VIÉS.01 PUBLICAÇÃO LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNISEB-COC
TENDÊNCIAS: Das ruas para o editorial de Moda ENSAIO FOTOGRÁFICO: Produção de palha em Sales Oliveira 80 Anos e três histórias Cinema de Animação em Ribeirão Preto
Jornalista: Os segredos da profissão e o dia a dia de quem trabalha na área
EDITORIAL A Revista Viés é uma publicação integrante do projeto pedagógico do curso de Jornalismo do Centro Universitário UniSEB. A produção da revista é resultado da interação de duas disciplinas dos alunos do 7. semestre de Jornalismo: Jornalismo em Revista, com a professora Gabriela Zauith, e da disciplina Projeto Editorial, com professor César Muniz. UniSEB COC - Centro Universitário - Unidade Rua Abrahão Issa Halack, 980 - Ribeirânia - CEP 14096-160 Fone: (0xx16) 3603-9800 - Ribeirão Preto / SP
CHAIM ZAHER Presidente do Sistema SEB/COC Reitor do UNISEB/COC ADRIANA BAPTISTON CEFALI ZAHER Vice-presidente do Sistema SEB/COC LUIZ ROBERTO LISA CURI Diretor Nacional de Ensino Superior SEB REGINALDO ARTHUS Vice-reitor do UNISEB JEFERSON FERREIRA FAGUNDES Pró-reitor de EAD KARINA PRADO FRANCHINI BIZERRA Pró-reitora de Graduação CANDIDA LEMOS FRANÇA MARIZ Coordenadora do Curso de Jornalismo
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A Revista Viés traz reportagens, textos e fotos produzidas pelos alunos do último ano do curso de jornalismo do Centro Universitário UNISEB COC. A proposta foi uma revitalização da revista já editada anualmente pelo curso de Jornalismo. Os alunos criaram o novo nome da revista, decidiram novo formato, elaboraram pautas, redigiram textos, produziram fotos e a diagramação. Em busca de boas histórias os alunos-repórteres foram a campo com blocos, gravadores e máquinas fotográficas. O resultado foi uma revista que aborda assuntos variados como cultura, mídia, moda, esporte, terceira idade e temas polêmicos. A matéria de CAPA traz a vivência de três jornalistas em diversas fases da carreira, como estudante, estagiário e profissional, desvendando as etapas, prazeres e dificuldades da profissão. Na editoria MÍDIA, MODA E CULTURA abordamos o tema dos patrimônios culturais da cidade, o trabalho de
animação gráfica visto hoje nos cinemas e propagandas e a explosão das mídias sociais com os blogs dos mais variados temas. O Lado B traz novidades do mercado de livros, Cds e filmes. E também um editorial da moda das ruas e a tendência do algodão orgânico. A REPORTAGEM da Viés foi a campo e passou um dia numa fazenda de equoterapia em Ribeirão Preto. Em Salles Oliveira conheceu o trabalho de produção da palha, o que resultou em um ENSAIO FOTOGRÁFICO. A série MEMÓRIAS E BOAS HISTÓRIAS aborda histórias de vida de personagens que acompanharam o crescimento da cidade. Trazemos também a história da sorveteria Geraldo e a prática da corrida para a terceira idade. E, por fim, a INVESTIGAÇÃO sobre a polêmica do Aeroporto Leite Lopes de Ribeirão Preto fruto da disciplina Jornalismo Investigativo do professor José Antônio Bonato. Parabéns aos alunos pela conquista. Boa leitura!
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EXPEDIENTE
GABRIELA ZAUITH Coordenadora da Revista Viés Editora CÉSAR ROCHA MUNIZ Coordenador de Planejamento Gráfico Coordenador do Curso de Arquitetura e Urbanismo MARILDA FRANCO VASCONCELOS Revisora Coordenadora do Curso de Letras
SUMÁRIO
A Palha Salense Lado B Patrimônio Histórico: Preservação e proteção da memória Moda ecológica A moda das ruas Cinema animado Blogs: Espaço e reconhecimento Jornalismo em pauta Guerra no ar Histórias de vida Sorveteria cativa freguesia ribeirãopretana há 38 anos O esporte sem idade Cavalgadas de reabilitação
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REPORTERES Aline de Negreiros Bonilha Ana Luiza Marques Gabriel Anderson Marcelo da Silva Gouvea André Dutra de Oliveira Pereira de Souza Barbara Urbinati Balieiro Carla Batista Stechini Carolina Carvalho da Cunha Caue Pontoglio Marques Diego Moreno Gomes Castanheira Fernanda de Lima Souza Francine Doracenzi Estevão Gabriel Cardoso Rodrigues Gabriela Macedo Bressan Giulia Pereira Trés Juliana Jurkovick Garzon Lívia Palmieri Betinelli Luís Ricardo de Figueiredo Monteiro de Oliveira Marcio Augusto Polacchini Mariana Luciano da Silva Marilia Sallum Medici Marina de Castro Scalon Melmuara Thaiane Donegá Cândido Osvaldo Bezzon Neto Roberta Saltori Stephanie Locci Gomes Thais Campos de Souza
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A PALHA
SALENSE Produção de palha de milho é tradição e garante sustento de famílias em Sales Oliveira
Cauê Marques Diego Moreno
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alha de milho. Este é o produto que movimenta a economia da pequena Salles Oliveira, que fica a 57 km de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Com cerca de 10 mil habitantes, o município emprega boa parte dos trabalhadores na indústria da palha, que destina a maior parte de sua produção ao mercado tabagista. Entretanto, a presença de trabalho de menores de idade chamou a atenção da promotoria, que tem tomado medidas para evitar a prática. Tudo começou há mais de 50 anos, por iniciativa de João Tiziotti, que levou a cidade ao posto de capital mundial da palha. Sua economia é dependente desta atividade que abastece principalmente o mercado interno, sendo parte
da produção exportada. A plantação do grão de milho toma conta da paisagem salense. São centenas de palheiras espalhadas, muitas ilegais, mas todas responsáveis por manter a tradição, que é orgulho dos salenses. É também a inspiração do artista plástico Atílio Paschoal Passaglia, que cria quadros utilizando palha, tinta e terra. Uma de suas obras, que trata do desmatamento, foi exposta na Bienal de 2008, em São Paulo, e publicada no livro do evento. A palha é a matéria prima utilizada para diversas finalidades, como artesanato, embalagem de doces, alimentos e forragem para animais, porém a destinação principal é o cigarro de palha. O processo de produção se dá em várias etapas. Primeira-
mente, os trabalhadores recebem o milho que vem das plantações, fazem a quebra das espigas e a separação da palha. Essa palha vai receber uma dose de enxofre e será levada à estufa para o clareamento. As partes que não podem ser aproveitadas para o cigarro são cortadas com um facão, e o que sobra ainda passa por um controle, sendo separadas em níveis de qualidade. Feito isso, elas são prensadas para serem embaladas em pacotinhos, como os que existem no comércio. Esses pacotes passarão por uma segunda prensa, em tábuas, para então finalizar o processo de produção da palha para cigarros. Neste momento estão prontas para serem comercializadas. O produto final sai das pe-
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quenas indústrias ao custo que varia de R$ 0,30 a R$ 1,00. O consumidor final, que vai utilizá-la para enrolar o fumo, paga entre R$ 0,50 e R$ 2,00. A variação de preço acontece devido às diversas qualidades de palha oferecidas. A preocupação do Ministério Público é com o emprego de jovens e crianças que têm na palha uma maneira de ajudar a família. Para coibir a prática, a fiscalização foi intensificada, mas essas pessoas não querem deixar a atividade e a remuneração oferecida e acabam levando o trabalho para a casa, onde estão livres dos fiscais. Os palheiros contam que a maior preocupação que eles têm é quanto à quebra da tradição. Eles acham importante que as crianças aprendam o ofício para que a cidade mantenha o título que possui.
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O CLAREAMENTO a palha na estufa (à direita), com fumaça (abaixo, à esquerda) com o enxofre (abaixo à direita) faz o clareamento
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depois a palha ĂŠ rasgada e separada por qualidade
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as partes que não servem para fazer o cigarro são cortadas
o próximo passo é dobrar no tamanho certo e cortar na tesoura as palhas de melhor qualidade
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dobradas e aparadas as palhas são dispostas em latas para a primeira prensa
saindo da prensa a palha é empapelada
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o maço também é prensado, mas entre madeiras
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passando no facão novamente os maços são aparados
após todo processo o pacote é fechado e está pronto para a venda
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ção. Para os que continuam céticos, lembrem-se que Os Beatles, O senhor dos Anéis lternativo, ousado, in- e Tropa de Elite são apenas trigante, rebelde, cons- alguns “Lados B” que tiveram ciente, polêmico. Essas a oportunidade de mostrar a são algumas caracterís- que vieram. “Simplesmente Slash” é o ticas que personificam o termo Lado B que preten- título de um CD bem curiodemos explorar. Nem sempre so do famoso guitarrista do valorizadas pelo público, as Guns N´Roses lançado no obras dessa categoria podem, ano passado. O álbum conta com partimuitas vezes, acabar surpreendendo aqueles que dão cipações incríveis como Iggy uma chance à experimenta- Pop, Kid Rock, Dave Grohl,
Gabriel Rodrigues Osvaldo Bezzon
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Duff McKagan (companheiro dos tempos do Guns) e Ian Astbury, vocalista do Cult. Ufa! E tem muito mais feras nesse disco, como M Shadows, o vocalista do Avenged Sevenfold, o guitarrista Rocco De Luca e Andrew Stockdale, o vocalista e guitarrista do Wolfmother. Não conhece algum desses? E que tal saber que Fergie (do Black Eyed Peas), Ozzy Osbourne, Chris Cornell (Soundgarden) e Lemmy (do Motorhead) também fa-
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zem parte dessa álbum que promete entrar para história no segmento alternativo? Pra finalizar, minha dica é ouvir a música Gotten, cantada por Adam Levine, vocalista e guitarrista do Maroon 5. Pode até dar trabalho digitar um link desse tamanho: http://letras.terra.com.br/ slash/1661163/traducao , mas, com certeza irá valer a pena. Nesse site você encontra a letra original (em inglês) e a tradução, além é claro de po-
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der ouvi-la. Você não pode perder!” “Donnie Darko” é um adolescente que, apesar de brilhante e muito inteligente, despreza a maioria de seus colegas de escola. Ele também tem um amigo imaginário, que poderia nao significar nada de mais, exceto pelo fato de que esse amigo é um coelho gigante e monstruoso que acaba encorajando o estudante a fazer brincadeiras um tanto quanto nocivas às pes-
soas que o cercam. Um dia, uma visão desse coelho faz com que Donnie saia de sua casa no meio da noite, fazendo-lhe uma previsão que, de início, o jovem julga absurda. Os acontecimentos seguintes, no entanto, irão mudar para sempre sua perceção do que é verdade ou mentira. Assista uma, duas, três, quatro ou cinco vezes e você ainda vai estar insatisfeito pelo pouco que percebeu. Cheio de metáforas, conspirações, teorias
das mais variadas e um clima que beira mais o terror que o suspense, Donnie Darko arrebanhou milhares de fãs pelo mundo todo, ganhou o status de cult e, até hoje, é amplamente discutido em rodas de estudantes, admiradores de cinema ou no barzinho alí da esquina. Concordamos que não é – exatamente – um lançamento, mas vai ganhar versão nova e remasterizada nesse mesmo ano.
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Motion City Soundtrack – My Dinosaur Life – Formada em 1977, esse quinteto de Minnesota(EUA) vendeu pouco mais de 600 mil discos durante sua carreira, entre 3 álbuns, somente nos Estados Unidos. O ano de 2010, no entanto, foi bem proveitoso para a banda, pois, após 5 anos de produção, conseguiram lançar seu 4º trabalho, intitulado My Dinosaur Life. Com uma faixa escolhida por Tim Burton para integrar a trilha sonora do filme Alice (Always running out O Baile. Um filme de 1983 que é sem palavras. Isso mesmo, é difícil descrever a beleza e inteligência desse filme, mas ele também é literalmente sem palavras. Em quase suas duas horas de duração o filme é mudo, possui apenas trilha sonora. Nessa época o cinema mudo já havia acabado mas o diretor Ettore Scolla felizmente resolveu arriscar e nos proporcionar essa belíssima obra de arte que hoje ocupa um espaço especial na maioria das locadoras de todo país. Com selo da Platina Filmes e produzido em conjunto pela França, Argélia e Itália, essa comédia musical é uma
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adaptação de um espetáculo teatral e conta a história da França da década de 30 à década de 80, a partir dos personagens reunidos em um salão de dança. Tudo começa em 1936, quando surge a Frente Popular do país, na sequência vem a ocupação nazista, durante a 2ª Guerra Mundial. Já em 1944 outros dois fatos importantes, a libertação de Paris e a explosão da música americana no famoso estilo Glenn Miller. Dois anos depois chegam ao país por intermédio dos soldados americanos as meias de seda e o jazz. Em 1956 a balada se torna rock´n´roll e de repente estamos em 1968
of time), os 5 garotos finalmente caíram nas graças dos críticos e, aos poucos, vem conquistando o público internacional. Com um estilo pouco definido, influenciado por Blink 182 e Fall Out Boy e tendo Mark Hoppus(baixista e bateirista do Blink 182) em sua produção, o disco usa e abusa da experimentação, passando pela mixagem eletrônica e instrumental acústico. Uma ótima dica para quem gosta de boa música.
e o salão de baile onde tudo acontece é invadido por radicais. Um salto na história em já é a vez da disco music em 1983 e quase que magicamente somos transportados para os dias atuais e para as nossas próprias vidas depois do poético fim de “LE BAL”
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assim, inegável. Enquanto aborda a luta dos familiares de Barbara e do policial designado para encontrá-la e a luta pela sobrevivência da própria Bárbara, a autora nos faz compreender a gravidade de um problema enfrentado por mais jovens do que ousaríamos admitir. Uma leitura imperdível para todos aqueles que não se contentam com contos de fadas e romances “água com açúcar”. E imperdível, acima de tudo, para todos aqueles Palavras Envenenadas – que se importam. “Agora já não posso ir a O livro conta a crônica de um dia que passa muito ra- parte alguma. Acreditam que pidamente, enquanto nar- eu esteja morta. Minha mãe ra a história de diferentes leva flores à montanha e as pessoas envolvidas no caso joga ao vento no dia do meu da jovem Bárbara Molina, aniversário, e meus irmãos desaparecida desde os 15 erguem um balão com meu anos de idade. De forma nome.” Maite Carranza é escritosurpreendente e através de uma narrativa brilhante- ra, espanhola, antropóloga e mente desenvolvida, capaz adora mistérios. Vencedora de deixar tenso o mais frio do prêmio Edebé de literados leitores, Maite Carranza tura por “Palavras Enveneleva seus leitores por um nadas”, escreve novelas e mundo não muito distante obras literárias de grande deste em que vivemos, jo- impacto. É a autora da trilogando em nossa cara uma gia “A Guerra das Bruxas” e realidade grotesca e, mesmo de outros 40 títulos.
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Eu, detetive – O Caso do Sumiço é um livro de Stella Car e Laís Carr Ribeiro. O sobrenome delas é igual e nos transmite a sensação de já tê-lo lido ou ouvido antes. E isso não é um engano. Ambas são escritoras conhecidas que em 1991 se juntaram para escrever esse livro. Lais Carr Ribeiro é autora de versões em português de clássicos da literatura infantil mundial como “O Patinho Feio” e “Os Três Porquinhos”. Só que neste livro, por mais que a escrita seja simples e que ele venha acompanhado de um mapa bem caricato com informações sobre a cidade e as pessoas onde o crime ocorreu, definitivamente não é uma obra infantil. O livro da editora Moderna, que faz parte da coleção Veredas, tem apenas 72 páginas e além de uma boa literatura, é também uma excelente diversão. E uma curiosidade, todo escrito em primeira pessoa: “EU me sentei ao lado dela e o Míudo, mais que depwressa, se grudou do outro lado...” Gostou? Ta afim de ser um detetive também? Então corra para a livraria mais proxima e começe a desvendar esse mistério....
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Patrimônio Histórico: Preservação e proteção da memória
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reservar, proteger e revitalizar casas, prédios e fachadas permite construir uma identidade e uma melhor compreensão da cidade em que se vive. Conservar e cuidar do antigo é poder contar, por meio de um olhar mais atento, a história de um lugar e sua importância histórica e social. Pensando nisso pesquisadores da Rede de Cooperação Identidades Culturais de Ribeirão Preto elaboraram um projeto para a revitalização da região central de Ribeirão Preto. A Rede possui um modelo de legislação para a proteção das fachadas dos bens históricos, a revitalização da rua José Bonifácio, a ocupação de alguns prédios históricos da iniciativa privada e o uso cultural de outros espaços vazios. “Para cada patrimônio temos uma estratégia diferente, mas a proposta é criar alternativas que atendam às entidades culturais da cidade”, diz a Secretária da Cultura, Adriana Silva. O projeto, criado em janeiro de 2009 pela Secretaria da Cultura de Ribeirão Preto, conta com 33 técnicos das áreas de arquitetura, história, turismo, comunicação, artes, economia, geografia e ciência da informação. No centro da cidade, o projeto abrange o Quarteirão Paulista, o prédio Diederichsen, a casa do ex-prefeito Camilo de Matos na rua Duque de Caxias e o Casarão Murdocco, na rua São José. Na primeira fase do projeto, realizou-
-se um inventário de referências finalizado em novembro de 2010 as quais agregam vários aspectos. Entre elas pesquisas sobre a identificação dos prédios tombados, análise da formação histórica e da paisagem natural e o levantamento do perfil social e econômico a fim de identificar os possíveis impactos na sociedade e na economia. “Para que as políticas públicas de preservação possam atuar, é preciso ter um inventário que dê consistência real, mostrar que os projetos serão feitos em cima de dados concretos”, afirma a historiadora e diretora de patrimônio da Secretaria da Cultura de Ribeirão Preto, Lílian Rosa. O grupo de pesquisadores propõe que o Quarteirão Paulista paisagem mais limpa de interferências visuais. “Queremos tirar outdoors, placas, fiações e deixar o centro da cidade mais parecido com o que era em sua origem”, diz a arquiteta envolvida no projeto, Juscélia Fiuza. Para financiar a reforma do casarão Camilo de Matos, considerado patrimônio privado, a proposta é criar um sistema de permuta entre poder público e privado, articulação que está em processo de negociação. “A permuta prevê a troca do patrimônio por um terreno público de igual valor. A ação de fomento é colaborar para que o proprietário seja empresário de alguma atividade cultural com sede em seu imóvel”, diz a secretária.
Carolina Carvalho da Cunha
Edifício Diederichsen
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m 1934, Antonio Diederichsen adquiriu um terreno para a construção de um grande edifício. Foi construído então o primeiro “arranha céu” da cidade, com cinco pavimentos além do térreo que seria destinado a vários usos como comércio, hotel, cinema e locação. O prédio foi doado ao Patrimônio da Santa Casa de Misericórdia, instituição que o administra até os dias de hoje.
Carolina Carvalho
EdifĂcio Diederichsen
Recursos
Casarão Camilo de Mattos A casa pertenceu ao prefeito de Ribeirão Preto Camilo de Matos que governou de 1929 até 1930
Em parceria com o IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil) foram feitos levantamentos sobre os 73 bens tombados incluindo o município de Bonfim Paulista, considerados de valor histórico e pensou-se em uma forma de captação de recursos para a realização das obras. Para a execução de projetos arquitetônicos de alto custo será preciso recorrer a leis de incentivo fiscal como a Lei Rouanet ou ProAC (Programa de Ação Cultural) no qual empresas ou cidadãos podem ajudar a financiar através da isenção de impostos. Um programa de preservação e proteção do patrimônio está respaldado num conjunto de ações que incluem
desde a elaboração de projeto, captação de recursos, realização da obra e ocupação cultural. “Estamos trabalhando com mais de 16 projetos simultâneos e os prazos são relativos. O Programa está relacionado ao Plano Municipal da Cultura e este foi criado para 20 anos”, diz Adriana Silva. Moradores e comerciantes que ainda se lembram de uma Ribeirão Preto do passado aprovam e esperam pelas revitalizações da área central. “Tenho saudade de quando não tinha tantas placas, tantos fios, tanta sujeira. Se esse projeto puder parecer um pouco que seja com passado, já ficarei mais satisfeito”, afirma o comerciante José Paulo.
Carolina Carvalho
Solar Murdocco
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ranciso Murdocco, italiano, foi um sapateiro e comerciante de calçados em Ribeirão Preto. Nos terrenos onde foi construído o solar, também localiza-se uma modesta casa térrea, também de propriedade de Murdocco.
O solar apresenta um estilo arquitetônico com influências francesa, alemã e italiana, além de um sistema de aquecimento solar incomum para a época, instalado no segundo andar.
A rua José Bonifácio teria surgido no final do século XX, sendo edificada legalmente em 1883, com a retificação do córrego Ribeirão Preto. A partir dos anos 20, as antigas construções térreas, marcadas por construções de caráter funcional, que serviam de comércio e moradia, começaram a ser substituídas por pequenos sobrados. Esses sobrados buscaram inspiração na construção imperial, caracterizados por uma arquitetura eclética.
Carolina Carvalho
Rua José Bonifácio
Moda ecológica é cara, mas correta
Algodão colorido e ecológico: O uso de materiais que não poluem a natureza é a nova estratégia do mercado têxtil. Com um apelo “ecologicamente correto”, consumidores são atraídos pela ideia de usar produtos naturais e orgânicos. Roupas que utilizam matérias-primas naturais e que utilizam práticas de preservação ambiental são encontradas em lojas de Ribeirão Preto.
menos uniformes que o algodão branco. Com tecnologia e pesquisas em marca Algodoeiro tem como ma- melhoramento genético, a Embrapa Altéria-prima o algodão ecológico. O godão, em Campina Grande (Paraíba), gene da semente determina a cor tornou possível a extensão das fibras e do algodão e dispensa o processo a produção do algodão ecológico em dide tingimento, altamente poluente. versas cores, como marrom, verde, safira Desta forma, evita o lançamento de re- e rubi. As cores são produzidas desde síduos na natureza, preservando rios e 2000 e levam o selo “Algodão Cor Natumares, juntamente com a economia de ral Embrapa”. A parceria com as marcas energia e de 60% da água, que seriam uti- de roupa se dá por meio de cooperativas de agricultores, que produzem o lizadas neste processo. Esse tipo de algodão é cultivado algodão com as sementes certificadas, desde a antiguidade, nas regiões de paí- cuja produção não necessita de deses atualmente denominados como Egito fensivos nem adubos químicos. e Índia. E também pelos povos andinos, De acordo com a Embracomo os incas, cuja produção se destina- pa, “as roupas produzidas com esse tipo va a vestimentas e artesanato. A produ- de fibra são muito procuradas, principalção industrial desse algodão tornou-se mente por pessoas alérgicas a corantes inviável, por possuir fibras mais fracas e e para uso por recém-nascidos”. Carla Francisco
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A Algodoeiro, com sede em Caruaru (Pernambuco), já pode ser encontrada em Ribeirão Preto. “A ideia presenteou o mercado de Ribeirão. Além disso, segue totalmente o conceito de roupas ecologicamente corretas”, afirma Carla Francisco, dona da loja aberta este ano na cidade.
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Carla Francisco
Práticas sociais e de preservação ambiental Com um conceito de uma moda produzida com fibras e matérias-primas 100% naturais, a marca “Reserva Natural”, com fábrica em Passos, Minas Gerais, está há seis anos em Ribeirão Preto. A marca traz modelos feitos com algodão e linho, adornadas com bordados manuais, nervuras e fuxico. De acordo com a marca, os processos de fabricação são monitorados, incluindo tingimento das peças e acessórios feitos por empresas que não poluem os manan-
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ciais, tratando a água utilizada e devolvendo-a purificada ao meio ambiente, assegurando a preservação ambiental. O cuidado também é feito na hora de escolher seus fornecedores, que utilizam boas práticas ambientais e sociais em seus processos. Os tecidos são manufaturados com fibras oferecidas pela própria natureza, como o algodão, o linho, a seda e outros, que por não serem produzidas ou manipuladas quimicamente pelo homem, não
agridem o meio ambiente. É este conceito que as novas gerações devem ter em mente”, afirma Aline Bueno, jornalista. O único problema em comprar peças sustentáveis é o preço para o consumidor. Devido à escala de produção pequena e à oferta inconstante de matéria-prima, boa parte desses produtos é cara. Uma camiseta de algodão feita de tecido orgânico, por exemplo, custa três vezes mais do que uma produzida pelos métodos tradicionais.
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A MODA DAS RUAS Looks de rua viraram nosso editorial de moda! Tem chapĂŠu panamĂĄ, estampa xadrez e muito mais...
Das ruas...
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moda diz muito sobre a personalidade de cada pessoa. Por mais que algumas peças sejam consideradas tendências e façam parte do guarda-roupa de grande parte
das pessoas, as combinações e a escolha dos acessórios evidenciam o estilo da cada um e expressam sua identidade visual, específica e única. Independente do valor e de onde as peças foram com-
Suelem Calado Locutora Usa: saia alta
Melina Faustino Estudante Usa: chapéu Panamá Maria Vicente Bióloga Usa: estampa xadrez
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Julia Simão Estudante Usa: vestido longo
pradas, pode-se criar um look criativo e estar na moda. A equipe de moda da Viés foi às ruas de Ribeirão Preto em busca de bons looks. Seis tendências se destacaram e foram
transformadas num editorial de moda. Das ruas para o nosso editorial...
Kadidja Toure Assistente de marketing Usa: blusa com renda
Thais Ferreira Jornalista Usa: macacão Saruel
...para os editoriais de moda!
Chapéu panamá Sinônimo de atitude e personalidade, o chapéu panamá pode ser usado em produções “praianas”, com biquínis e saídas, como também numa produção bem estilosa. Esta peça tem que ser o ponto chave do look!
Chapéu panamá acervo; brinco Maria Filó; Camisa Riachuelo; Calça acervo; Cinto Valentina; Open boot Emporio Naka
Camisa American Eagle; Calça Renner; Cinto Bia Moraes; Peep toe Arezzo
Xadrez Há algumas estações, a estampa xadrez está presente nos guarda-roupas de homens e mulheres. A estampa pode ser usada e abusada. Aposte nas camisas usadas sozinhas com calças básicas ou complementando looks com jaquetas e peças e acessórios em couro, entre outros.
Saia alta
As mulheres adotaram de fato o comprimento mais alto nas saias. Além de definir as curvas, valorizando a cintura, esta peça fica bem durante o dia e também à noite.
Blusa Missinclof; Brinco Bia Moraes; Saia Hit; Sandália acervo
Vestido Eva Albuquerque; Clutch Acervo; Anel acervo; Peep toe Rosifini
Renda
Clássica e feminina, a renda deixa qualquer produção muito elegante. Ela pode aparecer em roupas mais sociais ou esporte-fino, como também em detalhes de blusinhas, saias e shorts.
Saruel As peรงas saruel conquistaram as mulheres modernas. Calรงa, short, macacรฃo ganharam este detalhe que diferencia uma peรงa comum, tornando um look simples muito mais estiloso.
Blusa Zara; Calรงa Equus; Scarpin C&A
Longo O comprimento longo em vestidos e saias é uma tendência confortável e bonita. E não ache que só se pode usar “longos” em eventos formais. Este comprimento pode ser usado no dia a dia, facilmente.
Vestido Acervo Estúdio Faculdade de Comunicação Social da UNISEB-COC Fotos estúdio Cauê Marques Fotos rua Ana Luiza Marques Modelo Nayara Cândido Maquiagem Fernanda Lima Produção estúdio Roberta Saltori Produção roupas Mel Cândido
Cinema Animado Fazer um filme de animação pode não ser tão divertido quanto assisti-lo. Mas isso não desanima a equipe da Usinanimada.
Rái Sossaith
Francine Estevão
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animação brasileira ainda está engatinhando e fica atrás de grandes produções norte-americanas e japonesas como “Toy Story” e “Pokémon”, consecutivamente. No entanto, esse cenário começa a mudar no Brasil, a exemplo do recente lançamento “Rio”, de Carlos Saldanha, com recorde de público e bilheteria nos Estados Unidos. Trabalhar com animação - técnica que permite dar a desenhos ou bonecos a ilusão de movimento, seja em filmes, curtas metragens, séries de TV ou
propagandas - pode parecer divertido, mas ainda assim é trabalho. E trabalho duro. Mesmo sem rotina fixa, há sempre um cronograma e uma meta diária para cumprir. Não é preciso ser um operário padrão, trabalhar das oito ao meio-dia e das duas às seis da tarde. Mas ainda assim, pode ser mais intenso. “Quando a gente está com projeto, trabalha aos sábados, domingos, de madrugada”, conta Gustavo Russo, ou Jon, como é conhecido. Jon, professor formado em Rádio e TV, é um dos diretores da Usinanimada, estúdio de animação de Ribeirão Preto, juntamente com Rogério Shareid, forma-
do em Desenho Industrial. Os dois formam a equipe fixa do estúdio e, quando uma produção exige, contam com o auxílio de colaboradores. Um trabalho leva tempo para ser concluído. Entre produção, montagem e edição, além dos incontáveis detalhes, o resultado é de cinco segundos por dia de animação. E, acredite, Jon diz que isso é muito. “É bastante coisa, porque é um processo muito lento. Tudo é animado separadamente. Cada pecinha. Alguns trabalhos duram um ano de produção para um resultado de cinco ou dez minutos.” O trabalho em equipe é importante
série. “Temos até o fim do ano pra fazer o que são 20 episódios.A Laurinha não é vinculada a nenhuma emissora. Quando estiver pronto vamos tentar a veiculação”, afirma Jon. A parte final de comercialização também fica a cargo da equipe. A verba para os trabalhos geralmente vem de festivais, editais e projetos de incentivo e apoio à cultura. E a inspiraLaurinha Sambatown ção? Para Jon, isso depende de cada um. “Tudo serve de influência. O que a genRái Sossaith te vivencia, lê, vê ou escuta influencia na criação. Não tem uma regra. Inspiração vem de tudo.” Para quem quer seguir a profissão, Jon dá o recado. “Tem que ter muita paciência e perseverança. As pessoas confundem porque é bonitinho e divertido e acham que também é divertido fazer. Pessoas ansiosas, que não têm paciência, não dá certo. Mas a satisfação sempre vem ao fim de um trabalho árduo”. Não é necessário ser formado em alguma área específica, já que grande parte do trabalho se aprende na prática. Um dos cursos indicados no Brasil é o da Academia de Animação e Artes Digitais, em São Paulo. Mas o forte mesmo são os cursos no exterior, por exemplo, nos Estados Unidos. E em tom de brincadeira, Jon para dar agilidade aos projetos. Quan- premiado pelo Ministério da Cultura, deixa claro o objetivo da Usinanimato mais colaboradores, mais trabalhos e “Rái Sossaith”, contemplado com o da. “Independente de qualquer tipo de podem ser executados paralelamente, Prêmio Estímulo para Curta Metragem projeto, o que for animação a gente vai entre os autorais e os comerciais. Os 2009, por meio da Secretaria Estadual de fazer. O nosso objetivo é construir um império, ficar trilhardário”. Brincadeiras autorais são independentes, produzidos Cultura de São Paulo. e concebidos pela equipe da UsinanimaO grupo também desenvolve séries à parte, pensar, produzir conteúdo e da com fins especificamente culturais e e, atualmente, está trabalhando na pro- trabalhar com cultura são as principais educativos. dução de “Laurinha”, via PROAC (Pro- motivações. Além disso, eles pretendem O grupo já realizou trabalhos como grama de Ação Cultural). A personagem, continuar fazendo cada vez mais séries e “Sambatown”, em 2010, curta metragem que surgiu em 2009, vai agora virar uma quem sabe até um longa metragem.
Imagens: Usinanimada
BLOGS: ESPAÇO E RECONHECIMENTO Vinco, a busca pelo reconhecimento é o principal motivo da exposição. “Temos necessidade de referendar ao olhar os últimos anos, os blo- do outro nossas felicidades, gs conquistaram um alegrias, pensamentos e trisgrande espaço na rede tezas. Nós nos construímos a virtual e se tornaram partir do outro.” Blogueiras e blogueiros um lugar onde as pessoas expõem suas vidas, opinam discutem todo tipo de sobre assuntos que domi- assunto, desde expor sobre nam e, com isso, conquistam opiniões culinária, leitores. Segundo dados do moda, Technorat, buscador que mo- emagrecimento nitora blogs, o número de di- e um diário sobre ários on-line cadastrados na o cotidiano de um web em março deste ano é casal com seu cachorro. A de oito milhões, ante cem mil exposição, entretanto, pode há apenas dois anos. Mas esse trazer consequências.“É difícil dado cresce abruptamente: a saber se a exposição trará cada 7,4 segundos, um novo consequências positivas ou negativas. Antes de se expor, blog é criado. Seja qual for o tema abor- o mais importante é saber dado, a finalidade de todos os motivos que publicam seus textos pelos quais São criados 12 mil novos blogs por dia na Internet é serem lidos e, se expõe”, consequentemente, reconhe- disse Vinco. 275 mil entradas diárias 10.800 atualizações por cidos. Para o psicólogo Lucas hora.
Carla Stechini, Gabriela Bressan e Lívia Palmieri
Roberta Saltori www.donadamanga.wordpress.com
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Fonte: www.technorat.com
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Moda e Jornalismo Roberta Saltori (página ao lado), 21, estudante de jornalismo, é uma blogueira que usa seu espaço na web para opinar sobre cultura pop e “paixonites do momento”. Ela mantém o blog “Dona da Manga” (www.donadamanga.wordpress.c om), há dois anos com um número expressivo de acessos diários. “Quando comecei não imaginava que mais de mil pessoas iriam parar para ler o que escrevo. Com certeza o blog só contribuiu para meu networking”. Escrever artigos sobre moda e comportamento levou a blogueira a sentar na primeira fila do São Paulo Fashion Week (SPFW), um dos eventos de moda mais importantes do Brasil. Roberta encara a exposição como algo natural, e justifica que, mesmo não querendo, os blogueiros ficam expostos, pois “o blog é uma vitrine para o mundo”. A blogueira Mili Pavan (à esquerda), 27, começou seu blog homônimo (www.milipavan.blogspot.com) há cerca de um ano, quando se mudou para Ribeirão Preto. Mili conta que a principal motivação para criar seu blog foi a necessidade de conhecer pessoas. No início, escrevia sobre diversos assuntos e, depois de
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Tiago Pereira www.paposegoles.com
res que vivem os blogs. Tiago Pereira, 30, publicitário, designer gráfico e diagramador, também é blogueiro nas horas vagas e abriga seus textos no seu blog “Papos&Goles” (www.paposegoles.com.br). “Entrei na blogosfera em 2007 com o blog “SeuModesto” e depois criei o “Papos&Goles”, que fala sobre cinema, música, arte, propaganda, humor e livros”, contou. Atualmente, o blog “SeuModesto” está desativado, mas Pereira ainda continua na web. Sua última criação foi o blog “SerMagro” (www.paNa Internet e na posegoles.com.br/sermagro), cozinha Mas não são só de mulhe- que apesar de estar no mes-
uma enquete, percebeu que suas leitoras gostavam mais de seus posts com dicas de moda e acatou a preferência de seu público. Com uma quantidade grande de acessos diários, Mili conseguiu uma nova profissão: agora, além de blogueira, ela também presta consultoria de moda. “Eles queriam aprender a se vestir. Portanto, hoje minha profissão é trabalhar como personal stylist e tudo isso graças ao sucesso do blog.”
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mo domínio do Papos&Goles, tem uma outra linha narrativa: a difícil trajetória de sua semana de dieta. O blogueiro comenta sobre obstáculos e superações. Amante de doces e cerveja, ele conta a difícil tarefa de ser uma pessoa saudável e resistir às tentações que aparecem diariamente. Além de satisfação pessoal, o blogueiro também conquistou coisas palpáveis com seus posts. “Conheci inúmeras pessoas interessantes por conta do blog, algumas pessoalmente e outras não. Já tive alguns artigos publi- cados em jornais e revistas e os blogs também já me serviram como portfólio.” Outro exemplo é o publicitário Rafael Mantesso (ao lado), 28, que fundou o blog “Marketing na Cozinha” (www.marketingnacozinha.com. br), em 2008. Atualmente, o blog recebe sete mil visitantes por dia, mantém uma média de dois posts diários e tem patrocinadores em sua companhia. Mantesso comenta sobre restaurantes, design de utensílios domésticos, curiosidades e publicidade. A única coisa relacionada que não tem no s i t e
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Rafael Mantesso (www.marketingnacozinha.com.br)
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Vida de Cachorro Um diário sobre a criação de um Bull Terrier por um casal é o tema do blog “Jimmy Gosta de Sapatos” (www.jimmygostadesapatos.com.br). “Quando vi que aquela coisinha tão pequena era tão cheia de personalidade, vi que ia ter muito trabalho e decidi relatar a nossa experiência com nosso primeiro cão”, disse Paloma Okano, 27 (ao lado). O blog, que tem cerca de 900 acessos diários e uma média de um post a cada dois dias, surgiu através do gosto pela escrita e do encorajamento do marido de Paloma, no caso Rafael Mantesso, do “Marketing na Cozinha”. A blogueira considera a experiência de relatar a vida de um casal com um cachorro um hobby caseiro. “O que colhi foi uma experiência pessoal, conselhos e troca de informações. Também estou aprendendo a administrar melhor esta coisa de blog, conhecendo um mundo virtual extenso”. Os assuntos são sobre o cão e a vida dela e de seu marido, mas apesar de expor tudo em um diário on-line, a blogueira tem que recontar a rotina para familiares e amigos. “É como se fosse uma vida dupla, e enquanto a minha irmã ainda não sabe o que é
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Foto: Giulia Trés
são receitas culinárias, mas excluir esse tipo de conteúdo de um blog, continuo seu espaço foi proposital. “Queria saber o que acontecia no me sentindo anônimundo da gastronomia que não fossem receitas e fotos de ma.” pratos. Esse lugar não existia, resolvi criar o blog e ser essa referência.” Mantesso considera o blog seu “cartão de visitas”. “É através dele que capto clientes, dou palestras, aulas e cursos no país inteiro. Sem contar a renda que ele gera através de publicidade.” Segundo Mantesso, o “Marketing na Cozinha” não é um espaço para se expor. Apesar de os textos e a curadoria serem dele, a opção foi manter sua vida particular longe dos posts. “É um distanciamento que optei fazer, acho que para o segmento em que atuo, fica mais profissional assim.”
Paloma Okano (www.jimmygostadesapatos.com.br)
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Os segredos da profissão e o dia a dia de quem trabalha na área Aline Bonilha Giulia Trés Thais Campos
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a hora de decidir sobre o futuro profissional, alguns jovens encontram resistência dos pais e familiares. O jornalismo é uma das profissões que causa mais polêmica. Admirada por uns e incompreendida por muitos, alguns pais perguntam: “Por que não fazer Medicina, Engenharia, Direito?”. Quem realmente quer ser jornalista tem a resposta na ponta da língua: “Porque quero levar as notícias à população, quero investigar os temas mais polêmicos, saber conversar de tudo um pouco, escrever, relatar, estar informado de tudo o que acontece no mundo, sentir o frio na barriga na hora de
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aparecer ao vivo ou dar um furo de reportagem... ”. Alguns requisitos são básicos para ter sucesso nesta profissão. Dominar a língua portuguesa, ter o hábito da leitura diária de jornais, revistas e sites de notícia, e talvez um dos requisitos mais importantes: ter fontes. O jornalista pode não saber de tudo, mas deve conhecer pessoas que saibam e em quem possa confiar. Para saber como é a vida de um jornalista em diferentes fases da carreira, a reportagem da Viés conversou com uma estudante de jornalismo, uma jornalista recém-formada e um jornalista que trabalha há anos no mercado. Confira a conversa sobre a profissão, estágios e seu cotidiano.
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ao próximo. Um jeito de transmitir ou decodificar uma informação para que todos entendam de forma fácil e interessante. É o meu objetivo”. O mercado de trabalho para o jornalista é concorrido e, por isso, ter bons contatos é essencial na hora de achar um emprego. Um jornalista em Ribeirão Preto pode optar por trabalhar em emissoras de TV e rádio, revistas, jornais impressos, portais online, assessorias de imprensa, empresas e instituições. Nova etapa Fabiana Padilha se formou no final de 2010 e é agora uma jornalista. “A sensação foi de mais uma etapa da vida que eu consegui concluir. Claro que dá aquela ansiedade, a gente se pergunta “E agora?”, “como vai ser?”. Pensei em mil coisas, mas depois fui me encontrando”, conta Fabiana.
Douglas Santos
Na faculdade A estudante Larissa Costa está cursando o 5º semestre de Jornalismo e, desde o primeiro ano de faculdade, faz estágio. Atualmente, é estagiária de uma emissora de televisão de Ribeirão Preto e escreve para uma revista de automóveis. “Viver e respirar jornalismo, essa é a minha rotina. Acordo cedo e vou para a emissora, a convivência e as experiências na redação são de extrema importância para o aprendizado de qualquer estudante. Depois vou para casa e descanso, que nada, escrever! Já são oito anos de muita ferrugem no sangue, escrevo sobre automóveis, que é uma grande paixão”, afirma Larissa. A estudante acredita que o estágio é a verdadeira faculdade, onde se aprende realmente a fazer, escrever e questionar. Até hoje as experiências profissionais vividas pela estudante a ajudaram a determinar o valor do jornalismo e as expectativas para o futuro. “É uma profissão muito importante e bonita se bem feita. Ela envolve paixão, coragem e vontade de fazer bem
O início de carreira da recém-formada Fabiana Padilha
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''Um jeito de transmitir ou decodificar uma informação para que todos entendam de forma fácil e interessante.''
Giulia Trés
Larissa Costa sobre “ser jornalista”
A estudante de Jornalismo Larissa Costa
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Atualmente, a jornalista trabalha em um portal de notícias como repórter de vídeo. Os estágios que fez durante a faculdade foram fundamentais. “O jornalista jamais pode ir para o mercado sem ter feito estágio. Foi muito bom, não só para o currículo. A experiência de estágio me deu mais segurança para enfrentar o mercado de trabaho.Essa profissão é mão na massa, prática!”. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) compreendem que o estágio tem importante participação na formação dos novos profissionais da imprensa. Porém, eles são proibidos pela lei que regulamenta a profissão de jornalista no Brasil. Por isso, em 2001, o estágio para estudantes de jornalismo foi permitido de forma não obrigatória, como atividade complementar. Pelo sindicato, a carga horária de um jornalista é de cinco horas diárias. Mas a maioria das funções exige horas extras e plantões de finais de semana e feriados. Estagiar permite vivenciar o conteúdo didático ensinado em sala de aula em situações diárias da profissão.Transforma as informações acadêmicas em conhecimento prático, o que ajuda o estudante a definir a área na qual deseja atuar. Além disso, permite fazer contatos com profissionais experientes e bem situados no mercado, expandir a bagagem do “saber” sobre a profissão e valorizar o currículo. Conviver com situações diárias da rotina de um jornalista, seja qual for a área de atuação, é um dos primeiros e mais importantes passos da carreira. Para Fabiana, existem boas empresas e que estão sempre contratando. A maioria dos seus amigos da faculdade, forma-
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dos no final de 2010, já está trabalhando. A jornalista recém-formada contou sua rotina diária: “Eu trabalho das 8h às 17h30, de segunda a sexta-feira. Às vezes trabalho fim de semana também, depende do evento que vai ter. Procuro estar sempre com um livro ao lado da cama. Com a correria, às vezes deixamos de lado a leitura, mas sempre que posso estou lendo, principalmente jornais e tem os dias reservados para ir à igreja e ver os amigos”.
ção. “Uma notícia que afeta a vida de uma pessoa vira um drama nacional e o risco disso é tirar o contexto da situação.” Chico formou-se em jornalismo aos 21 anos, na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Começou a carreira num jornal impresso de pequeno porte, aos 20 anos, em sua cidade natal.Aos 26, recebeu um convite de uma emissora de Ribeirão Preto para ser repórter de um jornal local, onde, tempos depois, se tornou âncora do principal telejornal da emissora. Hoje, com 26 anos de know how, ele já passou pela experiência Experiência profissional Quando conversamos com o jornalista Francisco Ferreira, de produtor, repórter e apresentador. Atualmente, é apresentadescobrimos uma nova perspectiva da profissão. Segundo Chico, dor e chefe de jornalismo de outra emissora da mesma cidade. como é conhecido, a correria do dia a dia e a concorrência do De acordo com o Ministério da Educação, as faculdades de mercado mudaram o perfil do profissional. Deixou-se de lado o Comunicação Social brasileiras colocam no mercado de trabaaspecto romântico de antes, pois hoje o jornalismo é como um lho aproximadamente 7.500 novos profissionais por ano. Entre produto à venda. O jornalista ainda afirma que o resultado é que, eles, cerca de 67% são jornalistas. Mas, com o mercado escasso muitas vezes, um fato noticiável se confunde com o cotidiano das e com a não obrigatoriedade do diploma, para onde vão esses pessoas e a notícia perde o sentido ao ser transmitida à popula- profissionais? Douglas Santos
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“A princípio a postura dos jornalistas não mudou, mas a prática mostra que é necessário a contratação de profissionais formados, como um critério de avaliação” Chico Ferreira sobre a não obrigatoriedade do diploma
Thais Souza
Em 2009, o STF (Supremo Tribunal Federa) decidiu que o diploma não é obrigatório para o exercício da profissão de jornalistas. Defensor da regulamentação do diploma, a grande esperança de Chico é que as empresas continuem contratando pessoas formadas por uma instituição de ensino. “A princípio a postura dos jornalistas não mudou, mas a prática mostra que é necessário a contratação de profissionais formados, como um critério de avaliação. Além disso é uma conquista da categoria e retirar esse direito é um regresso.” Para ser jornalista, não basta apenas saber escrever ou se portar diante de uma câmera. O ponto principal da profissão é gostar do que faz e aprender diariamente, buscando sempre melhorar. Apaixonado pela profissão e sem arrependimentos, Chico Ferreira expõe sua visão sobre o que é ser jornalista de fato. “É preciso ter visão crítica sobre as coisas, ver o mundo de maneira diferente e aliar essa característica à velocidade da informação.”
Chico Ferreira exercendo a profissão jornalista
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Guerra no ar
Ambientalistas e o Ministério Público de Ribeirão se mobilizam para evitar que governo do Estado e prefeitura consigam ampliar pista do aeroporto Leite Lopes André Dutra
ção possa trazer risco de acidentes O aeroporto Leite Lopes opera em O aeroporto de Ribeirão Preto co- período integral e registrou um movilocou a cidade em clima de guerra. O mento de mais de 600 mil passageiros motivo da discórdia é uma proposta e 40 mil voos em 2010, o quarto maior de reforma da pista que a ampliaria de todo o Estado de São Paulo, endos atuais 2.100 metros para 2.500 tre os aeroportos administrados pelo metros. Com isso, seria possível, na Daesp, sendo superado apenas pelos opinião dos que são a favor da obra, aeroportos de Congonhas e Cumbica pousos e decolagens de aviões car- em São Paulo e Viracopos em Campigueiros. nas. Até abril deste ano já circularam Mas o principal obstáculo para esse mais de 300 mil pessoas em 106 mil plano decolar é um acordo judicial, voos que passaram pela cidade feito em 2008, que proíbe ampliação O professor da USP Marcelo Pereida pista do Leite Lopes. A prefeitu- ra de Souza afirma que os moradores ra, o governo do Estado, parcela da do entorno do aeroporto já sofrem Câmara e empresários e comercian- com problemas de barulho, risco de tes defendem o fim desse acordo. O acidentes e, ainda, com falta de ilugoverno do Estado estuda ir à Justiça minação em trecho da avenida Thopara atingir esse objetivo. mas Alberto Wathely. O trecho não O problema para o governo é o Mi- é iluminado sob o argumento que a nistério Público, que não admite rever luz atrapalharia pousos de aviões. A o acordo e tem o apoio de ambienta- escuridão oferece risco de acidentes, listas, moradores no entorno do ae- principalmente a ciclistas e pedestres. roporto e de parcela dos vereadores. Marcelo Pereira ainda comenta O temor é que uma eventual amplia- que o aeroporto seria, na verdade,
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um “aeroclube”. O local inicialmente era um campo de aviação, mas com a expansão dele acabou se tornando um aeroporto. “O aeroporto tem que sair do local onde está e ser construído um aeroporto com capacidade de atendimento às necessidades”, diz Marcelo Pereira. Desde o ano passado a questão do aeroporto tem sido debatida na Câmara de Ribeirão Preto e até foi criado um movimento contrário à construção de um novo aeroporto, formado por pessoas e empresas que defendem a manutenção do Leite Lopes. Esse movimento é denominado pelos ambientalistas como “Só o Leite Lopes a Qualquer Custo” (SLLQC). Na corrente contrária, o engenheiro Lenio Severino Garcia afirmou que a justificativa de que a manutenção do aeroporto onde está é um argumento usado pelo governo do Estado, mas que os cidadãos podem contestá-lo judicialmente.
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Anderson Marcelo
Boas histórias, histórias de vida. Três oitentões descortinam o passado: racionamento de alimentos durante a II Guerra Mundial, o “footing” vigiado pelas mães, um médico que se descobre poeta. Célia, Camilo e Omar contam suas histórias, relatam fases da vida e se revelam afinados com os tempos de hoje: administração de condomínio, jogos no computador, estímulo cultural aos jovens... Humanismo, acima de tudo. Por Luís Monteiro, Marcelo Gouvea e Márcio Polacchini.
Um homem das letras
“Com os olhos bem abertos percorro meu universo o que eles me dizem: empolgue-se vibre ignore os empecilhos não se detenha avance”. Camilo André Mércio Xavier, do livro.”AlvOroçO”
Luís Monteiro
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que ue era para ser um tempo de descanso, Camilo Xavier dedicou sua aposentadoria à poesia. Com 84 anos, é autor de seis livros, membro da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto (ALARP), além de atual presidente da Academia Ribeirãopretana de Letras (ARL). Atua também como divulgador da cultura e da poesia junto aos jovens. Médico ortopedista nascido nesta cidade, está casado há 54 com Ilse e pai de quatro filhas, todas formadas: Renata, antropóloga, Luciana, enfermeira, Adriana, pedagoga e Camila, advogada. Camilo André Mércio Xavier fez medicina em Porto Alegre (seu pai era gaúcho e sua mãe, do interior de São Paulo), quando ainda não havia o curso em Ribeirão. Na volta, na década de 50, abriu clínica e foi médico do Co-mercial Futebol Clube. A
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partir de 1960 tornou-se professor de Ortopedia na Faculdade de Medicina da USP. Mas como sempre gostou de inovar, aproximou-se, como pesquisador, de colegas da Engenharia de São Carlos e juntos criaram o primeiro curso de Bioengenharia do país, voltado para aparelhos locomotores. Depois de 37 anos aposentou-se no posto mais alto da carreira. Tinha então setenta anos e energia de sobra para desenvolver novos projetos com viés cultural. Foi quando começou a escrever e revelou nos versos sensibilidade incomum. Sem esconder, no entanto, a condição de homem engajado de seu tempo. Dentre suas produções recentes, publicou “AlvOroçO” em 2010. Em parceria com diversos intelectuais e com apoio da reitoria da USP, fez surgir “Ribeirão Cultural: Iniciação Poética”, uma coletânea de 50
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Foto Anderson Marcelo
poesias de alunos de escolas públicas e do Serviço Social da Indústria. Um estímulo importante para os talentos precoces, como Jéssica Jabor Dias, do oitavo ano do SESI, cujo poema se encontra publicado nesta página. Voos mais altos na educação. Hoje seu maior empenho é proporcionar mais cultura aos jovens. Leva palestrantes de áreas diversas à Escola Estadual Otoniel Mota, a qual considera sua casa, pois ali cursou toda a educação básica. Para a Feira do Livro de 2011 idealizou a “Arca Cultural” para proporcionar o acesso dos estudantes aos livros de autores ribeirãopretanos. Posteriormente o projeto percorreria as escolas públicas. Está à procura de patrocínio, mas faz questão de esclarecer que não bate à porta de políticos. Homem simples, educado e com-
prometido União que com nos faz a cultura melhor e com seus semelhantes. Muitos são os frutos colhidos Já parou nas para cruzadas pensar culturais de Xavier. Que não estamos sós, Que nós temos uns aos outros, Gente que está junto a nós? Que juntos temos mais força, Que podemos mais, Que juntos somos melhores, Que união nunca é demais? Que se a gente estiver junto, Sabendo com quem contar, Podemos conseguir muitas coisas, Podemos nos ajudar? E é essa força Que nos faz acreditar Que num segundo Podemos o mundo mudar Jéssica Jabor dias em “Ribeirão Cultural — Iniciação Poética”
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“Moro com Deus e Nossa Senhora” disse Maria Célia Marques, solteira, 83 anos, que nos recebeu em seu apartamento, 10º andar, localizado na rua Bernardino de Campos, no centro de Ribeirão Preto.
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nenhum na cidade, nem o trem apitava. Diante do atual Centro de Convenções, existia um pomar aberto de jabuticabeiras. Perto da Catedral, ficava um lago com muitos peixinhos, até que um dia apareceu um martim-pescador... Onde hoje é o Clube Recreativa (local considerado nobre na cidade) era o Comercial Futebol Clube. Segundo ela, muita Marcelo Gouvea gente não gostava do Comercial, pois ascida em Serra Azul, é professo- dizia ser time de rico. O “footing” era em frente ao cine ra aposentada de escola rural em Sertãozinho. Quando tinha quatro São Paulo (que já não existe mais), na ou cinco anos, o pai, comerciante Rua São Sebastião, dobrando até a esde tecidos, proprietário da pri- quina da General Osório. As moças, meira loja “Renner” da cidade, levou a de braços dados, andavam do lado de família para visitar o avô, que era cego, dentro da calçada, enquanto os rapazes em Portugal, onde ficaram por um ano. olhavam. Algumas mães também ficavam A ameaça de guerra na Europa os fez por ali, conversando e “fiscalizando”, retornar. E em 1950 se mudaram para conta Célia, com uma risadinha. Ribeirão. Além dela e dos pais, tinha mais quaLembranças do colégio Célia fez o curso Normal interna tro irmãos: um comerciante, um bioquímico professor da USP, e dois médicos, no Colégio Santa Úrsula. E diverte-se sendo um deles ordenado padre aos 74 ao lembrar histórias pitorescas de lá. Numa delas, conta que uma prima foi anos. Seus relatos, em português impecá- colocada no internato por causa de um vel, nos transportam para outra época. namorado. O rapaz, que morava perto, Era sexta-feira santa, não havia barulho mandava bilhetes pelas alunas externas.
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Fé, alegria e um exemplo de vida
O combinado era ela ficar no pátio num determinado horário para ele poder vê-la de cima do muro. Um dia a freira Encarnação o surpreendeu e exclamou enfática e demoradamente: “Ehhh Maneco!!!”. Ele respondeu: “Ehhh Madre!!!” E sumiu... Anos depois os namorados se casaram. Em outro caso, o uniforme, impecável, apresentava saia azul abaixo do joelho, meias altas e blusa branca de fustão com mangas compridas. Léia, de Ituverava, divertia as colegas com longos “discursos” no retorno das férias, começando com “Adeus, liberdade...”. Às vezes, sem malícia, contudo irreverente, arregaçava as mangas da blusa. Ao se deparar com a quebra do “decoro”, a primeira freira que a via ordenava: “Baixe as mangas!” Léia obedecia, porém baixa-va também as meias. E quando outra religio-sa mandava: “Suba as meias!”, a aluna atendia, mas, do mesmo modo, subia outra vez as mangas. E não se emendava. A entrevistada - com olhos brilhando - não esconde as próprias desobediências, embora, garante, fosse comportada. Certa vez, depois de ter sido molhada por uma colega com água da
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Anderson Marcelo
pia, tentou revidar e atingiu uma freira. Correu sem ser identificada. Recorda ainda que, junto com quatro colegas, aproveitando o bolso enorme do avental, furtava pão em algumas refeições. Mais tarde, no refeitório, onde era proibido comer, abriam uma lata de sardinha e se deli-ciavam num banquete. A demolição do Colégio Santa Úrsula para construir um “shoping” deu tristeza. Havia, entretanto, o consolo de que preservariam a fachada e a capela. Conversa apenas. Numa época em que poucas mulheres dirigiam automóveis, Célia tirou a carta de motorista, sem reprova, escondida da família. Zombavam da sua baixa estatura (hoje 1,40 cm, antes era mais
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“...divertia as colegas com longos “discursos” no retorno das férias, começando com “Adeus, liberdade...”.
alta, garante). Apesar do delegado rigo-roso, que no percurso a tinha mandado parar na frente de uma garagem, não caiu na armadilha. Tirou a carta, apesar de não pensar em dirigir na época, com a justificativa: “Tudo o que a gente pode aprender, não se deve desprezar”. Ao observar a vista de uma janela voltada para a avenida Independência, vê-se diante de um cenário repleto de edifícios. Célia os viu crescerem, mas ainda não havia outros prédios naquele horizonte quando foi morar lá. Mostra, entre outras coisas, onde havia um asilo de mulheres “Anália Franco”, que dali viu pegar fogo “inteirinho”. Ninguém morreu. Depois, em outra janela, mais uma vista ampla, permitindo en-xergar a
avenida Nove de Julho, antes residencial, hoje tomada pelo comér-cio. Avista-se, longe, até o local onde estava montada a Agrishow. Recentemente, Célia tomou aulas particulares de informática e revelou muita facilidade no uso do computador, tanto que não precisou recorrer a anotações. Partilha e-mails com amigos e se mantém atualizada pelos sites de notícias. Diverte-se com jogos, como paciência, sudoko e bubble splash. Se as transformações da cidade através do tempo impregnaram sua vida, não puderam abalar a simpatia e a vontade de aprender dessa mulher religiosa e de bem com a vida no alto dos seus 83 anos de existência.
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O saque na Casa Robin loja, entregava pacotes. Bastava a “carteira de saúde” para fusquinha amarelo ano trabalhar. Os 140 cruzeiros de 77 estaciona às 8h30 salário entregava ao tio Egídio, em frente um prédio na com quem morava. Ele lhe deárea central de Ribeirão volvia 10, para passar o mês. Certa vez, a tia Dorinha o Preto. Desce, elegante, óculos escuros, com passos apresentou ao diretor artístirápidos, Omar Garcia Barbosa, co da rádio Clube. Aprovado 81 anos, o síndico. Não mora em teste, passou a fazer parte ali, mas comparece pontual e do elenco da emissora como diariamente para lidar com os “o menino cantor”. Participava assuntos do condomínio de 56 três vezes por semana em um apartamentos, dois dele. Combinamos entrevistá-lo. Órfão aos quatro anos de idade, no colo do pai, na rua Tibiriçá ainda sem calçamento, ouviu: “É, Omar, sua mãe foi embora”. Suas lembranças passam, além de Ribeirão, que priorizamos, por Altinópolis, Batatais e São Paulo. Também por Aparecida, onde, com dez anos, morou pouco mais de três meses em um seminário. Não esqueceu os tapas que o padre Pedro lhe deu. Fiquemos na década de 40. O primeiro emprego foi aos 13 anos na loja “A Principal”, esquina da rua General Osório com a Saldanha Marinho. Arranjado pela tia, Dora, prostituta famosa, dona de uma movimentada casa de tolerância no centro da cidade. Fazia faxina, arrumava a Márcio Polacchini
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programa. Cantava ainda em cidades vizinhas. Recebeu elogios de Sílvio Caldas, intérprete de sucesso, que numa ocasião se exi-biu no mesmo palco. Com o dinheiro ganho na atividade artística, ia aos filmes do cine São Paulo e vestia roupas escolhidas pela tia Dora na Casa Castanheira. Era para ele um período de felicidade, anos 44 e 45, primeira metade.
Por outro lado, terminava a II Guerra Mundial. Para exportar alimentos para a Europa destruída, faltavam no Brasil alguns produtos, como óleo comestível, açúcar e sal, que foram racionados. A qualidade do pão piorou, com a mistura de fubá à farinha de trigo. O câmbio negro era uma saída só para quem tinha bastante dinheiro, pois um quilo de açúcar custava cinco vezes mais.
Foto Marcio Polacchini
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Em Ribeirão, toda semana populares faziam passeata e comício contra a carestia. O comércio baixava as portas rapidamente. Já se ouvia falar de saques no Rio e São Paulo. Uma manhã de 1945, Barbosa, que trabalhava nas proximidades, assistiu ao saque na Casa Robin, armazém de oito portas na esquina da rua Saldanha Marinho com a Duque de Caxias. Grande número de pessoas que vinham da avenida Francisco Junqueira parou em frente. Não deu tempo de descer as portas. Alguns entraram. Um deles saiu levando uma mercadoria qualquer. Pronto. A multidão arremeteu-se para dentro, pulou os balcões, carregou pacotes de sal, latas de banha, conservas, rolos de fumo em corda, etc. Em meio à gritaria e empurrões, os empregados fugiram apavorados. Quase uma hora de pânico. À tarde, Barbosa viu tudo calmo,
porém notou que os dois proprietários da Casa Robin, sentados em um banco, vigiavam. Dava para avistar um revólver na mão de um deles. Dias depois, chegou a Ribeirão um trem cheio de policiais do Rio de Janeiro. Era a temida Polícia Especial de Getúlio Vargas, bonés vermelhos e fardas amarelas. Com fuzis e metralhadoras, os soldados ocuparam o centro por umas três semanas. Até que se foram. E a cidade voltou ao normal. Eis que um morador do prédio interrompe a entrevista. Está preocupado, pois notou um vazamento de água. Acha que vem do apartamento de cima. O síndico Barbosa, educado como sempre, nos pede licença. Solícito, vai atendê-lo. Dá um descanso à sua memória prodigiosa e se transporta para o século XXI, década de 10. É hora de trabalhar.
Em Ribeirão, toda semana populares faziam passeata e comício contra a carestia.
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Foto Marcio Polacchini
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Sorveteria cativa freguesia ribeirãopretana há 38 anos
O sorveteiro Geraldo Caramori (a esq.) ao lado do funcionário José Aparecido Cândido. Os sorvetes preferidos do Geraldo? Ameixa, crocante e milho verde.
André Dutra
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ão poucos os lugares que podem ser considerados pontos obrigatórios das cidades onde ficam. A Sorveteria do Geraldo, há 28 anos em Ribeirão Preto, é um deles. Com uma média de temperatura anual de quase 38 graus, o sorvete é um boa pedida aos ribeirãopretanos e visitantes para se refrescar. De origem humilde, Geraldo trabalhava na fazenda até 1949 quando veio para
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a cidade trabalhar na Sorveteria Oscarino, que ficava na Rua Barão do Amazonas. Ele considera o antigo patrão um excelente professor, e trata este primeiro trabalho como uma verdadeira escola em que aprendeu a fazer de tudo um pouco, desde os serviços mais pesados até a produção dos sorvetes. Em 1952 retornou para fazenda do pai, que estava doente. Mas em 1961 voltou para Ribeirão Preto e trabalhou novamente na antiga sorveteria. Cinco anos depois conseguiu um empréstimo com o sogro e comprou
o estabelecimento do antigo patrão. Personalidades importantes da cidade já estiveram na sorveteria, inclusive alguns políticos, como os últimos quatro prefeitos da cidade. Mas nem só de visitas conhecidas vive o local, que “já foi assaltado uma vez há muito tempo”, segundo José Aparecido. A rotina em uma sorveteria começa às seis horas da manhã para iniciar os preparativos e às oito abre as portas aos clientes. Os funcionários começam a trabalhar ao meio-dia e a jornada de trabalho só
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termina com a saída do último cliente. Com essa rotina o expediente pode ser encerrado mais cedo por falta de sorvete, o que é raro, segundo o próprio Geraldo, mas de vez em quando acontece. Em média são 15 a 16 horas de trabalho diário, inclusive fins de semana e feriados. Mônica Teixeira comenta que sempre traz os familiares que moram em São Paulo para dar uma passada na sorveteria. “A gente adora, o sorvete, não tem igual. Acho que é o melhor sorvete de Ribeirão”, diz ela. Com produção diária de 1.000 a 2.000 sorvetes, Geraldo não demonstra cansaço. Um dos motivos é sempre atender bem o cliente, além de gostar do que faz. Em entrevista à Revista Viés, ele conta detalhes sobre a produção do sorvete e revela os planos para o futuro.
Como são produzidos os sorvetes? O sorvete é produzido em tambores de 15 kg e a base, a massa que se tornará o sorvete, é congelada e batida no dia seguinte. É preciso ter alguns cuidados durante o preparo. O leite, por exemplo, é fervido antes de ser batido. Os produtos são todos naturais, porque são melhores para a saúde e por não terem conservantes. Quais são as principais dificuldades em administrar uma sorveteria? Um dos problemas é o consumo do sorvete depois de pronto. É complicado de cuidar porque cristaliza e precisa levar para o fogo, mas aí perde a qualidade. Outra dificuldade é o clima, porque quando chove o movimento diminui, mas quando faz frio se mantém.
Quais os planos para o futuro? Um dia eu penso em ensinar a fazer um bom sorvete. Parece fácil, mas não é. Tem que saber escolher bem os produtos, ver se eles são de boa qualidade, depois se aprende a limpar o tambor da forma correta, a descascar a fruta, a bater na máquina... O processo é longo, mas é muito bom. Tem gente que faz uma faculdade e se forma, estes anos de experiência são para mim quase como uma faculdade. São muitos anos, olha quanta coisa eu já passei, mas um dia eu preciso passar o conhecimento adiante, para que outras pessoas possam aprender a fazer um sorvete que seja bom e gostoso, e com qualidade também.
“Um dia eu penso em ensinar a fazer um bom sorvete. Parece fácil, mas não é”
O funcionário Carlos Correa prepara a massa do sorvete de nozes. Durante o preparo, oferece aos clientes um pouco do sabor feito na hora.
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O esporte sem idade
O início da prática de um esporte não tem idade, basta orientação e acompanhamento profissional Stephanie Locci
Stephanie Locci
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aumento pela procura por esportes, principalmente por pessoas com idade mais avançada mostra a preocupação com a saúde e com um envelhecimento saudável.A corrida é um deles.Apesar de ser um esporte de alto impacto, o interesse. O esporte pode ser praticado por idosos, sozinho ou até mesmo em grupos. As provas e maratonas também servem de estímulo, já que muitos querem vencer seus próprios obstáculos e mostrar que são capazes. É importante, porém, ter conhecimento dos benefícios e dos riscos que o esporte pode trazer. O personal trainer Mateus Juvêncio atenta para os cuidados necessários para a prática da modalidade. “Por ser uma modalidade de muito impacto e como as articulações nos idosos estão mais fragilizadas, nada de exageros. O ideal é correr no máximo três vezes por semana e conciliar a atividade com treinos de musculação ou hidroginástica.” Quanto aos benefícios decorrentes da corrida, Mateus ressalta a redução da circunferência abdominal e consecutivamente a baixa de riscos cardíacos. Há também redução do colesterol recorrente à perda de gordura e a liberação dos hormônios endorfina e adrenalina, aliados ao bem estar e à prevenção de doenças psicológicas. O aposentado em contabilidade Walter Locci, 76 anos, descobriu há 28 anos na corrida a maneira de manter uma vida ativa e saudável. Um porte físico acima do esperado para uma pessoa mais velha. Treina pela manhã todos os finais de semana e participa de competições no clube que frequenta. Ele acredita que o esporte não tem idade para começar, basta você querer.“Comecei tarde, mas não me arrependi.Acho que as coisas acontecem no momento certo”, conta Locci. Leia trechos da entrevista concedida à Viés:
VIÉS
Walter Locci em uma competição
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Stephanie Locci
Walter no lugar mais alto do pódio: 1º lugar
Viés- Porque tão tarde essa procura? Walter Locci- Busquei no esporte uma nova vida. Antes disso eu era uma pessoa como outra qualquer: trabalhava muito e não tinha muito tempo para nada. Depois de um problema de saúde relacionado com o stress, o médico pediu para que eu procurasse uma atividade física. Ele explicou que o esporte seria uma válvula de escape. V- Como foi que começou a correr? Como era há muito tempo atrás eu achei que só fosse começar e pronto. Mas como eu leio muito e depois desse episódio eu passei a assinar revistas relacionadas à saúde. Foram essas revistas que me direcionaram. V- Como é para você ter 76 anos e ter uma vida tão ativa? W-Olha, não tem explicação. Correr para mim é muito importante. É uma motivação. Sou uma pessoa com idade avançada, mas procuro não me deixar levar por isso.
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As vezes eu até exagero na corrida, meus familiares ficam bravos comigo, mas é o que eu gosto de fazer. Corro todo fim de semana no clube de Regatas e às vezes participo de corridas lá. Mas não são corridas de longa distância. Como eu sempre estou por lá e o assunto corrida sempre me cativou, eu acabo me inscrevendo. V- Já ganhou algumas medalhas? W- Sim (risos). A gente corre para isso, né. No começo eu ganhei algumas medalhas por participação. Eu não podia arriscar muito pela minha idade, mas como eu vi que eu podia mais, eu passei a competir com vontade. V- Não sofre problemas de joelho e articulações por causa de idade ? W-Claro, meu corpo não é mais novinho. A máquina já está velha (risos). Tive alguns problemas principalmente no tornozelo e no joelho. Como me cuido muito o médico disse que os problemas não foram graves. Mas hoje em
VIÉS
dia eu tenho que correr com menos velocidade. Segundo ele logo vou ter que diminuir mais ainda. V- Você se considera um viciado em corrida? W-Não (risos). Bom pensando bem, talvez. Todo fim de semana eu preciso ir ao clube treinar. Não posso ficar com o intervalo de tempo entre um treino e outro. V- E você deixa de fazer as coisas para ir ao clube? W-Sim, como vou todo fim de semana eu tenho que abdicar de algumas coisas. Minha esposa não gosta muito disso, mas ela entende e me apoia. Ela também tem uma vida ativa, mas ela só não trabalha. Eu ainda exerço a minha profissão. V- E quando viaja, procura algum lugar para praticar o esporte? W-Sou um atleta minha filha (risos). Não posso deixar de praticar. Quando viajo para a praia ou qualquer outro lugar eu procuro um local para correr.
O treino para idosos deve seguir algumas especificidades e cuidados devem ser tomados. Veja abaixo algumas dicas: - Realizar junto à seu médico ou personal uma avaliação física para adaptar o treino correto a sua iddade e condição física - Conciliar a prática das atividades físicas com uma alimentação saudável para repor as energias - Alternar os dias de corridas com dias de musculação ou hidroginástica - Estar continuamente se hidratando durante o exercício - O alongamento previamente ao exercício e até mesmo alguns minutos de caminhada é importante.
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Cavalgadas de reabilitação A reportagem da Viés passou uma tarde no Haras Manuel Leão e acompanhou as atividades de reabilitação de crianças com necessidades especiais no Centro de Equoterapia
Matéria e fotos
Juliana Jurkovick Garzon
C
oloquei o pé na estrada. Depois de pouco mais de 20 minutos de viagem pela rodovia Cândido Portinari, entre Ribeirão Preto e Brodowski, a placa indicou o quilômetro 327, o que significava que o meu destino estava perto. No meio do caminho já deu para sentir a mudança no ar. A paisagem da estrada é só cana, mas, ao entrar pelos portões do haras, o verde vai até onde a vista consegue alcançar. No meu caso, já que estava usando óculos de grau, isso significa alguma coisa. Cheguei ao local e fui direto ao refeitório procurar pela Néia, a coordenadora da Equoterapia. Sentei num sofá, no canto do refeitório, e a vista era, no mínimo, refrescante. A brisa soprava de forma leve, o suficiente para você desejar morar ali e esquecer a fumaça, os prédios e o barulho da cidade. O meu pensamento exato foi: “Deve ser bom trabalhar aqui. É tudo tão tranquilo”. Fomos dar uma volta pelo haras. No Centro de Equoterapia, um garoto estava fazendo o tratamento. Mas fui orientada a ficar longe, porque ele já era muito agitado. E, realmente, enquanto conversávamos, ele gritou “Ihaaa!” e parecia feliz. Mas logo fez um estardalhaço e começou a se jogar do cavalo, que, depois, descobri ser, na verdade, uma égua chamada Filó. Então, tiveram que tirá-lo do animal. De acordo com as normas da Associação Nacional de Equoterapia (ANDE), a equipe deve ser, minimamente, formada por três profissionais: psicólogo, fisioterapeuta e profissional de equitação. Outros orientadores,
VIÉS
como pedagogos, também podem contribuir para o tratamento. As sessões duram meia hora e não mais do que isso. Parece pouco, né? Não em cima do cavalo. E muito menos para uma criança com dificuldades motoras. De acordo com Néia, estudos comprovam que meia hora faz o paciente ter, em média, 300 contrações musculares. Já não parece tão pouco. Não é todo paciente que pode fazer o tratamento. Eles têm que ter idade mínima de três anos, mas não
As sessões duram meia hora e não mais do que isso. estudos comprovam que durante esse tempo paciente tem, em média, 300 contrações musculares.
há limite, pois até idosos, vítimas de derrames ou AVCs (Acidente Vascular Cerebral), podem usufruir do método terapêutico. Primeiramente, o médico de cada paciente deve autorizar a modalidade. É feita, então, a avaliação para definir o objetivo do
tratamento, quais músculos devem ser fortalecidos e quais passos do cavalo vão ajudar nisso. Para um aluno mais agitado, o cavalo deve dar passos mais largos e caminhar de forma tranquila. Já para um calmo e “preguiçoso”, a marcha do animal dá o ritmo necessário. Dois cavalos fazem parte da equipe da Equoterapia: a Filó e o Pingo. Néia voltou para me buscar e me levou até o outro estábulo onde ficam os cavalos usados nas aulas de equitação. Dentre os que estavam hospedados por lá, conheci Thor, um dos meus preferidos. A pelagem dele é uma mistura de branco com cinza e ele era grande, mas não tanto quanto Bill. Bill foi o segundo cavalo que vi neste estábulo, mas vai ser difícil esquecê-lo, ou melhor, esquecer a sua altura. Quando olhei na baia, o “quarto” dos cavalos, tive que olhar para cima para ver onde acabava sua cabeça. Eu tenho 1,75m de altura e tive que subir meu olhar para um cavalo. A minha primeira reação diante desse fato foi olhar para baixo, jurando que deveria ter um degrau atrás da portinha da baia. Não tinha. O cavalo de pêlo marrom e crina preta brilhante realmente era maior que eu. Chegou a hora de mais uma sessão de Equoterapia. Apresentei-me à mãe da garota e pedi para assistir ao tratamento de sua filha. Ela disse que não havia problema, mas não ficou por lá para conversarmos. A garota começou nervosa, sem querer relar muito no animal. Na verdade, ela queria mais abraçar os profissionais do que o Pingo. Mas, depois que a colocaram no
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cavalo, ela parecia realmente aproveitar as voltas que davam pela arena. Como todos nós, na maioria das vezes as crianças têm receio no primeiro contato com aquele grande animal que, mesmo sendo grande para eles, devo ressaltar, são bem menores do que o Bill. Então, o primeiro passo do método, depois de definidos os exercícios, é fazer a adaptação dos pa-
já estão cansados demais para se empolgarem e saírem galopando ou, então, para se importarem com uma puxada na orelha. Depois de terminada a sessão da menina, um casal trouxe o seu filho. Fiz a mesma coisa: apresentei-me aos pais, expliquei o que estava fazendo lá e pedi para ficar. Eles também deixaram. Mas, desta vez, a mãe de João Victor veio conversar comigo.
Paulo, onde nasceu. Agora com 12 anos, João Victor está na sétima série e só consegue fazer as provas oralmente. Até a de Matemática. Aliás, ele tirou 5,75 na última avaliação da matéria, que valia 6. A alegria dele em ver Filó era visível e au-
Animais fazem parte da Fazendinha
cientes aos animais. Primeiro a criança se acostuma a dar feno na boca, a passar a mão pela barriga, a escovar, para só depois montar. O tempo que cada paciente demora para ter confiança suficiente para subir no animal é variável. O cavalo também é criteriosamente escolhido. Os tratadores os conhecem desde que eram potrinhos. Então, já sabem quais são os mais mansos. A preferência é pelos mais velhos, que
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Ela me contou que ele nasceu prematuro, com seis meses, e que faltou oxigênio no cérebro, o que prejudicou o movimento de seus membros. Depois de ter passado dois meses na incubadora, ele finalmente pôde sair do hospital. A mãe, formada em psicologia, abandonou tudo para cuidar do filho, que, apesar de morar em Ribeirão Preto há apenas dois anos, faz questão de dizer que esta é a sua cidade natal, e não São
dível. Ele conversava e sorria totalmente confortável, com o cavalo comendo feno no seu colo. Depois de montar no animal, ele começou a dar voltas e, conforme Filó requebrava, os seus cachos ruivos dele balançavam como se tivessem sido enrolados. Um dia perguntaram para ele na escola se ele gostaria de andar e correr e a resposta foi: “o que você acha?”. A mãe disse que, mesmo depois de todos esses anos, tudo ainda é difícil. Mas ver crianças em situações consideradas mais graves do que a dele, como uma colega cega de São Paulo, dá força para não desistir. Em dois
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A arena onde é feita a Equoterapia
meses de tratamento, o médico já começou a notar os resultados positivos da Equoterapia. Ainda mais importante que as observações dos médicos e dos pais, é quando o paciente também consegue ver os resultados do trabalho. O tratamento, aliás, para as crianças, não pode ser definido como trabalho, e sim como se fosse um passeio. Depois de voltar de sua excursão pela arena, João Victor se despede de
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todos, obrigado pela mãe, já que está na hora de ir embora, brincando que ela foi feita para “comandar o BOPE”. Outra paciente chegou, mas estava na hora de eu ir embora. Na hora do “tchau”, o condutor dos cavalos na Equoterapia confessou que queria ter estudado jornalismo, mas que desistiu porque era difícil arrumar um bom emprego e, então, resolveu se dedicar à fisioterapia. Não conversamos mais, porque o
Pingo estava praticamente pedindo comida. E, no Manuel Leão, os cavalos têm preferência. Durante a viagem de volta, olhando já para o pôr do sol, fiquei pensando em toda a dedicação daquele pessoal do haras, das famílias dos pacientes e na sua força de vontade. Esse dia me fez perceber como consideramos banais ações que podemos fazer todos os dias, só porque conseguimos fazê-las automaticamente.
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João Victor, a equipe da Equoterapia e a égua Filó
Quando tropeçamos na vida, achamos, muitas vezes, que está tudo terminado. Enquanto isso, essas pessoas, essas crianças, estão tentando não cair do cavalo. De novo. A Equoterapia é um método terapêutico e educacional, reconhecido, no Brasil, em 2007, como um tratamento de reabilitação, que utiliza o cavalo em uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação. O objetivo é desenvolver o biopsicossocial de pessoas com deficiência ou com necessidades especiais. O Haras Manoel Leão foi fundado em 2003 e possui um Centro de Equoterapia com capacidade para atender 250 praticantes. Filiado ao Ande Brasil (Associação Nacional de Equoterapia), o haras atende, na maioria, crianças com paralisia cerebral. Destes, 63 pacientes dependem de padrinhos para fazer o tratamento semanal. Qualquer pessoa, ou empresa, pode manter um paciente com R$300 mensais. O dinheiro é usado na contratação dos profissionais e o haras fornece a estrutura e o animal.
O Manoel Leão fica na rodovia Cândido Portinari, quilômetro 327, entre Ribeirão Preto e Brodowski. Informações: 3617-1496.
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