Murilo Mendes Vida e obra
• Murilo Monteiro Mendes foi poeta brasileiro. Fez parte da Segunda Fase Modernista. Recebeu o premio Graç a Aranha com seu primeiro livro "Poemas". Participou do Movimento Antropofágico, revelando-se conhecedor da vanguarda artística europé ia.
• Murilo Mendes (1901-1975) nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, no dia 13 de maio de 1901.. Inicia seus estudos na terra natal, vai estudar no Internato do Colé gio Salesiano em Niteró i, Rio de Janeiro.
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Dois acontecimentos marcaram a juventude de Murilo Mendes, a passagem do cometa Halley, em 1910, e sua fuga do colégio interno em Niterói para ver, no Rio de Janeiro, as apresentações do dançarino russo Nijinski, em 1917. Ambos, cometa e bailarino, foram considerados por ele, verdadeiras revelações poéticas. Entre os anos de 1924-29, apareceram seus primeiros poemas nas revistas modernistas, "Antropofagia" e "Verde". O poeta faz parte da chamada Segunda Geração Modernista.
• Em 1920, muda-se para a capital, onde participa do Movimento Antropofágico. Estreia na literatura escrevendo para duas revistas do modernismo, Terra Roxa e Outras Terras e Antropofagia. Em 1930, lanç a seu primeiro livro "Poemas". A poesia da geraç ão de 30 teve grande preocupaç ão social. A poesia de Murilo Mendes analisa o destino do ser humano como um todo. Depois de uma grave crise religiosa, reassume o cristianismo que abandonara.
• Em 1932 escreve o poema "Historia do Brasil", livro típico da fase heroica do Modernismo, em que prevalecia a poesia-piada, o humor como instrumento crítico, a absorç ão de elementos do cotidiano da brasilidade.
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Em 1934, desenvolve temas religiosos e com Jorge de Lima escreve "Tempos e Eternidade", publicado em 1935. Emprega-se como telegrafista e depois como auxiliar de guarda-livros.
• Em 1936, assume o cargo de Inspetor Federal de Ensino. Em 1938 escreve "A Poesia em Pânico".
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Em 1944, escreve a prosa "O Discípulo de Emaús". Trabalhou no Ministé rio da Fazenda e no Cartó rio da 4ª Vara de Família. Casa-se com Maria da Saudade de Cortesão. O casal não teve filhos. Em 1948, escreve "Janela do Caos".
• Em 1953, foi convidado para lecionar literatura brasileira em Lisboa. De 1953 a 1955, percorreu diversos países da Europa, divulgando, em conferências, a cultura brasileira.
• Em 1957, se estabeleceu em Roma, onde lecionou Literatura Brasileira. • Murilo Monteiro Mendes faleceu, em Estoril, Portugal, no dia 13 de agosto de 1975, deixando uma grande produç ão poé tica e crítica, tendo recebido, inclusive, em 1972, o Prêmio Internacional de Poesia Etna-Taormina.
• Poemas, 1930
Obras
História do Brasil, 1932 Tempo e Eternidade, 1935 (em colaboração com Jorge de Lima) A Poesia em Pânico, 1938 O Visionário, 1941 As Metamorfoses, 1944 O Discípulo de Emaús, prosa, 1944 Mundo Enigma, 1945 Poesia Liberdade, 1947 Janela do Caos, 1948 Contemplação de Ouro Preto, 1954 Poesias, 1959 Tempo Espanhol, 1959 Poliedro, 1962 Idade do Serrote, memórias, 1968 Convergência, 1972 Retrato Relâmpago, 1973 Ipotesi, 1977 A Invenção do Finito, 2002, póstuma Janelas Verdes, 2003, póstuma
Características da Produção Muriliana • Aproveitamento da estética surrealista; • Cristianismo heterodoxo; • Preocupação com a história; • Permanente diálogo com as artes plásticas e a música; • Humor corrosivo; • Exuberante sensualidade; • Gosto por temas de viagem e a concepção de que a vida a arte são inseparáveis.
As lavadeiras • As lavadeiras
no tanque noturno Não responderam ao canto da sibila.
• “Lavamos os mortos,
Lavamos o tabuleiro das idéias antigas E os balaústres para repouso do mar... Nele encontramos restos de galeras, Quem nos desviará do nosso canto obscuro? Nele descobrimos o augusto pudor do vento, O balanço do corpo do pirata com argolas, Nele promovemos a sede do povo E excitamos a nossa própria sede...”
• As lavadeiras no tanque branco
Lavam o espectro da guerra. Os braços das lavadeiras No abismo noturno Vão e vêm. Mendes, Murilo. As lavadeiras. As Metamorfoses (1944)
Obra Analisada: As Metamorfoses •
O título deste livro do poeta mineiro Murilo Mendes pode ser usado para designar o processo pelo qual passa toda a sua obra ao longo de quatro décadas de produção. Publicado em 1944, As Metamorfoses apresenta uma poesia muito inspirada por elementos de uma corrente das vanguardas européias do início do século 20, assim como por uma forte espiritualidade.
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Influenciado pelas técnicas de composição do Surrealismo, o autor constrói uma poesia fortemente imagética, imbuída da forma de ver o mundo por meio de sentidos não embotados pela lógica do cotidiano. Também são fortes os elementos místicos, eróticos, de tensão entre o sagrado e o profano. A conversão ao catolicismo, ofereceu-lhe matéria poética sem retirar de sua poesia a força libertária e de luta contra a ordem estabelecida.
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Apesar das mudanças por que passou a obra do escritor desde a estréia em 1930, com Poemas, um elemento jamais se ausentou de sua poesia: o caráter social
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O caminho da produção de Murilo Mendes é tortuoso e sua importância transcende a excelência estilística. Muito mais do que isso, o corpo de sua obra deixa claro o empenho do pensador na busca da compreensão do humano e de seu papel diante da vida e da própria existência. Em As Metamorfoses, Mendes trata o leitor como um amigo próximo e digno de conselhos úteis sobre seu papel no mundo e sobre o valor da liberdade.
• Análise do poema: • "O Poeta na Igreja" Murilo Mendes • Entre a tua eternidade e o meu espírito • se balança o mundo das formas. • Não consigo ultrapassar a linha dos vitrais • pra repousar nos teus caminhos perfeitos. • Meu pensamento esbarra nos seios, nas coxas e ancas das mulheres. • Pronto,estou aqui, nu, paralelo à tua vontade, • sitiado pelas imagens exteriores.
Estou aqui, nu, paralelo à tua vontade, sitiado pelas imagens exteriores. Todo o meu ser procura romper o seu próprio molde em vão! noite do espírito onde os círculos da minha vontade se esgotam. Talhado pra eternidade das idéias aí quem virá povoar o vazio da minha alma? Vestidos suarentos, cabeças virando de repente, pernas rompendo a penumbra, sovacos mornos, seios decotados não me deixam ver a cruz. Me desliguem do mundo das formas!"
• 1- Observamos no poema acima, uma tensão entre o mundo material (denominado "mundos das formas") e o mundo espiritual (representado pela Igreja). Essa constância é explicada pelo próprio Murilo:
• "Preocupei-me com a aproximação de elementos contrários, a aliança dos extremos, pelo que dispus muitas vezes o poema como um agente capaz de manifestar dialeticamente essa conciliação, produzindo choques pelo contato da idéia e do objeto díspares, do raro e do cotidiano".
• 2- O interlocutor a quem o eu lírico direciona o seu discurso é a Igreja.
Começa advertindo-lhe. O mundo das formas é representado pela sensualidade feminina: "Meu pensamento esbarra nos seios, nas coxas e ancas das mulheres". E é como um obstáculo que se interpõe a sua comunhão com o corpo místico da Igreja.E mais: "Vestidos suarentos, cabeças virando de repente,/ pernas rompendo a penumbra, sovacos mornos,/ seios decotados não me deixam ver a cruz". A imagem da mulher, da musa, se sobrepõe às imagens e símbolos da Igreja. O instinto sexual é mais forte do que a busca espiritual.
• O eu lírico tenta se desligar da sensualidade do "mundo das formas",
mas não consegue: "Todo o meu ser procura romper o seu próprio molde / em vão! noite do espírito / onde os círculos da minha vontade se esgotam". Diante disso, o eu lírico implora a Igreja: "Me desliguem do mundo das formas", pois seu caráter era "talhado pra eternidade das idéias". A "eternidade das idéias" a que Murilo se refere, remete ao "mundo das idéias" de Platão.
• 3- Murilo está preocupado com sua vida espiritual, por isso o pedido para se desligar da sensualidade.