Domínio FEI 14: Educação ganha status internacional

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DO MÍNIO FEI Publicação do Centro Universitário da FEI - Ano IV - Nº14 - Janeiro a Março de 2013

Educação ganha status internacional O presidente da Rhodia Fibras, Francisco

Docentes pesquisam

compósitos Ferraroli dos Santos, de fibra de fala de carreira e negócios carbono

Eletrônic Professores da FEI lançam livroajud sobre capital de giro em inglês


Editorial

Cenário favorável Marcelo Antonio Pavanello Vice-reitor de Ensino e Pesquisa Centro Universitário da FEI

A integração do conhecimento em nível global nunca esteve tão favorável aos brasileiros quanto agora. A partir do lançamento do programa Ciência sem Fronteiras pelo Governo Federal, em 2011, o Brasil passou a oferecer a seus estudantes de graduação uma oportunidade ímpar para ampliarem o conhecimento por meio de intercâmbios subsidiados em instituições de ensino de relevância, oferecendo possibilidades para todos os alunos, independentemente da classe social, desde que se empenhem e se dediquem aos estudos. O programa acabou potencializando, também, o investimento de outras agências de fomento – como Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) – que passaram a flexibilizar as agendas de envio de estudantes para o exterior. Antes disso, somente os alunos de doutorado tinham a possibilidade de conseguir bolsas de estudos destes órgãos, porque o entendimento era de que somente por meio de pesquisas deste nível o País se beneficiaria com a troca de experiência e conhecimento. Hoje, no entanto, a partir do programa Ciência sem Fronteiras, os alunos de mestrado também poderão se beneficiar de bolsas pagas por estas agências de fomento. Outra novidade é que já é possível conseguir verba para a vinda de pesquisadores estrangeiros ao Brasil, com salários competitivos internacionalmente, por meio de bolsas compatíveis com o salário que recebem nos seus países de origem. Além disso, há um forte investimento do Brasil no sentido de repatriar pesquisadores brasileiros que, em algum momento, encontraram melhores condições para seus estudos fora do País. Este cenário muito favorável tem sensibilizado todas as instituições – sejam governamentais, acadêmicas ou o setor industrial – no sentido de olharem com mais atenção para a pesquisa científica como forma de qualificar a mão de obra nacional, fundamental para atender a alta demanda de um mercado aquecido. Devido à falta de mão de obra qualificada em quantidade suficiente para atender as necessidades das empresas, muitas organizações estão trazendo profissionais estrangeiros para trabalharem no Brasil. E até mesmo essa migração de cérebros pelas indústrias demonstra que inclusive o setor econômico está mais aberto à internacionalização do conhecimento. No Centro Universitário da FEI, a colaboração bilateral não é uma novidade e já ocorre há pelo menos 10 anos com instituições de diversos países, tais como Bélgica, Reino Unido, Alemanha, México, Uruguai e Venezuela, mas, sem dúvida, ganhou um incremento nos últimos anos. A FEI acolheu o programa Ciência sem Fronteiras com toda a energia, entendendo que esta experiência internacional, aliada à formação sólida que procura proporcionar a seus alunos, será um diferencial importante em suas carreiras e, em última análise, ao País. Assim, se empenha para enviar os melhores alunos, escolhidos por meio de uma seleção rigorosa. Sabemos que essa oportunidade de aprimoramento não é uma aventura e buscamos selecionar os melhores cérebros para que levem o nome da FEI e do Brasil pelos quatro cantos do planeta.

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Espaço do Leitor

Revista Domínio FEI Publicação do Centro Universitário da FEI

“Faço parte da primeira turma de engenheiros industriais da FEI em São Bernardo do Campo (1965-1969). A nossa formação técnica e humana, transmitida por excelentes e abnegados mestres, fundamentou a nossa carreira profissional e nos transformou em cidadãos úteis ao nosso País. Destaco a amizade sincera praticada na nossa turma, que continua como uma chama viva a aquecer os nossos corações. Somos os ‘desbravadores’ da FEI, mas, com muito a aprender ainda com os jovens.”

Johannes Luyten Engenharia Industrial – Turma 1969 “A FEI foi a primeira faculdade que cursei. Durante o curso, ao realizar as entrevistas para está­gio, tinha (e tenho até hoje) orgulho de falar da Instituição que estudava. Cursei Pedagogia também e, atualmente, sou professora. Sempre recorro ao aprendizado que a Administração, curso no qual sou formada pela FEI, proporciona em todas as áreas de trabalho. Concluí o mestrado em 2010 e pretendo fazer o doutorado. Adoro estudar, aprender, me atualizar e trabalhar, e esse gosto pelo aprendizado devo à FEI.”

Carla Maria de Albuquerque Santos Administração – Turma 1986 “Sou ex-aluno formado em Engenharia Elétrica, turma 2006. Leio sempre a revista Domínio FEI e foi com grata satisfação que, na edição 12 de 2012, percebi que meu nome estava mencionado na matéria que falava sobre ‘Tecnologia Assistiva’. Foi muito gratificante ao ver que, mais de 10 anos passados, o projeto Aquecedor Social, pre-

miado em 2003 no concurso Tigre, teve continuidade e mais de 100 estudantes de graduação já se envolveram com o projeto ao longo dos anos. Tenho muito a agradecer à professora Carla Soares e ao professor Mário Kawano, idealizador do projeto, pela oportunidade de participar dessa experiência. Nunca esquecerei as palavras de gratidão e satisfação do morador da residência que recebeu o projeto ao ver pela primeira vez luz e água quente em sua casa. Retornei ao Brasil, após uma temporada no Japão e na Tailândia, e espero em breve realizar um encontro com os professores que foram muito importantes na construção profissional e humanista de muitos alunos feianos, incluindo a mim.”

Maicol Takeo Karimata Engenharia Elétrica – Turma 2006 “Formei-me no primeiro semestre de 2006 e estou muito satisfeito com os benefícios que a FEI me proporcionou até hoje. Graduado em Mecânica Automobilística, que é um curso fantástico e que me dá orgulho em dizer ser um dos melhores do mercado, não tive a oportunidade de trabalhar diretamente na área, porém, estou aplicando os conceitos aprendidos. Trabalho atualmente com engenharia de poços de petróleo, sendo o engenheiro responsável pelo poço em plataformas de petróleo. Recomendo os excelentes cursos de Engenharia da FEI para os novos candidatos e futuros ingressantes dessa faculdade de primeiríssima linha.”

Raphael Miranda Engenharia Mecânica Automobilística –Turma 2006

Fale com a redação A equipe da revista Domínio FEI quer saber a sua opinião sobre a publicação, assim como receber sugestões e comentários. Escreva para Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 3972, Bairro Assunção S.B.Campo - SP - CEP 09850-901, mande e-mail para redacao@fei.edu.br ou envie fax para o número (11) 4353-2901. Em virtude do espaço, não é possível publicar todas as cartas e e-mails recebidos. Mas a coordenação da revista Domínio FEI agradece a atenção de todos os leitores que escreveram para a redação. As matérias publicadas nesta edição poderão ser reproduzidas, total ou parcialmente, desde que citada a fonte. Solicitamos que as reproduções de matérias sejam comunicadas à redação pelo e-mail redacao@fei.edu.br.

expediente Centro Universitário da FEI Campus São Bernardo do Campo Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 3972 – Bairro Assunção São Bernardo do Campo – SP – Brasil CEP 09850-901 ­– Tel: 55 11 4353-2901 Telefax: 55 11 4109-5994 Campus São Paulo Rua Tamandaré, 688 – Liberdade São Paulo – SP – Brasil – CEP 01525-000 Telefax: 55 11 3274-5200 Presidente Pe. Theodoro Paulo Severino Peters, S.J. Reitor Prof. Dr. Fábio do Prado Vice-reitor de Ensino e Pesquisa Prof. Dr. Marcelo Pavanello Vice-reitora de Extensão e Atividades Comunitárias Profª. Drª. Rivana Basso Fabbri Marino Conselho Editorial desta edição Professores doutores Rivana Basso Fabbri Marino, Hong Yuh Ching, Camila Borelli, Renato Giacomini Coordenação geral Andressa Fonseca Comunicação e Marketing da FEI Produção editorial e projeto gráfico Companhia de Imprensa Divisão Publicações Edição e coordenação de redação Adenilde Bringel (Mtb 16.649) Reportagem Adenilde Bringel, Elessandra Asevedo, Fabiola Sanchez, Fabrício F. Bomfim (FEI) e Pedro Zago (estagiário) Fotos Arquivo FEI, Jésus Perlop e Ilton Barbosa Programação visual Felipe Borges André Moretti (estagiário)

Tiragem: 16,5 mil exemplares

Centro Universitário da FEI Instituição associada à ABRUC

www.fei.edu.br

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SUMÁRIO

18 ENTREVISTA O presidente da Rhodia Fibras, Francisco Ferraroli dos Santos, formado em Engenharia Têxtil na FEI em 1973, está entre os 50 principais executivos do Grupo Solvay no mundo

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matéria de Capa

Internacionalização da formação em nível superior é um caminho seguro para preparar profissionais globais

ARTSILENSEcom/istockphoto.com

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DEstaques

Semana da Qualidade discute o futuro da educação IPEI participa de feira de negócios no Grande ABC Exposições de formatura apresentam inovações MecAut completa 25 anos de existência Engenharia Elétrica está entre os melhores do ENADE Sustentabilidade é tema de encontro no campus SP Pesquisadores desenvolvem transistor tridimensional

DESTAQUE JOVEM Ex-aluno de Ciência da Computação é empreendedor desde antes de se formar na FEI, em 2004

PESQUISA & TECNOLOGIA

Professores do Centro Universitário desenvolvem estudos com novos materias à base de fibra de carbono

GESTÃO & INOVAÇÃO

Docentes da FEI lançam livro em inglês sobre capital de giro e rentabilidade das empresas

ARQUIVO

Departamento de Matemática faz parte das disciplinas dos cursos de Administração, Engenharia e Computação

PÓS-GRADUAÇÃO

Extensão em Mecânica Automobilística completou 20 anos e especializa profissionais de diferentes áreas

RESPONSABILIDADE SOCIAL

Professor da FEI cria sistema que leva energia elétrica a aldeia indígena e envolve alunos da graduação

40 Mestrado Seções 41 Agenda 42 Artigo janeiro a março DE 2013 | Domínio fei

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destaques

Qualidade e desafios da educaçã FEI recebe convidados para discutir sobre ferramentas virtuais, interação com setor produtivo e formação internacionalizada

A Da esq.: O presidente da FEI, Padre Theodoro Peters, dá as boas-vindas aos convidados da mesaredonda sobre ‘Formação Internacional – Um Diálogo Globalizado – A Visão da Universidade’

cada novo semestre letivo, o Centro Universitário da FEI reúne professores, pesquisadores, colaboradores e convidados para avaliarem questões relevantes relacionadas ao ensino superior com objetivo de, por meio de mesas-redondas e apresentações, traçar o novo cenário da educação no Brasil e no mundo. Diante de tantas novidades e do ritmo frenético das mudanças sociais, a Instituição escolheu, para o início deste ano, temas relacionados às ferramentas virtuais, às oportunidades de interação entre universidade e setor produtivo e à importância da formação internacional. Na abertura da Semana da Qualidade

Tecnologia da informação e comunicação x educação As crianças do século 21 já nascem ‘plugadas’ na rede mundial de computadores e vivem como verdadeiros nativos da Tecnologia da Informação e da Comunicação (TIC), e o desafio dos educadores é acompanhar e conhecer as ferramentas disponíveis para utilizarem no processo de formação. O professor do Departamento de Ciência da Computação da FEI, Rodrigo Filev Maia, que coordenou a mesa-redonda ‘As Ferramentas Virtuais a Serviço da Qualidade da Educação Superior’, ressalta que o tema é provocativo e inquietante, mas os docentes devem saber aproveitar as oportunidades que a tecnologia proporciona para ampliar

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as possibilidades em sala de aula. “Não é papel da universidade ser protagonista desse processo de conhecer e saber usar estas tecnologias que mudam o mundo na educação?”, questiona o docente. Para a professora doutora Cecília Mary Fischer Rubira, engenheira de software e titular do Instituto de Computação da Unicamp, fechar os olhos para o que as TICs oferecem de possibilidades não é o melhor caminho para os educadores. A Unicamp começou a pesquisar formas de ensinar usando a tecnologia em 2003 e, ao longo deste período, foi perceptível a mudança de postura dos alunos. “Este é o grande desafio dos docentes: estar

abertos à tecnologia e derrubar algumas barreiras que poderiam impedir seu uso, dentro e fora da sala de aula”, comenta. Apesar dos bons exemplos, a afirmação de que a tecnologia é uma ‘janela para o mundo’ não é exatamente consenso entre os educadores. “A tecnologia não é boa ou má, e o uso que se faz hoje desta ferramenta é que define essa diferença. A verdade é que é extremamente difícil formar gente”, dispara o professor doutor Luís Barco, titular aposentado da Escola de Comunicação e Artes da USP (ECA-USP) e professor convidado da POLI-USP, ao questionar o papel do educador nestes tempos de redes sociais e internet. Segundo o professor, pelo fato


o superior no Ensino, Pesquisa e Extensão, o reitor do Centro Universitário, professor doutor Fábio do Prado, afirmou que a universi­ dade deve ser efetivamente um espaço de reflexão dos aspectos candentes da socie­ dade e um dos principais protagonistas deste processo são os docentes, que pre­ cisam estar preparados e conhecer com profundidade a diversidade deste novo cenário cultural e social. “A modernidade traz possibilidades fantásticas, e alguns problemas que possam surgir devem nos levar à reflexão e ao redirecionamento do nosso trabalho como educadores”, afirma. O presidente da Fundação Educacio­ nal Inaciana Padre Saboia de Medeiros (FEI), Padre Theodoro Peters, S.J., lembra que o diálogo faz parte do pleno direito da missão da universidade e necessita de interlocutores que desejem aprofundar a busca constante pelo conhecimento. “Precisamos ter a capacidade de questio­ nar nossas próprias convicções e permitir que sejam questionadas pelos outros”, reflete o religioso. Para discutir as ques­ tões propostas, a Semana da Qualidade

recebeu convidados da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Esta­ dual de Campinas (Unicamp), Gestão Tecnológica do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras ‘Leopoldo

de alguns docentes se esquecerem de dialogar com os alunos em sala de aula e de trabalhar a formação integral é que a educação passa por um momento delicado no Brasil. O chefe do Departamento de Física da FEI, pro­ fessor doutor Roberto Baginski, concorda com a afirmação de que a tecnologia é uma ferramenta que auxilia o processo educacional, mas ressalta que seu uso em sala de aula precisa estar mais relacionado ao propósito da disciplina. O docente diz que o pro­ fessor sofre de ‘angústia tecnológica’, porque acha que precisa usar a TIC o tempo todo. “Se a tecnologia não atende ao propósito da educação não precisa ser usada, e o professor não deve ficar angustiado se o aluno usa a TIC na sua vida particular, pois o ambiente educacional é diferente”, enfatiza.

Américo Miguez de Mello’ (CENPES), Ministério da Ciência, Tecnologia e Ino­­vação (MCTI), Metrô-SP e Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Da esq.: Professores doutores Rodrigo Filev Maia, Cecília Mary Fischer Rubira, Luís Barco e Roberto Baginski

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Parcerias permitem amplas possi As grandes empresas enfrentam mui­ tos desafios relacionados às novas deman­ das do mercado e a universidade pode desempenhar o papel de parceira neste processo, para ajudar na busca de soluções criativas e inovadoras que levem à supe­ ração dessas dificuldades. O panorama brasileiro de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) tem tido crescimento constante nos últimos anos, porque o Bra­ sil é um grande consumidor de eletroele­ trônicos: o País é o terceiro maior mercado de computadores, o quarto de celulares e o quinto automotivo do mundo. Embora a demanda interna­atraia fa­ bri­­cantes desses­equipamentos, o Brasil perdeu parte importante da indústria de componentes, o que levou a um aumento da importação. Para suprir­essa demanda são necessárias ações para promoção do se­tor, como investimentos em pesquisa e tecnologia, recursos humanos,­proprieda­ de intelectual, atração de inves­ti­mentos, promoção de exportações e maior poder de compra, fomento e financiamento.

Durante a mesa-redonda ‘Oportunidade de Interação entre a Universidade e o Setor Produtivo’, uma das atividades da Semana da Qualidade da FEI, Henrique de Oliveira Miguel, coordenador geral de microeletrônica da Secretaria de Política de Informática (SEPIN) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), afirmou que, no setor eletroeletrônico, houve um verdadeiro ‘Big Bang’ do uso de componentes (micros e nanos), abrindo para a universidade uma série de oportu­ nidades de atuação e gerando um fatura­ mento de US$ 300 bilhões por ano para a indústria global de semicondutores. “Os dispositivos são a base da indústria, como computação, setor automotivo e eletrônica de consumo”, ressaltou. O governo também criou possibilida­ des e leis para o favorecimento do setor de TIC, como a Lei da Informática e o Pro­ grama de Apoio ao Desenvolvimento Tec­ nológico da Indústria de Semicondutores e Mostradores (PADIS) que, entre outras vantagens, oferecem aos beneficiários o

direito de preferência na comercialização com a administração pública e redução de alguns impostos. “Como resultado, temos mais de 400 patentes e 510 empresas beneficiadas, bem como universidades e centros de pesquisas, entre elas a Univer­ sidade Federal do Ceará e a Pontifícia Uni­ versidade Católica do Rio Grande do Sul”, ressalta Henrique de Oliveira Miguel, ao lembrar que é importante a ampliação das atividades da universidade para o mercado de microeletrônica. Paulo Lopes, ‘ponto focal’ do Estado de São Paulo, que atua no relacionamen­to com a comunidade de Ciência e Tecnolo­gia­ (C&T) pela gerência geral da Gestão Tecno­ lógica do Centro de Pesqui­sas e Desenvol­ vimento da Petrobras Leo­poldo Américo Miguez de Mello (CENPES), informou que, em 2011 e 2012, a empresa investiu R$ 460 e R$ 750 milhões, respectivamen­ te, em instituições de ciência e tecnologia nacionais conveniadas, por meio de Redes Temáticas Petrobras (RTs). Estes investi­ mentos foram em infraestrutura, instala­

Da esq.: Professor doutor Vagner Barbeta, Henrique de Oliveira Miguel, Pedro Machado e Paulo Lopes

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bilidades ção de laboratórios de padrão mundial de excelência com aquisição de equipamentos de ponta, capacitação dos pesquisadores e desenvolvimento de projetos nas áreas de interesse comum. “Para a área de P&D precisamos, em primeiro lugar, da qualificação de pessoas, seguido de investimentos em infraestruturas fundamentais às soluções dos desafios tecnológicos”, enfatiza. Inovações Com foco no setor mecânico, o especialista de planejamento do Metrô-SP, Pedro Machado, lembra que a tecnologia utilizada hoje ainda é importada e que o País precisa se desenvolver nesta área e criar inovações para fazer frente à demanda interna do transporte público, seja em veículos sobre trilhos ou sobre pneus, e as universidades têm uma amplitude de possibilidades de atuação nesta área. “O Metrô, desde sua origem, se beneficia com a interação entre as instituições de ensino superior com o objetivo de um retorno prático ou na busca de solução de problemas de engenharia, projeto e operação”, afirma. O professor doutor Vagner Bernal Barbeta, diretor do Instituto de Pesquisas e Estudos Industriais (IPEI), que pertence à FEI, acredita que o panorama mostrado comprova que existem recursos financeiros disponíveis, mas é necessário juntar o interesse do setor produtivo com o dos pesquisadores. “Cabe a cada um dos pesquisadores encontrar um tema e começar a trabalhar junto com as grandes empresas, que estão abertas a parcerias e oferecem muitas possibilidades. E cabe às instituições de ensino e pesquisa procurar o setor produtivo e oferecer suas expertises para o desenvolvimento de projetos e pesquisas de interesse comum”, resume. A ‘Formação Internacional – Um Diálogo Globalizado – A Visão da Universidade’ foi o tema do terceiro dia da Semana da Qualidade (leia mais na reportagem da página 28).

IPEI participa da Feira ABC Em sua terceira edição, a Feira Industrial e de Subcontratação de Serviços do Grande ABC (Feira ABC) reuniu 100 empresas da região metropolitana de São Paulo e das sete cidades do Grande ABC, nos dias 21, 22 e 23 de março. Organizada pela Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, com apoio do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), a feira é uma oportunidade para as empresas apresentarem seus produtos e serviços a um público médio de 5 mil visitantes. O Centro Universitário da FEI participou da Feira ABC juntamente com o Instituto de Pesquisas e Estudos Industriais (IPEI). O Instituto é referência na prestação de serviços e desenvolvimento de projetos demandados por indústrias, além de manter parcerias com empresas de ponta como Embraer e

Scania. No estande foram apresentados os serviços desenvolvidos para diversas empresas, de diferentes segmentos. O diretor do IPEI, professor doutor Vagner Bernal Barbeta, afirma que a participação no evento possibilitou apresentar toda a competência do Instituto e da FEI para empresas e profissionais de vários setores. “O mais importante da nossa participação foi a possibilidade de o setor produtivo de todo o Estado conhecer o nosso trabalho”, afirma o docente. Criado para dar suporte à pesquisa básica e aplicada direcionada à indústria, o Instituto de Pesquisas e Estudos Industriais está em fase de reestruturação. A meta é aprimorar e modernizar cada vez mais os serviços prestados, bem como desenvolver projetos junto à comunidade empresarial, contribuindo para a inovação e o desenvolvimento econômico, científico, tecnológico e social do País.

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Conceitos de inovação como marca Exposições de trabalhos de formatura apresentam novidades e tecnologias com alta aplicabilidade

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pós anos de dedicação aos estudos com o ideal de ter uma formação superior, no fim do curso todos os estudantes podem colocar em prática os ensinamentos e dar uma maior ênfase a um determinado tema por meio dos trabalhos de conclusão de curso, os conhecidos TCCs. Com escolha livre, os projetos no Centro Universitário da FEI permeiam os mais variados assuntos, como responsabilidade social, meio ambiente e segurança, que vão ao encontro das necessidades de pessoas e empresas. Na apresentação do segundo semestre de 2012, os formandos dos cursos de Engenharia, Ciência da Computação e Administração destacaram nos trabalhos, principalmente, conceitos de inovação e aplicabilidade no mercado. Dentre os trabalhos apresentados, o projeto ‘Sistema de frenagem eletromagnética microcontrolado’, de formandos de Engenharia Elétrica, garantiu o primeiro lugar na exposição da área – Elexpo –, devido à inovação apresentada. Com

Sistema de frenagem eletromagnética microcontrolado foi o primeiro lugar na Elexpo

foco nos veículos de tração traseira, como caminhonetes, vans, ônibus e caminhões de grande porte, o grupo aperfeiçoou e automatizou o sistema de frenagem existente no mercado, que é acionado manualmente pelo motorista por meio de uma alavanca. “Nosso microcontrolador identifica a velocidade do carro e a posição do pedal de freio e faz um cálculo

que determina automaticamente a quantidade de corrente injetada na bobina do freio para a melhor frenagem. Além da automatização, também diminuímos o tamanho do equipamento, permitindo que seja utilizado em veículos menores”, afirma Evandro Pavesi, um dos autores do trabalho. Dos projetos de Ciência da Compu-

Preocupação com o Com foco na sustentabilidade, 10 estudantes de Engenharia Mecânica Plena realizaram o trabalho ‘Bioenergia’, que visa desenvolver a engenharia básica por meio de um reator de biodigestão que permite o aproveitamento energético de resíduos orgânicos, aliado ao correto tratamento dos mesmos. O destaque foi a inovação em relação ao tamanho reduzido da máquina, que permite ser alojada em espaços limitados.

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registrada tação, a ‘Televisão sugestiva’ foi o que mais inovou em relação à aplicabilidade, interface, criatividade e inovação. O grupo desenvolveu o TCC com foco no mercado de televisões smarts que, embora esteja crescendo, tem um baixo número de aplicações se comparado com os smartphones. “O projeto tinha dois focos. O primeiro foi analisar a arquitetura desse modelo de televisores, enquanto o segundo foi desenvolver, dentro do aparelho, uma aplicação que efetua sugestões de programas aos seus usuários”, explica Fernando Barontini, integrante do grupo. Este aplicativo é inovador, porque faz sugestões de programação com base nos programas assistidos anteriormente, para que o usuário não fique procurando entre os canais. Sorvete tecnológico Os alunos do curso de Administração fizeram uma exposição de trabalhos interdisciplinares de plano de negócios, com destaque para a ‘Sorveteria Heladotec’, projeto que agrega tecnologia aos frequentadores de uma sorveteria por meio do uso de tablets. “Os equipamentos podem ficar localizados por toda a loja e à disposição dos clientes para fazerem o pedido, incluindo sabores, quantidade de bolas e coberturas. Acreditamos que esta tecnologia atrairia muitos jovens”, explica a estudante do sétimo ciclo, Daiane Ana Silva.

Televisão sugestiva foi a vencedora entre os trabalhos de Ciência da Computação

Alunos de Administração mostraram projetos relacionados a plano de negócios

meio ambiente “Já existem equipamentos com este propósito em grandes fazendas, porém, são de proporções maiores, mas nosso trabalho atende locais menores, como condomínios residenciais, com a vantagem de produzir combustível suficiente para gerar energia e aquecer a água”, explica o integrante do grupo, Filipe Negrão da Costa Reis. O biodigestor, quando alimentado pelos detritos de um condomínio de

aproximadamente 200 pessoas, tem capacidade de produção energética mensal equivalente ao consumo médio de energia elétrica de 12 casas do município de São Paulo e deixa de emitir o equivalente, em gás carbônico, a cinco veículos rodando diariamente por um ano. Com o reator desenvolvido pelos formandos, a produção de biogás, em sua maioria metano, ocorreria diariamente

e, a partir daí, o condomínio decidiria se utilizaria esse gás para geração de energia elétrica a partir de um gerador ciclo otto (alimentado por biogás), um queimador a gás para aquecimento de água ou, ainda, a utilização direta no circuito de gás do condomínio. O residual da biodigestão (parte sólida) pode ser descartado na rede municipal de esgoto ou ser utilizado como biofertilizante.

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MecAut comemora 25 anos Desde a primeira edição da exposição dos trabalhos de formatura de seus alunos de Engenharia Mecânica Automobilística – denominada MecAut –, em 1988, o Centro Universitário da FEI já formou 2,5 mil estudantes, que produziram 399 projetos, apresentados em 50 edições. A ideia surgiu quando os professores Edson Esteves, atual coordenador do curso de pós-graduação em Engenharia Mecânica Automobilística e docente na Instituição, Rubens Okasaki e Wellington Ortiz resolveram reunir os trabalhos de conclusão de curso e convidar profissionais da indústria automotiva para julgá-los, baseados em quesitos como criatividade em inovação, conteúdo técnico do projeto

e análise da viabilidade do projeto (custo/ benefício). A partir desta iniciativa, outros departamentos seguiram a mesma linha e, semestralmente, as exposições reúnem alunos de praticamente todos os cursos. A primeira MecAut tinha cinco trabalhos de conclusão de curso, mas apenas três foram apresentados em uma sala de aula. Apesar disso, 13 profissionais da indústria foram convidados para formar a comissão julgadora. “Na verdade, eram alguns desenhos grudados na lousa. Somente a partir da terceira exposição é que começamos a ter maquetes dos projetos“, conta o professor Edson Esteves, para quem o melhor desses 25 anos de

exposição é o orgulho dos alunos ao apresentarem seus trabalhos com seriedade para um público seleto e, também, para pais e familiares. O trabalho premiado na primeira exposição – Gênesis – foi um veículo esportivo e tecnológico desenvolvido pelo ex-aluno Paschoal Paladino, que criou um modelo bem diferente dos padrões adotados pelas montadoras existentes no Brasil naquela época. “Foi um desafio desenvolver um projeto inovador em um período de mercado tão fechado como a década de 1980. Mas fiquei feliz com o resultado”, avalia. O engenheiro, que já passou por várias empresas, foi um dos homenageados na 50ª edição da MecAut,

Da esq.: O professor Edson Esteves (ao centro) com o filho Júlio Esteves e o professor doutor Roberto Bortolussi. Ao lado, o professor Ricardo de Andrade Bock

Pesquisa de Iniciação Científica é destaque na Espanha O International Conference On Renewable Energies And Power Quality (ICREPQ) tem como objetivo reunir cientistas, professores, engenheiros e acadêmicos de todo o mundo para discutirem o desenvolvimento da área de energia renovável. Organizado pela Universidade de Vigo, Universidade de Basque Country e Associação Europeia de Desenvolvimento de Energia Renovável, Meio Ambiente e Qualidade de Energia (EA4EPQ), a 13ª edição do encontro foi realizada entre os dias 20 e 22 de março na cidade de Bilbao, na Espanha.

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Graças ao projeto de Iniciação Científica denominado ‘Simulação de Energia de Correntes Marítimas Através do Túnel de Vento com o uso de Freio Eletromagnético’, o estudante do nono período de Engenharia Elétrica do Centro Universitário da FEI, Antônio Honorato Neto Piccinini, foi convidado a participar da conferência e fez uma apresentação oral de seu trabalho. O projeto, desenvolvido com orientação do professor doutor Aldo Artur Belardi, do Departamento de Engenharia Elétrica, visa modelar um sistema para gerar energia marítima que usa a força do oceano

e, para isso, o aluno desenvolveu uma simulação destas correntes em um túnel de vento, o que permite uma comparação da variação da velocidade da água com a do ar, permitindo a realização de alguns testes com uma enorme redução de custos, sem a necessidade de testes físicos no oceano. Além disso, o projeto desenvolvido na FEI possui um sistema de freio, em tempo real, que paralisa as turbinas quando surge algum tipo de travamento feito por grandes peixes, tartarugas e outros animais. Segundo o estudante, tanto o Centro


O melhor de 2012

Da esq.: O professor da FEI, Carlos Rodrigues, e o engenheiro Paschoal Paladino também foram homenageados durante a exposição

em dezembro de 2012. Ao longo desses 25 anos, muitos projetos inovadores foram criados pelos formandos da FEI. Além dos muitos automóveis de todos os tipos e modelos, os alunos desenvolveram motocicletas, ônibus, caminhões, tratores e utilitários. Homenagens Na celebração das 50 edições da MecAut, o professor Ricardo de Andrade Bock foi um dos homenageados com uma placa de prata, por ser um dos grandes incentivadores da área da mobilidade no Brasil. Para o docente, que coordenou a exposição de trabalhos de formatura de Engenharia Mecânica Automobilística por 10 anos, os trabalhos evoluíram muito e demonstram a preocupação dos novos engenheiros com questões importantes, como a mobilidade urbana e a sustentabilidade. Também foram homenageados os professores doutores Roberto Bortolussi, chefe do Departamento de Engenharia Mecânica, Carlos Rodrigues e Edson Esteves, pelo apoio e dedicação ao curso.

Universitário quanto o orientador foram muito solícitos e todo este apoio permitiu o reconhecimento internacional de seu projeto. O professor Aldo Artur Belardi acrescenta que o ensino diferenciado da Instituição permitiu que um aluno de graduação, com a utilização de técnicas avançadas, se apresentasse em uma conferência na qual grandes cientistas e engenheiros são os palestrantes mais frequentes. “É um motivo de orgulho para todos nós”, ressalta o docente.

Na edição 50 da MecAut, nove projetos foram apresentados por 71 alunos e o vencedor foi o Zapp, um cavalo mecânico para uso urbano e rural cuja principal inovação é o baixo consumo de combustível e o menor nível de emissão de poluentes. Criado por seis formandos, o Zapp apresenta, como inovação técnica, um sistema flexível similar às molas pneumáticas, não precisa de reservatório de ar extra e possibilita a selagem do vão entre a cabine e o reboque. Com consumo médio reduzido em 13% e a média de emissões diminuída em aproximadamente 11,5%, o veículo atende a uma necessidade do mercado automotivo de preservar o meio ambiente. A formanda Fernanda Rielli Rodrigues conta que, desde que o grupo começou a pensar no projeto (um ano e meio antes do fim do curso), foi consenso desenvolver um caminhão. “Queríamos sair do lugar comum dos carros esportivos ou compactos e ir para um campo em que há certa falta de interesse. Percebemos isso pela dificuldade de obter informações específicas para cavalos mecânicos na literatura, que é muito escassa”, complementa. A engenheira acredita que este também pode ter sido um dos motivos de seu grupo ganhar a MecAut 2012, pois o trabalho ficou ainda mais valorizado devido à pesquisa, que se estendeu para muito além da sala de aula.

Fernanda Rielli Rodrigues segura o troféu recebido pela equipe Zapp

Antônio Honorato Neto Piccinini apresentou o trabalho sobre simulação de energia de correntes marítimas através do túnel de vento em congresso na Espanha

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Gestores

Entre os melhores

Encontro sobre gestão socioambiental na FEI reúne profissionais de diversos setores

Pela segunda vez consecutiva, Engenharia Elétrica com ênfase em Telecomunicações está no topo da lista no ENADE

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sustentabilidade é um desafio no cotidiano da sociedade e o tema está relacionado à sobrevivência do planeta, por isso, governos, entidades civis, escolas e empresas se reúnem, periodicamente, para discutir este assunto. O desafio envolve os profissionais de Administração, que devem ter ou desenvolver competências para lidar com os desafios organizacionais que permeiam o tema. Para abordar estas questões foi realizado, em novembro de 2012, no campus São Paulo da FEI, o III Encontro de Educação para Sustentabilidade, que promoveu debates e reflexões sobre a condução de ações educativas nas escolas de administração e nas organizações em geral. A iniciativa teve parceria da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Universidade de São Paulo, SENAC, Universidade Federal do Tocantins e Universidade Federal do Ceará. O reitor da FEI, professor doutor Fábio do Prado, afirma que o evento vai ao encontro das necessidades atuais, pois a

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Oficina ensina alunos

Kali Nine LLC/istockphoto.com

m 2004, o Governo Federal, por meio do Ministério da Educação (MEC), criou o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE), que integra o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), com o objetivo de avaliar o rendimento dos alunos dos cursos de graduação em relação aos conteúdos programáticos, habilidades e competências. O exame é obrigatório para todos os cursos e a participação dos estudantes é condição indispensável para a colação de grau, após a conclusão da formação acadêmica. Os alunos do curso de Engenharia Elétrica com ênfase em Telecomunicações do Centro Universitário da FEI receberam, no ENADE 2011 (cujo resultado foi divulgado em 2012), a segunda maior nota do Brasil, o que demonstra a qualidade e seriedade da Instituição e dos estudantes. O curso já havia ficado entre os melhores do País da última vez em que foi avaliado, em 2008. Segundo o chefe do Departamento de Engenharia Elétrica, professor doutor Renato Giacomini, os resultados do ENADE têm contribuído para o aumento do interesse pelo curso por parte dos alunos, embora Telecomunicações ainda seja a segunda menor turma dentro da Engenharia Elétrica, que oferece também opções com ênfase nas áreas de Computadores e Eletrônica, além da formação em Engenharia de Automação e Controle. “O excelente resultado que tivemos no ENADE certamente foi a combinação entre o ótimo conteúdo pedagógico oferecido pelo curso e a dedicação e o comprometimento dos alunos com a Instituição e com suas carreiras”, orgulha-se o docente. O ex-aluno do curso, João Vitor Vieira, que participou do ENADE, conta que o exame teve um nível muito bom, mas, devido ao ótimo preparo que a FEI proporcionou aos formandos, foi possível realizá-lo de forma bastante satisfatória. “O conteúdo abordado em sala de aula foi muito alinhado com o da prova, o que permitiu que o curso ocupasse essa posição de destaque”, acredita. Desde que entrou na FEI, João Vitor Vieira já tinha como objetivo cursar telecomunicações, pois se identificava com a área e sabia que o mercado oferecia boas oportunidades. “Consegui um estágio quando estava no oitavo semestre e, desde então, estou no mercado”, comemora o jovem engenheiro, que atualmente trabalha na Vivo Telefônica, em Curitiba. O professor Renato Giacomini reforça que o mercado de telecomunicações no Brasil está em franco crescimento, com investimentos importantes para expansão de infraestrutura, e existe uma carência muito grande de profissionais qualificados nessa área. Por isso, é um segmento bastante promissor e os alunos que se formam são quase 100% absorvidos pelas empresas.

Com objetivo de sensibilizar os alunos do curso de graduação em Administração para a sustentabilidade, um tema contemporâneo que compreende aspectos ambiental, social e econômico, o Centro Universitário da FEI realizou, em fevereiro, sua primeira Oficina de Sustentabilidade. Organizada em parceria com a Asta, rede de empreendedorismo social que comercializa produtos feitos de materiais reaproveitados, e ministrada pelo Instituto Ambiental Brasil de Desenvolvimento Humano e Sustentabilidade (IABRAM),


da sustentabilidade em idiomas e habilidade em informática, será necessário ter no currículo conhecimentos sobre sustentabilidade”, alerta. Segundo o professor doutor Jacques Demajorovic, que trabalha uma linha de pesquisa em Sustentabilidade no Programa de PósGraduação em Administração da FEI e foi um dos organizadores do evento, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), aprovada em 2010, tornou-se um marco importante para o gerenciamento do lixo e trouxe à tona conflitos e desafios que caminham junto com o assunto, tornando o tema importante no cenário brasileiro. Para Ademir Brescansin, gerente do Departamento de Respon­ sabilidade Socioambiental da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), há leis divergentes em algumas regiões do País, por isso, é importante que seja criada uma po­ lítica federal que incentive a reciclagem e um sistema unificado de informações sobre logística reversa. “A PNRS responsabiliza o consumidor, que deve entregar os resíduos ao comércio que ven­ deu; o comerciante, que tem de receber e encaminhar à indústria; e o fabricante, que deve dar a destinação correta”, contextualiza. Especialistas abordaram questões importantes sobre o assunto

sustentabilidade deve ser ponto estratégico para a formação de líderes capacitados, que podem conduzir um processo complexo, levando em consideração o bem comum e a justiça social. “A reu­ nião de representantes de diferentes categorias em um mesmo espaço colabora com a criação de ações sustentáveis”, argumenta. O diretor-presidente da Associação Brasileira dos Profissionais de Sustenta­bi­lidade (Abraps), Marcus Nakagawa, afirma que o mercado está aquecido, mas faltam profissionais ligados à área e há uma carência em relação às diversas profissões que podem agir em prol de ações sustentáveis. “Futuramente, além de fluência

O desafio dos municípios A mesa-redonda ‘Tecnologia e Inovação para Sustentabi­ lidade’, mo­derada pelo professor doutor Roberto Bernardes, dos cursos de mestrado e doutorado em Administração da FEI, mostrou que as cidades são os epicentros da tecnologia e inova­ ção e não há desenvolvimento sem civilidade. Para Alcely Strutz Barroso, executiva de Cidadania Corporativa da IBM, o desafio dos municípios é oferecer educação, saúde, transporte, moradia e qualidade de vida por meio de cidades sustentáveis. A executiva apresentou o programa Smarter Cities Challenge de cidadania corporativa, que envolve seus executivos em diferentes ações realizadas em cidades brasileiras.

a aproveitar materiais de São Bernardo do Campo, na oficina foram apresentados vários produtos, como bolsas feitas a partir de lonas de banner e porta-retratos de papelão, como exemplos de cadeia produtiva de recicláveis. Os alunos também passaram por um laboratório de criatividade para de­ senvolver um produto com material re­ ciclado. “A oficina foi muito interessante, pois ensinou como os objetos feitos a partir de materiais descartados podem se tornar um negócio de sucesso quando

são aplicados os devidos conceitos de Administração. Além disso, nenhuma empresa evolui sem aplicar sustentabili­ dade e este evento nos proporcionou uma visão mais ampla sobre o assunto”, afirma Aline Lopes, aluna do quinto ciclo de Administração. O presidente da IABRAM, Rodrigo Aroli, ressalta que a oficina visa conscientizar cada participante sobre a importância de reutilizar os materiais descartados de forma criativa e responsável. “O individual é que faz o coletivo”, acredita.

Aline Lopes cursa o quinto ciclo de Administração na FEI

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destaques

FinFET poderá revolucionar a indústria eletrônica mundial e permitir uma nova geração de produtos

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nanotecnologia, que já está presente na indústria de eletroeletrônicos em nível global, acaba de ganhar mais um aliado que deverá abrir caminho para uma nova geração de computadores, celulares, televisores e muitos outros produtos. Com o desenvolvimento de um novo tipo de transistor, conhecido como FinFET ou transistor 3D, esses equipamentos poderão ficar ainda menores, mais leves e com muito mais capacidade de processamento de dados. O projeto do primeiro transistor FinFET brasileiro, que tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp),

Rodrigo Trevisoli Doria é pósdoutorando e pesquisa o assunto

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foi desenvolvido por um grupo de pesquisadores do Centro Universitário da FEI, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP), sob a coordenação do professor doutor João Antônio Martino, da USP. Em novembro de 2012, os pesquisadores conseguiram fabricar os primeiros protótipos de FinFETs totalmente desenvolvidos no Brasil, nos laboratórios da USP e da Unicamp. O grupo de pesquisa da FEI contribuiu com medidas elétricas, simulação e modelagem do dispositivo, que deram subsídios para a produção. “A fabricação do protótipo veio coroar um intenso trabalho de pesquisa que envolveu recursos humanos e materiais”, comemora o professor doutor Marcelo Antonio Pavanello, vice-reitor de Pesquisa e Extensão da FEI e um dos participantes do trabalho. O pós-doutorando Rodrigo Trevisoli Doria, formado na FEI em Engenharia Elétrica em 2003, começou as pesquisas com transistores ainda no mestrado da Instituição, quando passou a fazer parte do grupo do professor Marcelo Pavanello.­Durante o doutorado e o pós-doutorado, o engenheiro passou cinco meses estudando transistores 3D no Tyndall National Institute, em Cork, na Irlanda, onde há um grande grupo de pesquisa nesta área. “Essa oportunidade foi importante, porque consegui interagir com pesquisadores que desenvolveram o dispositivo 3D sem junções, estudar seu funcionamento e trazer algumas amostras para o Brasil”, destaca.

3alexd/istockpohoto.com

Transistor 3D tem participação da FEI

Este projeto deverá ser renovado, o que permitirá que os pesquisadores deem continuidade à estrutura tridimensional brasileira com objetivo de se manterem na vanguarda tecnológica neste segmento. A FEI foi a primeira a estudar os transistores tridimensionais sem junções no Brasil, e iniciou as pesquisas em 2009. Agora, a Instituição quer dar sequência aos projetos com a fabricação de outras estruturas tridimensionais, como o tran­sistor sem junções. “O projeto para fa­bricar o transistor no Brasil, em parceria com a Unicamp, já está aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)”, adianta o vice-reitor da FEI. Diferenciais O transistor FinFET é formado basicamente por silício, metal e isolantes, componentes que permitem amplificar ou interromper sinais elétricos. Enquanto os transistores tradicionais são montados e interligados horizontalmente, os FinFETs, por serem bem menores, são instalados na vertical. Entre outras vantagens, essa disposição permite colocar mais transistores na mesma área de silício e, com isso, ampliar a capacidade de processamento do componente. No ano passado, a Intel lançou a primeira linha comercial desses processadores, que levou o nome de Ivy Bridge.


destaque jovem

Empreendedorismo no DNA Profissional formado em Ciência da Computação na FEI investe na área de internet desde 1998

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local de trabalho lembra o amplamente difundido escritório do gigante Google, com um vão livre decorado com pufes coloridos, sofás, grafites nas paredes e escritórios abertos. No lugar da gravata, a calça jeans e os tênis são uma espécie de uniforme entre os jovens que circulam ali. Foi este o ambiente escolhido por Fernando Babadopulos, de 33 anos, graduado pela FEI em Ciência da Computação em 2004, para instalar a sede de sua terceira empresa. O ex-aluno, que desde o ‘boom’ da internet no Brasil, em 1998, vem oferecendo serviços pioneiros ligados ao mundo digital, acaba de inaugurar a TailTarget, que chega para inovar mais uma vez ao trazer para o Brasil o primeiro serviço de segmentação de audiência on-line. Embora o ambiente seja descontraído, o profissionalismo e a competência ficam evidentes quando o assunto é a trajetória profissional. Fernando Babadopulos começou a trabalhar com internet antes mesmo de ingressar no curso de Ciência da Computação. O ex-aluno acompanhou o crescimento da internet no Brasil e antecipou-se às profundas mudanças que esta nova ferramenta trouxe ao mundo dos negócios, quando as empresas de praticamente todos os setores, principalmente aquelas que atuam no varejo, viram-se obrigadas a repensar não só suas estratégias de propaganda e marketing, como também a maneira de administrar o negócio. Nascia ali uma nova demanda e o ex-aluno, atento às oportunidades, inaugurava seu primeiro negócio, que desenvolvia sistemas de gestão e administração de empresas.

No mesmo ano em que iniciou o curso de graduação, em 2000, vendeu grande parte de sua primeira empresa, que tem como foco o desenvolvimento de anúncios de carros na internet. Com a Carro e Cia, ativa até hoje, o então estudante conseguiu manter-se e arcar com as despesas da faculdade durante toda sua duração. Após alguns anos, já graduado, achou que era hora de aprimorar seus conhecimentos e buscar uma especialização e, assim, iniciou o mestrado em Engenharia da Informação. “Nesta área é muito importante estar sempre atualizado, pois as coisas mudam muito rápido e novas ferramentas e sistemas são constantemente necessários para atender às demandas do mercado”, afirma. Em 2009, após acabar o mestrado, o profissional aceitou um convite da RBS, emissora da região sul do País afiliada à Rede Globo, para fazer parte de um projeto de expansão de seus negócios na área da internet. Fernando Babadopulos foi, durante dois anos, o responsável pela arquitetura e desenvolvimento de diversos produtos, utilizando metodologias ágeis e com foco na performance e escalabilidade. Não é coincidência o fato de que os principais empreendedores dos últimos anos estão, de alguma maneira, ligados ao mundo da tecnologia da informação. A área ainda é

recente, o que permite um número muito maior de inovações. “Embora tenha optado por apostar novamente em meu perfil empreendedor neste momento, o mercado tradicional também é bastante promissor nesta área. Como sócio da TailTarget, estou em busca de profissionais qualificados e não está fácil preencher a vaga”, ressalta. Inovadora A TailTarget é uma empresa de dados, especializada na segmentação de audiência on-line, e disponibiliza ao mercado publicitário brasileiro a primeira plataforma de segmentação de audiência para campanhas on-line. O serviço possui alcance, em tempo real, de mais de 20 milhões de internautas, identifica suas preferências e os cataloga em clusters publicitários para entregas de campanhas on-line. Antes do lançamento, os anunciantes e as agências tinham duas opções para a compra de mídia on-line. O primeiro oferece segmentação, mas não garante volume de entrega; já o segundo entrega volume mas não agrega a melhor segmentação. “Conseguimos prover uma segmentação de audiência muito mais sofisticada e entregar a campanha on-line com muito mais precisão de acerto ao público alvo solicitado pelo cliente”, comemora o jovem empreendedor. janeiro a março DE 2013 | Domínio fei

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Entrevista – FRANCISCO FERRAROLI DOS SANTOS

Dos fios técnicos ao mu N a presidência da Rhodia Fibras, multinacional que hoje pertence ao Grupo Solvay, desde abril de 2012, o engenheiro têxtil Francisco Ferraroli dos Santos consolida uma carreira de sucesso que começou quando ainda nem havia se formado na antiga Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) – que faz parte do Centro Universitário da FEI –, onde se graduou em 1973. Após passar por diferentes áreas na multinacional francesa, o executivo retorna às suas origens têxteis e conta, nesta entrevista exclusiva, como é possível aliar tecnologia para a produção de fibras que, entre outras aplicações, servem à indústria da moda, mas também podem ser aliadas da saúde.

O senhor construiu sua carreira na Rhodia, onde entrou em 1976, e está entre os 5O principais executivos do grupo no mundo. Como foi esse caminho?

Acho que uma carreira é feita por um bom berço. Não é porque estou falando para a revista, mas considero a FEI uma das escolas de Engenharia mais respeitadas do Brasil, e essa reputação não nasce de algo que aconteceu nos últi­mos três ou quatro anos. Nasce de uma história que a FEI tem e, ao longo dessa história, coloca à disposição do País engenheiros com altíssimo nível de formação. Acho que o meu berço me ajudou muito nessa caminhada. Nossa vocação, apesar de a FEI também ter formado pessoas que trabalham em outros setores com muito sucesso, é industrial e, portanto, quem quer trabalhar na indústria e se formou na FEI tem uma vantagem interessante. Além disso, acredito que o fato de ter começado a trabalhar na indústria têxtil assim que me formei e, logo no primeiro momento, por circunstâncias ligadas ao acaso – porque o acaso faz parte da vida e da carreira da gente – ter surgido uma possibilidade de vir para a Rhodia, também fez a diferença na minha trajetória. A Rhodia era, naquela época, o sonho de todo engenheiro têxtil formado na FEI. Era a empresa onde a dinâmica e a tecnologia se concentravam e todo mundo via isso como uma grande possibilidade de crescimento na carreira... E isso aconteceu ao longo da minha carreira também. Como começou a sua trajetória profissional?

Antes de ingressar na Rhodia fui trabalhar com pessoas que tinham vínculo muito forte com a França, representando empresas francesas e alemãs. O senhor Theodoro Teisano representava essas empresas e, uma delas, por causa das barreiras que o Brasil apresentava na época, decidiu fazer uma associação com uma

“Considero a FEI uma das escolas de Engenharia mais respeitadas do Brasil, e essa reputação não nasce de algo que aconteceu nos últi­mos três ou quatro anos. Nasce de uma história...” 18

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ndo da moda empresa brasileira e precisava formar alguém tecnicamente para desenvolver os produtos daqui. Isso aconteceu quando eu ainda estava estagiando. Ao terminar o quarto ano do curso fui mandado para a França, na época de férias. Fizeram uma aposta em mim e isso fez com que eu, na transição do quarto para o quinto ano da faculdade, já tivesse a oportunidade de fazer um estágio técnico no exterior. Voltando para cá, trabalhei nessa empresa durante alguns anos. Como o vín­ culo dessa empresa com a Rhodia era muito estreito e o pessoal da Rhodia me conhecia e sabia da minha formação em Engenharia Têxtil, da minha fluência em francês e tudo mais, fui convidado a vir para cá. O segundo mo­mento importante, e que ajudou muito não só a mim, mas a muitos engenheiros brasileiros, foi o fato de a Rhodia reconhe­cer a alta qualidade dos profissionais daqui a ponto de passar a confiar todos os cargos de direção a brasileiros. Vimos muitos colegas ocupando rapidamente postos de comando, fazendo com que cada vez mais a empresa pudesse se desenvolver, crescer, continuar rentável. Era o período da hiperinflação, mas a nossa capacidade de sobreviver nesse am­ biente nos deu uma imagem de competência, de capacidade de adaptação e de flexibilidade que passou a ter muito valor, fazendo com que, dali em diante, os engenheiros da Rho­ dia – e muitos da FEI – tivessem oportuni­ dade de ocupar cargos de comando aqui e ser levados para fora. E isso se tornou então, não só dentro da Rhodia, mas em muitas outras empresas, um gerador de oportunidades e de internacionalização de carreiras. O terceiro momento importante na minha carreira foi quando fui convidado para ocupar um cargo na França. Nessa hora, a minha carreira de engenheiro foi se orientando também para o lado de negócios, para o marketing, que era um aspecto que eu gostava muito. Trabalhei na França por quatro anos, supervisionando parte da rede de filiais comerciais da em­ presa. Voltando para cá, retornei à minha carreira no segmento têxtil e, depois disso, me ofereceram a oportunidade de coman­ dar a divisão de Plásticos de Engenharia no Brasil, que fabrica materiais usados na fabricação de peças, principalmente para a

indústria automobilística e eletroeletrônica. E, finalmente, no ano passado voltei para a origem e tenho uma grande satisfação de es­ tar nessa área até hoje. Assumi a presidência da Rhodia Fibras em abril e sucedi o Marcos De Marchi, que também é engenheiro têxtil formado pela FEI e que fez uma belíssima carreira na empresa. O que muda na Rhodia Fibras a partir da incorporação à Solvay?

Cada integração de empresas traz resulta­ dos diferentes. No nosso caso, tivemos uma situação muito interessante, e diria muito feliz, para o conjunto das duas empresas, porque aquilo que a Solvay faz e aquilo que a Rhodia faz formaram um conjunto de grande complementaridade. Havia quase nenhuma superposição de atividades entre as duas empresas, o que faz com que as coincidên­ cias – ou as sinergias – estejam ocorrendo de forma tranquila. As duas empresas juntas se tornam mais fortes, com uma capilarização muito maior e com condições de andar mais rápido. É evidente que um grupo mais forte, com mais recursos integrando tecnologias di­fe­rentes, nos faz buscar oportunidades que se traduzem em desenvolvimento de tecnologias novas, e isso abriu uma nova janela de oportunidades. Por exemplo, na Solvay encontramos uma divisão de polí­ meros especiais de altíssima­performance que permitem fabricar pe­ças­para a indús­ tria automobilística e aeroespacial de alta resistência. E nosso pessoal de pesquisa e desenvolvimento já está estudando como fazer fios com esses polímeros especiais. E a mesma coisa está acontecendo na equipe de P&D da Solvay, que encontra na nossa exper­ tise têxtil possibilidades de desenvolvimento de fibras diferenciadas para serem usadas, por exemplo, na filtração de altos fornos, em temperaturas elevadíssimas e outros. Quais as metas da companhia para os próximos anos?

A nova Solvay tem uma ambição muito forte de crescimento, que está apoiado em três colunas. Uma delas é o crescimento orgânico, ou seja, como podemos ocupar mais espaço no mercado com as nossas atividades atuais,

oferecendo produtos e serviços em níveis de qualidade superiores àquilo que o concor­ rente pode oferecer. Outro eixo é através de fusões e aquisições, e a empresa, inclusive, declara sua ambição de participar da rees­ truturação da química mundial. Entendemos que a indústria química no mundo tem de passar por um processo de reestruturação fortalecendo os grupos, porque os desafios que temos pela frente requerem um esforço de pesquisa e de investimentos de porte, atuando principalmente na primeira, segun­ da e terceira gerações da indústria petroquí­ mica – a Solvay atua sobretudo na terceira geração. Outra coisa são as grandes mudan­ ças da tecnologia e, neste caso, esperamos dos formandos, dos novos engenheiros que virão para integrar os nossos quadros, que venham com essa percepção de mundo. Sa­ bemos que as questões de sustentabilidade, de finitude de grande parte dos insumos e matérias-primas que a humanidade utiliza hoje obrigam a fazer um trabalho de busca de alternativas, menor intensidade de uso, reciclabilidade e assim por diante. A academia está formando profissionais bem preparados para esta área?

Acredito que os formandos que chegam aqui têm uma boa formação sim. O que sentimos é que o número de pessoas formadas não consegue suprir totalmente a demanda. Na Rhodia e na Solvay, de fato, temos uma preocupação séria com essa questão. Houve um hiato de investimentos nos anos 1980, década perdida do Brasil, de forma que mui­ tos estudantes que se formavam nas escolas de Engenharia acabaram indo para outros campos e não para a área de projetos de engenharia, por exemplo. Agora que o Brasil voltou a crescer e as empresas voltaram a fazer investimentos nessas áreas, esperamos que a academia cubra essa lacuna. Qual o perfil de profissional que interessa para a Rhodia fibras?

Hoje, a primeira coisa que buscamos é um profissional que venha conectado com o mundo que, quando eu me formei, não era algo que fizesse parte da preocupação das indústrias, porque vivíamos em um mercado Janeiro a Março DE 2013 | Domínio fei

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Entrevista – FRANCISCO FERRAROLI DOS SANTOS fechado. Queremos gente que seja capaz de olhar permanentemente para fora e trazer para cá as mudanças que estão acontecendo no mundo. Procuramos no profissional essa capacidade de estar conectado, com ótimo domínio de idiomas, capaz de assimilar o que está acontecendo fora das nossas paredes e, evidentemente, com disposição para chegar aqui e promover e aceitar mudanças. Podemos afirmar que a Rhodia Fibras é uma empresa de tecnologia voltada ao ramo da moda?

Temos uma influência muito forte da mo­da, sem dúvida. Claro que, nas nossas atividades, nem tudo é moda. Produzimos fios técnicos que vão à indústria de pneumáticos e lidamos com alta tecnologia voltada às indústrias, mas a moda sem dúvida nenhuma é um fator fortíssimo e a Rhodia exerce um importante papel nesse mundo que envolve o mercado têxtil e a moda em si. E como moda está inti­ mamente ligada ao marketing, nas escolas os professores costumam dizer que quem inventou o marketing no Brasil foi a Rhodia, porque, nas décadas de 1960/70, algumas das melhores cabeças do marketing do País, que tinham se formado no exterior e lançado aqui as primeiras iniciativas voltadas para o conceito do marketing moderno, vieram trabalhar na Rhodia e lançaram as grandes campanhas de produtos. O pioneirismo é realmente a marca da companhia?

Sim. A Rhodia foi pioneira em praticamente todos os materiais têxteis de origem artificial­ e sintética. Começamos a fabricar nessa unidade, em Santo André, em 1929, fios de acetato que eram utilizados para fazer peças de vestuário feminino, como lingerie e vestidos, além de roupa de cama. E até hoje o fio de acetato é o melhor produto que existe, por exemplo, para fazer forro de roupa masculina e feminina, pois é o que existe de mais confortável. Em 1929 foi lançada a fábrica de fio acetato e, em 1955, começamos a produzir os fios de nylon aqui. Em 1960 começamos a produzir os fios e as fibras de poliéster e, em 1964, o acrílico. Esse pioneirismo fazia com que a Rhodia precisasse ser a escola de introdução desses produtos no processo industrial. A indústria brasileira vinha desde o fim do século 19 trabalhando fortemente o algodão, que era o produto que tínhamos aqui, e os sintéticos e artificiais foram introduzi­dos pela Rhodia. Como a

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“A Rhodia foi pioneira em praticamente todos os materiais têxteis de origem artif icial­ e sintética.” indústria só tinha o conhecimento de como processar o algodão, tínhamos de trazer toda a tecnologia de processamento e ensinar até como confeccionar adequadamente as peças, porque não se costura nylon como se costura algodão, e essa movimentação toda fez com que criássemos uma estrutura muito grande para poder dar suporte técnico sobre os materiais e como trabalhar com eles nos processos têxtis que vinham em seguida. À medida que isso foi sendo feito, fomos descobrindo que precisávamos também informar o consumidor e o canal de distribuição. Assim, com o pessoal de marketing, foram sendo criadas as nossas marcas. Como foi a evolução deste processo?

Há alguns anos, como todo esse conjunto de produtos se difundiu no mundo inteiro, a inovação passou a ser feita no aperfeiçoamento de cada um desses materiais e, a partir dos anos 1990, introduzimos no Brasil as microfibras, que eram produzidas no Japão e na Europa. É o mesmo fio de poliamida que fabricávamos antes, porém, com filamentos capilares muito finos que mudam completamente a sensação de conforto. A questão do conforto térmico envolve a possibilidade de o tecido se equilibrar com a temperatura do meio ambiente e a facilidade de transportar a transpiração da superfície da pele para fora. Quando foi que a Rhodia começou a desenvolver tecnologia no Brasil?

Posso afirmar que a Rhodia desenvolveu tecnologia aqui desde os primeiros momentos de sua história. O exemplo mais evidente é o álcool-química. Quando ninguém pensava nisso, a Rhodia adquiriu em Paulínia, interior

de São Paulo, onde se localiza uma das nossas maiores plantas no mundo hoje, a fazenda São Francisco, porque estávamos no período da guerra e as matérias-primas petroquímicas se tornaram escassas. Essa fazenda tinha uma grande produção de cana-de-açúcar e o objetivo era alimentar os processos quí­micos e desenvol­ver uma tecnologia de química a partir do álcool. Esta foi uma iniciativa tomada no Brasil. Desde aquela época já tínhamos a preocupação e o interesse de ter um polo de desenvolvimento de tecnologia brasileiro, e isso permaneceu por muitos anos. Temos os nossos centros de pesquisa na França, principalmente, mas o centro de pesquisas em Paulínia data daquela época e, desde então, nunca parou de trabalhar e desenvolver tecnologias em todos os campos­ que envolvem nossas atividades. O CPP trabalha muito forte e tem competências muito desenvolvidas também nas questões ambientais. Nossos engenheiros, junto com a engenharia do CPP, desenvolveram, por exemplo, o fio Emana, novidade lançada recentemente no Brasil e que se expandiu para o mundo. Esta é a grande aposta da Rhodia para os próximos anos?

Neste momento é, em termos de inovação. Quando fizemos os primeiros estudos a respeito dos benefícios que o fio Emana trazia, uma das primeiras descobertas foi o efeito cos­mético do material. O fio Emana é um fio de poliamida que contém uma matriz polimérica com microcristais próximos da escala nano que, na medida em que recebem algum estímulo de calor externo, têm como propriedade absorver essa energia e devolver sob forma de uma radiação infravermelha. Percebemos, por meio de estudos, que aquela radiação po­deria atuar para acelerar a microcirculação dos vasos sanguíneos que estão na superfície da pele, acelerando o fluxo sanguíneo nesses vasos e, com isso, melhorar a saúde das células que compõe a pele. Essa microcirculação ajuda o organismo a absorver mais facilmente os nutrientes e eliminar mais facilmente as toxinas, e o resultado prático de tudo isso é que a elasticidade da pele melhora. Na Europa, eles traduzem isso por firmeza da pele, rejuvenescimento da pele. a indústria têxtil começa a se preocupar com a saúde das pessoas?

Essa é uma das pistas sobre as quais trabalhamos. A primeira bateria de testes que fizemos


com o Emana, e as primeiras constatações científicas, provaram os efeitos­cosméticos. No entanto, constatamos que poderia haver um efeito que ia além da pele, atuando também sobre os músculos de quem estivesse usando uma peça feita com Emana. Após o lançamento, passamos a aprofundar as pesquisas no campo da prática esportiva e, já nessa etapa, fizemos estudos em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com especialistas em Fisiologia do Esporte. Com um trabalho que durou quase dois anos, construímos um dossiê, firmemente embasado em evidências científicas, para dizer como o Emana age para alguém que está fazendo uma atividade esportiva e, de novo, constatamos que melhora e adia, por exemplo, os efeitos de fadiga muscular. A pessoa em movimento repe­titivo de esforço muscular consegue, ao usar uma peça de Emana, levantar mais peso do que levantaria sem usar, por exemplo. Triatletas relataram terem participado de uma prova e, tendo dormido usando uma roupa de Emana, acordarem no dia seguinte com uma sensação de recuperação muito mais evidente. Já temos evidências também no campo médico que nos levam a crer que, por exemplo, a radiação infravermelha favorece o processo de cicatrização, e pode ser que isso venha a ser outro campo de trabalho no futuro. Evidentemente que, na medida em que vamos avançando, precisamos agir com muita seriedade e ética, por isso, trabalhamos com pesquisadores que realmente entendam desse campo, porque a nossa especialidade é fabricar um fio que, eventualmente, pode ser portador de propriedades que se traduzam em mais conforto, mais bem-estar e, eventualmente, mais saúde. Também temos um fio com propriedades anti-UV, que visa proteger as pessoas da radiação e, consequentemente, preservar a saúde. A sustentabilidade está entre as preocupações da Rhodia Fibras?

É uma preocupação e não para de crescer. Ao mesmo tempo que projetamos um no­vo fio, temos de pensar em aditivos que vamos colocar nele, e nossa área de P&D, antes de mais nada, examina a composição de tudo aquilo que vamos usar para ver se tem algum impacto sobre a saúde das pessoas, não só pensando no usuário final, mas também naqueles que manuseiam materiais e aditivos nos nossos processos, dentro das nossas fábricas. Outra preocupação é determinar

“A Solvay é uma empresa global e tem uma preocupação de globalização dos seus produtos ...” qual é, por exemplo, o consumo energético de cada uma das fibras têxteis ao longo da sua vida. Se a Solvay é uma empresa global e tem uma preocupação de globalização dos seus produtos e da sua presença no mundo, quando concebemos um produto temos de olhar com abrangência global também. Quais são as suas melhores lembranças da época da faculdade?

Tenho lembranças muito boas da FEI, e de vez em quando lamento realmente ter estado um pouco mais distante da faculdade nos anos que se seguiram à minha formatura. Acho fantástico o fato de a escola fazer esse resgate de seus ex-alunos por meio da Domínio FEI, de tentar reconstruir um pouco esse elo e fortalecer isso nos anos vindouros. As boas lembranças envolvem assistir as aulas ainda pisando no barro quando chovia – e, naquela época, chovia muito mais. Eu ia de ônibus para a faculdade e pegava o expressinho São Bernardo e, posteriormente, o ônibus da FEI na avenida Dom Pedro, no Ipiranga. Quando alguns colegas iam de carro deixavam no estacionamento do campus e,

quando chovia, não podiam nem chegar no carro porque tinha água até o joelho. Era um negócio terrível, mas divertido. Lembro daquelas tardes em que a neblina baixava e, em período de inverno, que a gente morria gelado naqueles anfiteatros. Enquanto um cochilava, o outro batia papo no ‘Centrinho’. Outro grupinho se reunia para tocar violão e cantar uns sambinhas. Nós, da têxtil principalmente, tínhamos uma aula lá no morro, onde funciona a Escola Técnica Lauro Gomes. A aula era de sába­do de manhã e era muito gostoso, diferente. Outra lembrança muito bacana foram as aulas de máquinas operatrizes no SENAI do Brás. Essas coisas todas deixaram muita saudade. Outro momento muito bom que vivi foi quando tinha tido oportunidade de fazer meu primeiro estágio na França e, voltando, fui convidado para falar com as novas turmas, naquela recepção que fazíamos para os calouros. Ali tive a oportunidade de contar as experiências que tinha acabado de vivenciar e, depois disso, em mais um ou dois anos me convidaram para ir lá contar um pouco sobre quais eram as oportunidades que poderiam aparecer. O que o senhor faz para manter a forma e a saúde?

Sempre gostei muito de atividade física, de esporte, desde garoto. Nunca fui um esportista, mas sempre gostei de me mexer, e acho que isso ajudou muito a descarregar as tensões do dia a dia. Desde quando comecei a estudar na FEI, frequentava o acampamento dos engenheiros, um clube de campo do Instituto de Engenharia na beira da represa Billings que os estudantes podiam frequentar. Ali ficávamos ao ar livre, na piscina, jogando tênis... Como estávamos na beira da represa, deixei aflorar uma outra paixão que eu tinha desde menino, que era por náutica, e comecei a aprender a velejar. Essas atividades foram as minhas válvulas de escape ao longo da vida. Hoje pratico em menor intensidade, porque a vida foi mudando. Acho que todos nós, na vida profissional e pessoal, precisamos aprender a lidar com frustrações e com perdas, porque todo dia temos de enfrentar situações assim. Se não conseguimos, muitas vezes, realizar aquele nosso projeto ou levar aquela nossa ideia à frente do jeitinho que a gente queria, precisamos lidar um pouco com esse espírito de fazer concessões aqui para ganhar alguma coisa ali. Buscar esse equilíbrio também é muito importante. janeiro a março DE 2013 | Domínio fei

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pesquisa & tecnologia

Pesquisa envolve mate FEI investe em estudo de nova matéria-prima para aplicação naval, aeronáutica, automotiva e aeroespacial

A

relação entre instituições universitárias e empresariais datam do final do século 19, inicialmente na Europa, com o desenvolvimento da indústria química alemã e, paralelamente, nos Estados Unidos. Por natureza, as instituições de ensino investem em pesquisas para gerar conhecimento e formar profissionais mais bem preparados para os desafios do mercado, mas o alcance destas atividades vai muito além dos muros das escolas, pois o crescimento industrial e as inovações

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tecnológicas das últimas décadas estão intimamente ligados aos resultados obtidos nos estudos acadêmicos. Os desafios da indústria são muitos, e alguns deles acabam sendo comuns a diversos setores. Baseado nesta premissa, o Centro Universitário da FEI se destaca pelos fortes investimentos em projetos que envolvem temas atuais e as necessidades reais das empresas. O estudo mais recente envolvendo professores pesquisadores e alunos da Instituição é uma pesquisa multidisciplinar desenvolvida inicialmente pelos departamentos de Engenharia de Materiais e Engenharia Têxtil – mas que deverá envolver outros departamentos de ensino e pesquisa – que­visa analisar o comportamento de compósitos poliméricos de fibra de carbono para aplicação estrutural. O projeto vai ao encontro das necessidades de

diversos setores industriais que buscam materiais mais resistentes e leves, como o aeronáutico, o aeroespacial, o naval e o automotivo, que já utiliza o compósito nas competições automobilísticas, especialmente na Fórmula 1. “Este é um projeto de longo prazo, cujo objetivo inicial é entender e estudar os mecanismos de fratura de diversas combinações de compósitos de fibra de carbono e resina epóxi por meio de ensaios de fadiga, estabelecendo a melhor composição do produto para esta aplicação, sabendo que é um material recente no mercado e com utilização ainda bastante limitada, apesar de seu potencial”, explica a professora doutora do Departamento de Engenharia de Materiais, Gigliola Salerno, idealizadora do projeto. As amostras dos tecidos de fibra de carbono utilizados para a


James Group Studios/istockphoto.com

eriais especiais fabricação dos compósitos estão sendo produzidas internamente nos laboratórios de Engenharia Têxtil, permitindo aos pesquisadores mais autonomia para desenvolverem diversas composições do material. As placas de compósito propriamente ditas, compostas pelo tecido e pela resina polimérica, são produzidas nos laboratórios de Engenharia de Materiais, onde também são avaliadas quanto ao seu comportamento mecânico. O estudo tem como objetivo, em etapas posteriores, analisar as várias fases da cadeia produtiva deste tipo de compósito. “Pelo fato de o material ainda não ser utilizado em larga escala, é importante estudarmos todo o ciclo de vida do compósito para encontrar uma maneira de tornar a cadeia produtiva sustentável”, acrescenta o professor doutor Rodrigo Magnabosco, chefe de Departamento

de Engenharia de Materiais da FEI. As fases seguintes da pesquisa devem envolver outros departamentos da Instituição, como a Engenharia Mecânica, para produção dos compósitos em maior quantidade e a realização de testes de aplicação. “A primeira fase do projeto deve durar até o fim deste ano e visa analisar o comportamento dos compósitos por ensaios de fadiga cíclicos de fração e flexão alternada”, explica Priscilla Lopes da Costa, aluna do curso de Engenharia de Materiais da FEI e integrante do grupo de pesquisa por meio do programa de Iniciação Científica. A estudante destaca que pesquisas deste tipo são extremamente úteis para praticamente todos os setores industriais, pois conhecer as propriedades de um novo material é fundamental para a introdução de inovações nos processos produtivos.

Professora doutora Gigliola Salerno, do Departamento de Engenharia de Materiais

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pesquisa & tecnologia

Compósito é utilizado pela indústria aeronáutica

sambrogio/istockphoto.com

Materiais compósitos são aqueles que possuem pelo menos dois componentes ou duas fases, com propriedades físicas e químicas nitidamente distintas em sua composição. Separadamente, os constituintes do compósito mantêm suas características, porém, quando misturados, formam um composto com propriedades impossíveis de se obter com apenas um deles. Após décadas de uso restrito em alguns setores da indústria, devido ao seu custo de obtenção, os compósitos poliméricos estruturais, também denominados avançados, têm ampliado a sua utilização em diferentes setores da indústria moderna, com um crescimento de 5% ao ano. A aplicação de materiais compósitos vai desde simples artigos utilizados no dia a dia, como raquete de tênis e prancha de surf, por exemplo, até aplicações para indústrias de ponta, com destaque

para o segmento aeronáutico e aeroespacial. Nestes, alguns projetos já foram desenvolvidos com o material, como os aviões F-18 e F-22, no segmento militar, o Airbus 380 e o Boeing 787, destinados à aviação civil. “O crescente uso de polímeros reforçados com fibras de carbono no setor aeronáutico deve-se, principalmente, ao constante desafio que esta indústria possui na obtenção de componentes que exibam os maiores valores de resistência mecânica e de rigidez com menor peso”, explica a aluna Priscilla da Costa. A substituição do alumínio por compósitos poliméricos estruturais permite uma redução de peso de 20% a 30% nas aeronaves, além de 25% na redução do custo final de obtenção das peças. Embora o setor aeronáutico seja pio­ neiro no uso deste tipo de material, a ten­dência mundial mostra que a indústria automotiva, no médio e longo prazos, será a maior usuária dos compósitos poliméricos. No entanto, esta lucrativa oportunidade só se firmará quando os compósitos reforçados com fibras de vidro e carbono apresentarem preço competitivo em relação ao alumínio e ao aço. A possibilidade de aplicação dos compósitos neste

A aluna Priscilla da Costa integra o grupo de pesquisa de Iniciação Científica

setor é na manufatura de um sistema único de estruturas como chassis e carrocerias, principalmente pelos processos de moldagem, podendo ainda ser estendido à manufatura do tanque de combustível, pelo processo de bobinagem, entre outras. Hoje, a indústria automotiva já faz uso de polímeros e de compósitos com fibras picadas na fabricação de componentes sem exigência estrutural primária.


Há muito tempo os artigos têxteis deixaram de ser apenas uma forma de cobrir o corpo e passaram a ter outras funcionalidades agregadas, que atribuem às roupas maior conforto e segurança, ou maior grau de proteção contra agentes externos. Nos últimos anos, o mercado assistiu ao lançamento de tecidos capazes de filtrar os raios UV, proteger contra o fogo ou contra bactérias e fungos, além das tecnologias amplamente difundidas com foco na área de esportes e que possuem maior capacidade de transportar a umidade e permitir sua evaporação com mais facilidade através do tecido. Entre os principais beneficiados pelos avanços tecnológicos da área têxtil estão os atletas. Isso porque, com a prática de esportes, independentemente da intensidade, a temperatura interna do organismo aumenta e começa a liberar suor que, ao evaporar, utiliza a energia térmica do corpo para manter a temperatura constante. Ao vestir uma roupa, o tecido se comporta como uma barreira entre a pele e o ambiente externo, dificultando a evaporação do suor, aumentando o gasto energético do organismo e provocando sensação de desconforto. Para minimizar estes efeitos existem diversas tecnologias que contribuem para a evaporação do suor, além de apresentarem características que influenciam diretamente no desempenho do atleta. O Departamento de Engenharia Têxtil da FEI está desenvolvendo uma linha de pesquisa que visa entender, entre os tecidos comercializados atualmente no mercado para práticas esportivas, qual a melhor combinação entre fibras têxteis e estruturas de tecidos para cada situação e modalidade esportiva. “Esta linha de pesquisa é tão importante que temos cinco trabalhos de Iniciação

Científica concluídos sobre este tema e três projetos em andamento, além de cinco trabalhos de conclusão de curso”, esclarece a professora mestre Camila Borelli, chefe do Departamento de Engenharia Têxtil do Centro Universitário da FEI. A docente lembra que, nos últimos anos, houve forte mudança no foco das pesquisas desta área. “Anteriormente os estudos eram, em grande parte, voltados ao processo de fabricação dos fios e tecidos, e hoje, sem sombra de dúvida, o foco é o produto têxtil”, analisa. Para realizar os ensaios, a FEI adquiriu, em 2011, o primeiro equipamento do Brasil – o Moisture Management Tester (MMT) –, que permite que os ensaios sejam feitos de maneira mais condizente, pois os métodos convencionais de avaliação do transporte de umidade não reproduzem a realidade de maneira dinâmica. O MMT mede, por meio de sensores e mudança na resistência elétrica, as propriedades dos têxteis de transportar umidade em várias dimensões, ou seja, a propriedade de gestão de umidade.

Joshua Hodge Photography/istockphoto.com

Tecidos com gestão de umidade

Andreas Krappweis/sxc.hu

Análise de roupas esportivas Fernanda Gomes de Vasconcelos, do nono ciclo de Engenharia Têxtil e uma das alunas de Iniciação Científica envolvidas no projeto, realizou a análise de quatro tipos de tecnologias usadas atualmente no segmento de camisetas esportivas. No ensaio foi analisada a eficiência da gestão de umidade de cada uma delas quando novas e após 15 lavagens, utilizando o novo equipamento MMT. “Acredito que o MMT vai melhorar a avaliação de tecidos com novas tecnologias em um futuro próximo, porque o equipamento mede a velocidade com que a água atravessa cada tecido e o quanto se espalha em cada face do mesmo com precisão”, comenta. A aluna destaca que o estudo permitiu perceber que, em alguns casos, com o tempo e as lavagens, os tecidos vão perdendo as propriedades de gestão da umidade. “Em um primeiro momento, em todas as camisetas o suor se espalha e passa pelo tecido se evaporando e deixando o corpo seco de maneira eficaz, mas, depois de 15 lavagens, a umidade passa de forma unidirecional, o que significa que os tecidos vão perdendo a eficiência no gerenciamento da umidade”, explica. Apesar do resultado, a estudante ressalta que os atletas profissionais dificilmente são afetados por esta perda, já que utilizam apenas uma vez cada camiseta.

A estudante Fernanda Gomes de Vasconcelos fez ensaio das tecnologias

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gestão & inovação

Capital de giro impac Livro escrito por docentes da FEI é publicado em inglês e se baseia em pesquisa com várias empresas

A

s estratégias e táticas empregadas para reduzir ou eliminar capital de giro podem implicar em redução de custos e eficiências para melhorar o desempenho financeiro e operacional das empresas. No entanto, os executivos ainda encontram dificuldades em entender o comportamento dos determinantes do capital de giro de modo a tomar medidas adequadas para a gestão de cada componente e ver seu impacto na rentabilidade. Esse foi o tema da pesquisa conduzida por dois professores do Centro Universitário da FEI e que resultou no livro ‘Is working capital management a key determinant on corporate profit? A study of Brazilian listed companies of cyclical and non-cyclical consumer goods’, publicado pela Editora Lambert Academic Publishing, da Alemanha, e vendido no site Amazon, nas versões eletrônica e impressa. Os professores doutores do Centro Universitário da FEI, Hong Yuh Ching, chefe do Departamento de Administração, e Fábio Gerab, chefe do Departamento de Matemática, procuraram estudar, ainda, se o impacto da gestão do capital de giro é distinto para empresas que usam a verba intensivamente em relação àquelas que usam o ativo fixo intensivamente no seu ambiente de negócios. Para desenvolver a pesquisa, os autores selecionaram 33 empresas do setor industrial brasileiro e as dividiram em dois grupos distintos. O primeiro é formado por em-

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Os professores Fábio Gerab, chefe do Departamento de Matemática, e Hong Yuh Ching, chefe do Departamento de Administração

presas de bens de consumo cíclico (classificação da BM&F Bovespa) com ativo circulante maior que 50% do seu ativo total. Os subsetores incluídos nesse grupo são têxtil, roupas, calçados, comércio e utensílios domésticos. O outro grupo é formado por bens de consumo não cíclico com ativo não circulante concentrado em ativo fixo. Os subsetores neste caso são siderurgia, mineração, petroquímico e operação de refino, celulose e químico. As demonstrações financeiras foram obtidas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para o período de 2005 a 2009. Os autores desenvolveram um modelo multindicador para avaliar o desempenho financeiro e a rentabilidade das empresas utilizando

20 indicadores relacionados à liquidez, eficiência, alavancagem e tamanho, e outros três indicadores relacionados à rentabilidade – retorno sobre vendas (ROS), retorno sobre ativo (ROA) e retorno sobre patrimônio líquido (ROE). Também foram usados métodos de estatística multivariada para identificar os fatores que impactam no desempenho financeiro das empresas. “Os fatores comuns aos dois grupos são o tamanho, a solvência e a alavancagem financeira. Os indicadores montante do patrimônio


ta na rentabilidade? no grupo das empresas de consumo não cíclico, ao contrário do outro grupo, mais intensivo em capital de giro”, reforça o professor Fábio Gerab. No entanto, os indicadores de capital de giro foram menos capazes de explicar o comportamento da rentabilidade em ambos os grupos de empresas quando comparados com os demais indicadores utilizados. Para os professores, isso levanta a dúvida da real importância da gestão do capital de giro na rentabilidade das empresas, quando comparado com outros componentes envolvidos. O estudo aponta, ainda, que a rentabilidade pode ser explicada pelo tamanho, saúde financeira e capacidade de captação de recursos de terceiros por

parte das organizações. “Tal situação pode ser observada na estratégia de crescimento das empresas, muitas vezes calcada em aquisições e fusões, visando crescimento, ganho de escala e redução de custos”, acentuam os docentes. Os interessados em capital de giro e gestão de caixa também podem encontrar informações no livro ‘Gestão de caixa e do capital de giro’, da Editora Juruá, de autoria do professor Hong Y. Ching. Georgo/istockphoto.com

líquido e percentagem de margem bruta são os que explicam as variações do ROS, ROE e ROA no grupo de empresas de consumo cíclico. Podemos afirmar que a eficiência dos recursos empregados é em função do tamanho da firma e da margem bruta”, afirma o professor Hong Yuh Ching. No outro grupo, os indicadores montante do patrimônio líquido, liquidez corrente e alavancagem financeira explicam as variações nos indicadores de rentabilidade. Segundo os autores, a importância desses três indicadores reside na maneira como uma empresa é gerenciada, pois deve ter um foco no curto e longo prazo simultaneamente. Além dos três fatores comuns aos dois grupos, gestão do capital de giro e margem estão presentes nas empresas de consumo cíclico, enquanto o fator atividade operacional é encontrado nas organizações de consumo não cíclico. “Como esperado, o fator gestão de capital de giro não se mostrou relevante


matéria de capa

Educação sem frontei Instituições de ensino ampliam possibilidades de formação por meio de acordos e convênios de cooperação internacional

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mundo globalizado elimina fronteiras e possibilita negócios de todos os tamanhos, em todo o planeta. Para o mercado, há um universo de mais de 7 bilhões de consumidores interligados pela rede mundial de computadores, conectados por meio das mídias sociais e ansiosos por novos produtos e novas tecnologias globais. Para atender a essa demanda, profissionais de todas as áreas precisam conhecer diferentes realidades e mercados e, para que este processo se intensifique, é preciso que

comece dentro das universidades, que devem estar abertas para oferecer um conhecimento em nível global aos seus alunos por meio da internacionalização de currículos, de pesquisas conjuntas, parcerias e convênios com outras instituições ao redor do planeta. Ao longo da história, o Brasil não foi sempre aberto ao mercado internacional. Pelo contrário. O protecionismo, os subsídios e a reserva de mercado formaram o tripé básico da economia por muitos anos. Somente a partir da década de 1990 é que o País começou seu processo de abertura – política e econômica – ­e, desde então, vem traçando caminhos seguros para ampliar a credibilidade e a participação em negócios e eventos internacionais. Na área da Educação não foi diferente. Além das iniciativas individuais – tanto de professores quanto de estudantes – e de ações institucionais

isoladas por parte de algumas universidades, havia pouco investimento privado e nenhum investimento público no sentido de estender a educação para além das fronteiras nacionais. No entanto, essa realidade pode mudar, graças ao incentivo do Governo Federal ao lançar o programa Ciência sem Fronteiras, em 2011 (leia mais na página 32), e ao número crescente de instituições de ensino superior interessadas em ampliar o conhecimento de seus alunos por meio de acordos internacionais. Um exemplo é o Centro Universitário da FEI, que desde 2012 mantém um setor de Relações Internacionais exclusivamente para dar suporte a iniciativas deste tipo. “Atualmente, há uma maior movimentação das instituições de ensino no sentido de ampliar as ações internacionais e percebemos um grande potencial e um grande interesse pelo Brasil, tanto da parte de alunos quanto de do-

Instituições querem ampliar internacionalização Com exemplos de sucesso a respeito da internacionalização de currículos e determinadas a investir no intercâmbio de alunos e professores, instituições como a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) apresentaram seus modelos durante a Semana da Qualidade no Ensino, Pesquisa e Extensão na FEI. O ex-coordenador de Relações Internacionais e Interinstitucionais da Unicamp e assessor da reitoria da instituição, professor doutor Leandro Tessler, lembra que a internacionalização possibilita trazer a diversidade de culturas, idiomas e conhecimento para as universidades e a pesquisa científica se qualifica com a possibilidade de troca internacional. “No Brasil ainda há certa cultura da ‘caipirização’ e alguma resistência a essa abertura, e seria muito interessante se o Governo Federal estabelecesse estratégias para que o mundo nos veja como parceiros confiáveis, além de criar polos de ensino superior capacitados para enviar e receber estudantes e docentes, possibilitando uma inserção no cenário internacional”, acredita. A estratégia da Unicamp é tomar iniciativas neste sentido para formar pelo menos 10% dos graduados com experiência internacional. A instituição

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também pretende fortalecer a parceria com outras da América Latina e, para isso, deixou de exigir proficiência em português dos alunos hispanófonos. Além disso, trabalha para oferecer disciplinas dos cursos de graduação em inglês e, ao mesmo tempo, torná-los atrativos para estrangeiros e oferecer formação nessa língua para seus alunos. A POLI-USP deu início ao processo de internacionalização em 2001 por meio de acordos internacionais para dupla diplomação. Neste tipo de programa de intercâmbio, o aluno completa os cursos em seis anos, mas obtém dois diplomas. “Para a POLI, o Ciência sem Fronteiras foi importante para ampliar a quantidade de alunos no exterior, pois, até 2011, os intercâmbios de um ano não tinham bolsas para suprir os gastos pessoais dos alunos, uma vez que as taxas escolares ficavam isentas pelos acordos”, ressalta o professor doutor Fernando J. Fonseca, presidente da Comissão de Relações Internacionais da instituição. Com isso, nos editais do Ciência sem Fronteiras do segundo semestre de 2012 a POLI teve 294 estudantes inscritos, envolvendo todos os cursos oferecidos. Para o representante, a internacionalização é um estímulo para que os alunos deem o máximo durante o curso, destaquem-se da média do mercado e obtenham qualificações muito valorizadas pelo mercado de trabalho.


dimdimich/istockphoto.com

ras centes e pesquisadores”, afirma Tiago Muzilli, coordenador de Relações Internacionais da FEI. O assunto foi discutido­durante a Semana da Qualidade da Instituição (leia mais nas páginas 6 a 9), no início deste ano letivo, por convidados e pelos docentes e colaboradores da FEI. “O tema é novo, especialmente para o Brasil, que sempre foi voltado para si mesmo, mas é fundamental para que o País enfrente os desafios atuais, que requerem visão estratégica dos gestores públicos e privados e mão de obra cada vez mais qualificada”, destaca o embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, presidente do Conselho Curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), que serviu em diferentes países ao longo da carreira, entre os quais Paraguai, China e Japão, ex-secretário executivo de As-

suntos Estratégicos da Presidência da República e ex-secretário geral adjunto do Ministério de Relações Exteriores. Segundo o representante, as universidades deveriam criar a base intelectual da sociedade, o que levará a uma maior qualificação da mão de obra e ao crescimento da competitividade dos países. Para isso, as instituições de ensino superior devem levar em conta as questões econômicas, sociais e culturais, pois, assim, conseguirão

Há 17 anos na coordenação central da Cooperação Internacional (CCCI) da PUC-Rio, a professora doutora Rosa Marina de Brito Meyer conta que o processo começou nos anos de 1950-60, quando o Governo Federal começou a financiar bolsas para os doutores se qualificarem no exterior e a PUC-Rio qualificou maciçamente seus docentes. No início, essa relação era apenas por meio de docentes, no entanto, nas décadas de 1970-80, a PUC-Rio começou efetivamente seu processo de intercâmbio e, em 1992, criou um escritório internacional e passou a se associar mais formalmente a diferentes entidades. No décimo aniversário da CCCI, já possuía mais de 100 convênios internacionais e grande quantidade de alunos no exterior. “As regras são aprovadas pelo Conselho de Ensino e Pesquisa e, há sete anos, temos disciplinas em inglês, apesar da resistência de alguns”, resume a docente. Hoje, a PUC-Rio mantém mais de 300 convênios de diferentes tipos com universidades de todos os continentes, inclusive China e Japão, envia aproximadamente 500 alunos/ ano para mais de 300 universidades no exterior, recebe milhares de alunos em seu campus – em 2012 foram 1,3 mil –, marca presença em mais de 10 eventos internacionais por ano e é membro do board internacional de duas instituições no exterior. A professora ressalta

formar profissionais mais bem preparados para um mundo altamente competitivo, mais aberto e cujos processos produtivos serão cada vez mais intensos em conhecimento. “Mesmo tendo uma taxa de desemprego baixa, o Brasil vive um momento em que o nível médio de emprego está menos qualificado e uma das razões é que parte da mão de obra mais preparada migrou para o setor de serviços. E isso precisa mudar”, analisa.

Embaixador Luiz Augusto de Castro Neves (ao centro) com representantes da FEI e convidados da Semana da Qualidade

que é preciso estimular os alunos a buscar escolas fora dos Estados Unidos, por isso, a PUC-Rio criou bolsas para países de pouca procura, como China, Índia, Finlândia e Holanda. Segundo os coordenadores, essa visão diferenciada acaba por contaminar o corpo discente e despertar o interesse daqueles que não sonhavam com uma experiência internacional, e é a partir desse interesse dos alunos que as escolas podem atrair novos parceiros ao redor do mundo.

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matéria de capa

FEI percorre caminho

The New Dawn Singers Inc./istockphoto.com

Para intensificar as trocas de experiência e conhecimento internacionais, a FEI já desenvolve diferentes ações que incluem a presença de estudantes estrangeiros nos campi, palestrantes internacionais em eventos e uma intensa participação de docentes pesquisadores em congressos e seminários internacionais. A meta da Instituição é, em curto prazo, oferecer programas em outros idiomas e a última etapa deste processo é o posicionamento estratégico do Centro Universitário no mercado da educação global. Por ser uma escola jesuíta, a FEI também faz parte da Asociación de Universidades Confiadas a la a Compañía de Jesús en América Latina (Ausjal) e partilha a orientação da Companhia de Jesus, que vai ao encontro do perfil humanista dessas instituições. Na verdade, a internacionalização de currículos está presente na FEI desde a fundação pelo Padre jesuíta Roberto Saboia de Medeiros, pois o religioso visitou tradicionais universidades no exterior – entre as quais a Harvard University, nos Estados Unidos – de onde trouxe os conceitos para a criação da Escola Superior de Administração e Negócios (ESAN) e Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), há 71 anos. “Até bem pouco tempo, as ações internacionais não eram coordenadas e se baseavam em iniciativas individuais. Agora, queremos resgatar a história do que já foi feito, fortalecer as parcerias existentes e dar sequência de maneira mais institucionalizada, além de estimular e ampliar o escopo dessas ações”, afirma a professora doutora Rivana Basso Fabbri Marino, vice-reitora de Extensão e Atividades Comunitárias da FEI.

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Entre as parcerias já existentes estão os convênios para dupla diplomação para os cursos de Engenharia de Produção e Mecânica com o Institut Catholique des Arts et Métiers (ICAM), uma escola francesa renomada com quatro campi, sendo o principal situado na cidade de Lille; com o Conservatoire National des Arts et Métiers (CNAM), também da França, para o doutorado de Administração; e com o New York Institute of Technology (NYIT), dos Estados Unidos, para os cursos de Engenharia, Administração e Ciência da Computação. A FEI também mantém convênios com o Instituto de Tecnologia de Karlsruhe, na Alemanha, e com a Universidade de Alicante, na Espanha, entre outros projetos. Dentro do convênio da Ausjal, o Centro Universitário mantém acordo com a Pontifícia Universidade Católica do Equador (PUCE) para ministrar cursos de curta duração a estudantes de pós-graduação daquela instituição. Aproximadamente 150 alunos já participaram dos cursos de Auditoria da Qualidade, Gestão da Qualidade na Organização e Marketing Internacional ministrados pelo Instituto de Especialização em Ciências Administrativas e Tecnológicas (IECAT). “Nosso objetivo é ampliar as ações potenciais da rede Ausjal para enviar e receber docentes e estudantes para essa e outras instituições de ensino reconhecidamente competentes na formação de profissionais qualificados para o mercado global”, enfatiza a vice-reitora. Com a criação do setor de Relações Internacionais, a FEI está mais bem estruturada para ampliar a assessoria, o apoio, o acompanhamento e a orientação a estudantes e professores com interesses em pesquisas e intercâmbios internacionais, além de trabalhar para dar mais visibilidade à sua estrutura educacional e de pesquisa no exterior. “A Instituição


seguro também está mais aberta para receber alunos estrangeiros em seus campi. Queremos trabalhar com a formação de modo a dar mais oportunidades aos estudantes e vamos dar continuidade a essa estrutura que visa atender a essa nova demanda, que é relevante para a formação dos nossos alunos”, acentua a professora doutora Rivana Basso Fabbri Marino. México Um bom exemplo é a presença da estudante mexicana Carmina Cabrera, de 21 anos, que está frequentando as aulas no campus São Bernardo do Campo desde o início do ano letivo, em fevereiro. A aluna de Ciências da Comunicação do Instituto Tecnológico de Estudios Superiores de Occidente (ITESO), em Guadalajara, no México, ficará seis meses cursando quatro disciplinas do curso de Administração – Marketing, Comunicação Empresarial, Psicologia Aplicada à Administração 2 e Sistemas da Informação –, que valerão créditos em seu curso de origem. “O conteúdo das aulas vai ajudar muito para a minha

A estudante mexicana Carmina Cabrera estudará um semestre no curso de Administração

formação e estou gostando muito desta experiência. Fui recebida muito bem na FEI e tenho gostado das aulas e dos colegas de turma”, resume Carmina Cabrera. A jovem conta que não tem dificuldades com o idioma e os professores procuram

dar exemplos internacionais para que possa acompanhar as aulas com mais segurança. Surpresa com o tamanho do campus, a estudante também pretende aproveitar bem a estrutura, especialmente a piscina.

Barreiras transponíveis Um dos principais entraves para a internacionalização da educação no Brasil é o idioma inglês, ainda pouco conhecido pela grande maioria da população. Segundo pesquisa publicada na revista Veja (edição 2284), dentre 76 países pesquisados sobre o ensino avançado do inglês aplicado ao mundo dos negócios, o Brasil está em 67º lugar. Além disso, dos quase 200 milhões de brasileiros, apenas 10,5 milhões falam inglês e, destes, somente 20% se comunica bem no idioma. ”Os idiomas são difíceis de forma geral, no entanto, a proficiência no inglês atualmente é fundamental para os profissionais que desejam entrar no mercado de trabalho, pois as empresas são globais”, destaca o coordenador de Relações Internacionais da FEI, Tiago Muzilli ao lembrar que até mesmo as empresas genuinamente nacionais utilizam, em seus processos produtivos, componentes e tecnologia do exterior. Por isso, a Instituição já estuda a possibilidade de incluir, em um futuro breve, o ensino do idioma nos currículos de seus cursos de graduação. Para estimular os alunos e facilitar a realização do TOEFL (Test of English as a Foreign Language), um dos mais conhecidos exames de proficiência norte-americanos e cujo objetivo principal é avaliar o inglês de quem pretende ingressar em universidades dos Estados Unidos ou Canadá, a FEI se tornou, neste ano, a única Instituição do Grande ABC a oferecer o teste. A cada 30 alunos inscritos para o TOEFL, o Centro Universitário disponibilizará uma bolsa gratuita para um estudante bolsista da Instituição. Aberto a todos os interessados, o exame será realizado na FEI uma vez ao mês. Em março, o Governo Federal também lançou o programa ‘Inglês sem Fronteiras’ que, em um primeiro momento, será centrado nas universidades federais. O curso será disponibilizado, ainda, para estudantes de escolas privadas com notas altas no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e prevê a ida de 550 professores para curso de capacitação nos Estados Unidos.

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matéria de capa

O Centro Universitário da FEI está entre as primeiras instituições privadas do País a aderir ao programa Ciência sem Fronteiras, do Governo Federal, que disponibiliza bolsa de estudos para alunos brasileiros em universidades de vários países, ao enviar, em janeiro de 2012, sete estudantes dos cursos de Engenharia Química, Elétrica e Mecânica para universidades nos Estados Unidos. Por meio de análise de desempenho, os alunos estudam por até um ano sem custo algum e ainda recebem uma ajuda financeira do governo. No segundo semestre do ano passado, a FEI enviou mais 45 estudantes e, em janeiro deste ano, outros 14. Atualmente, são 44 alunos do Centro Universitário participando do intercâmbio em universidades nos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Espanha, Reino Unido e Portugal. Para 2014, a Instituição vai ampliar as opções em países como Suécia, Coreia do Sul, Hungria, Noruega, Irlanda e China. Para cada local há um programa diferente e o intercâmbio prevê nove meses de curso e três de estágio em empresas locais ou, ainda, três meses iniciais de inglês e nove de curso. “Se contarmos as opções

Foto: Arquivo pessoal

Experiência que agrega valor ao Allex de Souza Cabral cursou algumas matérias relacionadas com a Engenharia Química e outras nas áreas de Engenharia de Materiais, Ciência dos Materiais e Bioengenharia

disponíveis por meio da rede Ausjal, dos acordos e do Ciência sem Fronteiras, os alunos da FEI têm mais de 30 destinos possíveis para intercâmbio”, informa o gestor de Relações Internacionais da Instituição, Tiago Muzilli. Embora seja mais direcionado a programas de áreas científicas e tecnológicas, já há possibilidade de serem abertas vagas também para alunos de Humanas, como Administração, nos próximos anos. O maior desafio das instituições brasileiras é adequarem os currículos para oferecer aos alunos bolsistas a possibilidade de usar os créditos no curso regular.

No entanto, por parte dos alunos, a oportunidade de fazer o intercâmbio compensa a necessidade de ficar um tempo maior na FEI. Esta é a opinião de estudantes que foram na primeira turma do programa, em 2012, e já retornaram, como Paula Juliana Correia, do sétimo ciclo de Engenharia Química, que ficou um ano na North Carolina State University, na Carolina do Norte. A dedicação aos estudos foi um dos requisitos que levaram a aluna a conquistar uma das vagas, além do conhecimento do inglês. Por ter conseguido estudar o mesmo curso lá fora, a jovem eliminou as matérias do quinto

Curso com padrão internacional sem sair do Brasil Além dos intercâmbios, os acordos de cooperação também permitem ao Centro Universitário da FEI ampliar as oportunidades para estudantes participarem de cursos no próprio campus, porém, ministrados por professores e pesquisadores estrangeiros. No ano passado, alunos de mestrado e doutorado em Engenharia Elétrica participaram do curso ‘Microfabricação e Modelagem de Componentes MOS Avançados’ com o professor doutor Antonio Cerdeira e a pesquisadora Magali Estrada, ambos consagrados mundialmente na área e professores titulares do Centro de Investigação do Instituto Politécnico Nacional do México.

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O curso, ministrado por um período de três meses e que não foi restrito aos alunos da Instituição, se transformou em disciplina na FEI a partir deste ano. “Vamos usar o conhecimento adquirido e o material que os professores nos deixaram para oferecer este conhecimento a mais alunos”, explica o professor doutor Marcelo Pavanello, vice-reitor de Ensino e Pesquisa do Centro Universitário, ao adiantar que o objetivo é ampliar o número de professores visitantes em curto prazo. Um dos alunos do curso, Rodrigo Moreto está cursando o doutorado em Engenharia Elétrica na FEI e sua pesquisa

envolve simulação e fabricação de amplificadores operacionais de transcondutância utilizando modelos CMOS comerciais. O engenheiro, que se formou na Instituição em 2003, projetou os amplificadores durante o mestrado e iniciou o doutorado no ano passado com objetivo de validar os resultados de simulação nos laboratórios do Centro Universitário. “O curso internacional agregou um conhecimento importante para mim a respeito da melhor forma de modelar novos dispositivos MOS que estão sendo desenvolvidos”, informa. Para Genaro Mariniello da Silva, também aluno de doutorado da FEI, o curso


Foto: Arquivo pessoal

currículo ciclo, porém, por questões de currículo, está fazendo parte do sexto ciclo juntamente com o sétimo. “Isso não é problema. A oportunidade de estudar no exterior, conhecer pessoas e culturas diferentes compensa qualquer sacrifício. Fiz amigos de vários lugares e minha visão de mundo mudou completamente”, afirma a jovem, que fez seu estágio na empresa Praxair, do segmento de gases industriais. O professor doutor João Chang Junior, coordenador do Ciência sem Fronteiras na FEI, acrescenta que o programa permite aos estudantes saírem da zona de conforto e se movimentarem para aprender a vivenciar o dia a dia de uma sociedade diferente. O estágio também é uma oportunidade de aprendizado importante, que pode até se transformar em emprego ao voltarem ao Brasil, uma vez que muitas empresas têm subsidiárias no País. “Os alunos que estudam fora voltam com uma autonomia e responsabilidade que se refletirão no futuro, principalmente se resolverem fazer cursos de mestrado e doutorado”, acrescenta, ao contar que estes estudantes também estão sendo procurados por grandes empresas desde que voltaram do intercâmbio, devido ao importante diferencial conquistado para a formação. Um dos objetivos do programa é que os alunos possam ter a equiparação do currículo. Para isso, há um tutor para cada área do conhecimento em busca da equivalência curricular. “A carga horária no exterior é um terço em relação ao Brasil e o conteúdo programático é muito diferente. Por isso, essas alterações curriculares são fundamentais, pois trarão ganhos efetivos para as universidades brasileiras”, destaca o professor. A segunda etapa é enviar e receber professores com verbas do Ciência sem Fron-

propiciou ferramentas para começar a investigar como modelar as curvas de capacitâncias dos transistores MOS sem junção em relação às tensões aplicadas nestes dispositivos. “A oportunidade de discutir e conhecer o que outros países estão desenvolvendo em relação aos transistores é muito importante para todos que trabalham nesta área”, acentua o engenheiro eletricista formado na FEI em 2009 e que estuda, no doutorado, as propriedades técnicas em transistores nanométricos sem junção, que podem contribuir com a qualidade de fabricação de dispositivos eletrônicos cada vez menores presentes em equipamentos onde ocorrem significativas variações de temperatura.

Paula Juliana Correia ficou um ano na North Carolina State University

teiras, como é o caso do professor português Fernando Oliveira, que mora em Singapura e deverá ficar 15 dias na FEI no segundo semestre deste ano. Vivência O estudante de Engenharia Química Allex de Souza Cabral conseguiu se enquadrar ao Ciência sem Fronteiras por causa da boa média na FEI e pela nota conquistada no exame de proficiência de inglês TOEFL. O aluno foi para a University of California Davis, onde cursou algumas matérias relacionadas com a Engenharia Química e outras nas áreas de Engenharia de Materiais, Ciência dos Materiais e Bioengenharia, todas voltadas à nanotecnologia. “Minha estada foi maravilhosa. Além da chance de estudar em uma faculdade norte-americana no mesmo curso da FEI, tive a chance de expandir meus conhecimentos, indo para áreas novas da engenharia”, relata. A oportunidade de trabalhar com pesquisa, aliada à vivência em outra cultura e à possibilidade de aprender a se ‘virar’ sozinho, aprimorar o inglês e conhecer lugares também são fatores considerados importantes para o aluno, que afirma ter amadurecido durante a sua estada nos Estados Unidos.

Rodrigo Moreto e Genaro Mariniello da Silva: oportunidade valiosa

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arquivo

Matemática, a fórmula Ciência fundamental está presente em todos os cursos ministrados pela FEI desde a sua fundação

Professor Custódio Thomaz Kerry Martin

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JazzIRT/istockphoto.com

A

Matemática, que vem do grego máthema e significa a ‘ciência do conhecimento, do raciocínio lógico e abstrato’, tem linguagem e conceitos universais e desempenha um papel importante em toda a história da humanidade por ter aplicações em diversos campos, contribuindo para o desenvolvimento de áreas como saúde, tecnologia e comunicações. Tamanha importância pode ser conferida nos programas pedagógicos dos cursos de Ciências Exatas e Ciências Sociais Aplicadas, nos quais é amplamente utilizada. Na FEI, onde a Matemática está presente nos currículos dos cursos de Administração, Engenharia e Ciência da Computação, a disciplina é trabalhada constantemente para colaborar com a formação integral dos alunos. Até 1968, as disciplinas de Física e Matemática eram reunidas no Departa-

mento de Ciências Básicas e chefiadas pelo professor Miguel de Oliva Feitosa, mas, após reunião da Congregação realizada em 9 de março daquele ano, foram criados os departamentos de Matemática e de Física, que ficaram sob chefia respectivamente do próprio professor Miguel de Oliva Feitosa, que também era chefe da cadeira de Geometria Analítica e Cálculo Vetorial, e do professor Benedito Fleury da Silveira, chefe da cadeira de Física Geral e Experimental. Na época, os professores

coordenadores eram Luiz Mauro Rocha na matéria de Cálculo; Joaquim Dias Tatit, de Cálculo II; e Carlos Alberto Callioli, de Geometria e Álgebra Linear. Como o campus São Bernardo do Campo da FEI era novo – foi inaugurado em 1963 –, a infraestrutura era muito restrita e, apesar da divisão, os departamentos compartilhavam o mesmo espaço no prédio D, atualmente edifício da Engenharia Elétrica. Somente após alguns anos, com a construção de novas áreas, os depar-


da sabedoria

tamentos ganharam suas próprias salas. Os alunos tinham aulas no prédio B, pois era a única área do campus que conseguia comportar aproximadamente 80 estudantes por classe. Diferentemente de hoje, os estudantes utilizavam apenas régua de cálculo, pois não existiam computadores e o acesso à calculadora era muito restrito devido ao alto preço. O professor do Departamento de Matemática, Álvaro Puga Paz, que em setembro passado comemorou 50 anos de FEI,

lembra que existiam outras dificuldades. O terreno, doado pelo então prefeito Lauro Gomes ao seu amigo Ferreira Filho, diretor da FEI na época, era de difícil acesso e não tinha asfalto. “Literalmente, amassávamos barro. Algumas carteiras, que na época eram longas, mesmo quando quebradas serviam de apoio para escrever; era uma verdadeira aventura. No entanto, alunos e professores nunca reclamavam, pois sabiam que teriam um futuro promissor pela frente”, relembra.

multidisciplinar Nos últimos 15 anos, o Departamento de Matemática ampliou o número de professores para atender às necessidades da FEI e as modificações que ocorreram durante a história da Instituição. “Com a introdução do curso noturno de Engenharia, em 1998, e a criação do Centro Universitário da FEI, em 2002, realizamos mudanças para adequar o corpo docente e atender a demanda em todos os cursos”, explica o professor Custódio Thomaz Kerry Martins, que entrou na FEI em 1978 e, entre os anos de 1999 e 2010, chefiou o departamento. O professor Adilson Novazzi, que ingressou na FEI em 3 de março de 1969 e ainda é professor titular do Departamento de Matemática, afirma que quando a Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) foi criada, os professores convidados para dar aulas eram, em sua totalidade, docentes da Universidade de São Paulo (USP). Hoje, o setor é formado por 40 professores, entre eles 24 doutores, quatro doutorandos e oito mestres. Para as aulas, os alunos dispõem de cinco salas de laboratórios computacionais – que foram reformadas há um ano e meio – com 37 máquinas em rede equipadas com software LanSchool, que permite interação entre o professor e os alunos por meio do computador. Devido à importância da Matemática em todas as áreas do conhecimento, o departamento permeia por todos os cursos da Instituição, tanto no ciclo básico quanto profissionalizante, sendo responsável por oito disciplinas de Ciência da Computação, sete da Engenharia e cinco da Administração. Nestas disciplinas desenvolvem-se as capacidades e habilidades para o tratamento matemático inerente aos trabalhos dos profissionais dessas áreas, visando contemplar tanto os aspectos conceituais da Matemática como também suas aplicações. Os conteúdos abordados estão janeiro a março DE 2013 | Domínio fei

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arquivo articulados com as necessidades e demandas dos cursos e possibilitam aos estudantes desenvolver, além das competências intrínsecas da Matemática, a argumentação e organização lógica, o raciocínio analítico, a visão espacial e a capacidade de modelagem matemática, hoje tão presentes nas distintas áreas da atuação profissional. Para tanto, a FEI também aplica métodos numéricos e estatísticos em problemas reais da Administração, da Ciência da Computação e da Engenharia, utilizando, muitas vezes, ambientes computacionais. “Esta abordagem, executada pelo departamento com autonomia operacional e com total interação com as coordenadorias de cursos, busca permitir que o estudante, quando formado, esteja apto a utilizar a Matemática em áreas distintas, de finanças ao desenvolvimento de produtos e de sistemas, e seja capaz de acompanhar a evolução cada vez mais rápida e multidisciplinar dos conhecimentos”, informa o professor doutor Fábio Gerab, chefe do Departamento de Matemática desde 2010. Além disso, o departamento está em constante adequação dos conteúdos e metodologias, como, por exemplo, a criação de uma nova disciplina que aborda tópicos de Estatística Multivariada, antes discutidos somente em pós-graduação e, agora, tratados na graduação de Administração.

O professor Álvaro Puga Paz está há mais de 50 anos na FEI

Projetos incluem novas linhas de pesquisa Nos últimos três anos, o Departamento de Matemática intensificou os projetos de pesquisa e, desde então, tem percebido um resultado positivo, como o aumento dos trabalhos de Iniciação Científica na área e editais de pesquisas submetidos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O departamento tem como meta aumentar a colaboração com os diferentes cursos no sentido de introduzir ainda mais a disciplina nos programas pedagógicos. “O objetivo é integrar pesquisas com características próprias da Matemática nos programas de pós-graduação e até mesmo criar cursos específicos na área, pois temos professores com formação vasta que podem atuar como orientadores e coorientadores e trabalhar em conjunto com as linhas de pesquisas”, explica o chefe do departamento, professor doutor Fábio Gerab. No momento, três linhas de pesquisa estão em desenvolvimento no departamento: Matemática e Tecnologia, Probabilidade e Estatística e Educação Matemática. Esta última teve dois projetos aprovadas pelo CNPq: ‘O Resgate do Aprendizado do Desenho no Ensino Médio para os cursos de Engenharia’, de autoria do professor Armando Pereira Loreto Junior, e ‘A Resolução de Problemas: Contribuição da Matemática no Ensino Médio para Despertar o Interesse pela Graduação em Engenharia’, cujo autor é o professor Custódio Thomaz Kerry Martins. Além destas pesquisas, há uma forte colaboração entre o Departamento de Matemática da FEI e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com estudos sobre a análise quantitativa de dados qualitativos. “A colaboração tem caráter amplo e envolve pesquisadores do nosso departamento e do Centro de Desenvolvimento do Ensino Superior em Saúde da Unifesp (CEDESS)”, conta o professor Fábio Gerab. Outra colaboração bastante intensa tem sido desenvolvida

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Professor doutor Fábio Gerab é o atual chefe do departamento

entre o Departamento de Matemática e o Departamento de Administração do Centro Universitário da FEI, que já resultou em vários trabalhos publicados e no livro ‘Is working capital management a key determinant on corporate profit? A study of Brazilian listed companies of cyclical and non-cyclical consumer goods’ (LAP Lambert Academic Publishing GmbH & Co. KG, 2012), de autoria dos professores Hong Yuh Ching, chefe do Departamento de Administração da Instituição, e Fábio Gerab (leia matéria na página 26).


Disciplina é fundamental para todas as carreiras Amada por uns e rejeitada por outros, a Matemática sempre teve fama de ser uma disciplina difícil, o que provoca em muitos estudantes – da alfabetização ao ensino médio – medo, angústia e preocupação com a matéria. No entanto, quando são apresentados à disciplina, muitos estudantes percebem que é uma ciência exata e, portanto, possível de ser entendida. Ao ingressarem na universidade, os alunos entendem que a Matemática vai muito além de fórmulas e contas e é fundamental para o desenvolvimento do raciocínio lógico, além de ser imprescindível para a capacitação profissional. Este foi o caso do estudante do nono ciclo de Engenharia Mecânica, Regis de Matos Curvelo de Barros que, antes de ingressar na FEI, não se identificava muito com esta ciência. “No entanto,

logo percebi que a Matemática é a linguagem da Engenharia e dá subsídios para ficarmos mais capacitados. Ao gostar da matéria passei a encarar as disciplinas de todas as áreas com mais seriedade e imparcialidade, aumentando meu conhecimento”, ressalta. Esta familiaridade colaborou para que Regis Curvelo de Barros ingressasse em um projeto de Iniciação Científica que, embora fosse relacionado à Engenharia, utilizou a Matemática pura para chegar aos resultados. A disciplina também foi a base para o trabalho de Iniciação Científica da estudante do oitavo ciclo de Administração, Leila Correa Geyer. “A Matemática permite mais precisão nas tomadas de decisões do administrador, além de ajudá-lo a ter parâmetros. No dia a dia da nossa pro-

fissão, todas as decisões devem ser bem planejadas e os cálculos matemáticos são muito importantes para se evitar tropeços”, acredita a estudante. A opinião também é compartilhada pelo ex-aluno Ivander Augusto Moraes Bueno, que concluiu o curso de Engenharia Química no segundo semestre de 2011 e, diariamente, convive com a Matemática. “Com exceção da Química Orgânica, durante toda a graduação trabalhei com esta disciplina, até mesmo em meus dois trabalhos de Iniciação Científica. E, hoje, trabalhando em uma multinacional que elabora projetos de engenharia voltados ao cimento e à mineração, diariamente faço uso desta ciência para realizar cálculos de projeto e otimizar processos”, explica o engenheiro.

LEILA

A aluna de Administração Leila Correa Geyer e o engenheiro Ivander Augusto Moraes Bueno destacam a importância da Matemática

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pós-graduação

Décadas de parceria Pós-graduação em Engenharia Automobilística foi criada em 1992

P

ara atender à demanda crescente da indústria automobilística no Brasil no início dos anos de 1990, o Centro Universitário da FEI criou, em 1992, o curso de pósgraduação em Mecânica Automobilística. Por meio do curso, a Instituição capacita profissionais formados em diferentes áreas a se tornarem especialistas no desenvolvimento de projetos de veículos. Mesmo após duas décadas, o curso continua atual e atende às necessidades da indústria automotiva, que passa por um reaquecimento e tem projeções de crescimento entre 3,5% a 4,5% neste ano, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Direcionado a engenheiros e tecnólogos, o lato sensu já formou mais de 35 turmas, compostas por cerca de 30 alunos cada, totalizando mais de mil profissionais. Com 11 disciplinas, entre elas Planejamento do Veículo, Ferramentas de Suporte no Desenvolvimento do Produto, Desenvolvimento Técnico de Sistemas do Automóvel, Comportamento Dinâmico do Veículo, Projeto de Elétrica e Eletrônica Embarcada no Veículo, o curso capacita os profissionais a se tornarem especialistas no desenvolvimento de projetos de veículos para o setor automotivo. O curso foi constantemente atualizado, incorporando novas tecnologias e metodologias de ensino. “Hoje, está alinhado com as necessidades dos profissionais do setor e das empresas, propiciando o conhecimento do conceito técnico para o desenvolvimento dos projetos de veículos e seus componentes, tanto para o profissional da montadora como para o pessoal de empresas desenvolvedoras de componentes e peças”, enfatiza o coordenador do curso, professor mestre Edson Esteves. Além da infraestrutura oferecida pela FEI, o corpo docente é destaque, pois é formado por 12 professores, entre eles doutores, mestres e especialistas com experiências em empresas do setor

Fábio Vieira dos Reis trabalha há 11 anos na área de Powertrain

automobilístico e na vida acadêmica. Essa expertise atrai a atenção de profissionais e de empresas, que fecham cursos para qualificação dos seus colaboradores, como Volkswagem, Neumayer­Tekfor e MAN Resende. “Quando necessário, ministramos as aulas nas próprias empresas, mas, normalmente, o curso fica sediado no campus São Bernardo do Campo. Também é possível ministrar as aulas no campus São Paulo, no entanto, para isso é preciso formar uma turma de, no mínimo, 15 alunos”, explica o coordenador. Aprovado Formado em Engenharia de Produção, o técnico de produto da Volkswagen, Fábio Vieira dos Reis, está há aproximadamente 11 anos na área de Powertrain e sentiu a necessidade pessoal e profissional de aprimorar a técnica e se aprofundar ainda mais no assunto. Por isso, em 2011 concluiu a pós-graduação em Mecânica Automobilística na FEI. “O conteúdo abordado é excelente e exclusivo, como a disciplina Análise Estrutural do Veículo e Projeto de Chassi e Suspensão e Direção, lecionadas brilhantemente por Gustavo Donato e Daniel Baleky, respectivamente”, afirma, ao ressaltar que a escolha pela Instituição ocorreu devido ao conceito e ao reconhecimento que a FEI mantém em todo o País.

O curso Objetivos – Complementar os conhecimentos adquiridos em cursos de graduação e tecnologia na área mecânica para os profissionais que atuam ou desejam atuar no segmento do mercado automobilístico. Público-alvo – Profissionais com graduação em Engenharia e/ou Tecnologia Mecânica, com interesse no aperfeiçoamento e atualização dos conceitos de desenvolvimento do projeto do veículo. Candidatos de outras áreas da Engenharia que atuam em organizações do mercado automobilístico poderão ser avaliados com base na análise curricular e entrevista.

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Pré-requisitos – Graduação em cursos de Engenharia e/ou Tecnologia Mecânica, análise curricular e avaliação/entrevista para engenheiros e/ou tecnólogos que atuam em áreas da Engenharia Automobilística. Duração do curso e local – 400 horas distribuídas em três semestres letivos, no campus de São Bernardo do Campo, e também sob consulta no campus São Paulo ou em empresas interessadas. Informações – Campus São Bernardo do Campo – (11) 4353-2909. Envio de currículos para análise – iecat@fei.edu.br


stricto sensu

Restauração de fotos para o bem social Técnica desenvolvida no mestrado da FEI colabora com sistemas que usam imagem da face

C

om o avanço da tecnologia,

frentusha/istockphoto.com

cresceu também o número de aplicativos que utilizam a face como informação importante para a identificação de pessoas, como o processo de busca por crianças desaparecidas. No entanto, para o reconhecimento automático de imagens é preciso que as fotos estejam com um determinado padrão de resolução, o que nem sempre acontece. Essa dificuldade serviu de inspiração para uma dissertação de mestrado que identifica defeitos, danos

e rasuras em fotos de rosto, os elimina e ainda consegue reconstituir a face. Desenvolvido pelo mestre em Engenharia Elétrica André Sobiecki, o trabalho ‘Segmentação e restauração digital de artefatos em imagens frontais de face’, orientado pelo professor doutor Carlos Eduardo Thomaz, do Departamento de Engenharia Elétrica, tem como objetivo tornar imagens de face danificadas ou com artefatos em fotos com melhor qualidade de visualização, favorecendo o desempenho dos algoritmos de reconhecimento facial. Para se chegar nesse resultado, as imagens percorrem três etapas: verificação de qualidade, identificação da rasura e reconstrução das características da face. Para os modelos computacionais que fazem essa restauração, André Sobiecki criou algoritmos e estudou métodos de restauração digital (do inglês inpainting) já existentes, como os desenvolvidos pelo professor doutor Alexandru Telea, do Departamento de Visualização Científica e Computação Gráfica da Universidade de Groningen, na Holanda. “O destaque desse trabalho é que, além de restaurar rasuras das fotos, também é possível corrigir a área danificada inserindo parte de uma imagem semelhante. Por exemplo, em uma foto de criança com chupeta retiramos o objeto e inserimos uma boca que mais se assemelha com as características biométricas dessa criança”, explica o orientador. Essa técnica pode ser utilizada,

O doutorando André Sobiecki desenvolveu técnica para restauração de faces em fotografias

por exemplo, em fotos de pessoas desaparecidas, que geralmente são de baixa qualidade digital, em preto e branco ou danificadas por carimbos, luminosidade e presença de óculos. “A preocupação em melhorar a qualidade digital de imagens de face automaticamente é pouco explorada. Além disso, os métodos de restauração digital inpainting começaram a ser desenvolvidos há aproximadamente 13 anos e são extremamente novos para a comunidade científica”, explica o autor do estudo. Logo após finalizar o mestrado, André Sobiecki começou o doutorado na Universidade de Groningen e tem como orientador Alexandru Telea, que se interessou pela sua dissertação de mestrado e, hoje, trabalha conjuntamente na criação de novos métodos de inpainting para imagens de face. “Como passo futuro, imagino me aprofundar mais nos métodos de segmentação e procurar atingir melhores resultados na parte de identificação de artefatos”, argumenta o doutorando. janeiro a março DE 2013 | Domínio fei

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Foto: Arquivo pessoal

Conhecimento técnico e solidariedade Professor e alunos de Engenharia Elétrica desenvolvem gerador de energia para aldeia indígena

T

otalmente fora do cotidiano das grandes cidades, mais precisamente a 5 quilômetros de Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, está localizada a aldeia indígena Boa Vista, onde moram cerca de 200 índios Guaranis. Com uma condição de vida precária, principalmente pela ausência de eletricidade, a agricultura é a única fonte de subsistência deste grupo de brasileiros. No entanto, desde o dia 25 de janeiro deste ano, a aldeia passou a ser beneficiada com o fornecimento de energia elétrica graças à iniciativa de um professor e três alunos de Engenharia Elétrica da FEI. Aproveitando as nascentes de água disponíveis na aldeia, o grupo desenvolveu um gerador de energia elétrica capaz de fornecer iluminação para algumas casas, com lâmpadas PL, e de fazer funcionar eletroeletrônicos, como rádio, televisão e até duas geladeiras econômicas. A ideia partiu do professor do Departamento de Engenharia Elétrica da FEI, Mario Kawano, que desenvolve diversos sistemas com objetivo de ajudar comunidades carentes a aprimorarem o seu modo de vida por meio da energia elétrica. Assim como ocorre em outros projetos já desenvolvidos, o docente teve a colaboração de alunos da FEI para colocar o dispositivo em prática na aldeia. Luiz Victor Esteves, Rafael Augusto Coelho e Stefanie Gebara foram os futuros engenheiros que contribuíram para a realização do projeto. Além dos estudantes da FEI, o professor teve colaboração de três alunos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “A água que está sendo usada no gerador vem de uma das nascentes localizadas na área, onde foi feita uma canalização utilizando mangueiras de incêndio, que captam a água em um

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córrego e descem pela margem do mesmo”, afirma a aluna Stefanie Gebara. A partir dessa infraestrutura é possível acionar uma turbina que liga um alternador automotivo. A pequena potência gerada é armazenada em baterias que, por meio de um inversor, tem capacidade de fornecer iluminação para algumas casas da aldeia. O professor Mário Kawano acrescenta que a canalização foi feita utilizando mangueiras de incêndio vencidas, doadas pelo Centro Universitário da FEI. Para desenvolver o projeto na aldeia e percorrer os 25 metros de queda d’água foram necessários 345 metros de mangueira. Nesta primeira etapa, nem todas as famílias foram beneficiadas e, para expandir o projeto, serão necessárias mais parcerias. “O objetivo é beneficiar a todos com a energia elétrica e, para isso, é necessário arrecadar mais verba para instalar o restante das turbinas e realizar as compras das mangueiras”, explica o estudante Luiz Victor Esteves. Alternativa sustentável Diversos projetos de tecnologia social já foram desenvolvidos na FEI com a coordenação do professor Mário Kawano e a participação de mais de 100 alunos. No começo dos anos 2000, um gerador social de energia destinado a melhorar a qualidade de vida de famílias que viviam em comunidades distantes foi instalado em pequenas propriedades rurais privadas do fornecimento de eletricidade. O projeto é uma alternativa sustentável de geração de energia, pois é constituído com material reciclado e não prejudica o meio ambiente. “Quem mora afastado das áreas urbanas e não tem energia elétrica vive completamente isolado do mundo e, com isso, perde campanhas de vacinação, não recebe informações importantes e não tem acesso a serviços públicos fundamentais. Mesmo assim, algumas comunidades, como as quilombolas, não querem sair de seus locais de origem, e é para essas pessoas que desenvolvemos o gerador social”, acrescenta o professor.


AGENDA

primeiro semestre de 2013 15

a

18 de abril

1º Congresso Científico Têxtil e de Moda

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a

17 de maio

Semana da Administração e Feira de Negócios Campus São Paulo

Pavilhão de Exposição Expo Center Norte

O Centro Universitário da FEI será umas das instituições apoiadoras da 1ª edição do Congresso Científico Têxtil e de Moda, que será realizado de 15 a 18 de abril no Pavilhão Azul do Expo Center Norte. Durante o evento, alunos de Engenharia Têxtil da FEI apresentarão suas pesquisas. O congresso tem como objetivo, além de privilegiar os trabalhos que venham a contribuir para o desenvolvimento do segmento têxtil, proporcionar aos professores, pesquisadores e estudantes a possibilidade de divulgar suas produções acadêmicas nas áreas de Gestão, Tecnologia e Moda. Saiba mais no site www.contexmod.com.br.

22

a

26 de abril

Semana da Engenharia e Computação Campus São Bernardo do Campo

Com objetivo de aproximar o aluno das novas tendências do mercado de trabalho, além de ampliar sua visão técnica sobre a Engenharia e a Ciência da Computação, o evento reúne todas as modalidades oferecidas pela FEI por meio de palestras, workshops e minicursos ministrados por especialistas de diversas empresas. Acesse o site www.fei.edu.br/sec e conheça a programação.

O evento direcionado aos alunos do curso de Administração do campus São Paulo da FEI abordará temas como Inovação, Empreendedorismo, Sustentabilidade, Carreiras e Programas de Trainees. Na Feira de Negócios, os alunos apresentarão ideias para quem deseja abrir o próprio negócio, que podem ser colocadas em prática por futuros empreendedores e contemplam os segmentos de serviços e produtos. Fique atento aos informes da FEI para mais detalhes.

18 de maio

FEI Portas Abertas Campus São Bernardo do Campo

O FEI Portas Abertas proporciona aos alunos do ensino fundamental e médio a oportunidade de conhecerem a FEI, participando de atividades em alguns dos mais de 87 laboratórios nas áreas de Administração, Ciência da Computação e Engenharia. A programação terá visitas interativas aos laboratórios, exposição de projetos e plantões de dúvidas. A entrada é gratuita e aberta a professores e acompanhantes. Saiba mais sobre o evento no site www.fei.edu.br/portasabertas.

janeiro a março DE 2013 | Domínio fei

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artigo

Professor Renato Ladeia Departamento de Administração Centro Universitário da FEI

A economia verde

A

economia verde não é poesia, mas a possibi-

lidade concreta de explorar os recursos da natureza causando os mínimos danos possíveis, fazendo um manejo responsável, evitando a poluição da água, do ar, do solo e subsolo. É possível uma economia que siga esses princípios produzindo riquezas e condições de sobrevivência para bilhões de habitantes? Talvez sim, mas nada é muito simples. Primeiramente, há um eterno confronto entre as atividades econômicas e as ações regulatórias para a proteção ambiental. Os empresários acreditam que preservar o ambiente vai aumentar os seus custos e os clientes não vão pagar mais por isso. A regulação, por sua vez, nem sempre atinge os seus objetivos, pois, focada em normas rígidas voltadas mais para o controle e tratamento, não impede que os problemas de descarte e utilização ineficiente de recursos continuem. Quando a regulação é muito flexível, gera a acomodação dos agentes econômicos e pouco se faz para eliminar o problema. Para alguns autores, o problema central da poluição está na cadeia de valor das próprias empresas (Porter, 1999). Enquanto o foco continua no resultado final, ou seja, a poluição e o descarte de produtos nocivos, não há solução à vista. É preciso que as empresas lancem um olhar para o seu interior, em sua cadeia de valor e, em seguida, para a origem dos seus insumos (externa), onde também podem estar localizados focos de ineficiência. Há inúmeros casos de empresas em que são identificados problemas nos processos que, uma vez corrigidos, resultam em redução ou eliminação de resíduos, além da redução dos custos, pois, na maioria das vezes, poluição significa desperdício de recursos. Empresas focadas na inovação como estratégia competitiva conseguem corrigir problemas em seus processos, eliminando ou reduzindo o descarte de resíduos ou a necessidade de manuseio, descarte ou armazenamento de produtos. Cito um caso de um empresário da área de ferramentaria em São Bernardo do Campo que recebeu uma pesada multa por descartar o óleo mineral utilizado no corte de

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metais no esgoto e solo. Diante do impasse, a empresa estudou uma forma de solucionar o problema e encontrou a solução quando se desviou do foco de tratamento do resíduo. O empresário construiu sistemas de coleta do óleo nas máquinas de corte que era armazenado, filtrado e reutilizado. Com a reutilização do óleo várias vezes, a empresa reduziu os seus custos e atendeu às regulações ambientais. Esse exemplo mostra que a miopia empresarial pode ter um custo alto ao longo do tempo ao se manter a visão de que a eliminação de poluentes gera custos adicionais. Mesmo em casos em que os custos sejam altos no início da implantação, esses valores podem ser reduzidos com a curva de aprendizagem. Porter cita o caso da indústria de papel e celulose, em que o programa de redução do cloro do processo de produção tinha um custo inicial de US$ 16 por tonelada e, após cinco anos, foi reduzido para menos de US$ 5. Quando os programas de qualidade começaram a ser implantados nos anos 1980, muitos empresários viam esses programas como despesas adicionais e aumentos de custos dos produtos. A visão que se tinha era a que a inspeção e o controle dos processos envolviam custos adicionais com pessoas e redução da produtividade. Hoje, podemos dizer que são raros aqueles que assim pensam, pois a qualidade, ao invés de ser vista como um fator independente do produto, passou a ser vista como parte integrante do mesmo. Assim, é possível afirmar que os programas de qualidade, quando implementados de forma adequada, possibilitaram qualidade do produto, que passa a agregar maior valor para os clientes, redução dos poluentes em função da utilização mais eficiente dos insumos e melhorias nos processos, resultando em economia dos insumos, de energia e mão de obra. Mas a economia verde não é apenas isso, pois há um longo caminho em sua direção. O aumento da produtividade pode representar maior consumo de produtos, resultando em maior volume de embalagens descartadas, gerando impactos na natureza e para a sociedade, que necessitará aplicar cada vez mais recursos para o recolhimento, descarte e tratamento.


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