Edição 4 - Julho/2015
18 ANOS DE APOIO À JUVENTUDE
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nualmente, celebramos Santo Inácio de Loyola – fundador da Companhia de Jesus – no Dia 31 de julho, em conjunto com diferentes congregações religiosas cujo carisma tem inspiração inaciana, leigos e demais parceiros à serviço da missão. E, neste 31 de julho de 2015, muitos foram os motivos para agradecer e festejar. No último dia 26, o projeto social Centro Santa Fé completou 18 anos de vida. Foi ao lado de lideranças comunitárias da região que alguns jesuítas iniciaram uma significativa missão junto à juventude da Região Brasilândia (contemplada por Perus, Morro Doce e Anhanguera, Jardim Rincão, entre outros bairros).
Nas páginas desta edição especial, a 4ª de nosso informativo interno “Semeando Informações”, queremos recordar trechos do caminho percorrido, momentos especiais vividos e também falar de esperança, dos novos sonhos a serem alcançados e dos desafios que ainda virão e que somos chamados a ultrapassar. Pedimos, por intercessão de Santo Inácio, coragem e força para prosseguir transformando vidas e alimentando esperanças. Desejamos a todos e todas boa leitura!
Edição de nº 4 Julho/2015 Diretor: Pe. José Maria de Andrade Couto Coordenação Administrativa: Adriana Torreão Jornalista responsável: Thaís Santana Diagramação: Jéferson Antunes
Comemoramos hoje 18 anos de uma linda trajetória! Recordamos as inúmeras lutas, direitos conquistados e barreiras ultrapassadas. Neste espírito, agradecemos e parabenizamos a todos os profissionais que por aqui passaram e nos ajudaram a construir cada pedaço desta grande Obra. Foi por meio dos sonhos e realizações de todos que aqui se fizeram e fazem presentes que chegamos ao lugar que hoje ocupamos. Sabemos que, sem o esforço coletivo, nada disso seria possível.
Expediente
Fotografia: Thaís Santana Colaboração: Alcilene Nery, Maria Madalena Alves e Amanda Ribeiro
Pe. José Maria de Andrade Couto
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CENTRO SANTA FÉ CELEBRA 18 ANOS DE HISTÓRIA
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a noite de 31 de Julho, o projeto Centro Santa Fé festejou junto a colaboradores, padres jesuítas, ex-educandos, parceiros e amigos seus 18 anos de atuação na região de Perus e Anhanguera. Durante jantar comemorativo, Maria Madalena Alves, coordenadora do projeto social, relembrou os principais momentos desses longos anos de trabalho. Até 2011, o Centro Santa Fé tinha como foco a preparação de jovens para a vida universitária. Foi à partir de 2012 que o trabalho ganhou uma nova roupagem. Atualmente, são atendidas, em programas socioeducativos, aproximadamente 470 pessoas, entre adolescentes e suas famílias. “Nesta nova fase, além de realizar ações voltadas à juventude, nos preocupamos em desenvolver atividades junto a educadores e instituições da região”, explica a coordenadora. Somente em 2014, passaram pelo Centro Santa Fé profissionais de 17 equipamentos socioassistencias diferentes, que participaram do “Encontro de Práticas Socioculturais com Crianças e Adolescentes” – organizado em parceria com o Núcleo Coração Materno. O festejo contou ainda com uma missa em homenagem ao Dia de Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus. A celebração (realizada pelos padres Carlos Fritzen, ex-diretor da Obra Centro Pastoral Santa Fé e vice-presidente da Companhia de Jesus no Brasil, e José Maria Couto, atual diretor desta instituição) foi um dos
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momentos mais marcantes da noite. Na ocasião, Pe. Carlos ressaltou a importância de comemorarmos 18 anos de história na mesma data em que Santo Inácio é celebrado. “Nesta noite, damos graças por tudo que foi construído até aqui. Se hoje festejamos essas tantas conquistas, é somente porque no passado Inácio de Loyola iniciou sua peregrinação”. “De 1997 até 2015, mais de 15 mil adolescentes e jovens passaram por esta instituição. Hoje foi aquele momento de perceber o quanto nosso trabalho fez diferença na vida de cada um. É ótimo vê-los formados, construindo suas carreiras e constituindo suas próprias famílias”, compartilha Maria Madalena. O encontro da última sexta-feira foi realizado em parceria com o Espaço Anhanguera, uma vez que todos os presentes conheceram o trabalho de organização de eventos corporativos, sociais e religiosos que hoje é feito por aqui. O Centro Santa Fé agradece a presença de tantas pessoas queridas nesta data tão significativa para todos nós
Mais fotos: Você poderá conferir o álbum completo nas últimas páginas desta edição
Há 18 anos Resgatando História, Fortalecendo Vínculos e Construindo Cidadania No ano de 2015, a Companhia de Jesus atuante no Brasil inicia uma nova fase apostólica. Atualmente, como nos tempos de Manuel de Nóbrega e José de Anchieta, tornamo-nos um “só corpo”. Neste contexto, todas as obras integrantes desta Ordem religiosa fazem agora parte da Província dos Jesuítas do Brasil (BRA) e caminham em prol de objetivos comuns. Dentro deste recente formato de organização, o Apostolado Social da Companhia torna-se prioridade, ressaltando a importância de se superarem os abismo gerados pela desigualdade socioeconômica e suas graves implicações sociais, culturais e ambientais Mas não é de hoje que as ações sociais desenvolvidas por jesuítas são destaque entre os tantos trabalhos realizados. Para além do campo da educação, da pesquisa e da espiritualidade, a Companhia de Jesus sempre foi conhecida e reconhecida por iniciativas importantes e bem-sucedidas no campo social. Mais de 63 mil pessoas, sobretudo adolescentes e jovens, foram beneficiadas por iniciativas socioeducativas. A transformação social sempre foi a finalidade dos projetos idealizados por jesuítas em todo o Brasil. E, nos últimos anos, o Centro Santa Fé fez parte dessas várias conquistas sociais dentro da Companhia. Foi por meio deste projeto que inúmeros jovens modificaram suas vidas.
Assim, neste especial, vamos reviver os pontos fundamentais de nossa trajetória. A presença dos Jesuítas na Região
Foi na década de 1960, que a Companhia de Jesus iniciou sua atuação nos bairros de Perus e Anhanguera. Neste período, no local onde hoje é o Centro Santa Fé, funcionava a Faculdade de
Filosofia Nossa Senhora Medianeira (FASP), voltada exclusi-
vamente para jovens que desejam ingressar à congregação jesuíta. Vinda de Nova Friburgo para São Paulo, a faculdade existiu em nossos espaços até 1972 – ano em que foi transferida para o Rio de Janeiro e, posteriormente, para a cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Início da Atuação na Comunidade A luta pela efetivação da cidadania plena e garantia de direitos à população sempre foi o desejo da Companhia para esta região. Ainda nos anos 60, começou a ser estruturado o trabalho junto aos moradores do entorno (uma vez que
os estudantes da FASP também participavam da rotina da comunidade, realizando atividades pastorais e incentivando o engajamento da população na vida pública).
Durante esta primeira fase, eram oferecidos gratuitamente aos habitantes do entorno atendimentos médico e odontológico. O trabalho contava com o apoio de ex-alunos do colégio São Luís, parceiros e integrantes da Companhia de Jesus, como Irmão Brandão e Irmão Miranda, que tiveram grande participação nesse processo. A Chegada das Irmãs de Santo André e o Trabalho Junto à Juventude Foi somente três décadas adiante que as ações direcionadas à juventude das comunidades vizinhas ganharam força. No ano de 1994, Neide Salomão e Hetty Geuer, Irmãs de Santo André, chegaram à instituição para, à partir da experiência no atedimento à jovens, ofertarem oficinas de artes, culinária e produção de velas – marcando o início do trabalho artístico e cultural pelo qual o Centro Santa Fé é reconhecido até hoje.
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Quando Tudo Começou: O Nascimento do Centro Santa Fé
A mobilização de mães em torno de questões educacionais sempre foi muito presente nos movimentos sociais. E, como parte dessa movimentação, foi construído o Centro Santa Fé. Sensibilizados pela Campanha da Fraternidade da Igreja Católica de 1997, que tinha como tema “Cristo Liberta de Todas as Prisões”, algumas dezenas de mães e pais resolveram juntar forças para gerar um cursinho pré-vestibular destinado aos estudantes egressos do ensino médio. Entre elas estavam Magda Marques, educadora social do Centro Santa Fé, e a coordenadora Maria Madalena Alves. No período, quando as atuais políticas afirmativas ainda não estavam em curso, a maioria dos jovens de escolas municipais e estaduais não davam continuidade aos estudos após concluírem o ensino médio, em grande parte devido à falta de condições de competir com o estudante egresso do sistema particular. Então, mesmo sem grandes instrumentos, mães e pais tornaram-se professores do cursinho, buscando apoiar e inspirar os jovens a desbravarem outros caminhos.
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Em 1997, tendo em vista o esforço dessas mulheres, que solicitaram uma sala para realização de grupos de estudos no período noturno, a Companhia de Jesus passou a apoiar a iniciativa. No inicío, os padres que aqui residiam apoivam as ações voluntariamente, ministrando aulas e conduzindo discussões acerca de temas da atualidade. Foi então que, em 1998, com o êxito do pré-universitário, a Companhia de Jesus assumiu integralmente o projeto, acrescentando à gama de atividades, oficinas de arte, cultura, informática e lazer, além de telecurso para adultos.
sociais e suas reivindicações era ponto forte no planejamento das ações pedagógicas. Como parte do contato com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), os estudantes eram convidados a passar alguns dias em acampamentos do movimento, sendo apresentados às questões da luta agrária e desconstruindo os estereótipos sobre o MST.
Junto dos Movimentos Sociais
As ações não tinham apenas o vestibular como horizonte. Inspirados no carisma inaciano e na pedagogia popular de Paulo Freire, os educadores realizavam junto aos estudantes rodas de conversa sobre as dificuldades e necessidades do território e apresentavam filmes que fomentassem discussões referentes aos temas aprendidos. A integração dos educandos e educandas com os movimentos
O grande objetivo, desde o início do trabalho, era o favorecimento das comunidades vizinhas. Na região de Perus e Anhanguera, o Centro Santa Fé foi responsável, juntamente com a Associação de Moradores do Recanto dos Humildes, pela construção do PSF – Programa de Saúde da Família Recanto dos Humildes. Todas essas ações, além de prepararem a juventude para o vestibular, possibilitavam a aproximação entre o público atendido e as organizações sociais locais.
Trilha – O Caminho que o Povo Faz
A partir da iniciativa, no ano de 2002, diversos jovens conseguiram ingressar na faculdade pública e o projeto prosseguiu também com bolsas de estudo. E, após seguirem para as universidades, os educandos recebiam orientação em suas trajetórias acadêmicas, participando dos encontros do Grupo Trilha.
de atuação, os cursos pré-vestibulares foram extintos, mas continuou a necessidade de trabalhar a cidadania e autonomia dos adolescentes e jovens e intensificou-se o fortalecimento dos vínculos e o cuidado com as famílias. Com essa perspectiva, o projeto prossegue oferecendo atividades a adolescentes de 12 a 18 anos que estejam em condições de vulnerabilidade social. As atividades acontecem de segunda a sexta-feira, como complementação escolar dos meninos e meninas participantes. As ações são desenvolvidas por meio de oficinas temáticas divididas em três núcleos: “Educação e Cidadania”, “Cultura Digital”e “Arte e Cultura”.
Sonhando Juntos
Sabemos que o trabalho realizado até aqui foi de suma importância para os tantos educandos e educandas que passaram por este espaço. Esta Obra sempre priorizou formar pessoas para a construção de um amanhã melhor, é nisso que acreditamos! Chegamos até aqui e queremos ir muito mais longe.
Reestruturação do Trabalho
Em meados dos anos 2000, no entanto, surgem políticas como o Prouni (Programa Universidade para Todos), incentivando a entrada de pessoas de baixa renda na universidade. Com a evolução das políticas de assistência social, em 2012, o projeto mudou seu foco
São trabalhadas diversas linguagens artísticas, como a dança, a capoeira, a música e a cultura popular, além de oficinas de educação ambiental, convivência esportiva, entre outras . Aos mais velhos (de 15 a 18 anos), é oferecida a orientação profissional, com atividades que estimulam a formação para o mundo do trabalho.
Compreendemos também que impactar positivamente a sociedade é tarefa lenta, gradativa e constante, que de tempos em tempos precisa ser reinventada de acordo com as mudanças da conjuntura social. É por isso que hoje, assim como lá em 1997, convidamos: Vamos sonhar juntos?
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Jesuítas que passaram por aqui nesses 18 anos Pe. Bahige Schahin Coordenação do Projeto Social
Pe. Carlos Fritzen Coordenação do Projeto Social e Direção da Obra
Ir. Neilton Veloso (em memória) Coordenação do Projeto Social
Pe. José dos Passos Coordenação do Projeto Social
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Pe. José Paulino Martins Coordenação do Projeto Social
Pe. Miguel Elosua Rojo Direção da Obra
Pe. Yu Chang Son Direção da Obra
Pe. José Maria de Andrade Couto Direção da Obra
As Mudanças Recentes na Prática da Assistência Social no Brasil
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ostaria de agradecer, em nome do Centro Administrativo São Paulo, a Obra Centro Pastoral Santa Fé pelo gentil convite de participarmos deste momento especial em que celebramos 18 anos de presença jesuíta no Distrito Anhanguera. A ocasião nos chama a refletir sobre a evolução das práticas socioassistencias no Brasil. Quando falamos em ações de “impacto social”, as pessoas têm uma vaga ideia do que seja o “terceiro setor”. Ainda há quem o associe somente a obras religiosas ou caridade, não entendendo a real contribuição desta área para a sociedade. Tradução do termo “third sector”, que nos Estados Unidos é usado para categorizar organizações sem fins lucrativos ou setor voluntário, o nome “terceiro setor” ganhou notoriedade na década de 70, sendo associado ao conjunto de organizações não lucrativas. Nesse contexto, a Associação Nóbrega de Educação e Assistência Social (ANEAS) integra o chamado terceiro setor brasileiro. É importante ressaltar que a assistência social só começou a ser pensada como política pública (sendo dever o Estado e direito do cidadão) há 27 anos. Sua regulamentação ocorreu em 1993, com a implementação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). Desde então, foram conquistados avanços significativos para a área, como a Política Nacional de Assis-
tência Social (1998) e a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais (2009). Em um quadro geral, as entidades foram obrigadas a se adequar às exigências do setor, buscando um reordenamento que fosse capaz de garantir, ao mesmo tempo, o cumprimento da Missão Institucional e as exigências da lei. A ANEAS e o Centro Santa Fé não estão alheios a essa movimentação nacional, sendo assim, a Companhia de Jesus – dialogando com o cenário brasileiro contemporâneo – deu início, à partir de 2012, a um grande processo de reflexão e realinhamento das práticas até então desenvolvidas pela Ação Social. Vale ressaltar que, para a efetivação plena do serviço social, é necessário o engajamento de profissionais que apresentem consci-
ência crítica e política e, a cada ação junto à população atendida, reafirmem seu compromisso ético. O assistente social é um dos atores principais na busca por uma sociedade emancipada, devendo este romper com os paradigmas de filantropia e caridade instituídos ao longo da história. Hoje, inúmeras conquistas ainda estão sendo somadas, porém há muitos desafios a serem enfrentados e superados. Por isso, é necessário sempre refletir e dialogar com a práxis – essa só terá sentido se estiver respondendo às demandas de usuários, famílias e comunidade e, neste contexto, se estiver dentro da estratégia de atuação da Companhia de Jesus, contribuindo significativamente para a transformação social
Tatiane Sant’Ana
Coordenadora de Assistência Social da Associação Nóbrega de Educação e Assistência Social - ANEAS
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Confira nosso รกlbum:
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