SABORES E SIGNIFICADOS - PERCEPÇÕES DE UMA ATIVIDADE DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL RESUMO: A alimentação representa muito mais do que a obtenção de nutrientes. Ela influencia e é influenciada por todo o contexto sociocultural dos indivíduos. Assim, a educação alimentar e nutricional precisa se configurar como um processo que visa à conscientização do indivíduo com relação aos seus hábitos alimentares, respeitando o conhecimento prévio do sujeito. O Cozinha Brasil se insere neste cenário como um programa de educação alimentar, que visa contribuir para a promoção da qualidade de vida, por meio do acesso a informações que permitam a autonomia para escolhas alimentares mais saudáveis. O Programa tem se mostrado bastante efetivo, ao despertar nas pessoas o questionamento de sabores, saberes e hábitos enraizados, proporcionando uma possível mudança de atitude com consciência. Os alunos do Programa SESI Cozinha Brasil compuseram a amostra deste trabalho, que transcorreu pela metodologia da observação participante e análise dos discursos, no período de janeiro a setembro de 2011, constando de 6710 alunos de diversos municípios do estado do Rio de Janeiro. Através da análise dos relatos dos alunos percebe-se que no Programa Cozinha Brasil os educandos se sentem parte do processo educacional, questionando práticas e modificando hábitos. Sendo assim, é de grande valia sensibilizar os profissionais relacionados a práticas de educação nutricional e alimentar a respeito da importância de envolver os indivíduos em um processo ativo de educação em saúde. Palavra-chave: Educação Nutricional, alimentação e seus significados, neofobia alimentar. INTRODUÇÃO: A alimentação, muitas vezes, é vista como o processo de obtenção de nutrientes com a finalidade de manter a vida. Porém, suas atribuições vão muito além das funções vitais, influenciando e sendo influenciada diretamente pela economia, cultura, fatores sociais e ambientais, ocupando, conseqüentemente, um espaço no cotidiano do indivíduo que só a fisiologia não é suficiente para justificar. Estudar alimentação é muito mais que estudar nutrientes, é estudar símbolos e significados. Os valores e significados que são atribuídos a um determinado alimento estão mais relacionados a um sistema de significações produzido socialmente do que ao valor percebido comumente. (Silva e Fonseca 2009). Neste contexto, a educação alimentar e nutricional se configura como um processo que visa à autonomia do indivíduo nas suas escolhas alimentares, através da junção do conhecimento técnico-científico com o popular. Para desta forma, assegurar uma alimentação que seja capaz de unir saúde e prazer, valorizando a cultura alimentar, sem, contudo, deixar de questionar crenças, mitos e tabus. O Cozinha Brasil se insere neste cenário, já que é um programa de educação alimentar, que visa contribuir para a promoção da qualidade de vida da comunidade por meio do acesso a informações que permitam a autonomia necessária para a realização de escolhas alimentares mais saudáveis.
O Programa foi lançado pelo Serviço Social da Indústria (SESI) em todos os estados do Brasil em 2004. Em cada estado, há uma coordenação responsável pela operacionalização das ações do programa, desde o planejamento estratégico até a divulgação e a execução. OBJETIVOS: O objetivo do presente estudo é demonstrar que uma atividade de educação nutricional pode despertar percepções quanto aos saberes e sabores dos alimentos. METODOLOGIA: Foi realizada pesquisa qualitativa, já que a mesma considera vários aspectos, como o social, cultural, geográfico e econômico. Por meio do método da observação participante e análise dos discursos dos alunos, utilizando os formulários de avaliação preenchidos ao final de cada edição do curso, os autores realizaram uma descrição das expectativas, impressões e sensações dos alunos do curso Cozinha Brasil. Considerando o período de janeiro a setembro de 2011, onde participaram 6710 alunos de diversos municípios do estado do Rio de Janeiro. O Cozinha Brasil é ministrado por nutricionistas, na forma de curso, com duração de 10 horas. Um grande diferencial do programa é a utilização da culinária como instrumento educativo, além de linguagem e metodologia de fácil compreensão, ligados ao dia a dia do público, bem como, dinâmicas de grupo e degustações. São abordados temas como alimentos e suas funções, alimentação equilibrada, rotulagem nutricional, higiene e conservação dos alimentos, aproveitamento integral dos alimentos, entre outros. Normalmente, o curso acontece em Organizações Não Governamentais, igrejas, empresas, poder público, centros culturais e escolas. Deste modo, os parceiros que solicitam, gratuitamente, os cursos do programa em sua comunidade tem como responsabilidade divulgar a atividade, formar turmas, inscrever os alunos e fornecer a estrutura necessária, que inclua uma cozinha e uma sala próxima para acomodar os alunos. Além disto, as indústrias do estado do Rio de Janeiro apoiam as atividades com investimento social privado. Ao término de cada curso os alunos preenchem uma pesquisa de satisfação de curso, utilizada neste estudo, composta por 04 perguntas fechadas que englobam a eficiência das atividades realizadas. Além de duas perguntas abertas, uma que questiona sobre o tema mais importante trabalhado em aula e seu porque, e outra que solicita sugestões para melhorar o curso. Os discursos analisados no presente artigo foram retirados das questões abertas constantes na pesquisa de avaliação, que foram lidas atentamente pelas pesquisadoras e a partir daí as falas que continham significados que se repetiam constantemente foram selecionadas. RESULTADOS: Comumente a população apresenta um comportamento neofóbico em relação aos alimentos e através do curso são incentivados a provar, resultando muitas vezes em mudança de opinião. Como pode ser percebido nas falas abaixo.
“Pude conhecer sabores novos que jamais imaginei conseguir com certos alimentos.” “Consegui comer alimentos que sequer experimentava.” Além disso, os autores também perceberam que os indivíduos estão acostumados a ter uma visão negativa em relação ao sabor de uma alimentação saudável. “Pude perceber que é possível produzir refeições saudáveis e além de tudo muito gostosas” “Aprendi que talos e cascas pode (sic) se tornar receitas saborosas.” “Eu não tinha conhecimento de como podiam ser úteis as cascas, os talos e o bagaço, provei e gostei, vou adotar em casa.” Por meio da análise dos relatos dos alunos percebe-se que no Programa Cozinha Brasil os educandos se sentem parte do processo educacional, questionando práticas e modificando hábitos. Santos (2010) cita o Cozinha Brasil como um programa que possui abordagem teórico-metodológica “transformadora” e dialógica, assumindo uma perspectiva “problematizadora”, com vistas a ultrapassar uma visão puramente instrumental e instrucional da educação, e passar a considerá-la como uma forma de realização da pessoa. Reforçando o papel do Cozinha Brasil como uma ferramenta de investimento social. CONCLUSÃO: O Cozinha Brasil, enquanto programa de educação nutricional, tem se mostrado bastante efetivo, já que desperta em seus participantes o questionamento de hábitos enraizados. O fato proporciona uma possível mudança de atitude com consciência, pois a partir dos assuntos contextualizados os indivíduos se tornam autônomos em suas escolhas. Para que esta metodologia se perpetue, é fundamental que os profissionais envolvidos nas atividades de educação alimentar recebam uma formação mais ampla que considere o ser humano como o ser complexo que é, além de investir na motivação dos profissionais de saúde e em especial do nutricionista, a fim de produzir uma educação nutricional cada vez mais eficaz. REFERÊNCIAS: SILVA, ECR & FONSECA, AB. Abordagens pedagógicas em educação alimentar e nutricional em escolas no brasil. Encontro Nacional de Pesquisa em Educação e Ciências. Florianópolis, novembro de 2009. SANTOS, LAS. V Encontro Nacional do Programa Nacional de Alimentação Escolar: Convergência de Políticas Públicas. Salvador, Bahia, novembro 2010.