Histórias contadas 2

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Centron – Centro de Tratamento Oncológico Ltda. INCENTIVADORES: Alberto Wasserman Daniel Tabak IDEIA: Felipe Wasserman ORGANIZADO POR: Bete Wasserman Claudia Waymberg Goldman Mônica Rodrigues Sandra Falcão DESIGN GRÁFICO: Fernanda B. C. Saadia Rio de Janeiro, novembro de 2014. Este livro não pode ser reproduzido, total ou parcialmente por qualquer meio sem autorização prévia do Centron – Centro de Tratamento Oncológico Ltda.



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O Centro de Tratamento Oncológico (CENTRON) comemora 15 anos de existência!

Celebramos o espírito e enaltecemos a alma: O nosso compromisso com a vida.

Esta jornada não foi uma caminhada solitária. Muitas mãos e corações foram necessários para construir esta empresa da qual todos nos orgulhamos.

Nossa empresa não tem uma grande valor no que hoje é conhecido como ” mercado”. Somos um grupo pequeno dentro de uma sociedade que usa uma métrica bem distinta da nossa. Nosso patrimônio, entretanto, é inestimável: nosso compromisso é com o indivíduo como um todo. Ministrar quimioterapia representa apenas uma parte da nossa arte do cuidar. Ela se reflete nestas 7


Histórias Contadas, agora no seu segundo volume, que não apenas relata, mas realmente se aprofunda no lado mais humano da nossa existência. As histórias nos conduzem à reflexões sobre como enfrentar a nossa “montanha de dentro” para vencer o medo que se apresenta na escalada da “montanha de fora”. O câncer é um inimigo implacável: precisamos reunir forças, planejar o ataque, projetar nossos flancos e encontrar os aliados para superar a montanha que parece intransponível.

A tarefa é muito árdua e NÃO PODEMOS VENCÊ-LA SOZINHOS. Este é o desafio aqui no CENTRON: redefinir o que é possível. Diante de uma ameaça todos nós sentimos medo. Este não é o problema. Entretanto, imobilizados pelo terror, nos tornamos incapazes de construir a nossa resistência. O CENTRON é este bastião da coragem que nos ajuda a enfrentar o pânico que por vezes ameaça as nossas vidas. Não quero aqui minimizar o tratamento da doença. No CENTRON, entretanto, somos capazes de reduzir os efeitos do remédio amargo tão necessário para enfrentar o nosso arqui-inimigo. 8


Nosso desafio, nossa luta pela superação dos males do câncer, se inicia com o sorriso de nossas recepcionistas que acolhem as solicitações de todos que nos procuram. Ele se aprofunda no toque suave de nossas enfermeiras que minimizam a dor do início do tratamento. O sucesso é talhado por nossos farmacêuticos que, em condições ideais, garantem o rigor absoluto e necessário no preparo dos quimioterápicos. Nosso desafio está embutido na competência e carinho dos nossos médicos, psicóloga e nutricionista que juntos constituem o time que é o orgulho do líder cujo único objetivo é vencer. A luta também é encarada por todos os agentes que enfrentam uma burocracia crescente que quase atordoa, porém garantem a agilidade tão necessária para o início dos tratamentos. Ela também pode ser testemunhada na abnegação daqueles que zelam pelo asseio de nossas instalações, sempre admirado por todos que nos visitam. Não poderia deixar de mencionar aquele que nos gerencia com braço forte. A sua veêmencia por vezes é criticada. Ela, entretanto, é domada pela meiguice de sua eterna companheira que garante o sucesso da nossa celebração anual e as ações sociais que caracterizam o sempre presente compromisso com a vida.

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LUILOSE: em swahili, o idioma da Tanzânia, significa ESTAMOS TODOS JUNTOS! Aprendi o significado desta palavra nas neves do Kilimanjaro. Com a coragem necessária para enfrentar a “montanha de fora”, redescobri a montanha de dentro. Ao redefinir o que é possível, verifiquei que o impossível é apenas transitório. No CENTRON cuidamos de pessoas. Não cuidamos de doenças. Com o mesmo empenho eu também sou cuidado: por todos que integram o CENTRON, por vocês nossos pacientes - razão de toda esta luta, e, fundalmentalmente, por minha família. Ela é meu norte e a minha âncora. Ela representa estes 15 anos de nossa marcha: a esperança que orienta, o carinho que conforta, a determinação que propulsiona.

TWENDAI, em swahili significa VAMOS EM FRENTE! As histórias contadas neste livro serão sempre a nossa inspiração.

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TWENDAI: o desafio apenas comeรงou! Dr. Daniel Tabak 11


Expressar emoções, sentimentos, vitórias e dificuldades permite organizar as experiências, refletir sobre elas e resignificá-las. Ajuda a organizar psiquicamente os eventos vividos. A escrita como forma de expressão permite, ainda, eternizar os sentimentos e vivências, bem como compartilhá-los. E compartilhar é o principal objetivo desse livro. Em 2010 lançamos o primeiro livro, Histórias Contadas, que proporcionou a muitos a oportunidade para ter sua história registrada, e deixar seu marco, não apenas no livro, mas na vida de outras pesso-

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prefácio as que iniciaram posteriormente seus tratamentos e se beneficiaram com as experiências descritas e com a sensação de não sentirem-se sozinhos em suas jornadas. Decidimos dar continuidade a esse projeto. E assim "nasceu" o Histórias Contadas 2, com novos relatos corajosos de pessoas que acreditam que vale a pena enfrentar o estigma que o câncer ainda carrega, quebrando o tabu de que o assunto não deve ser falado. Esses relatos nos ajudam a valorizar ainda mais a importância da vida! Nossa homenagem a todos que nos confiaram suas histórias.

Claudia Waymberg Goldman Psicóloga do CENTRON

Felipe Wasserman

Idealizador do livro

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Gloria Perez

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Daniel Pugliese da Paixão

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Aparecida Luiza Derenne

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Reginaldo Ribeiro

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Pedro José Pontes Junior

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Marsyl Bulkool Mettrau

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Bettina Kligerman

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Edmour Saiani

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Cintia Cryms Tristão

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Cleide Lamounier

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Jaqueline Quiroga e Aluisio Furtado

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Haveraldo Vargas Jr.

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Franciane Maciel dos Santos

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Rosane Alcantara Trindade

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Manoel Esteves

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Beatriz M. Soares de Moura

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Carlos Roberto Andrade Guerra

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Lorena Pinto Coelho Silva

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Leila Maria Telles Pontes

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Humberto Mandaro

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Cintia Valle

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Flávia Maywald Maffei

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Eurico Alfredo da Silva Maglioti Maia

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Elizabeth de Souza Mendes Arraes

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Maria José da Silva Ferreira

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Angelita Melo

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Jane Vieira Mendes Lisbôa

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Lu Provenzano

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Maria Lúcia Almeida Roza

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Jane

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Pedro Aguilar Casagrande

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Tadeo Saldanha

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índice


Roberto Luiz Martins de Castro

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S.B.

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Marluce da Silva Oliveira

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Bárbara Magalhães

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Silvia Mello

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Otávio Augusto Mendes Fernandes

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Luiz Cyrillo Fernandes

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Valéria Amarante

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Marta Rosas

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Maria Lucia Manasfi

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Sergio Mazzillo

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Maria de Fatima Rocha Felicia

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Vilmar Vieira da Rosa

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Tania Maria Santos Teixeira

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Maria Lúcia

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Val Leaubon

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Conceição Carneiro

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Alice Pereira

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Luciana Barbosa Ramos

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Sheila Balaciano

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Pedro Macedo Carneiro

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Gaby Atherton

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música CENTRO DA VIDA Qual o centro da vida se não o amor E na mais certa medida Ele vem ele vem O carinho que acolhe E nos faz pensar Que não estamos sozinhos Todo carinho só faz juntar Celebre a vida a todo o momento Em todo lugar E num pensamento Sinta a energia e comece a cantar La La La La La La La Estenda a mão a quem precisar La La La La La La La O centro da vida é poder ajudar. Letra de música feita especialmente para a celebração dos 15 anos do Centron

Moysés Darmont 19


nota Este livro traz relatos de pessoas que têm ou tiveram em sua vida alguma experiência com câncer e aceitaram compartilhá-la.

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agradecimentos Aos pacientes e familiares pela coragem e confiança em compartilhar suas experiências.

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hist贸rias 22


contadas 23


Descobrir que a vida tem prazo de validade muda tudo.

A gente sabe que tem - e vale pra todo mundo -, mas vive como se tivesse a eternidade pela frente. Liga o piloto automático e passa pelas coisas mais simples, mais comuns, mais cotidianas, sem prestar muita atenção nelas. Até se enfastiando com elas. Enfrentar o câncer é um susto, mas um susto que acorda o nosso olhar e os nossos sentidos para o prazer das pequenas coisas,

para a beleza do simples, do cotidiano. E acende, dentro de nós, a esperança, a força e a vontade de viver, que como diz o Dr. Tabak, é a parte que nos cabe trazer para o tratamento. Sejam quais forem as pedras do caminho, essa batalha nos faz mais fortes e mais humanos. Obrigada Dr. Tabak, obrigada, equipe do CENTRON

Gloria Perez

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Quem conta uma história conta várias.

De várias pessoas, vários momentos. De vários lugares. O lugar mais próximo do fundo do poço é a beira. Ainda assim, em algumas circunstâncias, é o mais seguro do mundo. É o que temos sob nossos pés, sustentando nosso corpo e toda nossa existência. Sustentando tudo o que temos. Tudo se passa aqui. Sempre foi assim. Se ainda não é a hora, o que felizmente passou acaba sendo, no fim, uma sombra triste, sem expressão. Fica só o contorno da experiência. Muda. Aos poucos, bem aos poucos e lentamente, a mera forma, marca, se faz sussuros. Um som na alma. Os amigos, as coisas, as experiências, as burradas, os que morreram, Deus, o amor, a estupidez, o corpo, a vida. O valor do que já não é depois.

Não acaba aqui. Também não começa aqui. Se a oportunidade aparecer, caro leitor, aproveite para ver o pôr do sol e o leve bater das ondas. Não há coisa mais linda! A paixão do homem pelo mar dá uma história...

Daniel Pugliese da Paixão Setembro de 2014 25


Domadora de Leões

Assim que iniciei meu tratamento nesta clínica, uma amiga muito querida, sempre que me via, dizia: - Chegou a domadora de leões. A princípio eu não entendia o que ela queria dizer e pensava: - Devo estar muito mal para ela me chamar assim. O tempo foi passando e agora, olhando para trás, percebo que nesse "circo" da vida, tenho aprendido a agir de forma elevada,

sorrindo quando a vontade é de chorar, sendo forte quando a vontade é de fraquejar... O medo, eu sempre o substituo pela fé e esperança, até porque, aprendi que da doença não vem apenas coisas ruins pois através dela, eu posso sentir o quanto sou amada por amigos e pela minha família, posso experimentar o tamanho da minha fé, que é enorme... Tudo isso me leva a viver mais tempo e mais feliz e acima de tudo me faz ser uma verdadeira Domadora de Leões!!! Obrigada

Aparecida Luiza Derenne 26


"Você está quase curado", com um sorriso me acalmou. "Estou feliz com o resultado!" Foi assim que a mim falou! Depois dessa experiência, que o Tabak acompanhou, fica aqui o meu recado, pra quem também passou:

Que perigo vamos correr? Porque tanto se preocupar? A nossa fé, não é pra viver? E amigos, não é pra amar? Fiquem, pois, conectados em espírito e em oração: estejam sempre ligados, nos amigos em aflição... E orem pra que o Tabak, que todo dia vai batalhar, não perca a nossa guerra, e que Deus vá lhe ajudar! Abraços,

Reginaldo Ribeiro 27


Minha travessia

Em setembro de 2010 recebi o diagnóstico de leucemia mieloide aguda e precisei ser internado às pressas. Naquele momento, minha vida parecia estar por um fio e a primeira coisa que pensei foi, claro, que morreria. Não tive tempo para nada, nem sequer pude me despedir dos meus filhos que já estavam dormindo. Começava então um longo e intenso tratamento a fim de combater minha doença. Sempre pratiquei esportes, naquela época estava participando de algumas travessias de natação. A “Travessia dos Bravos” havia sido minha última e ainda estavam recentes em minha cabeça todos os desafios que tive de superar durante o longo percurso das Ilhas Cagarras até a praia de Ipanema. A distância de 5 km em mar aberto, a correnteza, o mar agitado, os cações... Mas com muito foco, determinação e coragem, consegui completar o percurso com êxito. Eu estava com 42 anos, gozava de boa forma física, não tinha vícios e levava uma vida saudável. De repente me vi diante de um árduo desafio cheio de incertezas pela frente. Acredito que ter participado da Travessia dos Bravos me ajudou física e psicologicamente a encarar cada etapa do tratamento

como uma travessia pela vida. Sabia que teria que enfrentar o medo e todas as adversidades oriundas do processo de quimioterapia. Como em uma competi28


ção, segui cautelosamente todas as orientações, mentalizei sempre positivamente, tive muita fé e acreditei que seria vitorioso. Não foi nada fácil, mas o amor que sentia pela minha esposa Andrea e pelos meus filhos Eduardo e Sofia me tornava cada dia mais forte.

Acabou dando tudo certo, hoje estou curado! Desta minha experiência, procurei guardar as recordações positivas. A presença da minha mãe ao meu lado no hospital, o meu pai que sofria calado e à distância, mas sempre torcendo por mim, as minhas irmãs que mesmo quando não podiam estar comigo, rezavam pela minha recuperação. Enfim, a importância da família e dos amigos que se doaram em solidariedade ao me darem sangue e plaquetas. Por fim, jamais esqueceria o carinho e competência de toda equipe de médicos, enfermeiros e auxiliares do hospital e do Centron. Agradeço por Deus ter colocado no meu caminho a Dra. Isabela Pereira e o Dr. Daniel Tabak. Sem a competência destes mestres, hoje eu não estaria aqui deixando meu depoimento para ajudar outras pessoas que ainda estão fazendo a travessia...

Pedro José Pontes Junior

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Poucas palavras... Muitos anos ... Há alguns muitos 50 anos atrás tive, talvez, um dos maiores impactos até então vividos. Minha 1ª turma. As crianças na faixa etária de 10 anos, 4 anos de repetência de 1ª série e ainda sem estar alfabetizadas. Eu estava à frente da turma, cantando músicas de apoio didático para aprendizagem da leitura. Cantava, escrevia as palavras, e eles estavam atentos. Era a cartilha velha deles. Não tive imaginação para fazer outra escolha pedagógica pois não sabia que isto era necessário! Todos cantávamos e de repente, levanta-se uma menina, pretinha e linda, bochechas redondas e olhos enormes e brilhantes me olha. Ela (A. Teles) levantou. Colocou as mãos na cintura, olhou bem para mim e perguntou: “Você sabe o que é que a baiana tem?” Por uns segundos ... minutos, fiquei paralisada e não lembrava nada que a baiana tem. A menina, ainda em pé, me olhando ia dizendo tudo o que a baiana tem: tabuleiro, bata, torso na cabeça, frutas, cocada, saia rodada. Ali, recebi minha real formação como professora. Até então, enfrentei as aprendizagens acadêmicas (e bem!), porém, não as reais e humanas. 30


A fala de uma aluna com anos de repetência e ainda analfabeta também conta. Ela enfrentou meu tamanho (eu sou grandinha), e o meu saber. Ela me fez uma contra pergunta que me deixou em pânico até hoje! Meu exercício profissional foi mudado.

Mudança. A mensagem dela era: quero realidade; a baiana que conheço, uma melodia bela e não só didática.

Aceitei Desafio. À partir daí, levava, diariamente, todos os alunos para o pátio da escola, sem cadernos. Escrevíamos na terra molhada que era umedecida com gravetos. Íamos escrevendo e lendo! Do total de 25 alunos, somente 5 não se alfabetizaram naquele ano e turma. Lições de vida: olhar para frente e para trás, também.

Cria. Idade. Vida. Criatividade. Marsyl Bulkool Mettrau Rio, 28/08/2014 31


Uma maratona diferente Ter um câncer diagnosticado aos 40 anos é complicado. Nem no meio da vida eu havia chegado e de repente, o chão se abre de um dia para o outro, sem pedir licença. Me considero uma pessoa prática e organizada e de repente, passa esse tsunami. Como uma amiga diz, câncer não é escolha mas depois do choque inicial do diagnóstico, resolvi viver esse capítulo que não escrevi da minha vida de uma maneira diferente.

Já que ele me escolheu, resolvi encarar de frente e com bom humor. Naquele momento, estava trabalhando no que gosto, me preparava para a minha sétima meia maratona do Rio e estava feliz. Foi quando recebi o diagnóstico de um carcinoma de mama. Lado direito. Solução imediata era a cirurgia. Não sabia a extensão dele então confiei minha vida nas mãos de profissionais maravilhosos, um que extrairia o tumor e o outro que reconstruiria a 32


mama. Por escolha própria, decidi por uma mastectomia bilateral. Assim foi feito. Após muita dor e uma espera que parecia ser uma eternidade, recebo um laudo que meu câncer tinha resolvido dar um passeio em meus linfonodos, gostou do lugar e ficou. Entrei na cirurgia achando que sairia curada e sai dela com uma surpresa que não esperava. Hora de buscar um oncologista clínico e não hesitei em procurar o Dr. Daniel. Ele cuidou do meu avô com tanto carinho há muitos anos atrás, é pai de uma amiga e excelente profissional e também é corredor de rua, como eu. Quando se recebe um diagnóstico de câncer, a primeira imagem que temos é o fim da vida. Quando recebemos nossa proposta de tratamento, é o começo de outra vida. Ninguém sai igual depois de um diagnóstico desse e suas consequências.

Mas saímos melhores, com certeza. Na minha cabeça eu tinha duas opções: Ou eu me entregava e viveria como uma vítima de meu diagnóstico ou eu encarava da maneira mais leve possível e venceria essa batalha. Escolhi a segunda opção. Vieram então os 8 ciclos “arrasa quarteirão”, propostos como artilharia para minha luta. Escrevo aqui na conclusão do sétimo ciclo. Fiquei careca, inchada, descobri o cateter como meu “amigo do peito”, chorei, ri, quis arrancar os cabelos que não tinha, assim como brinquei, me diverti e mudei meus valores e a forma de ver a vida. Mas fui levando com leveza. Sem auto piedade e com garra. Os anos de corrida e disciplina me ajudaram também e nessa hora descobrimos recursos internos que nem sabíamos da existência. Os efeitos são incômodos sim, mas acredito que manter o bom humor, a autoestima dentro do possível com “cabelos” feitos sob medida para minha carequinha, conforto em casa, muitos livros para ler, boa alimentação e exercícios leves foram cruciais para

fazer a minha jornada ser mais tranquila. 33


Aproveito para agradecer aqui ao meu pai, um super cirurgião e pessoa maravilhosa que já curou muita gente do câncer, à minha mãe, companheira e suporte em todas as sessões de quimio, meu irmão “urso”, minha cunhada-irmã que cuidou de mim, ao Marcello e meus filhos, Daniel e Francisco, ao pai dos meus filhos e aos amigos pelo amor, suporte, paciência e serem o meu maior estímulo a lutar pela vida. Agradeço também a todas a enfermeiras que faziam minhas manhãs de quinta mais suaves e divertidas, as recepcionistas, a Claudia, ao Luís Gustavo (aguentando minhas eternas mensagens de dúvida) e muito especialmente ao “Dr.” Daniel Tabak, pessoa incrível, que cuidou de mim como ninguém, com seu empenho, inteligência e carinho que vi em poucos médicos na minha vida.

Seremos parceiros de outras maratonas daqui para frente.

Ainda tenho outras etapas, como a radioterapia e a hormônioterapia, além da finalização da reconstrução. Vamos em frente, como o Dr. sempre diz. Obrigada a todos que me trouxeram de volta a vida!

Bettina Kligerman

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Cura do Ed ou Curado Ed Carnaval de 2009, depois de meses tossindo sem saber porque, uma visita ao Dr. Jairo me levou a um raio-x revelador, por mais pleonástico que possa parecer. 10 cm de linfoma do mediastino classificados pelo Dr. José Eduardo como “essa coisa gigantesca” que você tem no peito. E não era o meu coração. O susto tomou conta de mim, da Martha e revirou ânimos, planos, esperanças e alegrias. Quem tem diagnóstico de câncer morre por um tempo. Mas o diagnóstico é a parte inteligente da história.

Diagnóstico é possibilidade de vida. Saber que se tem, é o começo de não se ter mais. Quanto mais cedo o diagnóstico é feito, mais cedo começa a luta para combater o mais indesejado dos crescimentos desorganizados. Há 5 anos atrás passei de Cura do Ed para Curado Ed. Com a ajuda de uma mulher – Martha – que sempre esteve ao meu lado, que me deu vontade de continuar a viver, que me ajudou a juntar as forças internas para reagir à doença que passou por mim. Por nós, porque quem mais sofre com ela, de fato, é quem nos acompanha. Para nós só nos resta nos curar. Para quem está perto cuidar e ajudar a curar. É muito mais do que só curar. 35


O Centron, com todas as armas de que dispõe e todo o carinho que coloca a favor da nossa cura, foi fundamental. Se todo mundo que cuida de saúde fosse como o Centron, seríamos muito mais felizes. O Daniel, desde o primeiro dia, otimista. Falando do prognóstico de um jeito que gerava muitas esperanças. A Sandra, com os processos fazendo tudo acontecer, quase que sem que a gente percebesse. As recepcionistas com um sorriso de cortesia todos os dias. E a companhia incomparável da Fernanda, Débora e Gisela. Claro, me cuidando com todo o carinho que elas conseguiam para o tal download daquelas coisas que nos curam mas que não são nada boazinhas. Coincidência ou não, nesse mês faz 5 anos que meu tratamento terminou. Com certeza essa fase da minha vida passou. Aprendi a criticar menos explicitamente as pessoas que meu julgamento atingiu e a aproveitar mais cada minuto da minha vida.

Só me resta ter gratidão eterna a quem me deu a segunda chance. Edmour Saiani

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Queda. Hospital. Ressonância. Diagnóstico: Tumor cerebral.

Oi?! Como assim?!

Nunca tive nada e agora um câncer na cabeça. E assim começou a minha história, como de muitas outras pessoas também. Mas cada um tem uma forma de encarar a situação. E eu procurei viver um dia de cada vez. Sem ficar lamentando e tentar ao máximo me adaptar a nova rotina de remédios, exames chatos, tirar sangue (algo que eu sempre odiei), ressonância magnética que você quase fica surdo etc... E eu acho que eu consegui levar tudo isso numa boa, sério. A partir do momento que eu busquei ver um lado bom que o câncer me trouxe. Sim. Eu descobri pessoas que me amam e eu nem sabia. Passei por coisas que nem eu mesma poderia imaginar. Trocar experiências, fazer coisas novas, tentar levar com humor as limitações que a doença te impõe. Hoje, quando me perguntam sobre o que eu faço ou trabalho eu respondo estou no meu ano sabático! Obrigada a todos pela força e ajuda.

Cintia Cryms Tristão 37


Dr. Daniel “Se o duro combate aos fracos abate, aos fortes e aos bravos só pode exaltar!” Juca Pirama de Guerra Junqueiro Conte-me sua luta. Males do câncer com todo empenho e amor de que é capaz, nos ajudando a vencê-lo com paciência e otimismo. Deus o abençoe todos os dias de sua vida. Obrigada,

Cleide Lamounier

02/09/1994 38


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A vida não é um programa de computador. E você descobre isso de repente, ao ler o diagnóstico friamente impresso em um papel: leucemia mielóide crônica. E percebe-se diante da árdua tarefa de contar ao seu marido, o Aluisio, o amor da sua vida, que, no auge de sua carreira, preparador físico de duas seleções, com uma linda filhinha de 6 anos, a Bia, precisaremos enfrentar juntos uma luta real contra uma doença complexa. Mas o Divino nunca nos desampara, e assim, colocou em nossos caminhos médicos competentes ao extremo e, acima de tudo, humanos, que nos guiaram nessa trajetória. Através deles e de suas equipes, aprendemos a importância de trocar informações sobre novos medicamentos, e a dividir o peso de cada momento e compartilhar cada vitória com nossa “nova família”: os demais pacientes. Foram muitos os momentos difíceis. Perdas relevantes ao longo dessa caminhada. Nossa filha teve que amadurecer mais depressa. Mas também encontramos uma união rara, e o apoio necessário para chegarmos aos quase trinta anos juntos, aprendendo a dar

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valor a cada dia de vida. E quando também eu precisei vir, anos depois, consultar-me, mais uma vez entramos de mãos dadas, com a esperança de sempre. Dezessete anos de tratamento são, para nós, sinônimo de superação e vitória. E embora Dr. Daniel, com certeza, tenha consciência de sua imprescindível participação em todas as histórias – tão próximas - de cada um de nós da família Centron, talvez ele nem lembre de uma frase que nos disse certa vez, e que norteou para sempre nossa visão do tratamento. Frase que gostaria de compartilhar não como encerramento, mas como continuação e alento. Quando soubemos que a nova medicação seria, a princípio, “para toda a vida”, ele nos disse, com segurança:

“Lembrem-se, para toda a vida é uma frase linda!”. Jaqueline Quiroga e Aluisio Furtado 41


Aquele abraço! Cheguei ao estacionamento da escola onde meu filho estuda e rapidamente saí do carro. Em minha mente ainda via o semblante preocupado do meu médico ao ler o diagnóstico de um linfoma. É bem estranha a sensação de achar-se plenamente saudável e em seguida sentir-se absolutamente enfermo. Eu não leio exames. Já estava com aquele desde o dia anterior, mas contive serenamente o impulso de saber se tinha algo, e caso tivesse, o que seria. O laudo foi comigo para o trabalho, para o médico e agora voltava para casa ao meu lado, no carro. De onde saio diferente. Parecia menor, mais fraco, mais triste e mais choroso. Ainda que nada sentisse, fruto da enfermidade, havia uma dor profunda e contundente na minha alma. Subi as escadas em direção à quadra onde o Lucas, então com 7 anos, jogava futebol. Temos uma relação muito estreita. Somos amigos de verdade. Ele não dorme antes de eu chegar em casa. É um menino doce, obediente, amado desde antes de seu nasci-

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mento. Ao ver-me, sem obviamente ter qualquer conhecimento sobre a notícia que eu abrigava no peito, largou a quadra e correu ao meu encontro. Eu me ajoelhei e recebi um longo e saboroso abraço. Contive as lágrimas e disse que mais uma vez estava ali para vê-lo jogar. Ele voltou para a quadra e eu fui para o ponto mais alto da arquibancada. Ali eu podia olhar meu filho e chorar. A sensação de não vê-lo mais foi desesperadora. O medo de não acompanhar seu crescimento, de não mais ouvir suas engraçadas histórias, de não ir com ele para a igreja, de não conhecer sua primeira namorada, de não celebrar seu ingresso na universidade, de não estar presente em sua formatura, de não realizar seu casamento e até de não poder abraçar meus netos, produzia em mim um turbilhão de emoções. Olhava para ele, lá do alto onde me assentei, e o via pequeno, frágil, dependente de mim. Contudo, o seu abraço inocente e carinhoso injetou em mim uma força que me fez ver o quanto meu menino já era grande.

Aquele abraço redefiniu o dia. Percebi como Deus usou o meu Lucas para fortalecer a minha fé e me encher de esperança. Lembrei-me de Jesus tomando uma criança e dizendo ser ela o modelo de fé a ser seguido. Quem espera em Deus sabe que Ele pode fazer todas as coisas, que não há limites, que, a despeito das lutas, a esperança vence o desespero. Enquanto Deus falava intensamente ao meu coração, Lucas corria sem parar atrás da bola, chutava, caia e levantava. Olhando para a quadra eu aprendi que durante o jogo não se pode prever o resultado. O meu jogo estava só começando e eu estava muito animado. Aprendi que a partida tem um limite determinado pelo tempo sinalizado pelo juiz. Lembrei que o meu tempo não dependia de mim, nem da força dos medicamentos, mas unicamente de Deus. Olhando para o meu “filhote” percebi que deveria continuar vivendo e confiando plenamente no Senhor Deus que se revelou a mim quando ainda era bem pequeno,

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que nunca me desamparou e que estaria comigo todos os dias da minha vida e para sempre. Esse abraço aconteceu em março de 2012. A terapia proposta foi exitosa. Os cuidados médicos foram fantásticos. Eu estou aqui.

Meu filho, com quase 10, continua me acolhendo com seu abraço carinhoso

e o meu Deus nunca me desamparou. Sei que Ele preparou aquele dia e aquela hora para que após receber a notícia recebesse também aquele abraço. Ainda que você não receba um abraço como o do Lucas, lembre-se que pode receber o abraço maravilhoso e transformador de Deus, que nos ama e cuida de nós como se fôssemos filhos únicos.

Haveraldo Vargas Jr.

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Meu nome é Franciane. Em 2011, fui

diagnosticada com linfoma de Hodgkin. A princípio, como acontece com todos, ficamos sem chão, perdidos, e pensamos: Pronto, estou condenada à morte!! Mas logo percebi que o que eu tinha a fazer era o que ninguém podia fazer por mim, lutar pela minha vida e mudar aquela situação. Passei por 9 internações, várias infecções, embolia pulmonar, transplante de medula autólogo, 4 protocolos de quimio. Atualmente estou ainda na luta pra conseguir um remédio de alto custo, pois meu linfoma é refratário, e depois desse remédio teria que fazer um outro transplante, agora alogênico, tudo com muito sofrimento.

Mas em nenhum momento eu pensei em desistir, corro atrás de tudo sozinha, pois não tenho apoio dos meus familiares, mas eu quero viver e enquanto eu estiver em condições de lutar pela minha vida, o farei, porque é tudo que temos. Eu acredito que posso vencer mesmo com tanto sofrimento e dificuldades, pois o importante é nunca perdermos a esperança, a alegria e a fé em DEUS!!!!

Franciane Maciel dos Santos 45


O Tempo O que é o tempo? Restos dos fragmentos dos ponteiros impiedosos do relógio, Que desesperadamente, sem pedir licença, Circulam nos pulsos das criaturas. Ah, quisera poder controlar o meu! Pedir que tenha menos pressa, Que seja mais piedoso, mais generoso e gentil. Ou, quem sabe, que retroceda alguns anos... Para eu poder sentir novamente: O calor das mãos dela acariciando meu rosto, Ouvir sua doce voz embalando minhas noites, Sentir seu perfume exalando pelo ar, Ver seu discreto sorriso estampado em seu rosto, Saborear um de seus deliciosos quitutes. Infelizmente, olho para o meu pulso e percebo Que os ponteiros continuam avançando ferozmente, Sem nenhum sentimento, sem nenhum carinho...

Ah, Senhor Tempo! Como você é frio e cruel!

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E eu, aqui, sozinha, sem ela! Com esta saudade doída, Guardada dentro de meu peito Sem saber o que fazer... Resolvo então fechar meus olhos, Correr contra o tempo. Buscar nas lembranças a minha paz. E, me encontro com ela, De braços abertos Agora, com um largo sorriso nos lábios. Entrego-me a este momento sublime. Visto-me com a sua ternura. Então, percebo que o tempo pode ser generoso. Que ele cabe dentro de cada um de nós! Com o peito explodindo de alegria e Feliz por ter feito parte da vida dela, Grito para todo o mundo que o amor é eterno, E que a amarei por toda a minha vida!

Rosane Alcantara Trindade Para Alpha Alcantara, minha mãe.

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Minha história – PARTE 2 Em maio de 2009 fui diagnosticado com um linfoma não -Hodgkin de células de manto. Tratamento: quimioterapia e transplante autólogo. Foi realizado com sucesso pela excelente e companheira equipe do Dr. Daniel. O transplante autólogo foi realizado em janeiro de 2010. Não vou mentir – é barra pesada. Após o transplante, comecei a escrever um diário que começou no dia da minha alta. Eis o primeiro dia:

8 de fevereiro de 2010 (segunda-feira) “– recebi alta da internação. Antes tomei mais uma transfusão de plaquetas. Cheguei em casa por volta das 17:30h, um pouco cansado, mas feliz por voltar ao meu lar. Fiz os pagamentos pendentes do dia para minha mãe (IPTU e condomínio). Por volta das 18:00h, tive um pouco de diarreia e tomei um banho (que banho!) - nada se compara ao banho de nossa casa! Posteriormente fiz questão de comer alguma coisa salgada, pois há muito tempo não comia. Tomei um prato de sopa de legumes e uma torrada com um pouco de azeite. Assisti um pouco de televisão. Por volta das

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21 horas comi uma torrada com queijo de Minas padrão e o doce de banana feito pela Beth (minha esposa). Continuo sem paladar, mas parece que em casa, os alimentos são mais palatáveis que no Hospital. Às 22 horas me deu sono e fui dormir. Não tomei nenhum ansiolítico. Dormi bem! Que saudade da minha cama!!!! Poder dormir, após 21 dias com minha esposa é muito bom!” Após quatro anos do final do tratamento, estou de bem com a vida. A doença não mais se manifestou e sinto-me muito bem. Voltei as minhas atividades domésticas e profissionais. A vida me proporcionou um neto e mais um genro. Que coisa maravilhosa! A doença e o tratamento me fizeram ver que a vida é muito simples:

precisamos apenas dar e receber carinho e muito amor. Agradeço sempre a natureza por ter me dado à oportunidade de conviver com pessoas que se amam muito.

Manoel Esteves 49


Sabedoria é aceitar as coisas como elas são, como se apresentam para nós.

Essencial.

Fui diagnosticada da minha doença com ela pequenina, dentro da minha boca. Carcinoma de glândula salivar. Bonito nome, não? Completamente ignorante sobre o assunto, comecei uma via crucis perfeitamente conhecida por 25% da população. Só que você sempre acha que faz parte dos 75% restantes. Caminho árduo. Cirurgia, radioterapia, metástases, quimioterapia. Cada nome! E ainda outros e mais outros que nem me arrisco a repetir. Uma estrada difícil de seguir, de manter-se nas retas ou curvas que vão surgindo.

O diferencial dessa trajetória é que ela tem um cenário. E é lindo! Nesse cenário colorido estão os médicos com todo apoio, carinho e esperança. Está a presença reconfortante da minha família. Minhas filhas Anna Tereza e Cristiana e meu filho Roberto, lindos e muito amados, sempre presentes. Três joias preciosas. Meu marido Roberto, parceiro de todas as horas, com um amor constante e dedicado. A ele entreguei minha vida. Minhas netas maravilhosas, Maíra, Paula e Alice, com suas juventudes, alegrias e o vigor de quem tem a vida pela frente. Meus amores queridos. Amigos especiais, parentes e irmãos. Nesse cenário brilha Dr. Daniel Tabak, a quem não tenho palavras que retratem meu sentimento de gratidão. Obrigada também ao Dr. Jorge Salomão, outro apoio valioso. Um beijo em todos e meu infinito "Deus lhes pague".

Beatriz M. Soares de Moura 50


Tratamento dia após dia Não foi fácil aceitar que fiquei doente, gravemente doente. Sempre fui considerado ”um touro, com uma saúde de ferro”. Sempre achei que as doenças que atingiam as outras pessoas jamais chegariam a mim. Mas, enfim, fui “coroado” com uma doença rara. Percebi, então, que não sou imortal... Foram vários meses de tratamento. No início, muito sofrimento atrelado a um desapontamento com o que o destino me reservara. Em alguns momentos, atitudes de descrença com o Criador tomavam conta de mim, trazendo um certo desespero. Felizmente, esses momentos foram raros. O Criador jamais me abandonou. Passei algumas noites e dias pensando sobre o mesmo assunto (problema): como ficar curado, o mais rápido possível? Por sorte, resolvi procurar entender a necessidade de aceitar que, nem sempre, as coisas se resolvem de um dia para o outro – sempre quis resolver tudo de imediato. Meu tratamento demandaria bastante tempo. Precisei mudar meu comportamento e aceitar que o tempo era meu aliado, devendo, portanto, aceitar o seu transcurso. 51


Com muita fé no Criador, muita vontade de continuar vivendo, muita disciplina e engajamento com as prescrições dos médicos e seus auxiliares, aliados ao apoio dos meus familiares e amigos, percorri dia após dia, até o término do meu tratamento, sempre com a certeza da cura. Ocupei meu tempo ocioso com leituras, filmes, músicas, descanso, etc. Não faltaram bom humor e alegria, apesar da seriedade da situação.

Já faz quatro anos que terminei o tratamento.

Minha vida mudou.

Estou feliz, renovado de forma física e espiritual, e pretendo viver muito mais que almejava antes, pois percebi quão é bela a vida e como é fácil perdê-la. Não tenho saudades do touro que fui antes...

Carlos Roberto Andrade Guerra

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Memento mori Ser portadora de um linfoma me despertou para minha mortalidade. Antes da doença eu achava que tinha todo o tempo a meu dispor e, portanto, desperdiçava-o. Eu também achava que podia controlar a minha vida e que sabia fazer boas escolhas. Quando tive o diagnóstico, tudo mudou. Entendi que eu pertencia à vida e não o contrário, e que a vida não precisava de controle, mas de atenção e amor. Durante todo o tratamento dediquei-me a um mergulho em mim mesma e encontrei muita beleza à minha volta. Fui tão bem acolhida e tão bem tratada pelo Dr. Daniel Tabak, Dra. Isabela Gonçalves, enfermeiras e toda equipe do Centron, pela minha maravilhosa família, pelos amigos, por minha psicanalista Daisy Justus, pela minha professora de Budismo, Teresa Bessil, pela minha professora de yoga, Raquel Salomão, e pela Casa de Dom Inácio, em Abadiania, que viver passou a fazer mais sentido do que antes.

Era preciso aprender a ter amor próprio e a servir ao outro para poder ser feliz. Espero ter aprendido a lição! Isso me fez repensar todo meu estilo de vida, minhas prioridades e meus limites. Eu, que vivia brigando com a rotina e com as circunstâncias, fiz as pazes comigo e passei a celebrar a vida a cada inspiração, acolhendo e respeitando o meu ser e sempre estando em relação com todos a minha volta. Agradeço a Deus/Natureza Última por todas as minhas experiências, positivas ou negativas. Perco menos tempo julgando o que surge, em vez disso, abro bem os olhos, respiro fundo e digo para mim mesma que tudo passa e que é fundamental cultivar a serenidade a cada travessia.

Lorena Pinto Coelho Silva 53


A minha história de superação começou no início de 1999, era

professora de geografia do colégio Santa Marcelina, fazia trabalho de campo com meus alunos, viajávamos muito para estudo. Numa visita ao Centro Cultural do Banco do Brasil, com meus alunos, comecei a sentir uma dor forte no abdômen, não podia ficar sentada no ônibus, só podia viajar em pé devido à dor. Pensei que fosse uma simples azia, tomava remédio, mas não passava. Fiquei apreensiva e falei com meu tio médico e ele me examinando, percebeu uma massa no meu abdômen (linfoma não-Hodgkin). Fiz exames e foi constatada a presença de vários gânglios, um maior, que empurrava meu estômago, era do tamanho de um caroço de manga (10 cm). Chorei só no dia que soube do resultado, depois não liguei queria estar com os meus alunos, meu pai, minha família,

não pensava em morrer, queria viver, sempre tinha um objetivo, um sonho a realizar. Fui fazer a biópsia e iniciei o tratamento com quimioterapia. O 1° protocolo foi de um dia de quimio e 21 dias descansando, fazia as sextas feiras na parte da tarde, pois tinha o sábado e o domingo para descansar e voltar a dar aulas nas segundas feiras. Ia sempre muito bem 54


arrumada como se fosse para um passeio para aumentar a minha autoestima. Foram 8 sessões. Tinha prazer na segunda-feira de sair de casa para dar aula, era a minha grande motivação, a escola toda rezava e torcia para o meu sucesso, mesmo em tratamento realizei trabalhos de campo com os alunos para Porto Seguro e Campos do Jordão. Adorava mostrar aos meus alunos a minha geografia ao vivo e a cores. Ao final das 8 sessões fiz uma nova tomografia, os gânglios diminuíram mas não sumiram. Tive que fazer um novo protocolo de 5 dias seguidos de quimioterapia e 14 dias de descanso, foram 4 sessões dezembro de 1999 até fevereiro de 2000. Tinha um pai idoso que andava de cadeira de rodas e fazia tratamento na ABBR. Eu o levava. Queria viver por ele. Ao final das 4 sessões fiz uma nova tomografia, constataram que havia ainda resquícios. O médico me recomendou fazer radioterapia. Mas como a minha família é cheia de médicos, o meu tio e o meu primo resolveram me levar ao colega deles, Dr. Daniel Tabak. Dr. Daniel mandou que fizesse uma Cintilografia com gálio para verificar a existência de células cancerosas no meu organismo. E o resultado foi negativo. Ficou combinado que se voltasse teria que fazer transplante de medula óssea. Só que 15 dias depois do resultado, meu pai caiu doente com câncer avassalador e morreu com um mês e meio. Fiquei sem chão. Seis meses depois fiz uma nova tomografia, o câncer havia voltado. Tinha que partir para o transplante. O tumor só doeu para ser diagnosticado, depois nunca mais senti uma dor. Fiquei com muito medo.

Tinha de achar um novo objetivo, pois estava afastada da escola, então um novo sonho surgiu: fazer a festa de 15 anos de uma prima. Ia sempre ao CENTRON e ao CEMO (INCA) que o Dr. Daniel dirigia. Havia um anjo Protetor, um Ser Iluminado no meu caminho e de outros pacientes: Dr. Daniel. 55


Me agarrei com Jesus, Nossa Senhora Desatadora dos Nós. Fui a várias igrejas e numa delas falei do fundo do meu coração, saindo espontaneamente: "Estou com Jesus e não abro". Aí tive a certeza que tudo daria certo pois estava nas mãos de um grande médico e de um grande ser humano. Enfim chegou o dia do transplante, procedimento de muito risco, doloroso, angustiante, mas com minha fé, com total confiança na equipe e aprendendo sempre a traçar sonhos e objetivos, saí vitoriosa. Agradeço a Deus por ter tido o convívio de várias pessoas que estiveram comigo e me deram força para lutar e vencer: do meu pai, minhas irmãs, meus tios, primos, aos meus alunos e ao Dr. Daniel e sua equipe do CENTRON e do CEMO (2001).

Hoje estou curada e sou mais alegre. 6 de Setembro de 2014. (13 anos de transplante de medula).

Leila Maria Telles Pontes

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E a vida segue... Após seis anos, uma pseudo possibilidade do retorno do linfoma me fragilizou novamente. Era algo que eu não esperava vivenciar. O fato de já ter sido vitorioso uma vez me deu uma sensação de força. Eu achava que era intangível. Mas, naquele instante, percebi que não era tão simples assim. No primeiro momento, fiquei atônito e sem entender muito bem o que acontecia. Aliás, eu entendi muito bem, só não queria acreditar. Foi difícil assimilar, aceitar e enfrentar o que poderia acontecer comigo de novo. Dúvidas como “o que eu fiz para merecer isso?” ou “por que vou passar por isso mais uma vez?” borbulhavam na minha cabeça. Na realidade, não há respostas para nenhuma dessas perguntas.

Basta estar vivo.

Minha família e meus amigos foram cruciais para que eu erguesse a cabeça e continuasse em frente. Depois de algumas baterias de exames, internação em CTI, controle de taxas e tudo aquilo com que já estava acostumado a lidar, o susto passou. Graças a Deus e, é claro, ao Dr. Daniel e toda a sua equipe. E a vida segue... É exatamente isso que descobri após vencer mais essa batalha. Não adianta querer descobrir o “por quê” de tudo. Nada é por acaso. Sei que hoje sou mais forte do que ontem, mas mais frágil do que amanhã. Isso me motiva a continuar, a viver e a ser feliz.

Humberto Mandaro 57


terminei meu tratamento quimioterápico. Tenho 39 anos e há 1 ano e 3 meses

Estou casada ha 7 anos ... E ficamos há 4 anos tentando engravidar... Em outubro de 2012, apareceu um abcesso na mama que demorei bastante para ter o diagnóstico... No meio dos exames, acabei descobrindo a tão sonhada gravidez... Depois de muitas consultas em diversos especialistas, o Mastologista decidiu por fazer a biópsia... Dia 7/2/2013 tive o diagnóstico de linfoma não Hodgkin de células b... Agressivo... Foi uma loucura...

Como poderia estar acontecendo tudo isso??!!

Por fim, chegamos a CENTRON, e na primeira consulta com a Dra. Isabela descobrimos que não era viável o tratamento para o meu tipo de linfoma estando no primeiro trimestre de gravidez... O nosso mundo caiu! Acho que foi o pior dia de minha vida... Passamos o carnaval inteiro pensando na possibilidade de ter que interromper nossa tão esperada gravidez.... 58


Dr. Daniel estava em viagem e mesmo assim respondeu ao e-mail da Dra. Isabela nos copiando que tudo seria feito para o meu tratamento e para preservar a minha gravidez ... E foi assim que no dia 14/2/2013 o Dr. Daniel nos deu a notícia que iria aguardar eu chegar no segundo trimestre para iniciar o meu tratamento, sem riscos para o meu bebê e sem comprometer a minha cura... Foi uma bagunça o consultório do Dr. Daniel esse dia... Tanta felicidade que nem sei... Minha mãe, meu irmão, meu padrasto, minha amiga... Tanta gente chorando de emoção. Bom, iniciamos o tratamento em março e graças a Deus e a tantos amigos, ao amor do meu marido e minha mãe, minha família que passei por todas sessões sem ter quase nenhuma reação... Consegui me alimentar bem e com isso meu bebê foi crescendo forte a cada dia... Fui muito paparicada, amada... Nunca pensei que tudo isso iria unir tanto a minha família... Tive uma gravidez muito tranquila... Apesar das angústias, dos medos... Voltava das sessões e minha barriga ficava dura, não sentia mais o meu bebê mexer...

Foram dias difíceis e felizes... Como explicar?!?!? Finalizei o tratamento dia 27/6/2013 e tudo estava normal... Meus exames ótimos... Mas vai que no feriado do Papa no RJ, dia 26/07 minha bolsa rompe e meu bebê nasce com 7 meses... Não preciso nem dizer que foi o dia mais doido de minha vida... Foi o dia que ao mesmo tempo senti um medo tão grande e uma felicidade tão grande... Que não consigo explicar.... Graças a Deus nosso príncipe nasceu sem precisar de respirador... Seu pulmão estava bem maduro (até por conta do corticoide que precisei tomar durante o tratamento)... Nasceu magrinho, com 1,735 gramas... Ficou na UTI neonatal por 21 dias... Mais uma vez veio a provação... Não foi fácil deixá-lo no hospital e ir pra casa de mãos e barriga vazias... Não tive resguardo.... Ficava das 10 às 23 horas no hospital... muito cansativo... Vi muita coisa lá dentro, mas graças a Deus, mais uma vez, conseguimos superar e chegar em casa com saúde! 59


Tivemos muitas provações nesse ano que passou, mas também tivemos a certeza de que existe um Deus de amor, que temos pessoas boas nesse mundo tão louco... Pessoas que se parecem com anjos, que quando menos esperamos estão ao nosso lado, às vezes sem nem conhecermos...

Tivemos a prova de que o Amor é maior que tudo e que temos que dar valor a vida e as pequenas coisas que temos... Desejo de todo coração que todas as pessoas que precisem passar, de alguma forma, provações como essas, tenham anjos, pessoas maravilhosas ao redor! Hoje meu bebe fez 1 aninho... E esbanja saúde.... E eu estou curada!!! Obrigada a todos da CENTRON pelo apoio. Toda vez que tenho que ir ao consultório do Dr. Daniel vou com alegria, porque sempre fui tratada com muito carinho... Obrigada a todos os amigos que participaram das caravanas de preces em nossa casa durante todo o tratamento... Obrigada a minha família e em especial a minha melhor amiga, minha mãe e ao meu melhor amigo, meu marido... E claro, ao meu maior tesouro, o resultado da nossa união, nosso príncipe guerreiro Lucas!!! Sem vocês, não teria conseguido!!!

Cintia Valle

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Fazer parte desse livro

com certeza não é uma tarefa fácil pra ninguém, e pra mim, particularmente, é difícil até contar como vim parar aqui... A notícia do câncer foi muito atordoante, um nocaute, cada nova informação me deixava mais perdida, parecia que um buraco se abria no chão e quando eu acordava todo dia, eu via que não era um sonho... Muito ruim lembrar desse primeiro momento, não era justo, foi em 2009, eu tinha 29 anos, estava feliz, de apartamento novo, grávida de novo, com minha filha linda de 4 anos e um marido maravilhoso do meu lado. O pesadelo só começava. Eu perdi meu bebê, minha primeira grande dor, enfrentei uma cirurgia enorme, e 22 sessões de quimioterapia. As 8 primeiras foram bem ruins, desconfortáveis. Apesar do meu bom humor, o restante até que foi tranquilo, eu tratava como um momento interessante da minha vida, dividido com pessoas que eu não conhecia, mas cada uma carregando uma importante história de dor e superação. Apesar de estar sempre forte, não foi fácil. É muita coisa mesmo pra processar, dúvidas, inseguranças, cicatrizes, muitos e muitos quilos a mais, 61


vaidade abalada. Cabelos, meu Deus, como fizeram falta. Eu me sentia mal por me sentir mal por estar sem cabelos. É difícil até admitir, eu estava viva, me tratando, cuidando de mim e da minha família, mas ficar careca foi com certeza a minha segunda grande dor. Era demais pra mim, torcia muito pra eles chegarem logo... Eles voltaram, lindos, mas junto veio mais um nódulo. Dessa vez a cirurgia foi pior, eu ficaria sem prótese e faria radioterapia. Mal terminei de fazer os exames pós operatórios e veio mais um tumor, era inacreditável, até o Dr. Daniel fazia cara séria, diferente de antes, quando estava sempre tranquilo... A radioterapia foi uma fase ruim, e no final eu estava sempre enjoada, mas não era por causa das sessões, pra minha surpresa e de toda minha família, eu estava grávida!

Grá-vi-da!

Era junho de 2012, eu tinha acabado de assumir um novo cargo no trabalho, onde o desafio era muito maior, foi uma tensão absurda, além do medo do meu bebê ter sofrido com meu tratamento, mas minha médica fofa da radioterapia, Dr. Lívia, fez vários testes pra confirmar que nas aproximadamente cinco sessões que eu havia feito grávida, meu bebê havia recebido zero por cento de radiação! Eu estava tão radiante, não conseguia acreditar, minha família ia crescer, mesmo fora do planejamento, mas estava perfeito! Claro que não poderia ser simples. Com 7 meses de gestação descobrimos um novo tumor, mas meus médicos maravilhosos se reuniram e decidiram me operar grávida, poupando meu bebê de um nascimento prematuro. Deu tudo certo, meu lindo Arthur nasceu e ainda tive a chance de amamentá-lo um pouquinho, o que pra mim foi emocionante! Os exames seguintes descobriram mais um tumor, que eu tirei de letra, pois meu tratamento seria cirúrgico e finalmente eu poderia fazer a reconstrução mamária.

Hoje eu só tenho a agradecer 62


pela minha família maravilhosa, meus pais incríveis - sem eles eu não conseguiria - meu irmão sempre me dando força, meu marido simplesmente perfeito, que cuidou e cuida de mim e reconstruiu comigo nosso chão, tapando os buracos dessa estrada... Por ter a sorte de ter dois filhos que são o maior amor desse mundo, que são meu verdadeiro tratamento, minha cura! E ainda tenho a sorte de ter um filho cão, um velhinho sarado de 15 anos que também é um grande companheiro dessa jornada. Deixo também um agradecimento muito especial ao Dr. Daniel e toda equipe, às minhas queridas Claudia, Bete, Débora, Fernanda, Gisela, e toda família Centron, que é parte fundamental no meu processo, na minha vitória. Desejo de coração a todos que sejam vitoriosos no seu processo de resiliência. Com carinho,

Flávia Maywald Maffei 34 anos

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Acometido de câncer

, fui encaminhado ao Centron, onde tive o prazer de conhecer além do médico que atende Dr. Luiz Gustavo Torres, as enfermeiras e recepcionistas. Quanto ao Dr. Luiz Gustavo Torres só tenho que agradecer-lhe pelos cuidados, competência médica e consideração com que sempre me tratou. Quanto as enfermeiras Débora, Fernanda, Gisela e Simone, fiquei realmente impressionado pelo profissionalismo, cortesia e extrema atenção, com que sempre fui tratado por todas. Nos pontos de atendimento aos pacientes, as recepcionistas Viviana, Fernanda, Luana e Janaina se destacaram pela educação, cortesia e amabilidades. Os meus sinceros cumprimentos e agradecimento a todos os quais tive contatos pessoais frequentes, desejando a todos meu muito obrigado. Atenciosamente, subscrevo-me

Eurico Alfredo da Silva Magioli Maia

Outubro de 2014 64


A arte de sorrir

Cada vez que o mundo diz “não” Às vezes fica quase impossível acreditar nesta frase acima tirada da música “Brincar de Viver”, cantada por Maria Bethânia, quando você está passando por um momento difícil, principalmente quando este momento é a descoberta de um câncer, ou de uma metástase, como foi o meu caso. Minha história começou em abril de 2010, quando descobri que estava com adenocarcinoma no intestino grosso e teria que retirar, através de cirurgia, um pedaço do intestino. Confesso que, apesar do grande susto, já esperava que isto poderia um dia acontecer, pois eu já apresentava pólipos no intestino há muitos anos e, através da colonoscopia anual, eles eram retirados antes que neles se acumulassem as mutações necessárias para chegar à malignidade. Mas, infelizmente, e mesmo com todo cuidado preventivo, a doença chegou. Pois bem, um ano depois, em abril de 2011, fui fazer outra colonoscopia e para minha surpresa o câncer tinha voltado e, desta vez, precisaria retirar todo o intestino grosso. Operei novamente e fiquei bem. Nessas duas intervenções a minha oncologista garantiu que eu não precisaria fazer quimioterapia, pois o tumor era inicial e bas65


taria o controle de 6 em 6 meses com todos os exames de praxe para um acompanhamento seguro. Acontece que em janeiro de 2014, através de um exame ginecológico simples e rotineiro, uma imagem não identificada se revelava perto dos ovários. Pois bem, corri para o meu cirurgião e começamos a pesquisar.

Nessa época, eu vivia os melhores momentos da minha vida.

Aposentada e cheia de energia, levava uma vida feliz, aulas de dança, passeios de bicicleta, almoço com as amigas, cinema, planos de viagens. Sem falar nos jantares com o maridão e encontros inesquecíveis com os filhos e noras. Mas não havia jeito, tinha que operar para saber o que realmente acontecia ali, pois podia ser um câncer de ovário, cistos etc. Retornei à oncologista e perguntei se havia uma possibilidade de ser uma metástase do intestino e mais uma vez escutei que aquele tumor foi descoberto bem no início e que esta hipótese era descartada. Após a cirurgia descobrimos que realmente eu tive uma metástase do intestino que invadiu meus ovários e trompas, já que o útero eu não tinha mais, por conta de um mioma. Desta vez o baque foi grande, perdi o chão e fiquei com muito medo, pois essa metástase eu não esperava. Mas tinha que seguir em frente e procurar, agora, o melhor oncologista e fazer o tratamento correto. E foi aí que veio o meu anjo da guarda, Dr. Daniel Tabak, indicado pelo meu cirurgião e por outras várias pessoas que já haviam passado pelas suas mãos.

Profissional renomado, humano, que passa de forma clara e direta total confiança para o paciente, com toda a doçura que lhe é peculiar. Comecei em abril o tratamento de quimioterapia, no total de 12 sessões, em intervalos de 15 dias. 66


Tem sido muito difícil, não vou negar. Cansaços, fraquezas, tremedeiras, palpitações, perda do paladar, falta de apetite, indisposição, náuseas, azias, diarreia, desidratação e uma pneumonia que me deixou 16 dias internada. Mas não podemos encarar a quimio como uma inimiga, pelo contrário, ela é nossa amiga.

É o caminho para a cura. Temos que ter paciência, coragem, fé e muita esperança. E, claro, confiar no seu médico acima de tudo. Confesso que já tive momentos de tristeza, raiva, dor e questionamentos pois a vida tinha me dado uma rasteira, tinha me tirado tudo de bom: minha dança, meus passeios, meus cinemas, viagens, praia. Não posso sentir o sol, a areia, o mar. Tirou meu paladar. Tirou minha alegria e o meu humor. Mas senti isso só uma vez e nunca mais. Sabe por quê?

A vida não tinha tirado a minha esperança.

Ela está ali, latente. E é isso que a gente tem que pensar e sentir. Não podemos nos deixar abater, temos que reagir, confiar, ter sempre pensamento positivo e pensar que é difícil, mas é uma fase e passa. Só assim estaremos ajudando o nosso corpo a reagir a este tratamento. O apoio da família é primordial. Sem ela estaria muito difícil aguentar. Tenho a sorte de ter um marido que me ama, super companheiro, que me acompanha em todo o tratamento e não me deixa sozinha um minuto sequer, cuidando de mim com muito carinho e dedicação. Os filhos, bem, esses nem preciso falar, amor incondicional. Meus pais, irmã, sobrinha, primos e minhas adoráveis noras, que são como filhas para mim, também estão sempre ao meu lado dando força e coragem. Conto também com as amigas sinceras, incansáveis em ajudar em todos os momentos, respeitando, inclusive, meus momentos de total isolamento, por conta do grande mal estar que me castiga tanto. Sou uma privilegiada, não sabia como era tão querida, pois até as vizinhas com quem tinha pouco conta67


to, mandam bolo, docinhos, todos feitos com muita energia e amor. Outra questão importantíssima é o relacionamento e a confiança com os profissionais que te acompanham. O Centron é um lugar que você chega feliz, onde é recebida com carinho por todos os funcionários, as moças que servem o lanche, as sorridentes Beth e Fatima, passando pelas simpáticas recepcionistas Luana, Fernanda, Janaína e Viviana, as amáveis e atenciosas enfermeiras Gisela, Débora e Simone, os médicos Dr. Luis Gustavo, Dr. Alexandre, Dr. Bruno e Dr. Danilo, extremamente atentos e gentis, trazendo sempre uma palavra positiva e animadora durante os momentos mais difíceis, as queridas Claudia e Paula – respectivamente psicóloga e nutricionista, que me tratam com ternura e muito mimo, a doce técnica de enfermagem Márcia e a sempre delicada e compreensiva Sandra. Essa equipe, que trabalha com

competência e profundo senso de humanidade, é o reflexo do grande homem e do grande médico que comanda esta clínica: Dr. Daniel Tabak. A ele, e a toda a sua equipe, minha eterna gratidão e meu mais sincero obrigada. Bem, quando esta edição sair, ainda não terei terminado o meu tratamento, mas já vai estar no finalzinho. E, com certeza, estarei curada. Tenho muita fé, acredito em Deus, com toda a sua misericórdia e compaixão, na competência do Dr. Daniel Tabak e sua equipe, no avanço da medicina, no pensamento positivo, no humor, na alegria, no alto astral, nas boas energias, na vontade de vencer. A vida é feita de escolhas e temos que escolher viver. Nunca fui de alimentar tristezas e não vai ser agora que farei. Por isso, quando o mundo disser “não” para você, responda “sim” e sorria para ele. Não dizem que gentileza gera gentileza? A vida vai pensar: puxa, maltratei tanto essa pessoa e ela ainda sorri pra mim? Ela merece que o mundo, que o universo conspire a seu favor e sorria para ela.

E acredite, a vida vai sorrir novamente para você.

Elizabeth de Souza Mendes Arraes 68


OBRIGADO MEU DEUS OBRIGADO MEU DEUS, por aquela lágrima que derramei e dentro da qual descobri o teu rosto

OBRIGADO, pelo cansaço que se apoderou de meu corpo e me fez cair aos teus pés!

OBRIGADO, pelas trevas que se abateram sobre a minha alma e me fizeram gritar pelo teu sol!

OBRIGADO, pelo temporal que desencadeou dentro do meu coração e me jogou nos teus braços.

OBRIGADO, PORQUE TE ESCUTO NA MENSAGEM DE UMA PÉTALA, NA HARMONIA DE UM GORJEIO, NO SEGREDO DE UM SORRISO! OBRIGADO FAMÍLIA CENTRON POR TODO AMOR QUE RECEBI.

Maria José da Silva Ferreira

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Em junho de 1993

, época em que eu estava com 39 anos; estava envolvida com o trabalho e a festa de 15 anos da minha filha quando levei meu primeiro susto. Estava no banho quando descobri uma retração no mamilo direito. Fui ao ginecologista e após os exames veio o diagnóstico "nódulo com características de malignidade". Adiantei todos os preparativos da festa da minha filha que seria 12-08 e fiz a cirurgia no dia 13-07. Tive que fazer a mastectomia total pois o nódulo era realmente maligno. Não precisei fazer nenhum tratamento complementar (quimioterapia ou radioterapia) pois o nódulo era muito pequeno. Fui considerada clinicamente curada. Em 2009 dezesseis anos depois, ao fazer um auto exame, constatei um nódulo na axila direita. Fiz a cirurgia para a retirada do nódulo. Foi então que levei o segundo susto; o nódulo era maligno e havia comprometido os meus dois pulmões. Como eu tenho muita fé, coloquei nas mãos de Deus o meu problema. Foi então colocado mais um anjo em minha vida, Dr. Luiz

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Gustavo Torres, que me orientou e me acompanhou durante todo o meu tratamento de quimioterapia que durou 8 meses. Hoje (2014) estou mais uma vez curada e agradeço em primeiro lugar a Deus depois ao meu marido Cláudio, meus filhos Rafaela e Vinicius, por toda a atenção e paciência que tiveram comigo. Não posso deixar de lembrar também das minhas netinhas Carolina e Helena pois todas as vezes que chegava da quimioterapia elas estavam me esperando comum sorriso e querendo saber se eu queria que elas ficassem comigo, pois tenho certeza que isso contribuiu muito para a minha cura. Não posso deixar de agradecer também a Gisela, Débora, Fernanda, Simone e toda a equipe da Centron pois sempre ouvíamos uma palavra de carinho e estímulo para amenizar o tratamento.

A minha mensagem é que o câncer tem cura e que não podemos desistir de lutar e ter muita fé em Deus. Angelita Melo 71


Em 22 de agosto de 2013

minha vida virou de cabeça para baixo. Acordei sentindo um caroço grande no abdômen, na emergência do hospital descobri que estava com dois tumores: um no intestino e outro no fígado. Confesso que levei um susto, estava com 37 anos e meu filho com 6 anos. Senti que havia chegado ao fim da minha vida com tantos sonhos e planos ainda para realizar, tantas coisas para ensinar ao meu filho... Na primeira semana em que descobri os tumores chorei muito, mas depois uma paz imensa invadiu o meu coração e encarei tudo “numa boa”: a cirurgia, a recuperação e o tratamento. Entreguei minha vida nas mãos de Deus e CONFIEI Nele, não fiz perguntas do tipo “por que aconteceu isso comigo?”, afinal não me acho melhor do que ninguém e todos nós estamos sujeitos a essa doença. Ao invés de ficar revoltada, enxerguei o que estava acontecendo de outra forma. Dizem que tudo na vida tem um lado bom, foquei nisso e por incrível que possa parecer, consegui enxergar esse lado. Basta olhar ao redor que encontramos pessoas passando por situações piores do que a nossa, quantas pessoas morrem de uma hora para outra? Seja por acidente de carro, por assalto ou até por bater a cabeça num simples tombo, sem ter tempo de sequer se despedir das pessoas que amam. 72


Vejo tudo isso como uma OPORTUNIDADE. Tive a oportunidade de refletir sobre a minha vida e enxergar o que precisava melhorar: minha relação com Deus, com meu filho, com meu marido e com meu trabalho. Precisava ajustar algumas coisas que no dia-a-dia não percebia que estavam erradas. Agora está na hora de pôr tudo em ordem. O apoio, o carinho e o pensamento positivo da família e dos amigos foram imprescindíveis para suportar essa fase. Além disso, Deus colocou uma seleção de anjos para cuidar de mim e me orientar nesse desconhecido caminho, são eles: Dr. Ribamar (cirurgião), Dr. Tabak e a calorosa família do CENTRON. Foi aqui que conheci a Luciana, minha amiguinha de quimio, e hoje ficamos uma na torcida pela outra. Agradeço a todos vocês que fazem parte do meu caminho rumo a VITÓRIA.

Vale a pena lutar Independente do que teremos que enfrentar Dia e noite só temos que focar Acreditar e cuidar para enfim comemorar.

Jane Vieira Mendes Lisbôa 73


Me chamo Luciana. Tenho 39 anos. Pouco depois do meu aniversário de 35, fui diagnosticada de linfoma. Lembro perfeitamente do dia que recebi a noticia. Não podia acreditar! Como eu, tão nova, cheia de vida, que sempre prezei uma alimentação saudável, exercícios físicos e que trabalho com desenvolvimento humano poderia ter uma doença dessas? Como eu que estava sempre com pressa de viver e realizar, teria que parar para lutar de verdade pela vida? Por que eu? Por que, se sempre fui tão legal, se sempre fiz tudo certo? São tantas perguntas que nos fazemos para justificar algo que não tem uma explicação. Sim, você não fica ou deixa de ficar doente porque que fez ou faz algo diferente, melhor ou pior que as outras pessoas.

Não é você que atrai isso, mas isso é a sua história e é preciso aceitar. Na primeira vez que vi o Dr. Dani, como o chamo no meu WhatsApp, ele me explicou detalhadamente como seria meu tratamento e enfatizou que não era culpa minha. 74


Eu só fiz uma única pergunta: Vou ficar boa?

Ele, olhou nos meus olhos e disse: SIM.

Foi a esse SIM, que me agarrei. Aceitei viver essa etapa da melhor maneira. Descobri o quanto tinha pessoas que me amavam verdadeiramente e que eu nem percebia o quanto. Percebi também que outras pessoas que considerava muito, na verdade não me consideravam tanto. Fiz tudo que estava ao meu alcance para passar por isso da melhor maneira. Comprei um caderno dos sonhos e na primeira página escrevi um agradecimento para o Dr Daniel e desenhei um castiçal judaico (tentei, pois desenho muito mal), que eu tinha ganhado de presente de um amigo do meu pai quando pequena e prometi dar a ele quando estivesse curada. Esse dia chegou! Entreguei o castiçal, fiquei boa, voltei a trabalhar, casei... mas na volta da minha lua de mel, descobri que minha doença havia recidivado. Dessa vez, confesso, foi pior que a primeira. Por que teria que 75


passar tudo de novo? Não queria aceitar, choreiiiiiii muito, mas o apoio e confiança da minha família e marido me ajudaram a seguir adiante. Foi então que, Dr. Daniel me explicou que no meu caso era normal, pois o meu tipo tinha muita chance de voltar. Mais uma vez esse anjo me salvou. Disse que tentaria um tratamento mais ameno pois acreditava que clinicamente eu iria reagir bem e então depois de 4 sessões, tudo desapareceu. Desde então faço sessões de controle a cada 3 meses. Acredito verdadeiramente que o Dr Daniel irá sempre encontrar as melhores saídas e acredito que, no meu caso, ele me trará de presente a cura.

Aliás, o que é cura? Se viver plenamente ao lado das pessoas que mais amo e poder engravidar é estar curada, então me considero mais que curada. Sigo minha vida da forma mais normal do mundo, realizando todos os meus sonhos com muita gratidão. Agradeço todos os dias a minha família, ao Dr. Daniel Tabak e a oportunidade de ser tratada por pessoas tão especiais, num local tão especial como o CENTRON. Amo quando mando uma mensagem para meu Doutor do Coração e recebo o texto mais sucinto e tranquilizador do planeta:

NENHUM PROBLEMA. Essas palavras são o meu mantra!

Por essas e outras me considero uma pessoa de muita SORTE. Muito Obrigada,

Lu Provenzano

* Ao lado, o relato da minha irmã, Paola, e em seguida, a primeira página do meu caderno. 76


Por Paola Provenzano: Em 2010 minha irmã caçula apresentou a cadeia linfática inguinal aumentada, algo que me chamara atenção. Marcamos uma consulta com um clínico e um ultrassonografista e logo o diagnóstico de linfoma de células B veio a tona e com ele dúvidas, medos e uma etapa muito difícil da vida familiar, que Graças a Deus foi sanada com a entrada do Dr. Daniel e toda a equipe que durante o tratamento da minha irmã foi exemplar. No inicio de 2011 ela teve alta, estava curada e prestes a casar numa cerimônia linda que aconteceu em abril de 2012 seguida de uma lua de mel muito planejada na Turquia e Grécia, tudo perfeito!!! mas na volta da viagem infelizmente recebemos a notícia que a doença havia recidivado e que o diagnóstico na verdade era outro. Era linfoma folicular grau 3. Novamente nos entristecemos, porém bem menos. Estas coisa fortalecem, unem a gente.

A certeza que tudo ficaria bem sempre esteve presente em nós e nas palavras do Dr Tabak. 77


Reiniciamos o tratamento e quando digo reiniciamos falo no plural, porque a doença é coletiva, da família, ela acomete cada um de nós de uma forma que só quem já passou por isso é que vai entender o que estou escrevendo. Mas como tempestades não duram para sempre , o tratamento foi diferente, menos agressivo, a conduta médica foi conservadora e o psicológico de todos bem fortalecido e experiente, minimizou estresses desnecessários. Minha irmã continua em tratamento que acontece de 3 em 3 meses levando uma vida normal, como a de qualquer pessoa que possui uma doença crônica. Acreditamos que em breve a ciência terá uma cura definitiva para este tipo de linfoma indolente. Enquanto isso esperamos a chegada do sobrinho que esta em fase de concepção e vivemos cada dia como um presente nos dado por Deus, pois como Érico Veríssimo pensa:

A vida começa todos os dias!

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No instante em que soube

que estava com câncer, comecei a escrever um livro que brotou em mim. A eficiência da medicina do Dr. Daniel Tabak e de sua equipe ajudou-me a viver uma dimensão diferente, no sentido da sobrevivência. Assim, ao escrever cada dia durante o tratamento, percebia que podia exercer outro sentir. Outro rumo. Havia uma doença tratável, não mais um estigma, um medo enorme. Pelo contrário, uma certeza de que podemos seguir a vida, transpondo esse obstáculo. Deixar o corpo invadido nas mãos de quem conhece os meandros que levam à cura e viver o maior pedaço. Pedaço de construção ou reconstrução da própria vida. Escrevi não só para falar de mim, de um tempo de sentir a vida. Talvez, para passar a mensagem:

Precisamos renovar a palavra câncer.

Despi-la de tanto temor e medo. Redimensioná-la no contexto atual de tantas curas... Tanta vida transmutada. Este tropeço, já que ocorreu, serve para me ensinar – e sinto isto em tantas pessoas que passaram pelo que estou passando – o sabor da vida, perdido no correr dos dias. Nesse tempo de tratamento vivi dias melhores e outros de dor, medo e tantos sentimentos que estavam soltos em mim, na luta contra a doença, a morte e meus próprios fantasmas. O tratamento me dava chão para enfrentar e luz para vencer as trevas. Eu acreditei no Dr. Daniel desde a primeira consulta, porque conversou verdadeiramente comigo. Ouviu-me. Olhando em meus olhos, disse: “Eu não trato doença, eu trato pessoas”. Assim, confiança foi meu suporte para a esperança.

Maria Lúcia Almeida Roza 80


No auge dos seus 21 anos,

em 2012, com data de casamento marcado, minha filha foi surpreendida por uma doença que até então era desconhecida em nossa família. Hodgkin era o nome, doença silenciosa, mas que chegou em nossas vidas fazendo um barulho ensurdecedor. Como dar essa notícia à minha única filha?

Porque não em mim? Minha filha é tão frágil... Era tudo muito novo até então. Foram 03 cirurgias, totalizando sete meses de tratamento, com uma equipe médica muito bem preparada e com excelentes profissionais que acabam se tornando nossos amigos, mas que parecia ser uma eternidade. Hoje quando olhamos para trás podemos contemplar todo o carinho e cuidado que o Senhor teve e continua tendo conosco. Fomos colocados a prova e fomos aprovados. Hoje minha filha (aquela frágil), que sentia cólicas e achava que era o fim do mundo, superou o câncer e se tornou uma jovem senhora que acabou de completar bodas de papel. E pelos olhos da fé, logo, logo eu e meu marido estaremos embalando e mimando nossos netos.

Aprendemos que a dor fortalece...

Sonhar não é fantasiar... Que a beleza não está no que vemos, mas sim no que sentimos... E que viver, é simplesmente SENSACIONAL!!!

Jane Mãe da Tayrine de Castro 81


Dezenove anos é a idade

do meu filho mais novo, Caio, que nasceu no mesmo mês e ano (abril de 1995) em que fui diagnosticado com mieloma múltiplo. Apesar das baixas expectativas iniciais, percorri um longo e vitorioso caminho para poder compartilhar minha trajetória neste relato. Dos oito irmãos que tenho, fui privilegiado ao ser compatível com dois deles. Agradeço à dedicação de todos os médicos e profissionais que se doaram e acreditaram na minha cura, além da minha esposa, dos meus dois filhos e todos amigos e familiares. Hoje posso deixar as melhores dicas para o sucesso de um transplante:

1 Fé: acreditar em Deus e pensar positivo, sempre. 2 Coragem: encarar os momentos difíceis. 3 Dedicação: seguir rigorosamente às prescrições. 4 Paciência: o tratamento é longo. 5 Apoio: a base de tudo. 6 Esperança: o sentimento que te move. 7 Confiança: saber que estamos em boas mãos. 8 Amor: indispensável. 9 Gratidão: agradecer todos os dias. 10 Desistir: JAMAIS!

Pedro Aguilar Casagrande 82


Não demorei a descobrir a coragem e, principalmente, o poder das palavras. Durante esse período, conversei muito, desabafei, ouvi, escrevi e chorei… As afirmações positivas sempre entraram na minha cabeça, preenchendo o vazio que uma doença havia deixado.

Acreditei, lutei, não desisti, venci!

Não agradeço a Deus. Só acredito vendo… e também seria injusto com meus guerreiros. Agradeço, sim, aos que oraram e pediram a Deus que me iluminasse. Obrigado a todos que fizeram orações para mim de todas as crenças e religiões. Conheci muitas pessoas nessa clínica. E uma coisa é certa: todos estavam lá em busca da felicidade! Talvez, por isso, me arrisco a dizer que é o ambiente mais puro e sincero que outros mundo a fora. Um ambiente com ar de esperança. E nesse ambiente, apenas pessoas iluminadas: mestre Tabak e seus guerreiros. O equilíbrio psicológico foi decisivo. E só ela pra me ajudar a guiar minha vida. Uma estrela com o nome de minha mãe, Claudia. Outra guerreira.

Tadeo Saldanha 83


O que dizer? O que fazer? E como agir? Pois é, você chega naquilo que os ‘antigos’ chamam de meia-idade e, um belo dia, num exame de rotina, seu médico lhe diz que precisa analisar com mais profundidade aquele exame de sangue e lhe recomenda buscar um hematologista que, por sinal, também é oncologista. Isso já lhe dá a certeza de que algo não está mesmo bem consigo. Afinal, ele poderia me encaminhar a um hematologista que não fosse, também, um oncologista. Concretizada a consulta, vem o diagnóstico: você é portador de leucemia linfocítica crônica, simplesmente conhecida como LLC. Mas esse é um ‘privilégio’ meu, afinal tenho mais de 50 anos e pertenço ao sexo masculino, parâmetros essenciais para ser aquinhoado por ela. 84


Então, absorvido o impacto inicial, que é fundamentalmente mais psíquico do que orgânico, você começa a visualizar um retrospecto em sua vida e a se perguntar: o que foi que você fez de errado para merecer um diagnóstico desses? E a resposta é: nada, absolutamente nada. Foram seus antepassados que conjuminaram para que, em alguma geração futura, a estatística marcasse você como tendo as perfeitas condições para o desenvolvimento dessa enfermidade. Assim, em que pese a afirmação do Rei Salomão de que “Ele (Deus) pôs até mesmo tempo indefinido no coração do (homem)”, o fato é que não conhecemos ainda ninguém que tenha permanecido na superfície do planeta de modo sempiterno. Essa perpetuidade tão buscada e almejada continua sendo projetada em nossa descendência, nossos filhos e nossos netos que levarão nosso nome adiante por gerações. Mas, por favor, esse meu entendimento de modo algum quer menosprezar aqueles que possuem suas crenças religiosas, segundo seus próprios conceitos.

Essa foi apenas a forma que eu escolhi para agir e convencer a mim mesmo de que não há nada de errado comigo. Apenas confio em que a medicina atual será capaz de me trazer uma solução para o problema e que, caso não me traga a cura definitiva, ao menos me possibilite ter uma vida mais que normal, da mesma maneira como vivo hoje cuidando de minha hipertensão, a qual quase não mais se manifesta devido à medicação provida e ao estilo de vida adotado. Houve momentos em que meus pensamentos eram totalmente direcionados para a doença. Hoje, passados seis anos do diagnóstico e submetendo-me à quarta quimioterapia, confio em que muito breve teremos a resposta certa ao problema. Afinal,

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existem milhares de pessoas afetadas pela LLC em todo o mundo, fator mais do que suficiente para que os laboratórios farmacêuticos se interessem em pesquisar novas drogas para o nosso bem-estar. Se a cura integral não vier, ao menos condições que nos façam ter uma sobrevida digna, da mesma forma como os portadores de AIDS nos dias atuais. São essas as crenças que me fazem avançar e pensar menos na doença e mais nas coisas que ainda posso fazer para o meu deleite e o proveito de minha família e dos meus semelhantes. Afinal, como Moisés disse no passado, “os dias de nossos anos são, em si mesmos, setenta anos. E se por motivo de potência especial são oitenta anos, mesmo assim a sua insistência é em desgraça e coisas prejudiciais”. Portanto, por mais que os atuários modernos insistam em que as estatísticas apontem que a raça humana tem vivido mais nos tempos atuais, é melhor ficarmos mais apegados às palavras do profeta para não nos decepcionarmos.

Roberto Luiz Martins de Castro Paciente do CENTRON desde 2008

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A vida é tão corrida,

são tantas coisas que consomem o nosso tempo no dia a dia que muitas vezes os sinais estão presentes e a gente não percebe. Ou, talvez, não estejam mesmo, quem sabe? A história da minha família é a seguinte: era uma vez um casal de meia-idade com filhos crescidos, todos com saúde, namorados/ maridos, filhos e netos para cuidar e curtir. Casa em obras por causa de um incêndio, Páscoa judaica chegando, e de repente a memória da minha mãe começa a falhar. É estresse, quem consegue cuidar de tantas coisas ao mesmo tempo? A falha piora, a confusão mental aumenta, e começa a corrida. Médico atrás de médico, interna no hospital, começam os diagnósticos, mudam os diagnósticos, começa tratamento, muda tratamento, novo diagnóstico, quimio, corticóide, memória começa a voltar (oba!), quimio, rádio, cirurgia. Respiro, a vida continua... Depois o exame atrapalha a vida, o culpado, coitado! Não podia voltar a colaborar? E mais quimio, e mais tratamento, e mais rádio... e a vida continua. Com dor, sem dor.

Porque um dia ruim ainda assim é um dia bom, com vida.

Porque se não continuar, o que resta?

E os filhos amadurecem, o marido apoia, a fé fortalece, novos netos nascem, netos crescem e a família se une cada vez mais. Como um só coração que bate, o coração de minha mãe, sempre ela, o centro da nossa atenção, da nossa vida. Obrigada Hashem (Deus) por tudo, por todos os dias, por cada dia.

S.B. 87


Faz 5 anos minha vida mudou

de uma forma que nunca poderia imaginar. Aos 21 anos não era possível estar tão cansada, a quantidade de sono nunca era suficiente, e a cada mês sofria com algum tipo de infecção diferente, meu médico na época disse que essa situação não era normal, vivia tomando remédios. Fiz uma bateria de exames que não deram em nada foi quando ele me pediu uma biopsia de medula óssea e foi constatado que sofria de policitemia vera, uma doença que geralmente só atinge pessoas acima dos 60 anos, ficamos completamente assustadas com a bula do remédio prescrito, neste momento foi me dada a oportunidade de conhecer o Dr. Daniel Tabak, um anjo que Deus colocou em minha vida. Seis meses depois fizemos uma nova biópsia e descobrimos que minha doença tinha evoluído muito rapidamente para uma síndrome mielodisplásica. Para ficar curada, preciso fazer o transplante de medula óssea, mas nenhum dos meus quatro irmãos foram compatíveis. Desde então, venho fazendo tratamento no CENTRON com Dr. Daniel e toda sua equipe maravilhosa que sempre me acompanharam com muito carinho. Deus disse: o tempo que você está a demorar é justamente o tempo que estou a moldar a tua fé, lapidando tua vida e preparando o caminho da tua vitória.

Minha luta ainda não acabou, mas tenho fé que sairei vitoriosa. Agradeço primeiramente a Deus por me permitir respirar a cada novo dia, por ter os melhores pais do mundo, por ter uma família que me ama, por meu namorado que ficou ao meu lado e meus amigos que não me deixaram desanimar jamais. Amo todos vocês. Obrigado equipe CENTRON.

Marluce da Silva Oliveira 88


Fazendo quimio

tinha uma vida normal, mas nunca poderia engravidar, nunca perdi a esperança. O catéter inflamou e fiquei um tempo sem medicação e controlando com exames que mostravam que a doença havia estabilizado sem a quimio. Graças a Deus, desde 29/8/14 estou nos meus braços com meu maior sonho que é minha filha Bruna.

Deus escreve certo por linhas tortas.

Hoje estou completa e realizada com minha família e me sinto curada.

Bárbara Magalhães 89


E pensar que tudo começou

com um simples exame de rotina!!! Começamos em agosto, conhecido como o mês do desgosto, com a morte de uma pessoa muito querida e especial para todos nós. 11 dias depois disso eu recebo o diagnóstico do câncer. Setembro negro – incertezas. Começo o tratamento. Será que eu vou vencer a luta contra o câncer? Em outubro chego a conclusão de que não dá mais para continuar trabalhando. Faltam forças físicas e a mente está por demais cansada. Em novembro, durante meu tratamento, minha mãe cai e quebra, ou melhor, esfacela o ombro esquerdo. Dezembro chega... Minha mãe tem que operar o ombro. E eu, que sempre fui a acompanhante dela nestes momentos me vejo sem nem ao menos poder pisar no hospital.

Raiva, tristeza, frustração, impotência. 90


Tudo isso eu senti naquele momento. Quem vai cuidar de mim agora? Quem vai me mimar agora? Egoísta? Não, fragilizada e dependente... Natal... Natal triste naquele ano. Pela perda da nossa querida Judith, pela minha doença, pela ausência de outras pessoas que eram parte de nosso dia-a-dia. Reveillon – o que será que temos para comemorar nesta passagem de ano? Não sei. Na época não consegui vislumbrar nada no auge da minha depressão. 2012 chegou!!!! Ufa!!! Será que ele vai trazer coisas boas? Sim, trouxe algumas, mas nosso inferno astral continuou. Acabei minha quimioterapia em janeiro. Viva! Uma vitória!!! Preparar para a cirurgia. Depender de plano de saúde. Autorização que demora pra sair. Mais nervosismo. Cirurgia marcada. 27 de fevereiro. Lá vamos nós para o abatedouro. Foi assim que eu me senti... Como um animal indo para o abatedouro. Sensação horrível. Você entrar inteira no hospital e sair sem um pedaço de você. Curada? Ainda não. Sem câncer? Sim. Vamos esperar os famosos 5 anos de remissão. Em abril recebo alta dos médicos para começar a fisioterapia. Muita dor, muito incômodo. Com uma cirurgia radical não poderia ser diferente. Tudo começa a ficar muito lento. Agora começa a fase da paciência. De um levar um dia depois do outro. Restrições. Inúmeras restrições. Não posso mais pegar peso (nunca mais), não posso mais fazer minhas unhas do jeito que eu gosto (nunca mais), tomar cuidado para não ter linfedema, menopausa precoce – desde outubro de 2011 que não menstruo mais. Cai a ficha – filhos não fazem mais parte da minha vida, mesmo que eu os quisesse. O cabelo começou a crescer!!! Finalmente! Outra vitória! Me senti um rato pelado durante meses, sem 1 fio de cabelo sequer no corpo todo. Gorda!!!! Quem me conhece vai rir disso. Mas acreditem. Finalmente chegou o dia em que eu tenho que lutar contra a balança. Menopausa + tamoxifeno + sedentarismo = gordura na certa. Outra vitória – cheguei aos meus 40 anos. Comemoração. Renascimento. Não foi por acaso que justamente em 2012 meu aniversário caiu no domingo de Páscoa. 91


Vida nova. Tentar me achar no meio deste turbilhão todo. Redescobrir a vida. Que rumo tomar? Que caminho seguir? Descobrir o que eu quero para mim, para o meu futuro, para a minha vida. Se perguntar se existe futuro sem conseguir encontrar a resposta. Descobrir que se passa a viver um dia de cada vez sem planejar o dia seguinte. Descobrir que a vida é maravilhosa e que os mínimos detalhes têm muito mais sentido hoje do que tinham antes. Novos amigos chegam, amigos do seu convívio diário se afastam, antigos amigos ressurgem das cinzas. Você se sente querida e amada. Mas mesmo assim vem o isolamento. Você se afasta do mundo, de todos, de tudo. Medo. Medo de se machucar, medo de não conseguir superar o câncer, medo de não conseguir sobreviver, medo de ter uma metástase ou uma recidiva, medo porque você descobre finalmente que nunca mais será a mesma pessoa. Medo do desconhecido!!! Então você se pergunta:

QUEM É VOCÊ AGORA????

Pergunta sem resposta. Pergunta que só você pode responder, mas que não consegue achar a resposta certa. Tentar ser forte sem ser, tentar ser feliz sem ser, tentar encontrar um sentido para a vida e não conseguir. Não, não estou sozinha. Tenho meus anjos da guarda de plantão: meus médicos todos, minha psicóloga, minha fisioterapeuta, minha família, meus amigos. Mas mesmo assim você se sente sozinha. Estranho sentimento que também não consigo explicar. Mas aí você para, respira fundo, chega a uma conclusão e consegue admitir para si mesma que, mesmo com todos os problemas, com todas as provações, você sobreviveu. Você venceu a batalha. Desta vez o câncer perdeu a guerra e eu venci. Felicidade!!! Sim, no meio disso tudo você descobre que sim, é possível ser feliz a cada dia. Que é possível viver sem planejar o dia seguinte e ainda assim ser feliz.

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Você descobre que Deus está, esteve e sempre estará ao seu lado. Você descobre que viver vale muito a pena. Renascimento! Sim agora sim é renascimento. Vamos tratar de encontrar a felicidade. Vamos buscar um novo rumo para a vida. Vamos nos redescobrir. Vamos descobrir quais são os nossos limites. Vamos descobrir o que queremos para o nosso futuro, seja ele 1 dia, 1 semana, 1 mês, 1 ano, 1 século. Mas que em cada um desses dias você consiga ser feliz. Que venham os problemas, que venham os desafios. Quem passou por tudo o que eu passei tem forças suficientes para enfrentar qualquer dificuldade que a vida lhe imponha.

Família. Tudo para mim. Meu chão,

minha base, minha segurança, meu porto seguro, minha vida. Estamos unidos e juntos para qualquer batalha que tenhamos que enfrentar. Como em toda guerra, podem existir perdas irreparáveis no meio do caminho, mas a certeza da vitória sempre vem em minha mente. Eu sou uma vitoriosa. Nós somos vitoriosos. Lutamos juntos e vencemos juntos. E vamos estar sempre juntos para o que der e vier. Então vem a resposta para a pergunta. Felicidade existe??? Sim, existe. Basta você conseguir e querer enxergá-la. Ela está ali na sua frente, ao seu alcance. Só depende de você. Sou feliz porque estou viva, sou feliz porque tenho uma família maravilhosa, sou feliz porque tenho amigos fiéis e leais ao meu lado, sou feliz porque descobri o que quero para o meu futuro: ser feliz a cada dia sem esperar nada em troca da vida. Viver um dia de cada vez sem esperar o dia seguinte.

Felicidade existe? Sim, existe sim. Basta você estender a mão, tocá-la e sair vivendo a vida de mãos dadas com ela... A conclusão que eu cheguei: de que viver vale muito a pena!!!

Silvia Mello 93


Minha história Estou com mielodisplasia, há cerca de uma ano e oito meses. Ao ter conhecimento do diagnóstico da doença, não imaginava que o tratamento fosse demorado. Pensei que, com algum medicamento, em questão de dois ou três meses estaria com a saúde restabelecida. Nunca questionei-me porque eu estava com a tal da síndrome. Procuro seguir rigorosamente a orientação médica, pedir ao meu Deus forças para resistir aos sofrimentos e ter fé que algum dia estarei em melhores condições de vida. Nos meus pensamentos, quando estou só, fico pensando nos milhões de seres humanos que, doentes como eu, não tem oportunidade de

um tratamento adequado

. Como militar que sou, já passei por muitas dificuldades, inclusive com risco de morte, mas não como esta síndrome, que me faz questionar-me dia e noite até quando estarei com este sofrimento ou se perecerei dentro de alguns meses ou anos. Finalmente, quero registrar a excelência do tratamento no CENTRON, dispensado pelos médicos, enfermeiras, nutricionista, funcionários e toda equipe que constitui esse importante Centro Oncológico, proporcionando ao paciente segurança, apoio físico e psicológico.

Otávio Augusto Mendes Fernandes 94


Ser feliz...

é entender que, apesar dos problemas, a vida é maravilhosa; é sorrir com a família e com os amigos; é sentir a presença de Deus em todas as coisas... Luiz Cyrillo Fernandes Marido da paciente Miriam Sales Gomes Fernandes

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Diz a psicologia

que, diante de uma

dor ou perda intensa, vivenciamos etapas como negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Por todas assumidamente passei ao saber que estava com câncer de ovário aos 39 anos. Não consegui rir após ser diagnosticada, subestimando meu inimigo, muito antes chorei como um bebê. Perguntei a Deus mil vezes por que eu, e depois dirigi a Ele minhas súplicas diante de minha pequenez. Enfim, todas as ruelas deste tortuoso caminho foram percorridas, cada qual a seu tempo e intensidade, até chegar a mais importante delas, ao meu sentir: a aceitação de que teria que reunir meus cacos e as forças das quais não me via possuidora para encarar minha exclusiva esperança, o tratamento. Alergias, metástase, novas cirurgias, colostomia... Enfim outras tantas situações fora do script enjôo-queda de cabelo tornariam mais árdua a luta, porém simultaneamente também vieram olhares solidários, abraços, palavras de pessoas inusitadas, orações, etc. Esta gama de bons sentimentos sob a batuta do meu médico e a benção de Deus redobrariam minhas forças e me conduziriam à cura. Depois de tudo que vivi, uma crença me tomou por inteira: é a de que a vida é feita de pequenos milagres diários, quase imperceptíveis por engolidos pela pressa cotidiana, cabendo a nós realizarmos nossa parcela para tornar possível a concretização. Então dediquemos à vida e ao nosso corpo a atenção devida.

Não desista de você jamais! Valéria Amarante 96


A toda equipe do Centron, em especial ao Dr. Tabak, Dra. Isabella, Dr. Luiz Gustavo e Sandra.

Hoje faz 4 anos que Diego está em remissão,

confesso que, como está chegando perto do fim, estou me sentindo como uma corredora que está correndo sua primeira maratona. Exausta e parece que o fim não chega nunca... Sei que só falta um ano para Diego ser considerado curado mas adoraria que hoje fosse 13 de agosto de 2015. Nesses 4 anos, passamos por muita coisa, uma das grandes alegrias foi a alta do Diego, dia 7 de fevereiro de 2011. Dia iluminado! Outra grande emoção foi levar Diego ao altar depois de toda esta confusão, isto aconteceu no ano passado dia 28 de setembro. No mais, que Deus continue iluminando essa equipe fantástica do Centron e a você, meu filho, abrace essa segunda chance que você recebeu e se cuida. Te amo. Mamãe. Beijo para todos,

Marta Rosas Mãe do Diego Rosas 97


Natal de 2009, muito cansaço.

Toda minha disposição se fora. Minhas filhas e netos abrindo presentes, luzes piscando, música Natalina e tudo que envolve um dia como este e eu só querendo uma cama. Início de janeiro, exatamente no dia 6, veio o diagnóstico de mieloma múltiplo. Após passar por médicos que contra indicavam transplante, devido minha idade e o estágio já avançado, minha filha médica não suportava a ideia de ficar sem lutar comigo. Foi aí que cheguei ao Dr. Daniel Tabak, ele então examinou e propôs uma quimioterapia durante 3 meses. Após isto nova biópsia e, estando tudo ok, partiria para um transplante autólogo. Não foi fácil, mais vi que tudo é possível. Dr. Daniel, além de competente, é humano e amigo. Quero agradecer todos do Centron, as enfermeiras, as meninas da recepção, a Sandra que viabiliza toda a parte burocrática, a psicóloga Claudia Waymberg, meu ombro amigo, a nutricionista Viviane me conduzindo até o transplante. Dra. Simone Maradei que me acompanhou no transplante e nos dias em que estive internada, Dr. Daniel só ele me acalmava, Dra. Marta minha visita da madrugada. A todos vocês minha eterna gratidão.

Já se vão 4 anos e eu comemorando a vida. Às minhas filhas Tata e Paula, aos meus netos Rafa, Digo, Mari e Malu, aos meus genros, Stanley e Marcelo, meu eterno carinho. Minha família e meus amigos, obrigado. Ao meu marido Paulo (Santinho) que o tempo todo cuidou de mim, a ele todo o meu amor. A Deus em primeiro lugar, por me dar essa chance de continuar nesse planeta.

Maria Lucia Manasfi 98


O diagnóstico

do mieloma múltiplo causou grande impacto. Acompanhado de minha mulher, Tania, tomei conhecimento da gravidade da doença. Instantes depois, contudo, sentia-me calmo, confiante. Vou lutar! Ficarei curado, saudável. Terei forças suficientes para superar tudo, todos os obstáculos, dificuldades, dúvidas. Somente a cura me interessava. Desde o início do tratamento, passando pelo transplante autólogo, até receber do Daniel a boa notícia de que atingira a remissão da doença, jamais duvidei de minha capacidade de superar, de vencer, de voltar à minha vida, pessoal e profissional, de forma plena, total, sem restrições. Acho que foi algo "automático". Hoje, mesmo reconhecendo que a atitude positiva contribui para a cura de uma doença grave e imprevisível como o mieloma múltiplo, tenho uma visão diferente da situação pela qual passei.

Nada foi "automático". Nunca tive certeza de nada. As dúvidas foram muitas (e ainda causam sobressaltos). Minha capacidade de superação não é inesgotável. Passado o período do tratamento, convenci-me de que para “vencer” um câncer é necessário mais do que uma atitude "positiva". Além da excelência do tratamento médico recebido do Daniel e da equipe do CENTRON, a presença da Família, de minha Mulher sobretudo, dos Amigos e, no meu caso particular, da inabalável fé católica, tudo contribuiu para a remissão da doença. Nada na vida é "automático". Na verdade, hoje, tenho a certeza que uma grande dificuldade, de qualquer natureza, só será superada com a participação daqueles que nos são próximos. Médicos, Família, Amigos. Com Fé. Nada somos, se não estamos perto dos que nos inspiram e orientam. Fiquei doente. Curei-me. E fiquei humilde.

Sergio Mazzillo 99


Sou uma pessoa espiritualista que ama a vida e as pessoas. Quando recebi o diagnóstico que estava com linfoma não-Hodgkin e que esse era um tipo raro e grave da doença, reagi com espanto, pois não me sentia espiritualmente doente. A partir desse diagnóstico, iniciei o tratamento e resolvi criar dentro de mim uma segunda pessoa, uma espécie de alter ego. Pensava: “meu corpo está doente e precisa de ajuda e força”.

Como sentia meu espírito saudável e forte, seria ele quem ajudaria meu corpo! Recebi, nesse período, cerca de cinco mil Johreis (tipo de oração messiânica para fortalecer o espírito). Além disso, recebi de amigos de TODAS as religiões muitas orações, as quais aceitava com muito carinho. Sempre acreditei muito em energia e no que a energia positiva das pessoas pode atrair e realizar! Acredito que foi através dessa ENERGIA que tive a grande permissão do universo de conhecer o meu médico, o Dr. Daniel Tabak. Muitas vezes, entrava no consultório dele ou ele me visitava no hospital e, com apenas um olhar, eu já me sentia fortalecida e curada; sentia que ele tinha uma ótima energia e que era capaz de intuir o melhor para mim. 100


Por isso, acredito também que ele atrai para sua equipe pessoas tão energeticamente positivas. São todos excelentes, sem exceção! Além da fé e do meu querido médico, minha família também foi fundamental para o meu processo de cura. Olhava para eles e todo o esforço que faziam e pensava: “não posso decepcioná-los”. Entendi que a caminhada para a cura é árdua, mas se tivermos nossa energia focada na VIDA, tudo conspirará a nosso favor! E, ainda durante esse processo, podemos aprender coisas divinas: APRENDI a aproveitar uma família renovada pela união e pelo amor. APRENDI a reconhecer um médico e equipe que se tornaram meus amigos. APRENDI a perceber que tenho amigos que não imaginava ter. E no fim, conheci o profundo significado do trecho da música do Gonzaguinha:

“Viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar a beleza de ser um eterno APRENDIZ”.

Maria de Fatima da Rocha Felicia

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“Esqueça a dor, o sofrimento e CONFIA!” “Tua ALEGRIA te curará!” Estas pequenas frases se completam e foram-me ditas por pessoas em situações completamente diferentes, o que aumenta minha crença de que não importa onde e como estivermos, mas sempre manteremos nossa existência, consciência e individualidade. Quando CONFIAMOS, abrimos uma porta de ALEGRIA no nosso corpo, criando um campo de energia positiva para que ele possa se recompor dos desgastes e procedimentos do nosso tratamento.

Busque sempre ser feliz e tire proveito de toda essa oportunidade de aprendizado que recebeu. Às vezes as dores são fortes, mas não deixe que o sofrimento e a angústia tomem conta de você. Nestes momentos é melhor se concentrar nessas palavras mágicas “Confia/Alegria” e respire.... respire lenta e profundamente. 102


Aproveite os momentos para se conhecer melhor. Nunca se aborreça. Perceba como as coisas boas te fazem bem e procure perceber também como evitar as coisas que te fazem mal. Veja a vida e tudo o que acontece nela como teus aliados, sempre nos ensinando muito. Gosto muito desta frase da música “Encontros e Despedidas” de Fernando Brant e Milton Nascimento:

“Chegar e partir são dois lados da mesma viagem.” Nascer e Morrer são duas estações da mesma viagem! Nascer... Viver... Morrer... Viver... Nascer... Viver... Morrer... Viver... O tempo é infinito. Somos eternos. Sempre haverá tempo para tudo. E este exato momento nessa nossa vida é parte fundamental para nossa viagem no caminho da evolução e do bem. Barra do Piraí, 28 de agosto de 2014.

Vilmar Vieira da Rosa

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Minha história no Centron

começou em 2011. Sempre ouvia histórias sobre acidentes, mortes trágicas, doenças graves. Embora tais fatos me mobilizassem, sempre tive a impressão de que estavam longe de mim, ou seja, aconteciam com os outros, como um filme triste a que se assiste, mas que se mantinham bem afastados de mim.

E, de repente, do nada, recebo o diagnóstico de que tenho “Síndrome Mielodisplásica grave”. Infelizmente, naquele momento, ainda não tinha encontrado o Centron. Foi como se o chão se abrisse e eu atordoada, percebendo de forma indesfrutável a fragilidade da minha existência. As orientações e informações médicas que recebi inicialmente eram para mim muito confusas e só contribuíram para piorar o meu estado físico e emocional. Nesta hora, o que mais se precisa, além do apoio de amigos e família, é de uma equipe médica que não só trate de nossa doença, mas que nos receba com carinho e compreensão. Médicos e outros profissionais pacientes que nos ouçam, que nos permitam chorar, que nos expliquem de forma clara o que temos e nos mostrem o caminho a seguir em nosso tratamento. 104


E foi aí, que Deus colocou, com certeza, o Centron no meu caminho e eu encontrei tudo que precisava para enfrentar um momento tão difícil.

Uma equipe coesa, que trabalha com seriedade e humanidade procurando tratar e apoiar os pacientes. No Centron a Dra. Simone e toda a equipe multidisciplinar me explicaram com clareza o que eu tinha, me fortaleceram para encarar a minha doença com otimismo e desde aquela época até hoje caminham junto comigo, me dando apoio e orientação. Para mim, o Centron é um exemplo da medicina verdadeira em que os pacientes são vistos em suas necessidades individuais e não como mais um no meio de tantos outros. Assim, só tenho agradecimentos a todos vocês do Centron. A presença de vocês na minha vida é de um valor inestimável. Obrigada!!

Tania Maria Santos Teixeira

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Há dias, durante uma consulta com Dr. Daniel Tabak, vi que em cima de sua mesa tinha um pequeno quadro com dizeres. Curiosa que sou, peguei o quadro e li em voz alta o texto que dizia:

“Never give up.”

Ele ouviu e disse: “este quadro foi feito para você”. O motivo disso é que, há mais de 15 anos, fui diagnosticada com um CA de mama, invasivo, infiltrante que já havia contaminado quase todos os linfononodos da axila. A doença parecia ser incurável, mas não para mim. Resolvi que venceria a guerra e parti para a batalha. Fui operada, mastectomia, quimioterapia, radioterapia, fisioterapia, reconstrução da mama, por cinco anos tomei Tamoxifen e depois Femara por mais três anos. Fiquei curada. Por mais de 10 anos levei uma vida absolutamente normal, cuidando da minha casa, trabalhando, viajando, enfim como se nada tivesse acontecido comigo. Mas depois de tantos anos o CA voltou com força. Resolvi novamente que ainda não seria dessa vez que iria perder a guerra. Novamente fiz quimioterapia, radioterapia, tomei medicamentos venosos e orais, coloquei cateter, tive uma trombose, retirei o cateter e depois o recoloquei. Tenho certeza que mais uma vez vou ganhar a guerra, pois os resultados dos últimos PetCts demonstraram que já estou livre da parte mais preocupante da doença e que o resto é o resto e estou convicta de que em pouco tempo estarei inteiramente curada.

Maria Lúcia 106


Em cinco anos,

o câncer atingiu três pessoas de nossa família. Ele veio sorrateiro e nos entristeceu. Quase nos consumiu.. Primeiro eu, depois minha mãe e depois meu “paidastro”. Eu e minha mãe fomos abençoadas com a cura. Mas, ele não conseguiu. Sofreu o quanto pôde. A cruz dele foi pesada demais e ele nos deixou. Ficou a saudade, o respeito, o amor por aquele que não era meu pai de sangue, mas foi meu pai enquanto deu.. Nossa família foi feliz ao lado dele. Sua alegria era contagiante e

me perguntei porquê Deus o levou.

Acredito que cada um tenha seu tempo certo de ficar por aqui e o tempo dele acabou cedo demais. Mas viver junto dele foi um presente de Deus e somos gratos por isso. O Senhor nos emprestou e chegou a hora de levá-lo pra um lugar onde não mais existe dor e nem sofrimento. Nossos encontros de família nunca mais serão os mesmos, mas nós precisamos seguir adiante. Fica bem daí, que nós ficamos daqui, lembrando das tuas risadas, tuas brincadeiras e piadas, que mesmo sem graça, nós ríamos mesmo assim. Nossos agradecimentos sem fim à Centron, em especial aos Drs. Luiz Gustavo Lombardo Torres, Simone Cunha Maradei Pereira e Bruno Nahoun. E às enfermeiras: Gisela Brasileiro, Fernanda Lemos, Debora Ramos e Simone Diniz. Que o Senhor abençoe sempre vocês na profissão abençoada que escolheram. Com amor e agradecimento pela vida que tivemos e temos,

Val Leaubon

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Agradecimento, coragem, esperança... Quando Bete me ligou e perguntou se poderia escrever alguma coisa para o segundo livro “Histórias Contadas... Celebrando e Aprendendo com o Câncer”, me perguntei o que posso escrever sem ser repetitiva...difícil pensei, mas como ficar calada diante de uma celebração tão importante. Liguei pra Alice, minha filha... ela certamente tem algo a dizer e na hora aceitou escrever... mesmo com o curto espaço de tempo. Resolvi ser verdadeira e sem muito tempo para escrever algo mais elaborado, deixei vir sensações... imagens... perguntas... dúvidas; aí veio uma lembrança da sala de quimioterapia (lugar onde passamos algumas horas de tratamento) e quando vinham as enfermeiras mais próximas de mim (Debora e Fernanda), trazendo aquela quantidade enorme de medicamentos eu dizia “que seja bem vindo esse remédio alquímico”... isso já tornava aquele momento mais leve, uma maneira que encontrei de manipular energeticamente aquilo TUDO. 108


Diante de tanta química necessária para me curar, mas que também trazia uma carga muito tóxica para meu organismo, comecei então a levar algumas garrafas de água mineral e em cada gole pensava se ÁGUA FAZ TÃO BEM FORA (lava... limpa... refresca...) IMAGINA POR DENTRO. Assim ia participando a minha maneira do meu tratamento: comecei a fazer Yoga... RESPIRAR... (para não pirar).

Agradecia todos os dias o fato de poder me tratar e manter viva minha esperança de cura. Tem uma frase de Santo Agostinho que diz: “A esperança tem duas filhas lindas, a Indignação e a Coragem; a Indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão e a Coragem, a mudá-las.” Fazer pequenas coisas, possíveis ao nosso alcance, aceitar os limites impostos pela doença e alimentar bem o corpo, (uma boa nutricionista ajuda e muito) e também a esperança e a coragem, mantendo-as ativas... aliadas companheiras de todas as horas. Repetia mantras... fazia orações... agradecia... tentava transformar a dor em amor, em força, em atitude... AGRADEÇO minha família por TUDO... não foi fácil nossa luta...ELES estavam lá todos os dias... todas as horas... todos os minutos!!! AGRADEÇO ao DR. DANIEL, que transformou meu sofrimento em ESPERANÇA... E CURA, a equipe do CENTRON que todos os anos fazem essa festa de celebração da vida... Essa equipe que com seriedade CUIDA... sem perder a LEVEZA! QUE NUNCA MORRA A ESPERANÇA... QUE NUNCA NOS FALTE A CORAGEM...

OBRIGADA...OBRIGADA...OBRIGADA!!! Conceição Carneiro (6 anos de transplante de medula óssea)

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Quando se tem 18 anos

a gente pensa que a vida será bem daquele jeito que imaginamos. Pra mim não era diferente, eu me via numa redação de jornal correndo de um lado pro outro, mas não tinha ideia do rumo que minha vida tomaria naquele momento. Estava vivendo plenamente essa fase quando minha super mãe faz-tudo-e-mais-um-pouco de repente acordou se sentindo mal e em poucos dias mal caminhava. A vida lhe obrigara a pisar no freio em meio a tantos projetos e um filho de apenas 3 anos. Talvez o pior estágio de sua doença não tenha sido os dias mais difíceis no Centron ou dentro da clínica São Vicente, mas seu primeiro ano que ficou marcado por uma série de médicos irresponsáveis e tratamentos no escuro. Descobri que não há nada mais frustrante que a falta de um diagnóstico. Foi assim que minha mãe se entupiu de corticoide e por pouco não descobriu o que realmente tinha - um linfoma bastante complicado (não-Hodgkin das células T-periférico). A notícia foi um baque para todos nós e para mim foi um soco no estômago. Não consigo explicar como foi dormir e acordar todos os dias pensando que minha mãe poderia não estar mais ali dentro de alguns anos, ou pior, meses. 110


Nessa hora buscamos informação em todos os lugares e nos agarramos a qualquer história com final feliz, mas aprendi que o Google pode ser bem perigoso - fique longe dele ou seja ponderado.

O medo do desconhecido

, de perder minha mãe e virar mãe (do meu irmãozinho), me tirou muitas noites de sono e rondava meus pensamentos a quase todo momento. Qualquer momento de prazer com os amigos passa a ser também uma espécie de motivo de culpa e a maturidade vem a galopes e arromba sua porta se impondo de uma forma que você jamais esperava. Ir para a faculdade era como estar sóbrio numa festa onde há apenas bêbados e drogados e nos sentimos solitários naquele sentimento que ninguém compartilha. Mas com o tempo a gente aprende a se concentrar nas coisas boas e pensar positivo para lidar com a dor e o sofrimento daquela pessoa que você via como uma fortaleza até tão pouco tempo. Essa desconstrução da minha imagem de mãe foi exatamente o que nos uniu mais do que nunca. Ela estava ali completamente vulnerável e era minha vez de ser forte por ela. Perdi a conta de quantas pessoas eu mesma tive que consolar ao telefone. É nessas horas que a gente percebe que a pena não ajuda em nada e rezamos para que algumas pessoas nem apareçam mais. Um sentimento um pouco egoísta, mas nessas horas os amigos semi-distantes são os mais difíceis. As pessoas passam a telefonar por "obrigação" quando tudo que queremos é paz e sossego. Não se pode culpar ninguém, mas a gente se cansa das boas intenções. Pelo lado bom, acho que minha mãe descobriu que tinha uma penca de amigos de verdade. Aqueles que levavam um sorriso para o hospital e deitavam ali com ela só para ver um filme sem dizer muita coisa. Talvez tenha sido nesse momento que ela descobriu o

quanto era amada e querida

e isso certamente lhe deu forças para continuar na batalha mesmo com tantas dificuldades. 111


Tinha dias que eu queria trocar de lugar com ela, só para que ela pudesse descansar um pouco e depois retomar a luta. É frustrante não poder fazer nada além de uma massagem no pé ou contar uma piada para melhorar o humor. Mas estar por perto foi fundamental, isso é certo. Nos dias mais difíceis a gente tem que dar um abraço e dizer que vai ficar tudo bem, mesmo sem acreditar no que dizemos. Foram muitos os momentos em que ficávamos carentes de esperança e eu tinha vontade de ligar para o Dr. Daniel Tabak e realimentar os ânimos. Agradeço todos os dias por ter tido um bom médico e uma equipe tão generosa cuidando dela. A confiança que ela teve nele deve ter tido um papel mais importante do que podemos imaginar para sua cura. Mas minha mãe superou essa porque teve muita vontade de viver e meu irmão talvez tenha sido sua maior motivação. A verdade é que

estar perto da morte também a deixou mais perto da vida e mais preparada para ela. A vida lhe sorriu e ela sorriu de volta. O que posso afirmar é que saímos todos mais fortes dessa história e eu ganhei uma mãe diferente, mais evoluída, mais compreensiva, mais durona do que antes. E agora é como se tivéssemos um segredo só nosso, um segredo que nos uniu para sempre naquele lugar que só a gente conhece.

Alice Pereira Filha da Conceição Carneiro

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Quando se recebe

o “fatal” diagnóstico,

só nos vem um pensamento: VOU MORRER. Aí vem o desespero, a dor, o medo. O que vai ser dos filhos, da família, de todos que de alguma forma depende de nós, enfim, um turbilhão de pensamentos ruins. Aí a gente respira e pensa: MORRER TODOS NÓS VAMOS, de doença, acidente, velhice, seja lá como for essa é a ÚNICA certeza que temos, só não sabemos a ordem e o critério do “cara lá de cima”. Então pensei: de alguma forma DEUS me deu um aviso de que A VIDA É CURTA, então eu não posso desperdiçar o “pouco” de vida que me resta lamentando, resolvi lutar pela minha vida e agradecer, e agradecer, e agradecer. Sim, fiquei doente, fato, mas de brinde ganhei uma equipe ESPETACULAR, um tratamento totalmente humanizado, amigos maravilhosos, paparicos, mimos de tudo quanto é jeito.

Claro que enfrentar a doença não é fácil, a gente sabe que CABELO CRESCE, mas enquanto isso não acontece, não é nada agradável ver aquele rosto pálido sem a nossa 113


“moldura” principal, afinal somos vaidosas(os), quem não gosta de uma boa aparência, fora todos os efeitos colaterais, que quando vem, baixam o astral mesmo, não tem jeito. Mas, sempre tem uma trégua, e é aí que é a hora de aproveitar, brincar, dançar, viajar, curtir, enfim ir à luta. E lutar é o que temos que fazer. Mas lutar CONTRA A DOENÇA, e não com quem nos quer bem, JAMAIS desconte seus problemas em quem não tem culpa, não menospreze o carinho e o cuidado que lhe é oferecido, afinal o sofrimento é de todos, e como eu falei antes, agradeça, sim, pois sempre temos que ver o lado positivo: temos tratamento, uma boa equipe médica, família, amigos e acima de tudo muita fé e esperança.

A vida é curta, é imprevisível, mas acima de tudo é fantástica. Então, vivamos intensamente sem nunca perder a fé. O SENHOR É MEU PASTOR E NADA ME FALTARÁ.

Luciana Barbosa Ramos

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Meu pai, meu ídolo,

um exemplo de ser humano, sempre pronto para ajudar a todos, sem exceção, um coração bondoso e somente tinha um defeito: não sabia dizer a palavra NÃO, especialmente quando se referia a mim e ao meu filho Alan. Infelizmente, em setembro de 2012, apareceu uma espécie de espinha atrás da orelha esquerda. Bem, uma pequena espinha que nos primeiros meses não foi dada a grande importância. Ele ia no dermatologista e depois em outros e mais outros, e todos diziam que não era nada de grave, e passavam pomadas, cremes para passar no local da espinha. Com o passar dos meses, essa espinha não saía e somente crescia e assim os médicos sugeriram a retirada da mesma, mas passava meses e lá vinha a espinha novamente. Então começamos a ficar preocupados e resolvemos ir no mestre, Dr. Daniel Tabak, um homem não somente sábio, inteligente, mas acima de tudo generoso, solidário, humano, sempre pronto a nos atender a qualquer hora do dia ou da noite e sempre com total paciência para nos responder a todas as perguntas, desde as mais absurdas. O Dr. Daniel passou alguns exames e detectou a gravidade que a doença já estava e nos orientou procurar um especialista de cabeça e pescoço para a cirurgia. 115


Logo foi feito a cirurgia, com a retirada de praticamente toda a orelha somente deixando um pequeno pedaço para apoiar os óculos. Foi um momento muito doloroso para todos nós, especialmente para o meu pai, que era um homem muito vaidoso e bonito que chamava a atenção pelos seus belos olhos verdes. Após a cirurgia meu pai ficou com sequelas (paralisia facial da parte esquerda deixando ele com a boca torta e a vista deformada).

Meu pai tinha muita vontade de viver

não somente por ele, mas pensava muito na família, e sabia que nós (minha mãe, eu e meu filho) precisávamos dele aqui na terra e isso fez ele querer viver e lutar. Até dizíamos para ele que ele era um grande guerreiro pois passou por 101 sessões de tratamento hiperbárico, 37 sessões de radioterapia, quimioterapia e novamente precisou fazer outra quimioterapia. Mas foi aí que, na 4ª sessão, ele começou a se sentir mais fraco, cansado, emagreceu muito e infelizmente, após essa batalha de quase 2 anos, após um exame, foi detectado que o tumor voltou e fomos informados pelo próprio Dr. Daniel da gravidade da doença e que infelizmente não tinha mais nada a fazer e que agora o que iremos tratar era da dor, somente da dor o que ele não poderia sentir. Hoje, setembro de 2014, meu pai está sob medicamentos de morfina, e a cada dia que passa sinto que ele fica mais fora dele, e dos remédios. Para mim está sendo muito triste ver o meu pai da maneira que está, já chorei muito até que me conscientizei que não iria resolver.

Sei que fiz tudo o que podia fazer pelo meu pai, faltando trabalho e etc... E o que me tranquiliza é que sei que meu pai está nas mãos do melhor oncologista do mundo. Me conforta saber que temos o grande mestre, Tabak, sempre por perto e o mais incrível é que a cada consulta, mesmo sabendo da real situação do meu pai, o Dr. Tabak sempre tem uma palavra, não de médico, mas de amigo, que nos deixa sair de seu 116


consultório confortáveis e tranquilos. Quero agradecer a toda a equipe desde a funcionária da limpeza até o mestre Tabak

pelo carinho e dedicação de toda essa equipe que nos conforta muito. Dr. Daniel Tabak, mesmo com a real situação do meu pai, agradeço ao Sr. por tudo e sei que graças ao Sr. meu pai ainda tem um tempo de vida aqui conosco e peço a D"us que faça o melhor pelo meu pai, pois terei o meu pai o resto dos meus dias no meu coração e sempre lembrarei dele como um grande guerreiro e um pai que será inesquecível. Não tem como esquecê-lo nem por um dia.

Pai te amo e vou te amar sempre. Beijos da sua filha que te ama mais que a si própria.

Sheila Balaciano filha de Moyses Balaciano (paciente)

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Minha vida estava muito corrida ,

sempre pensava em dar passos largos para chegar o mais rápido possível em minhas metas de vida e em seguida concluí-las. Não olhava para o lado, não pensava na minha própria saúde. Ou seja, não pensava em mim mesmo. Considero minha vida como se fosse uma escada, onde estou subindo e subindo os degraus. Um certo dia, aquela enorme vontade de subir o mais rápido possível, fez com que pisasse errado, embaralhado as pernas e assim iniciou minha queda até o chão. Chegando no chão tive uma grande força (familiares, amigos, o Dr. Daniel Tabak e essa equipe maravilhosa da Centron) que pegou na minha mão, me levantou e disse: - Vamos fazer você melhorar, pensar sempre...sempre positivo, amanhã o dia será melhor que o de hoje e assim sucessivamente. Então eles me ajudaram, me curei de todos os ferimentos (tumor, perda de cabelo, magreza...) e voltei a subir a escada. É, tive dificuldades, necessitei de vários apoios para me manter em pé, equilibrado e sempre pensando que amanhã seria melhor que hoje. Hoje, voltei a trabalhar, larguei aqueles apoios que tinha para auxiliar minha caminhada e estou com a saúde normal. 118


Olho para trás e vejo TODOS aqueles que me ajudaram, no

momento mais difícil da minha vida.

Quando olho para frente, vejo novamente aquelas pessoas que me ajudaram, olhando para mim e subindo a escada comigo, acompanhando como estou e sempre me motivando para não parar de subir essa escada e da melhor forma possível...

"Quais pensamentos que você está alimentando? Alimente apenas aqueles que você quer que cresçam e produzam frutos em sua vida. Elimine da sua mente os pensamentos trágicos e negativos. Aquilo que não alimentamos, não cresce" Carlos Hilsdorf

Pedro Macedo Carneiro 119


CÂNCER?!! COMO? DÁ PRA REPETIR? Essa notícia sempre cai como uma pedra em cima de nossa alma... É somente nessas horas que a gente entende a fragilidade e a preciosidade que é a vida. Essa notícia não tem hora pra chegar. E chega sempre na hora errada. Para mim a doença apareceu no momento em que eu estava lidando com muitos outros problemas na minha vida. Problemas que nunca tinha enfrentado antes. O mundo parecia ter virado de cabeça pra baixo, tudo ao mesmo tempo. Talvez seja por isso que hoje, quando me lembro dessa fase, tudo me parece parte de um sonho... Eu ia em busca de cirurgião, de oncologista, mas não ouvia, nem guardava na memória o que eles me diziam. Minha terapeuta me sugeriu então que não fosse mais sozinha falar com eles. Acompanhada do meu marido, a coisa funcionou melhor. Apesar de que ele também parecia um zumbi nessas consultas. Depois das visitas, juntávamos os cacos 120


de informações coletadas e ajudávamos um ao outro a entender o que estava acontecendo.

Não conhecia quase nada sobre câncer de mama e tinha que tomar várias decisões ao mesmo tempo, sem saber por onde começar. Precisava encontrar o médico certo para fazer a operação e retirar o câncer. Decidir se faria a reconstrução durante a operação, ou depois. E o que mais me preocupava: como seria o tratamento? Será que ele me permitiria continuar a fazer outras coisas? E como eu iria cuidar do meu filho pequeno? Em meio a esse turbilhão de dúvidas, angústia e perguntas, começaram a surgir pessoas boas, algumas que nem conhecia, mas que vinham para me ajudar. Encontrei várias. E o mais importante, aprendi a pedir ajuda... Como meu filho vivenciou o meu câncer ? Ele sofreu muito, mas aos poucos conseguiu verbalizar o que sentia, principalmente o medo. Meu marido? Parecia estar insensível. Hoje sei que ele estava se protegendo para não sofrer demais. Afinal eu precisava de alguém forte ao meu lado. Foi assim que ele se manteve a postos. A pior coisa do câncer? O tratamento, os enjoos e as dores pós operatórias. Talvez por isso, achei melhor não fazer a reconstrução logo, eu precisava tempo para pensar e me preparar para esse novo sofrimento. Também foi estranho dizer às pessoas que eu estava doente de câncer. Qual foi a melhor parte? Ficar careca e não ter vergonha disso. Deixei de me preocupar tanto com a opinião alheia. Quando fiquei careca, não quis usar peruca, no máximo um chapéu. Ainda tenho medo que ele volte. Existe sempre uma chance. Mas não vou perder tempo pensando nisso. Prefiro fazer o que o meu médico me recomenda e tento não ter medo. Se conselho fosse bom não se dava, se vendia. Ainda assim gostaria de dizer aos que ainda vão embarcar nessa aventura: é assustador, mas vocês não estarão sós... Olhe a sua volta e encontrará alguém que vai te dizer: “como posso te ajudar”? E gostaria também de dizer 121


aos novatos: teria sido bom ter ouvido outras pessoas com o mesmo problema. Eu devia ter participado de um grupo de apoio a pessoas com câncer.

No que o câncer me mudou como pessoa? Passei a me exigir menos. Consegui me perdoar de muitas culpas. Passei a exigir menos perfeição nas coisas. Foram grandes mudanças, que não pararam. Sei que ainda preciso simplificar muito a minha vida. Tenho que buscar mais conforto e satisfação no dia a dia. O câncer fez com que eu me reinventasse.

Se eu mudei para melhor? Mudei sim. Gaby Atherton

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equipe Alberto Wasserman Berta Santos Bete Wasserman Bruno de Freitas Bruno Nahoum Claudia Waymberg Daniel Tabak Danilo Tavares Debora Ramos Elaine Rocha Eli dos Santos Elisabete Nobrega Fatima Barbosa Fernanda Estrela Fernanda Lemos Gabriela Nogueira Gilson Ferreira Gisela Brasileiro Isabela Pereira Janaina Leaubon Jane Marques

Jaqueline Geraldo Juca Teixeira Keyla Nodari Luanna Araujo Luciene Souza Luis Otávio Olivatto Luiz Gustavo Torres Marcelo Nazar Marcia Simões Maria de Lourdes Marta Collares Michel Malta Monica Rodrigues Paula Cascais Sandra Falcão Simone Diniz Simone Maciel Simone Maradei Vitor Ramos Viviana Oliveira Wilian de Oliveira 124


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