Venu Gita

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Sri Sri Guru-Gaurangau Jayatah

Venu-Gita O SOM DA FLAUTA DE KRISHNA

Srimad-Bhagavatam Comentário do décimo canto - Capítulo vinte e um As Gopis cantam as glórias do som da flauta de Sri Krishna quando Ele Se embrenha na encantadora floresta de Vrindavana durante a chegada do outono

Sua Divina Graça Sri Srimad Bhaktivedanta Narayana Gosvami Maharaj Fundador-Acharya da Sociedade Internacional de Bhakti Yoga Pura (IPBYS)


PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA sri guru gaura-gandharva govindanghrin ganaih saha vande prasadata yesam sarvarambhah subhankarah Ofereço minhas respeitosas reverências aos pés de lótus de meu mestre espiritual, a Sri Cheitanya Mahaprabhu , Srimati Radharani e a Suprema Personalidade de Deus, Sri Govinda, acompanhados de Seus respectivos associados. Todas as invocações se tornam auspiciosas por sua misericórdia. O livro Sri Cheitanya-charitamrita é o estudo pós-graduado para Gaudiya Vaishnavas e começa com a invocação “vande gurun”, “Ofereço minhas respeitosas reverências aos mestres espirituais.” Assim, Srila Krishnadasa Kaviraja Goswami revela que a concepção espiritual plenamente madura abre um leque recheado de uma pluralidade de gurus. As escrituras em geral apresentam um conceito muito amplo e universal de Sri Guru, dando ênfase a substância espiritual, ou seja, a corrente divina de néctar que flui para este plano terreno proveniente da dimensão mais elevada através da inspiração que se acha no coração do verdadeiro Vaishnava. Negar que a revelação divina possa vir através de um outro agente que não esteja conectado a uma determinada instituição com a desculpa de que isso é contrário a fidelidade ao guru, na verdade, pode ser ofensivo e até mesmo suicida. Atente-se para que o que se afirma aqui não é a criação de uma sociedade em que se misture as diversas missões Vaishnavas, numa mistura de humores, aqui não se pretende que um grupo vá desviar outro grupo de sua própria visão da concepção Krishna, aqui não se critica quem quer que seja o Vaishnava sucessor em sua própria sampradaya. Aqui não se pretende que todos se embrenhem numa “floresta de acharyas”. O que se pretende, isso sim, desenvolver uma visão mais ampla com relação a consciência de outros devotos e não há duvida que esse estudo facilita a compreensão dos ensinamentos da assistência espiritual que o devoto recebe, enfim é o abrir do coração dos Vaishnavas para citar expressões de Sridhara Maharaja, “na linha ziguezagueante em que Krishna se manifesta”, aqui ou ali, e absorver o néctar, sem medo, sem compromissos institucionais com qualquer que seja a missão, já que a verdade das instituições e dos edifícios já não satisfazem mais. O devoto tem de se conscientizar que existe semelhanças e contrastes de humores entre os ensinamentos dos acharyas , o que acarreta no desenvolvimento de uma identidade religiosa própria, seja em relação a outras escolas Vaishnavas, seja em relação, num estágio superior, a própria sabor que o devoto se agrada dentro da infinita variedade do mundo espiritual, tudo necessário para o amadurecimento do devoto. Esta variedade contribui para o desenvolvimento psicológico e emocional do devoto, elemento importante na formação da personalidade espiritual, desenvolvendo uma visão espiritual mais ampla, mudando a percepção dos ensinamentos para melhor de tal devoto. Temos aí a possibilidade de conscientização do devoto dos mecanismos das estruturas dos humores Vaishnavas. Isso enriquece e afasta o monstro do sectarismo reinante , aceitando os elementos espirituais que são diferentes dos seus. Se não for assim , como um devoto vai poder avaliar sua própria identificação espiritual, como poderá trazer modificações favoráveis a um estado de progresso contínuo, utilizando tudo que aprende em benefício próprio e dos outros, ao invés de , como ocorre hoje, esconder seus livros em bibliotecas fechadas com medo de que alguém mais leia. Ora, abrir-se para o novo e o desconhecido não significa , necessariamente , um despedaçamento dos valores que o devoto aprendeu em sua instituição e sim, numa visão melhor, a possibilidade de


enriquecer seu potencial como meio de incentivo, amparo e assistente espiritual, devendo participar ativamente de sua sociedade sem medo de ser expulso, infelizmente , fato que ainda hoje ocorre. Tal conscientização implica que o devoto vai ter que aprender a se colocar no lugar do outro, vai ter de incorporar dados novos e, portanto, olhar para si mesmo com mais objetividade, passará a haver uma capacidade maior de autocrítica, de aceitação do mundo Vaishnava e não Vaishnava que nos cerca, será que isso é tão doloroso? Tenho fé plena que podemos aprender a desenvolver a capacidade de apreciar o valor absoluto dos ensinamentos de tantos acharyas, sem nos deixarmos vencer pela relatividade dos valores das instituições. Não pode haver mais o medo de que o devoto analise de maneira objetiva o porquê de suas preferências atuais, de que o devoto valorize a sensibilidade, sem medo de abraçar outros devotos para não ser taxado de prakrita sahajya. Estamos vendo devotos partirem para outras escolas Vaishnavas, outros humores Vaishnavas, entristecendo-nos, todavia, que o fechamento das informações nas mãos de alguns privilegiados acarreta que muitos devotos estão voltando ao cristianismo. Será isso que desejamos? Aqui não se acalenta a atitude egoísta e invejosa dos grupos que se fecharam, impedindo todo e qualquer intercâmbio com Vaishnavas de outras instituições, em nome de proteção de seus devotos neófitos, se formaram redomas dogmáticas onde nos grupos mais radicais até se exige que todos sejam reiniciados, ali se houve apenas o eco de suas próprias vozes, aparentando uma grande paz, que não passa da paz reinante nos cemitérios, ali o pai entrega o filho ao cadafalso em nome da ideologia, devotos desviam seu caminho na rua para não encontrar com outros devotos, amigos de outrora, só porque estão conectados a outros ramos da grande árvore de Cheitanya. Qual o problema em haver múltiplos sentimentos no mundo Vaishnava, será que somos máquinas insensíveis, sem coração, será que nos enganaram quando nos ensinaram que podíamos apreciar todos os Vaishnavas, que podíamos respeitar todos, ou estamos encarcerados eternamente sem que se tome em consideração o que sentimos. Será que o paternalismo atual impede de seus filhos crescerem, será que não interessa o amadurecimento, será que a viagem de Gopa Kumara narrada no livro Brihat Bhagavatamrita de Sanatana Goswami (leitura obrigatória para todos nós) é pura ilusão ou de fato o movimento espiritual é progressivo. A quem interessa manter os devotos ignorantes das realizações de outros Vaishnavas puros, será que o fator dinheiro desorienta a visão de Krishna, a realidade, o belo. Obviamente o conceito de Guru está pervertido no ocidente, aquela pessoa responsável e disponível que auxilia a tarefa de seu discípulo para assumir o seu aprendizado, adaptando o ensino do devoto à realidade individual de cada um em particular, essa função de ajuda e de assistência, possibilitando ao devoto avaliar seu próprio progresso, aquela pessoa informada sobre as expectativas de cada seu discípulo com relação ao aprendizado de cada um, que está em estágio, diferente, há devotos de mais de 20 anos de aprendizado e há os recém chegados, não se pode imprimir formulas cerradas para todos. Há que haver o interesse no desenvolvimento das potencialidades individuais. O Guru hoje tem de estar interessado em seu discípulo, mediando o saber, observando, organizando e avaliando, senão todo o processo sucumbe. Não se pode conceber mesmo o conceito de siksha guru hoje se tal pessoa encarregada dessa missão no seu papel de assistência não estiver interessada no seu discípulo como indivíduo, nos seus interesses, uma vez que os métodos antigos aqui aplicados surtiram efeitos desastrosos por não levar em conta a realidade do devoto, nem sua natureza. Não se trata, obviamente , de um novo método espiritual, mas trazemos a necessidade premente de uma nova abordagem metodológica na relação guru/ discípulo, devendo as várias escolas Vaishnavas se complementarem e não excluírem umas às outras. Não se pode eleger um método como correto, nem uma instituição como o summum bonun da verdade, considerando os demais como incorretos ou apasampradaya, de fato, dentro da ótica espiritual são as necessidades que vão ditar qual o método de acordo, como nos ensinou Bhaktivedanta Swami, com as circunstancias.


Hoje, o mundo requer o guru flexível, que pode se adaptar aos novos fluxos do mundo moderno, dinamizando seus ensinamentos, refletindo as necessidades de cada discípulo dentro do grau de compreensão de cada um, tendo que estar sempre à mão para esclarecimentos e ajuda, preocupado, principalmente, com o desenvolvimento do aspecto afetivo, que infelizmente, devido a formação anglosaxão , fizeram com que os americanos ao recebem a cultura milenar da Índia, mandassem o aspecto afetivo para o Alasca e até hoje ali repousa e ainda mais fizessem camisas de força ideológicas que impediram até aqui o crescimento dos devotos como indivíduo. O fato é que não existem essas bandeiras particulares na religião de Deus, pois a religião é só uma. Não podemos aceitar que uma determinada instituição que forme e propague seu exclusivismo possa diminuir o caráter universal da religião de Sri Gouranga, somos seguidores de Sri Cheitanya ou Sri Gouranga que nos outorgou a Sua Religião de Amor e Beleza, que é a religião perfeita para toda a humanidade, nos passos de Nityananda e por isso nunca tomamos qualquer que seja a declaração como ofensa. Como esses grupos fechados poderão cumprir o preceito inicial firmado no Srimad-Bhagavatam de respeito aos Vaishnavas onde se deve servi-los, mesmo que haja grande escassez, oferecendo-se água fresca, assento e doces palavras. Se seguirmos os padrões impostos no Ocidente atualmente, Gopa Kumara seria no mínimo considerado um desertor, pois assim que seu coração ansiava por algo mais, lhe era oferecido um novo caminho pelo seu próprio Guru, que o mandava para outros locais de aprendizagem. Não havia lá ninguém dizendo que a verdade era encontrada apenas naquele local, que aquele era a única porta voz do Vaishnavismo puro. Não, não vimos isso. Por isso, procuramos o respeito a todos os Vaishnavas, oferecemos assento a todos os Vaishnavas para ouvir seu upadesh e o seva é entregue ao guru de nosso coração, o guru que se manifesta numa infinidade de formas, e aquele que estejamos mais gratos será o mais importante, não importa que seja siksha, diksa ou sannyas guru. A nossa linha preceptoral é siksha, no ocidente costuma-se dizer, “PAI É AQUELE QUE CRIA”, assim, a menos que haja uma preocupação real com a vida espiritual dos devotos aqui no ocidente, sem a preocupação do quanto em dinheiro tal devoto possa doar, estarão implantados os padrões norteamericanos de capitalismo selvagem dentro do Vaishnavismo, onde o “guru de plantão” será o capitalista explorador e os discípulos serão operários explorados, talvez, com alguma razão, um filósofo materialista disse aqui que “a religião é o ópio do povo” porque alguns a estão utilizando para seu proveito próprio, juntar dinheiro e prathista (prestígio) estabelecendo-se a exploração, para tais homens incautos, que mataram que roubaram em nome de Deus, aguardamos justiça, pois não devemos usar da misericórdia para quem não a teve. A inspiração de outro Vaishnava é que nos faz mover, não importa a bandeira Vaishnava que esteja no portão de seu ashrama. Entenda-se que isso não vai atrapalhar o seva de ninguém ao seu guru, pelo contrário, vai incrementar sua fé no Vaishnavismo e no guru. Aqui não encontramos um Vaishnava a cada esquina como acontece na Índia, raramente recebemos visita dos baluartes do Vaishnavismo, por isso, temos que estar com o coração aberto a quem quer que nos visite ou envie sua mensagem. Swami Bhaktivedanta Prabhupada, já nos idos de 1936, proferia uma esclarecedora palestra a comunidade Vaishnava da Gaudiya Math em Bombaim, Índia, que aparece no livro A ciência da autorealização, página 68, edição de 1986. “Cavalheiros, a oferenda que se faz esta noite tal como foi programado ao Acharyadeva não possui um caráter sectário, pois quando nos referimos ao principio fundamental do gurudeva ou Acharyadeva, falamos de algo de aplicação universal. Está totalmente fora de cogitação discriminar meu guru do seu ou do de qualquer um. Existe apenas um guru, que aparece numa infinidade de formas para ensinar aos senhores, a mim e a todos os demais.” e prossegue: “o guru também não pode ser dois... aqui nos reunimos a fim de oferecer nossas humildes homenagens ao Acharyadeva, que não é o guru de uma instituição


sectária. Ele é o guru de todos nós;... portanto devemos nos render hoje aos pés do representante de Sri Vyasadeva para eliminarmos todas as nossas divergências por nossa atitude insubmissa”. A fidelidade de um discípulo a um guru se demonstra ao reconhecer a divina presença de Sri Guru onde quer que ela se ache e curvar sua cabeça aos pés de lótus deste agente, independentemente de sua figura física, do grupo devocional que pertença. A verdadeira castidade das gopis de Vraja se mostrava quando elas respondiam ao chamado da flauta de Sri Krishna na calada da noite, embora aparentemente, abandonassem seus maridos para atender ao chamado. O fato é que persiste o erro de algumas pessoas que foram vitimas do mesmo juízo falso, pessoas que foram expulsas de suas missões por ousar buscar o néctar em outras missões, agora se arvoram em cometer o mesmo engano de que foram vitimas, querendo expulsar quem quer que ouse buscar o néctar em outros grupos Vaishnavas, esquecem o mal que isso causou, todos nós vimos irmãos espirituais rejeitados se suicidarem, vimos muitos devotos serem chutados, isso paira sob a cabeça desses pseudo-puristas espirituais. Tais pessoas estão adormecidas na concepção corpórea de Sri Guru. O que nos interessa são os que estão acordando para a dimensão interna da personalidade divina do conceito de Sri Guru. Srila Sridhara Maharaja ensina: “não devemos identificar nosso guru com a aparência física que percebemos com nossos sentidos externos. Nossa identificação interna com Ele vai ser esclarecida na medida do crescimento de nossa visão. Quando nossa visão aumenta e toma forma saindo do aspecto material em direção a dimensão transcendental, a aparência de Sri Guru também muda correspondentemente. A não ser que se abandone a visão material, o que veremos será baseado na concepção de corpo físico. E forçar a concepção material para que entenda a Divindade é um crime, é ignorância, é um erro. Temos que nos libertar da armadilha de identificar a realidade com a forma física que se apresenta aos nossos olhos. É necessário eliminar o conceito externo, temos que adentrar na dimensão interna, e isto será de suma importância para um discípulo progressivo, se temos a intenção de fato de chegar a dimensão interna da realidade”. Na proporção da profundidade e intensidade de nosso anseio interno por uma conexão com a Divindade, nosso conceito de Guru vai se expandir saindo da simples identidade corpórea de um determinado devoto. Quando as gopis estavam separadas de Sri Krishna, elas se aproximavam até mesmo das árvores perguntando: “Onde está Krishna? Srila Bhaktisiddhanta Saraswat Thakura ensina: “A forma refletida dos pés de lótus de Sri Guru em diferentes receptáculos revelam muitos novos assuntos num fluxo constante para nossa instrução. Para aqueles que tiverem desperto a visão divina, eles poderão perceber os traços da divindade em todo lugar e em tudo.” Será que essas lições não falam por si? Quantas vidas deverão ainda ser ceifadas? Quantas ofensas deverão ainda ser cometidas em nome da defesa das diferenças entre meu guru e seu guru, minha instituição, sua instituição, quantas vezes ainda teremos que ser agressivamente interpelados por neófitos mal iluminados indagando-nos, ”por que você não aceita o único guru autêntico, o da minha instituição, meu guru?” A iluminação de onde quer que venha é bem vinda, ela vai aprofundar nossa relação com nosso Guru, vai trazer luz a cantos escuros de nossa compreensão, vai poder fazer brilhar a manifestação de Baladeva nesses Vaishnavas encarregados de nos buscar do lodo da existência material, vai fazer com que as almas voltem a progredir espiritualmente, vai levantar questões obscuras, vai trazer indagações profundas, vai infundir entusiasmo em tantos que estão cansados de ouvir as mesmas lições, num repetir inútil e enfadonho, vai trazer vida ao Vaishnavismo no ocidente que padece de males terríveis: estagnação filosófica, sectarismo, intolerância para com a posição espiritual de outros Vaishnavas, total incapacidade de conviver com opiniões opostas, espirito de seita, fanatismo, falta de perspectiva e esvaziamento em suas fileiras. Desaprendemos que Krishna é aquele que concilia os opostos.


É com a esperança de que o Vaishnavismo no ocidente se abra para um fluir dos sentimentos verdadeiros que ousamos traduzir o presente livro, orando para que os leitores se aproximem com uma atitude humilde, submissa e com um coração aberto para as obras deste e de muitos outros Prabhupadas, que estão aqui e ali manifestando o lado inspirado dos Vaishnavas, pois eles falam sempre de coração para coração. Buscamos assim dar nutrição ao desenvolvimento da livre fé interna, afastando a lei e a coação dos regulamentos institucionais mal formulados. Trabalho forçado tocado sob a forca de uma bandeira só empurram seus seguidores ao fanatismo religioso, a intolerância com outros Vaishnavas, a ofensa, ao Vaishnava aparadha e a morte espiritual. Isso todos nós temos sido testemunhas vivas. A liberdade é o princípio mais elevado. Os estatutos não podem nos escravizar, eles é que são escravos, pois devem promover o livre fluxo do coração. Várias questões atormentam o pensamento Vaishnava atual no Ocidente, a primeira é qual deve ser a atitude de um devoto maduro no caso de Vaishnavas superiores estar em disputa? Quem responde é Bhakti Promode Puri Maharaja, o discípulo de Bhaktisiddhanta Maharaja, em seu livro O Coração de Krishna, às páginas 75: “Caso testemunhemos uma disputa entre Vaishnavas superiores, será benéfico para nós não ver isso como uma rivalidade mundana e sim como um veículo para que se propague e aumente o amor por Krishna no coração desses Vaishnavas, similar as discussões entre Satyabhama e a Rainha Rukmini, a matéria transcendental de suas lutas era sempre a mesma - Krishna. As diferenças de opinião entre Vaishnavas são inspiradas por Sri Cheitanya a fim de nos instruir. SE ALGUÉM, POR TOLICE, TOMA PARTIDO NESSE DEBATE, TAL PESSOA SE TORNA UM APARADHI POR FAZER OPOSIÇÃO E CRITICAR O OUTRO VAISHNAVA, E A CONSEQÜÊNCIA SERÁ A MAIS PERNICIOSA PARA TAL DEVOTO”. A segunda questão crucial hoje no Ocidente é como a insistente afirmativa da superioridade de um guru de determinada instituição poderia ou não ser benéfica ao mundo Vaishnava e aos discípulos neófitos? Quem vem em nosso socorro é o mestre dos Prabhupadas, Srila Sachidananda Bhakti Vinoda Thakura, no livro Sri Cheitanya Shikshamritam à página 7, primeira edição da Sri Gaudiya Math Madras , 25maio1983: “Não é adequado ou conveniente a insistente divulgação da discutível superioridade dos ensinamentos dos Acharyas de sua região sobre o que se ensina em outros locais, ainda que o devoto possa e, mais ainda, deva acalentar tal crença a fim de adquirir firmeza em sua própria fé. Tal discussão nenhum benefício vai trazer ao mundo.” O movimento de Mahaprabhu é mais do coração do que do intelecto e o amor só pode desabrochar num ambiente de liberdade. A primeira prioridade é a da alma, da vida espiritual, por ela negligenciamos tudo, o mundo, o universo. Foi por isso que saímos de nossas casas. Oramos para que com esta obra inspirada o apego aos pés de lótus de Sri Guru cresça mais e mais. Prostrando-me em dandavats-pranams e rogando a misericórdia sem causa e perdão a todos os Vaishnavas, sem esperança de sair do jugo de kama, kamini e prathista, sempre no anseio de servir com toda humildade possível Phanibhusan das EDITOR


PREFÁCIO Essa publicação foi produzida a partir dos discursos proferidos por Om Visnupada Sri Srimati Bhaktivedanta Narayana Maharaja os quais foram realizadas na presença de um pequeno grupo de seguidores ocidentais de língua inglesa. Esses seguidores aproximaram-se dele para iluminação e compreensão da expressão dos sentimentos divinos que descrevem o Décimo Canto do Srimad-Bhagavatam que é manifestado pelas exaltadas devotas de Sri Krishna, as vraja-gopis. Esse livro é uma combinação de seu comentário pessoal sobre os versos seletos e uma tradução para o inglês da sua própria tradução em hindi dos versos originais em sânscrito. A introdução foi escrita pessoalmente por Srila Narayana Maharaja em hindi para esse livro e traduzida para o inglês. Um estudo cuidadoso da introdução vai elucidar o conselho dado pelos acharyas prévios no que se refere as qualificações necessárias para as pessoas que tentam entrar na compreensão desses assuntos tão elevados. Embora o inglês não seja a língua nativa de Srila Narayana Gosvami Maharaja, ele, ainda assim, com clareza, transmite o significado profundo deste assunto de uma maneira cativante e agradável, habilitando os leitores sinceros e despretensiosos a obter a introvisão desses sentimentos sumamente exaltados. Este é o primeiro livro produzido diretamente de seus comentários em inglês. Esperamos que os leitores possam experimentar uma profunda inspiração que é sentida pela audiência durante seus discursos. Prostrandonos aos pés de lótus de nosso divino mestre, Srila Narayana Gosvami Maharaja, oramos para que ele aceite nossa tentativa e nos abençoe, outorgando-nos entrada na pura concepção madhurya do Venu-Gita. Os Editores.

Este Venu-Gita foi completado em 19 de maio de 1995, no dia do desaparecimento de Srila Ray Ramananda.

EDIÇÃO 2012 A fim de realizar uma rápida propagação dos livros de Srila Gurudeva em língua portuguesa resolvi publicar uma versão online da tradução de Phanibhusan das do Venu-Gita. Essa atitude visa preencher a lacuna da falta de muitos livros de Srila Gurudeva em língua portuguesa. Antes de tudo, devo resaltar que essa não é uma versão corrigida do livro e esperamos que devotos ávidos no serviço devocional aos pés de Srila Gurudeva possam trabalhar para uma versão mais atualizada e possam apresentar uma publicação impressa do mesmo para o prazer de Srila Gurudeva e os vaisnavas. Ramananda Das


INTRODUÇÃO

O Srimad-Bhagavatam é uma manifestação direta do Senhor Supremo. É um ambrosíaco, um fluir do oceano nectáreo de amor (prema-rasa) para svayam-bhagavam vrajendra nandana Sri Krishna. A personificação da rasa divina. Rasika e bhavuka bhaktas sempre mergulham neste oceano. O SrimadBhagavatam é o fruto totalmente maduro, o nectáreo fruto da árvore dos desejos da literatura Védica que compreende a inteireza do pensamento indiano. Dentro do Srimad-Bhagavatam, gopi-prema foi avaliado como sendo o objetivo final. Umas poucas ondas muito elevadas de gopi-prema podem ser vistas a partir do Venu-Gita, na porção do Srimad-Bhagavatam. Os Rasika-bhaktas se atiram nessas ondas e chegam a perder a consciência de seus próprios corpos. A ânsia por imergir nesse oceano nectáreo brota mesmo nos corações dos devotos fiéis que ainda estão na praia desse oceano. Sri Cheitanya Mahaprabhu, é a forma combinada de rasa-rajya e Mahabhava, resplandecente com sentimento e a compleição corpórea de Sri Radha, Ele saboreia o néctar do Venu-Gita com Svarupa Damodara e Ray Ramananda no Sri Gambhira. Srila Sanatana Das Gosvami e Srila Jiva Gosvami reuniram umas poucas gotas deste néctar em seus comentários do Srimad-Bhagavatam intitulados Brihat Vaishnava Toshani e Laghu Vaishnava Toshani respectivamente. Sri Visvanatha Chakravarti Thakura, através de seu comentário chamado Sarartha Darsini, distribuiu a todo mundo o mesmo néctar na forma dos remanentes da maha-prasada deles. Algumas pessoas acreditam que alguns sadhakas desqualificados são inelegíveis para ouvir, cantar ou lembrar os tópicos do Sri Venu Gita, Sri Rasa Pancadhyaya, Yugala Gita, Brahmara Gita, e assim por diante, como se descreve no Décimo Canto do Srimad-Bhagavatam. Esta consideração é totalmente legítima. Contudo, segundo a concepção dessas pessoas, apenas o sadhaka que tenha conquistado os seis impulsos (kama, krodha, etc.) que esteja livre de todos os anarthas, totalmente purificado em seu coração da doença da luxúria, é elegível para ouvir esses tópicos, ao passo que outras pessoas não . Agora, vamos examinar esse assunto com mais profundidade. Srila Rupa Goswami, que estabeleceu e satisfez o desejo interno de Sri Cheitanya Mahaprabhu, compôs o Sri Bhakti Rasamrita Sindhu, Sri Ujjvala-nilamani e outros textos sagrados. Srila Krishnadasa Kaviraja Goswami compôs o Sri Cheitanya Charitamrita. Enquanto escreviam, eles estiveram preocupados que esses textos confidenciais sobre rasas não caíssem nas mãos de pessoas desqualificadas. Se isso ocorresse, haveria uma grande perturbação no mundo. Um relance desses tópicos se encontra no Sri Cheitanya Charitamrita (Adi-Lila, IV . 231-237). Como foi declarado por Srila Krishnadasa Kaviraja Gosvami: e sabá siddhanta gudha, - kahite na yuyyaya na kahile, keha ihara anta nahi paya ataeva kahi kichu Karina nigudha bujhibe rasika bhakta, na bujhibe mudha hrdaye dharaye ye Cheitanya nityananda e sabá siddhante sei paibe ananda e sabá siddhanta haya amrera pallava bhakta-gana kokilera sarvada vallabha abhakta-ustrera ithe na haya pravesa tabe citte haya mora ananda-visesa ye lagi kahite bhaya, se yadi na Jane iha vai kiba sukha ache tribhuvane ataeva bhakta-gane kari namaskara nihsanke kahiye, tara hauk camatkra


"As conclusões esotéricas e confidenciais concernentes aos passatempos amorosos de rasa-raja Sri Krishna com as gopis, que são a corporificação de Mahabhava, não devem ser reveladas ao homem ordinário. Contudo sem os revelar, ninguém poderá entrar nesses tópicos. Portanto, eu descreverei esses tópicos de uma maneira velada de tal modo que apenas os rasikas bhaktas poderão entender e os desqualificados, não. Qualquer um que estabeleceu Sri Cheitanya Mahaprabhu e Sri Nityananda Prabhu em seus corações alcançará bem aventurança transcendental em seus peitos. Toda essa doutrina é tão doce quanto a manga recém brotada que pode ser saboreada apenas pelos devotos que se equiparam aos pássaros cucos. Para os que são como camelos, não devotos, não existe possibilidade de admissão nesses tópicos. Portanto, existe um júbilo especial em meu coração. Se aquelas pessoas que eu temo são incapazes de compreender esses tópicos, então qual poderia ser a fonte de felicidade em todos os três mundos? Portanto, após oferecer reverências aos devotos, eu revelo esse assunto sem nenhuma hesitação." Ao ler e ouvir esses tópicos, todos podem alcançar o excelso benefício. Srila Krishnadasa Kaviraja Gosvami, clareou esses tópicos ao citar o seguinte verso do Srimad-Bhagavatam: anugrahaya bhaktanam manusam dehaam asritah bhajate tadrsth krida yah srutva tatparo bhavet "A fim de outorgar a misericórdia aos devotos bem como às almas condicionadas, Bhagavan Sri Krishna manifesta Sua forma semelhante a humana e executa passatempos extraordinários (rasa-lila) e aqueles que ouvem sobre isso se tornam devotados exclusivamente a Ele.( Cc, adi lila 4.34)" Aqui Krishnadasa Kaviraja aponta o verbo bhavet que está citado no verso acima e está no modo imperativo. Isso significa que é compulsório que as jivas ouçam esses passatempos, como se explica no shloka do Sri Cheitanya Charitamrita( Cc., Adi-lila 4.35): bhavet kriya vidhin, sei iha kaya kartavya avasya ei, anyatha pratyavaya "No verso acima, o verbo bhavet está no modo imperativo. Portanto, isso, com certeza, deve ser executado. Não o fazer seria um disparate." Para informação dos leitores, refiro-me aqui ao comentário do Vaishnava Toshani de Srila Jiva Gosvami sobre o verso citado do Srimad Bhagavatam(10.33.36). tatra loke dhisthatrtvena Krishnakhya narakara parabrahmanah Sri gopair anubhatatvat evam bhaktanugrahartham tat keidety abhipretam.Aptakama tvé pi bhaktamugraho yujyate visuddha sattvasya tatha svabhavatt yad bhava bhavite cãnyatra drsyate sau tathã raugananugrahake 'Sri jada bharata carite,yatha vã bhagavad anugrahake mayíti ca tatra bhakta 'sabdena braja devyio braja janas ca sarve kala-traya sambandhino nye ca vaishnava grhitam _braja devinam purva-rãgãdibhir braja jananam janmandibhir anyesan ca bhakta darsana sravanadibhir apurvativa sphuranat .ataeva tadrsa bhakta prasangena tadrsih sarva cittakarsinih krida bhajete,yah sadharanir api srutva bhaktebho nyo pijanas tatparo bhavet.kimuta rasa lila rupam imam srutvetyarthah.vaksyat ca-vikriditam vrajavadhubhir idan ca visnoh (S.B. 10.33.39)ityadi.yad va,mansam deham asritah sarvo pi jivas tatparo bhavet,martya loke Sri bhagavad avatarat tatha bhajane mukhyatvac ca manusyanam mumuksunam muktanan cety arthah iti parama karunyam Eva karanam uktam tathapi bhajana sambadhenavam sarvanugraho jñeyah aniattaih tatra bahirmukhanapiti tatparyantatvam vivaksitam,parama prema parakastha maytaya Sri sukasyapi tad varnanatisaya pravrtteh gopinam ity asyarthantare tv evam vyakhyeyam


As palavras anugrahaya bhaktanam manusam deham asritah indicam que o Supremo Senhor Sri Krishna aparece em Sua forma tal como a humana e executa vários passatempos a fim de outorgar favor a Seus devotos. Portanto, Sri Krishna embora seja satisfeito em Si mesmo(aptakama), Sua demonstração de bondade em relação aos devotos é muito adequada. Esta é a característica que distingue visuddha sattva(bondade pura). O Senhor está sempre preparado para recompensar os devotos com um resultado em concordância com a execução de bhajana deles. O favor demonstrado ao Rei Rahugana por Sri Jada Bharata e o benefício do Senhor a meu favor(Shukadeva) elucida isso. No verso sob análise, diz-se que o Senhor manifesta Sua forma e passatempos a fim de outorgar benefício aos Seus devotos. A palavra bhakta usada aqui refere-se às vrajadevis(as gopis) , aos vrajavasis( os residentes de Vraja) e a todos os outros Vaishnavas - seja no passado, presente ou futuro. A fim de outorgar Seu favor às Vrajadevis, svayam bhagavan Sri Krishna executa esses passatempos amorosamente como purva raga(o apego que ocorre já antecipando o encontro com Krishna antes da união). Para que seja outorgada misericórdia a todos os residentes de Vraja, Ele desempenha o nascimento e outros passatempos, e por todas Suas atividades, Ele outorga benefício aos devotos do passado, do presente, do futuro com a audição de lila-katha. Sri Krishna manifesta todos esses passatempos para benefício dos devotos, ao fazer isso , mesmo pessoas comuns(não devotos), que ouvem até os passatempos mais comuns do Senhor, tornam-se totalmente absortas no Senhor. Portanto, ao se ouvir o sumamente ambrosíaco rasa-lila, pessoas comuns, com certeza, vão se tornar exclusivamente devotadas ao Senhor, que disso não haja dúvida. Este fato será elaboradamente discutido nos versos que se seguem tais como vikriditam vraja vadhubhir idan ca visnoh(Srimad Bhagavatam 10.33.39). As palavras manusam deham asritah podem indicar também que aquelas jivas que alcançaram a forma humana de vida estão capacitadas a ouvir todos esses passatempos e assim se tornar devotadas ao Senhor Supremo. Isso é assim porque o Senhor encarna exclusivamente nos planetas terrestres (martya loka), e é aqui que predomina a adoração ao Senhor. Por via de conseqüência, os seres humanos residentes nos planetas terrenos podem , com facilidade, ouvir essas narrações dos passatempos do Senhor. A palavra bhaktanam aparece neste verso. Todavia, em outras edições no seu lugar aparece a palavra bhutanam. Neste caso o significado é como se segue: o Senhor encarna pela causa dos devotos , resulta que os devotos são a causa raiz da aparição do Senhor. O Senhor aparece em Sua forma original tal como a humana, a fim de outorgar seu benefício às almas liberadas (muktas), aos aspirantes a liberação(mumuksus), aos desfrutadores dos sentidos(visayis) e a todas as entidades vivas segundo a relação delas com os devotos. A compaixão do Senhor é portanto a causa de Sua aparição. Contudo, devese compreender que a misericórdia do Senhor em relação as outras entidades vivas é devido apenas a conexão delas com os devotos. Em seu comentário do Bhagavatam conhecido como Bhavartha Dipika , Sridhara Svami escreveu que o que se poderia dizer em relação aos devotos se mesmo pessoas materialistas ficam livres de sua absorção material ao ouvir os passatempos do Senhor, e assim se tornam exclusivamente estabelecidas nEle. Srila Visvanatha Chakravarti Thakura explica este verso em seu comentário conhecido como Sarartha Darsini: bhaktana manugrahaya tadrsih kridah bhajate yah sruiva manusam deham asrito jivah tatparas tad visayakah sraddhavan bhaved iti krtdantar ato vailaksanyena madhura rasamayah asyah kridays tadrsi mani mantra-mahausadhanam iva kacid atarkya saktir astity avagamyate. "O Senhor executa grande variedade de passatempos para mostrar Seu favor aos devotos. As entidades vivas que ouvem estes passatempos ao terem aceito a forma humana de vida, tornam-se exclusivamente devotadas ao Senhor. Em outras palavras, adquirem uma fé firme nas narrações das atividades do Senhor.


O que mais pode ser dito sobre a importância de se ouvir lila-katha? E este rasa-lila, por estar totalmente mergulhado em madhura rasa, é totalmente distinto dos outros passatempos do Senhor. Do mesmo modo que uma jóia, um mantra ou um poderoso remédio, este rasa-lila tem uma potência estonteante e indiscutível fazendo com que ao ouvi-lo as pessoas na forma humana se tornem devotadas ao Senhor Supremo. Todos os devotos que ouvem estes passatempos serão exitosos e obterão o máximo prazer. Haverá ainda alguma dúvida a esse respeito? Nesse diapasão, podemos citar o seguinte verso do Srimad Bhagavatam (10.33.30): naitat samacarej jatu manasapi hy anisvarah vinasyaty acaran maudhyad yatha'rudro'bdhijam visam "Em outras palavras, os que não são Ishvara, Senhor Supremo, que não possuem poder, nunca podem tentar imitar os passatempos do Senhor, até mesmo mentalmente. Se alguém por tolice tenta beber o veneno que foi gerado do oceano, com certeza , será destruído." A essência dos comentários de Sri Jiva Gosvami e Sri Visvanatha Chakravarti Thakura sobre esse verso é que as entidades vivas que são subservientes ao corpo material e que são anisvara- desprovidas da potência controladora do Senhor - nunca podem se comportar como foi citado, mesmo que seja mentalmente. O que pode, então, ser dito da execução dessas atividades. Nem sequer podem ser desejadas. Em suma, os atos executados pelo Senhor que transgridem os códigos religiosos não devem sequer ser meditados. A palavra samacaran (comportamento), quando a dividimos em suas duas partes constituintes (samyak + acarana), indica uma atitude completa. Foi usada aqui para indicar que essas atividades estão completamente proibidas. Portanto, o significado é que este comportamento não pode ser adotado nem mesmo em sua mínima parte. O que se pode dizer, então , da execução dessas atividades através da fala e dos sentidos. Essas atividades não podem sequer ser concebidas mentalmente. A palavra hi indica que , com certeza, não pode ser executada. Se alguém se propõe a transgredir isso, será totalmente aniquilado. O significado da palavra maudhyad (estupidez) é que se alguém, sem conhecer a potência do Senhor e a sua própria incompetência, por tolice, adota esse comportamento está fadado a total queda, do mesmo modo que se alguém , exceto o Senhor Shiva, se propuser a consumir o mortal veneno, terá instantânea destruição. Todavia, o Senhor Shiva, por beber o veneno não obteve destruição , ao contrário, obteve maior esplendor e fama recebendo o nome de Nilakantha, aquele cuja garganta tornou-se azul por ter bebido veneno. Aqui neste verso, proíbe-se a imitação desse comportamento, ainda que no verso seguinte(10.33.36) -yah srutva tatparo bhavet - evidencia-se que não só os devotos , mas qualquer pessoa que ouça esses passatempos, irão se tornar totalmente devotados ao Senhor Supremo. Isso explicaremos no verso seguinte do Srimad Bhagavatam (10.33.39): vikriditam vraja vadhubhir idan ca visnoh sraddhanvito 'nusrnuyad atha varnayed yah bhaktim param bhagavati pratilabhya kaman hrd -rogam asv apathinoty acirena dhirah "Uma pessoa sóbria que ouve com fé e continuamente de seu Guru as narrações da sem precedente dança da rasa do Senhor Sri Krishna com as jovens esposas(gopis) de Vraja e depois descreve esses passatempos, muito em breve vai alcançar para-bhakti ou prema-bhakti em relação ao Senhor Supremo, e assim se torna competente para com rapidez se curar da doença da luxúria do coração." Aqui Sri Jiva Gosvami comenta no seu Vaishnava Toshani:


sraddhaya visvasenanvita iti. tad viparttavajna-rupaparadha-nivrty arthanca nairantaryarthanca . tac ca phala vaisistyartham, ataeva yo'nu nirantaram srnuyat, athanantaram svayam varnayec ca, upalaksanan caitat smarec ca, bhaktim prema-laksanam para Sri gopika premanusaritvat sarvottama jutiyam; pratiksanam nutanatvena labdha, hrd-roga-rupam kamam iti bhagavad visayah kama viseso vyavacchinnah, tasya parama prema rupatvena tad vaiparttyat. kamam ity bhagavad visayah kama viseso vyavacchinnah, tasya parama prema rupatvena tad vaiparttyat, kamam ity upalaksanam anyesam api hrd-roganam . anyatra sruyate(sri gita 18.54) - "brahma bhutah prasanntama na socati na kanksati, samah sarvesu bhutesu mad bhaktim labhate param."iti atra tu hrd rogapahant purvam eva parama bhakti praptih tasmat parama balavadevedam sadhanam iti bhavah. Tendo concluído a narração do rasa-lila, Shukadeva Gosvami ficou totalmente imerso no êxtase espiritual. Neste verso, ele descreve os frutos da audição e do canto de rasa-lila e assim dá bênçãos a todos os futuros ouvintes e recitadores. Aqueles que incessante e fielmente ouvem o rasa-lila de Sri Krishna com as jovens esposas de Vraja e em seguida recita esses passatempos, com rapidez, alcança para-bhakti em relação a Bhagavan Sri Krishna e assim abandona a doença-luxúria do coração. Sraddhanvita significa ouvir com fé firme. Esta palavra foi usada para prevenir a ofensa que resulta da desconfiança (avisvasa) ou da desconsideração (avajna) com relação as declarações do shastra em completa oposição ao princípio de ouvir com fé. Ela também é usada para promover a constante audição. Através dessa palavra , assinala-se a importância da audição. As palavras atha varnayed indicam que após a audição constante do rasa-lila junto a outros passatempos especiais, a pessoa irá pessoalmente narrar aqueles passatempos. Através de upalaksana, ou implicação indireta, indica-se mais adiante que após ouvir e narrar a pessoa irá lembrar-se daqueles passatempos e obterá grande deleite neles. Em outras palavras, a audição, o canto, a lembrança, o experimentar do deleite, etc., todos estão contidos nas palavras sraddhanvitah anusrnuyat atha varnayed ( ouvir amiúde com fé e após narrar). Para-bhakti significa bhakti que vai na esteira das gopis de Vraja. Portanto, refere-se aqui a bhakti de prema-bhakti ou da mais elevada categoria. A palavra pratilabhya (repetidamente obtida), em conjunto com a palavra para-bhakti, indica que primeiramente para-bhakti (possuindo a característica distinta de prema) é obtida com o coração a cada momento numa variedade sempre nova . Por conseqüência a pessoa , com rapidez, abandona a doença da luxúria do coração. Aqui a diferença entre kama (luxúria material) como uma doença do coração e kama (amor espiritual) em relação ao Senhor Supremo está apontada. Elas se distinguem uma da outra. A palavra kama aqui indiretamente conclui que todas as doenças do coração será rapidamente dispersa. É dito no Bhagavad-gita (18.54) : "Aquele que se situa na posição transcendental além da contaminação dos três modos da natureza (bhrama-bhuta), que está totalmente satisfeito no eu, que não lamenta nem anseia por nada, e que olha imparcialmente por todos os seres vivos, alcança para-bhakti em relação a Mim." Neste verso do Gita, diz-se que uma pessoa alcança para-bhakti somente após o desaparecimento das doenças do coração, mas no verso acima é dito que a pessoa alcança para-bhakti mesmo antes desse desaparecimento, por via de consequência, compreende-se que a audição e canto do rasa-lila é a forma mais poderosa de sadhana. Srila Visvanatha Chakravarti Thakura declara no seu comentário Sarartha-darsini em relação ao mesmo verso (10.33.39): anudinam va srnuyat.atha varnayet kirttayet svakavitaya kavyarupatvena nibadhniteti va.param prema laksanm prapyeti ktiva pratyayena hrd-rogavaty apy adhkarini pratham ataeva premanah pravesas tatas tat prabhavenaivacirato hrd roga nasa iti premayam jñana vaishnava-siddhantacharya-samraj iva na durbalam paratantras ceti bhavah.hrd-roga-rupam kamam iti bhagavad visayakah kama viseso vyavacchinnah tasya premamrta rupatvena tad vaiparityat.dhirah pandita iti hrd roge satyapi katham prema bhaved ity anastikya


laksanema murkhatvena rahita ity arthah.ataeva sraddhanvita iti sastravisvasinam namaparadhinam premapi nangikarotiti bhavah. O prefixo anu (repetida ou metodicamente) quando se aplica a palavra srnuyat (ouvir) indica uma audição constante. Através de continuamente se ouvir do shravana guru e Vaishnavas e depois disso recitar, narrar ou descrever (aqueles passatempos) em versos de sua própria composição, tal pessoa alcança para-bhakti ou em outras palavras bhakti que possui a natureza de prema (prema-laksana-bhakti). O sufixo ktva foi usado na formação do verbo pratilabhya (obtido) como se segue: prati + labh + ktva. De acordo com as regras da gramática sânscrita quando se aplica o sufixo ktva a uma raiz verbal que tenha prefixo , ele é substituído por yap. Em seguida a letra p cai e assim se obtém a forma final da palavra pratilabhya. O sufixo ktva se aplica ao primeiro dentre dois verbos executado pelo mesmo agente para demonstrar ação sucessiva ou seja, após obter prema, abandona-se todos os desejos luxuriosos do coração. Neste caso, a primeira ação é pratilabhya (obtenção de prema) e a segunda ação é apahinoti ( renúncia ao desejos luxuriosos do coração). Portanto, o sufixo ktva no verbo pratilabhya indica que embora a luxúria e outros males ainda permaneçam dentro do coração, primeiro prema-bhakti entra no coração, destruindo por sua extraordinária influência todos os vícios pela raiz. Em outras palavras ouvir e recitar rasa-lila possui um poder tão extraordinário que a luxúria no coração do sadhaka fiel é destruída e ele alcança prema. Embora os dois ocorram simultaneamente, a influência de prema se manifesta primeiro através de seu efeito, dissipam-se todos os desejos luxuriosos do coração. Dessa forma com o resultado de se ouvir e cantar as narrações do passatempo do Senhor, a pessoa primeiro vai alcançar prema pelos pés de lótus do Senhor e depois disso seu coração ficará livre dos desejos luxuriosos e de todas as contaminações. Em outras palavras tal pessoa se torna perfeitamente pura porque prema não é um processo débil como jñana e vaishnava-siddhantacharya-samraj. Bhakti é onipotente e supremamente independente. As palavras hrd-roga-kama indicam a diferença entre desejos luxuriosos do coração e kama em relação ao Senhor Supremo. Kama em relação ao Senhor Supremo é da própria natureza do néctar de prema (premamrita svarupa), ao passo que os desejos luxuriosos do coração são exatamente o oposto. Portanto, esses dois itens são diferentes um do outro. Isso está consubstanciado pelo uso das palavras hridroga-kama. A palavra dhira significa pandita, ou aquele que é versado no shastra. O que descrê das declarações deste verso e permanece pensando do seguinte modo: “Enquanto a doença da luxúria permanecer no coração, não se pode obter prema”, é dito que possui um temperamento ateísta. Aquela pessoa que está livre desta conduta tola e ateísta é conhecida como pandita ou pessoa sóbria (dhira). Conseqüentemente, apenas os que tem uma firme fé no shastra são conhecidos como dhira. Aqueles que não possuem fé nas declarações do shastra são ateístas e ofensores do Santo Nome. As pessoas que pensam que só após erradicar a luxúria é que poderão obter prema, elas mesmas nunca vão alcançar prema. Por consequência, apenas nos corações dos sadhakas (devotos fiéis) que acreditam nas declarações dos shastras, é que prema vai manifestar sua influência como resultado de ouvir o lila-katha. Portanto, tanto a luxúria quanto todos os males presentes dentro do coração dos devotos serão destruídos pela raiz pela força dessa audição. O comentário de Srila Visvanatha Chakravarti Thakura sobre o Srimad-Bhagavatam (10.47.59) também é relevante nesta discussão. Nesse verso se declara que bhakti é a única causa de qualidades superiores que se encontram em qualquer indivíduo. Austeridade, conhecimento, sabedoria e assim por diante, não são a causa de qualidades superiores. Embora bhakti em si esteja acima de tudo, ela não aparece apenas nos indivíduos excepcionais dotados com todas as boas qualidades. Pelo contrário, bhakti pode se manifestar ou permanecer mesmo nas pessoas mais condenáveis e indignas. Além do que bhakti faz com que pessoas totalmente desprezíveis e caídas alcancem todas as boas qualidades, tornando-se dignas de respeito por todos, podendo alcançar o mais elevado e raro desígnio.


Por esta razão, a opinião de que bhakti-devi entra apenas no coração depois que todos os anarthas, aparadhas, luxúria e outras doenças do coração tiverem sido totalmente erradicas, não encontra suporte nos shastras. Pelo contrário, pela misericórdia do Senhor Supremo ou de Seus devotos, ou através da execução de sadhana e bhajana com plena fé, a rara bhakti entra no coração e depois é que todos os anarthas se dissipam de modo natural – esta é a conclusão das escrituras. Portanto, apenas fiéis sadhakas com uma crença firme nas declarações dos shastras, guru e Vaishnavas são elegíveis para ouvir o lila-katha do Srimad Bhagavatam que estão repletos de rasa. E, no sentido oposto, aqueles que acreditam que apenas os sadhakas que estão completamente livres de todos os anarthas são elegíveis para ouvir os passatempos acima mencionados, sequer conseguirão se livrar dos seus próprios anarthas, nem estarão aptos para ouvir lila-katha, mesmo após milhões de nascimentos. Outro ponto a ser considerado é que se aceitássemos os argumentos contrários (de que apenas os que se livraram de todos os anarthas podem ouvir lila-katha) , então, nós, sadhakas que ainda estamos afetados pelos anarthas, embora possuidores de alguma fé, nunca poderíamos ouvir ou ler os livros sagrados deixados pelos acharyas Gaudiya Vaishnavas Rasika como Srila Sanatana Goswami , Srila Rupa Goswami, Srila Visvanatha Chakravarti e Srila Bhaktivinoda Thakura. Assim, estaríamos condenados a eterna privação sobre os temas que versam sobre as verdades extremamente confidenciais e elevadas de bhakti que foram faladas por esses acharyas. Não haveria, pois, nenhuma possibilidade de que acontecesse a ânsia por raganuga-bhakti que não poderia de outro modo ser desperta em nossos corações. Estaríamos assim eternamente frustrados em relação a esse assunto, até então, proibido sobre prema-rasa do mais munificente Sri Sachinandana, o outorgador de Krishna–prema. Qual seria então a diferença entre os Gaudiya Vaishnavas que se abrigaram em Sri Cheitanya Mahaprabhu e os outros Vaishnavas de outras sampradayas? Um terceiro ponto a se considerar é o que se segue. No Sri Cheitanya Charitamrita (madhya, 8.70) cita-se o seguinte verso do Padyavali: Krsna-bhakti-rasa-bhavita matih Kriyatam yadi kuto 'pi labhyate Tatra laulyam api mulyam ekalam Janma-koti-sukrtair na labhyate Aqui as palavras laulyam api mulyam ekalam ( de fato, o único preço a ser exigido é a ânsia) indica que este desejo raríssimo não pode surgir nem mesmo for força de atividades piedosas acumuladas durante milhões e milhões de nascimentos. Como pode em alguém então nascer esta vontade? As palavras Krishna–bhakti-rasa-bavita matih indicam uma pessoa cuja inteligência ou percepção foi desperta em relação a Krishna –bhakti-rasa. Aqui se responde que por simplesmente se ouvir fielmente as narrações dos passatempos de Sri Krishna saturados com rasa dos lábios de rasika Vaishnavas em que surgiu o Krishna– bhakti-rasa, ou através do estudo fiel e atento das literaturas relacionadas com os passatempos de Sri Krishna provindas desses rasika Vaishnavas pode ser obtida essa vontade. Não existe outras maneiras de fazer nascer esse anseio. Outro argumento, totalmente ilógico, que se dá é que atualmente não existem sadhakas que estejam totalmente livres dos anarthas e , portanto, ninguém é elegível, nem no futuro haverá alguém elegível . Deve-se entender que esse estado de libertação da luxúria e dos anarthas não é em si e por si a exigência que se faz para entrada em raganuga-bhakti. Muito pelo contrário, o único requisito para se entrar em raganuga-bhakti é o despertar do desejo em relação a madhurya (doçura). Saibam que não existe nenhuma certeza de que pelo simples cumprimento rotineiro das regulações de vaidhi-bhakti haverá o despertar automático do desejo por raganuga-bhakti. Em nenhuma parte das escrituras existe evidência disso. Portanto, o que temos que fazer é seguir ao pé da letra as instruções dos acharyas anteriores através de seus comentários sobre os versos mencionados do Srimad Bhagavatam que falam de raganuga-bhakti.


Pela inspiração de Sua Divina Graça Srila Guru-pada -padma nitya-lila pravista Om Visnupada astottara-sata Sri Srimad Bhakti Prajñana Keshava Gosvami Maharaja e os repetidos pedidos de muitos devotos que são como zangões, eu apresento Sri Venu-Gita ao leitores acompanhado com um significado aos comentários de Srila Chakravarti Thakura e Srila Jiva Gosvami chamados Sarartha Darsini e Sri Vaishnava Toshani, respectivamente. Ao ler este assunto com total fé, a ânsia por adentrar em raganuga-bhakti será, com certeza, germinado nos corações de devotos fiéis. Este em si é o próprio significado da vida humana.


MANGALACHARANA Namah om visnupadaya gaura presthaya bhutale Sri srimad bhakti prajñana Keshava iti namine Atimartya caritraya svasritananca paline Jiva duhkhe sadarttaya sri nama-prema dayine Eu ofereço minhas reverências prostradas ao meu mais adorável mestre espiritual Jagad Guru Om Visnupada 108 Sri Srimad Bhakti Prajna Keshava Goswami, o Acharya que é como um leão, que executou feitos extraordinários , que mantém seus dependentes com o máximo cuidado e afeição, cujo coração se enternece de compaixão pelo sofrimento das almas condicionadas que se afastaram de Sri Krishna e que distribui Sri nama-prema. Visvasya natha rupo'sau bhakti vartma-pradarsanat Bhakta-cakre varttitatvat cakravartty akhyaya bhavat Porque ele ilumina o caminho de bhakti para todos ( do mesmo modo que Visvanatha Mahadeva, o melhor entre os devotos), ele é conhecido como 'Visvanatha'. Devido a que ele alcançou a posição mais exaltada na comunidade de devotos, ele é conhecido como 'Chakravarti'. A partir do significado dessas duas palavras, seu nome se tornou ainda mais significativo como Visvanatha Chakravarti. ( a palavra chakra significa círculo ou roda e varti significa habitar. Assim Chakravarti significa aquele que reside num círculo ou comunidade. Neste caso a palavra varti também carrega o sentido de um eixo ou eixo de rodas sobre qual a roda gira. Assim, Chakravarti é aquela pessoa que é o eixo sobre qual a comunidade Vaishnava gira.) sri cheitanya mano 'bhistam sthapitam yena bhutale svayam rupah kada mahyam dadati sva-padantikam Quando Sri Rupa Goswami, o querido associado de Sri Cheitanya Mahaprabhu, vai me outorgar o abrigo de Seus pés de lótus? Ele estabeleceu Krishna–prema e o método de se obter Krishna–prema neste mundo, que é o desejo interno do coração de Sri Cheitanya Mahaprabhu. Vancha kalpatarubhyas ca kripa sindhubhya eva ca Patitanam pavanebhyo vaisnavebhyo namo namah Eu ofereço minhas reverências prostradas repetidas vezes aos Vaishnavas que são como árvores do desejo, satisfazendo os desejos de todos e que são como um oceano de misericórdia, purificando as almas caídas e condicionadas. venunada sudhavrstya niskramayyokti madhurim yasam nah payayamasa krsnasta eva no gatih O derramar do néctar na forma de melodia da flauta de Sri Krishna , que é perito nos vários passatempos esportivos por toda Vraja, faz com que Suas mais queridas vraja gopis deixem escapar o fluxo de doçura na forma de suas palavras que são suscitadas pelo êxtase de prema. Ele outorgou a nós a boa sorte de beber as declarações dessas gopis que são o nosso único e exclusivo abrigo. Namo maha-vadanyaya Krishna–prema-pradayate KrsnayaKrishna–cheitanya-namne goura tuise namah


Ofereço minhas prostradas reverências a Sri Gouranga Mahaprabhu, que é resplandecente com a compleição dourada , tendo assumido o sentimento e refulgência corpórea de Sri Radha. Ele é Gopijanavallabha, o Próprio Sri Krishna , levando o mais misericordioso nome de Sri Krishna Cheitanya que outorga a mais valiosa e rara mercadoria de Krishna–prema.

TEXTO UM sri shuka uvacha Ittham sarat-svaccha-jalam padmakara-sugandhina nyavisad vayuna vatam sa-go-gopalako 'cyutah sri -sukah uvacha- Sri Shukadeva Gosvami disse ( ou sriya shuka, o muito querido papagaio de Srimati Radhika disse); ittham- desse modo; sarat - da estação de outono belamente adornada; svaccha - claro; jalam - tendo água; padma-akara-dos lagos, lagoas e rios tais como o Yamuna, Kusuma-sarovara, Manasi Ganga, govinda-kunda e outros reservatórios de água repleto de flores de lótus; su-gandhina- com uma doce fragrância; nyavisat - Ele entrou; vayuna - pela brisa fragrante e fresca; vatam-ventilado; sa- com; goas vacas; gopalakah-e os vaqueirinhos; acyutah - o infalível Nandanandana Sri Krishna TRADUÇÃO Sri Shukadeva Gosvami disse: Desse modo, Ó Maharaj Parikshit, Sri Vrindavana tornou-se de extrema beleza devido a extraordinária decoração da estação de outono. Os lagos, lagos e rios estavam repleto de água doce e cristalina. Uma brisa fragrante e gentil soprava, levando o aroma da flor de lótus dos lagos. O infalível Nandananda Sri Krishna entrou nesta encantada floresta de Vrindavana, se fazendo acompanhar pelas vacas e gopas. COMENTÁRIO Shukadeva Gosvami explica as seis estações.(*) O verão e a estação das chuvas já passaram, e agora estamos no outono. Ao outono se segue o inverno e após vem vasanta, primavera. Embora Vrindavana esteja sempre em clima de primavera, existem algumas diferenças entre as estações. Este primeiro verso do Venu-Gita descreve a estação de outono. Uma vez que a estação de outono vem após a estação das chuvas, os lagos e rios ficam cheios de água pura e as flores de lótus estão em plena florescência. As abelhas estão “ beijando” as flores em suas andanças, daqui para ali, sorvendo o néctar. O ar está abundante e forte com a fragrância de várias flores beli, chameli , juhi e outras. É nesta Vrindavana que Krishna com os gopas e vaquinhas entram na floresta todas as manhãs. Balarama também está com Ele. As gopis de suas casas observam Krishna e Seus amigos entrarem na floresta, e assim entre amigas que compartilham do mesmo humor amoroso por Krishna, elas discutem os passatempos dEle.


Este verso descreve um passatempo matinal. Embora Krishna já tenha adentrado na floresta de Vrindavana, as gopis ainda estão vendo essa entrada na floresta e ouvindo a canção de Sua flauta em seus corações. Elas se juntaram em grupos específicos para conversar sobre Krishna e para expressar suas mentes para as outras gopis que compartilham do mesmo humor. Existem diferentes tipos de grupos (samuha).O termo samuha refere-se a um grupo genérico que consiste tanto de gopis mais velhas na rasa de afeição de pais, como gopis mais jovens que têm uma relação conjugal com Krishna. Dentro desses grupos existem muitos partidos (yutha). Cada yutha possui uma uythesvari ou líder. Srimati Radhika é a líder de um partido de gopis, Chandravali é a líder de outra e Shyama, Bhadra, Chitra e às vezes Lalita e Vishakha são líderes de outros partidos. Dentro desses partidos(yutha), as gopis se dividem em partes ainda menores que consiste naquelas que estão experimentando o mesmo bhava ou sentimento amorosos em relação a Krishna. Dentro dessas pequenas facções (ganas), as gopis revelam seus corações umas às outras. Desse modo, elas ficam absortas nesse passatempo em particular e são capazes de realmente vê-lO em seus corações. As gopis não se recordam de seus lares, de seus corpos físicos ou de qualquer coisa material. Elas só vêem a Krishna e os passatempos com Ele, embora elas estejam em casa e Ele esteja na floresta com as vaquinhas e os vaqueirinhos.

 Na Índia, de fato, existem 6 estações, após o verão a estação das chuvas e após o inverno a estação secaa cada 2 meses há uma estação distinta.

Esses passatempos ocorrem no outono (sarat), entre o verão e o inverno. As flores estão desabrochando e o peso de suas fragrâncias tornam o ar tão pesado que até mesmo o simples mover-se nesse ambiente é dificultoso. Qualquer um que tente correr nessa atmosfera encontra dificuldade. Por estarmos no outono o ar também se encontra ligeiramente frio. Jayadeva Gosvami escreveu um belo poema que traz as seguintes linhas: dhira-samire yamuna-tire vasanti vane vana-mali. dhira - samire significa que a brisa sopra agradavelmente; yamuna-tire significa às margens do rio Yamuna. Embora as gopis estejam em suas casas no povoado, elas podem ver Krishna às margens do Yamuna dentro de seus corações por estarem absortas na lembrança dos passatempos dEle. Por terem entregue seus corações e toda atenção a Krishna, elas se tornaram ansiosas e todos os sintomas de êxtase se manifestam. No primeiro verso do Venu-gita, as gopis descrevem tanto o cenário de Vrindavana quanto a beleza de Krishna no momento que Ele se embrenha na floresta com milhares de vaquinhas e vaqueirinhos (sa-gogopalako 'cyutah) . Acyuta significa que Krishna é infalível. O Seu semblante é formoso. Ele está inquieto e isso por sua vez faz com que as gopis fiquem ansiosas. Krishna rouba seus corações (viksipta-manasonrpa) e os leva dentro de Seu próprio coração . Assim as gopis perdem os sentidos; seus corações estão com Krishna. As gopis expressam purva-raga, o humor da expectativa do encontro com Krishna. Existem dois tipos de purva-raga, um do sadhaka que pratica raganuga-bhajana e outro do devoto siddha. O raganugasadhaka só pode experimentar uma sombra ou aparência de purva-raga, mas os vrajavasis experimentam a purva-raga genuína. Quando Srimati Radhika encontra Krishna, Ele pensa que é a primeira vez que O está vendo e Krishna pensa que nunca antes encontrou Radhika. Radha e Krishna são nitya-navina. Eles são sempre viçosos. Os raganuga-sadhaka só podem vivenciar purva-raga quando visuddha-satva(bondade pura) entra em seus corações . Até esse momento chegar, ele experimenta purva-raga apenas de um modo teórico. Quando o saddhaka alcança o estágio siddha, ele pode vivenciar tudo em sua forma pura.


Tanto o Srimad-Bhagavatam quanto o Bhihad Vamana Purana explica que as gopis ao ouvirem a flauta de Krishna dividem-se em três tipos: as kaya-vyuha de Srimati Radhika, as nitya-siddhas e as sadhana-siddhas. As gopis que pertencem a categoria de kaya-vyuha não são jiva-tattva. Elas são expansões corpóreas de Srimati Radhika que é uma personificação de hladini-shakti. As gopis nitya-siddha são jiva-tattva que se manifestam a partir de Baladeva Prabhu. Elas em tempo algum estiveram condicionadas. As gopis sadhana-siddha são de dois tipos: yauthaki e ayauthaki. A palavra yauthika significa que pertencem a um grupo (yutha) ou, em outras palavras, membro de um partido. As gopis yauthaki pertencem a um partido específico e as ayauthaki não . As gopis yauthaki se subdividem em duas categorias: shruti cari e rsi cari ou muni-cari ( os sábios que meditaram em Dandakaranya). As gopis sruti-chari praticaram raganuga-sadhana por muitos milhares de anos e elas satisfizeram o Senhor através da oferenda de belas preces. Pela graça do Senhor, elas alcançaram a associação de devotos avançados ao nível de Rupa Gosvami e Raghunatha das Gosvami e desenvolveram no passado o estágios de shraddha, nistha, ruchi, asakti e bhava. Quando elas chegaram ao estágio onde o bhava está prestes a se converter em prema, elas deixaram seus corpos e nasceram nos ventres das gopis em Vrindavana. Em seguida se associaram com devotos nitya-siddhas e tornaram-se aptas a se juntar na dança da rasa e outros lilas. As gopis rsi-chari não praticaram em sua plenitude o raganuga-bhajana. Não se tornaram siddha. Elas alcançaram o nível de suddha-sattva através da meditação. Elas também possuem lobha (ânsia) por bhajana como o de Rupa e Raghunatha Gosvamis. Quando viram o Senhor Ramachandra, seus desejos se tornaram ainda maior e o seu próximo nascimento se deu no ventre de gopis, pela misericórdia do Senhor. Segundo a qualificação anterior, algumas das gopis rsi-chari receberam a associação de devotos nityasiddha e algumas não receberam. Aquelas que receberam associação das gopis nitya-siddha se purificaram através dessa associação e assim se tornaram aptas a juntarem-se a dança da rasa. Aqueles que não se associaram com as gopis nitya-siddha foram retidas por yogamaya. Tanto as gopis srt-cari como as gopis rsi-chari são gopis yathaki - eles pertencem a partidos especiais segundo o bhava ou humor de serviço a Krishna. As gopis ayauthaki são as filhas dos semideuses. Todas elas desenvolveram lobha (desejo) de se associar com Krishna em humor conjugal por ouvir e ver os passatempos de Krishna. As gopis yauthaki são praticantes sob a guia de gopis nitya-siddha. Quando Krishna chamou as gopis a floresta no meio da noite para a dança da rasa, apenas aquelas gopis que tinham alcançado a perfeição foram capazes de ir. Pela influência de yogamaya, as gopis nityasiddha não possuem um relacionamento verdadeiro com seus maridos e elas não possuem filhos. Portanto, elas são capazes de ir a Krishna. As gopis menos avançadas tem relacionamento com seus maridos e assim elas são embaraçadas por eles. Pela influência de yogamaya, essas gopis são impedidas de ir a Krishna para a dança da rasa, no entanto, devido elas experimentarem purva-raga intensa e por causa do desejo de se associarem com Krishna, o fogo da separação queima o bom e mal karma delas e elas ficam purificadas. O purva-raga delas é tão forte que pelo simples ouvir da flauta de Krishna, elas ficam absortas na lembrança de Krishna em profunda separação. O Srimad Bhagavatam 10.29.10 declara: duhsaha-prestha-virahativra-tapa-dhutasubhah . "Para aquelas gopis que ficaram confinadas em suas casa, a separação intolerável distante de seu amado causa uma intensa agonia que queima lentamente todo karma ímpio. "Sri Visvanatha Chakravarti explicou que seus corpos eram em parte material e em parte chinmaya (espiritual). A base de seu karma impiedoso (asubha) era que elas tinham alguma atração por seus maridos e filhos e pelos afazeres do mundo. Contudo , o fogo da separação lentamente queimava tudo. Krishna apareceu a elas nesse momento e elas O


retiveram em seus olhos e O trouxeram em seus corações, abraçando-O tão intensamente que tanto o karma piedoso quanto o impiedoso desapareceram (praksina-bandhanah). O karma impiedoso delas desapareceu, mas Sri Visvanatha Chakravarti nos diz que o subha karma também desapareceu. O que é esse karma piedoso? Asubha significa apego ao mundo; subha significa elogio, riqueza, reputação, seguidores - tudo que de forma automática vem quando se pratica bhakti. Ambos os karmas são obstáculos em bhakti. No caso dessas gopis, seus maridos e outros parentes as amava muito, e o apego delas a esse subha karma era um obstáculo que desapareceu quando elas puseram Krishna em seus corações. Atualmente , temos tanto subha quanto asubha karma. Sri Visvanatha Chakravarti Thakura explica esses dois karmas totalmente no Bhakti-rasamrita-sindhu-bindu e no Madhurya kadambini. Os anarthas nessas obras foi dividido em categorias: sukrti-uttha, duskrta-uttha, bhakti-uttha, aparadha-uttha. Duskrtautta significa que estamos embaraçados em muitos prazeres e sofrimentos de nossos corpos. Devido a estarmos corporificados, sofremos de tantas maneiras, e isso aparece para trazer obstáculos a nossa bhakti. Quando todos os anarthas tiverem sido dissolvidos do coração , então suddha-bhakti pode entrar. No caso das gopis rsi-chari, nem tudo desapareceu pela prática de raganuga-sadhana; elas ainda retêm uma pequena quantidade de subha e asubha karma. As gopis sruti-chari estavam numa posição diferente porque através da associação delas com os devotos nitya-siddha, elas estavam totalmente livres tanto das atividades piedosas quanto impiedosas. Como resultado, elas eram capazes de ir a Krishna quando Ele as chamava com Sua flauta. Essas gopis não eram almas comuns. Elas foram capazes de meditar em Krishna vinte e quatro horas por dia em purva-raga. As gopis no Venu-gita passaram por todos os estágios de sadhana e alcançaram prema.


TEXTO DOIS kusumita-vanaraji-susmi-bhrngadvija-kula-ghusta-sarah-sarin-mahidhram madhupatir avagahya carayan gah saha-pasu-pala-balas cukuja venum

kusumita- em floração; vana-raji -entre as fileiras de árvores da floresta; susmi - enlouquecido; bhrngacom abelhas; dvija- de pássaros; kula-e rebanhos; ghusta - ressoando; sarah sarit- seus lagos, lagoa e rios; mahidram - Govardhana, Nanda-gaon e todas as outras colinas; madhu-patih-akdhila-rasamrta-sindhu Sri Krishna (aqui madhu significa rasa; portanto, madhu-patih, refere-se ao rasika Krishna que é o oceano de néctar na forma da rasa completa); avagahya - entrando e banhando-se; cararyan- enquanto pastoreando (pastorear); gah - as vacas; saha-pasu-pala-balah- na companhia dos animais, os vaqueirinhos e Seu irmão mais velho, Balarama; cukuja- vibrou; venum - sua flauta TRADUÇÃO As abelhas intoxicadas zuniam daqui para ali entre as fileiras de verdes árvores exuberantes repletas de fragrantes e belas flores. Todos os lagos, rios e colinas da floresta ressoavam com o doce e melodioso arrulhar dos bandos de vários pássaros. Madhupati Sri Krishna, acompanhado por Baladeva e os gopas, entraram nesta floresta e, enquanto pastoreavam as vacas, vibravam uma doce melodia de Sua sedutora flauta. COMENTÁRIO Este verso descreve como as abelhas enlouqueceram pela fragrância de kamala, beli, chameli, juhi e todas as outras flores recém florescidas. As abelhas estavam intoxicadas ao saborear o madhu ou mel das flores. Gradualmente como elas voavam de flor em flor, elas perdiam sua discriminação devido a intoxicação e aterrizavam em qualquer flor, sem considerar sua qualidade. Krishna é da mesma classe das abelhas, e portanto Ele é mencionado neste verso como Madhupati, o Senhor de madhu. Krishna é o maior entre as abelhas, contudo Ele é da mesma natureza e possui a tez como das pequenas abelhas. Quando as gopis vêem as abelhas em Vrindavana, elas se lembram de Krishna. Elas vêem as abelhas enlouquecidas voando da fragrante flor kamala para uma flor que não possui fragrância , e isso relembra a elas de como Krishna saboreia as gopis e então, após se intoxicar da associação delas, perdendo Sua discriminação, vai Se encontrar com Kubja. As gopis acham que Krishna está cego ou dominado por um sonho, num estado de intoxicação similar ao das abelhas. Uma vez que as abelhas não possuem discriminação, elas vão se sentar numa flor de lótus para beber o mel mesmo que as flores estejam para se fechar. A lótus se fecham e as abelhas ficam presas dentro. Elas estão tão intoxicadas que sequer lutam para se livrar . Do mesmo modo, Krishna vai de uma linda gopi, que é como uma flor, a outra gopi, então, Ele esquece as gopis e vai até kubja e outras mulheres. Kusumita-Vanaraji , Vrindavana está repleta dessa variedade de flores. Usualmente, as árvores como a mango e jambu não florescem no outono, mas nessa época, flores de todas as estações se encontram resplandecentes e as árvores estão carregadas de frutas. As gopis vêem as flores e as abelhas que voam daqui para ali, e elas também vêem os pássaros (dvija-kula) - cucos, pavão e pássaros papiha (uma espécie comum de cuco) . O pássaro papiha faz um som que se assemelha a "pikaha". Pi significa priyatam, "onde está meu amor? Onde está meu amor?" E os cucos gritam, "Ku hoo, ku hoo." De fato, ku refere-se a Krishna. O pássaro está impaciente porque não pode ver Krishna .


Cada palavra do Bhagavatam é néctar condensado. A palavra "cuco" nos faz lembrar de um anayaka e nauika, Um amante e sua amada. Segundo o Bhakti-rasamrita-Sindhu, a lembrança que se chama tecnicamente de uddipana, é um estímulo para o despertar de rasa no humor de lembrança de Krishna. A flauta de Krishna, os pavões, os pássaros e as abelhas nos trazem a lembrança dos passatempos de Krishna em Vrindavana. Os pavões macho e fêmea cantam ke ka ke ka. O macho grita "ke", Radha. Quando Krishna entra na floresta pela manhã, Srimati Radhika experimenta mana (ira ciumenta) , e ela também está tímida por encontrar-se com Krishna porque existe tantas pessoas presentes de um bhava (virudha) oposto. A sogra dela, cunhada, marido e outros parentes estão presentes e eles vão criticá-la. Ela fica suportando a ascensão de seu próprio bhava na presença de tantas pessoas. Contudo, quando Ela ouvir a flauta de Krishna e observar que Ele lhe lança um olhar, Ela vai encontrar Krishna . Krishna A chama através do som da flauta dEle e devido a beleza dEle, Ele induz Ela a sobrepujar todos os obstáculos e encontrá-lO na floresta. O pavão fêmea está gritando "ka"- Krishna é um elefante que só pode ser controlado por Srimati Radhika. Portanto, quando os pavões chamam uns aos outros, eles incrementam a rasa - ajudam Krishna a lembrar de Radhika e Radhika lembrar de Krishna. Ghusta-sarah-sarin-mahidhram: os pássaros cantam em toda parte de Vrindavana, e a fragrância das flores penetram na atmosfera. O Yamuna( que é um rio feminino) fica tomada de alegria quando ouve a canção da flauta de Krishna e o vê-lO entrar na floresta com as vacas e os vaqueirinhos (madhupartir avagahya crayan gah saha- pasu -pala- blas cukuja venu ). Quando eles entraram na floresta, só Krishna tocava a flauta, enquanto os outros meninos ouviam ou cantavam junto. Este ponto será melhor esclarecido no capítulo: anu-venu-justam (texto 7)


TEXTO TRÊS tad vraja-striya asrutya venu-gitam smarodayam kascit paroksam krsnasya sva-sakhibhyo‟ nvavarnayan

tat- este, vraja-striyah-as jovens mocinhas (kishoris) na aldeia de pastores de Vraja, asrutya- ouvindo, venugitam - a canção da flauta, smara-udayam - instigando um desejo intenso dentro do coração para se encontrar com Krishna , kascit- algumas delas, paroksam- privadamente ( As gopis se encontram num local privado onde Krishna não estava presente. Nem outras pessoas ali estavam, tais como as sogras ou outros membros familiares das gopis), krsnasya- as amadas gopis de Krishna , sva-sakhibhyah- para companhia íntima delas, anu-avarnayam- continuamente descrito (enquanto num estado de tadatma- identificação completa com Krishna ) TRADUÇÃO O som da flauta desperta sentimento de amor em relação a Krishna e um desejo intenso de encontrar com Ele. Quando as gopis ouvem aquele som, seus corações ficam tomados de prema. As gopis se tornam totalmente apaixonadas e, num local retirado, elas começam a descrever a forma e qualidade de Sri Krishna e a poderosa influência da Sua flauta em Seus amigos íntimos. Krishna controla toda entidade viva através de Sua flauta. Quando as ordenhadeiras ouvem a canção de Sua flauta, elas de imediato vem correndo na direção dEle. Mesmo a natureza é controlada pela flauta de Krishna. Quando ela (a natureza) ouve a canção da flauta , todas as árvores e flores brotam e criam uma bela atmosfera para as trocas amorosas. Os gopas e as gopis também ficam enlouquecidos pelo som da flauta de Krishna (tad vraja strya asrutya venu-gitam smarodayam). Quando se fala esses versos, as gopis não ouvem o som da flauta de Krishna. Krishna já partiu para a floresta. Portanto, as gopis lembram-se da canção da flauta em suas mentes e corações. Smaradayam significa que kamadeva, o cupido, está aparecendo. As gopis lembram de seus passatempos conjugais com Krishna. Kama significa prema, contudo não é prema comum. Quando as gopis experimentam kama, elas querem encontrar Krishna e Krishna deseja encontrá-las. Elas se tornam loucas em smara ( recordações de suas trocas conjugais com Sri Krishna ). Nisto, kascit paroksam Krishnasya sv-sakhibhyo nvavarnayan quando um pote está cheio ele transborda. Do mesmo modo, quando as gopis se tornam preenchidas pelo som da flauta, elas começam a discutir os passatempos e qualidades de Krishna com outras gopis. Elas ficam loucas devido ao amor. Embora elas tentem falar, não conseguem falar de uma maneira ordenada : elas discutem seus diferentes passatempos com Krishna segundo as ondulações do bhava delas. Quando as gopas ouvem o som da flauta de Krishna elas pensam que é lindo, mas o som da flauta de Krishna possui um efeito muito diferente nas gopis. De fato, as vacas, os gopas e as gopis estão todos ouvindo os seus próprios nomes no som da flauta. "Krishna está me chamando!" Radha ouve, "Radhe! Radhe!" Lalita ouve, "Lalite! Lalite!" e cada uma das vacas ouve seu próprio nome e pensa que Krishna está chamando por ele. Cada gopi pensa que a canção da flauta é uma representante de Krishna (pratinidhi). Krishna enviou o representante na forma dessa canção que entra em seus ouvidos e rouba suas mentes e corações. Nisto o som carrega aquelas mentes e corações de volta a Krishna. Quando as gopis vêem que suas mentes e corações foram roubados por Krishna, elas na hora correm atrás do ladrão que os roubou. O único que importa é perseguir o ladrão. Madhupatir avagahya carayan gah saha-pasu-pala balas cukuja venum: Madhupatir é Krishna. O madhu de Seus lábios está entrando na flauta e está sendo transformado em néctar (batido). E esse néctar


que entra nos ouvidos das gopis e as faz ficar loucas de amor por Krishna. Este verso declara: tad striya asrutya venu-gitam smarodayam kascita paroksam Krishnasya sv-sakhibhyo nvavarnayan

vraja-

Ao se beber esse madhu, néctar, dos lábios de Krishna através do veículo de vamisi, elas ficam loucas com kama (smaraudayam). Smara significa prema , mas especificamente, é a posse de kamanuga ou gopis Kamatmika. Kama é visuddha prema -1. As gopis são como xícaras repletas de néctar. Quando transbordam , elas começam a discussão sobre os passatempos e qualidades de Krishna, entre as gopis de um bhava similar. Elas conversam sobre Krishna , sobre a Sua flauta, tudo sobre Krishna. Krishna já entrou na floresta e elas não podem de fato ouvir a canção da flauta, mas elas ouvem em suas mentes. Quando eu era jovem, eu costumava ir entre às 18 horas até às 4 horas ver dramas teatrais baseados no Ramayana. Quando terminava e estávamos no caminho para casa, ainda podíamos ouvir o som em nossos ouvidos. Esse é um exemplo de como as gopis ouvem o som da flauta de Krishna, muito embora elas estejam em casa e ele tenha ido para a floresta. 1-No estágio de bhava, visuddha-sattva é injetada no coração do raganuga sadhaka pelos associados eternos ragatmika do Senhor que residem em Goloka Vrindavana. Então ele se torna sthayibhava. Após isso os elementos de vibhava, anubhava, sattvika-bhavae vyabhicari-bhava se misturam com o sthaytbhava. No estado de bhava esses elementos serão experimentados somente no pequeno grau. O sadhaka não pode experimentar além desse estágio no corpo atual. Após abandonar esse corpo , o sadhaka que tenha alcançado esse estágio nasce no prakata-lila do Senhor. Ali ele pode alcançar prema, que se desenvolve em sneha , mana, pranaya, raga, anuraga, bhava e Mahabhava. Visuddha prema refere-se a este desenvolvimento de prema desde seu estágio inicial (simplesmente chamado prema) até Mahabhava.


TEXTO QUATRO tad varnayitum arabdhah smarantyah krsna-cestitam nasakan smara-vegena viksipta-manaso nrpa

tat- esta ( a doçura da flauta de Krishna ), varnayitum- descrever, arabdhah- iniciando, smarantyahlembrando (i.e., mexer e voltar repetidamente com suas mentes), krsna-cestitam- as atividades de Krishna (que atrai os corações de todos), na asakan- elas são incapazes, smara-vegena- pela força de seu prema que está repleto com kama para o encontro com Krishna , viksipta- agitado, manasah- cujas mentes, nrpa- Ó Rei Pariksit

TRADUÇÃO

As gopis de vraja começam a descrever a doçura do som da flauta de Krishna entre elas, mas assim que elas se lembram da flauta, elas ficam tomadas com fortes sentimentos de afeição pelo amado, Sri Krishna. Assim elas se lembram de suas atividades fascinantes, sobrancelhas artisticamente curvadas, seu olhar compelindo cheio de amor e Seu doce e suave sorriso. Os corações delas ficam plenos de um imenso desejo de se encontrar com Shyama. Elas por completo perdem o controle de suas mentes e de imediato elas chegam antes de Sri Krishna dentro de seus corações. Suas vozes ficam abafadas de êxtase e assim elas não são capazes de descrevê-lO .

COMENTÁRIO Tad varnayitum arabdhah: as gopis começam a discussão dos passatempos de Krishna (Krsnacestitam). Embora elas estejam experimentando purva-raga , elas também experimentam a presença de Krishna por conversar sobre os passatempos delas com Ele. Em geral, quando um devoto experimenta purva-raga (separação) ele não experimenta a presença de Krishna simultaneamente. Esses são humores contraditórios. Contudo, as gopis saboreiam ambos os humores simultaneamente. O Srimad Bhagavatam descreve que por lembrar e discutir os passatempos de Krishna, as gopis enlouquecem pela força ascensional do cupido. Elas se lembram dos graciosos passos de dança(lalitagati), de Seu belo sorriso e Sua encantadora conversa com elas. Elas se lembram, por exemplo, como Srimati Radhika foi ao Kusuma-sarovara para colher flores com Lalita e Vishakha. Krishna desejava encontrar-se com Ela, assim ele também foi ao kusuma -sarovara. Quando Ele a viu, ele perguntou: "Quem é você? Ela respondeu: "Você não sabe quem eu sou? Por que você fala isso? " Krishna queria conversar com Radhika e sob este pretexto, Ele incitou uma discussão . Srimati Radhika disse: "Não, eu é que não sei quem Você é. Por que Você me pergunta quem sou Eu?" Krishna : "Você é uma ladra. Você está roubando Minhas flores." Radha: “Você é que é o verdadeiro ladrão . Você destrói as flores de Vrindavana ao conduzir as vacas nas florestas e permite que as vacas e os vaqueirinhos esmaguem essas flores. Nós, as gopis, plantamos essas flores, assim por que Você alega serem Suas as flores?"


Desse modo, Radha e Krishna discutem. As gopis lembram-se este passatempo junto com muitas outras conversas entre Krishna e as gopis. E elas se lembram como Krishna dança tão graciosamente e como ele fala de um modo que prende os corações das gopis a Ele. Elas desejam discutir essas coisas entre elas (nasakan smara-vegena viksipta-manaso), contudo devido que o prema delas está repleto de kama do desejo de se encontrar com krishna , saborear Krishna e ser saboreada por Krishna , elas não conseguem falar.

TEXTO CINCO barhapidam nata-vara-vpuh karnayor karnikaram bhibhrad vash kanaka-kapism vaijayantim ca malam randhran venor adhara-sukhayapurayan gopa-vrndair vrndaranyam sva-pada -ramanam pravisad gita-kirtih

barha- uma pena de pavão, apidam- como decoração na cabeça, nata-vara- do melhor entre os dançarinos (ou sem paralelo em intrigas ou galanteios amorosos), vapuh- o corpo transcendental, karnayoh- nas orelhas, karnikaram- uma flor similar a lótus amarela, bibhrat- usando, vasah- vestimentas, kanaka- como ouro, kapisam- amarelado, vaijayantim- chamado vaijayanti (uma guirlanda ensartadas de flores de cinco cores diferentes e que se estende até os joelhos), ca- e, malam- a guirlanda, randhran- os buracos, venohda flauta, adhara- de Seus lábios, sudhaya- com o néctar, apurayan- preenchendo, gopa-vrndaih- pelos vaqueirinhos, vrnda-aranyam- a floresta presidida por Vrinda devi ( a floresta de Vrindavana), sva-padadevido as marcas incomuns de Seus pés de lótus, ramanam- encantando, pravisat- Ele adentrou, gita- sendo cantado, kirtih- Suas glórias

TRADUÇÃO De início as gopis começaram a ver Krishna dentro de suas mentes. Acompanhado com seus amigos vaqueirinhos. Sri Krishna Se embrenhou na encantadora floresta de Vrindavana. Sua cabeça se encontrava decorado por uma pena de pavão. Ele ostentava flores karnikara sobre Suas orelhas e uma roupa amarela dourada em Seu corpo, além de uma bela e fragrante guirlanda vaijyayanti em torno de Seu pescoço Sri Krishna exibia Sua aparência supremamente cativante, do mesmo modo que o melhor entre os dançarinos ao se exibir no palco. ele preenchia os buracos de Sua flauta com o néctar de Seus lábios. Os vaqueirinhos O seguiam cantando Suas glórias que purificam todo o mundo. Deste modo, a floresta de Vrindavana manifestava um esplendor ainda maior que o apresentado em Vaikuntha, devido a que Vrindavana estava em bem aventurança pelas marcas dos pés de lótus de Krishna .


Comentário Descreve-se Krishna como usando um ornamento de pena de pavão em Sua cabeça. A pena de pavão possui sete cores primárias, do mesmo modo que as cores do arco-íris. O arco-íris sempre aparece numa posição oposta ao do sol, em um dia nublado o arco-íris apresenta uma beleza especial. Do mesmo modo, Krishna possui o tom de um arco-íris recém formado. Ele é shyama, azul escuro. Quando uma nuvem está repleta de água, ela ficara escura. O clarão de relâmpagos vem e vão. Esses claros são o pitambhara (dhoti amarelo), e o arco-íris da pena de pavão é um mukuta (ornamento) que fica no turbante de Krishna . Descreve-se Krishna também aqui como nata-vara, o melhor entre os dançarinos. No teatro dramático indiano, o início do programa se dá com um jovem casal dançando antes do espetáculo propriamente começar, com a finalidade de encantar a audiência. O jovem casal se veste belamente e iniciam a dança. Isso se chama nata. Quando eles aparecem diante da platéia, todos silenciam e prestam toda a atenção. Krishna se chama o melhor entre os dançarinos. O senhor Shiva também é conhecido como dançarino (nata raja), como também são assim conhecidos os Gandharvas e os semideuses, contudo Krishna aqui é descrito como o melhor, vara. Em Hindi, vara significa o jovem noivo. Mesmo um jovem feio fica parecendo belo no dia de seu casamento. Seus parentes, vão decorá-lo com ouro e ornamentos para fazer com que ele pareça bonito. Krishna nos três mundos é o mais belo rapaz entre todos. Ele é tão belo quanto “ um elefante enlouquecido”. Às vezes Ele coloca uma flor karnikara sobre uma de suas orelhas. Sri Visvanatha Chakravarti Thakura explica em seu comentário a este verso: “ Somente uma flor karnikara é usada. A palavra kanayoh (orelhas) está no caso dual, o que indica que às vezes a flor está colocada na orelha esquerda e às vezes na direita. Ele a usa desse modo, com uma expressão da intoxicação de Sua juventude e assim as atividades de Krishna agita muitíssimo a influência do cupido para aquelas jovens ordenhadeiras”. karnikaram bibhrad vasah kanaka kapisam vaijayantim ca malam. O seu dhoti amarelo (pitambhara, knaka kapisam) é mais belo que o ouro. Sua guirlanda vaijayanti, que consiste de uma combinação de cinco tipos de flores diferentes, que pende de Seu pescoço até Seus joelhos. É de uma doce fragrância repleta de tulasi manjaris e por isso atrai as abelhas. Randhran venor adhara sudhayapurayan: Krishna preenche Sua flauta com o néctar de Seus lábios. O venu é masculino , ainda assim ele saboreia a doçura dos lábios de Krishna , contudo a flauta não consegue segurar este néctar, que de imediato seca na forma do som. Este é um verso famoso e é o melhor shloka em todo o Srimad Bhagavatam no que se refere a lembrança de Krishna . Existem três shlokas no Srimad Bhagavatam que são considerados análogos, embora exista alguma gradação entre eles. Junto a este verso, existe os versos 10.14.1 e 10.23.22: sri brahmovaca naumidya te‟bhra vapuse tadid ambaraya gunjavatamsa paripiccha laso mukhaya vanya sraje kavala vetra visana venu laksma sriye mrdu pade pasupangajaya “O senhor Brahma disse: Ó Senhor, você é quem pode receber a adoração de todo o universo. Ó filho do rei dos vaqueirinhos, Seu corpo transcendental é de um azul escuro como uma nuvem recém formada, suas roupas são brilhantes como relâmpagos e a beleza de Seu rosto aumenta pelos Seus brincos gunja e a pena de pavão de Sua cabeça. usando guirlandas de flores diversas de diferentes florestas e usando um bastão de pastorear, um chifre de búfalo, uma flauta e um punhado de grãos misturado com iogurte em Sua mão, Você é muito atrativo. Seus pés de lótus são muito macios. eu ofereço minhas preces a Você.” O outro verso:


syamam hiranya paridhim vanamalya barha dhatu pravala nata- vesam anuvratamse vinyasta -hastam itarena dhunanam abjam karnotpalalaka kapola mukhubja hasam “Sua tez era negra , shyama, como uma nuvem de chuva recém formada e Sua roupa dourada. Decorado com uma pena de pavão, minerais coloridos, hastes de botões de flores e uma guirlanda de flores e folhas da floresta. Ele estava vestido com o melhor de todos os dançarinos. ele repousava Seu braço esquerdo sobre os ombros de um amigo e com sua mão direita, girava uma flor de lótus como passatempo, e lírios ornamentavas Suas orelhas, Seus cabelos caiam sobre Suas bochechas e Sua face de lótus sorria docemente.” Estes três shlokas possuem uma gradação, a prece de Brahma é o início, as esposas dos yajnis brâmanes estão no meio e o ápice se alcança na descrição de Krishna pelas gopis. Nos seguimos as gopis, não Brahma ou as dvija patnis, eles também são avançados , mas nos desejamos apenas seguir as gopis. As descrições parecem similares, mas cada verso revela um sabor diferente ou ambição no narrador. Cada um deles descreve a beleza de Krishna , contudo Brahma adora Krishna com dasya rasa. Krishna se encontra no topo do Monte Evereste e Brahma se posiciona na base da montanha em dasya rasa olhando para cima, ele é tão avançado que consegue ver o cume da montanha mesmo estando na base, assim ele está olhando Krishna como seu servo humilde. Portanto, ele oferece reverências em sua prece: “Krishna , Você é o mais elevado e eu sou seu servo caído” As dvija-patnis, contudo, não estão oferecendo reverências a Krishna . Elas tem algum gosto por vraja rasa, elas encontram Krishna nos limites de Vrindavana e Mathura. Portanto , elas estão mais próximas de Krishna . A ambição delas é entrar nos passatempos de Krishna em Vrindavana. Estando na fronteira de Vrindavana e Mathura significa que elas estão numa posição marginal. Elas são residentes de Mathura assim elas possuem alguma aishvarya bhava, porém, elas também possuem laulyam pelo humor e passatempos de Krishna de Vrindavana. A ânsia delas é uma centena de vezes mais forte do que a de Brahma e portanto elas podem entrar em alguns passatempos de Krishna ao oferecer a Ele e Seus amigos vaqueirinhos algo para comer. As dvija patnis são capazes de cruzar a fronteira entre aishvarya bhumi e madhurya bhumi e ver Krishna como um belo vaqueirinho. Por esta razão, elas não oferecem reverências como Brahma o fez. As dvija patnis ainda não vivenciaram seus athayi bhava. elas seguem na trilha das kamatmika gopis, por elas terem nascido em Mathura na família de brâmanes elas se deparam com um obstáculo em sua adoração no humor de Vrindavana . elas são no momento atual kamanugas (aspirando seguir as kamatmikas gopis); em suas próximas vidas, elas nascerão no ventre de vraja gopis e elas próprias se tornarão kamatmika gopis. Devido a que elas não encontraram sabor na adoração a Krishna em Mathura , e uma vez que elas seguem as kamatmikas gopis nesta vida dia, todo o karma , tanto piedoso como impiedoso delas, serão queimados e elas poderão nascer em Vrindavana segundo desejam. A descrição dada pelas gopis é a melhor entre os três versos. O Senhor Brahma descreve a formosa beleza corpórea de Krishna como sendo uma nuvem de chuva recém formada (abra sekam). Tanto o Senhor Brahma quanto as dvija patnis descrevem a tonalidade corpórea de Krishna , as gopis vêem Krishna através de um olhar diferente. todos os três versos descrevem a guirlanda vaijayanti de Krishna ou Sua flor ou Seu dhoti amarelo, mas Brahma não descreve o sorriso na face de Krishna , nem Krishna quando toca Sua flauta. Brahma vê a flauta de Krishna presa em sua cinta junto com sua vara de pastorear e Sua corneta (vanya sraje kavala vetra visana venu). A descrição dada por Brahma de Krishna não é tão bela quanto a que fornece as brâmanes. A flauta também não está presente na descrição dada pelas dvija patnis, ao invés disso elas concentram-se na descrição da face de Krishna , Sua tez e as decorações da floresta que Ele usa:


syamam hiranya paridhim vanamalya barha dhatu pravala nata- vesam anuvratamse vinyasta -hastam itarena dhunanam abjam karnotpalalaka kapola mukhubja hasam Krishna está tocando Sua flauta apenas na descrição que nos fornece as gopis, Elas descrevem o sorriso de Sua face e como néctar de Seus lábios secam pelas fendas da flauta: randhran venor adhara audhayapurayan gopa vrndair. Quando Krishna sopra Sua flauta, a canção da flauta primeiramente busca por alguém qualificado para ouvir. Ao não encontrar ninguém, ele sobe até Brahmaloka após cruzar o Rio Viraja, em seguida vai até mukti dhama. em seguida vai até Shiva loka, após vai a Vaikuntha , após Ayodhya e Dvaraka, após Mathura . Contudo em nenhum lugar ele encontra alguém qualificado para ouvir sua canção. finalmente, ele entra em Vrindavana . Lá ele encontra alguns devotos que são qualificados para receber seu néctar, mas ele não vai em direção aos devotos que estão em santa ou dasya ou mesmo sakhya rasa. Ele encontra alguns devotos qualificados entre os que estão em vatsalya rasa, todavia, somente entra no mais profundo do coração e mente das gopa ramanis, as amantes do Menino Vaqueirinho. Lá ele encontra belos corações e os rouba. Então, ele retorna a Krishna . mukti-dhama- Mahakalapura consiste de duas partes , uma de coberturas óctuplas do universo e além disso, mukti-dhama. Após se libertar de todos identificação grosseira, uma pessoa se torna apta a entrar nas oito coberturas do universo. Aquele que deseja mukti mas ainda não está livre de identificações sutis e desejos por desfrute ficam presos nestas cascas do universo. Após se livrar mesmo das contaminações sutis, a pessoa adentra em Mukti-dhama. Lá, a refulgência do Senhor - Brahman - é proeminente. Além disso se situa Sadashiva-loka, em seguida temos Vaikuntha, após Goloka Vrindavana (BrihadBhagavatamrita parte 2, capitulo 2.225-226, Capitulo 3.12-31) Quando as gopis ouvem a canção da flauta, elas enlouquecem e correr em direção a Krishna para reclamar no que foram roubadas. Não importa o que estejam fazendo - quer estejam comendo ou se vestindo ou passando cosméticos, ou servindo seus maridos e filhos. Elas apenas correm para Krishna sem qualquer outra consideração. Cada uma das gopis caminha sozinha, sem parar para chamar as outras. Embora as gopis tenham ficado atordoadas em êxtase e não consigam falar (nasakan smara-vegena viksipta-manaso), ainda assim não conseguem parar de falar como mulheres loucas. A conversa que travam não obedece a uma ordem lógica mas devido a loucura pulam de assunto para assunto. Quando nos debruçamos sobre os versos do Venu-gita, percebemos que não existe uma relação sequencial entre os versos, não existe qualquer seguimento. Elas falam o que vem na mente. Este verso em especial foi falado por Shukadeva Goswami, mas os versos seguintes foram falados por diversas gopis. A terra se sente afortunada porque Krishna caminha em sua superfície. As gopis também reconhecem a boa fortuna da terra quando elas observam os passos deixados por Krishna em todo lugar. Vendo Suas pegadas e ouvindo a canção de Sua flauta, elas endoidecem tanto que não conseguem falar, mas após algum tempo elas recobrem a fala de uma maneira dissimulada para não revelar seus corações. Este shloka é necessário para a pratica de nossa raganuga-bhajana. Temos que nos lembrar de Krishna segundo essa descrição. Temos tão pouco tempo e nosso coração ainda está tão duro. Em primeiro lugar temos que aprender o significado do Srimad-Bhagavatam , e se aprendemos os significados mais internos, isso nos dará a qualificação para ler os livros dos Seis Goswamis e seus seguidores.


Texto Seis

iti venu ravam rajan sarva bhuta-mahoharam Srutva vraja-striyah sarva Varnayantyo bhirebbhire Iti- assim, venu-ravam- a vibração da flauta , rajan- Ó Rei Pariksit, sarva-bhuta- para todos os seres vivos, manah-haram- roubando as mentes, srutva- ouvindo, vraja- striyah- as moças da aldeia de raja, sarvahtodas elas, varnayantyah- ocupada sem descrever , abhirebhire- abraçado a Sri Krishna , a personificação da suprema bem aventurança espiritual. Tradução Ó Rei, o som da flauta de Krishna rouba as mentes de todos os seres viventes, sejam animados ou, inanimados. Quando as jovens gopis de Vraja ouvem esse som elas começaram a descrevê-lo. Enquanto elas prosseguem na descrição do som da flauta elas entram num estado de transe extático e ficam completamente absortas pensando em Sri Krishna . Dentro de seus corações, elas vão abraçar Sri Krishna , que é a personificação da suprema bem aventurança espiritual. comentário Sri Shuka descreve o som da flauta do ponto de vista das gopis, O Maharaja Pariksit, o som doce da flauta venu é sarva-bhuta-manoharam, atrai as mentes de todos as entidades vivas . Embora as gopis o saboreie de um modo especial. elas ficam tomadas de kama. Primeiramente vem o cupido, tad varnayitum arabdhah smarantyadh Krishna cestitam nasakan smara-vegena yiksipta manaso nrpa (texto 4): smara(cupido) vem. Esse é o motivo de elas desejarem falar, mas não conseguem . Temos um significado muito profundo aqui; Por que elas não consegue falar? Devido a que elas todas estão tentando esconder algo. elas querem ocultar a profundidade de seus bhava umas das outras. Seus corações estão transbordando como um oceano repleto de ondas, contudo elas tentam esconder o que sentem. avahita significa ocultar algo falando de uma forma indireta. Aqui temos todas as gopis sentindo smara kama. Kama e prema significam amor, mas kama possui um significado profundo e especial. A partir de bhava nos percebemos prema, contudo não existe kama neste prema. Não existe kama antes do estagio de anuraga (estagio no desenvolvimento de prema) , devido a que kama não é objeto de sakhya e vatsalya-rasa. Após anuraga, kama surge : ao ver Krishna ou qualquer coisa que faca lembrar Krishna , surge kama. Portanto, são apenas as gopis que possuem smara , que vivenciam kama. Apenas as gopis kamanuga ou kamatmika. Todas as gopis que se manifestam no Venu-gita são kamatmika. Uma das características de kama é que esse sentimento tenta se ocultar. Essa é a svarupa ou natureza de kama. Kama é como uma serpente que sempre quer se esconder. Cada uma das gopis desejam ocultar seus sentimentos das outras gopis, temendo que pelos sintomas de seu smara, as outras poderão compreender o que ela esta sentindo . Trata-se aqui de um segredo aberto, mas mesmo assim cada uma das gopis querem ocultar o fato de que amam a Krishna , elas querem se encontrar com Krishna e desfrutar com Krishna . Quando isso é feito as ocultas, torna-se muito mais lindo. Elas acreditam que se disserem as claras que desejam sentir o gosto de Krishna , tudo será estragado. Srutva vraja-striyah sarva varnayantyo bhirebhire. Cada uma delas esconde seu prema em relação a Krishna . Ao invés de dizer que Krishna é o belo, elas dizem que esta ou aquela árvore tamala é tão bela.


Essas corças são tão felizes, pois, não precisam permissão de seus maridos para irem até Krishna . elas assim não mencionam Krishna , mas falam indiretamente de seu amor por Ele, e assim falando elas percebem o amor no coração das outras gopis Elas falam uma após a outra. Shukadeva Gosvami ouve as palavras delas que fluem do coração e as repete a Maharaja Pariksit. aksanvatam phalam idam na param vidamah. Para os que possuem olhos, acreditamos que nada superior é observável com o sentido da visão” (texto 7). Rupa Gosvami desenvolve seu estilo ao descrever o livro Ujjvala-nilamani após ler esses versos , ou podemos também dizer que esses veros (em especial os que estão contidos nos capítulos rasa do Bhagavatam) foram escritos no estilo desenvolvido no livro Ujjvala-nilamani de Rupa Goswami. O livro Srimad Bhagavatam é mula-pramana, a raiz original de todas as evidências védicas. Portanto, Rupa Gosvami compôs sua poesia nos passos da versão do Srimad Bhagavatam. todavia, devido a que Rupa Gosvami é Rupa Manjari, uma associada eterna de Radha e Krishna , ele é a origem de toda compreensão. Assim é da mesma forma verdade dizer que o Srimad-Bhagavatam segue a direção fornecida por Rupa Gosvami. Para compreender rasa, a pessoa deve estudar o Ujjvala-nilamani com um Vaishnava rasika. Dessa forma, ela pode adentrar profundamente neste campo e compreender todos os sintomas de bhava e prema.


TEXTO SETE

sri gopya ucuh adsanvatam phalam idam na param vidamah Sakhyah pasun anuvivesayator vayasyaih vaktram vrajesa-sutayor anuvenu-justam Yair va nipitam anurakta-kataksa-moksam

sri -gopyah ucuh- as gopis disseram, aksanvatam- dentre os que possuem olhos, phalam-o fruto, idam- esta bela visão do rosto de Sri Krishna quando Ele embrenha-Se na floresta com as vaquinhas e os vaqueirinhos, na- não, param- outro(objeto da visão para os olhos), vidamh- sabemos, sakhyah- Ó amigos, pasum, as vacas, anuvivesayatoh-fazendo com que entre numa floresta após a outra, vayasyaih- com Seus amigos de mesma idade, vaktram- os rostos, vraja isa- de Maharaja Nanda, sutayoh- dos dois filhos (Krishna e Balarama ), anu-venu-justam- possuidores de flautas, yaih- pelo qual, va- ou, nipitam- bebido ou saboreado ( o néctar das olhadelas laterais de Krishna ), anurakta-amorosa, kata-aksa-olhadelas de lado, moksamlançar. Tradução As gopis iniciam uma conversa ente si: Ó sakhis! achamos que dentre os que possuem olhos, existe uma única coisa que é o objeto apropriado da visão. O êxito dos olhos reside em contemplar apenas este objeto. Não sabemos de outro mais. E qual é o objeto mais precioso a ser alcançando para os olhos? É a visão dos dois filhos de Maharaja Nanda, Sri Krishna e Baladeva, acompanhados pelos gopas, quando embrenham-se pela floresta levando as vacas, ou quando eles retornam trazendo-as de volta a Vrindavana. Eles seguram Suas flautas em Seus lábios e olham para nos com um sorriso suave e um carinhoso olhar de soslaio repleto de amor. Neste instante, bebemos a doçura de Suas faces. Comentário Ao mesmo tempo que experimentavam o bhava de avahita (tentando ocultar sua kama), as gopis iniciaram uma conversação. Existem muitos diferentes grupos de gopis formados segundo o humor comum entre elas de amor a Krishna . Aqui, uma gopi está falando. “ Qual é o propósito desses olhos? Qual a utilidade de se ter olhos? Só temos uma resposta: ver o rosto de Krishna quando Ele Se embrenha na floresta de Vrindavana com as vacas e os gopas, vestido como um belo dançarino no frescor de Sua juventude. Ele parece com um elefante louco. As gopis são testemunhas dessa cena todas as manhas . Sudhayapurayan gopa- vrindair: Krishna está cantando rodeando pelos gopas que O aplaudem, Sadhu, sadhu, sadhu! Vrindaranyam sva pada- ramanam pravisad gita- kirtih (texto 5): Ele caminha sobre a terra de Vrindavana e marcas do solado de Se pé ficam impressas por toda parte ,e portanto a Terra Se considera afortunada por ter Krishna caminhando suavemente sobre seu seio. Pravisad-gita-kirtih: as gopis estão pensando na boa sorte de Prithivi-devi( a Terra) e quando elas vêem as marcas dos pés de Krishna e ouvem a canção de Sua flauta, elas ficam tão loucas que sequer conseguem articular seus sentimentos relacionados a Krishna com as outras gopis. após algum tempo elas se recompõem e reiniciam a conversa. As gopis falam sobre a canção da flauta que atrai todas as entidades vivas, embora não sejam todas as entidades que de fato são atraídas. Apenas as gopis são realmente atraídas. Todas as entidades vivas ouvem a doçura da canção da flauta de Krishna , mas somente as gopis enlouquecem . Ninguém mais corre para Krishna quando ouve o som de Sua flauta; tal som é em especial de tremenda doçura para as gopis.


Srutva vraja-striyah sarva varnayantyo bhirebhire: desse modo elas conversam entre si sobre Krishna e Sua flauta, e elas questionam sobre o efeito que esse som produz nas outras pessoas. Elas dizem: adsanvatam phalay idam na param vidamah sakhyah pasun anuvivesayator vayasyaih vaktram vrajesa-sutayor anuvenu-justam yair va nipitgam anurakta-katuksa-moksam Krishna possui tantas vacas e tantos vaqueirinhos O acompanham. Vayasyaih significa que os meninos são da mesma idade que Krishna , todos são Kishora(adolescentes). As gopis falam em sentido amplo, cuja descrição inclui as vacas e os gopas(vaqueirinhos), devido a que elas tentam esconder seu bhava. todas vêem Krishna como muito belo, assim não se comprometem em destacar isso, e assim elas falam uma para as outras. Cada uma delas quer dissimular seu sentimento para a outra. Portanto, elas mencionam que Krishna está indo para a floresta acompanhado pelos meninos e pelos animais. Assim elas disfarçam o amor exclusivo que sentem por Krishna . As gopis dizem phalam idam, o fruto de seus olhos é ver Krishna . Elas declaram que não conhecem nada alem de Krishna . Krishna se faz presente com Seus amigos e vaquinhas, e ele adentra na floresta de Vrindavana , que é muito fragrante com as flores que desabrocham e frutas amadurecidas. Vaktram vrajesasutayor significa “ só para ver o belo rosto de Krishna quando Ele está rodeado pelos vaqueirinhos”. contudo, este verso possui outros significados. Vrajesa significa Nanda, e sutayor significa Krishna e Balarama . Anuve-justam: A flauta está em Seus lábios. Yair va nipitam anurakta-katksa-moksam, Krishna está olhando para as gopis com um olhar amoroso (anurakta-kataksa). ele olha para elas pelo canto de Seus olhos e sorri. Ele está mendigando por algo com grande afeição . As gopis declaram que aqueles que não viram Krishna mendicante não puderam perceber o valor de seus próprios olhos. De fato, segundo Sri Jiva Gosvami, Sri Sanatana Goswami e Sri Visvanatha Chakravarti Thakura este verso possui quatro ou cinco significados. O significado acima é o superficial ou simples, porem existem outros significados rasika. Parece haver algo errado neste verso. As gopis amam apenas a Krishna , mas Baladeva também esta presente. Quando Baladeva está presente ao lado de Krishna , as gopis se tornam tímidas e cobrem seus rostos com os saris. Não existe a troca de olhares na presença de Balarama . Por que, então, Shukadeva Gosvami narra o fato como se Krishna e Balarama estivessem ambos presentes no momento em que Krishna flertou com as gopis? O significado se esconde na língua sânscrita. As gopis conversam entre si com o mesmo bhava, o mesmo yutha. elas dizem, “ Ó sakhi. Krishna está vindo. ele olha para nos pelo canto de Seus olhos e está mendigando algo. Ele possui tal beleza, rodeado pelos gopas”. Sutayor significa Baladeva e Krishna . Porem anu significa que Krishna vem logo atrás de Baladeva . Baladeva já se embrenhou na floresta e Krishna está para adentrar, e ele está olhando e sorrindo para as gopis para pedir seus kama. Ele lança dardos a partir do arco de Sua sobrancelha (puspabana) . As gopis comentam que alcançar tal visão é a perfeição de seus olhos. Não é suficiente poder ver Krishna dentro de um quadro geral quando Ele adentra na floresta pela manhã rodeado pelos vaqueirinhos e vaquinhas, o que é necessário é poder vê-lO sozinho com Seu olhar recheado de kama. A menção que as gopis fazem do nome de Baladeva é outro exemplo da tentativa delas para esconder seus verdadeiros sentimentos por Krishna . Ao mencionar o nome de Baladeva, ninguém vai atinar do amor exclusivo delas por Krishna . Todos vão pensar que não existe um sentimento exclusivo com relação a Krishna porque o significado de vrajesa-sutayor é a narração de Krishna e Balarama adentrando na floresta. Anuvenu-justam: essa é a chave para outro significado. Baladeva não toca a flauta todo o tempo porque Ele não é tão habilidoso quanto Krishna . Baladeva geralmente toca o chifre de búfalo . Anuvenujustam - significa que é Vrajendranandana que está caminhando atrás de Baladeva e toca Sua flauta. As gopis indiretamente estão dizendo que Balarama está tocando o chifre de búfalo , assim embora pareça que elas se refiram tanto a Krishna quanto a Balarama , elas falam apenas sobre Krishna , pois é ele que está


tocando a flauta. Elas querem ir ver Nanda-suta, aquele Krishna que está coma flauta em Seus lábios e olhando para nós com tanto amor. Mas, como elas poderão ir ver Krishna ? Os pais das gopis poderão vê-las partir - bem como sogra, sogro e cunhadas. Assim elas conversam baixinho, pois assim não serão ouvidas por seus superiores. De outro modo, seus parentes as acusarão de ser incastas e as prenderão em casa. Qual o pior castigo que seus parentes poderão infligir? Eles poderão expulsar as gopis de casa. Todavia, as gopis estão preparadas para isso, se não fosse assim elas estariam sempre proibidas de ver Krishna e seus olhos se tornariam inúteis. Ainda que as gopis mais velhas não proíbam suas filhas e noras devido a que elas mesmas estão indo ver Krishna quando ele se embrenha em Vrindavana pela manha. Assim as gopis pensam, “que mal poderá haver se também formos?”. Uma das gopis vai para se certificar se está seguro e após juntas decidem ir ver Krishna a distância. Nipitam anurakta-kataksam-molsam, Krishna está olhando amorosamente para nós, Nipita significa beber. Elas estão bebendo kataksa-moksam, os olhares transversos que Krishna envia para elas e Ele está olhando para elas. Uma sakhi diz para que elas sigam adiante e sorvam o néctar da flauta de Krishna e Seu sorriso, “Desse modo, este verso possui três ou quatro significados que podemos compreender analisando cada uma das palavras. Estes shlokas estão aqui para que os usemos em raganuga-sadhana. Temos que ser curiosos para compreender todos os significados dos versos e ver Krishna dessa maneira. Sakhya possui dois significados: sakha (amigo) e sakhi (amiga). Vayasyaih significa tanto amigo como amiga. As gopis se referem apenas a Krishna quando falam de vrajesa-sutayor anuvenu-justam. Balarama está presente, no entanto segue a frente na floresta. Krishna mantém a flauta em Seus lábios e olha para as gopis pelo canto de Seus olhos. As gopis também estão oferecendo archana para Krishna pelo canto de seus olhos. Portanto, quem quer que tenha testemunhado esta cena alcançou a finalidade de possuir olhos. Outro significado deste verso se baseia na definição de vrajesa-sutayor. Baladeva segue na dianteira e Krishna , o irmão mais novo (anu), segue logo atrás . As gopis dizem que apenas desejam ver o rosto do irmão mais novo de Balarama , o belo Krishna . todavia. quando olhamos para as palavras vrajesa-sutayor, encontramos outro significado. Devido a que as gopis só querem ver Krishna entre elas, elas usam as palavras sakhyah e vayasiaih ambas referindo-se as gopis, não aos gopas. Quando Krishna se embrenha na floresta com os vaqueirinhos, ele atua com Sua potência yogamaya para deixar os gopas para trás. Assim ele vai para o kusuma-sarovara, Radha-kunda ou Surya-kunda para encontrar as gopis. Vayasyaih (rodeado pelos amigos) refere-se a Krishna estar rodeado pelas gopis, Srimati Radhika também está presente. As palavras vrajesa-sutayor possui outro significado. Vrajesa refere-se a dois pais, Vrishabhanu Maharaja e Vrajesa-nanda. Ambos são Vrajesa, reis de Vrindavana . Vrishabhanu-suta é Radhika e Nandasuta é Krishna . Sutasya significa filho e sutasya significa filha. Quando suta e sutá se combinam na gramática sânscrita , a palavra muda para sutayo. Portanto, vrajesa-sutayor refere-se a Radha e Krishna . As gopis estão descrevendo vrajesa-sutayor como sendo a perfeição da visão. Quando Radha e Krishna estão junto no kunja e quando Krishna sorri para Radha e Radha lança olhares amorosos para Krishna , quem puder ver o rosto de Krishna neste momento vai beber o mais doce dos néctares. Assim existem múltiplos significados neste verso. Primeiro vemos Baladeva e Krishna , depois apenas Krishna , depois Radha e Krishna . Tudo se encontra neste shloka, os devotos em dasya, sakhya e vatsalya terão a visão de Krishna e Baladeva juntos, as priya-sakhis só visualizarão Krishna , mas os que se encontram em manjari-bhava observarão Radha e Krishna . Outro ponto neste verso é vrajesa-sutayor anuvenujustam. O verso declara que ambos estão com a flauta, mas já analisamos como Balarama não estão tocando a flauta e sim o chifre de búfalo. Assim isso pode significar ou que Radha roubou a flauta de Krishna ou que Krishna pediu a Radha para que O ensinasse a tocar a flauta, entregando-lhe a flauta. Este é um fruto ainda mais doce para os olhos, ver Radha ensinar Krishna como tocar a flauta. As gopis vêem Radhika dizer a Krishna , “Você errou enquanto tocava a flauta, Você não sabe tocar essa melodia. Posso tocar? “Assim Krishna lhe entrega a flauta e ele toca ainda melhor que Krishna . Rupa e Raghunatha Goswamis descreveram esse passatempo em suas poesias.


Anuvenu-justam: primeiro Krishna toca na vamsuli. Em seguida (anu) Radhika pega a flauta e diz que Ele não está tocando apropriadamente. Então Ela começa a tocar. Krishna olha para Radhika pelo canto de Seus olhos e Radhika também olha de lado para Krishna . Se qualquer pessoa puder ver esta cena, seus olhos serão exitosos. “Se não for assim” as gopis dizem: “não pudemos alcançar o objetivo de termos olhos”. Anuvenu-justam: Os dois tocam na flauta vamsi e kataksa-moksam - Eles dois entreolham-Se pelo canto dos olhos. Yair va nipitam. Nipitam significa que temos que sorver este katksa ( olhar de soslaio) e então nossos olhos alcançarão o êxito de sua existência. Existe ainda outro significado para este verso: aqui as gopis se referem aos priya-narma-sakhas e aos priya-sakhis. Elas não se referiram as manjaris. As manjaris não vão se encontrar com Krishna diretamente, pois o bhava das manjaris é ver Radha e Krishna juntos. É assim que as manjaris sentem o máximo prazer. Esse é o svabhava (natureza) e guna (qualidade) das manjaris. Elas sentem um prazer centenas de vezes maior no encontro de Radha e Krishna do que obtém no encontro com Krishna . Qual é o bhava de Rupa Manjari, Rati Manjari e todas as outras manjaris aqui? As gopis querem encontrar-se com Krishna , mas este verso também descreve o humor das manjaris. Nipitam anuraktakatksa-moksam: as manjaris não desejam saborear este rasa para si mesmas, elas querem Radhika encontrando-se com Krishna e Krishna vendo Radhika. Este é o bhava de uma manjari. Este verso também contém sakhi-bhava . As sakhis não são svatantra (independentes) como são as priya-narma sakhas. Uma sakhi diz a outra: “Vamos ver Krishna adentrar na floresta.” A outra sakhi responde? “Como podemos ir? Não podemos. Existem tantos membros familiares mais velhos aqui. E nós somos recém casadas assim temos que ficar em casa.” Outra sakhi diz: “Ficar na casa do marido é como ficar numa jaula. E não ver Krishna quando Ele Se embrenha na floresta é pior que estar numa jaula. Vamos já ir ver Krishna e beber o néctar que vem de Seus olhos na forma de Seus olhares de flanco.” A primeira sakhi está perguntando como elas podem ir uma vez que seus sogros e sogras estão em casa. “não fale tão alto,” ela diz, “Se eles ouvirem nossa conversa, eles vão nos ofender.” A segunda sakhi diz, “Se eles chorarem, não nos importamos. O que eles podem fazer? Todos estão indo ver Krishna , sejam velhos ou jovens, senhora ou cavalheiros, brâmanes ou não. Mesmo as filhas recém casadas estão indo. Todavia, se minha cunhada e sogra ouvem que eu quero ir ver Krishna , elas vão me proibir. Elas próprias estão indo, mas vão me dizer que devo ficar em casa. Elas dirão que existe uma serpente negra na estrada que vai me picar e eu morrerei com o veneno.” A segunda sakhi diz, “Nipitam anurakta kataksa-moksam.” Aqui nipita não significa ver e sim beber. Qualquer pode beber este néctar ao se aproximar de Krishna . Contudo, muitos estão indo ver Krishna . Como podemos ser tão desavergonhadas e passar na frente de todos quando Krishna passar? Melhor irmos ao kunja ou ver Krishna a distancia. Nos posicionaremos de forma que Krishna possa nos ver também. Não podemos nos aproximar demais de Krishna , mas se Ele nos ver, podemos beber o néctar de Seus olhares transversos. Srila Visvanatha Chakravarti descreve outra gopi dizendo: “não se preocupe com essas questões de etiqueta. Vamos ficar na frente de Krishna mas a distancia. Se Krishna olhar para qualquer de uma de nós, de imediato, vamos perder nossa vergonha e nossa paciência. Só por ver o olhar de Krishna do canto de Seus olhos, esquecemos de tudo e enlouqueceremos. Assim qual será nosso futuro? Não se preocupe, a canção da flauta vai fazer todos os arranjos. A flauta vai nos arrastar para os pés de lótus de Krishna . Após sorver o néctar dos lábios de Krishna , perderemos a cabeça e não mais vamos nos preocupar com nossos parentes. Nem vamos saber o que está ocorrendo conosco, assim vamos para lá beber e enlouquecer.” Shukadeva Gosvami forneceu esses detalhes para os leitores do Bhagavatam. Se você possui olhos, então olhe para esta visão de Radha e Krishna entreolhando-Se. Tente se lembrar de todas essas coisas dentro de seu coração.


TEXTO OITO cuta-prvala-brha-stabakotpalabja malanuprkta-paridhana -vicitra-vesau madhye virejatur alam pasu-pala-gosthyam range yatha nata-varau kvaca gayamanau cuta- de uma árvore de manga, pravala- recém brotados, barha- penas de pavão, stabaka- feixe de flores, utpala- lírios da água ou lótus azuis, abja- e lótus, mala- com guirlandas, anuprkta- tocado, paridhana- Suas vestimentas, vicitra- com grande variedade, vesau- estando vestido,madhye- no meio, virejatuh- dois deles brilhou amplamente, alam-magnificente, pasu-pala- dos vaqueirinhos, gosthyam- dentro da assembléia, range- no palco, yatha- assim como, nata-varau- dois exímios dançarinos, kvaca- às vezes , gayamanau- Eles cantando. tradução Ó sakhis! Sri Krishna de tez negra, vestido com suas roupas amarelas e Baladeva de bela compleição, vestido com roupas azuis, Se decoram com botões de manga recém colhidas, penas de pavão, ramalhetes de flores e guirlandas de lótus multicoloridas e lírios, essa aparição torna-se espantosa. Eles se sentam bem no meio do agrupamento de vaqueirinhos e cantam as mais doces canções. O priya sakhi! quando isso ocorre, eles se assemelham a dois exímios e belos dançarinos no palco do teatro. O que posso dizer do esplendor desse acontecimento?

comentário É importante para o bhajana-raganuga compreender como as gopis pensam e como elas servem Krishna quando ele adentra na floresta durante o dia, elas estão sempre pensando em Krishna e ao compreender o humor delas, nos também podemos pensar sempre em Krishna . em raganuga-bhajana, temos que lembrar de Krishna com uddipana. Krishna é o amante. ele e tão belo e tão rasika. Temos que praticar o smaranam das gopis com as quais ansiamos seguir. Temos que lembrar de Krishna , contudo temos também que lembrar das gopis (janam casya) - como elas servem Radha e Krishna . Esses versos descrevem o humor das gopis. Ao estudá-los, podemos compreender como as gopis pensam em Krishna . Já expliquei o significado de nata-vara no quinto verso. como em vrajesa-sutayor, nata-vara também possui um significado duplo. Significa Krishna e Balarama e também significa Radha e Krishna . As gopis tentavam ocultar sua profunda afeição por Krishna , mas porque perderam o autocontrole, alguns de seus bhavas se tornaram evidentes. Portando, elas tentam novamente encobrir seus sentimentos falando coisas gerais sobre a dança de Krishna e Balarama. Desse modo, vai parecer que elas não possuem nenhum kama especial por Krishna se elas também mencionam o nome de Balarama. Tanto Krishna quanto Balarama se decoraram com cuta-pravala, Chuta significa manga e pravala significa recém brotado. Normalmente, existe de doze a quinze brotos vermelhos numa haste e possuem uma fragrância doce como o mel. barha significa pena de pavão, que Eles colocaram sobre Seus turbantes juntamente com stabaka, feixes de flores - lótus, lírios e outras flores. eles estão usando uma guirlanda de flores (malanuprikta) de belo, chameli, jihi e outras flores e as guirlandas que iam de Seus pescoços até Seus pés. Malanuprikta-paridhana vicitra-vesau, a guirlanda que pendia em Krishna . As abelhas vagueavam daqui para lá e existem tulasi-manjaris na guirlanda. As roupas de Krishna são amarelas e ele esta resplandecentemente belo (alam). ele é virejatur, elegante, simples e atrativo. Krishna e Balarama estão dançando e cantando como o faz o melhor entre os dançarinos (nata-raja).


Às vezes Eles cantam, às vezes dançam e às vezes tocam a flauta. eles executam lá passatempos divertidos. Pasu-pala-gosthyam: pasu -pala significa vaqueirinhos e gosthya significa companhia. No meio deles Krishna e Balarama executam kirtana, tocando a flauta e dançando. Como já mencionei, esta descrição esconde o bhava das gopis. elas usam a palavra gayamanau, significando Krishna e Balarama que estão cantando, ainda que elas não estejam se referindo a Krishna e Balarama , e sim a Radha e Krishna . Sem Radha , algo fica faltando. As manjaris, em especial, desejam ver Radha e Krishna juntos. As sakhis podem ver Krishna sozinho, mas as nitya-sakhis e prana-sakhis não vêem Krishna separado de Radha. Sakhi significa “ aquela cuja inclinação pende para Krishna “ . Nitya -sakhis e prana-sakhis possuem uma inclinação para Srimati Radhika. Elas querem a ambos, Radha e Krishna . Radha e Krishna são a dupla jovem, como o casal que vem ao palco no início de um drama. ele dança, rodeados pelas sakhis, como se estivessem num placo. Neste shloka, Sri Visvanatha Chakravarti Thakura narra que uma sakhi diz a outra, “ Podemos ir ver Krishna a distancia, mas como podemos chegar a beber o adharasdha, o mel dos lábios de Krishna ? todos nos verão e nos envergonharemos” outra sakhi responde, “ Não se preocupe. quando Krishna olhar para nos pelo canto dos olhos e pedir nosso amor, enlouqueceremos. O olhar de Krishna vai tirar toda nossa vergonha. Vamos e o que tiver que acontecer acontecera.” Outra gopi diz, “ Como poderemos encarar esta vergonha se nossos maridos, sogros e outros parentes tentam nos barrar, e os membros mais velhos da comunidades no acusam? Não acho que devemos ir. “ Então, outra gopi diz, “ Não existe mal algum em irmos porque Baladeva também esta lá junto com tantos outros meninos. Se Krishna estivesse sozinho, poderíamos ser criticadas, mas Krishna está com Balarama , ninguém vai pensar mal de nós, Baladeva é como nosso próprio pai ou irmão mais velho. e há tantos de Seus companheiros. não temos que ter vergonha.” Assim a gopi inicia dizendo que ela não devem ir ver Krishna e beber o néctar de Seus lábios, em seguida ela decide que as gopis devem ir para ver Krishna e Balarama de certa distancia escondendo-se nos arbustos. Deste modo, elas verão Krishna e Balarama tocando e poderão ver o quão belo Krishna é, ela também poderão ouvir a canção da flauta e vê-lO dançar e após poderão retornar as suas casas. Outra gopi diz, “ Sim , poderemos ir, mas eu acho que ao vermos Krishna, ficaremos tão atraídas que enlouqueceremos e perderemos nossa paciência. De qualquer forma, vamos. O que quer que ocorra não vai estar sob nosso controle” Outra gopi diz, “ Ao vermos como Krishna esta decorado com brotos avermelhados e frescos de manga pingando mel e ao vermos a pena de pavão em Seu turbante e a flor karnikara sobre uma de Suas orelhas, enlouqueceremos.” Krishna usa a flor karnikara sobre Sua orelha como um sinal de orgulhosa juventude. Ele é um jovem e Ele caminha como um jovem elefante. Quando um elefante fica louco pelo sabor do néctar, Seus olhos viram em sua cabeça. Krishna caminha como esse elefante que enlouquece com o sabor do néctar. Ele também carrega um lila-kamala em Sua mão, uma lótus que serve como distração. Essa lótus é vermelha e muito bela, Krishna a gira enquanto dança e quando as gopis vêem isso, seus olhos e corações também dançam. Portanto, Krishna sempre gira essa flores de lótus, Krishna foi para a floresta e as gopis estão em casa. contudo as gopis conversam sobre os passatempos de Krishna como se estivessem ali presentes testemunhando tudo.


TEXTO NOVE gopyah kim acarad ayam kusalam sma venur damodaradhara-sudham api gopikanam bhunkte svayam yad avasista-rasam hradinyo hrsyat-tvaco „sru mumucus taravo yatharyah gopyah- Ó gopis (uma das gopis fala), kim- o que, acarat- executado, ayam-ete, kusalam- atividades piedosas em vidas anteriores, sma- certamente, venuh- a flauta, damodara- de Krishna , adhara-sudham- o néctar dos lábios, api- mesmo, gopikanam- que é apenas das gopis por direito de propriedade, bhunktedesfruta, svayam- independentemente, yat- do qual (ele é capaz de saborear o néctar dos lábios de Damodara o tato que queira), - nem ma gota remanescente, rasam- dessa rasa(o néctar dos lábios de Damodara), hradinyah- os rios, hrsyat- sentindo-se alegre(ao ver a ânsia da flauta em saborear o néctar dos lábios de Krishna , manifestando assim sintomas extáticos na forma de flores de lótus que desabrocham), tvacahaqueles corpos, asru- lágrimas, mumucuh- as árvores, yatha-exatamente como, aryah- velhos antepassados tradução Ó queridas sakhis! Embora esta flauta seja masculino, não podemos imaginar qual o tipo de sadhana e bhajana que ele praticou em seu nascimento anterior para que em nossa própria presença possa saborear o néctar dos lábios de Damodara, que por uma questão de direito pertence apenas a nos. ele sequer dispensa uma única gota dessa rasa para nos. Sob o pretexto do desabrochar de flores de lótus, os rios , que deram alimento a flauta com sua água(rasa), exibe sintomas de calafrios extáticos. As árvores, que são os antepassados da flauta, são como o melhor entre os homens. Ao ver seu descendente repleto de tão intenso amor pelo Senhor, elas ficaram entusiasmadas e lágrimas de êxtase jorram de seus olhos. comentário Gopyah significa que uma das gopis esta falando. Elas comentam sobre a boa sorte da flauta . Embora a flauta seja masculino, deve ter executado tanta atividade piedosa no seu nascimento anterior que pode ganhar a chance de estar nos lábios de Krishna e fazer o papel de uma gopi. Apenas as gopis estão autorizada a beber o adhara-sudha, o néctar dos lábios de Krishna , mas bem em frente das gopis, a flauta , mesmo sendo masculino, está sorvendo todo o néctar e não deixa uma gota sequer para as gopis. A flauta venu não se preocupa com as gopis. ele bebe o néctar desafinado as gopis. Por isso, elas chamam a flauta de nidara, destemido. As gopis dizem “ queremos saber que tipo de tapasya esta flauta executou em nascimentos anteriores para ter alcançado esta posição assim nos também poderemos executar as mesmas austeridades e alcançar o mesmo resultado de poder sorver o néctar dos lábios de Krishna mesmo na frente de nossos maridos, pais, sogros e outros parentes mais velhos. O que temos que fazer para nos tornar tão ousadas? Tais expressões são a fala de mulheres enlouquecidas que estão saboreando Krishna -bhava. As gopis falam de um modo espontâneo , como se todo mundo tivesse uma relação madhurya com Krishna . Elas falam em desespero de causa sem nenhum controle sob suas mentes e sentidos , sob o efeito da loura que se apoderou delas. Os pais da flauta ao verem a sede desesperada de seu filho, ficam felizes ao ver que se filho se tornou a flauta de Krishna e assim capaz de beber o néctar de Seus lábios. A flauta venu é de bambu. Portanto, as árvores de bambu regozijam ao ver a boa sorte de se parente. As árvores kadamba, manqueiras e outras árvores grandes também sorriem , pois, são todas membros da família do bambu, . Todas elas reconhecem a boa sorte de se descendente. Lagrimas de felicidade (anandasru) preenchem seus olhos na forma de seiva que corre, e seus cabelos se arrepiam na forma de flores que brotam. Do mesmo modo que pais e mães se alegram com a prosperidade de seus filhos, as árvores e flores coram de felicidade por se parente, a flauta. Hradinyah- aqui significa água - os lagos e rios. A água também é mãe da flauta, porque o bambu cresce na água dos rios e o bambu sustenta seu corpo ao beber o leite (água) dos rios, portanto, os rios (mãe de leite) simultaneamente riem e choram ao verem seu filho tão afortunado. Se sorriso assume a forma de


flores de lótus. Quando alguém cora de tristeza, suas lágrimas serão quentes, mas se de alegria , suas lágrimas serão frias. Uma vez que as lágrimas do rios são frias, as gopis imaginam que os rios estão felizes por seu filho. “ mesmo Brahma e Shiva não conseguem atingir esta posição, como pode ser, então, que nosso filho, simples bastão de bambu, pode saborear o néctar dos lábios de Krishna ?” Do ponto de vista das gopis, a flauta é um rival. A venu não se importa com o clamor das gopis em busca do néctar dos lábios de Krishna , bebe tudo sozinho. ele não deixa uma gota sequer, . Portanto, as gopis desejam executar as mesmas austeridades executadas pela flauta em sua ida passada , a fim de no seu próximo nascimento se tornar uma flauta de Krishna . Krishna nunca se afasta de Sua flauta. ele a carrega por toda parte, a flauta fica com Ele mesmo quando dorme. As gopis almejam estar sempre com Krishna também quando Ele dorme, quando Ele vai a floresta pastorear as vacas e em todos os outros momentos. Ainda que isso seja inalcançável devido o bloqueio de seus pais. Assim a flauta é um rival. A flauta está livre para ir com Krishna a qualquer parte, e as gopis não podem. Portanto, a mãe e o pai da flauta estão felizes por ver seu filho bebendo o néctar dos lábios de Krishna mas as gopis estão invejando isso. elas almejam nascer como uma flauta em seu próximo nascimento, assim estarão sempre na associação de Krishna , sem que ninguém as ofenda, critique ou questione o comportamento delas. As gopis estão experimentando mahabhava, e em mahabhava seu humor é de adhirudha-bhava* . As gopis expressam seus sentimentos. tudo está sendo saboreado em seus próprios corações. A natureza do devoto mahabhagavata é ver tudo e todos como se estivessem no mesmo bhava. A flauta estando ou não consciente a, as gopis o vê como um rival no que se refere ao néctar dos lábios de Krishna . Portanto, ver através de seus olhos significa ver através desse bhava. Ver algo e nos lembra de nosso amor por Krishna , se chama uddipana-bhava. As gopis vêem as coisas em suas mentes e corações segundo o madhurya-rasa, que é o humor que faz tudo em Vrindavana ser visto como trocas de amor conjugal com Krishna . Um devoto uttama-adhikari segue este humor e vê as coisas do mesmo modo , em uddipana-bhava.

*Adhirudha bhava são de dois tipos: madana e modana. Modana se experimenta em vipralambha (separação) e só se encontra no grupo de Srimati Radhika. Madana só se encontra em Srimati Radhika e dentro da mais elevada qualidade de prema. Desde o estágio inicial de prema até madana, todos esses bhavas são chamados visuddha-prema. Quando em mahabhava todos os tipos de asta-sattvika-bhavas e vyabhicaribhavas manifestam-se em seu grau mais elevado, todos os tipos de felicidade que aqui encontramos acrescido do que pode ser encontrado até brahma-loka, não se compara sequer com uma gota de vipralambha, cujo estado se chama adhirudha. Quando se experimenta adhirudha mahabhava no estagio de modana, então se alcança vipralambha. Essa gopi fala tão docemente. “ Ó queridas gopis, kim acarad ayam kusalam sma venur: Esta venu é masculino, embora seu comportamento seja como de uma mocinha(kishori), Essa é a razão de não podermos ver a flauta. Será que esta flauta foi a tantos tirthas? Terá tomado banho em tantos lugares sagrados? Será que executou tantas caridade que pode saborear o néctar dos lábios de Krishna dia e noite? Vamos executar as mesmas austeridades assim nos tornaremos afortunadas, tanto quanto a flauta. “ O que pensa esta flauta que está fazendo? Apenas as gopis tem o direito de beber o néctar dos lábios de Krishna. Ninguém mais tem esta permissão, nem mesmo brâmines.


Apenas as gopis se permite que bebam o néctar (damodaradhara-sudham api gopikanam). Esta flauta nada mais é que uma vara de bambu? Mesmo sedo uma vara de bambu, ele esta sedente por este néctar e portanto , ele está desesperadamente bebendo tudo. “Bem a nossa frente ele está roubando nossa propriedade. Ele não tem nenhuma vergonha. Por que ele está fazendo isso?” Quando a fruta badari está verde, ela é negra, mas quando amadurece, fica amarela. Os lábios de Krishna são vermelhos como a fruta bimba, mas por soprar aflauta o dia todo e porque a flauta pegou o néctar dos lábios de Krishna , agora Seus lábios mudaram da cor vermelha para amarela. Apesar de ter sorvido tanto néctar, a flauta de bambu permanece seca. Assim as gopis estão na realidade criticando a flauta embora pareça que estão louvando sua boa fortuna. Hrsyat-tvaco „sru mumucus taravo yatharyah: este é o significado oculto. Em comparação com esta flauta, nós , as gopis, não podemos servir Krishna . Se não podemos obter outro nascimento e neste nascimento nos tornarmos bambus, podemos também ser flauta e ser tão afortunadas quanto esta flauta é ao saborear o néctar dos lábios de Krishna . Ser gopis não é o suficiente para nós devido a que nestes corpos não podemos ir até Krishna , não podemos nos encontrar com Krishna . Existem tantos obstáculos. Portanto, oramos a Deus para nascermos como árvores de bambu e após nos tornarmos flautas de modo que podemos estar sempre na associação de Krishna . Neste verso também as gopis chamam Krishna pelo nome de Damodara. Damodara significa Radha Damodara. Damodara significa que Krishna é tão amorosa em relação a Seus devotos (bhakta-vatsala) que ele vai satisfazer os desejos de Seus devotos. “Se oramos para Ele para nos tornarmos flautas de bambu, Ele vai conceder nossos desejos.”


TEXTO 10

vrndavanam sakhi bhuvo vitanoti kirtim yad devaki-suta-padmbuja-labdha-laksmi govinda-venum anu matta-mayura-nrtyam preksyadri-sany-avaratanya -samasta-sattvam

vrndavanam- Vrindavana; sakhi- Ó amiga; bhuvah- da Terra; vitanoti-propaga (as glórias da Terra que excede em muito mesmo a de Vaikuntha); kirtim- as glórias, yat- porque; devaki-suta - do filho de Devaki (outro nome de Yashoda); pada-ambuja- dos pés de lótus ; labdha- recebido, lakshmi- as belas marcas; govinda-venum - a flauta de Govinda; anu- ao ouvir; matta- enlouquecidas; mayura- dos pavões; nrityam- no qual há a dança; preksya- vendo; adrisanu- do alto das colinas (Govardhana, etc.); avatara- estonteado; anyaoutro; samastra- todos; sattvam- criaturas

TRADUÇÃO

Ó Sakhi! Esta Sri Vrindavana , que é ainda maior que Vaikuntha, enaltece a fama do planeta Terra . Isso se deve a estar esplendidamente decorado com as impressões deixadas pelos pés de lótus de Damodara Sri Krishna , o filho de Yashoda. Ó amigo! Quando Sri Krishna toca uma canção na flauta, que cativa só três mundos, os pavões ficam intoxicados e começam uma dança acompanhando a melodia. Vendo e ouvido isso todos os pássaros, animais e outros seres móveis na colina de Govardhana ficam paralisados e silenciam, permanecendo sentados ou de pé sem se mover, esquecendo de todas suas atividades. Comentário As gopis se expressam do ponto de vista de seu mahabhava. No shloka anterior, as gopis vêem tudo em Vrindavana em relação a Krishna . Nesse diapasão vêem a flauta de Krishna , os parentes da flauta (os lagos, rios, árvores e flores), a corça e pássaros como mais afortunados do que elas próprias. Todos os moradores da floresta podem ver e tocar Krishna sem nenhum obstáculo, mas as gopis tem que se defrontar com tantos embaraços para se aproximar de Krishna . A flauta em especial, é a amais afortunada. Mesmo se considerando que a flauta seja masculino, Krishna comprime a flauta contra Seus lábios, colocando-a em Sua cintura ou encostando-a em Seu peito. ele até mesmo dorme com a flauta. As gopis acham que não conseguiram obter tanta boa fortuna de poder estar sempre com Krishna . Elas oram a Krishna para que possam executar as mesmas austeridades levadas a cabo pela flauta no seu nascimento anterior, de tal modo que possam no próximo nascimento se tornarem flautas. Contudo, ao final elas se dão conta que isso não é possível. Quando as gopis olham na direção da floresta de Vrindavana , elas vêem as pisadas de Krishna impressas por toda a parte. Quando elas estão em suas casas na aldeia, elas visualizam como a associação com Krishna é ampla para os habitantes de Vrindavana , tais como as árvores, trepadeiras e corças. elas ficam achando que todos esses seres receberam uma maior fortuna. Os pés de Krishna recebe a adoração de Brahma , Shiva e toda a criação, embora Ele suba nas árvores de Vrindavana quando brinca.


As gopis sonham em ter os pés de Krishna sobre seus seios, mas esses mesmos pés trepam nos galhos das árvores, caminham pelos kunjas, adentram nos lagos e vão a toda parte. Por isso, as gopis se põem a glorificar Vrindavana . “ Ó Sakhi, Vrindavanam bhuvo( o chão de Vrindavana ) é ainda mais glorioso que Vaikuntha, pois, nesta Vrindavana , Devaki-suta-padambuja-labdha-lakshmi: as impressões dos pés de Krishna estão por toda parte”. Devaki-suta refere-se a Krishna , também se conhece Yashoda com o nome de Devaki. Em Vrindavana , Krishna anda de pés descalços em toda parte, assistindo a dança enlouquecida dos pavões e tocando Sua venu ou vamshi. O som da flauta soa como nuvens trovejantes fazendo com que os pavões enlouqueçam , dando início a dança. Krishna , ao vê-los dançar, toca ainda mais a flauta e os pavões ouvindo a seqüência do som incrementam a sua dança. Os pavões ficam tão alucinados que elevam sua cauda para o prazer de Krishna . E assim tanto Krishna como os pavões ficam muito felizes e o pavões como agradecimento entregam a pena de sua cauda de pavão a Krishna Os pavões sentem que não possuem nada mais para oferecer além de suas belas penas. Para reciprocar Krishna coloca as penas dos pavões em Seu turbante, dizendo-lhes que vai manter as penas pelo resto de Sua vida e essa declaração incita mais os pavões na dança. Preksyadri-sanv-avaratanya-samasta-sattvam: Krishna toca Sua flauta e os pavões executam uma coreografia tão maravilhosa que todos os pássaros, vaqueirinhos , vacas e corças sobem a colina de Govardhana para poder assistir com uma melhor visão, todos os galhos das árvores estão repletos de pássaros. os vaqueirinhos ficam bem próximos a Krishna e aos pavões e toda a encosta da colina fica tomada de espectadores. De início, os pavões e demais pássaros silenciam. Após, todos os presentes, meninos e animais se esquecem de tudo mais observando Krishna dançar. Os bezerros deixam suas mães e os pavões e pavoas se desligam um do outro dando início a dança. Neste verso, as gopis dizem: “ Oh, se pudéssemos ser tão afortunadas quanto Vrindavana cujo seio recebe os pés de lótus de Krishna ! Não somos tão afortunadas. Krishna está dançando com os pavões e pavoas. Será que podemos dançar com nossos maridos ao som da flauta de Krishna ? Não, não temos tal sorte. Se nos vissem com Krishna , isso só irritaria nossos maridos. As corças, as árvores e todos os pássaros podem ficar perto de Krishna . Todavia, não nos é dada tal chance de estar com Krishna ou receber Seus pés de lótus em nossos seios. Nada podemos fazer. Nossa única esperança é se pudéssemos morrer e voltar em outro corpo em Vrindavana.


TEXTO 11 dhanyah sma mudha-gatayo‟pi harinya eta ya nanda-nandanam upatta-vicitra-vesam adarnya venu-ranitam saha-krsna-sarah pujam dadhur viracitam pranayavalokaih

dhanyah- afortunada, abençoada; sma- certamente; mudha-gatayah- nascendo em ignorantes espécies de vida animal; api- embora; harinyah corça-fêmea, etah- esses; yah- quem; nanda-nandanam- o filho de Maharaja Nanda; upatta-vicitra-vesam- vestido muito atrativamente; akarnya- ouvindo; venu-ranitam; - o som de Sua flauta; saha-krsna-sarah- acompanhado pela corça negra (seus maridos); pujam dadhuh- elas adoraram(Krishna de um local próximo); viracitam- executado; pranaya avalokaih- pelos olhares de soslaio afetuosos

TRADUÇÃO Ó sakhi! Quando o mais querido Nandanandana Sri Krishna usa sua vestimenta de extremo bom gosto e toca Sua flauta, então mesmo a tola corça, ao ouvir a melodia, se aproxima acompanhada do corço pousando se olhar arregalado em Krishna com muito afeto. Nós bem sabemos o significado desse olhar. Com olhos enormes que parecem desabrochados como as pétalas das flores de lótus, elas adoram aos pés de lótus de Sri Krishna aceitando o convite que Krishna formula com Seu olhar amoroso de canto de olho. Sem dúvida, as vidas dessas corças foram abençoadas. (Embora sejamos gopis de Vrindavana, não podemos abertamente nos entregar a Krishna do mesmo modo que as corças o fazem, pois os nossos maridos e membros mais velhos da sociedade nos reprimem e nos batem - que atitude absurda! Comentário Em sua meditação, as gopis vêem as corças (harinya) se aproximando para ouvir a canção da flauta de Krishna . Elas chegam tão perto que Krishna pode tocá-las. As gopis tem as corças por animais tolos, pois mesmo sem saber, se entregam ao doce som da flauta de Krishna . Elas não atinam sobre a origem do som que poderia ser uma isca na direção da morte - mas se aproximam da fonte do som com as orelhas eretas como animais tolos. “ Elas embora tão tolas, são ainda assim mais afortunadas que nós .” As gopis já estão em casa mas vêem as corças se aproximarem de Krishna , acreditando que a intenção delas é beijar Krishna . Krishna usa belos ornamentos . Ele usa viçosos brotos vermelhos de manga e folhas de manga verdejante e Ele ainda ostenta ramalhetes de flores e uma pena de pavão em Seu turbante. Seu dhoti é de um amarelo brilhante e Ele usa uma flor karnikara atrás de Sua orelha e uma guirlanda vaijayanti que desce até Seu joelhos. Krishna se veste como um kishora, no frescor da juventude . As corças olham para Krishna com concentração total quando Ele dança vestido com belas roupas. Akarnya-venu-ranitam: elas ouvem o som da flauta de Krishna e correm em Sua direção juntamente com seus maridos (saha-krsna-sarah). Os maridos das corças são conhecidos como krsna-sara, que significa que Krishna é a essência de suas vidas. Eles não podem viver sem Krishna . Essas corças fizeram de Krishna seu objeto e finalidade; eles seguem suas esposas devido a que amam Krishna de todo coração. As corças não olham para seus maridos que seguem atrás delas; elas só correm na direção de Krishna , sem ver nada mais. Os corços se dão conta que embora amem a Krishna , suas parceiras possuem muito mais afeto por Krishna . Portanto, eles aceitam suas esposas como mais avançadas. As gopis acham que as corças tem mais sorte que elas próprias. As corças não estão preocupadas com quem está olhando elas correm na direção de Krishna . Elas não tem medo da sociedade. Elas sequer


estão consciente de seu corpo. As corças não estão preocupados se seus maridos vão ficar ciumentos. Elas só oferecem puja a Krishna em troca de um afetuoso olhar. Neste verso, pranaya significa pelo canto dos olhos e pujam dadhuh significa que elas estão adorando Krishna de um local ali próximo. Pranaya-avatokaih, ver Krishna com pranaya é o mesmo que executar archana. As gopis observam as corças quando elas estão executando esse archana. As gopis declaram, “Ó corça, você é tão feliz e nós somos tão infelizes. Seus maridos permitem que vocês se aproximem de Krishna mas os nossos só trazem impedimentos. Na verdade eles ficam zangados quando queremos ir ver Krishna ou quando percebem que amamos Krishna . O marido de vocês observam vocês executando archana dos olhares de soslaio e só o que fazem é apreciar o quanto vocês amam a Krishna. Eles incentivam vocês a irem até Krishna . “Nossos maridos são o contrário. Não podemos ir até Krishna ou oferecer nossos afetuosos olhares porque nossos maridos e parentes mais velhos ficam por perto. Achamos que seria melhor nascermos como corças assim poderíamos ir até Krishna com nossos maridos e servi-lO do mesmo modo que vocês estão fazendo.” Neste verso, as gopis referem-se as corças como mudhas, ou seja, animais tolos. Qual o problema de ser tolo e no entanto estar associado com Krishna, o problema é se alguém é muito inteligente e descuida de Krishna , então de que serve tal inteligência? As estão dizendo que elas estão dispostas a tornarem-se tolas como as corças se puderam apenas servir a Krishna . Yashoda e todos as gopas também pensam do mesmo modo. Elas não têm tattva-jñana de que Krishna é Deus. Pelo contrário, todos os tattva-jnanis querem adorar a poeira dos pés de Nanda-baba e os vrajavasis. Em nossa sampradaya, em primeiro lugar aprendemos tattva-jñana, ou conhecimento dos princípios filosóficos, a saber, o que é Krishna ? O que é Maya? O que é a jiva? O que é bhakti? Em seguida, teremos que esquecer que Krishna é Deus. Teremos que esquecer cada um dos pontos doutrinários sobre tattva e apenas seguir uma das gopis, de modo especial a gopi Rupa Manjari e o nosso próprio mestre espiritual. Esse é o modo que devemos servir Srimati Radhika e Sri Krishna . As gopis são as mais inteligentes e o único desejo delas é servir a Krishna e Srimati Radhika. Todavia elas são apenas ordenhadeiras sem nenhum tattva-jñana. Eu posso contar uma história de minha experiência pessoal de como uma pessoa que parecia ser tola obteve o respeito de todos os Vaishnavas devido ao apego que demonstrou pelo santo nome. Em nosso Math certa vez, havia uma pessoa meio louca que estava sempre cantando os santos nomes. Todos sabiam que ele era doido e se faziam certas brincadeiras zombando de sua situação de diversas maneiras. Eu sempre lhe oferecia respeito internamente. Meu gurudeva também respeitava essa pessoa. Se alguém fazia alguma pilhéria contra ele, meu guru maharaja repreendia de imediato. Qualquer um , mesmo os muito cultos, sem titubear sentavam-se com ele porque o seu canto era constante. De um modo similar, as gopis respeitam as tolas corças devido a seu apego a Krishna . As gopis estão saboreando viraha-bhava, separação de Krishna . Elas vêem todos os que estão em contato com Krishna como muito felizes, mesmo as árvores , bezerros, as tolas corças , ou os mais inteligentes como os semideuses. As gopis desejam também ter essa oportunidade de se associar com Krishna .


TEXTO DOZE krsnam niriksya vanitotsava-rupa-silam srutva ca tat-kvanita-venu-vivikta-gitam devyi vimana-gatayah smara-nunna-sara vhrasyat-prasuna-kabara mumuhur vinivyah krsnam- Sri Krishna ( o conquistador do coração ), niriksya- observando, vanita- para todas as jovens (kishoris), utsava- um festival, Rupa- cuja beleza, silam- e característica, srutva- ouvindo, ca- e, tat- por Ele, kvanita- vibrou, venu- da flauta, vivikta- claro, gitam- canção, devyah- as esposas dos semideuses, vimanagatayah- viajando em seus aeroplanos, smara- pelo Cupido, nunna- agitou, sarah- seus corações, bhrasyatescorregando, prasuna-kabarah- as flores atadas a seus cabelos, mumuhuh- elas se confundiram, vinivyahsuas cintas se afrouxaram tradução Ó sakhi! Para não falar das corças, quando as esposas dos semideuses vêem Sri Krishna , que é um manancial de toda beleza e caráter e um festival de bem aventurança para todas mocinhas, e ouvem as melodias variadas e doces que Ele toca em Sua flauta, elas perdem a inteligência e caem inconscientes em seus aeroplanos, bem na frente de seus maridos. Como sei disso, Ó amiga? Simplesmente ouça! Quando os corações delas ficam possuídos de um intenso desejo de se encontrar com Sri Krishna , elas ficam tão confusas que não conseguem sequer perceber que as flores entrelaçadas em suas tranças estão caindo na terra. O que precisa mais, sequer percebem que seus saris estão escorregando de suas cinturas e caindo no chão.

COMENTÁRIO Após ver a boa fortuna da corça, as gopis também viram que as esposas dos semideuses estavam observando Krishna dançar e por isso estavam ficando loucas e desmaiavam. Primeiro as gopis falaram da tola corça que era superior a elas porque tinha a associação de Krishna . Depois, elas falaram da superioridade das semideusas (devis) que também têm o darshan de Krishna . As gopis desejam tornar-se devis assim, elas também pode presenciar Krishna tocando Sua flauta. As devis sentam-se nos seus aeroplanos nos colos de seus maridos e atiram flores para baixo quando Krishna toca Sua flauta e dança com os pavões. A palavra vanita significa kishori, mocinhas. A beleza da forma de Krishna é uma grande festa para os olhos dessas mocinhas (krsnam niriksya vanitosava-rupasilam). Qualquer mocinha enlouqueceria ao ver essa forma decorada com a pena de pavão, usando uma flor karnikara sobre Sua orelha e com Seu turbante ornado com broto de manga fresca e ramalhetes de flores. Suas vestes reluziam como ouro e Ele dançava como o melhor entre os dançarinos. O que se pode falar então do efeito que causava a audição da flauta de Krishna ? Smara surgia e o resultado era kama. Srutva ca tat-kvanita-venu -vivikta-gitam: o som da flauta cria kama nos corações das mocinhas. Ao ver a forma de Krishna como kama-rupa, as mulheres que estão voando em seus aeroplanos desmaiam no colo de seus maridos (devyo vimana-gatayah smara-nunna-sara bhrasyat-prasuna -kabara mumuhur vinivyah). Entre os pares , os maridos não se importam ao ver o kama de suas esposas porque eles próprios também amam a Krishna . Nem os machos se importam com a atitude das corças , pois nenhum deles tem qualquer inveja ou ciúme por suas companheiras amarem a outra pessoa. Ao invés disso, os homens encorajam o prema de suas mulheres. As gopis acreditam que a corça é de uma espécie de animal inferior e os semideuses são superiores; apenas entre os humanos (de espécie intermediária) os maridos sentem ciúmes do amor de suas


esposas por Krishna . Portanto, elas, as gopis, são as mais desafortunadas. Elas sentem que tanto seus olhos, quanto corpos e inteligência não encontraram sucesso na vida. Bhrasyat-prasuna-kabara mumuhur vinivyah: as flores e guirlandas das devis caíram, seus cintos se afrouxaram e elas desmaiaram nos colos de seus maridos. Os maridos então ajudando suas esposas dizem, “Oh, vocês são tão afortunadas. Nós amamos Krishna , todavia, não temos tal nível de sentimento porque não somos como vocês.” As gopis respondem, “ Se no futuro pudermos nascer como devis ou apsaras aí então seremos realmente afortunadas.” As gopis falam assim porque estão saboreando mahabhava. De fato, não é possível para as esposas dos semideuses observar os passatempos de Krishna . Do mesmo modo que Sri Cheitanya Mahaprabhu olhava para o Chataka-parvata como sendo Govardhana, para o oceano como sendo o rio Yamuna, e todas as florestas como sendo Vrindavana, as gopis , similarmente, experimentavam uddipana. Tudo fazia com que elas lembrassem de Krishna . A flauta não é de fato uma pessoa que está roubando o néctar dos lábios de Krishna , é uma simples vara de bambu seco. Porém, na loucura de amor a Deus das gopis, elas viam o bambu de outra forma. Também, embora os semideuses e suas esposas estivessem na realidade presentes, eles não eram capazes de saborear o prema que as gopis atribuíam a elas. Mesmo Lakshimi não pode adentrar em Vrindavana e saborear o rasa que as gopis sentem. Mesmo os dvija-patnis estão em posição mais vantajosa que as devis, mas elas não podem também entrar em Vrindavana e ver Krishna em seus passatempos. Portanto, esses versos que descrevem a posição da flauta, da corça e das devis estão sendo falados na loucura da separação de Krishna . As gopis vêem tudo a partir de seu próprio bhava, embora possa ser que não seja realidade. As gopis estão tão ansiosas para se associar com Krishna que se Chanura e outros lutadores estivessem lutando com Krishna, a visão das gopis seria da boa sorte dos lutadores ao poderem tocar o corpo de Krishna e sendo tocado por Ele. Esse é o porquê de em Bhandiravana, as gopis desejarem lutar com Krishna . Elas lutam com ele. Radhika quer lutar com Krishna como os lutadores. Se as gopis vêem um papagaio e sua companheira sentados numa árvore em Vrindavana, elas desejam se tornar papagaios fêmea e sentar-se com Krishna : “Oh , quão belos e afortunados elas são podendo até sentar-se e beijar Krishna . Que lindo! Nós, as gopis, não podemos nos sentar com Krishna desse jeito.” Elas acham que Krishna se tornou um papagaio e uma gopi se transformou num sari. Os papagaios fornecem o campo para o surgimento do uddipana-bhava. As gopis supõem que o papagaio macho é Krishna e a fêmea é uma gopi, e elas querem também se associar com Krishna da mesma forma. Às vezes devotos perguntam com quem as gopis são casadas. Se elas fossem casadas com os gopas, será que a situação não seria a mesma que ocorre quando os animais machos da corças e os maridos das devis, que também amam a Krishna e não apresentam ciúmes ou inveja de Krishna ? Diz-se as vezes que as gopis não possuem maridos verdadeiros, que Yogamaya manufaturou maridos em duplicata para manter as aparências. No Garga-samhita existe a história de Krishna casando com todas as gopis durante o Brahmavimohana-lila no momento que Ele se expandia como vaqueirinho. Em outros textos , diz-se que em Goloka, as gopis mantêm a concepção (abhimana) de ter marido, mas , na verdade, elas não são absolutamente casadas. As vezes se diz que não existe um atila ou Abhimanyu verdadeiros, embora temos que ponderar de como poderia ocorrer o Yavata sem Jatila. Isso é madhurya-lila. Mahurya-lila significa que não existe aishvarya. As gopis pensam com as mesmas mentes e corações dos seres humanos - nada há de místico nisso. Não existe aishvarya. As gopis não são oniscientes (antaryami) como a Superalma. Elas são ordenhadeiras muito simples; elas não são muito espertas. Elas não sabem de todas as coisas. Os seus corações são muito singelos. Elas não conseguem perceber que yogamaya pregou uma peça nelas por as ter casado com Krishna ao invés de as ter casado com seus pretensos maridos. Assim que elas pensassem que yogamaya estava envolvida, surgiria aishvarya. Em suas mentes, elas tem estado casada com os gopas e isso é tudo que elas sabem. Dessa mentalidade é que elas falam de seu amor a Krishna em madhurya-rasa.


As gopis não sabem que elas estão de fato casadas com Krishna . Não sabem que não são casadas com os gopas. Elas só tem consciência que são casadas e seus maridos são os gopas. Elas aceitam todos os pais dos gopas como sendo os seus próprios. Contudo, quando chega uma terceira pessoa que não possui gopi-bhava para observar como Vyasadeva, Shukadeva, Narada ou nós mesmos, então é que se percebe todos os detalhes. Nós percebemos todos os detalhes, mas gopis de nada se dão conta. Se elas percebessem, então os lilas não poderiam ocorrer. Narada Muni sabe que elas não estão casadas com os gopas e sim com Krishna . Esse é o fato. Todavia, o fato real é o que as gopis vêem. Narada, Shukadeva, Vyasa e os outros não possuem o mesmo bhava das gopis. Os outros são sarvajna, conhecedores plenos. Uddhava também não possui gopi-bhava. As gopis só possuem um único bhava. Elas amam a Krishna de uma maneira secreta, sem saber como poderiam vivenciar esse amor a Krishna . Elas se encontram em casa meditando em Krishna , tentando esconder seus bhavas. Isso é tudo que elas conseguem saber. As gopis muni-chari não desenvolveram um prema total. Elas realmente se casaram com vrajavasis e geraram filhos. Não podemos falar sobre a natureza de seus maridos, se eles são nitya-siddha gopas ou sadhana-siddha gopas. Não há informações disso em nenhuma parte. Porém se as gopis soubessem que não são casadas com os gopas e sim com Krishna , então se estragaria todo o lila. Se mesmo Krishna soubesse que Ele está casado com todas as gopis, então, novamente, todo o lila se arruinaria. Devemos entender que o Srimad-Bhagavatam expressa a pura verdade. Do mesmo modo, as gopis vêem Jatila e Abhimanyu porque eles são necessários para o lila continuar. Contudo, uma pessoa neutra não os pode ver. As gopis vêem Jatila, mas Uddhava não vê Jatila ou Abhimanyu da mesma forma que as gopis os vêem. Uddhava vem de Mathura e tem que retornar para lá porque sua visão é diferente da visão de um vrajavasi. Narada Muni também não pode adentrar em Vrindavana. Se Krishna pensasse que Jatila e Abhimanyu não fossem reais, com poderia Ele desfrutar de Seu lila? Krishna está atuando como um vaqueirinho comum. Yogamaya fez todos os arranjos para Seu prazer. Este foi o motivo que confundiu Brahma e Indra quando estes viram Krishna como um menino. Por consequência, devemos ver tudo através dos olhos das gopis. Se não agirmos desse modo, não poderemos adentrar neste lila. Não temos que pensar como Krishna casou com as gopis, ou que isso signifique que elas não são de fato casadas com seus maridos. Também não temos que ver os arranjos de Yogamaya para os passatempos de Krishna . Sri Jiva Gosvami explicou todas essas questões para demonstrar a santidade dos passatempos de Krishna com as gopis. Assim em algumas passagens Jiva Gosvami parece favorecer a concepção de svakiya ou amor de cônjuge. Ele escreveu nesse diapasão preocupado com a leitura de pessoas desqualificadas que poderiam não compreender a superioridade de parakiya rasa. Isso se torna claro em suas próprias declarações expressadas no livro Sri Ujjvala-nilamani (1:21) quando comenta sobre o verso „laghutvam atra yat proktam' 2 svecchaya likhitam kincit kincit atra parecchaya yat-purvapara sambaddham tat-purvam aparam param “Alguns itens que eu escrevi foi por meu próprio desejo, alguns outros foi pelo anseio de outras pessoas. A porção que do começo ao fim possui solida lógica, ou seja, as que reconciliam as concepções de svakiya e parakiya foram escritas pelo meu anseio, ao passo que as partes que não foram assim reconciliadas expressa o desejo de outros.”

2- O verso completo do Ujjvala-nilamani é o que se segue: laghutvam atra yat proktam tat tu prakrta nayake na krsne rasa niryasa svadartham avatarini


“Os falhas ou impropriedades que se expressam (em outros rasas shastras) em relação ao amor de amante quando se aplica ao mundo ordinário dos amantes e não a Sri Krishna , pois, Ele é o apreciador da essência liquida de rasa e a fonte de todas as encarnações.”(Em outras palavras, as encarnações do Senhor são os controladores da religião e irreligião e nunca estão sujeitas as normas. Como poderia Sri Krishna estar subjugado a esses códigos quando Ele é a fonte de todas as encarnações?) Temos que compreender que tanto Sri Jiva Gosvami e Srila Visvanatha Chakravarti Thakura expressam-se de maneira correta sobre svakiya e parakiya rasa. Srila Jiva Gosvami e Visvanatha Chakravarti Thakura são Vaishnavas rupanugas e este é sucessor daquele. Portanto temos que entender o ponto de vista de Srila Jiva Gosvami através de Srila Chakravartipada. Srila Visvanatha Chakravarti Thakura afirma, “Muitas pessoas acreditam que Srila Jiva Gosvami favoreceu svakiya rasa. Isso foi apenas para o beneficio de pessoas desqualificadas que ele mencionou svakiya rasa em algumas poucas passagens, mas para os aptos ele, de modo especifico, mencionou parakiya rasa.” Os pensamentos expressos nos comentários de Srila Jiva Gosvami e Srila Chakravarti Thakura com referência ao livro Sri Ujjvala-nilamani sobre svakiya e parakiya , tanto um quanto outro estão corretos quando se considera suas perspectivas individuais. A diferença está simplesmente no ponto de vista. Sri Jiva Gosvami escreveu do ponto de vista de tattva e portanto defendeu a posição de svakiya ao passo que Srila Chakravartipada escreveu do ponto de vista de lila e portanto, defendeu a posição de parakiya. Do mesmo modo, Sri Rupa, Sri Sanatana, Sri Raghunatha dasa , Sri Kavi Karnapura e outros mais descreveram os passatempos de Sri Radha e Krishna no humor de parakiya. De modo que as explicações de Jiva Gosvami em relação a Krishna ter se casado com as gopis são especificamente em função do siddhanta e da pregação as pessoas em geral, mas não para dar entrada ao bhava das gopis. Rasika Vaishnavas, todavia, almejam ver as coisas através dos olhos de Srila Visvanatha Chakravarti Thakura e suas explicações do relacionamento parakiya das gopis com Krishna , porque isso facilita a entrada desses devotos no lila. Uddhava foi até as gopis e viveu em Vrindavana por muitos meses, embora ele não tenha sido capaz de esquecer o aishvarya. Ele desejava ter a mesma visão das gopis, mas não foi capaz. O Srimad-Bhagavatam (10.14.3) declara: jnane paryasam udapasya namanta eva jivanti san-kukharitam bhavadiya-vartam sthane sthitah sruti-gatam tanu-van-manobhir ye prayaso‟jita jito‟py asi tais tri-lokyam “Por residir continuamente no ashrama dos sadhus, ou seja, pessoas que abandonaram por completo a tentativa de obter conhecimento da identidade e opulência de Bhagavan através do conhecimento empírico, de modo automático, ouvem hari-katha fluindo das bocas de lótus dos devotos puros. Essas pessoas ocupam corpo, mente e palavras no recebimento dessas descrições de Seu nome, forma , qualidades e passatempos transcendentais. Essas pessoas mantêm suas vidas dessa maneira, abandonando todas as outras ocupações. Krishna decerto se torna conquistável por essas pessoas, ainda que de outra maneira fosse inconquistável por quem quer que seja dentro dos três mundos.” Jnane prayasam udapasya: os devotos tem que abandonar todo esforço em busca de conhecimento. Essa instrução não é só para o nirvishesha-jnani. Lembrar-se sempre de Krishna como Deus dos deuses, como sarva-karana anadi, não é uma instrução para os devotos rasika. Temos que esquecer tais instruções sobre Krishna . Tornar-se um Vaishnava rasika significa cultivar krsna-anushilanam, nosso relacionamento de serviço com Krishna . Isso é a expressão da verdade para os que desejam adentrar nos quatro bhavas de dasya, sakhya, vatsalya ou madhurya. Tais devotos não tem que reconhecer Krishna como Deus dos deuses.


Advayam jñana paratattva: não temos que pensar em Krishna desse modo. Ao invés disso, temos que sempre ouvir e cantar e lembrar dos passatempos de Krishna em Vrindavana. Um devoto rasika vai aprender apenas o suficiente sobre tattva-jñana que facilite sua entrada no bhava pelo qual ele se atrai. Em seguida tudo vai se desenvolver e tal devoto estará apto a entrar no lila. Se esse devoto pensar sempre em Krishna como o Senhor Supremo, então sua atração por Krishna ficará dominada por aishvarya jñana e ele não será capaz de entrar em madhurya lila de Krishna . Portanto um Vaishnava rasika não deve concentrar-se em Krishna do jeito que Ele se apresenta no Bhagavad-gita, como Deus Supremo. Se alguém desenvolve bhava, então tudo automaticamente vai seguir a frente e o que se segue será apenas bhava. Bhava, vibhava, anubhava, sattvika, vyabhichari - esses estados virão e o devoto entrarão neles. Sri Rupa Gosvami nunca fala de Krishna de um jeito não-rasika, mas Sri Jiva Gosvami escreveu todo o tattva nos Sandarbhas. Jiva Gosvami escreveu assim para auxiliar as almas condicionadas. O dever dele era estabelecer a sampradaya do Senhor Cheitanya. Ele próprio, no entanto, estava no mesmo humor de Rupa-Raghunatha. Ele no seu intimo estava apenas interessado em chorar por Radha -Krishna . Sri Krsnadasa Kaviraja Gosvami estava no mesmo humor. Há muitas passagens do Cheitanya-charitamrita que contem filosofia dos Sandarbhas, mas Krsnadasa Kaviraja expressava mais o humor de rasa-vichara de Rupa e Raghunatha dasa Gosvamis. Portanto, ao final de cada capitulo ele escrevia, sri rupa-raghunatha-pade yara asa/cheitanyacharitamrita kahe krsnadasa. Ao lermos o Venu-gita temos que esquecer tudo sobre Krishna ser Bhagavan e as gopis serem Bhagavati. Temos que aceitar apenas o ponto de vista das gopis como ensinado por Rupa Gosvami.


TEXTO TREZE

gavas ca krsna-mukha-nirgata-venu-gitapiyusam uttabhita-karna-putaih pibantyah savah snuta-stana-payah-kavalah sma tasthur govindam atmani drsasru-kalah sprisantyah gavah- as vacas, ca- e, krsna-mukha- da boca de Sri Krishna , nirgata- emitiu, venu- da flauta, gita- da canção, piyusam- o néctar, uttabhita- elevou-se alto, karna- com seus ouvidos, putaih- que atuaram como xícaras, pibantyah- bebendo, savah- as corças, snuta- transpirando, stana- dos úberes, payah- o leite, kavalahem cujos pedaços, sma- de fato, tasthuh- paralisou ( um sintoma de sattvika-bhava de ficar atordoado), govindam- Sri Krishna , atmani- dentro de seus corações, drsa- com sua visão, asru-kalah- seus olhos cheios de lágrimas, sprsantyah- tocando (abraçando) TRADUÇÃO Outras gopis disseram: Ó amigo! Por que você fala das devis? Você não vê as vacas? Quando o nosso mais amado Sri Krishna enche os buracos da flauta com o som que flui de Sua boca e as vacas ouvem essa doce musica, suas orelhas se sobressaltam e sem qualquer discriminação saboreiam o néctar com suas orelhas assemelhada a xícara. Desse modo, elas estão sorvendo a doçura desta musica. Por que isso ocorre, Ó amigo? Aceitando o amado Govinda em seus corações através dos portões de seus olhos, elas O assentam ali, abraçando-O dentro de suas mentes. Veja por si mesmo, a veracidade de minhas palavras! Jorram lágrimas de alegria de seus olhos. A condição dos filhotes é de fato estranha. Embora o leite flua automaticamente dos úberes das vacas, os filhotes no meio de processo de amamentação, ouvem de repente o som da flauta. Nisso, os filhotes não são nem capazes de cuspir , nem de engolir o leite que ainda está em suas bocas. Eles também acolhem Sri Krishna dentro de seus corações e O abraçam . Ao ser tocado pelas mão de Sri Krishna , seus olhos inundam-se com lágrimas de alegria, e eles estancam imóveis. COMENTÁRIO Devyo vimana-gataya smara-nunna-sara (texto 12): A forma e tudo que se relaciona com Krishna é um festival para os olhos das gopis. No texto 12, as devis, as esposas dos semideuses, foram exaltadas pelas gopis pois tinham melhor sorte. De fato, as devis não eram mais afortunadas do que as gopis porque as devis não possuem madhurya-bhava. Elas não tem a visão dos passatempos de Krishna com as gopis e elas não podem descender a Terra para se ocupar nos passatempos com Krishna . Se as devis tivessem tanto bhava por Krishna , elas poderiam vir e se juntar na dança da rasa ou encontrar-se com Krishna em outro momento, contudo, elas não vêm. Elas não podem vir. É apenas a visão das gopis que qualifica as devis dentro deste bhava, já que as gopis sentem-se como as mais desafortunadas. Se uma cabra (bakari) está buscando por grama tenra e ocorre de ir ao local onde Krishna está, as gopis vão olhar para a cabra como se ele estivesse colocando sua cabeça aos pés de Krishna em reverencias. Contudo, a cabra não está de fato oferecendo reverências; ela só está procurando por grama fresca. No entanto, as gopis vão ver isso de um modo diferente. Os animais são tolos, mas as gopis acreditam que eles são sábios porque embora não saibam nada sobre amor a Krishna , eles se aproximam de Krishna , ouvem a doce canção da flauta, e dedicam seus corações a Krishna . O que existe de especial é que ao mesmo tempo que as devis vêem Krishna , elas se esquecem que estão sentadas no colo de seus maridos. Se um homem vê sua esposa amando outro homem, ele ficará com ciúmes e vai reagir. Mas, neste caso, as gopis pensam, “Oh, veja quão maravilhosas e


afortunadas as devis são. Eles devem ter executados muitos atividades piedosas em nascimentos anteriores pois se tornaram merecedoras em ter maridos tão bons que as permitem amar a Krishna . Não apenas isso, seus maridos acreditam que suas esposas são mais afortunadas que eles mesmos porque elas sentem um prema muito maior do que o deles: „Krishna é o Senhor Supremo. Nós, semideuses, temos grande fortuna por ter casado com mulheres que amam tanto a Krishna . Somos muito afortunados por poder nos associar com nossas esposas.‟ Os semideuses não sentem ciúmes de Krishna , embora suas esposas amem tanto a Krishna .” É natural que tenhamos fé em alguém que possua mais bhakti do que nós concernente a Krishna. É natural que um devoto vá buscar a associação amorosa com alguém que possua mais bhakti do que ele próprio e que ele tente prestar serviço. Portanto, os maridos das devis sintam-se satisfeitos de poder se associar com suas esposas, consideradas por eles mais avançadas. A natureza de bhakti-devi é assim. Quando ela percebe que alguém possui amor e afeição por Krishna, ela oferta tudo a esse devoto. É assim que os semideuses se sentem: “Nós recebemos tanta graça por termos esposas que apresentam boas qualidades. Elas possuem tanta afeição por Krishna que as flores caem de seus cabelos e suas cintas escorregam. Elas nem se lembram onde estão. Devido ao som da flauta de Krishna, elas perderam o senso da realidade mesmo estando em nossos colos. Se nós pudéssemos ter apenas um pouco de afeição por Krishna nossas vidas seriam perfeitas.” É assim que eles prestam suas homenagens a suas esposas. Todavia no caso das gopis ocorre o oposto. “Nossos maridos vão sentir ciúmes e vão tentar nos impedir de correr para Krishna. Assim, almejamos nascer como devis pois poderemos ir para Krishna sempre que quisermos. Mesmo que não possamos participar de Seus passatempos ou tocar Seus pés ou nos banhar na poeira de Seus pés de lótus, ainda assim seremos muito afortunadas.” Tudo que as gopis vêem é um estímulo para um incremento do amor. Elas já falaram sobre a corça e as devis, e neste verso elas relembram a posição das vacas. Embora a posição dos semideuses seja exaltada, as gopis acreditam que qualquer coisa em Vrindavana - as árvores, vacas, flauta e corça - tenham mais oportunidade de servir a Krishna. Gavas ca krsna-mukha-nirgata-venu-gita/piyusam uttabhita-karna-putaih pibantiah: “Vejam quão afortunadas são as vacas. Se não podemos ser esposas dos semideuses, então reconheçamos a fortuna das vacas. Krishna está tocando Sua flauta e o néctar escorre torrencialmente. As vacas aparam esse néctar usando suas orelhas eriçadas como se fossem cálices.” Normalmente as orelhas das vacas ficam para baixo, mas quando elas ouvem algo, as orelhas se põem de pé. Por que? Porque elas são como cálices. Elas querem absorver o que estão ouvindo. As lágrimas inundam seus olhos fechados e o leite flui de seus úberes. Quando se vê o leite assim derramar, temos um sinal de vatsalya-rasa. O mesmo sintoma vemos em Yashoda-mata. Quando ela vê Krishna, espontaneamente seus seios enchem-se de leite. As vacas são como mães. O êxtase e a afeição delas por Krishna está em vatsalya-rasa. Descreve-se isto no Srimad-Bhagavatam. As gopis observaram que por muitos anos Krishna levava as vacas ao pasto. Ele as banhava nos lagos, Ele as ordenhava e as vezes as acariciava. Como Krishna e as vacas estiveram juntos por tanto tempo, é natural que uma relação afetuosa sai se desenvolvesse. As vacas que Krishna levava todo dia no pauganda-lila eram ainda bezerros. Havia uma afetuosa relação entre Krishna e os bezerros que costumava acariciá-los e levá-los ao pasto. Esses bezerros cresceram, e agora como vacas tem muito priti por Krishna. As vacas são como mães na afeição por Krishna e no modo que elas doam seu leite a Ele. Essas vacas haviam se acostumado, quando bezerros, a acompanhar Krishna e agora crescidas acompanhavam-nO também mesmo já com seus primeiros filhotes nascidos. As vacas não iam ao pasto com outros gopas devido ao amor por Krishna. Os bezerros, no começo de suas vidas, não têm uma rasa específica com Krishna. Do mesmo modo, as gopis - crianças ainda não despertaram seu madhurya-rasa com Krishna (svaccha-rati). As gopis afirmam que as vacas já tinham afeição por Krishna desde a tenra infância e ao ouvir a flauta de Krishna, elas fixam seus olhos no rosto de Krishna com grande afeição. Mas não é isso que ocorre de fato. Trata-se de outro


exemplo da mentalidade das gopis que imaginam as corças e as esposas dos semideuses como íntimos de Krishna. As gopis pensam: “Os bezerros, que não têm relacionamento com Krishna pois estão na fase svaccha-rati, estão com três ou quatro dias de vida ou menos que um mês. Contudo, ao ouvir a flauta e ver Krishna, mesmo tão jovens ficam estupefatos, como se já fossem maduros. Os bezerros perdem os sentidos, e embora os mamilos de suas mães estejam em suas bocas, eles não conseguem mais mamar. E as vacas que estão ruminando não conseguem mais mastigar e o capim cai de suas bocas. “ Tudo paralisa quando Krishna chega. As gopis vêem Krishna e vêem que as vacas estão olhando para Krishna. Elas observam que as vacas e os bezerros trouxeram Krishna para dentro de seus corações e que eles querem abraçar Krishna. Krishna é filho deles. O que eles desejam é apertar Krishna contra seus peitos do mesmo jeito que a mãe abraça seu filho e carrega sua imagem no coração. Eles querem abraçar Krishna como um amigo amado. Da mesma forma que uma gopi, eles desejam dar um abraço apertado em Krishna, internamente. As gopis se dão conta que os desejos deles estão sendo realizados porque elas vêem lágrimas escorrendo de seus olhos: Savah snuta-stana-payah-kavalah sma tasthur/govindam atmani drsasrukalah sprsantyah: Asru-kalah, significa que seus olhos estão cheios de lágrimas. Tanto os olhos das vacas quanto dos bezerros estão inundados de lágrimas. Eles não conhecem nada além do rosto de Krishna e do som de Sua flauta. Eles só conseguem ver Krishna. Os bezerros nem olham para suas mães, nem as mães olham para suas crias. Nenhum deles consegue ver o pasto, eles não vêem nada além de Krishna. As vacas e os bezerros podem ser tanto devotos nitya-siddha ou sadhana-siddha. Podemos perceber que as vacas foram sruti-mantra, do mesmo modo que algumas gopis foram muni-sari. A maioria das vacas são shlokas védicos e os bezerros são rishis e munis. Por ouvir essas descrições, o sadhaka pode desejar ser como as vacas e os bezerros. A jiva é independente (svatantra) e pode desejar qualquer coisa. Não existe nenhuma razão que explique alguém desejar ser uma vaca ao invés de um vaqueirinho ou ser uma gopi mais velha em vatsalya-rasa. A independência é a tendência da jiva. Se o sadhaka quer ser uma serpente quem pode entender seus motivos? Raghunatha das Gosvami diz: yat kincit trna-gulma -kikata-mukham gosthe samastam hi tat sarvanandamayam mukunda-dayitam lilanukulam, “A relva, arbustos, insetos, e todas as outras criaturas de Vraja são muito queridos pelo Senhor Krishna. Todos auxiliam o Senhor em Seus passatempos. Todos têm bem-aventurança transcendental plena”(Vraja-vilasa stava, texto 102). Tudo em Vraja é sac-cit-ananda. Qual o motivo que levaria o devoto a querer ser uma árvore? A resposta é que Krishna virá e sentará em sua sombra e colherá seus frutos. Krishna vai se esconder em sua sombra e vai subir em seus galhos. Mesmo uma serpente causará temor a Radhika fazendo com que Ela corra para os braços de Krishna. Pode ser que um devoto ao ouvir isto, deseje tornar-se uma serpente. Não existe outra motivação para o devoto. Esse verso fornece um belo vislumbre das atividades dos residentes de Vrindavana a partir do ponto de vista das gopis. Temos que meditar nesse quadro em nosso raganuga-bhajana.


TEXTO QUATORZE prayo batamba vihaga munayo vane‟smin krsneksitam tad-uditam kala-venu-gitam aruhya ye druma-bhujan rucira-pravalan srnvanti milita-srso vigatanya-vacah prayah- quase, bata- decerto, amba- Ó mãe (Ó amigo), vihagah- os pássaros, munayah- grandes sábios, vanena floresta, asmin- isso, krsna-iksitam- observando a beleza do semblante de Krishna , tat-uditam - criado por Ele, kala-venuitam- as doces vibrações feitas pelo tocar da flauta, aruhya- elevando-se, ye- quem, druma-bhujan- aos galhos das árvores (na forma do Srimad-Bhagavatam), rucira-pravalan- tendo belas trepadeiras e galhos, srnvanti- elas ouvem, milita-drisah- com sua visão retirada de todos os fenômenos e todo o conhecimento relacionado com o corpo material (i.e. com os olhos bem abertos e sem piscar exclusivamente fixos na forma transcendental de Sri Krishna ), vigata-anya-vacah- cessando todos os outros sons (não relacionados a Sri Krishna )

TRADUÇÃO Ó Sakhi! Não se preocupe com esta conversa comum sobre vacas e bezerros. Você não vê os pássaros de Vrindavana? Chamá-los de pássaros é, por certo, um erro. Falando a verdade, a maioria desses pássaros são exaltados rishis e munis. Eles se sentam silenciosos sob as belas árvores verdejantes de Vrindavana, em cima de galhos que estão brotando muitos botões recém formados. Todavia, esses rishis e munis não fecham seus olhos. eles observam continuamente , sem piscar os olhos, a doçura da forma de Krishna e recebendo Suas olhadelas de lado carregadas de amor, eles se encantam. Ignoram todos os outros tipos de sons, eles só ouvem a voz e a musica cativantes que provem de Krishna que cativa todos os três mundos. Minha querida sakhi! Quão felizes eles são. (Oh! quão infelizes nós somos Nossa vida não tem sentido e nossos olhos são inúteis. Onde vamos achar a fortuna de poder contemplar a bela forma de Krishna ?) COMENTÁRIO Essa gopi está chamando a outra gopi com as palavra amba, mãe. Tanto em Bengali quanto em Hindi, dizemos ma. Sempre que há mulheres reunidas e alguém faz uma bela declaração, elas dizem Mago e em hindi, Mayi-re. Contudo, aqui não temos nenhuma mãe, apenas jovens mocinhas que são amigas entre si, apesar disso elas dizem, “Ó mãe! Este é o tom de exclamação. No Srimad-Bhagavatam ocorre muitas vezes senhoras chamando-se mutuamente de mãe, embora não sejam mães de fato. Ó mãe, Ó sakhi, Ó amiga todas essas são formas de chamamento (sambhodana). No último shloka diz-se, gavas ca, tanto as vacas quanto seus filhotes amam a Krishna com tanta intensidade que no momento que os filhotes estão sugando o leite e suas mães estão pastando, todos ficaram atônitos devido o som da flauta de Krishna . Krishna ama a todos eles também, que tomam posição com as orelhas, como cálices, erguidas. Eles perderam o sentido do seu próprio eu. Eles apenas ouvem o som delicioso da venu. As gopis recordam que tudo em Vrindavana é muito feliz uma vez que pode saborear o néctar da flauta e a doçura da forma de Krishna . Tudo e todos em Vrindavana, desde o mais elevado ao mais baixo os pavões, os cucos, as abelhas, os rios, a corça, os semideuses - ficam atraídos pela delicioso som da flauta e pela beleza de Krishna. Do mesmo modo, as gopis vêem os pássaros posicionados quietos nos galhos das árvores como grandes munis. Normalmente os pássaros voam daqui para ali , cantando e gorjeando, mas quando Krishna toca Sua flauta, os pássaros silenciam , fecham os olhos e ouvem. Portanto, essa gopi está


chamando sua sakhi da seguinte forma: “Mãe, observe a maravilha das ações desses pássaros” : vihaga munayo vane‟smin. Asmin vane significa a floresta de Vrindavana. vihaga munayo significa que os pássaros são munis ou estão agindo como tal. Os sintomas de um muni é que ele sempre se senta com seus olhos cerrados. Tal pessoa não possui consciência de seus sentidos externos, não fala com ninguém e se concentra em meditação. Decerto os pássaros em Vrindavana são munis. Krsneksitam tad-uditam kala-venu-gitam: “Por nós estarmos vendo os sintomas de muni nos pássaros, não podemos afirmar se os munis nasceram como pássaros ou se os pássaros vieram a ser munis. Talvez as duas afirmações sejam verdadeiras.” Krsna-iksitam significa por ver o belo rosto de Krishna. Tad uditam kala-venu-gitam significa por ouvir a doce melodia que flui como o néctar da flauta. Kala significa doces vibrações. Também significa klim, la la, kama-bija. Kala também significa que os pássaros acham que Krishna chama somente a eles. Isso é kala. Existem dois tipos de pássaros e três tipos de munis. Um dos tipos de muni é o dos que meditam no Brahman (brahmavadis, como os quatro Kumaras antes de sentir o aroma das folhas da tulasi oferecidas aos pés de lótus do Senhor), outro tipo é o dos que meditam no Superalma (paramatmavadis, como Saubhari Muni), e por final há os que meditam em Bhagavan (bhagavat-tattva-vadis), aqui todos são devotos. Em cada tipo de muni existe um destino diferente. Os brahmavadis não vêem a forma de Brahman, mas possuem nistha. Não é o mesmo que os shankara-vadis que são sunyavadis. No inicio os quatro Kumaras e Shukadeva Gosvami eram brahmavadis. Sem sadhu-sanga, tais munis irão alcançar mukti ou em siddha-loka ou em brahmajyoti. Brahma-bhutah prasannatma na socati na kanksati/ samah sarvesu bhutesu mad-bhaktim labhate param, “Aquele que está situado na plataforma transcendental de Brahman, estando plenamente satisfeito em seu coração, nunca se lamenta e nem deseja por nada. Tal pessoa observa todas as entidades vivas com a mesma visão. Neste estado ele alcança para bhakti ou prema bhakti a Mim.” (Bg. 18.54). Se um brahmavadi chega a se associar com um rasika Vaishnava o ouve seu siddhanta, tal brahmavadi vai alcançar para-bhakti (prema-bhakti, visuddha-bhakti). Em tal situação, ele poderá ir ou para Vaikuntha ou para Goloka Vrindavana. Descreveram-se os paramatma-vadis no Bhagavad-gita. Aqueles que se lembram do Paramatma como a testemunha no coração, como o outorgador das reações provindas das atividades do passado e como o que satisfaz os desejos, essas pessoas se tornam livres dos frutos de todas as atividades do passado. São como iogues. Há neles uma mescla de sat e cit e eles estão cientes das varias formas de Krishna como Karanodakasayi Visnu e Garbhodakasayi Visnu. Primeiro eles vão a Brahmaloka com Brahma , após eles poderão ir onde quiserem segundo o nível de avanço e vivência. Eles podem ir a Brahmajyoti ou a Vaikuntha, ou mesmo a Goloka, conforme a associação que tenham e os seus bhajanas sobre o nome, forma, passatempos e qualidades do Senhor. Contudo eles são munis e assim não podem entrar em Vrindavana. Apenas os que cantam e dançam podem adentrar em Vrindavana, como os pavões, cucos e papagaios. Os papagaios e cucos cantam melodiosamente assim eles podem atrair Krishna e Radhika. Os papagaios não cantam, mas eles dançam. Portanto, depreendemos que os pavões, cucos e papagaios não são de fato munis ou iogues. Eles são bhaktas, ou munis do mais alto nível. Ao ver ou se lembrar de Krishna , eles começam a cantar e dançar. Desse modo, Sadashiva decerto é um rasika Vaishnava porque ele canta e dança. Sri Cheitanya Mahaprabhu disse kirtaniya-sada harih. Sua instrução é kirtana: ceto-darpana-marjanam bhava-mahadavagni-nirvapanam sreyah-kairava-candrika-vitaranam vidya-vadhu-jivanam anadambudhi-vardhanam prati-padam purnamrtasvadanam sarvatma-snapanam param vijayate sri-krsna-sankirtanam Existem sete estágios. Sarvatma é o último estágio , mas tudo se alcança através do kirtana. Por essa razão, kirtana é o que há de melhor.


Sri cheitanya-charitamrita afirma sapta-jiva: primeiro, ceto-darpana-marjanam ( limpando o espelho do coração) ; segundo, bhava-mahadavagni-nirvapanam (extinguindo o fogo ardente da existência material) ; terceiro, sreyah-kairava-candrika-vitaranam ( o florescer dos primeiros raios de luar da boa fortuna na forma de bhava-bhakti); quarto, vidya-vadhu-jivanam ( a vida e alma do conhecimento transcendental); quinto, anandambudhi-vardhanam (o crescente oceano da bem aventurança de amor a Deus); sexto , pratipadam-purnamrtasvadanam ( sentindo o gosto deste oceano de bem aventurança a cada passo); e sétimo, sarvatma-snapanam (banhando-se por inteiro neste oceano). Kirtana e prema são a mesma coisa. Somente através do Kirtana e da dança em bhava, seja gopibhava ou outro vraja-bhava, pode-se alcançar prema. Os pavões, cucos e papagaios macho e fêmea cantam e dançam, portanto, eles não são munis que apenas se sentam em meditação. A palavra praya significa quase todos e não todos. Assim praya não significa os cucos, pavões e papagaios macho e fêmea, que são apenas três tipos de pássaros. Quando esses mencionados vêem o rosto de Krishna e ouvem a canção de Sua flauta, eles começam a dançar e cantar. Quando os outros tipos de pássaros ouvem a canção da flauta de Krishna e vêem Seu rosto e os pavões, papagaios e cucos dançando e cantando, esses pássaros saem de seus ninhos e observam a beleza da cena. Todos os diferentes tipos de pássaros assim se dirigem para os galhos das árvores e ali se sentam(aruhya ye druma-bhujan ricirapravalan) nos locais onde estão brotando recém formadas folhas vermelhas. Eles não se sentam em árvores de folhas grandes que poderia atrapalhar a visão de Krishna , e sim nas árvores onde as folhas são recém formadas. Desse modo, Krishna também pode ver esses pássaros. Já sentar-se em galhos onde não haja folhas é perigoso , uma vez que caso fiquem inconscientes eles podem cair. Os munis também vivem em cabanas feitas de galhos e folhas na floresta. Esses pássaros também vivem em kutiras. Eles não moram em galhos onde não haja folhas. Onde eles se sentam não há folhas, mas em volta há galhos com folhas grandes. Portanto, embora eles possam ver Krishna e Krishna os possa ver, eles ficam escondidos dos outros pássaros. Do mesmo modo que os munis, eles querem ver Krishna e obter Sua misericórdia. Existe um relacionamento sambandha entre Krishna e os munis, mas ninguém consegue ver o que os munis fazem. Eles desejam adorar Krishna da privacidade de suas cavernas ou kutiras e não querem ser vistos por ninguém exceto por Krishna . Este é o sintoma de um muni. Esses pássaros também apresentam esses sintomas. Esta é a visão das gopis. As gopis vêem como os pássaros se comportam, mas esses versos nascem de seus corações. Existe um verso no Srimad-Bhagavatam (11.1.45): sri-havir uvacha sarva-bhuteseu yah pasyed bhagavad-bhavam atmanah bhutani bhagavaty atmany esa bhagavatot tamah “Sri Havir disse: Aquele que percebe a atitude de amor transcendental ao Senhor dentro de tudo, animado e inanimado, e percebe que tudo se situa em suas formas espirituais perfeitas, ocupando-se em servir ao Senhor neste humor, é conhecido como um uttama-bhagavata.” O sintoma de um uttama-bhagavata é sarva-bhutesu yah pasyed, ele vê seu bhava em relação a Krishna em toda parte. Prahlada Maharaja vê Nrisimhadeva em todo parte e sente que todos adoram Nrisimhadeva como ele próprio faz. Os quatro Kumaras acham que todos são iogues. Yashoda-ma acredita que todos amam Krishna como ela ama. Esses são os sintomas de um mahabhagavata. Explica-se também este verso no Cheitanya-charitamrita. Sarva-bhutesu yah pasyed bhagavadbhavam atmanah. Atmanah significa seu relacionamento com Krishna , como o mahabhagavata ama a Krishna .Todos os mahabhagavatas vêem que todas as pessoas estão adorando Krishna como eles próprios estão.


Os mahabhagavatas também percebe que todos estão situados em Krishna como eles próprios estão. Yashoda-ma viu todo o universo, incluindo-se todas as entidades vivas na boca de Krishna . Arjuna viu a virat-rupa. Prahlada Maharaja também teve essa visão. Embora isso não fosse a visão de um vraja bhakta, Yashoda-ma teve essa visão, da mesma forma que o Senhor Brahma. Esse é um dos sintomas de um devoto mahabhagavata. Cheitanya Mahaprabhu afirma no Madhya 8.274: sthavara-jangama dekhe, na dekhe tara murti sarvatra haya nija ista-deva-sphurti, “O mahabhagavata vê todas as coisas moveis e imóveis, mas não vê diretamente suas formas. Pelo contrario, ele vê de imediato, Sri Krishna manifestando-se como o objeto da ânsia de seus corações.” Neste verso existem dois tipo de significado: sthavara-jangama dekhe, ele vê as pessoas individualmente, as árvores, as entidades vivas, mas não as vê como se existissem neste mundo. Ele vai ver que essa é uma gopi (se estiver em gopi-bhava) . Ele vai ver todos os seres moveis e imóveis como estando situados no mesmo bhava que ele próprio está. Essas entidades vivas podem não estar situados no mesmo bhava que ele, mas esta é a forma de ver de um mahabhagavata. Não existe esse bhava nas árvores, e existe um tipo diferente de bhava nos pássaros e vacas, mas as gopis acham que cada uma dessas entidades vivas se situam apenas no humor de gopi-bhava e que estão, por isso, amando Krishna da mesma forma que elas amam. Devido a que elas desejam se aproximar de Krishna , tocá-lO e ser tocadas por Ele, elas acham que todas as entidades vivas estão tentando conseguir o mesmo objetivo. E uma vez que as gopis não estão alcançando êxito em seu objetivo, elas acham que todas as entidades vivas como as árvores, corças, flauta, vacas e pássaros são mais afortunados que elas próprias. Sthavara-jangama dekhe, na dekhe tara murti: as gopis vêem tanto as entidades vivas moveis quanto as imóveis, mas elas não vêem apenas suas forma da maneira mencionada. Toda entidade viva é para elas um estimulo para um amor ainda maior (uddipana). Por essa visão elas reconhecem Krishna em toda parte. Elas não acham que as árvores são seres inertes ou que as vacas são seres moveis; elas vêem apenas os seus próprios gopi-bhava nessas entidades. Esse é um sintoma de um mahabhagavata. As gopis estão experimentando mahabhava. Este êxtase não pode ser encontrado em outras rasas (dasya, sakhya, ou vatsalya), embora devotos situados nessas rasas possam ser mahabhagavatas. Prahlada Maharaja é um mahabhagavata, como também é Uddhava e Narada. Porem cada um desses bhaktas só podem ver de acordo com seu próprio bhava. Um devoto mahabhagavata em gopi-bhava vai ouvir Krishna tocando Sua concha e vai pensar, “Oh, quão afortunado esta concha é pois está saboreando o néctar dos lábios de Krishna .” A própria concha não possui tal visão, mas o mahabhagavata vai achar que sim. Outro sintoma de um mahabhagavata é que ele todos servindo Krishna exceto ele mesmo. Exemplifica-se isso nas gopis neste capitulo porque elas estão falando da boa sorte das tantas entidades vivas e reconhecem sua má sorte. Existe um segundo significado de druma-bhujan (dos galhos das árvores). Existem muitos munis que são brahma-jnanis e que fazem sua escalada pelos Upanishads, que é um dos ramos dos Vedas. Eles ascendem e olham para Krishna de lá. Eles vêem Krishna como Brahman. Um iogue faz sua escalada em certos Upanishads, nos Smriti. Os bhaktas possuem sua própria ramificação, o ramo do Srimad-Bhagavatam. Ao se escalar neste ramo, eles podem ver Krishna e Krishna pode vê-los. Caso contrário, em qualquer Veda, Purana, Upanishad ou Smriti não vai ser encontrado o galho onde se pode sentar e observar. Portanto, druma-bhujan significa que os munis abandonam todas as ramificações dos Vedas e escalam nos galhos do Srimad-Bhagavatam. Desse modo, Eles chegam a Vrindavana e escalam o galho e vêem Krishna . Eles preferem a árvore de Vrindavana a árvore dos Vedas. Em Vrindavana eles podem ver Krishna quando sobem nas árvores, mas não conseguem vê-lO se subirem nas árvores dos Upanishads ou qualquer outro Vedas. Esses munis desejaram se tornar pássaros - Sanaka, Sanandana, Sanatana , Sanatkumar, Shukadeva Gosvami (que se tornou um papagaio) e tantos outros munis. Quando eles abandonaram os demais Vedas, eles naturalmente se dirigiram a Vrindavana e viram Krishna quando subiram nos galhos das árvores.


As gopis disseram rucira-pravalan, que os pássaros estão sentados nos finos galhos e trepadeiras da árvore do Srimad-Bhagavatam. A partir deste local , os munis podem ver os pavões e os papagaios dançando e os cucos cantando, mas eles próprios não estão cantando ou dançando - apenas se sentam como fazem os munis, observando tudo. As gopis estão dizendo que é fato que Shukadeva Gosvami e os quatro Kumaras, bem como todos os munis, executaram tantas austeridades e serviram Radha e Krishna tanto, que pela misericórdia de yogamaya, eles puderam vir a Vrindavana na forma de pássaros. Desse modo, este estão vendo e saboreando Krishna . Srnvanti milita-drso vigztanya-vacah: os pássaros não estão cantando. Os sentidos externos deles ficaram paralisados . As gopis almejam ter tanta fé quanto esses pássaros cujos sentidos externos pararam e que se esqueceram de tudo exceto Krishna . “Se somos afortunados o bastante para nos tornarmos pássaros na próxima vida, poderemos voar até Krishna sem nenhuma hesitação ou restrição. Se nos tornarmos cucos ou papagaios, então o que mais poderemos almejar? Seremos tão fieis que sempre poderemos voar até as mão de Krishna ou Srimati Radhika. Se nos tornamos cucos, cantaremos para Krishna , se for pavões, dançaremos para Krishna .”


TEXTO QUINZE nadyas tada tad upadhraya mukunda-gitam avarta-laksita-manobhava-bhagna -vegah alingana-sthagitam urmi-bhujair murarer srhnanti pada-yugalam kamalopaharah nadyah- os rios (Sri Kalindi, Manasi Ganga e outros); tada- nisto, tat- esta; upoadharya- percebendo (atentamente ouvindo a canção da flauta que chega a eles); mukunda- de Sri Krishna , o ápice da bem aventurança espiritual, que outorga libertação de todo sofrimento ao conferir Sua associação; gitam- a canção da flauta de Mukunda, que faz nascer a bem aventurança espiritual suprema; avarta- num redemoinho (indicativo de sua kama para se encontrar com Krishna ); laksita- manifesta; manah-bhava- por seus desejos conjugais; bhagna- quebrado; vegah- suas correntezas; alingana- pelos braços de suas ondas; murareh- do Senhor Murari, o matador do demônio Mura; grhnanti- elas agarram; pada-yugalam- os dois pés de lótus; kamala-upaharah- levando oferendas de flores de lótus tradução Outras gopis disseram: Ó sakhi! Por que você fala das devis, vacas e pássaros? Todos eles são seres vivos animados. Você não percebe os rios inanimados? Você não vê os redemoinhos que acontece nos rios, compreende-se que dentro de seus corações surgem um desejo intenso para se encontrar com Syamasundara. O fluxo dos rios ficaram paralisados por essa intensa agitação emocional. Os rios também ouviram o som da flauta de nosso amado Krishna . Olhe bem! Olhe bem! Com os braços de suas ondas, eles agarraram os pés de lótus de Krishna e estando fazendo uma oferenda de flores de lótus. Os rios abraçam Seus pés de lótus como se estivessem oferecendo seus corações a Ele. COMENTÁRIO Ao ouvir a canção da flauta, os rios se aquietaram. Eles estão cheios de bhava. Eles não conseguem pensar em nada mais. Sthagitam significa que eles silenciaram. As gopis vêem Krishna caminhando pelas praias do rio Yamuna com seus bhava-netra (olhos do amor). De fato , elas estão sentada em seus quartos, mas elas vêem Krishna caminhando pelas praias do Yamuna tocando Sua flauta. Neste capitulo, as gopis falam apenas das influencias do som da flauta de Krishna sobre os residentes de Vrindavana; portanto, chama-se a isso de Venu-gita. Nadyas tada, as gopis vêem que o Yamuna se aquietou. Por ver o belo rosto de Krishna e ouvir Sua flauta, o rio parou de fluir. Tad upadharya mukunda-gitam avarta-laksita-manobhava-bhagna-vegah: as gopis acreditam que o Yamuna é melhor que elas mesmas , uma vez que simplesmente por ouvir a flauta de Krishna , o Cupido flechou o coração do rio Yamuna e agora ela (o rio) deseja saborear Krishna (kama). Este é o porquê Yamuna se aquietou. Se smara (o Cupido) flecha o coração de alguém, em especial o coração de uma kamatmika-gopi, então vão se manifestar sintomas perceptíveis. As gopis falam de um modo dissimulado (avahita). Eles tentam não tornar claro seus sentimentos (bhava) para as outras gopis. Até esse ponto, elas não revelaram o que aconteceu a elas quando ouviram a canção da flauta e viram o belo rosto de Krishna , mas aconteceram sintomas. Neste instante, kama está rapidamente se apoderando de seus corações. Elas estão tão imersas em Krishna-prema que querem esconder isso das outras gopis. Elas não expressam o humor de seus corações. Caso alguém ame uma pessoa tanto quanto as gopis amam a Krishna , esse alguém terá palpitações em seu coração. Não só essa disritmia cardíaca , se qualquer um tiver uma experiência de sentir amor por alguém, então tal pessoa poderá avaliar comparativamente o sentimento das gopis, embora o amor entre homem e mulher seja o oposto ao prema das gopis. O prema das gopis em vipralambha é como um veneno mortal (halahala). As gopis estão


sentindo o efeito do veneno nesta passagem, não há néctar. Às vezes , elas sentem como se tivessem morrendo, outras vezes como se tivessem renascendo. Elas não conseguem ter claro se é veneno ou néctar o que elas sentem. No amor do mundo, se o amado vai embora por um dia e o que fica não sabe se haverá retorno ou não, haverá muita ansiedade em seu no coração. Quem fica sequer conseguirá dormir e estará sempre apreensivo. Shukadeva Gosvami apenas fornece pistas aqui sobre o que as gopis sentem. E de um modo oculto as gopis dizem que não podem expressar o que se passa no coração de Yamuna, porque ela está vendo Krishna e ouvindo o som de Sua flauta. Elas só dizem que percebem que Yamuna está atordoada. Portanto, ela deve estar experimentando kama. Yamuna ouve a partir da superfície de suas águas e suas ondas se atiram em direção a Krishna para abracá-lO. As ondas que se formam não é só a partir das águas da superfície, mas também das águas profundas. Isso cria milhares de redemoinhos. Tantos bhavas surgem em seu coração, não é só um tipo de bhava. Sri Cheitanya Mahaprabhu experimentou o turbilhão do kila-kinchita-bhava juntamente com vários outros bhavas, tudo ao mesmo tempo. Os diferentes bhavas vinham e cortavam Seu coração em pedaços. Do mesmo modo, tantos humores surgem no rio Yamuna que criam milhares e milhares de turbilhões. Ao final, com seus longos braços (ondas), ela(o rio Yamuna), abraça os pés de lótus de Krishna (urmi-bhujair murarer ghrnanti pada-yugalam kamalopaharah) oferecendo-Lhe flores de lótus. Este é o sinal de kama no Yamuna. Este é o motivo de sua correnteza quebrar-se em tantos locais. As gopis comparam isso ao seu próprio humor e como seus corações estão repletos de correntezas quebradas e redemoinhos. As flores de lótus quebram-se na haste pela forca dos redemoinhos e Yamuna devi as pega , oferecendo-as aos pés de lótus de Krishna (alingana-sthagitam urmi-bhujair murarer). Outro significado para a palavra alingana é que uma vez que Krishna passeia nas margens do Yamuna, as ondas se atiram aos Seus pés de lótus , abraçando-os. Como as ondas do oceano que se quebram na praia, as ondas do Yamuna se quebram aos pés de lótus de Krishna . O Yamuna não é um rio comum. As gopis vêem Yamuna abraçando Krishna , mas Krishna não correspondeu tal abraço . Ao final ela (o rio Yamuna), fica envergonhada e diz, “Oh, eu estou errada, não sou qualificada. Se fosse as gopis, Krishna teria correspondido. Como eu não são tão bonita e formosa Krishna não me abraça. Embora Yamuna seja uma expansão de Vishakha, as gopis a vêem dessa maneira. Yamuna então se aproxima de Krishna , entregando-Lhe seu coração na forma de flores de lótus (kamalopaharah) e suplica que Ele a abrace. Em geral as mulheres não expressam seus sentimentos ao seu amor primeiro, e sim espera que o homem tome a iniciativa. Se a mulher se declara primeiro, o homem pode ignorar , fazendo-a recuar. Então tal mulher vai suplicar como faz Yamuna. Devido a que Krishna ficou calado e não correspondeu a seu abraço, Yamuna sentiu-se envergonhada e humilhada. Portanto, ela oferece flores de lótus a Seus pés. As gopis vêem Yamuna como afortunada porque ela pode abraçar Krishna . Ela pode cair a Seus pés. Ela pode colocar flores a Seus pés. Ela pode ouvir a melodia de Sua flauta bem próxima. “ Nós , gopis, nada podemos fazer. Se fossemos as águas do Yamuna, poderíamos fazer essas coisas com muita facilidade. Como nada podemos fazer agora, somos muito desafortunadas.” Esse é um verso importante. Quando Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura fazia referência a este shloka em suas palestras, ele sempre apresentava sintomas de bhava, sua boca se avermelhava e seus olhos enchiam-se de lágrimas. Nadyas tada tad upadharya mukunda-gitam. Isso é que é gopi-bhava. Até agora, as gopis dissimulam seu bhava e o controla. Elas não expressam seu sentimento a nenhuma outra gopi. Porém , neste verso, elas não conseguem mais conter seus sentimentos. Elas tentam contê-los, mas não podem. Os sentimentos vem por si. Não há como segurá-los. Este é o motivo desse shloka ser importante. Quando elas percebem que perderam o controle e estão expressando mais do que intencionavam, as gopis outra vez tentam dissimular seus sentimentos. O que elas fazem é expressar o que sentem de outro modo, agora indireto. Quando elas se dão conta que de qualquer jeito o bhava está aparecendo, elas ficam envergonhadas. Assim , elas querem encobri-lo outra vez. Pode parecer notável que considerando-se que as gopis estejam entre amigas de bhava e idade similares, não deveriam sentir-se envergonhadas ao ver seus sentimentos expostos. Todavia, essa é a


característica deste bhava. Se elas o expõe abertamente, então as outras gopis vão pensar: “Ela deseja Krishna !” Nisto outra gopi também vai desejar Krishna e elas terão que compartilhar. Elas não querem compartilhar nem seus humores , nem Krishna , mesmo entre suas melhores amigas, embora compartilhem seus sentimentos com as manjaris. Por exemplo, o que se conhece por sannyasi pode ter muitos amigos. Se ele se apaixonar por uma bela mulher, será que ele vai contar para todos seus amigos? Ele não vai poder contar. Ele quer, isso sim, é cessar essa atração porque ele é um sannyasi. Todavia, se apesar disso sua mente continuar indo nesse sentido, ele não vai contar para todo mundo. Ele vai tentar esconder isso. Do mesmo modo, as gopis não são casadas com Krishna , ainda que experimentem desejos conjugais. Elas desejam Krishna totalmente. Elas querem que Ele fique só sob o controle delas. Se elas expressam isso abertamente, todos irão saber o segredo delas. Toda a sociedade vai rir delas ou puni-las. Portanto , elas estão escondendo esses sentimentos. Radhika mesmo quando está entre Lalita e Vishakha esconde Seus sentimentos. Existem algumas coisas que ela expõe que não precisa ser oculto - ou seja, as coisas mais gerais. Todavia, aqui não estamos tratando de raga, e sim de purva-raga. As gopis estão no humor de desejo ardente por Krishna . E por consequência, elas não dirão isso a ninguém.


TEXTO DEZESSEIS drsvatape vraja-pasun saha rama-gopaih sancarayantam anu venum udirayantam prema-pravrddha uditah kusumavalibhih sakhyur vyadhat sva-vapusambuda atapatram drstva- vendo; atape- no abrasante calor do sol; vraja-pasun- os animais domésticos de Vraja(as vacas); saha- junto com; rama-gopaih- Sri Balarama e os vaqueirinhos; sancarayantam- apascentando juntos; anuuma e outra vez; venum- Sua flauta; udirayantam- tocando alto; prema- por amor; pravrddhah- expandido; uditah- elevando-se alto; kusuma-avalibhih- com partículas de vapor d‟água, que são como ramalhetes de flores; sakhyuh- para suas amigas ( que eram da mesma cor- shyama); vyadhat- ele construiu; sva-vapusapor seu próprio corpo; ambudah- a nuvem; atapatram- um guarda-sol (composto de gotas d‟água) tradução Ó sakhi! Esses rios também pertencem a nossa Vrindavana. Portanto, Não é de se espantar que eles estejam oferecendo de tudo aos pés de lótus de Sri Krishna . Por favor, preste atenção nas nuvens por um instante. Quando elas vêem o príncipe de Vraja, Sri Krishna e Sri Balarama acompanhados pelos vaqueirinhos, apascentando as vacas sob o sol abrasante de verão, e quando elas ouvem Sri Krishna tocar muito docemente Sua flauta, seus corações se enchem de amor. As nuvens pairam sobre Eles. Ao expandir seus corpos, as nuvens negras recém formadas (syamaghana) se tornam guarda-sol , oferecendo abrigo para seu amigo Ghanasyama. Além do mais, quando as nuvens precipitam pequenas gotas de água sobre Eles, parece que as nuvens estão banhando os dois com lindas flores brancas. Ainda que isso seja apenas um pretexto; pois ao assim agir, as nuvens estão, de fato, oferecendo tudo, incluindo-se suas vidas. COMENTÁRIO Após contarem a história de Yamuna, as gopis perceberam na hora que cometeram um erro. Elas falaram algo que não queriam falar. Assim quiseram esconder de novo seus sentimentos. Neste verso, drstvatape significa que elas estão outra vez falando de sakhya-rasa. Elas querem dissimular sua madhuryarasa com sakhya-rasa. Portanto, elas ficam olhando para as nuvens observando que é meio-dia. O sol está quente, mas as nuvens formam uma espécie de guarda-sol sobre Krishna . Krishna apascenta Suas vacas sob o abrigo das nuvens, que são amigas de Krishna . As nuvens atuam como guarda-sol sobre Krishna para protegê-lO do calor abrasante. Neste verso, as gopis outra vez repetem o nome de Balarama para vir a tona sakhya-rasa. Vraja-pasun saha rama-gopaih: Krishna está com as vaquinhas e bezerros de Vraja acompanhado de Balarama e todos os vaqueirinhos. Ao falar de Krishna rodeado pelos meninos e vacas, elas encobrem o humor de madhuryabhava. Sancarayantam anu venum udirayantam: O Senhor Krishna está continuamente vibrando Sua flauta enquanto apascenta os animais de Vraja. As nuvens ouve a flauta e, ao mesmo tempo, nota que seu amigo Krishna está sob um sol escaldante. O sol arde em Seu corpo e Ele está transpirando. As nuvens decidiram servir a Krishna (prema-pravrddha) numa expansão de amor. Prema-pravrddha significa que o amor é tanto que a nuvem constrói um guarda-sol composto de gotas de vapor d‟água ( que são como flores) de seus próprios corpos (uditah kusumavalibhih sakhyur vyadhat sva-vapusambuda atapatram). Ao ver Krishna , lágrimas chegam a seus olhos. Quando as lágrimas são de tristeza ou ira, elas são quentes, mas quando elas correm por felicidade, elas são frias. As nuvens derramam lágrimas de felicidade e Krishna se refresca com essas lágrimas. Este é o modo que as nuvens executam seus deveres de amigo (sakhyur vyadhat).


As gopis acreditam que por não poderem ter o mesmo humor de Yamuna (elas não podem abraçar Krishna em seus coração ou oferecer flores de lótus aos Seus pés), talvez possam então servir como as nuvens o fazem. Elas querem nascer como nuvens assim podem oferecer sombra a Krishna e derramar lágrimas refrescantes para agradar a Ele. Elas acreditam que desse modo, elas se tornarão afortunadas.

TEXTO DEZESSETE

purnah pulindya urugaya-padabja-raga sri-kunkumena dayita-stana-manditena tad-darsana-smara-rjas trna-rusitena limpantya anana-kucesu jahus tad-adhim purnah- total satisfação , pulindyah- as esposas da tribo Shabara (uma tribo inferior de aborígines), urugayade Sri Krishna (que toca alto na flauta), pada-abja- dos pés de lótus, raga- trazendo a cor avermelhada, srikumkumena- pelo pó transcendental de kunkuma, dayita- de Suas namoradas(de Sri Radha), stana- os seios , manditena - que decorou, tat- disso, darshana - pela visão , smara - de Kamadeva (Cupido), rujah - sentindo a aflição , trna - sobre a relva, rasitena - afeiçoado, limpantyah- manchando, anana- em suas faces, kucesu e seios, jahuh - elas abandonam, tat- isso, adhim- a aflição causada por kamadeva

TRADUÇÃO Algumas outras Vraja Gopis disseram: Ó sakhis! consideramos as jovens nativas ( Pulindis) como verdadeiramente abençoadas e exitosas porque elas possuem um extraordinário apego( anuraga) em seus corações. Quando elas vêem o nosso mais querido e amado Krishna brota um intenso desejo de encontrar com Sri Krishna dentro de seus corações Os corações delas são atacados com a doença do amor. Neste momento, elas untam seus seios e faces com o pó vermelho kumkuma que foi colhido na relva de Vrindavan, as amadas gopis de Krishna adornam seus seios com pó de kumkuma que fica preso aos pés de lótus de Sri Krishna. Quando Syamasundara caminha em Vrindavan, a grama se cobre com esse pó. As sumamente afortunadas Pulindis então untam seus seios e faces com esse pó deste modo elas aliviam a angústia de seu amor. COMENTÁRIO As Gopis não queriam revelar seus sentimentos umas às outras. Avahita significa não revelar, ou seja, ocultar os sentimentos mais íntimos em relação a Krishna . Elas são Kamatmika-gopis. Isso é porque elas desejavam esconder o desejo de encontrar Krishna e satisfazê-lO. Elas estavam dissimulando os seus sentimentos e para isso narravam as particularidades da flauta, a saber, de como é tão doce a canção da flauta e como tudo em Vraja, seja móvel ou imóvel, se enternece ao ouvir a canção da flauta. As entidades móveis se tornam inertes como pedras e as pedras se derretem. Os bezerros esquecem de sugar o leite de suas mães e as vacas esquecem de pastar. Tudo é esquecido quando Krishna vibra sua flauta. Ao falar destas coisas, as gopis tentam esconder seu próprio bhava em relação a Krishna. No texto quinze as Gopis expressaram abertamente seus sentimentos. Elas estavam tão tomadas de amor por Krishna que se esqueceram de si mesmas e falaram às claras. Os rios em geral não tem amor . o


Manasi- ganga parece não ter amor. Contudo as gopis viam o rio através de seus corações como se estivessem abraçando Krishna. De fato o Rio Yamuna e o Manasi Ganga não aparentam ter consciência, mesmo assim as gopis expressam os seus próprios sentimentos ao descrever o humor dos rios. Se qualquer mulher amar um homem como as gopis amam a Krishna, pode ocorrer que no momento que ela abraçar este homem , ele vá agir como se fosse indiferente a ela, ele pode agir de um modo distante, assim a mulher ficará envergonhada e colocará sua cabeça aos pés dele. Isso foi o que a Yamuna fez quando ela se abraçou a Krishna e Ele não retribuiu o abraço. As gopis viram isso em seus corações. No Srimad-Bhagavatam existe um verso (5.18.12): yasyasti bhaktir bhagavaty akincana sarvair gunais tatra samasate surah harav abhaktasya kuto mahad-guna manorathenasati dhavato bahih “Todos os devatas e suas exaltadas qualidades, tais como dharma, jñana e vairagya se encontram plenamente naquele que desenvolveu bhakti imaculada pela Suprema Personalidade de Deus, Vasudeva. Aquele que não possui hari-bhakti se ocupa em desejos disfarçados, karma, jñana e ioga, ou estão apegados ao lar e desfrute material. Portanto, tal pessoa não pode deter devoção exclusiva em relação a Sri Hari. Estando obsidiado por fantasias mentais, tal pessoa empenha-se pelo impermanente, os objetos externos do gozo dos sentidos. Como pode haver qualquer boa qualidade nessa pessoa?” Yasyasti bhaktir bhagavaty akincana: onde houver bhakti e essa bhakti for akinchana, ou niskinchana, então sarvair gunais tatra samasate surah, todas as qualidades espirituais (apakrita) aparecem nessa bhakti e nessa pessoa que executa bhakti. Uma das qualidades é saber tudo, mesmo que não seja visível. As gopis não podem ver o que Krishna está fazendo quando elas estão em casa e Ele está pastoreando as vacas. Um bhakta akinchana sabe do passado e do futuro. Narada Muni e Shukadeva Gosvami são akinchana-bhaktas. Sanjaya também está voltado para akinchana-bhakti. Por conseqüência, ele pode ver tudo que ocorria no campo de batalha de Kurukshetra embora não estive pessoalmente presente. Nós possuímos alguma bhakti , contudo não somos akinchana-bhaktas. Akinchana-bhakti é tão poderosa que, por seu intermédio, pode-se conhecer até mesmo o coração de Krishna . Pode-se conhecer também o coração de Srimati Radhika. As manjaris, Lalita e Vishakha conhecem o coração de Radha . Conhecer o coração de Radhika é mais difícil do que conhecer o coração de Krishna . De modo geral Krishna pode ocultar algo, mas Radhika não . Por outro lado, Se Radhika deseja esconder algo, mesmo para Krishna é difícil descobrir. As gopis possuem niskinchana-bhakti. Srimati Radhika e as gopis amam a Krishna e Krishna também ama a Srimati Radhika e as gopis. Todavia , o prema das gopis é maior. Esse é o porquê Krishna está sempre mais atraído às gopis do que as gopis estão atraídas a Ele. As gopis estão dizendo tudo. Embora pareça que não exista prema nos rios, as gopis vêem o prema dos rios. A Yamuna é um rio, assim como é possível para ela ter prema? Todavia, ela também é uma expansão de Vishakha, por isso , de fato , ela possui amor por Krishna que está sendo descrito pelas gopis. As gopis explicam isso ao descrever o humor de Yamuna. Devido as gopis possuírem bhakti, elas também têm prema. Contudo, mais do que isso elas experimentam madanaikya-bhava. Krishna quer saborear este madanaikya-bhava, todavia Ele não consegue saboreá-lo no Krishna-lila. Portanto, Ele aparece como Cheitanya Mahaprabhu. As gopis chegam a madanaikya-bhava. Elas experimentam prema-vaicittya( sentimentos de separação mesmo na presença do amado, instigado pela intensidade do prema) em madanaikya.* No estágio de modanaikya, as gopis experimentam divyonmada e citra-jalpa. Descreve-se isso no Bhramara-gita. O bhava das gopis se estende até modanaikya, madanaikya e todos os outros sintomas. * Madana é o estágio mais elevado de prema e se encontra apenas em Srimati Radhika. Madanaikya-bhava ocorre no encontro. No estágio de madana, Radha esquece de Sua própria identidade e assim troca Sua


identidade com Krishna (bhranti). Devido a completa identificação de Radha com Seu objeto de afeição , Ela Se considera como sendo Krishna . No encontro existe uma separação e na separação existe um encontro. Krishna põe Radha em Seu colo e Radhika fica pensando, “Onde está Krishna ? Onde está Krishna ?” Na separação Radha abraça a árvore tamala e pensa que Krishna está com Ela. Existem muitos sintomas como esses que não aparecem nos estágios anteriores a bhava. Portanto, madana é o clímax supremo de prema. Modana, todavia, refere-se ao êxtase que se experimenta em viraha, separação. Quando as condições de modana se tornam incontroladas e paralisadas na separação e quando todos os oito sattvika-bhavas estão total e simultaneamente manifestos em sua plena fascinante confusão, chama-se divyonmada. Este divyonmada ou loucura divina se expressa em múltiplas formas entre as quais udghurna e chitra jalpa são proeminentes. Citrajalpa divide-se, posteriormente em dez variedades. A descrição que as gopis fazem da vida em Vraja provém de seus corações. Elas não estão simplesmente falando sobre nuvens, pavões ou corças. Elas falam dos residentes de Vraja. É um fato que esses habitantes mostram também afeição por Krishna. Assim as gopis falam do humor desses habitantes de Vraja, mas como as gopis estão tentando ocultar sua própria bhakti, elas se socorrem dessas descrições para poder expressar o que sentem de forma indireta. No final elas já não conseguem esconder o que sentem devido a profunda emoção. Elas falam abertamente. Logo em seguida elas tentam novamente ocultar seus sentimentos no shloka anterior onde se menciona o nome de Balarama e se fala das nuvens como participante do sakhya-rasa. Devido a que elas não conseguem mais ocultar seus sentimentos, elas se lembram da boa fortuna das Pulindis. Os Pulindis são originários da tribo Shabara. Eles dão duro para sobreviver trabalhando como carregadores de liteira ou arando os campos. Suas esposas extraem madeira e coletam esterco das florestas. Vendem o excedente e usam a sobra em suas próprias cozinhas. Os Pulindis moram próximos a Govardhana e a aldeia de Vrindavana, assim eles encontram muita chance de ouvir a canção da flauta de Krishna e de ver as gopis. Srimati Radhika é tão liberal que ama todos esses Pulinda-kanya. De fato, Srimati Radhika ama todas as mocinhas ocupando-as em serviço. Srimati Radhika pede para que os Pulindis tragam flores e outras parafernálias que ela necessita da floresta. No Govinda Lilamrita descreve-se o passatempo onde Radha e Krishna estavam jogando. Krishna apostava Sua flauta e aguardava para ver o que Radha iria apostar. Lalita ofereceu a própria Radhika como aposta para Krishna. Mas quando Radhika perdeu a aposta, Radha pediu que chamassem uma camponesa Pulindi, “Oh, Minhas sakhis amigas chamem uma Pulindi.” Radhika não subestimava as Pulindis embora socialmente elas fossem de uma casta inferior. Quando a Pulindi chegou, Srimati Radhika, Lalita e Vishakha com um meigo sorriso a convidaram para que se sentasse como uma amiga. Todavia Krishna percebeu o que se passava de imediato. Ele previu o plano de Radha de pagar a aposta com a Pulindi. A Pulindi estava muito envergonhada sentada ao lado de Radha e Krishna e todas as sakhis, mas ela executava um serviço muito íntimo. As gopis conversam sobre essas Pulindis: purnah pulindya, essas mocinhas ficam muito contentes. Tudo que elas almejam na vida elas conseguem no humor das gopis que se descreveu aqui: aksanvatam phalam idam na param vidamah sakhyah pasun anu vivesayator vayasyaih vaktram vrajesa-sutayor anuvenu-justam yair va nipitam anurakata-kataksa-moksam “Ó sakhis! Cremos que para os que tem olhos, só existe um objeto apropriado da visão. O propósito dos olhos reside no contemplar apenas esse objeto; não há outro. E qual é esse precioso objeto de desejo para os olhos? É a visão dos dois filhos de Maharaja Nanda, Sri Krishna e Baladeva, acompanhados de Seus amigos vaqueirinhos, quando eles se embrenham na floresta levando as vacas, ou quando eles retornam a


Vrindavana. Eles seguram Suas flautas nos lábios e de soslaio olham amorosamente mostrando um doce sorriso. Momento em que sorvemos a doçura de Suas faces”. (Bhag. 10.21.7) Disse que foi alcançado o propósito dos olhos quando se vê Krishna tocando Sua flauta. O êxito será ainda maior ao poder observar os olhares enviesados entre Krishna e as gopis (que é o modo que as gopis usam para adorar Krishna com Seus olhos). Baladeva segue à frente e Krishna está um pouco atrás. Todavia as gopis comentam algo mais, embora estejam tentando ocultar o que sentem pela menção do nome de Balarama. Elas estão tentando nos dizer que Radha executa arcana para Krishna e Krishna por Sua vez oferece arcana a Srimati Radhika tudo executado pelos cantos de Seus olhos. Somente as gopis, as manjaris, podem observar esses detalhes. E elas também conseguem ver outros passatempos além desses. Portanto, purnah pulindya, a vida das Pulindis se tornaram exitosas e as gopis acreditam que as Pulindis receberam uma graça maior do que elas próprias. Tanto Sanatana Gosvami quanto Visvanatha Chakravarti Thakura afirmam que as gopis estão quase no mesmo status que Srimati Radhika. Jiva Gosvami explica que esse verso não foi falado por Srimati Radhika e sim por Lalita ou Vishakha ou talvez Chandravali. Jiva Gosvami mostra que parece ser mais Lalita ou Vishakha devido ao dayita-stana-manditena, Dayita significa muito querido por Krishna, Sua amada. Quando as Pulindis vão pegar madeira seca e estrume de vaca na floresta, elas vêem kunkuma na relva. Elas ficam tomadas por kama, em smara-ruja. Smara-ruja significa tapa ou a sensação ardente que queima mais que o fogo e que se origina do kama. As Pulindis pegam o kunkuma e esfregando em suas bocas, seios e por todo o corpo. As gopis assistem essas cenas de suas casas. Yasyasti bhaktir bhagavaty akinchana - Pelo fruto de bhakti elas conseguem ver todos esses eventos. Embora as gopis sejam kaya-vyuha (expansões corpóreas) de Srimati Radhika, não podemos nos concentrar nesses detalhes porque isso é nara-lila. Isso é madhurya-lila em Vraja, não é Goloka-aishvarya-bhumi. Portanto nossa atenção não é unicamente nesses pontos que são auxiliares para nosso madhurya-bhava, não podemos nos prender a essas coisas que pertencem ao aishvaryabhava. As gopis têm bhakti, e isso é o que faz com elas consigam ver o que Krishna faz na floresta embora estejam e suas casas. Elas vêem as Pulindis pegando kunkuma da relva e após friccionando em seus corpos e esse ato alivia o fogo do kama das Pulindis. A poeira dos pés de Krishna e os pés de Krishna não são diferentes. As Pulindis passam a poeira dos pés de Krishna em seus corpos. Esse é o jeito que elas mantêm os pés de Krishna em seus seios, cabeças e corpos. Elas sentem como se de fato os pés de Krishna estivessem ali. Assim é que elas conseguem aliviar o kama-tapa. Se elas não fizessem isso o desejo por Krishna aumentaria uma vez que o kunkuma por si é uddipana para elas - só por ver o kunkuma aumenta o desejo de união com Krishna. A única maneira de aliviar o fogo do kama é encontrar-se com Krishna. Por isso, as Pulindis pegam o kunkuma, que é a poeira dos pés de Krishna, e o esfrega em seus corpos. Por estar com a poeira dos pés de Krishna elas sentem como se estivessem diretamente com Krishna em pessoas. Isso alivia o fogo ardente de seus corações. No Vaishnava Toshani, Sanatana Gosvami fornece um significado mais profundo. Ele explica como pode se compreender quem é dayita (a amada) quem estaria portanto falando este verso. Se dayita refere-se a Lalita, podemos presumir que Vishakha é que está falando. Dayita se refere a alguém superior a quem fala, a quem está usando a palavra dayita. Como decidir quem é dayita? Anayaradhito nunam bhagavan harir isvarah yan no vihaya govindah prito yam anayad rahah: “Decerto o independente Senhor Sri Narayana, que elimina a tristeza de todos foi adorado com perfeição por esta afortunada gopi, uma vez que Govinda nos abandonou nos confins da floresta e levou somente Radha para um local retirado”(Bhag. 10.30.28) Anayaradhito nunam: todas as gopis estavam presentes na arena da dança da rasa, porém Radhika e Krishna desapareceram. Quando as outras gopis viram as pegadas e outros sinais de que Krishna estava com Radha - viram as flores que Krishna costumava decorar esta gopi especial, viram a pisada de Krishna no local onde Ele havia Se esticado para colher flores. As marcas de Seus pés estavam mais profundas do que o normal indicando que Ele carregava Radha no colo - por isso as gopis entenderam que essa gopi especial havia agradado a Deus, não Krishna, mas Deus e foi por isso que Deus articulou tudo para Ela se tornasse a amada de Krishna. Por Ela ser tão querida para Krishna, Ele a levou embora deixando todas as outras gopis. As gopis consideram que Radha é superior. É assim que as sakhis explicam quem é dayita. Esse verso


referiu-se a Radhika. Sri-kunkumena sayita-stana-manditena: as Pulindis encontraram o kunkuma que decorava os seios da amada de Krishna (dayita) e essa amada tem que ser Srimati Radhika. Yat te sujata-caranamburuham stanesu bhitah sanaih priya dadhimahi karkasesu tenatavim atasi tad vyathate na kim svit kurpadibhir bhramati dhir bhavad-ayusam nah “Ó mui amado! Os Seus pés de lótus são tão tenros que os colocamos sobre nossos seios, temendo que Você machuque Seus pés. Quando Você vai de floresta em floresta ficamos ansiosas por temer que Você machuque Seus pés suaves como lótus nas pedras afiadas e nos cascalhos. Você é a própria vida que há em nós. Somente com Sua satisfação poderemos continuar vivendo.”(Bhag. 10.31.19) Esse verso é do Gopi-Gita. Jayati te „dhikam janmana vrajh, ou tava kathamritam tapta jivanam. As gopis falam e gritam todos esses versos às margens do Rio Yamuna próximo ao rasa-sthali. Yat te sujata é o shloka final. Quando Krishna ouve este shloka Ele não consegue mais se esconder. Yat te sujata karanamburuham stanesu: Radhika diz que os pés de Krishna é mais fragrante que a flor de lótus. São tão macios que Radha quer colocá-los gentilmente sobre Seus seios, assim eles não serão feridos quando Krishna andar na floresta. Embora Radha queira preservar os pés de Krishna com tanta meiguice, Ele caminha sobre afiadas pedras nas trilhas da floresta, onde até mesmo as vacas temem caminhar, porém Krishna caminha por ali e machuca Seus pés. Srimati Radhika deseja manter os pés de Krishna sobre Seus seios. Existem duas ocasiões em que Radha segura os pés de Krishna, uma nos passatempos da meia noite e o outro ao meio dia no sanket ou Radha-kunda. Nessas ocasiões as gopis estão sozinhas com Krishna. Elas podem segurar os pés Krishna e Ele desfruta com elas. As gopis se lembram disso e falam que apenas Radhika é afortunada o suficiente para colocar os pés de Krishna em Seus seios. Jiva Gosvami explica que esse verso usa a palavra dayita, e por isso não pode ser Radhika que está falando o verso. Ela não falaria de Si mesma desse modo. Portanto, as sakhis são porta vozes de Radha e descrevem Radha como dayita. Ao se compreender os versos do Gopi Gita, percebemos que esse também é o humor de Radhika: yate sujata - caranamburuhan stanesu. Se fosse Radhika que estivesse usando a palavra dayita, de quem Ela estaria falando? Ela poderia estar falando de Lalita, Vishakha ou outra sakhi uma vez que em qualidade elas são quase iguais a Srimati Radhika. As sakhis são manifestações parciais das qualidades de Radha. (Kayavyuha) Portanto, elas também tem oportunidade de colocar os pés de Krishna em seus seios. Assim esse verso poderia ter sido falado tanto por Radhika quanto por outra gopi uma vez que ele descreve corretamente esses humores. Aqui Radhika está em madanaikya-bhava e fala o que sente as outras gopis. Dayita-stana-manditena: a sakhi diz, “Ó Pulindi, você é tão afortunada. Embora você não tenha os pés de Krishna diretamente, você recebeu o kunkuma dos pés de Krishna diretamente. Esse kunkuma estava nos seios das gopis. Krishna estava com seus pés nos seios das gopis, e o kunkuma se espalhou em Seus pés. Ao alvorecer quando Krishna retornou do kunja (nisanta-lila), o kunkuma se misturou com o orvalho que estava sobre a grama lavando os pés de Krishna. Vocês Pulindis esfregaram esse kunkuma com afeto em suas bocas, seios e corpos.” As gopis acreditam que caso se tornem Pulindis, elas terão a melhor sorte. Se elas se tornarem dayita, então terão extrema fortuna, “porém não temos tanta sorte de nos tornarmos amada de Krishna. Portanto, queremos nascer na próxima vida como Pulindis. Como não podemos nos tornar Pulindis, desejamos nos tornar a grama de Vrindavana assim Krishna vai andar sobre nós e o kunkuma de Seus pés de lótus vai cair sobre nós. Assim ficaremos saciadas. Não conseguirmos nos tornar gramas tampouco Pulindis e nem dayita. Por isso as Pulindis são tão afortunadas. Nós sentimos kama mas não conseguimos satisfazê-la esfregando o kunkuma sobre nossos corpos como as Pulindis fazem. Nem podemos ser gramas sobre a qual Krishna anda. O melhor é morrermos e nos tornarmos grama que são mais afortunadas do que as Pulindis.“ A dayita das dayitas é Srimati Radhika. Isso é o que esta gopi fala.


Urugaya -padabja: essa gopi chama Krishna de urugaya. Urugaya - padabja - raga. Por que a gopi usou a palavra urugaya? Uru significa tocando a flauta. Krishna conclama Sua dayita pelo som melodioso de Sua flauta vamsi . Nós vimos no texto 15, alingana-sthagitam urmi-bhujair murarer. Murare tem uma ligação com urugaya. Mura era um demônio que foi morto por Narayana. Quando ocorreu a batalha entre os semideuses e os demônios, Narayana ficou do lado dos semideuses e matou muitos asuras. Mura escapou e se submeteu a muitas duras austeridades na adoração de Brahma. Brahma satisfeito apareceu e perguntou ao demônio Mura qual era a bênção que ele queria. Mura disse, “eu quero ter o poder de apenas com um toque da palma de minha mão incendiar meu inimigo.” Brahma concordou. Assim o demônio Mura espalhou terror por todo o mundo e quando algum semideus o atacava, ele colocava suas mãos sobre a cabeça de seu inimigo e o incendiava e o matava. Todos sabiam da bênção que Brahma havia lhe concedido e ninguém queria lutar com ele. Certa vez Mura foi até Yamaraja. Embora Yamaraja fosse muito poderoso ele sabia que o demônio Mura era ainda mais poderoso. Mura disse, “eu quero lutar com alguém. Não posso viver sem lutar. Yamaraja explicou que o único oponente a altura seria o próprio Narayana: “se você desafiar Narayana, Ele vai lutar com você e também vai te matar.” Mura ficou muito contente e perguntou onde Narayana morava. Yamaraja disse, “Narayana mora em toda a parte. Eu não posso especificar o local, mas se você meditar nele com certeza Ele vai aparecer. “ Mura assim meditou em Narayana na esperança de meditar com Ele. De fato Narayana apareceu e perguntou qual era seu desejo. Mura disse “meu desejo é lutar com alguém, mas no mundo não há ninguém que esteja à minha altura. Me contaram que Você é um poderoso oponente.” Narayana respondeu: “você não está apto a lutar comigo! Seu coração treme só em falar comigo”. O demônio Mura replicou, “meu coração não está tremendo.” Narayana disse, “coloque sua mão sobre seu peito e você vai ver como seu coração está tremendo. Assim foi que o demônio Mura se incendiou e morreu quando tocou seu próprio peito. Narayana enganou o demônio. No Brahma Purana, a palavra mura possui quatro significados. É nome de um demônio. Também significa kama (luxúria divina). Tapa (o calor ardente que vem da luxúria), santa (paz) e duhkha (sofrimento). Mura-hara significa matar o demônio. Outro significado é estancar a dor. Mas no caso das gopis, não existe santa, não existe paz, e nem existe um demônio. O que ocorre ai é kama-roga ou hrd-roga coração surge (a doença do coração). Essa “doença do coração” surge do encontro com Krishna. Significando aqui que esse dayita que apresenta kama-roga causado pelo som da flauta de Krishna (urugaya) está colocando os pés de Krishna em seus seios. O significado mais interno de urugaya é que este ato de por os pés em Krishna não é para o próprio prazer delas. Urugayati significa que Krishna deseja ardentemente que elas coloquem os pés de Krishna em seus seios. Por isso chamam-se as gopis de daya, misericordiosas. Elas estão saciando a sede de Krishna. Urugaya-padabja-raga-sri-kunkumena-dayita-stana-manditena tgaddarsana-smara-rujas trina-rusitena limpantya anana-ducesu-jahus tad-adhim.] Em resumo, as gopis vêem todos esses eventos que estão descritos neste capítulo do Bhagavatam em seus corações. No começo elas ocultam seus sentimentos de amor por Krishna, depois pela força do kama tudo é revelado mesmo contra a vontade delas. Elas dizem que as Pulindis são afortunadas porque elas untam seus corpos com o kunkuma da relva e assim saciam o kama-tapa. O kunkuma provem dos pés de Krishna. Mas onde foi que Krishna o conseguiu? O kunkuma estava no pé de Krishna porque esses pés estavam nos seios de Suas amadas. Dayita-stana-manditena, as gopis se untam com o kunkuma e quando elas colocam os pés de Krishna em seus seios o kunkuma passa para os pés de Krishna. Existe um sentimento que se expressou assim, “somos tão desafortunadas”. Quem fala isso? É a própria dayita que está falando seja uma sakhi ou Radhika. “Sentimos tão pouca afeição por Krishna. Executamos pouquíssimo serviço. Por isso não podemos encontrar diretamente Krishna. Somos como as Pulindis que não colhem o kunkuma diretamente dos pés de Krishna e sim da grama onde Ele caminhou. É assim que as Pulindis se enchem de prema. Nós não temos essa graça, Embora possamos ver Krishna


diretamente não sentimos o prema que essas Pulindis experimentam. Até mesmo a grama é mais afortunada que nós. Esse pó de kunkuma é assim tão poderoso”. Visvanatha Chakravarti Thakura diz: “A refulgência dos pés de lótus das jovens filhas do rei Vrishabhanu que manifestam sentimento amoroso da mais elevada essência conhecidos como madana ou maha-bhava, o sétimo estágio de prema, estabelece o intenso encanto de Krishna. Mesmo se alguém não têm uma conexão com as qualidades transcendentais de beleza, da flauta sendo tocada por Krishna tal pessoa pelo mais leve contato com Krishna ficará apaixonado. Esse é o significado da palavra purna (completo). As Pulindis, as esposas dos Shabaras são completas, ao passo que nós (as gopis) somos incompletas. Portanto, devemos pesquisar sobre quais foram as austeridades que elas executaram”. Sri Visvanatha Chakravarti dá um nome a essa dayita : ela é Srimati Radhika. Sri Jiva Gosvami afirma que a palavra dayita significa que outras gopis falam esse verso sobre uma amada particular. Dayita também pode significar que Radhika fala essas palavras para outra gopi. Mas Visvanatha Chakravarti Thakura diz que dayita refere-se a Srimati Radhika. Portanto quem fala esse verso é outra sakhi. Sri Visvanatha Chakravarti diz: “essa idéia dá o indício da atração extática delas, anuraga. Mas devese perguntar, „como elas são completas?‟ É pelo divino pó de kunkuma em que se encontra o matiz (ragaranjana) dos pés de lótus do Senhor Urugaya. Mas onde se encontra esse kunkuma dos pés de lótus de Krishna? Ele ornamentava os seios das namoradas de Krishna, ou em outras palavras o kunkuma untava os seios de Suas namoradas quando Krishna desfrutava intimamente com elas. Portanto, as gopis estavam pensando, „embora queiramos glorificar a grande fortuna desse kunkuma nós não somos tão ousadas. Por isso preferimos glorificar as Pulindis‟. “Nesse caso estão se referindo a própria filha de Vrishabhanu porque a atração dela por Krishna é tão exaltada, mas isto não está especificamente revelado aqui. Podemos perguntar onde as Pulindis contataram com as namoradas de Krishna. Será que foi através do kunkuma que estava espalhado na grama? O kunkuma ficou espalhado nas folhas da grama após Krishna ter desfrutado com Suas namoradas na floresta. Ao ver o kunkuma espalhado na grama, o que as Pulindis sentiram foi o suplício do Cúpido (smara-ruk = kandarpapida). Em outras palavras, as gopis pensavam, „não conseguimos imaginar o que aconteceu a elas quando viram Krishna‟ . E com grande desejo de cheirar a fragrância do corpo de Krishna, elas passavam kunkuma em Seu rosto e querendo desfrutar dos mesmos momentos que Ele havia desfrutado, elas esfregavam kunkuma em seus seios. Ao fazer isso elas consideravam que estavam sendo desfrutadas por Krishna e curavam-se daquela condição de ardência. O sofrimento causado pelo Cúpido. As gopis pensam, „Oh, esse pó de kunkuma deve ter alguma magia especial. Em toda nossas vidas sequer podemos conseguir esse kunkuma.‟ “Cita-se esse mesmo verso no Srimad Ujjvala-nilamani sob o tópico de madana e mostra que mesmo estando sempre desfrutando com Krishna elas se ocupam em louvar o odor de Krishna só para poder senti-lo. Segundo o verso sada bhoge api, o estado de madana inclui todos os outros sentimentos amorosos, todos os tipos de desfrute íntimos e todos os tipos de prazeres. Portanto, esse passatempo das Pulindis é também de desfrute íntimo mútuo porque Krishna aparece automaticamente junto com o kunkuma. Por consequência, como se descreveu nos primeiros versos desse capítulo, varnayantyo bhire bhire: „enquanto descreviam as glórias do kunkuma abraçavam-se mutuamente.‟ Isso indica que o próprio Krishna apareceu de repente e elas ficaram abraçando-O‟. As gopis enlouqueceram na medida que essas novas revelações brotavam em seus corações. Abhire significa punah punah, os abraços eram mútuos e repetidos. O sintoma de madana-bhava é que após desfrutar com Krishna elas acreditam que de nenhum modo desfrutaram com Ele. As gopis vêem Krishna a toda hora. Ainda assim acham que nunca o haviam visto antes e que O estão vendo pela primeira vez. Na verdade, o kunkuma veio dos seios das gopis, todavia elas acham que são muito desafortunadas. Isso é madana. Elas esqueceram de tudo que ocorreu antes e só anseiam por Krishna. Aí elas alcançam divyonmada, falam citrajalpa, e passam por muitos estágios de êxtase. A diferença entre divyonmada e madana é que no encontro com Krishna, prema-vaicittya (sentimento de separação mesmo na presença do amado) - surge, ao passo que em divyonmada e citra-jalpa esses sentimentos provêm da separação.


Sri Visvanatha Chakravarti Thakura continua: “declara-se essa mesma idéia no Ujjvala-nilamani (14.219), sarva-bhavodgam -ollasi madano „yam paratparah/rajate hladini-saro radhayam eva yah sada: “ Esse prema é a própria essência da potência hladini e que é a manifestação completamente florescida de todos os sentimentos espirituais desde rati até chegar em modana adhirudha mahabhava que conhecemos como madana. É o desenvolvimento mais elevado de prema e portanto superior até mesmo a modana mahabhava. Isso está sempre presente em Srimati Radhika (mesmo Lalita não sente isso)”. Nós encontramos em Radha tanto divyonmada quanto madanaikya-bhava. Assim Chakravarti pada diz que esta dayita é Srimati Radhika. Esse é um dos melhores shlokas do Srimad-Bhagavatam. Se você quer ter uma vivência deste shloka você terá que se tornar uma dasi de Srimati Radhika, não aqui, mas lá naquela dimensão, uma palya-dasi de Srimati Radhika. Somente assim poderemos entender esses bhavas. Ouvimos sobre isso, mas nenhum efeito nos causa. Aqueles que possuem anseio (lobha) por essas coisas podem sentir algo. Eles podem executar prema-bhakti. VERSO, “Meu querido Senhor, quando meus olhos se encherão de lágrimas durante o canto de Seus santos nomes? Quando minha voz se embargará e meus cabelos se arrepiarão ao recitar os Seus santos nomes?” (Shikshastaka verso 6). Para os leitores que não alcançaram esses estágios eles podem acalentar o anseio. Se surgir um minúsculo raio de lobha, então essa vida será perfeita. Se não surgir, então nosso Krishna bhakti, nosso sadhana, não é verdadeiro. O que é sadhana? Sadhana significa nossa prática da consciência de Krishna para suscitar bhava. Se praticamos sadhana desse modo, então poderá ser chamado de sadhana, se não for com essa motivação não é sadhana. Tanto em raganuga bhajana quanto em vaidhy-bhakti executam-se shravana kirtana smaranan. Podemos conseguir salvação, svarga (o céu) e desfrutar desse céu e de muitos outros benefícios obtidos por esse aupadhika-bhakti (bhakti limitada pelas designações materiais) mas não vamos poder chamar isso de raganuga-sadana-bhajanan. Quando surgir bhava-bhakti, a sua motivação será prema-bhakti, ou não será verdadeira bhava-bhakti. Quando se executa sadhana com a finalidade de obter bhava, então temos o verdadeiro sadhana-bhakti. Krti sadhya bhavet sadhya bhava. Sadhya-bhava significa o sadhana que manifesta bhava. Isso é sadhana. Quando se alcança algum estágio de bhava através do sadhana, não se pode chamar mais de sadhana e sim nitya-siddha-bhava. Por que chamamos o sadhana executado por um sadhaka de nitya-siddha-bhava? Se é nitya-siddha em gopi-bhava, pela associação com um devoto que é praticante neste bhava e pela prática do sadhana com esse objetivo, então, esse bhava vai entrar no coração do sadhaka. Porém a semente desse bhava em especial tem que estar lá também. Quando a semente é nutrida pelo nitya-siddha-bhava que se situa nos corações dos associados eternos do Senhor, então pode se manifestar no coração do sadhaka. É o mesmo processo de formação das pérolas. As pérolas não aparecem em qualquer lugar e sim num momento astrológico do aparecimento da constelação svati-naksatra. Assim as pérolas se formam das gotas da chuva que caem nesse momento. Contudo para que se forme o bhava em nossos próprios corações necessitamos mais do que as simples de gotas de chuva da associação. Se não existe a semente para a formação de um bhava específico, então essa pérola não vai se formar. Para que uma planta cresça precisamos tanto de água quanto de uma semente. Em raganuga-sadhana lembramo-nos dos afazeres das gopis, como elas executam o arati com seus olhos e corações, e como isso se parece com a oferenda da lâmpada de ghee(manteiga clarificada) durante o arati no templo. Temos que lembrar do arati de Lalita, Vishakha e de todas as outras gopis. O arati vai ser udipana (um estímulo para o amor). Assim como quando vemos os pavões podemos nos lembrar dos passatempos de kunkuma e todas as gopis. Quando Lalita oferece água no arati ela pode estar pensando que Radha e Krishna acabaram de levantar para o nishanta-lila. Lalita oferece a Eles água para que lavem Seus rostos. Existem muitos sinais de prazeres amorosos nos corpos de yugala-kishora que Jatila percebe e por isso Lalita lava esses sinais, servindo-se de água e um pano. É assim que Srimati Radhika quer que tudo seja bem limpo antes que Ela vá para casa. Srimati Radhika diz para Krishna também se lavar e ela mesma auxiliada pelas gopis mostram onde estão os sinais de Seus prazeres. Uma pessoa que executa raganuga-bhajana vai ter seu coração repleto


dessas imagens e daí tirar idéias cada vez melhores sobre como servir. Eu não posso dizer o que todas essas coisas são porque elas são idéias dos devotos superiores. Raghunatha dasa Gosvami explicou o passatempo de Srimati Radhika quando Ela trouxe a garota Pulindi no dhama-keli-cintamani. Todavia, Raghunatha dasa Gosvami encobriu esse passatempo de tal modo para que ninguém pudesse adentrá-lo. Ele informou sobre as valiosas jóias e pesos (manis - manika) mas nós não somos capazes de avaliar isso. Visvanatha Chakravarti Thakura escreveu um comentário sobre esse passatempo, mas ele não revelava os significados internos. Ele não queria perder esse passatempo. É assim que as coisas têm que ser. O passatempo tem que se revelar no coração do ouvinte através do serviço ao guru no parampara. Ninguém deve tentar ganhar conhecimento instantâneo sobre todas essas coisas. O resultado seria kama (luxúria mundana). O prema seria tomado erroneamente como sendo luxúria mundana e se danificaria a compreensão correta. Temos que oferecer nossas preces pedindo que esses passatempos se manifestem em nossos corações pela misericórdia de nosso guru e guru parampara. Nosso pensamento tem que ser (estou aguardando por isso. Se eu tivesse algum anseio, então seria revelado. Tenho que ansiar, mas não consigo). Ao ouvir esses passatempos, as lágrimas tem que vir a nossos olhos e o nosso coração tem que ser derretido. Sri Cheitanya Mahaprabhu saboreou a realidade desse passatempo no Gambhira. Ao se ouvir este verso do Venu Gita, esse anseio pode ser desenvolvido. O anseio vai se desenvolver mas agora ele ainda não está em nós. Shukadeva Gosvami revelou todas essas coisas apenas no Srimad Bhagavatam. Para aqueles que não possuem esse anseio pode se desenvolvê-lo através da leitura e do sadhana. E para aqueles que já anseiam o ouvir desses passatempos irá incrementá-lo. Ao se ouvir esses passatempos a luxúria mundana pode ser destruída, porém a fé, shraddha, é necessária. Caso contrário a luxúria vai brotar e veremos os passatempos de Krishna através dos olhos da luxúria terrena. Não estaremos dando uma chance dos passatempos de Krishna agir em nós. Se uma pessoa não tem gosto pelo santo nome ou por hari katha, então ela não vai ter a oportunidade de ouvir esses passatempos. Shukadeva Gosvami nos alertou para não revelar esses passatempos a pessoas que não possui esse anseio, ou em outras palavras as pessoas em geral. Aqueles que estão muito dominados pela ira, luxúria ou inveja não devem ouvir esses passatempos. Para nós, o que resta de luxúria, ira e inveja está sendo dissipado pela bênção do Srimad Bhagavatam: vikriditam vraja-vadhubhir idan ca visnoh sraddhanvito „nusrnyyad atha varnayaed yah bhaktim param bhagavati pratilabhya kamam hrd-rogam asv apahinoty acirena dhirah “Uma pessoa sóbria que ouve fiel e continuamente os passatempos da sem precedente dança da rasa do Senhor Sri Krishna acompanhado com as jovens donzelas de Vraja e posteriormente repete esses passatempos muito em breve alcançam para-bhakti ou prema-bhakti ao Senhor Supremo ficando assim apto a dispersar com rapidez a doença da luxúria do coração.” (Bhag. 10.33.39) Bhakti vai entrar no coração e expulsar a luxúria; se não houver bhakti, a luxúria é quem vai reinar.


TEXTO 18

hantayam adrir abala rai-dasa-varyoh yad rama-krsna-carana-sparasa-pramodah manam tanoti saha-go-ganayos tayor yat paniya-suyavasa-kandara-kandamulaih hanta- Oh (indicando tristeza); ayam- este( como se estivesse apontando com o dedo que Govardhana está ali próximo); adrih- colina (Giriraja Govardhana); abalah- Ó amigas (sakhis) (abalah literalmente significa aquele que está desprovido de bala ou força para servir Krishna com a mesma capacidade de Govardhana), hari-dasa-varyah- o melhor entre os servos do Senhor hari (Hari: Ele que rouba a mente, as atividades pecaminosas e todo o sofrimento);yat-rama-krsna-carana-sparasa- devido ao toque dos pés de lótus de Sri Krishna e Sri Balarama ( ou devido ao toque dos pés de lótus de Sri Krishna e as ramanis-gopis); pramodahjubilante (júbilo que faz surgir os oito sattvika-bhavas tais como arrepiar os cabelos como se fosse uma relva, lágrimas torrenciais como cascata, etc.); manam tanoti- oferece respeito (executando vários serviços); sahacom; go-gnayoh- as vacas, bezerros e vaqueirinhos; tayoh- a Eles(aos pés de lótus de Sri Krishna , ou aos pés de lótus de yugala- Sri Krishna e Sua ramani); yat- porque; paniya- com água potável ou água refrescante provinda das cachoeiras de Govardhana; suyavasa- grama muito macia, grãos alimentícios, flores e frutos; kandara- cavernas; kanda-mulaih- e raízes comestíveis Tradução Ó sakhis! Este Giriraja-Govardhana é o melhor entre todos os devotos de Sri Hari (sri Harideva). Quanta sorte ele tem! Você não vê o quão feliz ele está por Sri Krishna tocá-lo com Seus pés de lótus, quem é que chamamos de prana-vallabha, mais caro que a vida, Sri Baladeva a quem chamamos Nayanabhirama, a fonte de prazer para os olhos? Quem pode louvar esta sorte de uma forma adequada? Observe como ele recebe afetuosamente todas as vacas e vaqueirinhos amigos de Krishna e Balarama. Ele supre a água doce clara e fresca para o banho e para beber, o capim verde e tenro para as vacas, cavernas para eles repousarem e frutas e raízes para eles comerem. Este Giriraja Govardhana é verdadeiramente abençoado. COMENTÁRIO

Hantayam adrir abala hari-dasa-varyo. Abala significa sakhis, gopis. Uma gopi se dirige a outra: Por que se dirigem a ele como abala? Porque eles não São capazes e nem tem sorte suficiente para tocar os pés de lótus de Krishna. Eles são desafortunados e portanto se usa a palavra abala. Na realidade, as gopis não são abalas, elas são sabalas. Elas têm poder ou shakti porque elas são energias de Krishna. Porém elas se sentem desafortunadas e fracas. Através dos olhos internos as gopis vêem a poeira, as árvores, os lagos e rios de Vrindavana com muito mais sortes do que elas. Todos os seres móveis e imóveis que vivem em Vrindavana são mais afortunados que elas porque têm oportunidade de tocar os pés de lótus de Krishna e olhar para Sua forma. E mais do que só ver Krishna, algumas entidades vivas têm a chance de brincar com Krishna e tocar Suas mãos e pés. Para os seres que não podem caminhar, Krishna vai até eles. Ele sobe nas árvores e com afeição colhe as flores das trepadeiras, mima as vacas e ama os bezerros. As gopis acham que tudo em Vrindavana tem mais sorte do que elas. Hantayam adrir abala. Hanta é falado quando se está em kheda, em duhkha, em lamentação. Se desejamos algo que não conseguimos, então lamentamos. Por outro lado, se existe um excesso de alegria, então (hanta! Hanta!). Faremos exclamações de nossa felicidade. Todavia as gopis falam hanta mas magoadas. Elas estão muito tristes. Elas lamentam por não ter a chance de ver Krishna. Por isso elas se


lembram de Giriraja Govardhana ayam adrir, a Colina. As gopis usam a palavra ayam, esta, para indicar Govardhana. Elas falam como se tivessem próximas a colina de Govardhana mas elas estão em casa. A afeição é tanta que fez com que elas enlouquecessem (pramada). Usa-se a palavra pramada para mulheres especiais. As gopis são krsnasya pramada. Pelo devido amor elas enlouqueceram. Giriraja Govardhana também está louco. Ele esqueceu seu corpo e tudo relacionado com seu corpo. Do mesmo modo as gopis esqueceram tudo sobre elas mesmas - seus corpos, seus parentes, onde se encontram, suas funções corpóreas - por isso são chamadas de loucas. Quando elas executavam a dança da rasa com Krishna, elas eram chamadas de pramada porque elas se enchiam de tanto amor por Krishna que se tornavam manavati ou anuragavati. Assim elas estavam plenas de mahabhava. Por isso elas se chamam pramada: pramada rama-pati, loucas por rama-pati, Krishna. Nesse verso, a palavra adri significa Giriraja-Govardhana. As gopis sentadas em suas casas conversam sobre a boa sorte da colina de Govardhana. Govardhana é o maior servo do Senhor Hari (haridasvarya). Por que chamam Govardhana de hari-dasa-varya? Porque se alguém serve Krishna e Krishna fica satisfeito com o serviço desse servo e o servo por sua vez fica satisfeito por servir, então o servo é chamado de Hari dasa. O servo sente alegria pela satisfação do mestre e nisto o mestre fica contente pela satisfação de seu servo na execução de seu serviço. E isso torna o servo ainda mais contente - cria-se desse modo uma competição entre a alegria do servo e a alegria do mestre a tal ponto que é muito difícil dizer quem está mais feliz. Krsnadasa Kaviraja Gosvami descreveu este fenômeno em relação a Krishna e as gopis no Cheitanya Charitamrita. Se alguém serve seu mestre e sofre pelas dificuldades na execução do serviço, então essa relação não é serviço “por eu ter trabalhado tão duro, estou muito cansado, mesmo assim não posso dormir porque tenho que continuar executando meu serviço.” Esta não é a mentalidade de um servo. Se qualquer servo está executando seu serviço de má vontade, então este servo (sevaka) não está executando seva. Ele é um vaka. Um (shudra) trabalhador braçal desonesto. Não existe seva. Apenas vaka. Aqueles que estão fazendo serviço mas sentem-se cansados e não estão sentindo nenhuma bem aventurança não são servos. Quando Govardhana serve Krishna, seus cabelos se arrepiam e lágrimas rolam de seus olhos (romanca-pulaka, asru-kampa), e ele sente bem aventurança ao ter os pés de lótus de Krishna tocando seu corpo. Ele fica satisfeito. Indra manda relâmpago sobre Govardhana mesmo assim Govardhana sente bem aventurança no serviço a Krishna. Por isso Govardhana é um servo superior. Do mesmo modo se um devoto serve seu gurudeva e seu gurudeva fica satisfeito e se o devoto sente prazer nesse serviço, doando tudo, mesmo seu próprio corpo a seu gurudeva, e se satisfaz apenas com o serviço oferecido, temos ai um servo verdadeiro. Nesse verso, descreve-se a colina de Govardhana. Harideva é seu mestre. Harideva está caminhando sobre o corpo de Giriraja, Govardhana. O servo pode prestar serviço a seu mestre de diversas maneiras: através de sthana (posição), mana (mente), dhana (riqueza), vidya (conhecimento), budhi (inteligência - o que ele tiver, ele tem que oferecer. Se o servo presta serviço a seu mestre espiritual ou a seu amado apenas através de palavras, e não usa seu coração, seu corpo, e riqueza, então ele não é um bom servo. Se alguém está servindo com tudo que possui até mesmo coração e corpo, este é um servo verdadeiro. Se uma pessoa usa em seu serviço seu corpo, mente e qualquer outro meio a sua disposição porém não consegue entregar totalmente sua alma, temos então aishvarya-bhava. Um sakha pode servir a Krishna, todavia ele não se entrega totalmente ao serviço de Krishna. O pai ou a mãe também podem servir a Krishna, eles podem dar tudo, incluindo seu coração e alma. Porém tem uma coisa que eles não conseguem dar. Todavia as gopis se doam totalmente. Elas não deixam nada de lado, nem mesmo a reputação. Elas arriscam ser envergonhadas na sociedade. Elas arriscam tudo. Neste verso, as gopis observam que Govardhana não separa nada para si mesmo. Govardhana doa tudo a Krishna. O Srimad-Bhagavatam (10.47.56) descreve Uddhava, uma das três pessoas que são chamadas de haridasa: krsnam samsmarayan reme hari-daso vrajaukasam, “Este servo do Senhor Hari encontra seu prazer ao inspirar os habitantes de Vrindavana através da lembrança do Senhor Krishna”.


Narada também é um bhakta porque serve Krishna e todos os outros avataras. Prahlada, Dhruva, Narada, Vyasa - todos são servos. Contudo o Srimad-Bhagavatam designa apenas três pessoas como haridasa. O primeiro é Yudhisthira Maharaja, na ocasião do rajasuya-yajna quando todos os rishis, brahmarsis, o avô Bhisma, Vyasa, Narada e todos os outros santos e sábios chegaram, Yudhisthira Maharaja então disse, “Oh, que grande fortuna a minha porque esses rishis vieram a minha casa ver Krishna. Vocês são os maiores santos do universo. Krishna deseja encontrar com vocês” Narada disse a Yudhisthira que ele tinha milhões de vezes mais bênçãos do que os sábios: “Krishna vive em sua casa como servo, amigo e mestre. Krishna lava os pés de todos os rishis que vieram aqui para o sacrifício rajasuya. Krishna é o objetivo para todos os seres humanos, ainda que seja muito honrado poder vê-lO. Contudo ele está aqui vivendo em sua casa. Krishna se tornou seu servo. Nós não viemos aqui para ver Krishna e sim o sacrifício rajasuya e ver como você conquistou o que é inconquistável, Krishna, e como você O satisfez.” “De fato os rishis vieram aqui para ver você, Yudhisthira, uma vez que aquele para-brahma, testemunha no coração, Krishna, está sempre a seu lado em sua casa como um amigo íntimo.” Narada ao narrar isso começou a chorar e o próprio Shukadeva foi tomado de alegria ao relatar isso a Maharaja Pariksit. “Que maravilha que isso é”. Hari-dasasya rajarse rajasuya-mahodayam (Bhag. 10.75.27) Haridasaya nesse caso significa Yudhisthira. Os sábios estão falando, “que boa sorte esta dos Pandavas pois nesse rajasuya-yajna reuniram-se os rishis para poder ver os Pandavas acompanhados de Krishna. O serviço deles a Krishna é tal que Krishna se tornou controlado por eles. ”Isso é haridasa: Yudhisthira é mais velho do que Krishna e assim ele não serve a Krishna pessoalmente. Embora os outros Pandavas, a rainha Kunti, as esposas de Yudhisthira, as crianças e todas as pessoas de seu reino estavam servindo a Krishna. Desse modo, Krishna foi controlado por sthana, mana, dhana, vidya e budhi. Eles estão dando tudo a Krishna, no entanto apenas Maharaja Yudhisthira, tinha sido mencionado como haridasa. Shukadeva Gosvami também descreveu Uddhava como haridasa: krsnam samsmarayan reme haridaso vrajaukasam. Shukadeva Gosvami está dizendo que Krishna mandou Uddhava para consolar seu pai e mãe, as gopis e todos os residentes de Vrindavana. Portanto, Uddhava é haridasa. Porque ele entregou tudo ao serviço de Krishna. Krishna disse a Uddhava que ele próprio deveria ir ao invés disso ele estava enviando Uddhava como representante (pratinidhi). Portanto ele é haridasa. Por que Krishna não foi Ele mesmo? Krishna queria aumentar o bhava em separação, Se não existe a separação então como poderá haver mahabhava, citra-jalpa e todos os outros estados que as gopis experimentam? Todos vão pensar que Krishna era muito cruel. Krishna gosta de ouvir a descrição que as gopis fazem dEle. E Ele concorda com a análise delas. Assim através de uma crueldade aparente, Krishna revelou o mais elevado estágios de amor a Deus. Além disso existem outras razões que explicam porque Krishna não foi pessoalmente ver as gopis. Certa vez no Prema sarovara (próximo a Varsana) Krishna estava sentado com Srimati Radhika e outras gopis, uma abelha se aproximou e começou a zumbir em volta dos pés de Srimati Radhika, a abelha imaginava que havia encontrado uma fragrante flor de lótus. Radhika ficou assustada e começou a correr daqui para lá para escapar dessa abelha. No entanto a abelha persistia tentando tocar os pés de Radhika. Ao final, Madhumangala sacou de uma vara e afugentou a abelha. Madhumangala se aproximou de Radhika e lhe disse “a abelha (madhusudana) foi embora. Ela não vai voltar mais”. Nessa altura Radhika estava sentada no colo de Krishna e ela começou a chorar dizendo, “onde está madhusudana, onde está madhusudana? Krishna ficou assombrado ao ver os sentimentos de Radhika em separação mesmo estando em sua presença. (prema-vaicittya). Nisso Krishna percebeu que mesmo quando encontrava Radhika ela apresentava sentimentos de separação; e quando ela apresentava esses sentimentos, ela abraçava a árvore tamala, conversava, sorria e se comportava como se estivesse na presença de Krishna. Krishna percebeu que quando Ele estava presente Ela podia sentir separação. E quando Ele estava ausente Ela encontrava-se com Ele, comia e bebia e estava sempre feliz em separação. Foi por isso que Krishna decidiu que não mais iria viver em Vrindavana pois assim todo mundo saberia das glórias do amor em separação das gopis. Foi assim que Krishna partiu de Vrindavana e nunca mais voltou visivelmente.


Nesse verso as gopis vêem que Govardhana entrega tudo a Krishna. Krsnam samsmarayan reme haridaso vrajaukasam: Govardhana presta serviço em diferentes modos. As gopis dizem ao final: yad rama-krsnacarana-sparasa-pramodah, “Ao ser tocado pelos pés de lótus de Krishna se Balarama, Govardhana parece muito jubiloso. Ele é hari-dasa-varya. Hari-dasa-varya (o melhor servo do Senhor Hari) é Govardhana. As gopis oferecem ainda mais honra e respeito a Govardhana do que oferecem a Uddhava ou Yudhisthira, porque yad rama-krsna-carana-sparasa-pramodah, Krishna põe Seus pés de lótus no corpo de Govardhana e ele sente muita alegria. Quando Krishna foi pastorear com seu irmão, vacas e amigos, Ele se dirigiu até GirirajaGovardhana, assim Govardhana sentiu o toque dos pés de lótus de Krishna. Giriraja Govardhana é haridasa varya porque diferentemente de Narada, Vyasa, Sukha e outros sábios, Govardhana tornou seu corpo a morada de Krishna. Giriraja Govardhana se tornou um kunja, provendo guphas (cavernas), e sarovaras (lagos). Tudo isso se faz presente em sua cabeça e corpo. Krishna leva as vacas e os vaqueirinhos para Govardhana e Govardhana sente tanto prazer em servilos que lágrimas fluem de seus olhos na forma de manasi-ganga, kusuma-sarovara e outros corpos de água. Govardhana assim derrama tantas lágrimas e experimenta tanto desfrute. Em seu êxtase, seus cabelos se arrepiam (na forma da relva) e todos os tipos de botões de flores. Tanta grama fragrante cresce em Govardhana como resultado de seu êxtase e essas gramas por sua vez nutrem as vacas e bezerros tornando seu leite doce. Também, em diferentes estações, Govardhana torna seu corpo útil para Krishna. Na estação das chuvas Govardhana fica seca pois assim Krishna pode andar por toda a parte; no inverno Govardhana fica quente; no verão fica fria. Govardhana muda segundo as estações de modo que a atmosfera fica gravada para Krishna, Govardhana ainda provê água, grama, e milhares de árvores frutíferas tais como manga, e suco de fruta-pão. Em Govardhana cresce todos os tipos de frutas e flores. Govardhana provê belos tronos que tem a doce fragrância do almíscar. Govardhana também provê belos kunjas onde existem camas de flores (paryamka). Govardhana também provê belas jóias (ratna) e minerais. Geralmente as pedras são duras, mas as pedras de Govardhana são macias. Ao ouvir o doce som da flauta de Krishna as pedras derretem. É assim que Govardhana se transforma só para agradar Krishna. E manam tanoti saha-go-ganayos tayor yat: Govardhana oferece todo respeito as vacas, vaqueirinhos, Balarama e Krishna. Govardhana serve a todos. Em seu comentário sobre o Cheitanya Charitamrita Madhya (8.34), Srila Visvanatha Chakravarti Thakura explica a opulência da colina de Govardhana como se segue: paniya refere-se as águas cristalinas das cachoeiras de Govardhana. Paniya também significa pani-jal. Paniya e suyavasya: quando se combina essas duas palavras forma-se paniyasu. Aqui paniya significa jal e su significa suyate ou jharati. A água provêm do alto e cai (nirjhar) como uma cascata ou uma fonte. Em geral, suyavasa significa bons grãos. Mas Visvanatha Chakravarti combinou su com panya e as usou para explicar que existem cascatas na colina de Govardhana. Suyavasa também significa todos os tipos de grãos alimentícios, flores e frutos. Kamdara significa gupha ou caverna. Govardhana fornece cavernas que são agradáveis tanto no inverno quanto no verão para lazer de sentar-se, deitar-se e brincar. Kamdamulayr significa raízes comestíveis. Através de upalaksana ou inferência indireta pode-se compreender que Govardhana oferece camas de jóias, assentos, lamparinas, espelhos e assim por diante. Tudo que Krishna ou Seus amigos e vacas desejam, as plantas de Govardhana imediatamente fornecem porque Govardhana dá todo respeito aos membros do séquito de Krishna. Portanto, decerto ele é um bhagavata-bhakta. A jóia mais preciosa de todos os devotos e de todos os haridasas. Yudhistira Maharaja não pode prestar serviço como Govardhana faz, nem mesmo Uddhava pode, embora Uddhava possa até mesmo representar Krishna com as gopis As gopis dizem que Uddhava não podem fazer uma coisa : yad rama-krsna-crana-sparasa-pramodah. Que isso significa? Esse é o significado indireto. Será que elas se referem a Rama e Krishna? Rama aqui não significa Baladeva. Significa ramaniya encantador e prazeroso ou aquele que é comprazido pelos prazeres amorosos. Assim, Rama Krishna charana (os pés de lótus de Rama e Krishna) na realidade significa ramaniya Krishna charana, apenas os encantadores pés de lótus de Sri Krishna. As gopis têm prema exclusivo (ananya) por Krishna. Elas não vêem Balarama. Na dança da rasa Krishna brinca com Radhika e


desfruta com as gopis. Esse haridasa testemunha tudo. Radha e Krishna e todas as gopis caminham sobre sua cabeça e peito. Seu peito é a arena para a dança da rasa. Govardhana sente prazer por Krishna estar brincando e dançando com as gopis. Essa é a razão dele possuir tanto pramodha, júbilo. Portanto, essa gopi diz que Rama significa ramaniya, que Krishna está amando todas as gopis como Suas amantes. Yad ramakrsna-carana-sparasa-pramodah manam tanoti saha-go-ganayos tayor yat paniya-suyavasa-kandarakandamulaih. As gopis estão falando este significado de uma maneira velada (avahita) ao usar a palavra rama. Segundo o dicionário Amara-kosa, a palavra rama possui três significados: azul, encantador e branco. Visvanatha Chakravarti Thakura explica que rama possui também outro significado: “a frase he abala indica que para aquele que está sob o controle do mestre sua única saída é refugiar-se no mestre. Devido a esse desfrute, yatha, Govardhana expande a honra e adoração a fim de satisfazer a ambos. Refere-se aqui aos dois que estão presentes com todas as vaquinhas”. Giriraja Govardhana é mais glorioso do que os outros dois haridasas porque ele serve Radha e Krishna com seu corpo. Por isso Govardhana têm a mais rara das visões. Krishna dançando com todas as gopis sobre seu peito. Mas Uddhava e Yudhisthira não podem testemunhar isso. Tanto Sanatana das Gosvami como Raghunatha dasa Gosvami descreveram as glórias de giri Govardhana em suas preces e eles apontam aqueles que estão falando da colina de Govardhana como habitadas varya. Sanatana Gosvami diz, he Govardhana , ayati saila kula-dhiraja. Quando se glorifica Giriraja Govardhana no Brihat Bagavatamrita Sanatana Gosvami diz que Govardhana deve ser louvada porque foram as gopis que o chamaram de haridasa varya. Porém Raghunatha dasa Gosvami em sua obra Sri Govardhanavasa-prarthana-dasakam (texto 8) diz: giri-nrpa! Haridasa-sreni-varyeti-namamrtam idam uditam sri-radhikavaktra-candrat, “Ó rei da montanha! Olha! Da própria boca suave como o luar de Sri Radha foram emitidas as seguintes palavras: „amados! Essa colina é a mais magnifica entre todos os servos de Krishna‟. Sanatana Gosvami diz que uma das gopis falou este verso, mas Raghunatha das Gosvami foi a própria Radhika que falou. Visvanatha Chakravarti Thakura concilia essas duas opiniões dizendo que Radhika é uma gopi. Sanatana Gosvami diz que uma gopi falou este verso e Visvanatha Chakravarti mostra que isto não contradiz o fato de que foi Radhika quem falou. Radha é a líder de todas as gopis. Se Raghunatha Gosvami diz Sri Radhika vaktra-candrati, assim Ela é a gopi que está falando. Onde Radhika disse isso? Verso 18 do Venu Gita. Rupa Gosvami concorda com esse ponto de vista e portanto, Raghunatha dasa Gosvami como um rupanuga fez suas preces dessa maneira. Ele diz que Radhika é quem fala esses versos: Barhapidam natavara-vapuh karnayoh karnikaram (texto 4), e aksanvatam phalam idam na param vidamah sakhyah pasun anuvivesayator vayasyaih(texto 7). Este verso (texto 18) também foi falado por Srimati Radhika. A prova é que no verso anterior (texto l7) se diz: daiyta sthana-manditena. Radhika deu kunkuma de seus seios para os pés de Krishna. Mas Ela se esqueceu disso. Isso é uma exaltada madhurya, por Ela ter entregue seu kunkuma a Krishna, mas Ela própria quer saborear essa troca outra vez. Portanto, não existe opiniões controversas sobre esse ponto entre Sanatana Gosvami e Raghunatha dasa Gosvami. Giriraja Govardhana saboreia mais bem aventurança (ananda) do que Uddhava pode compreender. Uddhava não vivenciou a dança da rasa como Krishna fica sob o controle desta gopi. Krishna coloca Sua mão no pescoço das gopis. Shukadeva Gosvami diz: „nayam striyo „nga u nitanta-rateh prasadah svar-yositam nalina-gandha-rucam kuto‟nyah rasotsave „sya bhuja-danda-grhita-kantha labdhasisam ya udagad vraja-vallabhinam “No rasa-lila, Bhagavan Sri Krishna abraçou as gopis com Seus braços poderosos e assim satisfez os desejos dos corações delas. Este favor transcendental nunca foi outorgado a Lakshmi, embora Ela sempre resida no


peito de Sri Narayana e Se situe em prema imaculado. Nem as consortes das encarnações do Senhor no mundo espiritual obtiveram esse favor. Na verdade, isso sequer passou pela imaginação das mais belas mocinhas no planeta celestial cujo brilho corpóreo e aroma assemelham-se a flor de lótus. O que falar de outras mulheres comuns”(Bhagavatam 10.47.60) Esse verso também foi falado por Srimati Radhika. Pois quando Krishna deixou as gopis na dança da rasa e se embrenhou na floresta com Srimati Radhika, Krishna segurou no pescoço de Radha e disse: “Você não pode me deixar porque Eu não posso viver sem você”. Desse jeito, Radhika controla Krishna. Giriraja Govardhana viu essa cena. Ele é a testemunha de todos esses passatempos. Krishna executa a dança da rasa sobre seu peito e Giriraja Govardhana saboreia esses passatempos e sente grande júbilo. Pramodha significa pramada, loucura, é similar ao que as gopis experimentam. As gopis dizem que gostariam de ser uma Govardhana-shila, uma pequeníssima pedra de Govardhana. Cada pedaço de Govardhana, cada shila, é tão afortunada por experimentar um toque de Krishna e derreter ao ouvir o som da flauta de Krishna. Quando Krishna pisa em Govardhana as pedras ficam tão macias quanto manteiga porque elas se derreteram com o som de Sua flauta. “Mas nós não conseguimos nos derreter como essas pedras. Nós também ouvimos o doce som da flauta e também vemos Krishna, porém não derretemos. Portanto, desejamos nos tornar um grão de poeira em Govardhana ou uma pedra, assim poderemos derreter pelo som da flauta de Krishna.” Como podemos nos transformar em pedra? Se alguém deseja Krsna-bhakti ou Krsna-prema essa pessoa tem que se abrigar em um tadatmika-bhakta. Se não se consegue a associação tadatmika-bhakta então deve se ter a associação de um Raganuga-bhakta. Se não se consegue essa associação, ao menos deve-se procurar associação de um devoto que tem um sentido de anseio na direção de Raganuga. É assim que o anseio de um devoto pode se desenvolver e ele pode alcançar raganuga bhakti. Portanto, oramos e nos abrigamos na Giriraja Govardhana. A colina de Govardhana é tão udara, liberal. Govardhana pode oferecer sua associação porque ele serviu a Krishna a Seus associados e as vacas. Se nos rendemos a Giriraja Govardhana receberemos suas bênçãos porque Govardhana é muito liberal. Oramos a Govardhana para nos dar misericórdia, assim podemos nos qualificar para também servir a Krishna. Esse é o significado principal desse verso. Somos servos das gopis e portanto temos que adorar Govardhana como as gopis nos instruíram. Se servimos Govardhana como Harideva, perderemos tudo. Mas se adoramos Giriraja como narrado aqui (hari-dasa-varya) então receberemos muito. Se alguém adora Krishna, não vai obter muito. Se alguém adora Krishna, não receberá tanto quanto aquele que serve os devotos de Krishna. Se alguém serve as gopis, o ganho é intenso, milhares de vezes maior do que adorar Krishna. Nossos Gosvamis foram sábios ao eleger o serviço das gopis. Eles queriam ser palya-dasa de Radha, não palya-dasa de Krishna. Cheitanya Mahaprabhu adorou sua Govardhana-shila como sendo Krishna. Mahaprabhu assumiu o humor de Srimati Radhika e sempre aspirava saborear Krishna. Em toda parte que Ele olhava Ele via Krishna, Krishna, Krishna, portanto, Ele também via Govardhana como Krishna. Mahaprabhu adorava Govardhana banhando-o com Suas lágrimas e abraçando a shila contra Seu peito. Srimati Radhika não adorava Govardhana como Krishna e sim como haridasa varya. Ela desejava que Giriraja lhe desse um kunja belo e decorado com belos lagos e cachoeiras. Se ela visse Govardhana como Cheitanya Mahaprabhu via, ou seja como Krishna, então como Krishna poderia dar a Radha os kunjas retirados com flores e frutas abundantes para o serviço de Radha a Krishna? Krishna não pode dar a Radha todas essas coisas. Portanto, a adoração a Govardhana apresenta diferenças no Cheitanya Lila ao ser comparado com o Krishna Lila. Existem duas percepções. Uma é de Srimati Radhika quando Ela está em Vraja e a outra é de Krishna quando Ele assume o humor de Srimati Radhika como Cheitanya Mahaprabhu. Quando Cheitanya Mahaprabhu no humor de Srimati Radhika percebe-Se a Si mesmo, o bhava de Radha está lá, no entanto existem algumas diferenças. Isto é acintya-bheda-bheda. Mahaprabhu no humor de Radha vê Govardhana como Krishna, porém em Vraja, Srimati Radhika vê Govardhana como haridasa varya. Desejamos servir Govardhana como Srimati Radhika e Suas gopis. Mahaprabhu vê apenas Krishna e quando Ele coloca uma gunja-mala próximo ao Seu shila, Mahaprabhu também vê Srimati Radhika. Nos


passatempos de Cheitanya Mahaprabhu, Srimati Radhika não está diretamente presente - apenas o humor dEla se faz presente. Assim, há uma diferença entre o Cheitanya lila e o Krishna lila. Krsna-smaran janam casya (Bhakti-rasamrita-Sindhu 1.2.294): desejamos a prática de raganuga-bhajana. Krishna smaranam significa lembrança de Krishna. Janam significa os associados de Krishna na própria rasa que o devoto está desejando. Krishna é um, mas Seus associados são de cinco tipos. Qualquer pessoa que possua um desejo em qualquer das cinco rasas, em especial madhurya-rasa, e no campo de madhurya-rasa, tat tat bhava icchamayi manjari-bhava, então tal devoto deve praticar a lembrança desse bhava mais do que a lembrança de Krishna. Krishna é objeto de prema e Radha é ashraya ou o abrigo de prema. Aqueles que estão em gopi manjari bhava tem que praticar a lembrança de ashraya tattva. Lalita e Vishakha também são ashraya tattva juntamente com Rupa Manjari e Rati Manjari. (Lalita e Vishakha às vezes agem em manjari bhava, embora sejam sakhis). As gopis (excetuando-se Srimati Radhika) dividem-se em dois tipos. Lalita e Vishaka são kamatmika-gopis, mas elas também podem adentrar em gopi-manjari-bhava. No Cheitanya Charitamrita, Cheitanya Mahaprabhu mencionou aos dois veshas (identidades) contudo se alguém desejar esse bhava específico, tat tat bhava icchamayi manjari bhava vai ter que se lembrar deste bhava mais do que do próprio Krishna. Tal devoto deve estar sempre pensando no serviço da manjari específica que ele deseja seguir e se tornar tadatmika neste bhava. Se alguém aspira por esse humor, mas se lembra e adora Giriraja Govardhana da maneira que Cheitanya Mahaprabhu o fez, isso não vai contribuir para se chegar ao bhava desejado. De uma maneira geral, todos os devotos adoram Giriraja da maneira de Mahaprabhu porque é rara a associação com devotos que estejam em manjari bhava. Tais devotos não podem imaginar como é esse bhava. Assim temos que sempre nos lembrar do humor de Radhika e das gopis e especialmente de nosso gurudeva, olhando tudo isso do ponto de vista de uma manjari, sob a guia de Rupa Manjari, Rati Manjari e Lavanga Manjari. Govardhana é um associado de Krishna porque ele dá tudo que tem ao serviço de Krishna especificamente ao serviço das gopis. Os sakhas não precisam de um kunja; podendo pastorear as vacas em qualquer lugar. Não há necessidade de esconder nada. Porém as gopis necessitam de cavernas secretas e kunjas. Giriraja Govardhana fornece isso para o serviço das gopis. Por isso Giriraja é haridasa varya. Portanto temos que preferir também Giriraja varya (Govardhana como um devoto), mais que Harideva (como o próprio Krishna). Apenas alguém que esteja no mesmo humor de Cheitanya deve pensar em Govardhana como Harideva.


TEXTO DEZENOVE

ga gopakair anu-vanam nayator udaravenu-svanaih kala-padais tanu-bhrtsu sakhyah aspandanam gati-matam pulakas tarunam niryoga-pasha-krta-laksanayor vicitram gah- as vacas; gopakaih- com os vaqueirinhos; anu-vanam- em cada floresta; nayatoh- conduzindo; udaramuito liberal (o som da flauta é muit liberal porque distribui bem aventurança suprema às gopis em vários locais); venu-svanaih- pela vibração da flauta do Senhor; kala-padaih- tendo doces notas; tanu-bhrtsu- entre as entidades vivas; sakhyah- Ó amigas; aspandanam -gati-nmatam- a completa imobilidade daquelas entidades vivas que podem se mover a seu bel prazer, bem como os rios, etc., cuja natureza é estar sempre em movimento; pulakah- tarunam- o extático júbilo das arvores imóveis; niryoga-pasha- as cordas para prender as patas trazeiras das vacas; krta-laksanayoh- dos dois (Krishna e Balarama), que se caracterizam por; vicitram- maravilhoso TRADUÇAO Outra gopi disse: Ó sakhis! A movimentação desses dois jovens (Krishna e Balarama) um escuro e outro claro (syama-gaura) por certo único. Em Seus turbantes, Eles enrolaram um tipo de corda para prender as pernas das vacas na hora da ordenha. Em Seus ombros, Eles dependuram outro tipo de corda para laçar as vacas fugitivas. Eles tocam em Suas flautas e cantam doces canções acompanhados dos vaqueirinhos quando Eles conduzem as vacas de uma floresta a outra. Nesses momentos, sem mencionar os seres humanos, todas as outras entidades vivas, tais como animais e pássaros bem como os rios, ficaram aturdidos e as árvores imóveis tremem de êxtase. O que eu poderia falar mais sobre as maravilhas extraordinárias da flauta? COMENTÁRIO As gopis dizem, “ó amigas (sakhyas) ó vocês que possuem afeto por Krishna (krishna-anurajini)”. As gopis discutem todos esses passatempos, e em especial a canção da flauta. Assim elas mergulham no oceano de bhava (bhava-sindhu). Elas falam espontaneamente a medida que essas coisas surgem em seus corações e mente, não é coisa decorada. Elas explicam as características de hari-dasa varya, Giriraja Govardhana, ou seja como Govardhana serve a Krishna de tantas maneiras diferentes. “Ó sakhya, é muito difícil servir os pés de Krishna de modo que Giriraja Govardhana o faz. O que falar de servir aos pés de Krishna se não podemos nem mesmo tocar os pés de Krishna ou sentir Sua fragrância. E se alguém percebe que estamos lembrando de Krishna em nossos corações, então vamos ser acusadas e fazer com que nos sintamos culpadas. Ainda assim não podemos esconder esse sentimento. Giriraja serve Krishna de todas as maneiras.” As gopis se lembram disso e dizem umas as outras : yad rama-krsna-carana-sparasa-pramodah manam tanoti saha-go-ganayos tayor yat paniya-suyavasa-kandara-kandamulaih (TEXTO 18), esses são os serviços executados pela colina de Govardhana. E ao executá-los Govardhana sente-se feliz e em regozijo pelo toque dos pés de Krishna. Seus cabelos se arrepiam e o suor escorre pelo seu corpo. Assim mesmo tudo vem do corpo de Govardhana, e em especial durante a dança da rasa porque nesse momento todas as gopis se apresentam. Srimati Radhika está no meio e todas as gopis estão dançando. Nessa hora, Srimati Radhika sente-Se cansada e Krishna A coloca sentada no trono que Giriraja preparou. Krishna gentilmente massageia os pés de Radhika e às vezes Ele também coloca os pés dEla que está ornamentado com resinas vermelhas, sobre o Seu peito. Giriraja Govardhana se alegra ao ver isso, sentindo os pés de Krishna e Radhika em sua cabeça, peito e corpo. Govardhana se sente satisfeitíssimo deixando escorrer lágrimas e suor. Giriraja


Govardhana treme com o surgimento de tantos bhavas e experimenta ondas de prema. É tanto prema que ele sequer consegue expressar sua alegria. “Oh , quanta alegria esse Govardhana está experimentando. Ó sakhis, não podemos tocar os pés de Krishna nem servi-lO da maneira que faz a colina de Govardhana.” As gopis tocaram os pés de Krishna e encontram com Krishna diariamente e prestam serviço na dança da rasa, contudo elas sentem purva-raga. Portanto, elas falam como se nunca antes houvessem encontrado com Krishna ou tivessem a oportunidade de tocar Seus pés, Giriraja Govardhana fornece a Krishna muitas variedades de frutas doces e acres. Existem quatro sabores nas frutas - semelhante aos limões, laranjas, mangas e etc. Giriraja Govardhana fornece as frutas que crescem em seu corpo. Govardhana não necessita comprar ou importar. “Se nós tivéssemos alguma fruta em nossos corpos poderíamos dá-la a Krishna - que maravilhoso seria! Mas não temos as frutas, então o que poderemos doar? O pensamento das gopis vai até um ponto que o próprio Srimad-Bhagavatam não consegue explicá-lo totalmente. Apenas os seguidores rasika de Shukadeva Gosvami ou outros devotos podem explicar todas essas coisas. Em cada serviço que a colina de Govardhana presta, sente grande júbilo. Govardhana se dá totalmente, e as gopis acreditam que elas não conseguem se doar assim. Elas não fornecem frutos como Govardhana. Elas não podem tocar os pés de Krishna ou servir os amigos e vacas de Krishna do jeito que Govardhana faz. Não temos a mesma consideração por Krishna (manam tanoti). O humor que as gopis expressam é de lamentação. “Ó sakhis! Sequer imaginamos como Giriraja Govardhana faz seu serviço. Não temos esta oportunidade.” Pensando desta maneira as gopis se comovem em seu bhava. Krishna está apascentando as vacas em Govardhana e as gopis estão em casa, ainda assim elas vêem Govardhana dentro de seus corações. Go significa vacas e gopakair significa vaqueirinhos. Krishna protege as vacas e os vaqueirinhos de todas as calamidades, e Ele também os protege da separação. Outro significado é que eles conservam Krishna dentro deles. Gopayati significa raksayati (abrigo). Os vaqueirinhos amam tanto Krishna; portanto Krishna está sempre em seus corações. Anu-vanam significa “em cada floresta”. Krishna e os vaqueirinhos conduzem a manada de floresta em floresta. Qual o motivo de ele andar de floresta em floresta acompanhado de milhares de vaqueirinhos e vacas? O motivo é que Krishna busca por algo. A busca dEle é tal que ninguém consegue captar Seus motivos. Aparentemente Krishna está apenas interessado em apascentar as vacas e encontrar um capim mais doce e água. Decerto Ele está em busca de água, pois água significa vida. Quando Krishna vê esta água no ksuma-sarovara, radha-kunda ou em Govardhana aparentemente Ele encontrou o que procurava. Krishna procura pela vigraha do amor; na realidade Ele está procurando apenas por Radhika. E se Ele não consegue encontrá-lA, então nayator-udara-venu-svanaih, Krishna chama Radha através do som de Sua flauta. Os vaqueirinhos estão pensando que Krishna toca a flauta para chamar as vacas. De fato, cada vaca acredita que Ele está chamando somente por ela. Pelas doces notas (kala-padais) da canção da flauta. Assim esse verso diz - kala. E kala também significa klim. Na palavra klim cada nome todos os nomes das gopis estão presentes. Todos acreditam que uga-gopakair significa “as vacas” , mas o real significado é as gopis. Venu-svanaih - a canção da flauta é tão liberal (udara) porque se destina a tudo e a todos. Não é só para as gopis ou só para as vacas e vaqueirinhos. Destina-se para todos - cada trepadeira, cada árvore, cada pássaro e animal, cada átomo. Todas as entidades vivas sentem júbilo quando ouvem a canção da flauta, mas o que cada um escuta se limita ao grau de qualificação. As gopis são as que mais são afetadas, mas todas as entidades vivas se enche de prema, transbordando de amor, por ouvir a flauta de Krishna. Tanu-bhrtsu sakhyah aspandanam gati-matam pulakas tarunam: aquelas entidades vivas que são imóveis iniciam um movimento e aquelas que são móveis ficam paralisadas. Tudo que tem vida - seja árvores, montanhas, rios, pessoas, pássaros ou animais - se classificam em dois tipos móveis ou imóveis. As pandanam gati-matham: aqueles que são seres móveis, como a corça quedam silentes. Esses animais deveriam estar fugindo com medo dos vaqueirinhos e vacas, no entanto elas ficam paralisadas e oferecem seu afeto a Krishna através de seus olhos. Todos os pássaros se calam, embora sejam pássaros canoros


quando soa alto o doce som da flauta e pode-se ver o belo rosto de Krishna. As árvores e as montanhas são considerados seres imóveis e se tornam mutáveis. As rochas nas encostas derretem e ficam macias. As árvores enchem-se de flores e frutos e seus galhos se curvam para tocar os pés de lótus de Krishna. Suas folhas tremulam quando ouvem o som da flauta e os sintomas dos júbilos das árvores são as flores que nascem. Pulakas tarunam niryoga-pasha-krta-laksanayor vicitram. Krishna construiu Seu próprio svarupa, Seu corpo, muito belo. Ele tem um turbante na cabeça e nele existe um pasha, uma corda para prender as patas das vacas (niryoga). Na ordenha das vacas, os vaqueirinhos prendem suas patas traseiras com as cordas. Esta corda especial porque ela liga a jiva à Krishna. Quando a vaca não quer ceder seu leite, o vaqueirinho coloca o bezerro amarrado ao lado de sua mãe estimulando a vaca a soltar o seu leite. A corda que amarra a vaca ao bezerro se chama niryoga. Krishna usa essa niryogapasha em Seu turbante. Como vaqueirinho que Krishna é, Ele está belamente ornamentado. Tudo que Ele faz é belo. Krishna usa Sua corda como um laço. Quando a vaca está nervosa e não quer dar leite, ou quando a vaca se comporta mal então os vaqueirinhos costumam amarrar a corda do pescoço até as pernas, assim elas não podem escapar. O laço do pescoço é apertado com bambu e se a vaca tenta correr o bambu não se movimenta e assim não poderá escapar. Por isso Krishna carrega esse laço. Se a vaca é pacífica, o vaqueirinho às vezes amarra próxima a uma vaca selvagem para impedir que a selvagem fuja. Krishna usa essa corda no seu turbante. Krishna possui uma aparência tão formosa quando Ele está com a vaca ordenhando-as. Aqui as gopis dizem “ó sakhi, Krishna está usando essa niryoga-pasha para nós. O que queremos é o mesmo que as vacas querem. Queremos que Krishna nos ate com Sua corda de amor. Krishna eternamente com Sua corda pode amarrar qualquer jiva, qualquer um que possua um corpo. Essa corda é tão linda que ela atrai a todos. Após ser laçado por ela é impossível ficar longe de Krishna. Essa corda laça as entidades vivas aos pés de lótus de Krishna. “A corda no turbante de Krishna não é uma corda comum. Ela é niryoga. Ela conecta nossas mentes e corações para sempre a Krishna. Nós não conseguimos ir mais para nossas casas. Não conseguimos mais ficar com nossos maridos, pais ou mães. Essa corda nos arranca tudo que possuímos e para sempre nos liga aos pés de lótus de Krishna.” Esse é o significado de niryoga, A corda não é realmente um pasha para amarrar vacas, ela se destina segurar os nossos sentidos e corações porque eles estão repletos do mesmo desejo de correr daqui para lá que as vacas sentem. Essa é a corda do amor (prema). “Nós não temos a oportunidade de servir a Krishna do mesmo jeito que Giriraja Govardhana ou como as árvores e trepadeiras de Vrindavana, ainda assim Krishna atrai nossos corações de tal modo que nunca mais conseguimos ficar longe dEle. Embora na realidade, estejamos tão distantes de Krishna”. Assim falando sobre a corda que segura as vacas, as gopis lembram-se dos passatempos de Krishna.


TEXTO 20

evam-vidha bhagavato ya vrndavana-carinah varnayantyo mitho gopyah kridas tan-mayatam yayuh

evam-vidhah- dessa maneira ( passatempos de uma tal maneira que deixa atônito todo o mundo); bhagavatah- da Suprema Personalidade de Deus (que manifesta Sua própria ilimitada doçura); yah- qual; vrndavana-carinah- que estava caminhando na floresta de Vrindavana; varnayantyah- (as gopis continuamente) ocupadas em descrever todos esses passatempos do Senhor( e assim alcançaram o estado de tadatma nesses passatempos; em outras palavras, elas adentram nos passatempos e vivenciaram a associação direta de Krishna ); mithah- entre um e outro; gopyah- as gopis; kridah-tat-mayatam-yayuh- elas alcançaram completa identificação com aqueles passatempos; em outras palavras, os passatempos se manifestaram em seus corações

TRADUÇÃO

Ó Maharaja Pariksit! As gopis profundamente imersas em prema discutem todos os dias entre si os passatempos inumeráveis de Sri Krishna executados na floresta de Vrindavana. Devido a essa ação elas entram no transe extático de meditação em Krishna. Essa é a maneira que os passatempos do Senhor se manifestam continuamente dentro dos corações delas. COMENTÁRIO As gopis se lembram de todos os passatempos de Krishna em Vrindavana. É assim que elas enlouquecem em prema. Evam-vidha descreveu-se tudo nestes 19 shlokas, todos que estão descritos no Srimad-Bhagavatam e alguns que não estão ali. As gopis discutem isso entre si. Shukadeva Gosvami pergunta a Maharaja Pariksit neste verso: “Como é possível alguém explicar as ondas de prema na imensidão do oceano dos corações das gopis? Eu não posso explicar tudo que ocorre.” Shukadeva Gosvami está dizendo que não consegue expressar os sentimentos das gopis quando estão no estado de purva-raga antes de ocorrer o abhisara (encontro) ou expressar a inquietação das gopis. Quando a amante espera em demasia por seu amado, ela fica agitada. Nem consegue dormir. Os 33 tipos de sancaribhava e os 8 tipos de sattvika-bhava todos surgem nos corações das gopis. Shukadeva Gosvami diz que pode ver isso tudo mas não consegue explicar tudo: como surge, como se apresenta e como parte semelhante a ondas. Portanto Shukadeva dá apenas uma amostra aqui. Neste livro deu-se apenas um resumo disso tudo. Mesmo o Senhor Brahma não consegue descrever os sentimentos das gopis mesmo possuindo quatro bocas. Nem sequer Maha Sankarshana pode descrever isso com Suas milhares de bocas. O que falar de outras pessoas? Nem mesmo Krishna consegue expressar o que as gopis sentem por Ele. Este capítulo descreve purva-raga que inclui sentimentos de separação (vipralamba). Purva-raga significa separação antes do encontro. Um sadhaka tem que experimentar esse sentimento de separação. Não existe sadhana sem esse sentimento de separação, pois o sadhana deve trazer a tona esse sentimento. Esses versos são svarasiki (uma contínua e inquebrantável meditação que flui como uma correnteza de mel que vem de um pote). Esses versos não se destinam ao mantra-upasana. Nós também podemos praticar a lembrança svarasiki com esses versos. Pratica-se o mantra upasana ao se meditar um verso de cada


vez, mas o svarasiki-lila é uma sequência de versos onde cada verso espalha lembrança de muitos passatempos fazendo a conexão com outros versos. Esse capítulo está repleto de sequências de lilas. Esta guirlanda é formada por muitas flores. Do início ao fim, este capítulo contém muitos passatempos. Se tomamos um verso de cada vez, podemos usá-lo no mantra-upasana, especialmente versos como barhapidam nata-vara-vapuh karnayoh karnikaram. Pode-se usar também o verso seguinte para o mantraupasana. Mas como um todo este capítulo destina-se a lembrança svarasiki. As descrições de que as pedras derretem e os rios endurecem não devemos tomá-las como metáforas poéticas. No Charana Pahari e em outros locais vemos lugares onde as pedras se derreteram ao toque dos pés de lótus do Senhor Cheitanya, ficando impresso Suas pegadas. Isso também é visível no Alalanatha num lugar onde se encontraram Rama e Bharata. Embora nossos corações sejam mais duros do que a pedra poderão ser derretidos e tornarem-se suaves através da audição e da lembrança desses passatempos no nosso raganuga bhajana.

SOBRE O AUTOR

Sua Divina Graça Sri Srimad Bhaktivedanta Narayana Maharaja é discípulo de Om Visnupada Sri Srimad Bhakti Prajnana Keshava Gosvami Maharaja que foi um dos mais destacados líderes discípulo de Om Visnupada Sri Srimad Bhaktisiddhanta Sarasvati Prabhupada. Sri Narayana Maharaja nasceu numa aldeia chamada Tewaripur localizada próxima as margens do sagrado rio Ganges em Bihar, Índia. O lugar é conhecido como sendo o local onde o Senhor Ramachandra e Visvamitra Muni mataram o demônio Taraka. Srila Narayana Maharaja nasceu no dia de amavasya (lua nova), em fevereiro de 1921 numa família muito religiosa de brâmanes trivedi. Na sua infância ele sempre acompanhava seu pai aos kirtanas e reuniões pravacham. Em fevereiro de 1947 ele encontrou seu Gurudeva em Sri Navadvipa dhama, Bengala Ocidental. Ele havia se dirigido para esse local após o encontro com um discípulo de Srila Bhaktisiddhanta chamado Srila Narottamananda Brahmachari que viajava e pregava a mensagem de Sri Cheitanya deva. Após suas primeiras impressões com este devoto Narayana Maharaja se convenceu da posição suprema da filosofia dada pelos acharyas na linha de Srila Rupa Gosvami e após alguns dias ele deixou seu lar para se juntar a missão de seu mestre espiritual e entregar sua vida. Quando ele chegou em Sri Navadvipa dhama executava-se o parikrama anual e ele se juntou ao grupo. Em goura purnima ele recebeu as iniciações hari nama e gayatri sendo-lhe dado o nome de Sri Goura Narayana. Seu mestre espiritual também lhe concedeu o título de bhakta-bhandava que significa “amigo dos devotos” porque ele está sempre servindo todos os Vaishnavas de muito bom grande. Ele viajou muito extensivamente com Srila Keshava Maharaja e pregando por toda a Índia nos cinco anos seguintes e em 1952 também goura purnima seu amado gurudeva lhe deu iniciação na sagrada ordem de sannyasa. Em 1954 Srila Keshava Maharaja deu-lhe o comando do recém aberto templo de Mathura chamado Sri Kesavaji, Gaudya Matha. Assim Srila Narayana Maharaja passava parte do ano em Mathura e parte na Bengala levando a cabo sua missão. Assim foi pelos quatorze anos seguintes. E seu gurudeva o apontou como vice-presidente da missão da Sri Gaudya Vedanta Samiti e editor chefe das publicações em hindi e da revista mensal Sri Bhagavat Patrika. Em 1968 Srila Keshava Maharaja deixou o planeta e Srila Narayana Maharaja executou todas as cerimônias para a instalação do samadhi.


Após isso Srila Narayana Maharaja passou a organizar o parikrama anual kartika vraja mandala até os dias de hoje. Srila Narayana Maharaja foi encarregado por seu gurudeva a traduzir os livros de Srila Bhaktivinodha Thakura do bengali para o hindi e atualmente todos esses livros estão sendo traduzidos para o inglês por seus seguidores. Srila Narayana Maharaja faz conferências em hindi, bengali e inglês por toda a Índia. Srila Narayana Maharaja desfrutou de um íntimo relacionamento com Sua Divina Graça A C Bhaktivedanta Swami Prabhupada. Eles se encontraram pela primeira em 1948 em Calcutá onde passaram a prestar serviço na ramificação da Gaudya Samiti. Esta associação continuou na sociedade chamada Liga dos Devotos que Bhaktivedanta Swami Prabhupada tentava estabelecer. Já na década de 50 Bhaktivedanta Swami Maharaja passou a morar em Mathura a convite de Seu irmão espiritual Srila Keshava Maharaja. Narayana Maharaja respeitava Srila Prabhupada como seu sênior e superior, bem como seu amigo. Em 1959 Srila Bhaktivedanta Swami Prabhupada recebeu a ordem de sannyasi de Srila Keshava Gosvami Maharaja sendo que esta cerimônia de fogo e todos os rituais foram executados por Srila Narayana Maharaja. Foi Srila Narayana Maharaja que enviou as primeiras mridangas e karatalas para Srila Bhaktivedanta usá-las no sankirtana no ocidente. Foi Srila Narayana Maharaja que a pedido do próprio Bhaktivedanta Swami Prabhupada se encarregou de executar todos os rituais quando da partida desse mundo mortal de Bhaktivedanta Swami Prabhupada, o que bem demonstra a profunda confiança de Bhaktivedanta Swami Maharaja depositava em Srila Narayana Maharaja. Srila Narayana Maharaja desde a partida de Srila Bhaktivedanta Swami vem a pedido deste fornecendo visões mais profundas e abrigo amoroso aos discipulos de Bhaktivedanta Swami e a todos que o procuram. Srila Narayana Maharaja continua a iluminar o caminho daqueles que desejam descobrir e profundamente mergulhar no oceano extático de radha-dasya, serviço aos belos e radiantes pés da mui amada de Sri Krishna, Srimati Radhika.


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