BETH-SHALOM
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MARÇO DE 2006 • Ano 28 • Nº 3 • R$ 3,50
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Prezados Amigos de Israel
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A Rainha Ester
Notícias de
ISRAEL É uma publicação mensal da “Obra Missionária Chamada da Meia-Noite” com licença da “Verein für Bibelstudium in Israel, Beth-Shalom” (Associação Beth-Shalom para Estudo Bíblico em Israel), da Suíça. Administração e Impressão: Rua Erechim, 978 • Bairro Nonoai 90830-000 • Porto Alegre/RS • Brasil Fone: (51) 3241-5050 Fax: (51) 3249-7385 E-mail: mail@chamada.com.br www.chamada.com.br Endereço Postal: Caixa Postal, 1688 90001-970 • PORTO ALEGRE/RS • Brasil Fundador: Dr. Wim Malgo (1922 - 1992) Conselho Diretor: Dieter Steiger, Ingo Haake, Markus Steiger, Reinoldo Federolf
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Coragem: A Marca de Josué
Editor e Diretor Responsável: Ingo Haake Diagramação & Arte: Émerson Hoffmann Assinatura - anual ............................ 31,50 - semestral ....................... 19,00 Exemplar Avulso ................................. 3,50 Exterior: Assin. anual (Via Aérea)... US$ 28.00
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HORIZONTE • Eliminando Israel com delicadeza - 12 • Justiça em Nuremberg - 14 • A magia do Golã - 18
Edições Internacionais A revista “Notícias de Israel” é publicada também em espanhol, inglês, alemão, holandês e francês. As opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade dos autores. INPI nº 040614 Registro nº 50 do Cartório Especial O objetivo da Associação Beth-Shalom para Estudo Bíblico em Israel é despertar e fomentar entre os cristãos o amor pelo Estado de Israel e pelos judeus. Ela demonstra o amor de Jesus pelo Seu povo de maneira prática, através da realização de projetos sociais e de auxílio a Israel. Além disso, promove também Congressos sobre a Palavra Profética em Jerusalém e viagens, com a intenção de levar maior número possível de peregrinos cristãos a Israel, onde mantém a Casa de Hóspedes “Beth-Shalom” (no monte Carmelo, em Haifa).
A repentina e grave enfermidade do primeiroministro Ariel Sharon abalou a situação política em Israel. Foi impressionante como pessoas de todo o país, e até do mundo inteiro, manifestaram sua preocupação e sua compaixão por Sharon. Afinal, ele era um político muito polêmico. Principalmente em nível internacional ele era freqüentemente criticado com dureza e até mesmo rejeitado. Mas quando sua vida começou a correr perigo, parece que o mundo passou a ver em Sharon a única esperança de alcançar a paz no Oriente Médio. Outros, porém, consideraram que sua doença foi um castigo de Deus, porque ele se dispôs a entregar partes da Terra Prometida. Ainda não está certo se Sharon vai sobreviver, mas o retorno às suas funções está completamente descartado. Parecia que seu partido recém-formado, o “Kadima” (“Avante”), desmoronaria devido à falta de Sharon. Mas os resultados das pesquisas mostram que esse não é o caso – muito pelo contrário. Todos os demais partidos em Israel encontram-se atualmente numa grave crise. No início parecia que o “Kadima” estava vinculado exclusivamente à pessoa de Sharon, mas tem ficado sempre mais claro que não é assim. Pelo contrário, o partido se caracteriza pelo novo rumo determinado por Sharon, que aparentemente tem sido bem aceito pela população de Israel. Ariel Sharon ainda tinha determinado que qualquer um que aceitasse a orientação do “Kadima” seria bem-vindo a fazer parte dele. Desse modo, aconteceu algo praticamente inacreditável: Shimon Peres, que era a expressão maior do Partido Trabalhista, associou-se ao partido de Sharon. Apesar de não poder mais pensar numa carreira política devido à sua idade, ele declarou que não lhe importava em primeiro lugar a ideologia, mas o estabelecimento da paz com os palestinos. Essa é, como parece, também a questão que mais interessa à maioria dos israelenses, que desejam que haja, finalmente, uma solução para o conflito. É interessante que Sharon e Peres eram particularmente bons amigos. Eles foram unidos pelo desejo de alcançar, antes da sua saída definitiva da política, a paz com os palestinos, para assegurar um futuro melhor às próximas gerações. Por isso, para o “Kadima” Peres é principalmente um ponto positivo na estratégia eleitoral.
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A direção do novo partido está agora nas mãos de Ehud Olmert, que será o primeiro-ministro até às eleições em março. Olmert, de 60 anos, iniciou sua carreira política aos 28 anos. No final de 2005 ele saiu do bloco Likud e juntou-se ao recémfundado partido de Sharon, em cuja lista ocupava o segundo lugar. Parece que o “Kadima‘, apesar da grave enfermidade de Sharon e da sua saída da política, ganhará as eleições e poderá prosseguir com sua orientação para alcançar a paz com os palestinos. Naturalmente, a vitória do “Hamas” na eleições parlamentares põe em cheque essa possibilidade. Entretanto, o prognóstico de que será estabelecido algum tipo de acordo corresponde às afirmações da Escritura de que Israel viverá numa paz relativa antes de ser repentinamente invadido pelos exércitos de diversos povos a partir do Norte. Com relação aos acontecimentos em Israel podemos saber, de qualquer maneira, que Deus tem em Suas mãos cada detalhe e que Ele mesmo realizará Suas intenções. Na certeza de que o Guarda de Israel não dorme, saúdo com um sincero Shalom!
r Fredi Winkle
O livro de Ester é único entre todos os livros da Bíblia, porque em nenhum dos seus dez capítulos é mencionado o nome de Deus. Tal fato tem levado alguns estudiosos a concluírem que ele não possui caráter canônico. Certa vez, Martim Lutero chegou a dizer que gostaria que ele nem tivesse existido. Mas quanto mais você lê esse livro relativamente pequeno, mais reconhece a providência divina. Essa providência não é revelada de nenhuma forma miraculosa; antes, podemos observar que ela acontece de forma muito natural, à medida que contemplamos o desfecho de circunstâncias que culminam com a ascensão dos judeus, contrariando dessa forma a sua tão cuidadosamente planejada aniquilação. “Nos dias de Assuero, o Assuero que reinou desde a Índia até à Etiópia,
sobre cento e vinte e sete províncias, naqueles dias, assentando-se o rei Assuero no trono do seu reino, que está na cidadela de Susã, no terceiro ano de seu reinado, deu um banquete a todos os seus príncipes e seus servos, no qual se representou o escol da Pérsia e Média, e os nobres e príncipes das províncias estavam perante ele” (Ester 1.1-3). Antes de iniciarmos nosso estudo, vamos identificar o rei Assuero. No livro Explore The Book, escrito por J. Sidlow Baxter, lemos: Os méritos para a primeira identificação de Assuero como Xerxes vão para Georg Friedrich Grotefend. Quando jovem estudante na Universidade de Göttingen, ele se propôs a decifrar pacientemente os personagens curiosos e bem delineados que foram encontrados em inscrições nas ruínas da antiga cidade persa de Per-
sépolis. O nome do filho de Dario foi decifrado como Khshayarsha, que, ao ser traduzido para o grego, é Xerxes, e que, traduzido para o hebraico, é, praticamente, letra por letra, Akhashverosch, o que corresponde a Assuero em português. Presumindo que o nome era lido na língua persa, a identidade de Assuero estava estabelecida; e achados mais recentes corroboraram as descobertas de Grotefend.
A riqueza de detalhes dos eventos documentados nas Escrituras sempre me impressiona. A história não começa com “era uma vez”, mas identifica o nome do rei da época: Assuero. A extensão do império também é claramente definida: “da Índia... até à Etiópia”. Onde esse homem governava? “...na cidadela de Susã”. Quando isso ocorreu? “No terceiro ano do seu
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reinado”. Quem estava envolvido? “...os poderosos da Pérsia e Média, e os nobres e príncipes”. Se alguma dúvida surgir, podemos comparar esses dados com evidências arqueológicas obtidas de pratos de cobre, tabuinhas de barro, remanescentes de ruínas ou inúmeras outras fontes de documentos históricos. O evento sobre o qual iremos falar começa quando a rainha se recusa a obedecer às ordens do rei. Já li vários comentários sobre a razão pela qual a rainha Vasti se recusou a atender o convite de seu marido. Um grande número de estudiosos da Bíblia concluiu que a rainha era uma pessoa de caráter íntegro que se recusou a participar de uma orgia de bêbados, promovida pelo seu marido e os demais membros da nobreza. Essa conclusão é baseada no estudo da história que identifica o rei Xerxes como um indivíduo emocionalmente instável, que era cruel em suas atitudes e imprevisível em suas ações. Isso pode soar um tanto lógico para muitas pessoas hoje em dia, uma vez que não é mais comum atualmente que uma esposa atenda a uma ordem do marido. Esse tipo de comportamento foi a base para o movimento de busca de direitos iguais para homens e mulheres. Em nossa sociedade moderna, tornou-se quase impossível continuar seguindo os costumes antigos. Na maioria das famílias, tanto o marido quanto a mulher trabalham a fim de sustentar o lar. Em muitos casos, o salário da mulher é até mais alto que o do marido; por isso, parece não haver sentido em que um dos parceiros do casamento esteja acima do outro. Em outras palavras, esse é um processo evolucionário natural. Quem pode discutir com essa conclusão lógica: se a sua esposa trabalha o dia inteiro e volta para casa para encontrar um lar desarruma-
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do, por que você não deveria ajudála com os afazeres domésticos? Eu apoio esse comportamento de todo o coração e acrescento ainda um forte “Amém!” Podemos nos opor a esse desenvolvimento o quanto quisermos; podemos identificá-lo como uma filosofia da Nova Era ou algo antifamília. Esse até pode ser o caso e não discordo disso. Mas, fatos são fatos. Nós não estamos apenas vivendo em um tempo onde a igualdade entre maridos e esposas é uma realidade, mas também em uma época em que as crianças também são freqüentemente incluídas nas decisões familiares. Contudo, três fatores me fazem discordar dos meus colegas a respeito da reação da rainha Vasti: 1) No versículo 5 lemos: “...deu o rei um banquete a todo o povo que se achava na cidadela de Susã, tanto para os maiores como para os menores...” Tratava-se de um evento oficial e autorizado, baseado em uma ordem do rei. 2) “Também a rainha Vasti deu um banquete às mulheres na casa real do rei Assuero” (v. 9). É enfatizado o fato de a rainha ter oferecido uma festa para as mulheres na casa que pertencia ao rei Assuero, indicando que ela lhe era sujeita. Aparentemente, nenhuma provisão legal foi feita para que a rainha Vasti realizasse seu próprio evento; portanto, ela agiu fora da lei. 3) No versículo 8 lemos: “Bebiam sem constrangimento, como estava prescrito”. Essa civilização era bem avançada e governada pela lei. Várias evidências de antigos artefatos testificam que essa era uma civilização bem desenvolvida. Veremos mais tarde que as leis eram tão poderosas, que nem o próprio rei poderia passar por cima delas. Por isso, a interpretação de que a rainha Vasti teria justificadamente se opos-
to ao banquete de bêbados não tem fundamentação bíblica. Arriscando a possibilidade de ser mal-entendido, eu me aventuro a dizer que a rainha Vasti era uma feminista, que estava interessada somente em fazer a sua própria vontade, mesmo se isso importasse em desrespeitar a autoridade de seu marido, o que podemos constatar no versículo 12: “Porém a rainha Vasti recusou vir por intermédio dos eunucos, segundo a palavra do rei, pelo que o rei muito se enfureceu e se inflamou de ira”. Embora vejamos que o rei estava de fato irado, ele não agiu como um bêbado irresponsável, ou como um ditador insensível que abusava de sua autoridade. O rei Assuero convocou todos os seus conselheiros oficiais: “...os sábios que entendiam dos tempos (porque assim se tratavam os interesses do rei na presença de todos os que sabiam a lei e o direito” (v. 13). Uma questão foi levantada: “O que deveria ser feito à rainha Vasti, segundo a lei?” Novamente, vemos que o manejo da situação envolvia um procedimento ordenado, uma questão legal, com conseqüências nacionais. A rainha havia infringido a lei! Vasti havia se rebelado contra a autoridade estabelecida pela civilização persa. É interessante observar que o rei deu uma ordem quase idêntica ao que é dito no Novo Testamento: “...cada homem deve ser senhor de sua própria casa” (Ester 1.22). Em 1 Timóteo 3.5 lemos: “pois se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?” Para um homem servir a Deus, é necessário que ele governe sua própria casa. A rainha Vasti estava dando seu banquete na casa do rei.
Mordecai, o judeu O povo judeu, que tinha sido disperso de Jerusalém e levado cati-
vo à terra de Babilônia, que mais tarde acabou sendo governada pelos medo-persas, vivia aparentemente em paz e gozava de prosperidade. Dentre aqueles judeus havia um de nome Mordecai, que tinha uma sobrinha chamada Ester. Quando Mordecai descobriu que a rainha Vasti havia se separado do rei Assuero, o que resultou em sua dispensa, e que o rei procurava uma nova rainha, ele apresentou Ester como candidata. Ester logo tornou-se a favorita do rei e lemos: “Assim foi levada Ester ao rei Assuero, à casa real, no décimo mês, que é o mês de tebete, no sétimo ano do seu reinado” (Ester 2.16). O tio Mordecai permanecia observando tudo de longe. Ele era um servo fiel do rei gentio e aparentemente cumpria tudo o que a lei exigia. Contudo, havia uma exceção: Mordecai, o judeu, recusouse a curvar-se diante do primeiroministro do reino, chamado Hamã, o agagita: “Todos os servos do rei que estavam à porta do rei, se inclinavam e se prostravam perante Hamã; porque assim tinha ordenado o rei a respeito dele. Mordecai, porém, não se inclinava, nem se prostrava” (Ester 3.2). Será que Mordecai se recusou a se prostrar diante de Hamã porque ele reconhecia a arrogância desse homem? Será que ele não o honrou porque estaria sendo hipócrita? Nós sabemos através de outros versículos que o ato de se curvar perante uma autoridade ou um hóspede estimado era muito comum naqueles dias. Uma coisa é certa, Mordecai
não se curvaria perante Hamã. Até os servos do rei perguntaram: “por que transgrides as ordens do rei?” (Ester 3.3). Mordecai deliberadamente violou o mandamento do rei. Obviamente Hamã tinha autoridade para eliminar Mordecai. Aparentemente, esse homem estava tão cheio de orgulho e ódio, que matar somente um homem não iria satisfazer-lhe os desejos. Então, ele planejou a aniquilação de todo o povo judeu existente no reino: “Porém teve como pouco, nos seus propósitos, o atentar apenas contra Mordecai, porque lhe haviam declarado de que povo era Mordecai, por isso, procurou Hamã destruir todos os judeus, povo de Mordecai, que havia em todo o reino de Assuero” (Ester 3.6). A fim de cumprir seus intentos malignos, Hamã tinha que proceder de conformidade com a lei. Sendo um confiável oficial do governo, ele apresentou seu caso ao rei: “Então disse Hamã ao rei Assuero: Existe espalhado, disperso entre os povos em todas as províncias do teu reino, um povo cujas leis são diferentes das leis de todos os povos e que não cumpre as do rei, pelo que não convém ao rei tolerálo. Se bem parecer ao rei, decrete-se que sejam mortos, e, nas próprias mãos dos que executarem a obra, eu pesarei dez mil talentos de prata para que entrem nos tesouros do rei. Então, o rei tirou da mão o seu anel, deu-o a Hamã, filho de Hamedata, agagita, adversário dos judeus” (Ester 3.8-10). Hamã misturou a verdade com mentiras. O fato de que as “leis [do povo judeu] são diferentes das leis de todos os povos” era verdade, mas ele acrescentou uma mentira óbvia: “...e não cumpre as [leis] do rei...” Mordecai foi quem quebrou a lei, não os demais judeus. De qualquer forma, o destino dos judeus estava selado! O versículo 13 nos dá os detalhes: “Enviaram-se as cartas, por intermédio dos correios, a todas as pro-
víncias do rei, para que se destruíssem, matassem e aniquilassem de vez a todos os judeus, moços e velhos, crianças e mulheres, em um só dia, no dia treze do duodécimo mês, que é o mês de adar, e que lhes saqueassem os bens” (Ester 3.13). O terceiro capítulo conclui: “o rei e Hamã se assentaram a beber, mas a cidade de Susã estava perplexa”. As pessoas estavam impressionadas, o rei não sabia de nada, e Hamã se regozijava porque seus planos estavam se realizando. Sem dúvida os judeus, que tinham ganhado riquezas na terra do cativeiro, tornaram-se parte integral desse reino próspero. De repente, essa nova lei foi introduzida e consistia em uma sentença de morte para todo o povo judeu. Que terrível tragédia foi para os judeus saberem que todos iriam ser executados no dia 13 do mês de adar. As propriedades e as riquezas que eles haviam acumulado seriam dadas para seus piores inimigos. Como eles devem ter clamado a Deus: “Oh! Senhor, como podes deixar isso acontecer conosco? Nós somos o teu povo, a quem o Senhor tirou da escravidão do Egito. O Senhor nos fez uma grande nação, mas temos pecado contra ti. O Senhor nos rejeitou novamente, mas prometeu que nos traria de volta, e agora toda a nossa esperança está perdida e estamos por perecer”. O que os judeus não sabiam é que todos os seus inimigos seriam identificados pela sua sentença de morte. Não havia muita dúvida de que aqueles que odiavam os judeus estavam deixando bem claro que viriam ao seu encalço. Eles provavelmente os atormentaram contando os dias. Os inimigos não podiam tocá-los enquanto o dia determinado não chegasse, porque os judeus estavam protegidos pela lei como o restante do povo. A lei e a ordem foram implementadas pela autori-
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“O rei amou a Ester mais do que a todas as mulheres... o rei pôs-lhe na cabeça a coroa real e a fez rainha...” (Ester 2.17).
dade do rei. Os judeus estavam seguros até o dia 13 do mês de adar, quando uma outra lei se tornaria efetiva. Nesse meio tempo, Mordecai e todos os judeus do reino começaram a orar: “...havia entre os judeus grande luto, com jejum e choro, e lamentação; e muitos se deitavam em pano de saco e em cinza” (Ester 4.3).
A rainha Ester Foi nessa hora que Ester entrou em cena. Mordecai a contactou com uma afirmação profundamente profética: “Porque se de todo te calares agora, de outra parte se levantará para os judeus socorro e livramento, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para conjuntura como esta é que foste elevada a rainha?” (Ester 4.14). A profunda fé de Mordecai no Deus de Israel é evidente. Ele ainda acreditava em um livramento mas não sabia como este iria acontecer. Ester reconheceu que sua situação era precária porque ela não poderia se aproximar do rei sem a sua permissão. Contudo, essa mulher determinada, que teve um papel fundamental na salvação física dos judeus, tinha tomado uma decisão.
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Se fosse necessário, ela estava preparada para dar a vida pelo seu povo: “...se perecer, pereci” (Ester 4.16). Ester chegou à conclusão de que a vida do seu povo era mais importante que a dela. Ela infringiu a lei, aproximando-se do rei sem um convite formal, e encontrou graça perante o rei Assuero: “Quando o rei viu a rainha Ester parada no pátio, alcançou ela favor perante ele; estendeu o rei para Ester o cetro de ouro que tinha na mão; Ester se chegou e tocou a ponta do cetro” (Ester 5.2). Esse gesto foi o primeiro sinal de esperança para a salvação de Israel. O cetro é um símbolo e uma expressão do poder real. Embora esse cetro estivesse nas mãos do rei Assuero, o verdadeiro poder repousa sobre o cetro ao qual Jacó se referiu profeticamente quando falou a respeito de Judá: “O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que venha Siló; e a ele obedecerão os povos” (Gênesis 49.10). Mais tarde na história, lemos sobre Balaão, o profeta gentio que descreveu o povo do cetro: “Vê-loei, mas não agora; contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro que ferirá as têmporas de Moabe e destruirá todos os filhos de Sete” (Números 24.17). Por isso, quando lemos que: “o rei apontou para Ester o cetro de ouro que estava em sua mão”, devemos perceber que esse era mais do que um ornamento decorado de ouro na mão de um rei gentio; era a providência de Deus para Israel que estava naquele cetro.
Como Ester reagiu? Ela falou ao rei imediatamente sobre a catástrofe que aconteceria ao seu povo? Ela implorou por misericórdia? Não. Ester sabia que estava na presença do rei que possuía o poder pelo qual poderia decretar uma nova lei. De forma sábia, Ester primeiro procurou criar uma amizade não somente com o rei, mas também com o inimigo: “Respondeu Ester: Se bem te parecer, venha o rei e Hamã, hoje, ao banquete que eu preparei ao rei” (Ester 5.4). Durante o banquete, o rei perguntou: “Qual é a tua petição?” (Ester 5.6). Ester respondeu: “se achei favor perante o rei, e se bem parecer ao rei conceder-me a petição, e cumprir o meu desejo, venha o rei com Hamã ao banquete que lhes hei de preparar amanhã, e então farei segundo o rei me concede” (Ester 5.8). A rainha Ester foi cautelosa. Ela se comportou com dignidade real e convidou Hamã e o rei para um outro banquete no dia seguinte. Cheio de alegria e completamente cego quanto ao seu destino, Hamã proclamou a sua esposa e amigos: “Contou-lhes Hamã a glória das suas riquezas e a multidão de seus filhos, e tudo em que o rei o tinha engrandecido, e como o tinha exaltado sobre os príncipes e servos do rei” (Ester 5.11). A grande honra que lhe fora dada não o fez consciente da sua própria desgraça; aliás, o que aconteceu foi exatamente o oposto: ele mergulhou em uma escuridão ainda maior. Hamã disse: “Porém tudo isto não me satisfaz, enquanto vir o judeu Mordecai assentado à porta do rei” (Ester 5.13). Aí sua esposa se envolveu: “Então, lhe disse Zeres, sua
mulher, e todos os seus amigos: Faça-se uma forca de cinqüenta côvados de altura, e, pela manhã dize ao rei que nela enforquem Mordecai; então, entra alegre com o rei ao banquete. A sugestão foi bem aceita por Hamã, que mandou levantar a forca” (Ester 5.14). A execução de Mordecai foi agendada para o dia seguinte, antes que Hamã comparecesse ao banquete.
O rei não conseguia dormir
No começo do capítulo 6, ficamos sabendo que o rei, a quem o cetro fora concedido, não estava conseguindo dormir à noite. Se o rei tivesse conseguido dormir, Mordecai provavelmente teria sido executado e Hamã teria conseguido agir com autoridade. Mas Deus não havia planejado as coisas assim. Primeiro era necessário que Mordecai fosse poupado, e que o orgulhoso Hamã fosse humilhado e preparado para sua própria execução. Quando foram lidas as crônicas diante do rei insone, achou-se escrito que certa vez Mordecai tinha salvado a vida de Assuero. Então o rei perguntou: “Que honras e distinções se deram a Mordecai por isso?” (Ester 6.3). Semelhantemente aos nossos dias, esse fato havia-se perdido em meio à burocracia do reino: “Nada lhe foi conferido” (v. 3), foi a resposta do servo. Nesse caso, a insônia fez com que o rei ficasse alerta. Ele não agiu irracional e irresponsavelmente como fez quando deu ouvidos ao ar-
gumento de Hamã a res- tes nas Escrituras...?” (Mateus peito da aniquilação do 21.42)? Você quer saber sobre o fupovo judeu. turo? Use a sua insônia para ler Uma observação pes- mais sobre ele e então reaja ao que soal: talvez a solução para tiver lido através de uma conversa sua insônia não esteja em com Jesus. Ninguém nunca orou remédios, visitas a médi- tanto como Jesus; Ele passava noicos ou terapeutas. Pode tes inteiras em oração. Durante ser que a hora da sua in- Seus últimos dias, Ele teve que resônia seja um tempo em preender Seus discípulos: “Então, que Deus deseja falar nem uma hora pudestes vós vigiar cocom você. Sei que muitos migo?” (Mateus 26.40). Pode muito sofrem de uma ou mais bem ser que Deus providenciará esdas inúmeras causas físi- sa insônia para que você tome uma cas ou emocionais que posição sacerdotal em favor daquepodem causar insônia. les que estão por perecer. Vidas esMas em certas ocasiões tão em jogo! Conforme Apocalipse não há razão para ela; vo- 1.6, Jesus, “nos constituiu reino, sacê simplesmente não cerdotes para o seu Deus e Pai”. Seja consegue dormir. Essa é como a rainha Ester, que estava uma hora ideal para se pronta a abrir mão de sua vida para ocupar com o seu Cria- ir à presença do rei e interceder sador; abra o livro, o Seu li- cerdotalmente pelo seu povo. Você vro, e perceba que Ele fará isso hoje? [continua] salvou a sua vida. Você escapou de uma eternidade perdida e sem Deus para a presença na mansão real. Talvez a solução para sua insônia não esteja em remédios, visitas a médicos ou terapeutas. Pode Que honra foi dada a Ele ser que a hora da sua insônia seja um tempo em que lhe salvou? Ele fez que Deus deseja falar com você. com que nossas Bíblias fossem escritas para que pudéssemos entender Suas intenções. Em suas páginas você encontrará uma declaração de amor: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). Você já ofereceu uma resposta a essa oferta? Se ainda não, faça-o hoje. Você já leu a acusação que Jesus fez às pessoas de Jerusalém: “Nunca les-
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Soldados israelenses comemoram a conquista da parte velha de Jerusalém das mãos da Jordânia, em 11 de junho de 1967.
Bruce Scott
No fim de maio de 1967, Israel estava cercado por 250.000 soldados inimigos, dois mil tanques e setecentos caças a jato. O Egito tinha fechado o Estreito de Tirana para os navios israelenses. A Síria estava bombardeando a Galiléia com fogo de artilharia pesada, como havia feito por dezenove anos. E a Jordânia tinha expulsado todos os judeus da Judéia e de Samaria. O presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, disse ao seu Parlamento: “O problema que se apresenta agora aos países árabes não é se o porto deve ser bloqueado, ou como bloqueá-lo – mas como exterminar totalmente o Estado de Israel para sempre”.1 Em inferioridade numérica e de armamento, Israel estava diante da aniquilação. Porém, apesar da desvantagem, Israel lutou corajosamente. O resultado foi de tirar o fôlego. Naquela que se tornou conhecida como a Guerra dos Seis Dias, Israel esma-
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gou completamente os seus inimigos. Algumas semanas mais tarde, o então general Yitzhak Rabin comentou: “Nossos soldados, distribuídos pelos vários ramos das Forças de Defesa de Israel, que derrotaram nossos inimigos em toda parte, apesar de sua superioridade numérica e de suas fortificações – todos eles revelaram não só frieza e coragem na batalha, mas uma ardente fé na justiça de sua causa [...]. Este exército [...] prevalece sobre todos os inimigos em virtude de sua moral e força espiritual”.2 Mais de 3.300 anos antes, outro general judeu também teve que enfrentar forças superiores, além de gigantes e cidades fortificadas (Nm 13.28). Moisés tinha acabado de morrer. Acampada na margem oriental do rio Jordão, a congregação enlutada esperava para ver de que Josué era capaz. Foi então que Deus lembrou àquele general que a verdadeira coragem não está firma-
da em alicerces humanos, mas nas Suas promessas.
A Comissão de Josué Josué, cujo nome original era Oséias (Nm 13.8), como o do profeta, era filho de Num, um efraimita. Moisés mudou seu nome de Oséias (“salvação”) para Josué (“Javé é salvação”), um nome que enaltece a Deus como a única fonte verdadeira de salvação (Nm 13.16). Durante muitos anos, Deus preparou Josué para exercer a liderança. Na juventude, ele serviu ao profeta Moisés (Êx 33.11). Foi a Josué que Moisés designou para liderar o ataque a Amaleque (Êx 17.910,13). Josué também acompanhou Moisés durante parte da subida ao monte, quando ele recebeu as tábuas de pedra originais, contendo os Dez Mandamentos (Êx 24.13). Antes da construção do Tabernáculo, Moisés armava uma tenda
fora do acampamento de Israel e ali se encontrava com Deus (Êx 33.7). Josué ficava por perto e não se afastava da tenda, nem mesmo depois que Moisés voltava para o acampamento (Êx 33.11). Em outra ocasião, quando soube que havia homens profetizando no acampamento, Josué teve zelo pela reputação de Moisés (Nm 11.28). Mas talvez o jovem Josué seja mais lembrado por sua profunda fé em Deus. Ele foi um dos doze israelitas enviados de Cades-Barnéia para espiar a terra de Canaã, e só ele e Calebe voltaram com um relatório positivo (Nm 13-14). Por isso, Deus os recompensou, “porque perseveraram em seguir ao SENHOR” (Nm 32.12). Quarenta anos depois, eles eram as únicas pessoas que tinham vinte anos ou mais em Cades-Barnéia e que viveram para entrar na Terra Prometida. Todos esses acontecimentos prepararam Josué para o que Deus tinha reservado para ele. Pouco antes de sua morte, o próprio Moisés pediu a Deus que indicasse um líder para Israel (Nm 27.15-17). Deus escolheu Josué, “homem em quem há o Espírito” (v. 18). De fato, Deus comissionou Josué mais de uma vez. Em Números 27, Moisés impôs as mãos publicamente sobre Josué, simbolizando identificação, assim como a transferência de autoridade e sabedoria (v. 23; Dt 34.9). Depois disso, Moisés exortou Josué publicamente a conduzir a congregação para a Terra Prometida (Dt 31.7-8). Finalmente, na presença de Moisés, o próprio Deus comissionou Josué no Tabernáculo (Dt 31.14,23). O chamado de Josué representava uma grande responsabilidade. Ele deveria levar o povo para a Terra Prometida (Dt 3.28), repartir a porção situada a oeste do rio Jordão como herança entre nove tribos e
meia, e assegurar que as duas tribos e meia que ficaram a leste do Jordão ajudassem as outras na luta (Nm 32.20-21). Não é de admirar que Josué tenha ouvido nada menos que seis vezes a ordem: “Sê forte e corajoso” (Dt 31.7,23; Js 1.67,9,18). Porém, uma coisa é ouvir a ordem de ter coragem; outra coisa bem diferente é demonstrá-la. A coragem de Josué não se baseava num desejo ou em pensamento positivo. Ela estava firmada nas imutáveis promessas de Deus.
Coragem Para a Jornada Ninguém que lute nas batalhas de Deus vai sozinho para o combate. Moisés apontou a derrota dos dois reis dos amorreus como uma demonstração do que Deus poderia fazer com todos os reinos cananeus. Ele advertiu Josué de que não se amedrontasse “porque o SENHOR, vosso Deus, é o que peleja por vós” (Dt 3.22); e prometeu que Deus iria adiante de Josué na conquista da Terra Prometida, estaria com ele, e não falharia, nem o abandonaria (Dt 31.8). O próprio Senhor também animou Josué, prometendo: “Eu serei contigo” (Dt 31.23). Quando Deus é conosco, não precisamos de mais nada. Josué compreendeu isso, e deve ter-se sentido bastante encorajado. Em Josué 1, entretanto, a situação de Josué mudou. Moisés havia morrido. O período de luto havia terminado. E o manto da liderança estava sobre seus ombros. Agora era hora de agir. Mas, será que ele teria coragem? Foi então que Deus lhe deu o que seria a plataforma de seu sucesso pelo resto da vida. O Senhor começou ordenando a Josué que se levantasse e marchasse, ele e todo o Israel. A Terra Pro-
metida já era deles, porque o Senhor a tinha dado. Mas sua posse dependeria exclusivamente do tamanho do passo de fé que eles estavam dispostos a dar (Js 1.2-4). Em seguida, Javé tratou com Josué pessoal e diretamente, fazendolhe uma série de promessas: (1) Josué seria invencível; (2) como Deus tinha sido com Moisés, assim seria com ele; e (3) Deus não falharia nem o abandonaria (v.5). Depois, Deus disse a Josué que fosse forte e corajoso. Essa coragem estava alicerçada na certeza de que Josué seria um instrumento nas mãos de Deus para cumprir as promessas que ele havia feito a Abraão, Isaque e Jacó (v. 6). Josué também recebeu ordem de cumprir cuidadosamente a lei de Deus (v. 7). O Senhor chegou até a dizer-lhe como deveria exercer esse cuidado: “Não cesses de falar deste Livro da Lei*; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido” (v. 8). Primeiramente, Josué deveria se encher da Palavra de Deus. Do mesmo modo que ele não se apartava da tenda da congregação (Êx 33.11), a palavra de Deus jamais deveria se apartar (mesma palavra hebraica) de todo o seu ser. A palavra falar é uma expressão idiomática que significa internalizar a Palavra de Deus a tal ponto que ela começa a transbordar pela boca. Em segundo lugar, Josué deveria meditar na Palavra de Deus o dia todo. Ele não deveria simplesmente acumular conhecimento, mas sim refletir sobre o que estava pondo em sua mente e em seu coração, tirar lições para sua vida e aplicá-las. Fazendo * A Edição Revista e Corrigida diz: “Não se aparte da tua boca o livro desta Lei [...]”.
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Horizonte assim, seu sucesso estaria garantido. Finalmente, Deus concluiu Sua palavra de encorajamento com uma pergunta retórica: “Não to mandei eu?” (v. 9). A pergunta tinha uma implicação: com a ordem de Deus, vinha também a capacitação para cumpri-la. Portanto, Deus tinha o direito de ordenar a Josué que fosse forte, intrépido e destemido, pois o recurso que Deus estava provendo era Ele mesmo: “porque o SENHOR, teu Deus, é contigo por onde quer que andares” (v. 9).
Coragem Para Agir Depois disso, Josué sentiu-se cheio de coragem, porque, no contexto seguinte, ele começou a agir. Ele delegou responsabilidades (v. 10). Ele preparou o povo (v. 11). E ele levou adiante sua promessa de lembrar as tribos a leste do Jordão para ajudarem seus irmãos na luta (vv. 12-15). As tribos declararam lealdade, mas exigiram qualificações. Os israelitas queriam um líder forte e audaz, que evidenciasse a presença de Deus em sua vida: “Tão-somente seja o SENHOR, teu Deus, contigo, co-
mo foi com Moisés. [...] Tão-somente sê forte e corajoso” (vv. 17-18). Essas qualificações recomendariam a aprovação de qualquer líder temente a Deus, em qualquer época. Outro motivo que nos permite afirmar que Josué estava cheio de coragem são os atos que praticou, conforme narra o restante do livro. Ele levou os filhos de Israel a entrarem na Terra Prometida, derrotou seus inimigos e dividiu a terra entre as tribos. Realmente, ele tinha coragem; e ela estava firmada na fidelidade da Palavra de Deus. Como bem lembrou Josué, já velho, ao povo de Israel: “Eis que, já hoje, sigo pelo caminho de todos os da terra; e vós bem sabeis de todo o vosso coração e de toda a vossa alma que nem uma só promessa caiu de todas as boas palavras que falou de vós o SENHOR, vosso Deus; todas vos sobrevieram, nem uma delas falhou” (Js 23.14).
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Bruce Scott é representante de The Friends of Israel em New Hope, Minnesota (EUA).
Princípios de Coragem Assim como Josué, quaisquer que sejam as lutas que enfrentemos e as batalhas que surjam em nossa vida, podemos ser fortes e corajosos – não porque somos assim por na-
Notas: 1. Howard M. Sachar, A History of Israel: From the Rise of Zionism to Our Time (Nova York: Alfred A. Knopf, 1982), 633. 2. Yigal Allon, Shield of David: The Story of Israel’s Armed Forces (Jerusalem: Weidenfeld and Nicolson, 1970), 268.
O secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, brindounos com um exemplo de ambos nas últimas semanas. Quando o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, declarou em 26 de outubro de 2005 que “o regime que ocupa Jerusa-
lém deve ser eliminado das páginas da História”, Annan respondeu dizendose “consternado”. Em 8 de dezembro, quando Ahmadinejad sugeriu que se transferisse Israel para a Europa, a reação de Annan foi de “choque”. Mas a consternação e o choque sentidos pelas declarações de Ahmadinejad não impediram que Annan parti-
Eliminando Israel com delicadeza É estranho, mas existe um jeito certo e um jeito errado de propor a eliminação de Israel.
tureza, mas porque, como crentes, nossa coragem está baseada nas imutáveis promessas de Deus. Podemos ser fortes e ousados porque: “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou” (Rm 8.37). Jesus prometeu: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.20). Verdadeiramente, Deus prometeu: “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hb 13.5). No mundo de hoje, cheio de terror e incertezas, ainda podemos ser como Josué e firmar nossa coragem no alicerce da Palavra de Deus e na certeza de que, não importa o que Deus nos chamar para fazer, Ele proverá os recursos para realizá-lo: “Fiel é o que vos chama, o qual também o fará” (1 Ts 5.24). (Israel My Glory)
Horizonte cipasse em 29 de novembro, bem na entressafra dos ataques de fúria iraniana, de um “Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino”, sob os auspícios da ONU. Anne Bayefsky, do “Eye on the UN” (“De Olho na ONU”), conta que Annan presidiu a solenidade sentado a uma mesa perto da qual um “mapa da Palestina” indicava, em árabe, a Palestina no lugar de Israel. O que estava ali era a realização cartográfica exata dos desejos de Ahmadinejad: o fim do Estado judeu. As atitudes contraditórias de Annan resultam de que, já em 1993, apelos explícitos pela destruição de Israel passaram a ser ofensivos, enquanto os implícitos se tornaram mais aceitáveis. Fazem parte dos últimos: – Exigir o reconhecimento de um “direito de retorno” para os palestinos (o que os levaria à superioridade demográfica no Estado judeu, pois todo árabe poderia alegar que é um palestino); – Declarar uma “jihad (guerra santa) para libertar Jerusalém”; – Deplorar a criação de Israel como Al-Nakba (“o desastre”); – Propor a “solução de um Estado único” (ou seja, o desaparecimento de Israel); – Homenagear “todos os que deram a vida pela causa do povo palestino” (inclusive os terroristas suicidas); e – Excluir Israel dos mapas. O Fatah e o Hamas expõem a mesma dicotomia. Um e outro aspiram à eliminação de Israel, mas escolheram caminhos diferentes para concretizar seu objetivo. As táticas do Fatah têm se caracterizado pelo oportunismo, pela duplicidade e pela inconsistência desde 1988, quando Yasser Arafat simulou uma condenação do terrorismo e iniciou o “processo de paz” com Israel – mesmo enquanto patrocinava atentados suicidas e promovia uma ideologia que nega totalmente a legitimidade israelense. Essa mistificação cristali-
na permitiu ao Fatah obter grandes vantagens de Israel, inclusive um governo autônomo, uma força quase militar, subvenções consideráveis do Ocidente e o controle quase pleno de uma fronteira. O Hamas, ao contrário, tem rechaçado sistematicamente a existência de Israel, atitude que lhe conquistou parcelas cada vez maiores da opinião pública árabe palestina (obtendo 45% dos votos nas recentes eleições). Essa rejeição declarada também fez dele um anátema para Israel e outros países, limitando sua eficácia. O Hamas, em conseqüência, passou a se mostrar mais flexível nos últimos meses; no geral, respeitou, por exemplo, o cessarfogo com Israel e caminha no sentido de fazer parte do processo diplomático. Isso lhe traz certas vantagens; com algum sucesso, a Conflicts Forum e outras organizações estão apresentando o Hamas como um interlocutor desde agora legítimo. A Jihad Islâmica palestina bem pode se considerar a única organização absolutamente hostil a Israel. Por que essas diferenças de estilo são importantes? Porque o método escolhido pelo Fatah seduz os israelenses o bastante para convencê-los a colaborar; os eufemismos, as inconsistências, os subterfúgios e as mentiras inspiradas em Arafat os encorajam a fazer “concessões dolorosas”. Em oposição, o método de Ahmadinejad ou da Jihad Islâmica confronta os israelenses com ameaças ostensivas e brutais, que não podem ser explicadas por meio da lógica. Os apelos descarados à eliminação de Israel deixam os israelenses apreensivos, levam-nos a buscar novos armamentos e a fechar as saídas diplomáticas. Esses estratagemas são um teste de credulidade – será que os israelenses percebem que o primeiro método não é menos letal que o segundo? Na verdade, não. Desde 1993 os israelenses vêm se mostrando, nas pa-
lavras do filósofo Yoram Hazony, “um povo exaurido, confuso e sem direção”, desejoso e até ansioso por ser enganado pelo inimigo. Tudo o que eles querem é alguma promessa, por mais duvidosa, de que ficarão livres da guerra, e mal podem esperar para fazer concessões aos seus inimigos mortais. Assim, a opinião mundial esclarecida condena Ahmadinejad, sentindo que ele foi longe demais e que fará os israelenses recuarem. Se ao menos ele abrandasse o tom de seu discurso e gentilmente pedisse a eliminação de Israel, por exemplo, através da solução do Estado único, tudo estaria bem. Assim, os israelenses definem efetivamente qual anti-sionismo é aceitável e qual não é. O fato de Kofi Annan ao mesmo tempo condenar e apoiar o fim de Israel é um mero reflexo do cerimonial de destruição criado pelos próprios israelenses. (Daniel Pipes, extraído de www.MidiaSemMascara.com.br)
Annan presidiu a solenidade sentado a uma mesa perto da qual um “mapa da Palestina” indicava, em árabe, a Palestina no lugar de Israel. O que estava ali era a realização cartográfica exata dos desejos de Ahmadinejad: o fim do Estado judeu.
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Justiça em Nuremberg De fato, era incrível que seres humanos pudessem elaborar um plano tão eficiente, tão minucioso, com tanta capacidade para separar e aprisionar seis milhões de judeus dentre as populações de centenas de cidades da Europa e aniquilá-los da forma mais indigna e abjeta de que se tem notícia no curso da história. O Tribunal de É senso comum admitir que a histó- Nuremberg abriu uma chaga na alma ria é sempre escrita pelos vitoriosos. dos homens de bem em todas as parMas não foi este o legado do Tribunal tes do mundo, chaga que continua – e de Nuremberg. Antes de tudo, os cri- deve continuar – aberta, mesmo deminosos de guerra nazistas tiveram um corridos 60 anos de sua exposição. direito que eles próprios jamais conceSeguem partes de interrogatórios e deram a suas vítimas: o da defesa. O vereditos referentes a alguns dos printribunal não era movido por sentimen- cipais acusados no processo. Um dos to de vingança. Sua finalidade era fa- réus mais visados foi o almirante Karl zer prevalecer o princípio humanitário Doenitz, por ter sucedido oficialmente do ritual da justiça e conferir veracida- a Hitler e negociado a rendição inconde documental aos relatos dos assassi- dicional da Alemanha nazista. Ele se natos em massa, os quais no final da defendeu dizendo que toda a culpa guerra muita gente julgou inverossí- deveria recair não sobre os militares, meis. mas sobre os políticos que levaram o nazismo ao poder e iniciaram a guerra. A acusação, entretanto, No dia 20 de novembro de 1945, há pouco mais de 60 mostrou documentos anos, foi instalado na cidade de Nuremberg, Alemanha, referentes à chamada o tribunal aliado que, ao fim do conflito mundial, julgou “Ordem Lacônia”, de os líderes nazistas por seus crimes de guerra e contra a 1942, na qual Doenitz humanidade, com ênfase no assassinato de milhões de judeus. Na foto: o tribunal de Nuremberg. proibiu qualquer socorro aos náufragos de embarcações aliadas atingidas, argumentando que o inimigo não se importava com as mulheres e crianças alemãs nas cidades que bombardeava. A exemplo de quase todos os demais réus, Doenitz afirmou que ignorava a existência dos campos de extermínio. Admitiu que, por volta de 1938,
No dia 20 de novembro de 1945, há pouco mais de 60 anos, foi instalado na cidade de Nuremberg, Alemanha, o tribunal aliado que, ao fim do conflito mundial, julgou os líderes nazistas por seus crimes de guerra e contra a humanidade, com ênfase no assassinato de milhões de judeus.
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soube de algumas perseguições contra os judeus, “mas estava muito ocupado com problemas navais para me preocupar com os judeus”. Foi condenado a dez anos de prisão, vindo a morrer em 1980. Hans Frank, governador da Polônia ocupada, também conhecido como o “Carrasco de Cracóvia”, chegou a confessar, em parte, sua culpa. De forma surpreendente, declarou à promotoria que não se deixasse enganar por aqueles que dissessem não saber de nada “porque todos percebíamos que havia algo terrivelmente errado no sistema”. Acrescentou que Hitler desgraçara a Alemanha para sempre e traíra o povo alemão que tanto o amava. No tocante aos judeus, afirmou que o programa do partido nazista não previa a eliminação física dos mesmos e que essa medida foi tomada pelo próprio Hitler, no decorrer da guerra. Entretanto, uma página de seu diário, exibida no tribunal, continha os seguintes dizeres: “Os judeus devem ser eliminados. Cada vez que pegarmos um deles, será o seu fim”. E mais adiante: “É claro que não vou conseguir eliminar todos os judeus da Polônia em apenas um ano”. Hans Frank teve o veredito de “culpado” e foi enforcado no dia 16 de outubro de 1946. Wilhelm Frick, jurista e ministro do Interior do regime nazista, foi o redator final das leis de Nuremberg, que começaram por privar os judeus de seus direitos civis e acabaram evoluindo para a concepção e instalação dos campos de extermínio. Frick, porém, teve a desfaçatez de declarar perante o tribunal que não era anti-semita e que aquelas leis de sua responsabilidade se deviam a razões científicas, ou seja, à preservação da pureza do sangue alemão. Foi enforcado em 16 de outubro de 1946. A par das transcrições dos interrogatórios dos réus e dos pronunciamentos da defesa e acusação, uma das fontes mais importantes sobre o tribu-
Horizonte nal está no livro, há pouco lançado no Brasil, “As Entrevistas de Nuremberg”, que reproduz as anotações do psiquiatra americano Leon Goldensohn, falecido em 1961. Competiu-lhe a tarefa, designado pelo governo dos Estados Unidos, de dialogar freqüentemente com todos os acusados, tendo como avaliar suas condições psicológicas no decorrer do processo. Apesar de judeu, Goldensohn conseguiu conter a emoção e realizou um trabalho estritamente profissional, buscando, na infância e juventude dos réus, os motivos que poderiam tê-los levado a praticar crimes tão hediondos. Quando conversou, por exemplo, com o marechal Wilhelm Keitel, que se considerava um militar de impecável estirpe e que também foi condenado à forca, dele ouviu: “Nunca soube da brutalidade durante a guerra. Nunca se falou uma palavra sobre a perseguição ou assassinatos de judeus. Hitler era um grande psicólogo, nesse particular. Sabia que não podia exigir essas coisas de um cavalheiro e oficial, nem sequer mencionar tais idéias”. Quanto ao chanceler Ribbentrop, outro condenado à morte, o psiquiatra anotou: “Ele disse que, a longo prazo, historicamente, o extermínio dos judeus sempre seria uma mancha na história da Alemanha, mas que era, de certa forma, atribuível ao fato de Hitler ter perdido seu senso de medida e, por estar perdendo a guerra, ter perdido totalmente a razão no tocante aos judeus”. De todos os réus, o mais controvertido e polêmico foi, sem dúvida, Hermann Goering, comandante da força aérea alemã e, a rigor, o número dois do nazismo, depois de Hitler. Ao contrário dos réus que se sentiram intimidados perante os juízes das nações aliadas (Estados Unidos, França, Inglaterra e União Soviética), Goering parecia exercer liderança e autoridade em relação aos demais acusados. Foi o mais preciso e também o mais
insolente nas respostas aos interrogatórios, declarando, a certa altura: “Este é um julgamento político comandado pelos vitoriosos e será uma boa coisa quando a Alemanha se der conta disso. Recebíamos ordens e tínhamos que obedecer ao chefe do Estado. Mas, não éramos um bando de criminosos que se reunia na calada da noite para planejar massacres. Os quatro verdadeiros e principais conspiradores não estão aqui: Hitler, Himmler, Bormann e Goebbels”. Dentre todos os réus, também foi o que mais se abriu nas conversas com o psiquiatra e, de suas palavras, é possível perceber que ele simplesmente não sabia distinguir o bem do mal. Justificou com desfaçatez o fato de ter pilhado centenas de obras de arte, de grande valor, nos países sob ocupação nazista: “Sempre gostei de viver cercado por coisas bonitas”. Esse aspecto de sua personalidade ficou evidente quando disse a Goldensohn: “Tenho pensado acerca de suas perguntas insistentes sobre o meu tempo de menino. Cheguei à conclusão de que não havia diferença entre eu menino e eu adulto, mesmo hoje. Acredito que o menino tinha todas as marcas que mais tarde apareceriam no adulto”. Sobre a destruição de inúmeros bens de judeus alemães, repreendeu seus subordinados: “Era melhor ter matado duzentos judeus do que perder patrimônios tão valiosos”. Procurou isentar-se de quaisquer culpas quando afirmou: “Perdi terreno com Hitler e, em 1943, já estava em desgraça. Em 1944, Hitler nem falava mais comigo. Gradualmente a coisa ia piorando. Ele cismou, então, que eu estava tentando substituí-lo e ordenou minha prisão e execução. Cheguei a ser detido pela SS por uma ordem assinada por Bormann. Entretanto, um de meus grupos de pára-quedistas me resgatou”. Sempre que foi confrontado pelo promotor americano Jackson, que exibiu documentos à corte e conduziu
seu interrogatório com paciência e perspicácia, Goering apelou para a falta de memória. Muitas vezes disse ignorar o conteúdo das leis anti-semitas que assinou e quando Jackson lhe exibia sua assinatura nos papéis, respondia com uma ponta de cinismo: “Se a minha assinatura está aí, então fui eu mesmo que assinei”. No tocante aos campos de extermínio, tornou a ser cínico: “Certa vez, soube que uns poucos milhares de pessoas haviam sido mortas. Pensei que fosse propaganda do inimigo. Quando indaguei a respeito, disseram-me que era propaganda mesmo. Ouvi o nome de Eichmann aqui, pela primeira vez. Que os judeus deviam ser evacuados da Alemanha estava claro, mas não exterminados. Depois da guerra os judeus deviam ser evacuados para a Palestina ou outra parte. Não assumo a responsabilidade por coisas que ignorava, como as atrocidades e os campos de concentração”. Hermann Goering recebeu o veredito de “culpado”, foi condenado à forca, mas se suicidou em sua cela com uma pílula de veneno, provavelmente fornecida por sua mulher, pouco antes do horário marcado para a execução. Fritz Sauckel, que tinha um pequeno bigode à feição de Hitler, foi o responsável pelo trabalho escravo de cinco milhões de pessoas durante o regime nazista. Durante o processo manteve-se todo o tempo na defensiva e enfatizou que mantinha sua admiração por Hitler porque os maiores responsáveis pelos crimes de guerra, no seu entender, eram Himmler, Bormann e Goebbels. Ao psiquiatra americano declarou que jamais tinha percebido qualquer atitude anti-semita em sua família e que era natural que tivesse assimilado as idéias do partido nazista quando a este se filiou. Ficou convencido de que a questão judaica deveria ser enfrentada e “que mesmo entre os judeus havia os sionis-
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Horizonte tas que concordavam que os judeus são uma raça e que deviam ter seu próprio país” (o movimento sionista jamais atribuiu aos judeus a condição de raça, mas de povo). Sauckel veio a governar a província da Turíngia, onde, segundo afirmou, jamais presenciou qualquer perseguição aos judeus. Quando lhe exibiram provas de que havia estado no campo de concentração de Buchenwald, localizado na Turíngia, disse que sua jurisdição não incluía o campo “porque aquele território pertencia a Himmler”. Foi enforcado no dia 16 de outubro de 1946. De todos os horrores revelados no Tribunal de Nuremberg, o depoimento mais chocante não foi emitido por nenhum réu, mas por uma testemunha, Rudolf Hoess, comandante do campo de extermínio de Auschwitz. Segue parte de seu interrogatório. Promotor – De 1940 a 1943 o senhor comandou o campo de Auschwitz. É verdade? Hoess – Sim. Promotor – E, durante esse tempo, centenas de milhares de seres humanos ali foram mortos. Isso é correto? Hoess – Sim. Promotor – É verdade que o senhor não anotou a quantidade de vítimas porque estava proibido de fazêlo? Hoess – Está correto. Promotor – E também é correto que somente um homem, chamado Eichmann, tinha esses números? Que esse homem cumpria a tarefa de juntar e organizar as vítimas? Hoess – Sim. Promotor – É verdade que Eichmann lhe revelou que mais de dois milhões de judeus foram aniquilados em Auschwitz? Hoess – É verdade. Promotor – Homens, mulheres e crianças? Hoess – Sim. Promotor – É verdade que em 1941 o senhor foi chamado a Berlim
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para se encontrar com Himmler. O que foi discutido nessa ocasião? Hoess – Ele me disse que Hitler havia emitido uma ordem para a solução final do problema judaico e que nós, da SS, deveríamos cumprir essa ordem. Se isso não fosse feito, os judeus destruiriam a Alemanha. Eichmann havia escolhido Auschwitz por estar numa região isolada e ter fácil acesso ferroviário. Promotor – Essa solução final deveria ser tratada como um segredo de Estado? Hoess – Sim. Ele enfatizou este ponto. Eu não poderia dizer nada, nem mesmo ao meu superior. Tudo deveria ficar entre nós dois. Promotor – O senhor cumpriu essa promessa? Hoess – Quebrei-a somente com minha mulher, que tinha ouvido rumores sobre o que se passava no campo. Promotor – Quando o senhor conheceu Eichmann? Hoess – Um mês depois de receber a ordem de Himmler. Ele veio a Auschwitz para acertar comigo os detalhes da operação e somente dele eu deveria receber qualquer ordem. Promotor – Quando os transportes começaram a trazer os judeus, quantos vieram ao campo? Hoess – Os trens eram diários e traziam cerca de duas mil pessoas. Dois médicos da SS avaliavam a capacidade de trabalho dos prisioneiros. Promotor – Depois da chegada, os prisioneiros eram desprovidos de tudo que possuíam? É verdade que tinham que se despir e entregar seus valores? Hoess – É verdade. Promotor – E eram imediatamente levados para as execuções? Hoess – Eram. Promotor – Essas pessoas sabiam o que lhes estava aguardando? Hoess – A maioria, não, porque havia placas em diferentes idiomas indicando locais de desinfecção ou chuveiros.
Promotor – O senhor declarou em depoimento anterior que as mortes nas câmaras de gás ocorriam num tempo de três a quinze minutos. É verdade? Hoess – Sim. Promotor – Alguma vez o senhor sentiu pena das vítimas, pensando na sua família e nos seus próprios filhos? Hoess – Senti. Promotor – E, como apesar disso, conseguia perpetrar suas ações? Hoess – A despeito do sentimento, o argumento mais decisivo era a ordem que eu recebera de Himmler. Nas entrevistas com o psiquiatra, Hoess confessou que antes de acionar o extermínio em Auschwitz, fez um aprendizado no campo de Treblinka. Revelou que ali foram erguidos dez pequenos compartimentos de cimento, como se fossem cabanas, onde cerca de duzentas pessoas eram comprimidas, a ponto de os militares terem de fazer força para fechar as portas. Ao lado das cabanas instalaram motores de caminhões que, através de um exaustor, expeliam durante uma hora gás carbônico para dentro [dos compartimentos]: “Não sei quanto tempo as pessoas levavam para morrer, mas quando as portas eram abertas, não sobrava ninguém”. Os pormenores descritos por Hoess, sobre Auschwitz, são impressionantes por seu conteúdo e pela frieza com que os narrou: “Era um prédio grande e moderno, com quatro câmaras de gás subterrâneas e cinco fornos crematórios acima. Queimar duas mil pessoas levava cerca de 24 horas, em todos os fornos. Mas, ocorriam atrasos na cremação porque era mais fácil exterminar com gás do que cremar”. Nesse espectro de horror, era chocante que Hoess, a mulher e os filhos morassem com todo o conforto junto a Auschwitz, numa ampla residência rodeada por um jardim, situada antes do grande portão. Esse cenário nos remete a uma situação de insuportável surrealismo: na
Horizonte vizinhança das câmaras de gás e dos fornos crematórios, uma família alemã comia e dormia, brincava ou brigava, lia os jornais e ouvia música como se nada de anormal estivesse acontecendo a centenas de metros de sua casa. Das diversas conversas entre o psiquiatra e o carrasco, é possível compor o diálogo seguinte. Goldensohn: “O que sua mulher dizia sobre o que ali se passava?” Hoess: “Minha mulher só soube em 1942. Ela me perguntou a respeito e eu disse que era verdade”. Goldensohn: “Como ela reagiu?” Hoess: “Achou cruel, mas eu lhe contei a conversa mantida com Himmler e ela não tocou mais no assunto”. Goldensohn: “Qual você acha que deveria ser seu castigo?” Resposta: “Ser enforcado”. Rudolf Hoess, mais tarde
OS RÉUS DO PROCESSO Albert Speer – Ministro de armamentos e munições. Confidente de Hitler. Condenado a vinte anos. Alfred Jodl – Chefe de operações do alto comando nazista. Condenado à forca. Alfred Rosenberg – Filósofo do anti-semitismo e governador-geral do leste europeu. Condenado à forca. Arthur Seys-Inquart – Chanceler da Áustria e, depois, governador da Holanda ocupada. Condenado à forca. Erich Raeder – Comandante da marinha alemã. Condenado à prisão perpétua. Baldur von Schirach – Líder da Juventude Hitlerista. Condenado a vinte anos. Ernst Kaltenbrunner – Chefe da Polícia de Segurança. Condenado à forca. Franz von Papen – Vice-chanceler e embaixador na Turquia. Absolvido e depois condenado por outro tribunal a oito anos.
julgado por um tribunal polonês, foi condenado à forca e executado – em Auschwitz, no dia 7 de abril de 1947. Os trabalhos do Tribunal de Nuremberg se estenderam por 403 sessões, de novembro de 1945 a outubro de 1946. Foram ouvidas mais de uma centena de testemunhas e examinados milhares de documentos. De todo o corpo jurídico aliado, a atuação mais destacada foi a do promotor Robert H. Jackson, então brilhante integrante da Suprema Corte dos Estados Unidos e homem de confiança do presidente Roosevelt. Suas alegações finais ecoam até hoje: “Nós acusamos que todas as atrocidades contra os judeus foram a manifestação e a culminação do plano nazista, no qual, a cada um dos réus cabe sua parte. Embora al-
Fritz Sauckel – Chefe do recrutamento do trabalho escravo. Condenado à forca. Hans Frank – Governador da Polônia ocupada. Condenado à forca. Hans Fritzche – Diretor do departamento de rádio do Ministério da Propaganda. Absolvido em Nuremberg, mas condenado a nove anos de prisão por outro tribunal. Hermann Goering – Segundo na hierarquia nazista. Suicidou-se antes de ser enforcado. Joachim von Ribbentrop – Ministro das relações exteriores. Condenado à forca. Hjalmar Schacht – Presidente do Banco do Reich. Absolvido. Julius Streicher – Editor do jornal anti-semita Der Sturmer. Condenado à forca. Karl Doenitz – Comandante da armada naval alemã. Sucessor oficial de Hitler. Condenado a dez anos. Konstantin von Neurath – Ministro das relações exteriores e, depois, governador da Boêmia e da Morávia
guns tenham agora reconhecido que esses crimes de fato ocorreram, nenhum deles se opôs à política do extermínio, nem a tentou revogar ou modificar. Foi a determinação de extinguir os judeus que cimentou sua conspiração em comum”. (Zevi Ghivelder, extraído de www.morasha.com.br) Zevi Ghivelder é escritor e jornalista.
Bibliografia: “As Entrevistas de Nuremberg”, Leon Goldensohn, Companhia das Letras, 2005; “America’s Advocate: Robert H. Jackson”, Bobbs-Merrill, 1958; “The Nurnberg Case”, Robert H. Jackson, Cooper Square Publishers, 1971.
ocupadas. Condenado a quinze anos de prisão. Rudolf Hess – Vice de Hitler. Condenado à prisão perpétua. Walther Funk – Ministro da Economia. Condenado à prisão perpétua. Wilhelm Frick – Ministro do Interior. Condenado à forca. Wilhelm Keitel – Chefe do estadomaior do alto comando do exército. Condenado à forca.
Hermann Goering depondo no tribunal.
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A magia do Golã A ligação entre o povo judeu e as Colinas do Golã remonta aos tempos bíblicos. Diz a tradição judaica que foi no Monte Havtarim, na região do Monte Hermon, a 1.296 metros acima do nível do mar, nos declives de Katef Sion, que Deus prometeu a Abraão que lhe daria a terra para seus descendentes. Um antigo túmulo marca o local e um robusto carvalho ergue-se ao lado. “Os olhos de Israel”. Assim é carinhosamente chamado o Monte Hermon, ponto culminante do país, localizado no topo da cordilheira do mesmo nome, entre a fronteira de Israel e a Síria. Assim denominado por causa de seus picos, é um dos principais centros de prática de esportes de inverno. Com 2.224m, foi o local escolhido para a implantação de um centro de lazer para turistas e amantes do esqui, pois a neve faz parte da paisagem natural da área de novembro a março, cobrindo de branco os picos do Hermon. De suas encostas, que degelam após o inverno, nasce o rio Jordão. Nos dias claros de verão, do alto das montanhas, tem-se uma das vistas mais belas da Galiléia. A região é apreciada também por outro tipo de turistas, além dos esquiadores: os observadores de pássaros. Por sua altura e a existente fauna e flora, é considerada uma das melhores áreas da região. Fundamentalmente estratégicas para a defesa do país, somente após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, as Colinas do Golã e o Monte Hermon passaram do controle sírio para o de Israel, inaugurando uma era de tranqüilidade desconhecida, há décadas, pela população israelense do Norte do país.
Vestígios da antigüidade Dizem os historiadores que a região sempre foi disputada pelos povos
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que lá viveram. Os amoritas a dominaram do 3º ao 2º milênio antes da nossa era, quando foram derrotados pelos arameus. Posteriormente denominada Bashan, foi uma área disputada pelo reino de Israel e o dos arameus, a partir do ano 800 a.C. A partir daí, se seguiram constantes trocas de poder: assírios, babilônios, persas. No século V a.C., a região voltou a ser povoada pelos judeus que retornavam do exílio da Babilônia. Alexandre, o Grande, conquistou as montanhas no século IV antes desta era, mantendo-as sob controle helenístico até sua captura pelos romanos. Foi quando passaram a ser chamadas de Golã. Os gregos costumavam referir-se às redondezas como “Gaulanistis”, termo usado pelos romanos, daí o nome Golã. A Primeira Revolta Judaica contra as forças de Roma aconteceu de 66 a 73 d.C., quando um grupo de judeus ocupou a colina de Gamla. Estes foram derrotados e a cidade, destruída. O local tornou-se conhecido como “A Massada do Golã”. Durante o reinado dos romanos, chegaram os gassânidas, em 250 d.C., e construíram sua capital em Jabiyah. Dividido o Império Romano, em 391 d.C., as Colinas do Golã ficaram sob influência bizantina e controle dos gassânidas. Depois vieram os sassânidas e mais tarde os árabes muçulmanos, sob domínio omíada, iniciando um novo capítulo na história local. Os drusos começaram a chegar ao Norte do Golã e arredores do Monte Hermon a partir do século XV, seguidos um século depois pelos turcos otomanos, que lá permaneceram até o final da I Guerra Mundial. Em 1880, um grupo de pioneiros sionistas fundou um núcleo judaico denominado Ramataniya, que desapareceria em apenas um ano. Finda a I Guerra, em 1920 o des-
tino do Golã foi definido por um acordo entre a França e a Grã-Bretanha, que concedia à primeira o controle sobre a maior parte do território. Isso ocorreu somente em 1924, um ano após os ingleses assumirem o mandato sobre a então Palestina. Ainda pelo mesmo tratado, uma pequena parcela do território passou da Síria para a Palestina. Assim, a França estendia seu mandato sobre a Síria. Ao término deste, em 1944, esse último país ficou com o controle da área. Logo após a independência de Israel, em 1948, Damasco aumentou sua presença militar nas colinas, de onde atacava constantemente a população civil israelense do Norte do país. Depois de assinado o armistício entre israelenses e sírios em 1949, parte da área foi desmilitarizada, mas as violações do acordo por parte dos sírios continuaram até 1967, quando Israel ocupou a região, pondo fim a dezoito anos de bombardeios sobre seus cidadãos. Atualmente, 18 mil pessoas moram na região do Golã, em 35 povoados.
Trilha das sinagogas Um dos símbolos mais conhecidos do legado judaico na região é o povoado de Gamla, destruído durante o ano 67 d.C., durante a Primeira Revolta Judaica. A escavação da cidade e sua identificação só foram possíveis depois de 1967. Para os visitantes, ele transformou-se em interessante ponto turístico. Para os estudiosos, trata-se da mais importante evidência da vida judaica no Golã, durante a Antigüidade, e da política destrutiva dos césares contra os povoados judaicos. Tal perspectiva, no entanto, só voltou a ser estudada quando o arqueólogo Haim Ben-David aprofundou suas pesquisas sobre as ruínas das comunidades judaicas, no Golã, do período mishnaico e talmúdico. Como parte de sua investigação, analisou artefatos encontrados em mais de 50 sítios, ha-
Horizonte romano. Segundo suas pesqui- responsável pelo Patrimônio de Antisas, os povoados iam sendo guidades, em Israel. As informações abandonados à medida que os iniciais de Oliphant foram confirmabizantinos ocupavam as terras das: em Dir Aziz realmente existira mais férteis do Golã. Os judeus, uma sinagoga. Por insistência de Benpor sua vez, foram-se concen- David e Maoz, as escavações foram trando em áreas cada vez mais retomadas em 1998, quando finalA Primeira Revolta Judaica contra as forças de remotas, distanciando-se, gra- mente se encontrou a estrutura da siRoma aconteceu de 66 a 73 d.C., quando um dativamente, do poder central. nagoga. Bem conservada, mantinha grupo de judeus ocupou a colina de Gamla. As análises do arqueólogo tam- quatro colunas ao longo do muro norEstes foram derrotados e a cidade, destruída. bém levaram à conclusão de te e o piso de pedras artisticamente taO local tornou-se conhecido como “A Massada do Golã”. mais uma característica comum lhadas. Além de surpresos pelo bom entre tais povoados: a presença estado da construção, Ben-David e de edifícios públicos elaborados, Maoz entusiasmaram-se com algumas incluindo-se sinagogas bem de- de suas singularidades. Por exemplo, coradas, geralmente nos pontos a escada para o saguão principal e sua construção, voltada ao Oriente. A mais altos das montanhas. Outra forte marca da presença ju- maioria das sinagogas do Golã e da bitados entre o século I a.C. e o século VI d.C. Ben-David datou cuidadosa- daica nas regiões mais remotas do Galiléia aponta para o Sul, em diremente cada um dos fragmentos, res- Golã foi a descoberta de uma sinago- ção a Jerusalém. A bimá, por sua vez, saltando que, diferentemente de outros ga nas ruínas do vilarejo sírio de Dir ergue-se ao longo do muro sul do edisítios arqueológicos do período roma- Aziz, próximo ao moshav Kanaf. Era fício. Em artigo publicado no jornal no-bizantino, os mínimos detalhes en- parte de um assentamento judaico, Haaretz, em 2003, Ben-David dizia contrados na região do Golã eram datado do século I d.C. Foi justamente que a estrutura da sinagoga de Dir cruciais para uma compreensão da nessa área em que começaram a se Aziz era muito parecida com as conshistória local. Após estudar cerca de delinear as primeiras teorias de Ben- truídas na região sul de Hebron, o seis mil fragmentos, chegou a uma David sobre as antigas comunidades mesmo acontecendo com o local do conclusão surpreendente: “Gamla foi do Golã. Antes dele, no entanto, o ex- Aron Hakodesh. o único povoado destruído durante a plorador Laurence Oliphant, em suas Mas a maior surpresa dos pesquiPrimeira Revolta Judaica... As evidên- andanças pela Terra Santa em 1885, sadores foi depararem-se com um pecias indicam que pelo menos 25 conti- já mencionara a existência de uma si- queno jarro de barro, sob o piso da nuaram a existir... e suas ruínas estão nagoga no local. Ele descreveu a fa- sinagoga, contendo catorze moedas no que hoje se conhece como Ein Nas- chada ocidental do edifício, com três de ouro do reinado do imperador Jushut, Yehudiya Dir Aziz”. O arqueólo- metros de altura, então intacta. So- tiniano, de Bizâncio. “Sabíamos que, go concluiu, também, que nessa re- mente após 1970 gião central encontra-se um padrão iniciaram-se trabacontínuo de vilarejos judaicos desde o lhos arqueológicos período do Segundo Templo até o fi- mais intensos. Mas A sinagoga escavada em Gamla reflete a florescente vida nal do domínio bizantino; e que al- os primeiros pesquijudaica existente no Golã durante o período talmúdico. guns ainda se estenderam pelo início sadores não encondo período islâmico, em meados do traram a sinagoga, século VIII. No entanto, Ben-David faz provavelmente em questão de ressaltar que sua conclusão virtude de um terrenão significa que todos os povoados moto na área, em judaicos sobreviveram até o domínio 1920, que a teria bizantino; demonstra apenas que posto abaixo. Zvi aqueles cujos vestígios foram encon- Ilan foi o primeiro a trados não foram destruídos nos con- coordenar as pesfrontos. O estudioso encontrou sinais quisas, seguido, déde 15 assentamentos judaicos aban- cadas depois, por donados no século IV, final do período Zvi Maoz, do órgão
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Horizonte na época, era costume enterrarem-se moedas, mas, quase sempre, as de bronze. Os achados de Dir Aziz constituem um verdadeiro tesouro”. Ao longo das escavações, foramse sucedendo as surpresas. Quando os pesquisadores desmontaram um muro divisório construído no vilarejo durante o período sírio, encontraram uma inscrição em grego em uma pedra antiga, reutilizada, do período bizantino. Havia apenas uma palavra: “Azizo”. Sobre a palavra, os arqueólogos observam que havia na região de Hebron um povoado chamado Kfar Aziz. Há, também, outras explicações para a semelhança entre os termos Azizo e Aziz – ambos usados como prenomes entre os semitas. É possível que os fundadores da sinagoga tenham gravado o nome do doador da obra. Apesar das escavações não terem sido ainda encerradas, os estudiosos acreditam que a sinagoga foi utilizada até o início do domínio islâmico, durante as dinastias omíada e abássida. Durante o período romano, a região denominada Golã incluía principalmente a parte central do planalto, entre Nahal Jalabun, ao norte, e Nahal Kanaf, ao sul. Aí floresceram os povoados judaicos. O atual “sul do Golã” era genericamente descrito como Hippos, provavelmente pela influência grega dominante. Ao redor da cidade foram construídos também alguns vilarejos judaicos. Na literatura rabínica é também conhecida como Susita. Se durante a dominação romana os judeus se dedicavam quase que exclusivamente ao cultivo de vinhedos, com o domínio bizantino e seu contínuo deslocamento para áreas mais distantes e menos férteis passaram a produzir azeite de olivas. Segundo Ben-David, restos de prensas encontrados na região comprovam a florescente indústria desenvolvida pelos judeus, que chegavam a exportar a produção.
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Todo povoado construído no período bizantino possuía sua sinagoga, tendo-se provas da existência de, no mínimo, 25 em comunidades vizinhas. Para o arqueólogo, há uma relação inegável entre o êxito na indústria de azeite do povoado e o porte de sua sinagoga. Quanto mais bem-sucedida a comunidade, mais monumental a construção. Tal pujança, no entanto, desapareceu no início da Idade Média. Foram abandonados todos os assentamentos da região central do Golã, inclusive os ishuvim (comunidades) judaicos. A localização exata de locais como Nov, Hispin, Afik e Kfar Haruv – mencionados em fontes históricas e na literatura rabínica – se perdeu. Para Ben-David, no entanto, Dir Aziz pode-se vangloriar de ser o único povoado do Golã onde se encontrou uma evidência de seu nome hebraico, preservada por mais de vinte séculos.
Inúmeras atrações Palco de tantos eventos da história antiga, a região Norte do Golã traz, em sua paisagem, marcas de vários períodos. Entre as colinas foi construída Ka’alat Namrud, uma das melhor preservadas fortalezas mamelucas, do período dos cruzados. De suas muralhas é possível se ter uma visão panorâmica das Cachoeiras de Banias, recanto dos mais procurados pelos israelenses que fogem das altas temperaturas que assolam o país no verão. O vilarejo de Ein Kinya, por sua vez, permite aos visitantes aprender um pouco sobre o estilo de vida e a cultura drusa. A capital do Golã é Katzrin, cidade com várias opções turísticas. Com mais de 5 mil habitantes, situa-se entre os rios Zavitan e Meshushim. O Museu Arqueológico do Golã é parada obrigatória para os visitantes. Abriga uma coleção de artefatos que é uma verdadeira retrospectiva da história do homem e da cultura na região, dos tem-
pos pré-históricos até o período talmúdico. Nesse museu estão expostos, entre outros, armas usadas nos embates entre os habitantes de Gamla e as legiões romanas. O próximo passo do roteiro dos visitantes é o antigo Parque de Katzrin, nas proximidades da zona industrial da cidade. Lá se vêem reconstituições de construções do período talmúdico, inclusive a magnífica sinagoga e duas residências. Ainda na zona industrial estão as vinícolas, que hoje fazem a fama mundial dos vinhos israelenses, com uvas cultivadas nos vinhedos locais. Algumas horas de visita bastam para provar que se está no coração dos famosos Vinhos do Golã. Sua região central se caracteriza pela presença de cachoeiras e rios que se estendem por quase toda a área – uma paisagem bem diferente do semi-árido que marca o Sul de Israel. O verde é uma constante mais ao sul do Golã, no inverno e na primavera. De lá se tem uma vista panorâmica do lago Kineret, também chamado de Mar da Galiléia. Em suas águas, é muito refrescante um mergulho, no verão. Na área corre o Nahal El-Al, o mais perene dos rios do Golã, com duas famosas quedas d’água – a Cachoeira Negra, cujas águas correm sob rochas negras de basalto; e a Cachoeira Branca, que deságua em um solo de calcário. Ainda na área, não importa a época do ano, é sempre bom passear pela região termal de Hammat Gader, famosa por suas propriedades luxuosas, da primeira fase do período romano. Outro ponto obrigatório é a cidade greco-romana de Susita, com igrejas bizantinas e ruas de colunas monumentais. (extraído de www.morasha.com.br) Bibliografia: Duby, Tal & Haramati, Moni. Golan Skyline, Ministry of Defense Publishing House, 2001. Ya’acov Shkolnik, “Secrets from the Golan’s Ancient Synagogues”, The Book – 1985-2005. Seleção de artigos da revista ERETZ.