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Do génio em Leonardo da Vinci e da Medicina
Nuno Vieira
Perto de cumprir uma dezena de edições, trazemos à luz do dia o 9º Algarve Médico, esta que é a revista científica do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA). Como é apanágio da nossa publicação, este número prima mais uma vez pela diversidade dos conteúdos médicos, tocando grandes áreas do conhecimento médico, desde a epidemiologia, passando pela clínica médica e cirúrgica, por terapêuticas inovadoras e até mesmo por reflexões sobre os sistemas e serviços de saúde em Portugal. Gostaríamos no entanto de destacar também a História da Medicina, pois o conhecimento global do presente implica também conhecer os caminhos que nos trouxeram até ao dia de hoje. Então a salientar um apontamento sobre a história da cirurgia em Portugal na época medieval e início da época moderna e um ensaio sobre um nome incontornável da História da Humanidade, Leonardo Da Vinci.
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Relembremos então um dos grandes génios da Humanidade, Leonardo da Vinci, no ano em que se assinala os 500 anos do seu falecimento. Da Vinci teve um notável contributo para o conhecimento da Anatomia e, por essa via, para a Medicina. Apesar de normalmente ser reconhecido como um grande pintor, autor por exemplo de trabalhos como Mona Lisa ou a Última Ceia, Leonardo da Vinci estendia a sua curiosidade por múltiplas áreas do conhecimento, algo comum na época entre as grandes personalidades da arte e da ciência, mas que hoje em dia e de acordo com a nossa atual distribuição dos saberes, se torna quase que inverosímil dado tratarem-se de áreas totalmente distintas entre si. Como característica da sua personalidade essa imensa curiosidade e a necessidade de explicação e/ou a aplicação prática que decorre desta sua visão, plasmam naqueles seus trabalhou que chegaram até aos nossos dias, a tradução prática desta mesma sua natureza. Apresenta notabilíssimos trabalhos em áreas como pintura, desenho, engenharia, arquitectura... e anatomia. Dos seus escritos transparece a sua vontade de publicar vários tratados, nomeadamente na pintura e na anatomia. Porque nunca os completou é algo que não sabemos.
No entanto, da anatomia chegaram aos nossos dias uma boa quantidade de folhas, reunidos nos designados códex, com desenhos e explicações que, na mesma página podem abranger uma grande diversidade de matérias assinaladas. Espanta-nos claramente a precisão e a fiabilidade destes escritos, resultantes do seu génio e dos seus estudos anatómicos, que vêm sucessivamente fascinando e cativado os clínicos que ao longo dos anos se têm dedicado ao seu estudo.
E é esse o caso de um cirurgião do CHUA que neste número do Algarve Médico publica um trabalho feito a partir de um desenho de anatomia do tubo digestivo onde se assinala um apêndice ileocecal. A partir deste detalhe presente nos desenho e do texto
que se lhe refere temos uma leitura da anatomofisiologia presente em Leonardo da Vinci, confrontada com o conhecimento 500 anos depois e verificamos, no entendimento do autor, que também aqui neste pormenor da nossa constituição anatómica tem uma visão da sua anatomofisiologia que apesar de formalmente inexata, se revela totalmente adequada mesmo aos nossos olhos de hoje.
Enquanto editores de Algarve Médico, assumimos então o desafio de posicionar esta revista com os elementos e com as referências necessárias ao entendimento das várias expressões do génio criativo e da repercussão que estes têm na Medicina do século XXI.
Desenho de Leonardo da Vinci, feto no útero , c1511, folha papel 30.4 x 22.0 cm. Royal Collection Trust.