e Circulação da Arte. Ivaldo Brasil Jr é jornalista (UFSC), mestrando em Estética e História da Arte (MAC-USP) na área de Produção e Circulação da Arte.

Sessão 3: - “Os desafios do músico no século XXI: engajamento artístico X mercado” Ericsson Bezerra Castro Sá Munoz O presente trabalho tem como objetivo principal compreender como se processa a relação entre o músico e o mercado cultural, principalmente tendo como delimitação a atuação na música contemporânea e experimental. O processo de reflexão inclui como tópicos principais: a dependência das leis de incentivo, editais e políticas culturais, se há a um público para essa área, como podemos dialogar com o mercado sem perder a independência de atuação, se há um circuito independente e com autonomia para atuação, e cadeia produtiva nessa área. Ericsson Bezerra Castro Sá Munoz é formado pela Unicsul e mestrando na Unicamp.

- “Condições e possibilidades de emergência dos estudos sobre literatura e afrodescendência no Brasil contemporâneo” Rafael Balseiro Zin


Apesar de os primeiros registros da literatura de autoria negra no Brasil datarem do início da segunda metade do século XIX, os estudos críticos que tratam dessa importante vertente literária ganharam força no país somente nos últimos dez anos. Se, por um lado, a potencialidade criativa dos afro-brasileiros ficou esquecida ou mesmo foi silenciada durante esse período, por outro, ela revela a subjetividade e a sensibilidade artística dessa camada da nossa população, apresentando-se como uma forma potente de reinvenção da vida e de construção de novas realidades. Levando em consideração essa perspectiva, o objetivo dessa reflexão é analisar as condições e possibilidades de emergência dos estudos contemporâneos que tratam da relação entre literatura e afrodescendência no Brasil. Rafael Balseiro Zin é doutorando em Ciências Sociais pela PUC-SP e pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política (Neamp).

- “O que significa ensaiar hoje? O ensaio como itinerário crítico no século XXI” Caio Sarack "Afinal, o que?", esta é a pergunta que fecha o livro de 1951 do escritor argentino Ernesto Sábato e parece ainda ressoar em nossos tempos. A pergunta leninista ainda otimista "Que fazer?" ressurge na formulação de Sábato com certa impaciência, sendo, aliás, essa sensação muito comum em nossas relações contemporâneas. A proposta desta comunicação é pensar o ensaísmo como formato relevante e significante para reflexão dos nossos dias; texto-campo onde os antagonismos podem aparecer tensos entre si: nos ensaios do século XX e a recepção de seus ensaios no século seguinte, podemos compreender como história e pensamento entram em contato e, afinal, o que significa ensaiar hoje. A dicotomia investigada será: produções de discursos (políticos e estéticos) e a sua recepção crítica da tradição. Caio Sarack é bacharel e mestrando em Filosofia pela USP; estuda o vínculo entre literatura, filosofia e crítica literária.


- “Pensar a imagem: o declínio da autoria, a ética da mediação e o fim das vanguardas” Thiago S. Venanzoni Estimulado pela questão proposta no GT 1 – Arte e política, “O século XX esgotou as possibilidades da arte ou haveria ainda espaço para vanguardas?”, a comunicação buscará tensioná-la em plataformas que aproximam os campos da estética e da política e localizam na imagem um lugar de mediação do social. A partir de Rancière (2004), Mitchell (2015) e outros, e da observação das materialidades na nomeada cultura visual, se abordará os pontos trazidos no título desta proposta, como a ética da mediação em torno das imagens e o fim das vanguardas como o lugar da inversão do mundo. O deslocamento está em não mais encarar a imagem como uma dialética em obra, à maneira benjaminiana, mas pensar a imagem em suas assonâncias e dissonâncias com o mundo ordenado, ou, a imagem como um devir. Thiago S. Venanzoni é mestre em Meios e Processos Audiovisuais (USP). Membro do MidiAto - Grupo de Estudos de Linguagem e Prática Midiática.

- “Narradores de passagem em hospitais” Mônica Roberta Antônio Narradores de passagem é um projeto que surgiu a partir da constatação das pessoas morrerem cada vez mais sozinhas. Nossa sociedade perdeu a capacidade ritual de outrora; deixamos nossos mortos para as funerárias cuidarem. Além de contribuir com a humanização do ambiente hospitalar, resgata a função social da arte e coloca em questão a necessidade de ações solidárias e voluntárias na construção de uma moderna comunidade. O efeito positivo da narrativa é visível, pois melhora o humor e a comunicabilidade entre os envolvidos. A arte do narrador teve seu auge no passado e agora aponta para o futuro que, neste presente, mostra a necessidade de compartilhar experiências verdadeiramente humanas e dialoga com seu público o momento que ele está passando, num local não convencional da arte.


Mônica Roberta Antônio é especialista em Cuidados Integrativos, graduada em Letras. Atua nas áreas educacional e social.

Sessão 4: - “Concretismo paulistano: vanguarda artística na década de 1950” Luis Fernando Silva Sandes A corrente vanguardista chamada concretismo, na cidade de São Paulo, na década de 1950, se desenvolveu como continuação da tradição construtivista russo-europeia. Esta corrente artística internacional se caracteriza pela busca da inserção social de suas obras, buscando interferir na realidade social. Na cidade, os meios socioeconômico e artístico eram favoráveis à modernização estética. O concretismo produziu, além de pinturas e esculturas, móveis e projetos arquitetônicos, entre outros. O fito era inserir a arte no cotidiano moderno, e organizá-lo. Ainda que a rigidez estética e a utopia concretista sejam relativamente amainadas com a passagem do boom da modernização, a tradição construtiva no Brasil se manterá com o neoconcretismo e perdurará, para alguns, até os dias de hoje. Luis Fernando Silva Sandes é graduado em Relações Internacionais e mestrando em Ciências Sociais, ambos na PUC-SP.

- “O tropicalismo como herança queer hoje: a canção popular-comercial e a questão LGBT no Brasil” Renato Gonçalves Ferreira Filho A canção popular-comercial tem sido um espaço privilegiado para a evolução da questão LGBT na cultura brasileira. Nos últimos anos, paralelamente à difusão da teoria queer no Brasil, uma onda de cantoras e cantores, como As Bahias e a Cozinha Mineira e Liniker, tem desafiado as fronteiras da performance de gênero. A presente comunicação pretende estabelecer aproximações entre esse movimento e o Tropicalismo das décadas de 1960 e 1970, encabeçado por Caetano Veloso e Gilberto Gil. A percepção é de que já havia, no


imaginário tropicalista, uma estética queer, que hoje pode ser considerada como uma herança revisitada pelos citados artistas contemporâneos. Tais leituras se darão à luz de uma abordagem multidisciplinar que une correntes dos estudos de gênero, da psicanálise e da comunicação. Renato Gonçalves Ferreira Filho é mestre em Filosofia pelo IEB-USP e graduado em Comunicação Social pela ECA-USP.

- “Arte e política no documentário LGBT: os casos de Meu amigo Claudia e São Paulo em Hi-Fi” Emerson Rossi O texto a ser apresentado é um trabalho descritivo e analítico sobre os documentários “Meu amigo Cláudia” e “São Paulo em Hi-fi”, que respectivamente tratam da figura histórica Cláudia Wonder e da noite gay paulistana dos anos 1970 e 1980. A metodologia empregada é de análise interna desses artefatos culturais e de contextualização histórica, para refletir a partir das teorias filosóficas e sociológicas das sexualidades e dos gêneros, bem como da história desses grupos sobre como esse tipo de produção pode constituir uma forma de ativismo e de política, uma forma de constituição de memória para uma minoria qualitativa e sobre a dimensão política da memória dentro do universo das representações sociais e da luta por reconhecimento. Emerson Rossi é bacharel em ciências sociais pela Unifesp. Pesquisador do grupo Gênero, Religião e Política (PUC-SP)

- “O teatro como comentador e interventor da realidade: uma ponte entre passado e presente através da peça Gota d’água (Chico Buarque e Paulo Pontes, 1975)” Mariana Rosell Esta comunicação pretende refletir sobre o papel das peças de teatro – e das artes de maneira mais ampla – enquanto interventoras e comentadoras do contexto histórico em que são produzidas. Utilizadas como instrumento de propaganda de inúmeros regimes e


governos de diferentes naturezas e orientações ideológicas, as artes também são muito importantes para o lado oposto, de resistência, crítica e oposição aos regimes vigentes. A partir do caso da peça Gota d’água, escrita em 1975 por Chico Buarque e Paulo Pontes, pretendemos compreender como suas montagens em dois momentos históricos – o do contexto de estreia, ainda em 1975, e o de adaptação por Rafael Gomes, em 2016 – atuaram enquanto provocadoras de reflexão sobre a conjuntura política e social em que foram levadas aos palcos do país. Mariana Rosell é historiadora, graduada e licenciada pela USP. Mestranda em História Social na mesma instituição. Pesquisadora do teatro brasileiro.

- “A câmera como prolongamento do real em Vertov” Renata Barboza Carvalho Este trabalho discute a relação homem-câmera proposta pelo cineasta russo Dziga Vertov no filme Um homem com a câmera (1929). Esta obra foi realizada no contexto das vanguardas do século XX, uma época em que se acreditava na superioridade das máquinas para captar as multidões. Será abordado o empenho político de Vertov pelo olhar objetivo, livre da subjetividade humana, contrapondo-o com reflexões de teóricos da imagem discutem a subjetividade ideológica intrínseca à representação mediada por aparatos. Renata Barboza Carvalho é mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduada em Design (Unesp/Bauru) e especialista em Fundamentos da Cultura e das Artes (IA/Unesp).

17h30 às 19h30 Mesa 2 - Arte e política: Depois das vanguardas ainda restam utopias? As relações entre arte, utopia e transformação da realidade se colocaram, ao longo do século XX, como elementos essenciais no movimento de explosão das vanguardas artísticas. Ao mesmo tempo, as tensões entre arte, vanguarda e mercado permearam as questões fundamentais no interior do processo de constituição da arte moderna. Diante


da arte que se concebe no mundo contemporâneo, de que forma esta busca ajuda a pensar a sua relação com o futuro a partir de sua dimensão estética e ideológica? A revolução das formas, o engajamento do artista e o rompimento da arte com o mercado são impasses do artista do século XX ou questões que devem ser artística e politicamente reinventadas no século XXI? Palestrante: RICARDO NASCIMENTO FABBRINI (BRA) Título da comunicação: A arte depois das vanguardas: utopia e heterotopia A apresentação examinará a relação entre estética e política na arte depois das vanguardas (1970-2000). O objetivo é estabelecer a relação entre o imaginário da modernidade artística (1900-1960) que pode ser caracterizado pela crença que os artistas de vanguarda depositaram nos poderes transformadores da arte – no sentido da estetização da vida - e o imaginário contemporâneo ou pós-vanguardista. É mostrar que o fim das vanguardas artísticas não significou a morte da arte e sequer o fim da própria arte moderna, uma vez que essa está presente, enquanto signo (ou linguagem artística) na arte contemporânea; mas esse declínio assinalou o fim de um dado imaginário: a crença nas ideias de evolução, de progresso, e de utopia. Examinaremos, por exemplo, em que medida o investimento da arte de vanguarda na transformação do mundo segundo o esquema revolucionário orientado por uma utopia política das vanguardas históricas, foi substituído por um realismo operatório voltado para a utopia cotidiana, flexível (ou heterotopia), no sentido de Nicolas Bourriaud ou Hans Obrist. Mostraremos, assim, que é preciso verificar em que medida a arte pós-vanguardista revela um potencial crítico e de oposição; pois da falência das vanguardas como projeto de emancipação não resultou a neutralização dos poderes de negação da arte, mas a necessidade de pensá-los em nova chave. Ricardo Nascimento Fabbrini é professor de Estética do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e do Programa de PósGraduação Interunidades em Estética e História da Arte da mesma universidade. Possui graduação, mestrado e doutorado em filosofia pela USP. É autor dos livros “O Espaço de Lygia Clark” (Editora Atlas) e “A arte depois das vanguardas” (Editora Unicamp), entre


outras publicações. Tem experiência na área de Estética, atuando principalmente nos seguintes temas: Filosofia da arte, Arte contemporânea, Arte moderna e Arte brasileira.

Palestrante: PAULO SÉRGIO DUARTE (BRA) Título da comunicação: Arte no mundo sem chão Estamos num mundo sem chão. O que significa essa afirmação? Significa que não existe nenhum sistema de pensamento que, com seus conceitos e ideias, axiomas e paradigmas, responda ao que estamos vivendo. Essa afirmação merece contestação. Fora dos sistemas míticos, seja dos gregos antigos, seja dos nossos indígenas, na chamada civilização ocidental, sempre vivemos com pensamentos contraditórios que viveram desde a antiguidade até hoje. Essas filosofias e sistemas diziam o que éramos e, às vezes, o nosso destino. Da existência de pensamentos desde Heráclito e os eleatas, até Kant e Hegel, vivemos com pensamentos que se opõem, para não chamar a atenção a oposições mais contemporâneas como entre os neopositivistas ou positivistas lógicos e os hermeneutas. E para não falar do pensamento francês pós-estruturalista. Qual desses pensamentos responde aonde nós estamos? Foucault, Deleuze? O que deveríamos pensar não é essa longa história. Os nossos índios não vivem esses problemas, vivem outros bem mais graves, mas, no seu pensamento mítico, não vivem um mundo sem chão. Devemos pensar que se experimentamos um mundo sem chão, um mundo que não nos aponta nenhuma direção, é porque mais uma vez, nós, ocidentais – fundados no pensamento filosófico – atravessamos muitas mudanças, e os conceitos e, sobretudo, as certezas com que pensávamos o mundo, não respondem mais ao que vivemos e ao que assistimos. É a partir dessa constatação que podemos pensar a arte no circo contemporâneo. Paulo Sérgio Duarte é crítico e professor de História da Arte na Universidade Candido Mendes, no Rio de Janeiro. Dirigiu programas públicos na área da educação e da cultura para os governos federal, estadual e municipal (Rio de Janeiro). Projetou e implantou o programa Espaço Arte Brasileira Contemporânea, da Funarte, de 1979 a 1983, dirigindo, de 1981 a 1983, o Instituto Nacional de Artes Plásticas desta mesma entidade. Foi o primeiro diretor geral do Paço Imperial / Iphan, de 1986 a 1990. Foi curador geral da 5ª Bienal do Mercosul (2005). Realizou a curadoria de inúmeras exposições individuais e coletivas em instituições como o MAM-SP, MAM-RJ, Museu de Arte do Rio Grande do Sul,


Instituto Itaú Cultural, Paço Imperial. É pesquisador do Centro de Estudos Sociais Aplicados/Cesap e diretor do Centro Cultural da Universidade Candido Mendes. Publicou, entre outros, os livros Arte Brasileira Contemporânea – um prelúdio (Rio de Janeiro: Instituto Plajap, 2008), A Trilha da Trama e outros textos sobre arte (Rio de Janeiro: Funarte, 2004, 2ª edição, 2008), Carlos Vergara (Porto Alegre: Santander Cultural, 2003), Waltercio Caldas (São Paulo: Cosac & Naify, 2001) e Anos 60 – Transformações da arte no Brasil (Rio de Janeiro: Campos Gerais, 1998). 16 DE FEVEREIRO DE 2017 [quinta-feira] 10h às 12h30 | Cidadania global e cosmopolitismo – Grupos de Trabalho Sessões temáticas simultâneas de apresentação de pesquisas

- “Complexificando o cyberativismo: reflexões sobre identidade e hierarquização discursiva na militância negra contemporânea” Mariana Queen Nwabasili e Tássia Nascimento Observando a atual aproximação do chamado cyberativismo brasileiro a preocupações referentes às relações raciais e de gênero na sociedade contemporânea, percebemos que esse espaço de discussão tem como premissa a legitimação de falas que levem a uma representatividade positiva de sujeitos historicamente construídos como subalternos. Ocorre que nesse processo de militância, muitas vezes se essencializam as experiências dos sujeitos políticos, colocando-as como parâmetro de afirmação identitária. A intenção desta comunicação é problematizar esse processo, identificando suas complexas formas de funcionamento e a necessidade de debate a respeito. O arcabouço teórico baseia-se principalmente nas ideias de Frantz Fanon (2008), bell hooks (2013), Stuart Hall (2000) e Gayatri Spivak (2010). Mariana Queen Nwabasili é jornalista, graduada em Comunicação Social pela ECA-USP, mestranda em Meios e Processos Audiovisuais na mesma faculdade.


Tássia Nascimento é graduada em Letras pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), mestre em Estudos Literários e Diálogos Culturais pela UEL, doutoranda em Ciência da Literatura na UFRJ.

- “Do black power ao cabelo crespo: a construção da identidade negra através do cabelo” Nádia Regina Braga dos Santos e Ricardo Alexino Ferreira Estudo sobre mulheres negras que deixaram de usar química nos cabelos num processo denominado de Transição Capilar, e fizeram disto empoderamento, ressignificando suas identidades como mulheres negras e compartilhando suas experiências através das redes sociais, sobretudo através de vídeos publicados no Youtube. Utilizando um discurso do protagonismo, têm influenciado outras mulheres a também assumirem seus cabelos naturais, e reconhecerem, em seus cabelos crespos, sua ancestralidade de matriz africana. Por meio de uma abordagem histórica, comparando os posicionamentos na contemporaneidade com os movimentos sociais dos anos 60, principalmente o movimento Black Power, traça-se um paralelo para avaliar quão significativo é na atualidade o que essas mulheres têm compartilhado nas redes sociais. Nádia Regina Braga dos Santos é arquiteta formada pela UFPI e pós-graduada em Mídia, Informação e Cultura (CELACC/USP). Ricardo Alexino Ferreira é professor doutor da Universidade de São Paulo (ECA-USP).

- “Escrever para crianças e jovens na contemporaneidade: grandes desafios e impasses refletidos na produção e na criação” Susana Ramos Ventura Como a literatura voltada para crianças e jovens produzida no século XXI tem pensado as questões migratórias, as tensões sociais, raciais e a nacionalidade? Esta comunicação é dividida em dois eixos principais: o primeiro mostra uma análise de parte da produção mundial sobre os temas; o segundo foca em reflexões da criadora que sou, escritora contemporânea que escreve e publica no Brasil.


Susana Ramos Ventura é doutora em Letras pela USP, crítica literária de literatura para crianças e jovens. É doutoranda do Programa em Estética e História da Arte (PGEHA/USP).

- “Comunidades digitais de mulheres negras” Thais Pereira da Silva O presente trabalho tem como objetivo refletir como as mulheres negras brasileiras apropriam-se da internet para criar comunidades digitais, contribuindo para resistência racial, étnica e de gênero e empoderamento. Para compreender as mídias alternativas de mulheres negras brasileiras, é preciso ponderar sobre as questões multiculturais e as múltiplas identidades que permeiam essas comunidades. Além disso, analisam-se as condições favoráveis da internet para a construção de canais segmentados, como o Geledés e as Blogueiras Negras. A bibliografia utilizada inclui os autores Stuart Hall, Frédéric Martel, Manuel Castells, George Yúdice e Judith Butler, além da análise (parcial) de conteúdo das duas mídias alternativas de mulheres negras citadas. Thais Pereira da Silva é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pelo Centro Universitário FIEO, e pós-graduada do curso de Mídia, Informação e Cultura do Celacc/USP. Sessão 2: - “Análise das instituições sociais na promoção da equidade” Élcio Duduchi Careli e Beatriz von Lasperg Careli Em tempos de reconhecimento dos limites naturais e do risco a que estamos expostos com as mudanças climáticas, vale buscar novos protagonismos, redesenhando modos de fazer, consumir, pensar, conferindo novos significados à existência de indivíduos e comunidades no enfrentamento do desafio para alcance de equidade. Tomando por base tais necessidades, este trabalho busca analisar o duplo papel das instituições sociais: de um lado, como viabilizadoras da geração de renda para pessoas, além da lógica convencional do mercado de trabalho; de outro, como ofertante de serviços capazes de


promover a integração de grupos sociais alijados ou precariamente atendidos pelos serviços públicos, por meio de práticas socioeducativas. Beatriz von Lasperg Careli é graduanda em Pedagogia na USP. Élcio Duduchi Careli é mestre em Tecnologia (CEETEPS) e bacharel em Ciências Econômicas pela USP.

- “Corpo-espaço: implicações contemporâneas” Marlyvan Moraes de Alencar Ao se considerar espaço e corpo como inseparáveis, entende-se que todos estão num mesmo lugar – a Terra – enredados por todo tipo de imprevisibilidades. A geografia, nesse contexto, assume importância não só por sua dimensão física, mas também por seus significados políticos e afetivos. Espaço e corpo se tornam intensidade, abertura, resistência. Estamos todos implicados em um mundo cujas complexidades não podem mais ser ignoradas. A consciência desse fazer parte torna-se urgente para uma vida ativa, em que problematizar e desconfiar do que se denomina a realidade deve se tornar um modo de agir capaz de um devir menos egoísta e autocentrado. Isso é um dado, algo do qual é impossível escapar. Marlyvan Moraes de Alencar é mestre e doutora pela PUC-SP. Professora universitária com pesquisa sobre Imagem/Cidade e Design.

- “O lugar da história no presente” Alesson Ramon Rota Com o surgimento de tecnologias de transporte, industrialização, meios de informação e outras, houve uma aceleração do tempo que trouxe diversas consequências para o tempo presente. Uma delas é desconexão entre passado e presente: cada vez mais os cidadãos crescem num presente contínuo, com poucas ligações orgânicas com o passado. Trata-se de perceber o mundo como se “sempre fosse assim”, sem alterações históricas. Retomar a


discussão sobre a função da história é essencial em um mundo com tendências xenofóbicas, homofóbicas, de discriminação étnica e cultural, pois permite compreender que o preconceito é uma construção história de um determinado contexto, jamais uma essência inserida no ser humano. Assim, a presente comunicação evidenciará como a história contribui para a formação cidadã. Alesson Ramon Rota é graduado em História pela Universidade Federal do Rio Grande. Mestrando em História pela Unicamp.

- “Hegemonia do positivo e o esgotamento humano” Isabel Vieira Lopes A presente proposta visa refletir sobre o excesso de positividade dos discursos neoliberais, em especial o do trabalho, que tecem de maneira ficcional a vida humana e convocam os sujeitos a lógicas imperativas da autogestão do sucesso e da felicidade, pregando que nós podemos tudo, desde que nos esforcemos. Essa semantização da vida pode ser entendida como, em parte, oriunda da angústia provocada pela insignificância do humano em relação à imensidão cósmica, fazendo circular discursos que, para além de eliminar tal angústia através de um entorpecimento dos sujeitos, gera em muitos um esgotamento físico e psíquico. Pensaremos essa tensão tomando autores como Nietzsche, Deleuze, Foucault e Chul-Han, buscando refletir a emergência de uma ressignificação da vida humana. Isabel Vieira Lopes é mestranda em Comunicação e Semiótica na PUC-SP e graduada em Comunicação Social pela ESPM.

Sessão 3: - “Crise migratória mundial e o protagonismo de imigrantes nas lutas sociais: um estudo de caso sobre o projeto ‘Todo migrante tem direito à informação’” Karina Quintanilha Ferreira


Em um momento da história marcado pelo aprofundamento da crise do capital que se desdobra novamente com a ampliação de discursos e práticas fascistas, enquanto o mundo inteiro dá sinais de retrocessos nas políticas de migração e acirramento das desigualdades, cabe a todos aqueles que acreditam na humanidade pensar em estratégias inovadoras de mobilização para a proteção dos direitos humanos e fortalecimento de uma agenda política global que paute a democratização pela perspectiva do trabalho para a emancipação de todas as classes sociais. Nesse sentido, o presente trabalho busca compartilhar as experiências do projeto Todo Migrante Tem Direito à Informação, que busca promover o protagonismo dos imigrantes em suas lutas e aprofundar um olhar estrutural sobre a crise migratória mundial. Karina Quintanilha Ferreira é advogada de Direitos Humanos, formada pela PUC-SP, responsável pelo projeto Todo Migrante Tem Direito à Informação.

- “A corrente do Amor: voluntariado educativo que muda o mundo” Rosana Oliveira Rocha A Corrente do Amor começou em uma aula de Português, em 2014, com alunos de uma escola pública. Professora preocupada com a formação cidadã dos discentes, propus a transformação do filme A Corrente do Bem em realidade. Assim, teriam de realizar uma ação voluntária e postar uma foto em rede social, difundindo uma Cultura de Doação e Voluntariado. Felizmente, os alunos fizeram do projeto um sucesso: doaram roupas, alimentos, cabelo, tempo; visitaram e auxiliaram asilos, orfanatos, hospitais e ONGs; perdoaram; distribuíram afeto e AMOR; ajudaram conhecidos e desconhecidos! O projeto mudou a vida deles e daqueles que foram ajudados. Iniciado na escola, ele ultrapassa seus limites e continua até hoje, contabilizando mais de 700 ações, um e-book, um documentário e um grande sonho: MUDAR O MUNDO! Rosana Oliveira Rocha é professora, jornalista, educadora e escritora.

- “Cosmopolitismo e a cidadania do mundo: questionamentos sobre consumo e acesso” Viviane Riegel e Joana Angélica Pellerano


O conceito de cosmopolitismo muitas vezes é conectado ao sujeito móvel, curioso e reflexivo que deseja consumir a diferença, especialmente em experiências sociais transnacionais. Mas há necessidade de se pensar em múltiplas dimensões do conceito, devido à sua pluralidade teórica e analítica na sociedade globalizada contemporânea. Não se pode considerar que as práticas sociais cosmopolitas sejam as mesmas para elites globais (expatriados ou turistas) e para imigrantes ou refugiados. Buscamos problematizar sua perspectiva idealista, pela qual seria uma qualidade acessível a alguns sujeitos desejados pela sociedade de consumo contemporânea: teríamos consumidores e não cidadãos do mundo. Propomos uma discussão sobre as diferenças de acesso e consumo na experiência cosmopolita contemporânea. Joana Angélica Pellerano é mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP e em Comunicação e Gastronomia (UVic, Espanha), doutora em Comunicação e Práticas de Consumo pela ESPM/SP. Viviane

Riegel

é

doutora

em

Comunicação

e

práticas

de

consumo

pelo

PPGCOM/ESPM/SP, e em Sociologia pela Goldsmiths College, Londres.

- “Êxodo urbano: impulso primitivo em busca pela simplicidade” Brunella Nunes Enquanto na Revolução Industrial falávamos da vida do homem do campo para as grandes cidades, o que observamos hoje é o oposto. A sociedade passa por transformações que a colocam em maior contato com a natureza, indo na contramão de uma era de consumismo exacerbado. Esse movimento migratório se encaixa dentro do chamado “lowsumerism”, conceito que está pautando um futuro de menor consumo, busca de alternativas sustentáveis e a ideia de viver apenas com o necessário. Movidas por um impulso primitivo, pela essência mais selvagem, as pessoas não estão mais em busca do que podemos comprar, mas sim do que podemos ser. Brunella Nunes é jornalista, pesquisa e escreve sobre comportamento e tendências para o site Ponto Eletrônico (Box 1824).


- “Grandes centros urbanos: desafios e possibilidades” Paolo Colosso A comunicação analisa processos sociais recentes com o objetivo de argumentar que os grandes centros urbanos concentram, atualmente e como tendência ao futuro, as contradições da modernização técnico-construtiva-informacional, o que nos cria problemas de amplo escopo, mas também as possibilidades de superá-los em direção a uma sociedade mais inventiva e efetivamente democrática. Os motivos destacados nesta apresentação são: i) a cidade como ponto concreto de irrupção de questões que dizem respeito a todos e todas; ii) por concentrar infraestruturas, capitais e conhecimentos, as cidades tem uma centralidade efervescente que, em determinados momentos históricos, reúne forças coletivas capazes de engendrar saltos qualitativos em termos sociopolíticos e culturais. Paolo Colosso estudou na ENS d´Architecture de Grenoble, graduou-se em Arquitetura e Urbanismo. É bacharel em Filosofia pela Unicamp e mestre em Filosofia pela USP, onde desenvolve seu doutorado.

ALMOÇO | 12h30 às 14h00 14h às 16h30 Mesa 3 – Cidadania global e cosmopolitismo: Quais são os caminhos para a construção de uma ordem cosmopolita? As reivindicações de uma nova construção civilizacional que inaugure uma ordem supranacional caracterizada pelo equilíbrio entre as ações dos Estados e as demandas dos grupos minoritários, resultando na reformulação das relações interestatais a fim de superar os problemas derivados das assimetrias de poder, trazem algumas questões: como é possível vislumbrar o surgimento de solidariedade e um padrão moral mínimo comum

em

um

mundo

multinacional?

Como

garantir

direitos

coletivos,

representatividade e participação política, autonomia cultural e autodeterminação? Qual o futuro da soberania e das nações como conhecemos atualmente?


Palestrante: ROSSANA ROCHA REIS (BRA) Título da comunicação: Cidadania global? A perspectiva de uma comunidade política global, formada por todas as pessoas, de todas as partes do mundo, em condições de igualdade, sempre esteve, de alguma forma, presente no horizonte utópico do pensamento ocidental. Apaixonados argumentos a favor e contra essa ideia mobilizaram os filósofos na Grécia Antiga, pensadores iluministas no século XVIII e mais recentemente, alimentaram a controvérsia em torno da existência de direitos humanos universais. Desde meados do século XX, no entanto, o debate sobre cidadania global adquiriu outra tonalidade, na medida em que a percepção do “encolhimento do espaço-tempo” o deslocou do plano das reflexões de caráter mais abstrato, para a agenda política de uma série de pensadores e atores políticos contemporâneos. A divisão do mundo em Estados nacionais mutuamente excludentes, antes vista quase como um dado da realidade, passou por um processo de estranhamento, enquanto se multiplicavam os conflitos em torno da fórmula “povo-Estado-território”, seja pela ação de minorias nacionais, pelo surgimento de grandes blocos supranacionais, ou pelo aumento da mobilidade humana. Da mesma maneira, a presunção de que um indivíduo tem seus direitos plenamente protegidos desde que reconhecido como cidadão de um determinado Estado também vai sofrer um abalo, uma vez que as próprias democracias tornam-se cada vez mais vulneráveis a decisões e acontecimentos que se passam fora dos limites de suas fronteiras. Nesse contexto, onde a legitimidade das fronteiras, sejam elas territoriais ou legais, está em discussão, propõem-se novas formas de identidade, de atribuição de direitos e de atuação política que atravessam os limites do Estado-nacional. Muitos enxergam aí o embrião de uma cidadania global, enquanto outros percebem apenas um empobrecimento da democracia. O objetivo desta apresentação é apresentar os fundamentos do debate atual sobre cidadania global, de modo a suscitar uma reflexão sobre as armadilhas e as possibilidades abertas pelo movimento de redefinição da relação entre poder e espaço no mundo contemporâneo. Rossana Rocha Reis é professora do Departamento de Ciência Política e do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo. É autora dos livros “Políticas de


nacionalidade e imigração na França e nos Estados Unidos” e “Política de direitos humanos”, ambos da editora Hucitec. Palestrante: BELA FELDMAN-BIANCO (BRA) Título da comunicação: Cidades imigrantes, cidades cosmopolitas: reflexões sobre o futuro a partir da ótica das migrações Em marcha anual dos imigrantes realizada em São Paulo em novembro de 2016, homens, mulheres e crianças, em blocos carregando bandeiras nacionais e do Brasil, alguns com roupas coloridas características de vários países e continentes, empunhavam cartazes em prol de seus direitos ao trabalho decente e cidadania universal; à liberdade, justiça e fronteiras livres; à dignidade e respeito a todos migrantes no mundo; pelo fim da discriminação e xenofobia aos imigrantes; por salário justo; contra o trabalho escravo; e pelo direito de votar e ser votado. Cartazes também proclamavam que migrar é um direito humano e que as pessoas se movem em busca de seus sonhos. Enquanto suas camisetas e cartazes tinham como lema mulheres migrantes juntas em marcha, juntas seremos mais fortes, imigrantes feministas contestavam com seus refrãos o machismo e o capital e ainda denunciavam o racismo e a xenofobia. Cantos, danças e músicas expressavam produções político-culturais distintas e reelaborações de saberes tradicionais. Várias dessas causas e produções político-culturais (como o rap) intersectam com as mobilizações de outros segmentos populacionais da cidade, como minorias, moradores de periferias e de ocupações, das quais vários imigrantes e refugiados também fazem parte. A partir da ótica das migrações, examino as mobilizações sociais, as produções políticoculturais e as práticas locais e transnacionais de imigrantes e outros deslocados em prol da dignidade humana e de seus direitos à cidade em perspectiva comparativa. Desse prisma, procuro expor os aparentes paradoxos subjacentes aos projetos neoliberais em curso, que se apoiam na organização flexível do trabalho, governança tecnocrática de securitização e na decorrente desigualdade e criminalização da pobreza, bem como em ideologias neoliberais de diversidade cultural. Essa análise do presente permite verificar os potenciais para se pensar um futuro mais igualitário, solidário e cosmopolita de cidades formadas por imigrantes. Bela Feldman-Bianco é PhD em Antropologia (Columbia) com pós-doutorado em História (Yale), e professora da UNICAMP. Ocupou as cátedras de Estudos Portugueses (1987-1991)


e Hélio e Amélia Pedrosa (2008) na UMass-Dartmouth (USA) e a Cátedra UNESCO/Memorial da América Latina (2015). Suas pesquisas comparativas e publicações sobre migrantes transnacionais e cidades (do Brasil, Portugal e USA) relacionam cultura e poder, as identidades e suas intersecções de gênero, raça, classe, nação e globalização.

16h30 às 18h30 Mesa 4 - Qual o futuro do homo economicus? Como produzir uma ética e moral para além do paradigma do desenvolvimento econômico? O mote central do capitalismo foi o desenvolvimento e o progresso das nações; nos últimos quinhentos anos esses dois referenciais só alcançaram uma pequena parte das populações mundiais, para a maioria a contraparte da história é a sobrevivência a duras penas. Os custos ambientais são tremendos. Mas o capitalismo contemporâneo, em sua fase informacional, propala que as tecnologias trazem novas possibilidades, já que estamos passando de um sistema de produção material para imaterial, no qual a informação é sua principal riqueza; ela não é perecível e seu consumo não gera danos ecológicos. Quais seriam os paradigmas que podem apontar para uma mudança concreta da superação da ideia de crescimento econômico? Palestrante: GIACOMO D’ALISA (ITA) Título da comunicação: Decrescimento: um aliado para projetos decoloniais Para muitos no Brasil, o "decrescimento" pode soar como mais uma nova ideia eurocêntrica, mais uma vez europeus pregando o que fazer e como enfrentar as múltiplas crises que as pessoas vivem ao redor do mundo. Pode-se pensar que o decrescimento é uma série de propostas que, uma vez mais, universalizam para o resto do mundo as questões muito específicas que a Europa enfrenta. De fato, o decrescimento é eurocêntrico, mas não no sentido de "nós, na Europa, temos as soluções para todos e não precisamos perder tempo ouvindo como os outros ao redor do mundo pensam sobre problemas semelhantes ou o que eles colocam em prática". É eurocêntrico em um sentido mais limitado e provavelmente menos negativo. Os adeptos do decrescimento na Europa querem contar uma história sobre profissionais, ativistas e pesquisadores que abrem a imaginação para ir além de uma sociedade baseada no crescimento. O crescimento é, em


sua proposta concreta, o núcleo da ideologia ocidental moderna segundo a qual os indivíduos

precisam

ter

cada

vez

mais

para

estarem

bem.

A maioria dos adeptos do decrescimento não propõe um modelo único de oposição a essa ideologia. Eles estão bem conscientes de que na América Latina existem e existirão diferentes caminhos de luta. O que os adeptos do decrescimento querem simplesmente é compartilhar seus diagnósticos e prognósticos, a fim de criar sinergia com todos os outros projetos decoloniais existentes.

O decrescimento tem como objetivo articular e conectar novas formas de viver, produzir e consumir em sociedade, bem como tentar vislumbrar novas instituições que possam garantir o sustento de todos sem crescimento. É um esforço coletivo para construir narrativas

contra-hegemônicas

e

desqualificar

o

imaginário

do

crescimento.

Explorar possíveis exemplos, ações e políticas ajuda a entender as complexas intervenções necessárias em diferentes escalas para avançar rumo à transformação dos padrões industriais atuais e dar centelhas sobre como os adeptos do decrescimento podem seguir caminhando sobre a terra. Giacomo D’Alisa é gestor do projeto ENTITLE. Obteve PhD em Economia e Tecnologias para o Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Foggia (Itália), e bacharelado em Economia de Comércio Internacional e Valor de Mercado na Universidade "Parthenope" de Nápoles (Itália). Possui especialização em Gestão de Desenvolvimento Sustentável e em História de Ética e Pensamento Político. Desde 2010, trabalha no Instituto de Tecnologia e Ciência Ambiental (ICTA), na Universidade Autónoma de Barcelona (UAB), na Espanha. Palestrante: JOSÉ ROBERTO KASSAI (BRA) Título da comunicação: O futuro e a civilização que sonhamos O relatório final da RIO+20 intitulado “O futuro que queremos” (2012) apontou os principais desafios que a humanidade terá que enfrentar neste século XXI e, em continuidade aos antigos objetivos do milênio (ODM), os atuais objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS) destacaram 17 objetivos e 169 metas para tornar este mundo um lugar melhor para se viver, iniciando por acabar com a extrema pobreza, acabar com a fome e alcançar a segurança alimentar, assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, educação inclusiva, igualdade de gêneros, acesso a


água e ao saneamento básico, energia acessível e renovável, crescimento econômico sustentável, cidades resilientes, produção e consumo sustentável, combate às mudanças climáticas globais, conservar oceanos e mares, proteger as florestas, promover sociedades pacíficas e fortalecer os meios de implementação e revitalizar parcerias globais para o desenvolvimento sustentável. Esses desafios são enormes e podem ser interpretados de três formas: ações imediatas que todos podem fazer desde já; ações de médio e longo prazo que demandam planejamento e esforços conjuntos; e ações consideradas impossíveis neste momento e que contam com inovações tecnológicas no futuro e mudanças de cultura e valores da sociedade civil. Inobstante a esses desafios, esta discussão intitulada “O FUTURO E A CIVILIZAÇÃO QUE SONHAMOS” pretende focar não apenas nos principais desafios que terão que ser enfrentados, mas principalmente na civilização que sonhamos para nossos filhos e netos. Um futuro onde não haverá empregos para todos e as novas tecnologias oferecerão acesso a todas as necessidades básicas, incluindo moradia, saúde, educação, alimentos, energia etc. O trabalho será uma opção, assim como o lazer, o esporte, a cultura, as artes e até mesmo o ócio. O que a nova civilização fará com o tempo ocioso? Quais são os novos valores de felicidade? Como será a nova economia colaborativa? E os sistemas de energias e agricultura? Essas e outras discussões fazem parte deste espaço e discussões do futuro homo economicus. José Roberto Kassai é professor da FEA/USP, doutor em Contabilidade e Meio Ambiente, coordenador do Núcleo de Estudos em Contabilidade e Meio Ambiente (NECMA/USP), autor de diversos livros e artigos, membro da Superintendência de Gestão Ambiental da Universidade de São Paulo (SGA/USP).

18h30 às 19h30 Conferência de Encerramento - Como pensar as questões ambientais integradas à produção da vida na contemporaneidade, sendo que a maior parte da população mundial vive nas cidades? Assiste-se hoje as graves consequências ambientais e sociais nos modos de produção da vida no capitalismo. Constata-se, também, que os conhecimentos tecnológicos e científicos alcançados na etapa histórica atual são muito significativos. Todavia, não contribuíram para solucionar problemas endêmicos como a fome, por exemplo. Até que


ponto o conceito de tecnologia social pode fomentar o desenvolvimento de conhecimentos, pesquisas e soluções que contribuam para modelos socialmente justos, equânimes e ambientalmente sustentáveis? Como implantar novos padrões de trabalho que tenham como referência fundamental a qualidade de vida dos trabalhadores? De que maneira criar espaços de diálogos que propiciem a intersecção entre os modos de produção de conhecimento científicos e os saberes tradicionais, que convirjam para criação de formas de vida qualitativas? Em que medida os avanços da tecnociência podem concretamente solucionar os problemas socioeconômicos, implantando modos de vida inclusivos e socioambientais sustentáveis? Palestrante: NURIT RACHEL BENSUSAN (BRA) Título da comunicação: Uma máquina de fazer futuros Cada dia mais, as novas tecnologias colocam em xeque nossas concepções de humanidade, natureza, produção, consumo... O que isso significa? Os avanços da tecnociência já permitem vislumbrar alguns de seus possíveis desdobramentos: a transgenia, o fim do interlúdio darwiniano e o desaparecimento das fronteiras entre as espécies; a domesticação e a disseminação do uso das biotecnologias; e a produção de bens de consumo a partir de organismos vivos. Apesar da centralidade da tecnologia, o debate sobre os processos de tomada de decisão da agenda de ciência e tecnologia continua periférico. Isso acontece em um momento onde se discute uma nova era, o Antropoceno, e suas consequências. Momento onde a humanidade deixa de ser meramente um organismo biológico para se converter em uma força geológica com capacidade de transformar a paisagem do planeta, mas com uma total incapacidade de imaginar o que é capaz de fazer. A mudança climática se insere nessa lógica. Diante da globalização da crise ambiental se abrem, pelo menos, duas vertentes: uma aposta nas soluções da tecnociência e a reafirmação do papel do pluralismo de formas de viver. A aposta na tecnologia guarda em si uma contradição perigosa: quem decide em que investir? Como são feitas as escolhas? Por outro lado, o pluralismo de formas de viver, materializado na maior parte dos casos nos povos indígenas planeta afora, enfrenta resistências e preconceitos.


O presente é uma máquina de fazer futuros. As possibilidades são múltiplas e os riscos também. Provavelmente, as melhores são aquelas que envolvem um diálogo entre essas vertentes, uma democratização das decisões tecnocientíficas e um reconhecimento do valor do conhecimento dos povos indígenas e das comunidades locais diante dos novos desafios que vem surgindo. Será o futuro uma chuva de bigornas? Quem decide? Nurit Rachel Bensusan é uma ex-humana. Diante dos descalabros da nossa espécie, desistiu de ser Homo sapiens e tenta se tornar uma libélula, mas continuar bióloga. Além disso, possui um mestrado em Ecologia e um doutorado em Educação de Ciências, ambos pela Universidade de Brasília (UnB). Foi professora visitante dessa mesma universidade e hoje é coordenadora-adjunta do Programa de Política e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA). É autora de 15 livros, dos quais 8 para crianças.

SERVIÇOS DROGARIAS Drogaria São Paulo Praça Quatorze Bis, 70 | Tel.: 3255.3553 Drogaria Avenida 9 de Julho, 1947 | Tel.: 3284.1635 RESTAURANTES Amara Restaurante Rua Itapeva, 125 | Tel.: 3251.0803 Bela Café Rua Rocha, 252 | Tel.: 2365.4070 Bistrô Paraná Rua Barata Ribeiro, 230 | Tel.: 3259.5931 Café Fecomércio Prédio da Fecomércio – 2º andar | Tel.: 3254.162 China in Box Rua Itapeva, 213 | Tel.: 3284-5044 Jasmim Rosa Café e Restaurante Rua Itapeva, 125 | Tel.: 4111.3437 Kilove Grill Rua Peixoto Gomide, 700 | Tel.: 3288.1768 Nossa Terra Restaurante e Lanchonete


Avenida Nove de Julho, 1957 | Tel.: 3253.4481 Rancho Nordestino Rua Manoel Dutra, 498 | Tel.: 3106.7257 Sal e Pimenta Rua Barata Ribeiro, 448 | Tel.: 3120.4820 Shopping Frei Caneca Rua Frei Caneca, 569 HOSPITAIS Hospital Nove de Julho Rua Peixoto Gomide, 625 | Tel.: 3147.9999 Hospital Santa Catarina Avenida Paulista, 200 | Tel.: 3016.4133 Hospital Sírio Libanês Rua Dona Adma Jafet, 91 | Tel.: 3155.0200 PONTOS DE TAXI Praça Quatorze Bis Tel.: 3256.0404 Rua Herculano de Freitas, 193 Tel.: 3219.1061 Rua 13 de Maio, 530 Tel.: 3266.4238 ESTACIONAMENTO Estacionamento 24 horas Rua Manoel Dutra, 435 | Tel.: 7845.3948 Ico Estacionamentos Rua Dr. Plínio Barreto, 285 | Tel.: 11 2127.7437

SESC – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Criado pelo empresariado do comércio de bens, serviços e turismo em 1946, o Sesc adotou a educação e a transformação social como premissas e inovou ao introduzir novos modelos de ação cultural. A concretização desse propósito se deu por uma atuação no campo da cultura e suas diferentes manifestações, destinadas a um público heterogêneo, em diferentes faixas etárias e estratos sociais. No estado de São Paulo, o Sesc conta com


uma rede de 36 centros culturais e desportivos e centros especializados em odontologia, cinema, bem como em pesquisa e formação no campo cultural e um canal de televisão (Sesc TV). São oferecidas atividades artísticas, físico-esportivas, de cultura digital, turismo social, programas de saúde e alimentação, combate ao desperdício de alimentos, educação para a sustentabilidade, além de programas geracionais e ações de comunicação socioeducativa. Tendo como horizonte a educação permanente, o Sesc estimula a autonomia pessoal, a interação social e o contato com expressões e modos diversos de pensar, agir e sentir. LOCAL CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO – SESC SP Rua Dr. Plinio Barreto, 285, 4º andar | CEP 01313-020 Bela Vista | São Paulo – SP Tel.: 11 3254-5600 Valores: R$30,00; R$15,00; R$9,00 (Para cada palestra) Inscrições gratuitas para os interessados em acompanhar os Grupos de Trabalho -Horário de funcionamento Segunda a sexta, das 10h às 22h Sábados, das 09h30 às 18h30 -Central de Atendimento Segunda a sexta-feira, das 10h às 20h30. Sábados das 09h30 às 18h30. -Acessibilidade Universal www.sescsp.org.br


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